Eu estou segurando o resultado do meu teste de QI, mas eu não vou mostrar ele pra vocês, pelo menos não agora. E não é só porque eu quero usar o resultado pra criar tensão em um vídeo do YouTube, mas também porque seria irresponsável eu mostrar esse resultado sem ter certeza de que vocês entenderiam o que ele significa. Testes de QI entraram no imaginário popular do mundo moderno como uma medida quase absoluta de inteligência.
Mas será que o teste de QI é isso mesmo? Testes de QI realmente medem inteligência? Eu tenho três perguntas pra você.
Primeira pergunta, qual é o número que está faltando nessa sequência? 4, 9, 16, 25, 36, x, 64. Pausa o vídeo e tenta responder nos comentários.
Segunda pergunta, qual é a próxima letra dessa sequência? L, K, J, H e depois? Terceira e última pergunta.
Sabendo que FP é igual a 9 e que HX é igual a 14, então quanto é DS? Leia as questões e pense com calma. Essas são três perguntas de níveis diferentes e que são parte de testes de QI.
QI, essa sigla que é tão famosa, significa quociente de inteligência. É um cálculo que busca medir em números a capacidade intelectual de uma pessoa. E ao contrário do que muita gente pensa hoje em dia, esse cálculo não existe só para encontrar pessoas acima da média, os famosos gênios.
Na verdade, a ideia de quantificar a inteligência dos indivíduos nasceu justamente para identificar estudantes com uma capacidade intelectual relativamente baixa, com o objetivo de ajudar no aprendizado desses alunos. Essa é uma das ideias originais do teste de QI, adaptar o ensino para o nível intelectual dos alunos. Mas teste de QI também tem outro uso, que é o estudo da qualidade de vida de populações como um todo.
Peraí! Como assim? É que quando a gente compara a QI de diferentes regiões de um país, países diferentes, ou até mesmo de um mesmo país em diferentes momentos da sua história, é que é possível diagnosticar falhas na educação, na saúde e até na alimentação das pessoas.
Um exemplo bem famoso é o de crianças nascidas nos Estados Unidos na segunda metade do século passado. Era muito comum o uso de chumbo como aditivo na gasolina, e o chumbo causa danos diretos ao sistema nervoso de seres humanos. Como resultado, crianças nascidas no auge do uso de chumbo na gasolina tinham um QI menor do que as que nasceram depois de o chumbo na gasolina ser proibido.
Muito mais do que servia apenas para que pessoas com QI alto fiquem se gabando do resultado, esse tipo de teste é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas que beneficiam diversas áreas da sociedade. Mas no nível individual, o teste de QI também é uma ferramenta que ajuda no diagnóstico de uma série de condições, que vão desde problemas da memória até neurodivergências. O fato é que os testes de QI, quando bem utilizados, têm uma série de aplicações importantes.
Por outro lado, se eles forem mal utilizados ou interpretados, os testes de QI podem provocar consequências extremamente perigosas para a sociedade. Foi o que aconteceu em 1920, quando o Estado americano da Virginia autorizou que pessoas com QI baixo fossem esterilizadas, ou seja, passassem por uma cirurgia forçada para não poderem mais ter filhos. Isso não só é um uso extremamente cruel e enviesado de testes de QI, como ele também nem faz sentido, porque nós não sabemos o quanto do QI é genético.
Mas para descobrir o que nós sabemos sobre QI, nós precisamos entender a história desse tipo de testes. Ah, e só para avisar, essas camisetas que eu uso nos vídeos estão na promoção de Black November. E é a melhor chance do ano para vestir camisetas que vestem o cérebro.
O desconto da promoção é progressivo. Na compra de duas camisetas, você ganha 20% de desconto. Três camisetas, 25% de desconto.
E quatro ou mais camisetas, 30% de desconto. Mas não demora, porque a promoção tem data pra acabar. É só clicar no link aqui da descrição ou no comentário fixado.
E vem vestir Loos junto comigo. E agora de volta à história dos testes de QI. Os primeiros exemplos registrados de testes de inteligência têm quase 1500 anos e vêm do outro lado do mundo.
A dinastia Suí, na China, fazia avaliações de inteligência pra selecionar o pessoal de serviço civil, ou seja, profissionais que iriam trabalhar na burocracia imperial chinesa, um trabalho que era considerado de muito prestígio naquela época. Talvez esse também seja o primeiro exemplo de concurso público na história. Já na era contemporânea, que é a era em que a gente vive hoje em dia, as primeiras tentativas de quantificar a inteligência das pessoas vieram da França, com o antropólogo e matemático Francis Galton.
Mas ele usava métodos não muito convencionais, como a medição do tamanho da cabeça das pessoas. O que hoje em dia a gente sabe que não tem qualquer embasamento científico. Foi só em 1905 que surgiu um modelo de avaliação com critérios, digamos, minimamente razoáveis.
Foi um método desenvolvido por Alfred Binet e Theodor Simon. Eles elaboraram uma série de perguntas feitas para meninas e meninos de diferentes idades. E então eles observavam as respostas.
Se uma criança acertasse uma questão que a maioria das crianças da mesma idade também acertasse, então eles consideravam que ela tinha uma idade mental adequada à idade cronológica. Já se ela errasse muitas questões que crianças da mesma idade acertassem, era sinal de que ela tinha algum tipo de atraso intelectual e por isso deveria participar de um programa especial de aprendizado. E com base nisso, o alemão Wilhelm Stern criou o conceito de Intelligenzquotient.
Gente, eu realmente não sei falar alemão, me perdoem por isso. Que deu origem ao primeiro cálculo do quociente de inteligência. Ele funcionava assim, se uma criança de 10 anos de idade tivesse uma idade mental de 9 anos, o QI dela seria de 9 dividido por 10, ou seja, 0,9.
E aí o americano Louis Thurman propôs multiplicar esse número por 100, para acabar com a parte decimal, ou seja, aquela mesma criança teria um QI de 90. Com o tempo, novos tipos de testes e novas fórmulas de cálculo foram sendo desenvolvidos. Até que nos anos 1950, foram criados os modelos de teste que são usados até hoje, com algumas modificações.
E eu estou falando do método criado pelo americano David Wechsler, que desenvolveu cálculos separados para crianças, que é o WISC, e também para adultos, que é o WAIS. Alguns tipos de habilidades diferentes são avaliadas nesse teste. A solução de problemas usando a lógica avalia as habilidades matemáticas.
A visualização de formas e figuras geométricas avalia a habilidade espacial. Ao interpretar textos ou completar frases, é a habilidade linguística que é avaliada. E tem ainda a memória, que é avaliada relembrando imagens e sons apresentadas por quem estiver aplicando o teste, que inclusive não pode ser qualquer pessoa.
Aqui no Brasil, quem aplica os testes são sempre profissionais de psicologia. As provas costumam ser aplicadas nos consultórios deles ou em salas de aula, sempre com um tempo pré-determinado. Ou seja, existe uma série de regras que precisam ser observadas.
É por isso que aqueles testes que você encontra na internet não são capazes de informar com precisão qual é o seu QI. E ao fim do teste, o avaliador atribui uma nota para o desempenho do aluno, que é comparada à média das outras pessoas. Ou seja, a medida de inteligência é sempre relativa.
É diferente, por exemplo, da medição de uma distância, que é objetiva. Um objeto que tem um metro, vai ter sempre um metro, independente do tamanho dos outros objetos ao redor dele. Já a inteligência não pode ser quantificada dessa mesma maneira.
Ela precisa ser comparada para poder existir. Ok, e como exatamente essa comparação é feita? Bom, a nota média no teste de QI é sempre 100.
Então uma pessoa que tem um nível de inteligência de acordo com a média da população vai ter um QI de 100. Quem tem um nível abaixo da média tem um QI abaixo de 100. E quem tem um nível acima da média tem um QI acima de 100.
E aqui é importante lembrar que existe o chamado desvio padrão, que funciona como uma espécie de margem de erro. O que isso quer dizer é que um QI um pouco abaixo ou um pouco acima de 100 também é visto como um QI médio. De maneira geral, os especialistas consideram que pessoas com QI menor que 70 têm uma deficiência intelectual.
Por outro lado, quem tem o QI a partir de 130 é considerado superdotado. Inclusive, eu falei no início do vídeo que eu mesmo fiz um teste desses, né? Foi um teste de inteligência do tipo geral não verbal.
Eu tirei 128, o que me coloca entre os 3% mais altos. E isso surpreendentemente explica muita coisa do meu passado. Tá indo por quê?
Tá na minha mira agora. Aliás, dá pra encontrar na internet o suposto QI altíssimo de uma série de pessoas famosas. Físicos como Albert Einstein e Isaac Newton, empresários como Bill Gates e Steve Jobs, e até de gente que viveu há mais de 2 mil anos como a Cleópatra.
O que sugere que nem tudo que a internet fala sobre QI seja exatamente verdade. Mas é aqui que a gente chega num ponto crucial do vídeo. Dá pra dizer que QI mede inteligência?
A resposta é que nós não sabemos. E por vários motivos. Primeiro, não existe uma definição geral do que é inteligência dentro da psicologia.
Então não temos parâmetros científicos para falar o que é e o que que não é uma medida de inteligência. O QI é uma tentativa de encontrar algo que pode quantificar inteligência, mas o que um teste de QI realmente significa ainda é debatido. Alguns grupos defendem que inteligência é uma única coisa e depende de um único fator, o fator G, e que o QI é uma forma de medir esse fator de inteligência.
Já outros grupos defendem que o QI mede apenas alguns aspectos da inteligência, mas não todos. E existem também críticos do próprio conceito de QI como uma medida de inteligência. Talvez o QI seja simplesmente uma medida útil para o uso acadêmico e psicométrico, mas não seja um fator muito definitivo na vida de indivíduos.
Nenhuma dessas formas de interpretar QI está necessariamente certa ou errada. Até onde sabemos, não existe um corpo de evidência científica capaz de validar exatamente o que é o QI, nem se ele é mesmo uma medida de inteligência. Mas isso não quer dizer que nós não podemos apontar coisas que ele mede.
Por exemplo, existe uma correlação entre o QI e a facilidade em matemática e linguagem, que podem ser vistos como uma expressão de inteligência. Por outro lado, QI não parece estar correlacionado com a capacidade de memorização ou reflexos rápidos, que também são aspectos que poderiam ser atribuídos à inteligência. E além disso, pessoas com QI alto parecem ter um cérebro ligeiramente maior do que pessoas com QI mais baixo.
Mas o tamanho de um cérebro é uma péssima medida de inteligência. O cérebro do Einstein era 15% mais leve do que o cérebro de uma pessoa média. E eu acho que ninguém aqui diria que Einstein não era inteligente.
E também existe algo interessante na relação entre QI e genética. Filhos de pais com QI alto tendem a ter QI alto. Mas aqui nós precisamos ter muito cuidado a interpretar os dados, porque quando uma criança chega na idade em que já é possível aplicar um teste de QI, fatores ambientais como nutrição e educação já entraram em jogo.
Então é bem difícil pensar em um experimento ético para determinar o quanto do QI é realmente herdado da genética dos pais e o quanto é simplesmente uma consequência de como os pais educam os seus filhos. Então se não sabemos o que o QI é exatamente, para que ele serve? Para muita coisa.
Existem vários aspectos da vida em sociedade que tem alguma correlação com o QI. Primeiro vale notar que o resultado do teste de QI é consistente durante toda a sua vida, ou seja, o QI mede a mesma coisa durante toda a vida adulta de um indivíduo, e essa característica é essencial para o teste de QI ser uma ferramenta útil. A segunda coisa que torna o QI uma ferramenta útil é que diferentes valores no teste de QI estão relacionados com diferentes comportamentos e até condições de saúde.
Por exemplo, pessoas com QI alto são mais propensas ao alcoolismo. E aqui é importante reforçar. Não é correto afirmar que ter um QI alto causa alcoolismo.
As ligações entre QI e comportamento são correlações e estatísticas e não uma relação de causa e efeito. Até porque eu não tenho problemas com álcool. Meu vício são essas orelhas de gato, ou seja lá qual que é o nome disso na terra onde você mora.
Isso é muito bom. E além disso, vários outros transtornos como autismo, deficiências cognitivas e deste atenção são mais comuns em pessoas com QI dentro de faixas de risco, por assim dizer. Tanto é que o QI pode ser usado como parte do diagnóstico dessas condições, mas mais interessante e útil do que o lado comportamental do QI é o lado da saúde.
Ao invés de perguntar o que o QI autoprevê, é mais interessante perguntar quais fatores ambientais afetam o QI. E aqui eu vou me aprofundar em uma história que eu só pincelei nesse vídeo, que mostra o poder do QI não como uma medida de inteligência, e sim como uma medida de saúde da população. Em 1923, os Estados Unidos passaram a adicionar tetraetilxumbo na gasolina, um químico que tem chumbo e aumenta a vida útil de motores.
Na época, não se sabia que essa substância era tóxica, e com ela sendo queimada por carros, as concentrações de chumbo no ar das cidades aumentaram durante as próximas décadas, chegando em um ápice entre as décadas de 60 e 70. E nessa mesma época, descobriram que não era legal respirar chumbo. E o uso da substância foi diminuindo até ser completamente proibida em 1996.
E desde então a quantidade de chumbo no ar das cidades é bem menor. O curioso é que vários estudos encontraram correlações suspeitas entre a quantidade de chumbo no ar e notas mais baixas em testes de QI. Crianças que crescem em regiões com quantidades significativas de chumbo no ar tinham até 10 pontos a menos de QI do que outras crianças.
E aqui as notas de QI estão servindo não como um teste de inteligência, mas como um marcador de saúde coletiva e talvez até de criminalidade, porque as mesmas concentrações de chumbo parecem relacionadas com a frequência de crimes violentos. Outro aspecto histórico é que o QI relativo da população mundial parece ter aumentado durante o século XX. E isso talvez tenha sido causado pelo aumento do acesso à nutrição adequada e cuidados médicos em boa parte do mundo.
Então, em média, alguém vivo em 2024 tem um QI mais alto do que alguém que viveu em 1924. Se você acha que QI é inteligência, o mundo está ficando mais inteligente. A moral da história é que o seu QI individual é muito menos interessante do que a evolução de testes de QI de populações durante períodos de tempo.
E falando nisso, quer saber se você é um gênio? Vamos ver se vocês acertaram as perguntas do começo do vídeo. Na primeira questão, o objetivo era descobrir qual número está faltando nessa sequência.
A sacada aqui é perceber que esses números podem ser escritos dessa outra forma. É, eles são todos quadrados perfeitos. Então, pela lógica, o nosso número secreto é 7².
Ou seja, a resposta certa é 49. A segunda questão já é um pouco mais desafiadora. E aí, qual que é a próxima letra da sequência?
L, K, J, H. Eu vou dar uma dica. Dá uma olhada no teclado do computador.
Ou, se você tiver no celular, escreve alguma coisa aqui nos comentários do vídeo para o teclado aparecer na sua tela. E clique em enviar, por favor. Talvez aqui você já tenha percebido.
L, K, J e H são a sequência de letras, da direita para a esquerda, que aparecem na segunda linha de teclas. Por isso, a próxima letra da sequência é a letra G. E, por fim, o terceiro desafio.
Se FP é igual a 9 e HX é igual a 14, então quanto é ds? E a dica aqui é justamente a falta de dicas. Afinal, se a gente não tem um desenho, uma imagem, nem qualquer outra informação, a não ser as letras, é porque a resposta talvez deva ter a ver com o próprio alfabeto.
E se você seguir a ordem alfabética, vai perceber que o f e o p estão, digamos, a 9 letras de distância uma da outra. Já o h e o x estão a 14 letras. Por isso, DS nada mais é do que a distância entre o D e o S.
Ou seja, a resposta é 14. Se você acertou as três perguntas, meus parabéns! Sabe qual é o seu QI?
Eu também não. Porque como eu falei nesse vídeo, não dá de fazer teste de QI respondendo perguntas na internet. Mas é claro que esse é um indício de que você pode sim ter uma inteligência acima da média.
Mas se você acertou poucas, ou até se não acertou nenhuma, também não tem problema. Primeiro porque essas são só algumas perguntas e de um tipo específico de teste. Em um teste não verbal, por exemplo, você pode ter um desempenho melhor.
E segundo porque o QI talvez nem seja uma boa medida de inteligência. A exata natureza da inteligência é um mistério da psicologia e merece o seu próprio vídeo. Inclusive, bota um emoji de cérebro nos comentários se vocês querem um vídeo sobre o que é inteligência.
Portanto, respondendo de uma vez por todas, os testes de QI realmente funcionam? A resposta é que depende. Sim, um teste aplicado corretamente pode ajudar a mensurar a capacidade intelectual de um indivíduo, inclusive direcionando um ensino mais adequado e voltado para as necessidades dessa pessoa.
E no aspecto macro, os testes de QI podem ajudar na condução de políticas públicas de saúde e educação. Por outro lado, esse tipo de teste jamais deve ser usado como o único critério para avaliar a capacidade do ser humano. Para descobrir se uma pessoa é inteligente, é preciso levar em consideração uma série de informações pessoais, analisar o contexto cultural, econômico, social e familiar, entre outros fatores que ajudam a gente a compreender a história de uma pessoa no ambiente e na época em que ela vive.
E se ela bota feijão em cima ou embaixo do arroz. Todo mundo sabe que embaixo está errado. No fim das contas, o que e pode ser importante, mas ele é só um número.
Seres humanos são extremamente complexos e fascinantes e é impossível resumir a grandeza da nossa mente em apenas um número. Muito obrigado e até a próxima.