Vocês já repararam que ninguém vê o mundo da mesma forma? Tem gente que se anima fácil. topa tudo na hora, tem um convite, se joga, né, nesse convite e aí até já quer contar para todo mundo o que que vai fazer. Se empolga com qualquer possibilidade, vai. Tem gente que precisa de tempo, quando recebe um um convite, não processa na hora, observa. Pode até ir, pode até se entregar a esse convite, mas precisa antes de bastante segurança para dar resposta. Tem gente que fala tudo que pensa e que sente, que explode, né? Que que é
mais impulsiva, então que chora, briga, que reage de forma mais intensa. Tem gente que que que só vai entender o que que sentiu dias depois quando processa e pensa aquilo com calma, quando conversa com alguém, tá? Tem quem tenta manter o controle a todo o custo das situações, então se organiza, que planeja aquela pessoa toda corretinha, né, das das tabelas, das planilhas, da rotina. Tem quem vive completamente a ver sua rotina, que vive no impulso, que faz primeiro e depois vê o que que dá, né? Então, tem gente que é mais séria, tem gente que
é mais reservada, tem gente que prefere falar, tem gente que prefere escutar, tem quem fale sem parar também, né? Precisa colocar tudo para fora. E e cada pessoa então tem um ritmo diferente, uma forma própria de sentir, de entender as coisas e de reagir ao que vive. Isso pode parecer bem óbvio, mas tem muitas implicações. Porque se cada um processa o mundo de uma forma diferente, é inevitável que muitas vezes a gente se acabe se comparando. A gente compara o nosso jeito de ser, de como a gente processa o mundo, porque só a gente tá
dentro do nosso próprio corpo, com jeito de ser dos outros. Só que pior, só que pior. Muitas vezes a gente acha que tem algo de errado com o nosso jeito de ser ao comparar com o jeito dos outros. Por quê? Porque quando a gente olha pros outros, a gente só vê os outros pela camada externa, pelo que ele mostra fora. Mas quando a gente olha para nós mesmos, a gente vê tudo, tudo que tem ali dentro, não é assim? Então a gente da gente mesmo vê as dúvidas, os pensamentos que não fazem sentido, as incongruências,
os arrependimentos, as emoções todas embaralhadas, né, as reações que eu não consegui controlar, os incômodos que eu não sei explicar, as dores que eu tenho, isso a comparação que a gente faz, sou injusta. É comum comparar a grama verdinha do vizinho com a nossa terra, tá embaixo dessa grama, cheia de raiz, buraco, minhoca, pedra. Hum. A gente vê no outro a parte que ele organizou para mostrar no externo. Só que em nós a gente vê tudo, até o que a gente não entende direito, né? E aí a gente começa a se questionar: "Ah, por que
que eu sou tão sensível? Por que que eu me cobro tanto? Por que eu demoro para me animar com as coisas? Porque eu fico preso na minha cabeça remoendo tudo, né? Porque então eu não sou mais leve como fulano? Por que que eu eu preciso controlar tudo para me sentir em paz? E aí vão os questionamentos e as críticas, né? Então é natural o ser humano se comparar, especialmente com os pares, com os colegas, com os amigos, certo? Acontece que por ter total acesso ao nosso mundo interno e somente o nosso mundo interno que a
gente conhece e somente a superfície do outro, o externo, o que ele mostra, a gente não vê as neuroses, inseguranças que os outros têm, as dores que os outros têm, a não ser que eles verbalizem, mas já vai passar por um filtro social, que eles vão dizer. Por causa disso, a gente se julga defeituoso, a gente se julga problemático. E é justamente sobre essa sensação de a gente se achar defeituoso ou problemático que já aqui que nós vamos conversar na aula de hoje, que nós vamos abordar na aula de hoje, que já as coisas muito
interessantes pra gente analisar que eu queria passar para vocês. Então, na aula de hoje, a proposta aqui é fazer uma virada de perspectiva. a gente vai trabalhar a seguinte provocação a partir de conceitos eh hoje mais da psicanálise e lacan. A provocação é a seguinte: "E se o nosso jeito de ser, aquele que a gente conhece no íntimo, essa terra esburaquenta, cheia de minhoca e pedra, e se esse jeito de ser não fosse um defeito? E se fosse só o nosso jeito de ser?" Ponto. Fosse uma característica. Nosso jeito de ser fosse uma marca. É
quem a gente é. Essa terra esburaquenta, esfarelenta, com pedras e minhocas, tem uma história refletida que vem lá de trás na minha vida, não é do nada. E essa história constituiu quem eu sou hoje. E é isso que nós vamos ver na apreciação aqui que eu quero fazer na na pequena aula que eu quero aqui montar para com vocês. E se o seu jeito ansioso? E se o seu jeito afobado? E se o seu jeito, sei lá, analítico, racional, em excesso, e se seu jeito muito impulsivo e sensível demais não forem um defeito? forem na
verdade uma espécie de marca característica sua ou até um trunfo que você tem, se você souber utilizar bem no campo da vida as suas características. Veja que a inversão que a gente vai trabalhar na aula de hoje. Então, nós vamos falar sobre Lacan e como ele lida e vê ouvia a ideia de sintoma. Claro que ser quem a gente é tem o seu lado negativo, tá? Óbvio. Só que eu vou te contar um segredo. Para todo mundo é assim. Todos têm o ônus e o bônus de ser quem são. Tem o negativo, mas também o
positivo. E aprender a navegar com isso, com a gente é, com ônus e bônus, é que faz toda a diferença. Cã diz, ao invés da gente ser o sintoma, ele vai falar para nós nos fazermos com o sintoma. Fazer com o sintoma. Vamos devagarinho de início, de conversa para entender o que Lacan quer dizer, primeiro a gente vai começar lá atrás, tá? Talvez a melhor forma de entender o que que acontece com a gente, porque a gente tem determinadas características, eh o jeito que nós temos, talvez a melhor forma não seja com um diagnóstico psiquiátrico,
que é o mais comum hoje em dia. Claro, o diagnóstico ele pode ser útil, mas o problema do diagnóstico é que ele costuma funcionar como uma espécie de foto do presente. Eu vejo o que que tá ali, tira uma foto e a partir dessa foto eu eu trabalho em cima. Então ele congela o momento atual e ele tenta classificar. Olha, isso aqui é um transtorno. Olha, isso aqui é depressão, isso aqui é fobia, isso aqui é sei lá o quê, né? Vai vai dar um nome. Só que isso não considera muitas vezes o contexto, o
caminho que trouxe a pessoa até ali. Por que que ela é assim? Qual a função dos seus comportamentos que a gente chama fobia, depressão, seja o que for? Qual a função desse comportamento, desse sintoma, ao longo de sua história? Como que essas características se constituíram e fazem parte de quem essa pessoa é hoje? Porque tenham certeza de uma coisa. Se você tem determinados pensamentos ou comportamentos, pode ter certeza de que isso serviu lá atrás na sua infância. De alguma forma, isso serviu lá atrás, foi adaptativo, serviu para você conseguir dar alguma vazão a alguma necessidade,
a se adaptar à aquele contexto. E isso acompanha você até hoje. O mais isso é quem você é. Isso faz você ser quem você é. Então hoje, ao invés de olhar para esse print, né, quando a gente tira na tela do computador essa fotografia estanque congelada do agora e apenas julgar o seu comportamento e sentimento, a gente vai ver todo o filme. A gente vai colocar as coisas num contexto maior, a gente vai tentar entender como a gente foi sendo constituído por dentro. Para quê? para ver que se ao final da essa aula a gente
consiga se aceitar um pouco mais e mais do que isso entender como que da forma que a gente opera, a gente consegue colocar o nosso eu no mundo, não vendo como algo patológico, algo torto e flagelado, mas sim como uma característica humana. Eu, sendo assim, tendo essas características onde eu posso prosperar na vida, tá? Então, para início de conversa, vamos lá. Todos os seres vivos têm dentro de si e quando nascem uma pulsão fundamental que varia na literatura qual o nome, mas que aqui nós vamos chamar de vontade de vida. no sentido mais próximo do
que Schopenhauer descreve aí. Essa vontade de vida é uma força cega, instintiva, que busca existir, se preservar, expandir. Então, todos nós temos uma espécie de chafaris que jorra vida dentro de si. É algo que não precisa ser ensinado, já nasce conosco. Todos os seres vivos têm esse impulso silencioso de vida, de querer prosperar, que faz um bebê querer chorar para mamar, para quê? Para se alimentar e crescer, que faz a criança querer buscar atenção, calor e afeto. Para quê? Para se sentir protegida, segura o suficiente, porque ela precisa dos cuidadores para vingar na vida. Então,
a vontade de vida é: "Eu quero vingar na vida, eu quero consumir mais mundo, eu quero crescer, eu quero me desenvolver". Então assim, ninguém ensina uma planta a crescer e crescer em direção ao sol. Ela simplesmente faz, né? Todo ser humano busca, todo ser humano e todo ser vivo busca isso. Assim também somos nós. Então a gente nasce com esse drive interno de prosperar, essa força vital eh que quer se realizar no mundo, por assim dizer. Freud chama isso de pulsão de vida. Hum. Schopenhauer chama isso de vontade de vida. Niet vai chamar isso de
vontade de potência. Cal Rogers de tendência atualizante. Então, cada um vai colocar um nome, mas que isso tá lá, isso tá lá, certo? Se não tivesse lá, você nem teria, você não sairia da cama de de manhã, hã, você seria uma rocha parada ali, né? Por que que você sai da cama de manhã? Porque você tem propósitos, você tem metas, você tem nem que você não tenha metas assim no estilo coach moderno, né? Ah, vou acordar em malhar 30 minutos. Não, não é isso. Meta é tipo assim, eu saio da cama porque eu estou com
fome, certo? Porque eu quero fazer xixi. Isso é vontade de vida. Só que diferente da planta do animal que seguem, vamos dizer assim, seu curso natural com menos interferência dos seus papais e das suas mamães, nós, seres humanos, a gente passa por uma espécie de filtro. O ambiente humano é diferente, a criação humana é diferente. Nós dependemos muito mais dos nossos cuidadores na infância, certo? Nós passamos cerca de 200, 250. 1000 horas sobre a influência dos nossos cuidadores, desde a infância e adolescência até a gente virar um adulto, tá? Por 18, 20 anos. Sofre influência
da cultura. Nossa cultura é complexa. O que que esperam da gente, certo? Dos moldes que querem nos encaixar, as relações sociais. Então, tudo isso exerce uma certa pressão em como nós vamos nos adaptar a esse ambiente. Então, de um lado, tem uma força dentro da gente que quer se desenvolver e crescer o máximo, né, que essa essa pulsão de vida, essa vontade de vida, tá? tá ali dentro da gente jorrando, quer consumir o mais máximo de mundo que consegue, quer se dar bem nesse mundo. Só que do outro lado, aqui tá o outro lado, né?
Existem contingências, pai, mãe, colégio, cultura, limitadores do meu crescimento, livre do meu crescimento para todos os lados, né? limitadores desse crescimento, desse potencial livre. Por quê? Porque eu preciso para me dar bem neste mundo, me adaptar a este meio, que é a cultura, que é os pais, que é a mãe. É o que Freud chama do choque do homem com a civilização. Eu preciso me adaptar às regras, eu preciso me adaptar às normas, abrir mão, portanto, de parte dos meus desejos e vontades para me adequar a esse contexto. Isso de certa forma poda um pouco
com uma tesoura o meu livre crescimento. Faz sentido? Eu não tudo posso naquilo que eu tudo quero. Então já na infância essa vontade de vida começa a encontrar certos obstáculos, limites, vamos colocar assim. E ela vai achando caminhos possíveis para se manifestar. Ou seja, nós vamos nos moldando a realidade a qual nós estamos inseridos. Sabe aqueles brinquedos de criança? Na minha época tinha, não sei agora porque agora tudo é digital, mas na minha minha época tinha, é uma espécie de labirinto, tá? Um brinquedinho de labirinto quadrado cheio de curvas, tá? É um labirinto que tinha
várias curvas. Essas curvas eram ocas, tá? Imagina que a gente tem que empurrar uma espécie de barra de massinha de modelar, empurrar e seguir fazendo pressão para dentro desse labirinto. Aqui o quadradinho tá o labirinto onde tá a minha mão. Eu tenho que empurrar essa massinha e continuo fazendo pressão para essa massinha entrar lá. A vontade de vida é como essa força que empurra a massinha e nós somos a massinha, tá? e o labirinto. São essas contingências que eu estou falando do ambiente. A massinha A pela pressão da vontade de vida, que é minha mão
empurrando, vontade de prosperar, crescer, desenvolver, ter vínculos, etc. Tem que e quer e só pode seguir em frente. Ela quer encontrar uma saída do outro lado do labirinto, né? buscar a luz do outro lado, sobreviver e prosperar essa infância. Mas o caminho não é livre, ele é cheio de contornos, estreitamentos, desvios. E o labirinto então representa essas contingências da nossa infância. O que que é isso? Como o pai era? Como a mãe reagia? Como é que era o carinho ou não era o carinho na minha infância? o que que era aceito, o que que era
punido, o que que era reforçado e o que que não era. O que nos dá o qual esse tipo de comportamento que a gente fazia que nos davam mais atenção ou reforço positivo, como costumam dizer hoje em dia, né, no comportamentalismo. Hum. Quais comportamentos que eu fazia que meu pai e minha mãe não gostavam, geravam, portanto, afastamento, o que que era permitido ou não era permitido fazer em casa ou no colégio, o que que eu tinha que fazer para ser aceito com o grupo dos amiguinhos. A massinha vai, portanto, se moldando. Vocês conseguem entender todos
esses contornos? A massinha vai se moldar para conseguir passar. E assim somos nós. Uma massinha meio moldada, meio torta. Eh, e essa vontade de viver, ser amado, ser cuidado, de prosperar, ela empurra. Tá sempre empurrando, sempre empurrando, até o dia que o coração de vocês parar de bater. E nós, a massinha, vamos tendo que sempre nos adaptar à forma do ambiente para prosperar ou tentar o máximo que conseguimos, né? No caso da nossa infância para chegar a uma adulteza e uma autonomia. Deu para visualizar? Vejam, a criança vem ao mundo autêntica. Ela vem espontânea, sendo
ela. Um bebê chora quando quer, caga quando quer, dorme quando quer. Vossa majestade, o bebê, como diz a psicanálise, aos poucos ela vai sendo castrada. Ela vai tendo que se moldar ao que é possível e o que é necessário para buscarmos sermos aceitos no mundo. Hã, vai ter que se moldar o que é o aceito e esperado por aqueles que o cercam, os cuidadores que estão ali com ela, pai e mãe normalmente, tá? A criança quando nasce tem a missão de prosperar e para isso precisa contar com afeto dos cuidadores. Uma criança, um bebê humano
é completamente inútil no sentido de saber se virar sozinho. Então ele nasce dentro dentro desse drive de pulsão de vida, está inserido em seu DNA a ideia de que eu preciso ativar os meus cuidadores, eu preciso que eles gostem de mim. Por isso a estratégia da natureza é fazer um bebê fofinho e bonitinho. Para que os pais quimicamente ao olhar aquilo e vê que é cria da sua própria cria, carne da sua própria carne, digam: "Apesar de isso dar muito trabalho, eu vou cuidar, não vou jogar fora, tá? Eu preciso, portanto, na infância, a minha
missão é ter afeto dos meus cuidadores, porque se eu não tiver afeto, eu corro o risco de não sobreviver. Eu dependo deles. Eu dependo que eles cuidem de mim. Então essa criança vai o tempo inteiro lendo do ambiente o que que ela precisa fazer, como que ela tem que se portar, como que ela tem que se moldar, como é que são essas curvas desse labirinto para receber algum tipo de cuidado e carinho. Logo, ela aos poucos vai abrindo mão da sua espontaneidade. Vossa majestade, o bebê, eu faço o que eu quero quando eu quero. Em
ordem a ter conexão com os cuidadores. Aos poucos essa criança vai aprendendo a funcionar dado aquele ambiente, a jogar o jogo, vamos dizer assim, hã, ela vai entendendo mesmo sem palavras o que que é permitido, o que que ela pode, o que que ela não pode e como que ela tem que ser com aqueles pais. E com isso, essa vontade de vida pressionada por baixo e nós a massinha vamos nos moldando as condições do ambiente, encontrando formas de existir dentro do possível. A massinha se adaptando às curvas do labirinto. Para ilustrar, trazer um exemplo para
ilustrar, não ficar uma coisa meio abstrata demais, né? Vamos imaginar um exemplo. Que eu tô dando toda essa volta. Comecei lá a pangéia, os dinossauros, né, gente, para conectar depois à ideia de por que nós somos como como nós somos, com os nossos sintomas e o que que a gente pode fazer com isso, mas vendo que isso por si só não é patológico, isso é quem a gente é, tá? Por isso que eu tô fazendo essa introdução. Eu gosto de deixar tudo bem explicadinho nas minhas aulas. Espero que isso faça sentido, porque senão fica uma
coisa muito desconexa, muito corte. As pessoas e a pessoa que não é da área vai dizer: "Tá, mas pera aí, né? Da onde isso vem?" Então tô explicando um pouco da onde isso vem. Então vamos, vamos lá. Voltando para ilustrar a ideia da vontade, massinha e labirinto, né? A criança tendo que abrir mão da sua autenticidade para ter conexão dos seus cuidadores, tendo que se moldar o mundo. Porque veja, se moldar o mundo, o choque do homem com a civilização que vai gerar o sintoma, porque sintoma no sentido de estruturante da nossa personalidade. Nós vamos
ter características que na verdade refletem o que que a gente teve que fazer lá atrás para se adaptar ao contexto. Então vamos lá usar um exemplo. Imagina, por exemplo, que imagine, sei lá, a menina Joana Antônia, sei lá o nome dela, tanto faz, uma menina curiosa, sensível, cheia de vontade de vida de explorar o mundo na sua infância, tá cheia da tal vontade de vida. Mas a Joana, ela cresce num ambiente onde toda vez que ela se expressa demais, que ela chora, que ela demonstra algum interesse em alguma coisa, que ela fica com raiva e
joga um brinquedinho no chão. Hum. Toda vez que ela se expressa demais, a mãe fica desconfortável ou pai. Então, a mãe e o pai enche o saco de tanta pergunta que a menina faz, porque a menina fica lá, ah, por que que o céu é azul? Ah, por que que isso é assim? Ah, por que que a grama é verde? Ah, por que que ele disse tal coisa? Hã? Ah, mãe, o que que significa isso aqui? Aí a menina é chamada pelos pais de tagarela. Fica quieta, menina. Quando ela se empolga com algo e começa
a falar, a mãe diz que ela tá sendo tagarela demais, que na casa ela não tem um minuto de silêncio, ela tá sempre fazendo barulho, que ela tá sendo inconveniente para as visitas. Faz menos barulho, eu tô vendo TV. Faz menos barulho, eu tenho que trabalhar. Faz menos barulho, eu tenho que dormir. Quando eventualmente essa menina fica triste, porque vejam as emoções que nós temos, alegria, tristeza, medo, nojo, raiva e surpresa, todas essas manifestações elas brotam e elas saem naturalmente, certo? uma energia que surge dentro da gente, a emoção como uma consequência de algo que
aconteceu e nós eh botamos essa emoção pro campo da vida. Só que com o choque a civilização, essa emoção às vezes elas têm que ser reprimidas. Às vezes tem emoções que não podem ser expressas, raiva, tristeza, nossa sociedade não lida bem com isso. Então, eventualmente quando a menina fica triste e tenta chamar atenção para para si chorando, dizendo: "Ai, mãe, ai, chora". A resposta é: "Para de fazer cena. Você já é uma menininha. Só chore para coisas certas. Você não pode chorar para qualquer coisa". Tá? Aos poucos essa menina vai percebendo sem ninguém precis precisar
dizer de uma forma explícita, com todas as letras, né? Que ó, para ser aceita, para eu ser aceita, eu tenho que ficar mais quieta, mais discreta. Ou seja, se eu manifestar minhas emoções, não seria bem recebido aqui, certo? Por quê? Porque a criança tá querendo receber atenção, carinho e afeto dos seus pais. Por quê? Porque essa é a forma de garantir a sobrevivência. instintivamente falando, ao mesmo tempo, ela começa a perceber que quando ela é, entre aspas, uma boa menina, ela fica quieta, educada, portadinha, fica quietinha, faz tudo que a mãe pede, cuida do irmão
mais novo. Quando a mãe sai, ela vai sendo mais aceita no ambiente. Os pais não criticam tanto, não se irritam tanto com ela, ela não sente, portanto, tanta rejeição. Vejam as curvas do labirinto acontecendo por onde a massinha vai passando. Massinha somos nós, né? Vai se adaptando essa massinha para buscar luz ao sol, ou seja, sua aceitação. Então, aos poucos, essa criança, ela vai ajustando a forma de existir. A vontade de vida vai se moldando, quer dizer, vai empurrando, na verdade, a massinha e a massinha vai se moldando. Opa, para eu me dar bem nesse
ambiente é necessário ser assim. Então, aos poucos essa menina começa a mostrar menos de si, não questionar tanto. Antes era uma menina questionadora, agora não questiona tanto. Ela começa a ser mais internalizante, não externalizante, de perguntar coisas, de chorar, de sorrir, de questionar. Ela vai guardando mais para ela. Ela aprende que é assim, ela consegue modelar bem com os pais, ela se guarda mais no seu mundo interno. Ela começa a se voltar mais paraa necessidade dos outros do que paraas suas, tentando agradar, tentando ajudar, tentando não incomodar. Nesse exemplo específico, nesse exemplo específico e que
a gente tá vendo aqui, essa menina ela encontra um jeito de se adaptar, correto? se aceita naquele contexto. É assim que essa vontade de viver que empurra a massinha e essa vontade de viver continua ali pulsando e a massinha vai se moldando as condições do ambiente. É assim que consegue. Só que esse molde repetido dia após dia, porque os pais são o mesmo ao longo da nossa infância, eles tendem a ter as mesmas características. Então essa massinha vai formando o nosso jeito de funcionar no mundo, vai criando um molde, aquilo que com o tempo a
gente pode chamar de personalidade humana. Qual que é a minha personalidade? vai formando a forma com a qual a gente vai enxergar as coisas, enxergar o mundo, enxergar nós mesmos a partir da visão infantil que a gente teve primeiro com os nossos cuidadores. Olha, o mundo opera dessa forma e para operar a isso. Hum. Essa menina do exemplo, ela encontrou um jeito de existir cuidando, vamos dizer assim, se anulando. Que que é cuidando? Cuida do irmão mais novo, fica sensível a dizer: "Ai, que que minha mãe será que tá precisando? Ela tá vendo TV, eu
tenho que ficar quieta, orientada ao outro. Pais viajam e ela fica quietinha. Ela não, ela não chora, ela não diz que tá cansada. Isso nos detalhes vocês percebem? Ela não quer comer, mas ela come a comidinha. Ela morre de vontade de brincar, sei lá, tá na loja, pegar uma boneca, mas ela não pega. Ela sempre tá olhando pra mãe para ver a expressão da mãe se a mãe tá agradada ou não, para testar se tá sendo gostada ou não. E e nas relações adultas isso vai tender a se repetir. Aí que tá o ponto, a
forma já está lá dessa menina vai se solidificando ao passar dessas 200.000 1000 horas de infância com os mesmos cuidadores. O nosso cérebro vai dizendo: "O mundo é assim nas relações adultas. Portanto, ela vai tender a repetir esse mesmo padrão de orientação pro outro primeiro do que a si para se sentir bem. Se o outro estiver agradado, estou segura. Então, uma pessoa mais quieta, com receio de dar sua opinião, gosta mais de ouvir do que falar, aquela amiga que escuta mais do que fala, quando fala se sente exposta e vulnerável. Hum, claro. Aqui, gente, eu
tô dando um exemplo mega específico, tá? Super específico. É só para ilustrar. Nem todo mundo vai seguir esse mesmo caminho. Exatamente, né? ou ou tendo a mesma infância que essa menina, eh, vai sair exatamente com o mesmo desfecho, porque assim, cada labirinto ele vai ser diferente para cada um de nós e cada massinha também é diferente. Nós somos diferentes em relação ao nosso temperamento, em relação à nossa resiliência, em relação às estratégias que nós vamos buscar, tá? Então, alguns vão aprender a se afirmar com mais intensidade na vida, falam mais alto, reagem rápido, tomam espaço,
porque foi assim que conseguiram ser vistos, né? Então, imagina que que quando essa menina gritava muito, incomodava muito, a mãe ouvia. Bom, talvez seja reforçado. Ou vamos imaginar que não adiantava gritar, nem cuidar do outro, nem ficar atento ao irmãozinho, nem ficar atento às expressões da mãe, que a mãe era meio imprevisível. Então essa menina resolve se resignar, fingir que que que não existia, ir para um mundo interno mais fechado ainda, onde ela dissociava dela mesma. Então ela ia para livros, fantasias, etc. Hum. Ela se recolhe no silêncio como uma estratégia porque dói menos, não
porque se conectar com aquilo doía muito, porque expressar que ela sentia também não adiantava. Então, vejam, cada um de nós é é muito sensível o caminho que vai ser tomado. Cada um de nós na infância vai encontrar uma saída possível dentro das condições daquele ambiente e dentro de como nós somos. E quando eu digo como nós somos, mesmo que nós temos uma criança ou um bebê, nós temos algo que chama temperamento. Temperamento são características genéticas de nós sermos mais fechados, mais abertos, mais propensos à luta, mais propensos à fuga, mais propensos a entende isso? Tem
um pouco ali, certo? Isso vai em choque com o labirinto ter um molde, uma forma de tentar continuar pertencendo. E e e esse jeito, essas estratégias que a gente vai internalizando, no exemplo específico aqui da menina ficar quietinha ou se orientar pros outros, né? ficar atento à mãe, aos irmãos e tal, tentar ser uma boa menina, orientado ao outro, cuidar do outro antes de si, vão formando a nossa personalidade. E é hoje que lá naquela fotografia do print da psiquiatria, a gente pode classificar como um problema ou um defeito ou que mesmo sem o diagnóstico,
a gente vai comparar com a grama do vizinho, classificar como um defeito ou um problema que nós temos. Quando, na verdade, isso foi uma estratégia de adaptação, foi uma estratégia inteligente e criativa para nós prosperarmos. São variadas as estratégias que podem ter. Por isso que existe um psicólogo, um analista para ajudar você a entender a sua, né? Alguns aprendem a evitar os próprios sentimentos, então se retraem, se calam como uma forma de se proteger. Outros entram no mundo mais resignado, então se anulam, aceitam o silêncio, né? Aprendem que não adianta lutar. Tem também quem vai
pro caminho da compensação, que a gente chama, tem vitação, resignação e tem a compensação. Então, a pessoa, por querer ser amada ou se sentir insuficiente por dentro, tenta dar conta de tudo por fora. São super produtivos, os super prestativos, o hiper exigentes com os outros e consigo. Hã, tenho que provar o meu valor o tempo inteiro. Isso é uma marca de insegurança interna. segurança que advém de eu não ter tido uma espécie de carinho e afeto e olhar dos pais o quanto era necessário. Então são estilos diferentes que todos nós temos, respostas subjetivas a dores
que não podiam ser enfrentadas de outra forma naquele momento lá atrás. OK? São tentativas de se adaptar ao contexto. Com base nesse jogo de adaptação emocional, vamos chamar assim. Quase nesse jogo que a gente vai jogando, dependendo das experiências que a gente teve na infância, cada pessoa vai desenvolver o seu próprio jeito de se portar diante do mundo, de sentir e de se relacionar. uma forma de organizar o que sente, eh, o que precisa e o que busca nas relações. A menina do exemplo, esqueci o nome dela já, a menina do exemplo, ela pode ter
uma regra interna mais ou menos assim. Ela pode ter uma regra mais ou menos assim. Olha, para eu ser aceita, eu preciso ficar atento às necessidades dos outros primeiro. Isso é uma característica do molde dela. E aí nós vamos crescendo. Aí nós vamos crescendo com aqueles cuidadores, repetindo as mesmas faltas ou os mesmos excessos, várias e várias e várias e várias vezes, em várias microssações, dias, semanas, meses, anos, repetindo os mesmos padrões e a forma endurece. Alguns ficam, como eu falei na vida adulta, mais ansiosos, querendo ter controle, seja sobre seu corpo, seja sobre as
circunstâncias externas, como essa menina, a será que que eu tô desagradando? Será que eu não tô? Aí vou revisitar o que eu falei? Será que o que eu falei foi inadequado naquela reunião de trabalho? Aí será que o que eu falei com a minha amiga? Ela pensou que sempre atento ao outro, ansioso sobre o futuro, talvez. Por quê? para tentarem se sentir mais seguros. Eles querem ter controle sobre as coisas. Esses são os ansiosos. Outros vão ter uma forma mais obsessiva, mais neurótica também como forma de ter o controle sobre as coisas, né? Tudo na
tabelinha Excel, tudo dentro da rotina, tudo de uma forma previsível para eu me sentir mais seguro. Eu preciso de ordem e muita. Outros vão ter uma forma mais sensível, mais impulsiva, mais a flor da pele, tá? Outros vão ter uma forma mais desligada da vida, são extremamente racionalistas, se afastam completamente dos sentimentos. Perguntar o que que você sente, a pessoa não fala: "Não sei". Então, Lacan se debruça exatamente sobre isso. Dei toda essa volta para agora a gente entrar na na aula. Lacan se debruça exatamente sobre isso. Como o que parece ser um problema pode
ser, na verdade, uma forma de dizer o que não foi possível dizer. O sintoma como uma linguagem, como uma invenção subjetiva do sujeito ou vamos lá, que aquela menina teve para se adaptar e dar vazão à sua vontade de vida. Deu para pegar uma invenção subjetiva que aquela menina teve para se adaptar e dar vazão à sua vontade de vida. Ela tinha que fazer aquelas curvas que é o labirinto que tinha na frente dela, os pais dela. A massinha dada que ela era, conseguiu fazer determinados tipos de movimento. Algumas massinhas são mais moles, outras duras,
outras sei lá o quê, rochosas, enfim, ela conseguiu dar a curva que ela conseguiu dar. E a vida segue mais ou menos assim. A gente cresce e vai criando símbolos, formas às vezes silenciosas, às vezes desajeitadas de tentar ser compreendido, de tentar ser aceito, de expressar o meu eu no mundo. E essas formas elas vão se organizando como estrutura, como traços do nosso jeito de ser. Vemos uma vez na infância e o resto é repetição. A nossa personalidade se forma na infância e adolescência. Nosso cérebro, de certa forma, entre aspas, se fecha um pouco mais,
se solidifica. Essa massinha ela se torna mais rígida e isso torna o nosso molde, o nosso jeito de ser. É como se tivéssemos cicatrizes de uma infância que marca a nossa pele, só que isso faz parte de quem a gente é e nosso jeito de ser. Exatamente aqui que entra um ponto central da teoria de Lacan. O que ele propõe é que o sintoma não é um problema a ser eliminado. Ele é uma mensagem. Ele é uma linguagem simbólica que o sujeito inventa, muitas vezes sem saber para tentar dar conta de algo que não foi
simbolizado direito lá atrás. Vocês entendem? de uma falta lá de trás. A criança não conseguia, não tinha um aparato psíquico cognitivo de de compreender a ausência afetiva que ela sentia dos pais. Ela só se adaptou a isso e o sintoma aparece em forma de ansiedade, em forma de uma certa angústia de tristeza crônica. Hum. O sintoma é uma tentativa de resposta, de adaptação, uma forma de organizar aquilo que foi vivido com excesso ou falta, forma confusa, né? Eh, e por isso, ao invés da gente tentar consertar o sintoma ou apagá-lo, Lacanos convida a gente escutar
o sintoma, porque ao escutar o sintoma, a gente pode começar a entender o que que ele tava tentando falar ou o que que ele continua tentando falar. Ele, portanto, não é um inimigo, ele é uma invenção. Ele é uma tentativa criativa, inclusive da nossa subjetividade de continuar existindo, se adaptar ao meio. E todos nós, gente, somos assim, tá? O conceito de uma pessoa completamente saudável não existe para a formatação psíquica. Isso é o tópico. Cada tipo de criação vai ter a sua consequência e o seu sintoma. Claro que alguns mais atenuantes, outros menos, mas não
existe a perfeição, tá? Ã, pensem em em volta e meia, eu gosto de ir no parque, eu gosto de áreas verdes, natureza e tudo, né? E quando você vai no parque, um parque grande que tem muitas árvores, eh, a não ser que essas árvores tenham sido plantadas em, ã, não é laboratório, né, mas mas de forma artificial e transportadas para ali depois de adultas, tipo que nem fazem com as aquelas palmeiras de shopping, né? Eh, se elas puderam, ou se você vai para um para um para um para uma floresta, alguma coisa assim, uma mata,
você vai ver que essas árvores até dos parques, elas não são árvores perfeitas, né? Retinhas com a polpa, aquelas que a gente desenha quando é criança. Elas são tortas, tem algumas que são quase horizontais. Por quê? Porque foi espaço que elas encontraram, dado que tinham outras árvores, dado que tinha sombra e ela estava buscando o sol para prosperar. É a mesma coisa com a gente. Vão ter árvores grossas, finas, altas, baixas, indo para um lado, depois faz uma curva, uma meio manca. Todas essas árvores são árvores. A gente não vai olhar, dizer: "Essa árvore aqui
é menos árvore". Eh, vamos classificar elas de acordo com seus problemas, né? Segundo um manual e tal. Elas são vou trazer, vou trazer aqui um caso clínico eh que atendo bastante. Pensem numa pessoa com toque. Toque, transtorno obsessivo compulsivo. É aquela pessoa que precisa ficar fazendo várias verificações. Vocês já viram isso? Parece muito em filme, peças de teatro e coisas, né? Eh, a pessoa que precisa checar várias vezes se a porta tá trancada, se o gás tá fechado, aí ela vai e volta, vai, volta, vai e volta. Claro que esse sintoma incomoda, paralisa, faz a
pessoa se angustiar, perder tempo. Mas vejam o que há por detrás dessas checagens todas é a [Música] pergunta. Que que esse sintoma quer nos comunicar? Ó, põ o dedinho aqui na vidro. Muitas vezes para nos ver sempre, né, na verdade sempre, tem alguma coisa por detrás. Que que é isso? É um medo de errar? É uma necessidade de garantir que tudo vai dar certo? É uma tentativa de controle sobre as circunstâncias por receio do quê? de falhar, de ficar sozinho, se falhar, de ser rejeitado, de ser uma decepção. Entendem? O toque é uma espécie de
guardião que diz: "Não podemos falhar". Checa várias vezes, tem a certeza de que tudo vai estar OK. Para quê? Para proteger de algum tipo de medo, de rejeição, de desamparo, de culpa. Então, talvez lá atrás o pai e a mãe dessa criança quando era pequena e tava sendo formada a o molde, a massinha tava passando ali pelo labirintinho, né? Talvez pai e mãe diziam: "Olha aí o que que tu tá fazendo, hein? Presta atenção, não vai errar, não estraga as coisas". E aí o sujeito encontrou essa forma de contornar a [Música] angústia, conferir tudo várias
vezes, né? E conferir tudo várias vezes virou uma tentativa de garantir: "Eu não vou decepcionar ninguém, eu não vou decepcionar meus pais. Se eu checar várias vezes, eu garanto que vai tá certo". E aí eu checo, volto e tenho medo. Ai, será que é mesmo? Eu vou lá e checo de novo. Tamanho é um medo que eu tenho de errar ou de falhar ou de ser rejeitado. Então, se eu controlar tudo, ninguém eu não vou errar. Ninguém vai se afastar de mim. Deu para pegar a ideia? Esse tipo de coisa é o que a gente
chama de formação sintomática. é o que foi possível inventar lá atrás para lidar com o que era insuportável. Que que é o insuportável? A rejeição afetiva simbólica dos pais ou medo de tê-la. O sintoma é uma linguagem, é uma mensagem codificada sobre algo que a gente não conseguiu nomear, mas que carrega dentro de si um sentido. O sintoma fala e quando nós escutamos o sintoma, ele nos leva até aquilo que nos faltou, até a necessidade que não foi atendida. quase sempre vai estar relacionado a afeto, à conexão, a desejo de ser visto, de ser amado,
de ser reconhecido. Para deixar isso mais claro, vamos pensar em alguns outros exemplos. Já falamos aqui da tal menina, né, orientada ao outro. Vamos ilustrar mais na nossa aula aqui, trazendo outros exemplos. Imagina uma criança que cresce agora num ambiente instável. Que que é instável? Todos os adultos ao redor dela são imprevisíveis. Horas são amorosos, horas são distantes, horas são agressivos. Essa criança, sem saber o que esperar do ambiente que não tem previsibilidade, aprendeu que para ela ser ouvida, ela precisa ser intensa, que ela só ganhava atenção quando ela gritava muito para chamar atenção, quando
ela fazia escândalo, quando ela estourava, quando ela jogava as coisas no chão, quando ela batia na mãe ou no irmão. Não, ela recebia algum tipo de interação em relação às suas necessidades. Resultado na vida adulta. Imagina que essa pessoa vai ser alguém impulsivo, que sente tudo com muita força, que reage de forma exagerada e intensa, que às vezes explode, não por maldade, mas porque ela aprendeu lá atrás que só assim ela era percebida. O mundo não escutava quando ela falava baixo, né? E ela aprendeu a gritar. Outro exemplo, vamos lá. Ven uma criança que cresceu
num ambiente onde os sentimentos simplesmente não tinham espaço. Ninguém então, pai e mãe, perguntava como é que você tá, como é que foi seu dia? E quando ela chorava, ela ouvia, engole o choro, para com isso, vamos ignorar até ela parar. Ela vai ficar no cantinho do quarto lá chorando até parar e se regular sozinha, né? Para de drama, isso não resolve nada. Com o tempo, essa criança ela ela e ela codifica, aprende que sentir emoções não é algo lá interessante, né? Não tem um adulto que ajude ela a se regular quando ela chora, porque
a criança se regula a partir do adulto e depois ela aprende a se regular, né? Então, quando quando por não ter um adulto que que ajuda ela quando ela chora, sente tristeza, sente raiva, ela aprendeu que sentia emoções, é arriscado, ficava algo completamente desesperador e desamparador. Eu não sei o que fazer com isso, tá? Ao mesmo tempo que a mensagem implícita é demonstrar emoções é sinal de fraqueza. vai ser mal visto pelos outros ou é algo perigoso porque eu não vou saber o que fazer com esses sentimentos. Eu tô aqui chorando, sentindo raiva, tô sendo
rejeitada pelos meus pais por isso e não sei o que fazer com isso. Então essa criança vai aos poucos se afastando do próprio sentir, vai se dissociando do seu corpo e do que ela sente. Uma estratégia de evitação, ao passo que a menina que grita, que nós vimos há pouquinho, uma estratégia de compensação de dizer: "Porra, olha eu aqui, essa daqui é tipo assim, o eu não existe." evitação. E na vida adulta, ela pode virar alguém que racionaliza tudo, que precisa entender antes de sentir, que evita vínculos profundos. Porque vínculos profundos, e se colocar vulnerável
num vínculo profundo, se apaixonar, amar, essas coisas assim, envolve sentir e ela foge da intimidade. Por quê? Porque é perigoso, ela não aprendeu a sentir. Para ela tudo isso não é frieza, é proteção. É alguém que construiu um abrigo na razão, na racionalidade. Porque enquanto que a gente tá na razão, a gente não tá na emoção. As zonas do cérebro são diferentes. Enquanto a gente está processando as informações de uma forma lógica no pré-frontal, nóses não estamos com a nossa área emocional do cérebro ativada, sistema límbico, pessoas racionais, excessivamente racionais, é uma forma de evitar
sentir a vida. É constituir uma briga, uma funga na razão. Por Mas, mas mas que lá atrás sentir era o que mais doía. Porque ela tava completamente desamparada. Agora, quem que vai dizer na vida adulta tirar um print disso e dizer: "Ah, você é patológico, é neurótico, obsessivo." Entendem? Essa árvore cresceu como ela conseguiu crescer. Isso é uma característica que, como todas as outras características, vão ter vantagens e desvantagens. Agora, importante dizer uma coisa, reforço. Todos esses exemplos que eu tô citando aqui não funcionam como uma equação do tipo: "Ah, aconteceu X, então vai resultar
Y". A psique humana não é um sistema previsível, tá? que a gente tá falando aqui são respostas subjetivas, ou seja, cada criança encontra um caminho possível com os recursos emocionais que tem a disposição. Às vezes, até duas crianças gêmeas, vivendo no mesmo ambiente desenvolvem modos de funcionar completamente diferentes. É porque os pais, mesmo sendo os mesmos pais, são pais diferentes para as duas crianças, que eles eles gostem ou não. Eles não vão conseguir atender as duas crianças exatamente igual e no mesmo tempo. Primeiro eu peguei Joãozinho no colo, acalmei. Depois o Pedro. O tempo Joãozinho
pro tempo dois, Pedro já foi diferente. A minha paciente já foi diferente. O cuidado já foi diferente. Não tem como. Hum. E e Joãozinho e Pedro tem temperamentos diferentes. Podem precisar de doses maiores ou menores de carinho ou percepção de carinho diferente. Uma plantinha pode ser precisar de mais água e outra menos, tá? Uma criança pode se tornar mais explosiva e outra se retrair, uma se anular e a outra se rebelar, tá? Mas o ponto é, todas vão buscar uma estratégia de adaptação e sobrevivência. Isso acontece porque o que molda o sintoma não é o
que acontece por fora somente, mas como aquilo foi vivido por dentro. A mesma dor pode gerar reações opostas. O que elas têm em comum é isso, uma tentativa de continuar existindo, uma forma da vontade de viver, encontrar uma passagem mesmo em terrenos difíceis. Por isso, cada sintoma carrega uma lógica própria. Isso é importante de ficar claro. Cada sintoma carrega uma espécie de inteligência subjetiva que, mesmo parecendo estranha, mesmo parecendo exagerada, por fora pelos outros que julgam até por nós mesmos, fazia sentido no contexto emocional daquela infância, tá? Então, o mesmo acontecimento, dependendo da sensibilidade de
cada criança, pode levar caminhos muito diferentes, desde uma evitação silenciosa a uma resignação passiva, a uma tentativa ativa de compensação. Cada trajetória é única. Mas percebam aqui um ponto importante do que a gente tá começando a costurar. O sintoma não é um inimigo, ele é um aliado antigo. Ele é um aliado antigo. Ele foi a forma que o sujeito encontrou de continuar existindo quando não havia mais opções. Ele é uma adaptação psíquica. E aí que entra a virada da coisa para Lacan. ponto alto da nossa aula aqui hoje. É aí que entra a coisa. A
questão não é mais, reparem, a a pergunta não é mais como que eu me livro disso? Não é como que eu deixo de ser uma pessoa que se importa demais com os outros, como que eu deixo de ser uma pessoa racional demais? Como que eu deixo de ser uma pessoa emocional demais? Como que eu deixo de ter ansiedade? Não é mais essa pergunta. A pergunta para Lacan muda completamente. Ela vira: "Como eu posso viver com isso de um jeito mais habitável?" Para Lacan, a questão se torna eu sendo assim, como eu posso viver com isso
de um jeito mais habitável? Como eu posso não ser o meu sintoma, não sucumbir ao meu sintoma, mas aprender a fazer com o sintoma? Porque veja, esse sou eu, esse sou eu, esse sou eu. Com meu jeito de ser, de sentir, de pensar, de funcionar. Eu sou assim por causa do ambiente que eu cresci, das experiências que me moldaram, das estratégias que eu fui construindo e aqui estou. Esse sou eu. Hã, que que eu vou fazer? Viver de novo lá atrás? Não dá. E esse eu de hoje inclui o sintoma que faz parte estruturante de
quem eu sou. Eu aprendi a viver desta forma. Isso inclui minhas manias, minha obsessividade, minha ansiedade, minha impulsividade, seja o que for minha sensibilidade. Isso inclui essa forma peculiar de lidar com o mundo. Imagina uma casa, eu não sou engenheiro, não entendo nada disso, lufas, mas imagina uma casa que tem certas fundações, não sei quantas são, mas imaginem quatro fundações que seguram um edifício ou uma casa, os pilares embaixo dela, tá? Mesmo que não estejam completamente bem alinhados, tá arriscadinho, tá torto. É, é. Sustentam a casa. Esses pilares fazem parte estruturante da casa. A gente
não pode dizer: "Ah, agora eu não quero mais ser obsessivo. Eu vou retirar esse pilar fora, fingir que ele não existe." Entenderam? Então, que que Lacan propõe aqui? Novamente não é eliminar o sintoma, mas sim dada a realidade do presente, quem eu sou, como melhor acomodar esse sintoma, como adaptar esse sintoma, como encilhar esse cavalo selvagem. Toma não é um erro externo ao sujeito, ele é parte da estrutura do sujeito, estruturante da personalidade, do molde do sujeito. E por isso, para Lacan não dá para simplesmente pegar um pedaço de quem você é e tentar cortar
fora, passar tesoura, editar, como se fosse um vídeo que você tá editando para postar nas redes sociais. Ah, essa parte eu vou, não gosto, vou tirar fora. Se você tenta fazer isso, eventualmente só tomando um remédio, por exemplo, tentando eliminar a força, parte estruturante de quem você é e que lhe acompanhou, lhe acompanha por tanto tempo, pode ter certeza que isso vai voltar de outro jeito. Vai, vai haver o que a gente chama de um deslocamento do sintoma. Ele vai achar outra via para se expressar. a casa não cair, porque ele tá tentando dizer algo
e tem uma função. Ele tem uma função. O sintoma tem uma função. O sintoma também te organiza no mundo, faz parte do teu molde, tá? Pensa em uma chaleira muito quente que apita aí sai fumaça. Uma panela de pressão que tem aquele vaporzinho. Se você tapar aquilo não vai dar certo. O sintoma, ele tem uma função externalizante de alguma coisa que nós temos escutar, tá? Não só escutar, mas também acomodar no campo da vida, que é o que nós vamos começar a ver aqui. Por isso, soua irreal para uma pessoa ansiosa tentar de ser ansiosa.
Hum. Quando a pessoa ansiosa tá lá tendo uma crise de ansiedade ou tá preocupada com algo e alguém diz: "Que exagero, não é para tanto" ou diz: "Tenta ser menos ansiosa, tá tudo bem, fique calma". Uma coisa que funciona muito bem pra pessoa ansiosa tu dizer: "Fica calma, tá tudo bem". Né? Claro que não funciona. É mais inteligente, se eu sou ansioso, eu aprender a respeitar e conviver com a minha ansiedade. Como eu posso me passar mais segurança e aceitar que eu preciso de mais segurança do que os outros por eu ser ansioso? Vocês entenderam?
É uma conversa de muito mais compaixão por quem eu sou do que de crítica. De que formas eu posso conversar comigo quando eu estiver ansioso? Que não seja me criticando e me punindo, aceitando que eu sou assim? Isso por si só vai ter um efeito paradoxal de diminuir minha ansiedade. Olha, eu sou uma pessoa que precisa de mais controle. Como é que eu posso buscar segurança em relação a isso? Pessoa obsessiva, ela não vai relaxar e viver de chinelinho havaiana, tomando água de coco na praia, sem pensar em nada. Que que o o outro diz,
né? Tu tem que aprender a relaxar, meu. Esquece do trabalho, esquece dos problemas, tá tudo bem. Hã, é mais respeitoso essa pessoa obsessiva trabalhar, estudar, fazer o que ela quer mais do que a média das pessoas normalmente fazem, mas sem se deixar consumir por isso, saber fazer algumas pequenas pausas estratégicas, talvez menos do que a maioria das pessoas fazem. E tudo bem, é a forma dela operar, é a forma dela sentir menos culpa, é a forma dela ter um senso de realização, é a forma dela ter segurança e controle. Seria uma espécie de ela vai
pra praia, mas leva o laptop para trabalhar na areia, enquanto os outros estão no mar se divertindo. A pessoa ansiosa ela vai pra praia e ela não precisa entrar até o fundo. Mesmo o fundo sendo seguro, digamos, a água até a cintura, porque ela tem medo e ansiedade de se afogar. Tudo bem, fica na beira com as águas na canela, mas não se critica por isso. Não diz: "Ah, eu deveria ir até o fundo, eu deveria ser mais corajosa". Diz: "Tudo bem, estou aproveitando a praia do meu jeito". E se a pessoa obsessiva não fizer
isso, a pessoa ansiosa não fizer isso, ela vai se sentir culpada, ela vai se sentir mal e ela vai sentir isso porque ela tá fluindo contra a natureza dela já estruturada. Ela tá tentando ser o que ela não é. Deu para pegar mais ou menos nesses exemplos? Então, vejam, para Lacan, a questão é transformar isso que eu sou, que inclui o meu sintoma em algo que me ajude a viver. Não apenas eu ficar preso no meu sintoma, ou seja, ser o sintoma, mas aprender a viver com o sintoma, fazer com o sintoma. Não é só
sobreviver, é eu usar isso em relação a quem eu sou e colocar isso no mundo, aceitando quem eu sou. Como eu posso, em outras palavras, não ser refém do meu sintoma, mas usar ele a meu favor. É isso que eu tô tentando dizer. Essa é a diferença entre ser sintoma, que é sucumbir a ele, ficar preso nele ou tentar mudar radicalmente ele versus aprender a viver com o meu sintoma, aceitar que eu sou e tentar achar o meu espaço no mundo assim. Eu não ser mais comandado por ele, mas sim usar ele a meu favor.
Por isso eu falei encilhar esse cavalo e usar ele a meu favor de uma forma socialmente aceita na sociedade. Isso que nós chamamos na análise, na psicanálise, sublimação, colocar o meu eu no mundo de uma forma socialmente aceita, saber fazer com o sintoma, ou seja, em vez de lutar contra ele, é reconhecer que ele é parte de quem eu sou, um jeito autêntico de se estar no mundo. Não se, pelo amor de Deus, ó, não se trata de novo de dizer assim: "Ah, se você tem crise de ansiedade, ataques de pânico, dane-se. Fica aí tendo
crises de ansiedade, porque isso é quem você é". Não é isso que nós estamos dizendo aqui, tá? Pelo amor de Deus. É saber acolher essas crises sem crítica. Hã, é saber que essas crises de ansiedade comunicam em termos de que você não se sente segura e levar isso a sério. Ao invés de dizer: "Ai, que frescura! Não é para tanto, para de ter crise, tá tudo bem na tua vida". É levar isso a sério e entender. Tá tudo bem ter crise? OK. Do que que eu tô com receio? Vai passar. Vamos tentar entender do que
que eu não tô me sentindo seguro. Tudo bem, de vez em quando eu tenho isso mesmo. Hã, aceitar isso faz com que as próprias crises diminuam. No fundo, tudo gira em torno da aceitação de quem se é. Paraa depressão, a mesma coisa. Para outros ditos, transtornos da mesma coisa. Tá? Curioso paradoxo é que quando eu me aceito como eu sou, então eu mudo. Já dizia Carl Rogers. Por quê? Porque eu me critico menos e eu acomodo esse jeito de ser aceitando ele. Eu começo a ter mais compaixão com ele, começo a escutar e dizer onde
que eu preciso, como que eu preciso me tratar bem para acomodar isso. Curioso paradoxo é quando eu me aceito, eu mudo. Eu me trato de uma forma, na aceitação, eu me trato de uma forma boa. Isso por si só alivia a carga emocional, manifesta através do sintoma. No seminário 23, Lacan, ele dá o exemplo do James Joyce, o famoso escritor, né, modernista do Ulisses. Não sei se vocês agora tá longe aqui para eu pegar, mas um livro grossão aqui, tá? Ulisses, escrito por James Joyce dentro de outras grandes obras. E o Ulisses, o Lisses, não,
o James Joyce, ele tinha um um funcionamento psíquico tão singular, como o Lacad escreve, tão fora da média que talvez ele fosse considerado louco se ele não tivesse escrito, mas ele escreveu. E na escrita, hã, na escrita ele fez algo que era ele. Joyce, ele não eliminou a estranheza dele, ele transformou a estranheza dele em linguagem. Ele fez do sintoma uma obra, ele fez do que doía um estilo. Ele fez daquilo que separava ele dos outros, em tese, uma forma de dizer, de viver, de dizer e de viver. Aí surgiu o Ulisses, né? Não sei
se vocês já leram, é uma obra radicalmente singular, é um dos marcos da literatura clássica de passagem de um estilo ao outro, muito original. Para quem já leu Ulisses ou para quem vai ler, enfim, você vai ver que a não há uma linearidade tradicional, a narrativa muda de estilo o tempo todo, o jogo de palavras é diferente, tem muitas invenções, associações livres. É quase impossível ler esse livro como se lê um romance convencional, né? E exatamente aí que tá o ponto, Joyce com Ulisses. Eh, então e e mais ainda com o Finegans Wake, que é
outra obra dele, ele transforma sua relação muito particular com a linguagem e do modo de pensar dele em obra. Ele não escreve para comunicar algo simples, ele escreve para fazer existir uma experiência, uma experiência que vem dentro dele, da forma como o psiquismo dele funciona. Segundo Lacan, esse exemplo do Joyce é muito válido pro ponto do que ele tá costurando da sublimação, do fazer com o sintoma, é usar o sintoma e conseguir criar e se expressar a partir disso de uma forma mais autêntica. Segundo Lac que Joyce faz, é é quase que literalmente costurar seu
próprio eu na escrita. Ele se sustenta psiquicamente pela obra. Isso aproxima muito o que Lacan quer dizer com o saber fazer com o sintoma, com a ideia de sublimação lacaniana, podemos dizer assim, né? Só que é claro, ninguém, quer dizer, não vou dizer ninguém, mas nem todo mundo de nós, eles mortais vai se tornar um escritor, um diretor de cinema. Estilo Wood Allen, que consegue colocar suas neuroses nos personagens, né? Estilo Paulo Sorrentino, que faz filmes belos sobre aquilo que não consegue ser dito e elaborado, né? São filmes muito autorais sobre si. Para quem não
vi, recomendo. São obras lindas, né? Ou um pintor famoso que sublima suas dores na tela, né? Coloca suas feridas na tela. É, é essa sublimação lacaniana que nós estamos falando, né? Sublimar como encontrar no campo de vida das coisas que existem uma vazão pro meu eu, né? encontrar no campo de vida, né? Eh, no meu espaço social, uma vazão pro meu eu socialmente aceita. Essa sublimação não precisa passar pela arte ou pelo sucesso necessariamente, né? Nem todos nós temos esse esse esse dom, esse talento. A maioria das pessoas não vai escrever ulices, não vai pintar
quadros, mas isso não significa que a gente não possa fazer com o sintoma. Da mesma forma. Da mesma forma. Vamos lá. Vamos lá, gente, olha só. Imagina, vamos trazer pro mundo mundano, né? nosso. Imagina alguém com funcionamento obsessivo. Então lá, detalhista, exigente, planilha Excel para tudo ou rotina para tudo, que sente necessidade de controle por essas vias, que checa, pode ser, checa as coisas várias vezes para garantir que nada vai dar errado, tem sei lá, o seu seu toquezinho misturado na obsessão, né, que a gente chama de personalidade obsessiva compulsiva na psiquiatria, tá? Eh, isso
num contexto de vida mais solto pode ser um sofrimento. Essa pessoa pode viver num conflito eterno com a própria exigência, achando que que a pouco ela é uma pessoa complicada demais, que ela deveria ser mais leve e ela tenta ser mais leve e daí vem o outro lado que cobra dizendo que ela não tá fazendo o suficiente. Essa pessoa ela se critica porque ela se preocupa excessivamente com as coisas. Ela não queria ser assim, né? Compara com a grama do vizinho e diz: "Eu deveria saber relaxar mais como o meu vizinho Paulo". Hã, o Paulo
desliga do trabalho nos finais de semana e ele curte a família, ele sabe viver a vida. É claro, falando isso sem saber o que que se passa dentro do Paulo, que por sua vez tá lá cheio de problemas, cheio de minhoca e pedregulho na sua terra, outros problemas, mas ninguém sabe. Ou só o analista dele sabe. Agora imagina essa mesma pessoa obsessiva tentando achar um lugar para se expressar, fazer com o sintoma. Que que seria isso? De não? Um exemplo hipotético, a pessoa vai buscar, cada um vai buscar o seu espaço. Mas eu tô dando
um exemplo. Nosso amigo obsessivo, hum, buscar dentro do seu trabalho uma função a qual ele consegue exercer essa obsessividade, ele vai se dar bem, ele vai ter um gozo, ele vai conseguir colocar ele no mundo de uma forma socialmente aceita. Sei lá, ele pode ser um piloto de avião que tem que fazer mil checagens das coisas, um cirurgião, um programador que tem que tomar bastante cuidado e revisar o o que tá escrevendo. Detalhes importam, né? Todas essas funções, o olhar atento, detalhe, preocupação com precisão, a checagem repetida, tudo isso deixa de ser um problema e
passa a ser valorizado, vira responsabilidade, muda o adjetivo, né? Ai, que cara responsável, ele faz um trabalho de excelência. Hum. Vocês conseguem ver a inversão, a sublimação e na vida pessoal. Imagina que nosso amigo obsessivo esteja num relacionamento. E porque ele funciona dessa forma obsessiva, ele não é das pessoas mais espontâneas do mundo, tá? Não é alguém que faz declarações de amor do nada, que diz eu te amo, que que é tomado por decisões do impulso e gosta disso, aventuras, surpresas, né? Ele pensa muito antes de agir. Ele avalia todos os prós e contras, ele
imagina todos os cenários possíveis. De novo, ele pode ser visto pelo outro como uma pessoa fria, engessada, mas uma pessoa que não entende o seu jeito de operar. Num relacionamento, percebam que o cuidado da pessoa obsessiva, ela pode aparecer de outro jeito. Não vai ser no eu te amo, no abraço, no carinho, na espontaneidade, mas é ela, a pessoa obsessiva, que lembra que a fatura do cartão vence amanhã, que monta uma planilha para organizar as finanças do casal quando eles querem pensar em ter filhos, pensar em mudar de casa. pensar em fazer uma viagem. O
sonho da esposa é viajar, sei lá, eu, paraa Europa e ele faz isso acontecer através de um sistema onde eles economizam X por mês, que pensa e pesquisa com calma o melhor roteiro, os preços, os hotéis que estão em conta para esse sonho se realizar. Hã, ele não vai ser a pessoa empolgada que diz assim: "Vamos viajar no feriadão, ai sexta de noite, amanhã, sábado de manhã, a gente pega o carro e não, ele não vai ser". E se a outra pessoa fizer o convite para ele, ele também não vai responder isso com entusiasmo. Isso
se mal interpretado pro outro pode dizer: "Pô, ele é falta de amor". Mas vejam, a linguagem que ele manifesta não é essa da espontaneidade, porque meia hora depois, mesmo ele não respondendo esse convite de uma forma afetuosa, ele já tá analisando se cabe no orçamento, vendo quais são as melhores rotas. Vocês entendem? Essa é a forma dele demonstrar amor e isso também é amor. É claro que às vezes esse jeito de funcionar pode gerar ruído. Como todo o jeito de funcionar de duas pessoas que se relacionam A e B vai gerar ruído. Eu sempre falo,
a gente não namora a gente mesmo no espelho e graças a Deus. Hã, o parceiro por horas pode se sentir meio podado porque ele é animado e o parceiro e o obsessivo não responde bem a isso. Como se qualquer ideia precisasse, sei lá, três reuniões e uma planilha antes de sair do papel, né? Isso tem seu lado ruim também, não é uma vida tão uau colorida. E a pessoa obsessiva também pode se sentir sufocada pela imprevisibilidade e o colorido do outro. porque isso tira ela da zona de conforto. Mas quando tem espaço na relação e
para isso que a gente trabalha, uma análise séria, é para isso que a gente trabalha, uma terapia de casal séria, é isso que se trabalha. Quando se tem espaço paraa tradução das linguagens, pro reconhecimento [Música] múo entre o parceiro e a parceira, da sua forma de expressar e de cuidar, dada a sua história de vida e o seu molde, ambos começam a enxergar o que que existe ali por detrás. A pessoa obsessiva não deixa de ser exigente, né? Ela não vai virar impulsiva, mais livre, mais solta. Hã, e não precisa, como eu falei, ela não
vai pegar o chinelo havaiana e ir lá na beira da praia tomar coco. O seu modo de funcionar continua o mesmo. Ela precisa pensar antes de agir. Pesa os riscos, planejo que tudo. Planejo o que parece simples pros outros e não precisaria planejar. Ela nota no aplicativo do celular os gastos do cafezinho. Isso não é um problema, é parte de como ela cuida. Ela vai seguir não demonstrando afeto com facilidade, com empolgação, mas lembrem, ela é quem antecipa as necessidades da casa, quem envia o lembrete da consulta médica, quem levanta pontos que ninguém pensou antes.
Ela enxerga o que pode dar errado. Em vez de só sentir, ela age, ela cuida do futuro. E isso também é presença. Hum. O parceiro, por sua vez, aprendeu a ler esse idioma e quando isso acontece, ele percebe que aquela planilha com os custos de viagem daí não é uma neura, mas uma forma de garantir que eles possam viajar sem aperto, que é a forma do parceiro tente de se sentir seguro e respeita isso, que é um tipo de cuidado e de quem diz: "Eu me importo na sua linguagem". que aquela pergunta sobre o plano
de saúde não é pessimismo, mas é zelo. Então, o parceiro e e em uma relação que amadureceu, não espera que a pessoa obsessiva, e aqui estamos dando exemplo obsessivo, poderia ser um ansioso, poderia ser qualquer um, não espera que a pessoa obsessiva se torne mais leve, ou que é ansioso ou menos ansioso, no sentido de mais de boa com a vida, sem tantos medos, né? entende que essa pessoa, o parceiro entende que o amor do outro tem esse peso, no caso do obsessivo, da responsabilidade. E a pessoa obsessiva, ao sentir que ela é interpretada e
lida dessa forma, ao se sentir entendida, portanto, ela deixa de se culpar por ela ser como ela é. Ela percebe que antes parecia ser ser demais. Ah, para que tanto controle? é na verdade o que sustenta ela na relação e na vida dos dois, às vezes até financeiramente. Então, percebam que a aceitação perpassa pelo casal a ideia de menos crítica do outro e depois eu para comigo mesmo. Então, nesse recorte, nesse exemplo, a pessoa obsessiva, portanto, ela não se transformou em alguém espontâneo, mas encontrou na relação um lugar onde ela pode, ela pode ser exigente
sem se sentir errada, onde a sua precisão, ela não é vista como exagero, mas como zelo. Não é sobre suavizar obsessividade, mas sobre aprender a habilitá-la, vamos dizer assim, de uma forma digna nos campos da vida. é reconhecer a sua importância. Faz sentido, gente? Não repareem, mas eu vou pegar essa pequena aguinha aqui, ó. Esse pequeno galãozinho de água. Vou colocar aqui no copo. Minha garganta está seca. Vamos lá. Outro exemplo. Outro exemplo. Vamos pegar agora, vamos pegar a nossa menina lá que eu esqueci o nome, a menina que aprendeu a se orientar pelo outro.
Vocês lembram nossa menina lá do início da aula? Digamos que ela cresceu e agora ela tá numa relação amorosa. Lembram dela? Era uma criança que só só era valorizada quando ajudava, quando ficava quietinha, quando cuidava, né? Quando deixava suas próprias necessidades de lado para atender os outros, né? Sei lá, cuidava do irmão menor da casa, ficava sempre atento à mãe, né? para não incomodar, coisa do tipo. Reforço. Gente, aqui eu tô dando um exemplo específico e pontual para ilustrar nossos pontos da aula. Não levem como regra os acontecimentos, por favor. Como eu disse, cada um
em sua subjetividade vai encontrar uma saída específica dada a sua infância. O que eu tô dizendo é essa saída vai fazer parte do jeito de cada um de ser. E quando digo saída, digo uma forma da vontade de vida se expressar, de tentar prosperar e ser aceito, a a massinha se modelando, tá? De se adaptar ao meio, que na época era pai, mãe, professores, amigos, colegas, né? Mas enfim, vamos pensar nesse tipo de de de cenário para fim de ilustração. A menina lá, vamos voltar para ela, a menina cresceu e agora ela é adulta. Alguém
que teve que se orientar pro outro totalmente em pró de si mesmo. As necessidades pouco importam, tá? ou melhor, a forma como ela conseguiu nutrir as suas necessidades foi se orientando ao outro, né? Porque para ela importa a necessidade, mas a forma dela ter algum tipo de segurança é cuidando do outro se ou cuidar do outro serei aceita. E se serei aceita, serei gostada ou não serei rejeitada? Diz sobre um ato eh egoísta no sentido nitiano, né? Que todo ato é egoísta no seu fim de dizer: "Eu quero o meu bem, mas o meu bem
ele é obtido a partir de eu me anular e cuidar do outro". Hum. Então tá, vamos lá. Por isso que eu digo, popularmente suas necessidades não importam, elas se foca no outro, né? O foco era no externo para tentar agradar pai e mãe. Vamos lá. Isso pode gerar na vida adulta, essa menina cresce um jeito mais passivo, dificuldade de dizer não quando os outros pedem favores, tendência a se anular. Esse é o molde dessa dessa agora não, menina, moça, mulher, sei lá, né? uma estratégia que a gente no print da da da psiquiatria fala subjulação,
autosacrifício, hum, esses traços que aparecem na fotografia. Ela é muito subjugada, ela é uma tem uma personalidade dependente. Essa foi a saída, vamos lembrar, dessa menina que cresceu assim. Agora vocês entendem essa personalidade dependente, essa subjulação. Pera aí, o Fernando me falou sobre essa menina, eu sei a história dela. Isso aí foi o que ela conseguiu. Faz sentido dentro da história dela. Faz parte da estrutura dela. É um pilar da da casa, do prédio. Vocês entendem? Não é assim. Vamos modificar com a força do pensamento. Faça sete regras do saber. Acorde 2 horas mais cedo
e vá e e não. E aí depois de uma semana você cria um novo hábito e muda seu mindset. Não é assim que funciona a psiquê? Tá? São 200.000 1 horas moldando essa característica que agora é estrutural da personalidade da pessoa. Mudar isso só vivendo de novo, tá? Reencarnando e tendo outros outra infância. Só só isso. Simples, né? Agora reparem que interessante. Se essa mesma mulher adulta com essas características a personalidade dependente, né? a foto da psiquiatria lá no manual, personalidade dependente, subjugada, eh, auto sacrifício elevado, tem vontade luz própria, não sabe dizer não. Tudo
isso a gente pode dar um nome técnico e colocar lá no manual, né? Classificação nozológica, transtornos mentais. Agora, reparem que interessante. Se essa mesma mulher com essas mesmas características tiver em um contexto em que isso é adaptativo, isso deixa de ser um problema. Se se essa mesma mulher, por exemplo, na sua profissão, se ela quiser trabalhar, um homem quiser trabalhar, não tô dizendo porque a mulher não tem que trabalhar, tô dizendo se a pessoa trabalhar, tem que ter tudo explicado hoje em dia. Se a pessoa trabalhar, poderia ser um homem, poderia ser uma mulher, poderia
ser qualquer coisa. E a pessoa pode escolher trabalhar ou não, mas se essa mulher quiser trabalhar e seguir um caminho profissional, como por exemplo, algo que envolva cuidado, enfermeira, terapeuta, professor, até médico cai nessa vertente, embora a maioria dos médicos busquem, na verdade, um reforço a seu ego pelo status da profissão. Muit não muitos, mas alguns médicos buscam a medicina como forma de exercer essa necessidade de cuidar do outro. Então, médico entra nisso, professor entra nisso, terapeuta entra nisso, terapeuta se anula para escutar o outro, enfermeiro tem muito alto sacrifício, entra nisso. Enfim, existem vários
outros caminhos em que essa menina com essas características de orientação ao outro poderia triunfar. Qualquer profissão que ela consiga exercer esse cuidado, esse super poder de estar atenta às necessidades dos outros, ela transforma esse traço em potência, como diria Niet, impotência. Vejam como ao invés de se refém do desejo do outro, ela pode colocar sua escuta, seu cuidado, sua empatia a serviço de algo maior. Nesse sentido, ela não estaria se anulando, ela estaria canalizando as suas características e as suas virtudes. Daí se tornam virtudes. Ela não abandona, portanto, a sua estrutura. Ela dá uma função
para sua estrutura. Vou repetir. Ela não abandona a sua estrutura. Ela dá uma função para a sua estrutura. Ela não precisa, portanto, aprender a virar uma pessoa mais dura, mais egoísta, aprender a dizer não, eh, aprender a pensar mais em si. Ah, deixa de ser tão tapada, amiga, tão orientada pros outros. pensa mais em ti? Não. Se ela fizer isso, ela vai se remoer de culpa. Vai tentar tirar fora o alicerce. Ela só precisa encontrar uma forma de fazer com que aquilo que ela já é dela a espaço no campo de vida. Porque lembrem, o
sintoma é estruturante. Ela só precisa encontrar uma forma de fazer com aquilo que ela é. O sintoma é estruturante para essa pessoa, para essa mulher cuidar e colocar os outros antes. É uma forma de ela se sentir bem. É a forma que ela encontrou de navegar no mundo. Agora imagina essa mesma pessoa num relacionamento. Ela tem prazer em cuidar, em facilitar a vida do outro, em estar disponível. Ela não sente a necessidade de comandar a relação, nem de ter a última palavra, nem de propor na relação. Ela prefere que o outro tenha esse papel. Ela
prefere que o outro escolha o restaurante, defina os planos, decida as coisas. E isso não vem de um lugar de sofrimento, mas de conforto. É assim que ela se sente segura, útil, é assim que ela se sente vinculada. parceiro, se não entende essa linguagem, ele pode interpretar isso como apatia, como submissão, pode ler isso de forma negativa, pode querer empoderar ela, né? Incentivar ela a decidir mais, assim, pôr mais. Escolhe aí, tu nunca decide qual filme tu quer ver agora não vou escolher, tu vai ter que escolher. Se o parceiro conseguir na tradução da linguagem
entender que essa suavidade que ela tem não é ausência, é presença, aí a coisa muda, a coisa se assenta. Cada um pode ser o que é na relação e usar isso a seu favor. No mesmo exemplo que eu dei lado obsessivo, vocês percebem? E aí esse parceiro, ao invés de tentar mudar a nossa menina, que hoje é uma mulher, ele o cônjuge, né, no caso, o parceiro, aprende a reconhecer a linguagem dela. Aprende que quando ela diz a você que escolhe, quando ela diz isso para ele, ela não tá se anulando. Ela tá exercendo a
sua maneira de se vincular com o mundo. Ela gosta de estar nesse lugar de apoio, de retaguarda de quem pensa no outro antes de si. Isso não fere ela. Pelo contrário, isso fortalece ela. Poderia ser ele. Tanto faz aqui o o sexo gênero, né? E eu tô dando um exemplo específico onde isso se assenta. Dada a formação de personalidade de um e do outro. Ela não precisa se tornar alguém mais dura, nem mais dona de si ou dono de si para ser respeitado. Porque hoje em dia é isso, né? Todo mundo tem ser um grande
líder, curso para líderes, né? Seja líder, tenha voz no mundo, faça acontecer. Quem disse que todo mundo tem que ter essa personalidade, né? E quem que disse que essa personalidade é melhor? Eu, por exemplo, acho um saco líder e vendedor, porque são pessoas falsas, né? Elas têm que ser manipulativas. Isso me incomoda. Não são pessoas autênticas. Nunca. O respeito vem justamente do parceiro enxergar o valor que essa moça entrega e de não confundir delicadeza com fragilidade. Se o jeito de amar dela, poderia ser ele, é discreto, é o jeito dele. É discreto, mas é constante.
É silencioso, mas é confiável. E o parceiro, ao compreender isso, passa a ver ali uma presença sólida, alguém que está, que sustenta, que cuida, mesmo sem chamar atenção para si. Então, ela não precisa mudar o jeito dela de ser. Ela continua preferindo apoiar do que conduzir, cuidar mais do que reivindicar a si, está nos bastidores em vez de ocupar o centro. Isso não é um problema. É só a forma como ela se sente bem. Muda é que agora ela tá com alguém que entende isso, que não tenta empurrar ela para fora do lugar dela, mas
que reconhece ali um jeito legítimo e até bonito de amar. Quando a gente começa a entender melhor o nosso jeito de sentir, de pensar e de reagir, agora trazendo pra gente, quando a gente começa a entender melhor o nosso jeito sem tanta crítica, as coisas começam a mudar, porque mesmo aquilo que parece disfuncional, como os pensamentos obsessivos, as repetições mentais, crises de ansiedade, carregam um sentido. Esses pensamentos, geralmente eles estão pensamentos ou ou sintomas, pode ser a crise, estão tentando proteger algo importante, garantir segurança, evitar uma dor. E ao invés de lutar contra eles o
tempo todo, uma pergunta mais útil pode ser do que que esse pensamento ou esse sintoma está tentando me proteger? O que que essa ansiedade tá tentando me comunicar? O que que ele tá pedindo? O que que eu preciso escutar aqui? Pessoas com funcionamento obsessivo, por exemplo, muitas vezes têm uma sensibilidade elevada aos detalhes. Então, a mente analítica que tenta antecipar os riscos, né, para manter estabilidade. Isso quando reconhecido e cuidado com gentileza, pode se transformar numa força, porque ali existe uma inteligência emocional. O obsessivo, ele tem uma capacidade profunda de observar, de refletir, de perceber
nuances mais do que a maioria das pessoas. Ele tem uma força de vontade e uma resiliência maior do que a maioria das pessoas no sentido de produção e tolerar. Só que isso tá voltado pra tentativa de evitar o pior, uma catástrofe, né? Quando essa mesma capacidade, catástrofe imaginária, no sentido de ser rejeitado do amor dos pais, né? Quando essa mesma capacidade encontra um espaço na vida adulta mais segura para existir, ela pode ser usada como uma potência no campo de vida, ser usada de outro jeito, não mais para controlar tudo o tempo todo em ordem
a um medo de ser rejeitado pelos pais, mas para organizar melhor o dia, para pensar antes de agir, para planejar com cuidado, sem paralisar. E isso pode ser colocado no campo da vida em ajudar a manter compromissos, a ser um excelente profissional na sua área, a perceber nuances nas relações, a deixar a relação segura financeiramente, a tomar decisões com consciência. Em vez de virar uma prisão, vira uma ferramenta a favor da vida. Então a mudança começa aí quando em vez de tentar apagar o que a gente sente e por consequência o sintoma e quem a
gente é, a gente começa a construir um lugar dentro da gente onde isso tudo pode existir sem ser punido. E isso muda tudo, porque ser acolhido mesmo por nós mesmos ou principalmente por nós mesmos já começa a resolver o que antes parecia impossível de lidar. Sacam? É. É tipo, na minha época de criança tinha um desenho que se chamava X-Men e tinha um cara no X-Men que era uma espécie de mutantes lá, tinha um cara que se chamava Ciclope. O Ciclope ele era um cara que ele tinha laser nos olhos. Então se ele tivesse sem
óculos escuro, o laser só saía e queimava o que tava ali. Então ele tinha que estar sempre usando óculos escuros. Então ele era perigoso, mas ao mesmo tempo ele era, ele tinha um poder, vocês entendem? Tinha um poder associado a ele. Cada cada Xmenha poder diferente. Cada mutante lá tinha um poder diferente. Somos todos mutantes e cada um tem um poder diferente. O ponto não é eliminar o laser. Ah, vamos levar o ciclope pro oftalmo fazer uma cirurgia lá de catarata, né? Tirar o olho dele. Não, não é isso, né? O ponto era nessa analogia,
ele aprendeu a usar o óculos na hora certa para não sair aí queimando todo mundo com laser, né? Ele aprender a canalizar a energia porque era necessário e o que ia potencializar ele no campo da vida, tá? Então aquela frase manjada, né? Com grandes poderes vem grandes responsabilidades e cada um de nós tem um grande poder que tem o ônus e o bônus. Podemos pensar sim sobre o sintoma. Hum. Voltando à ideia e uma costura que eu quero fazer aqui, que eu acho importante, que faltou, eh, num relacionamento a dois, eh, e a gente tava
dando alguns exemplos agora h pouco sobre isso, né? Em um relacionamento a dois, namoro, casamento, algo do tipo, o segredo não é tentar mudar o outro, arrancar os olhos do ciclope, mas permitir que cada um possa ser quem é e que esse jeito do outro seja respeitado e acolhido na convivência, entendido e traduzido como a forma do outro de manifestar algum tipo de cuidado. algum tipo de necessidade de segurança que ele tem com ele mesmo também. É claro que existem ajustes, negociações, pequenas acomodações, mas essência, hã, a essência é que cada um precisa ter espaço
para existir. Amar alguém também aprender a reconhecer o modo como essa outra pessoa ama. Qual o jeito do meu parceiro demonstrar cuidado? E claro, qual o meu? Isso tem de ser uma essência a ser preservada. Mais do que apenas aceitar as diferenças, é conseguir enxergar a beleza nelas. E claro, como nem tudo são flores, tolerar algumas faltas. Ponto é poder ser quem se é. e conseguir colocar no campo da vida, seja no trabalho, seja nas relações, nosso sintoma estruturante, ou seja, nossa personalidade de forma afirmativa. Isso se chama sublimação. Quando a gente encontra um destino
possível para quem a gente é, é um ato afirmativo de vida. Vocês percebem? É por isso que Lacan diz em seu texto: "Ama o teu sintoma como a ti mesmo." Ama o teu sintoma como a ti mesmo. Mas Fernando, eu sou excessivamente ciumento ou ciumenta. Hã? Olha que que tem de bom nisso. Bom, eu responderia de que forma, de que forma você pode buscar se sentir mais seguro dada essa necessidade ou mais segura, né? Ciúme diz mais sobre você do que sobre o outro, uma insegurança. De que forma você pode se sentir mais seguro? Talvez
na sua história faça sentido de que você não se sinta seguro se a gente for olhar seu molde lá de trás. Com certeza esse sintoma tá aí não é de graça. Você tem medo de perder, você tem medo de perder do outro trocar por alguém, do outro morrer. Tem a ver com uma insegurança sua infantil. evidente de que forma você pode se sentir mais seguro, seja por si mesmo, seja junto com o parceiro hoje no presente, ele topa lhe passar mais reasseguramentos dentro de um limite, dentro de um limite que ele não se sinta tolhido
ou cerceado, né? Ele topa mandar mais mensagem dizendo: "Ó amor, tô bem, estou voltando, ó, estou no trânsito, vou atrasar 5 minutos, mas está tudo bem." Ele topa. Acho que fora um parceiro pode entender isso como um gesto seu de cuidado, uma sensibilidade como uma forma de se importar, de ser sensível. Hã, agora lembra, você tem esse laser no olho, né? Você você é o ciclope. Ser extremamente ciumenta também mostra a sensibilidade de quanto você ama, em qual intensidade você ama. Como que você pode usar isso a seu favor? Passeios românticos, sexo intenso e apaixonado,
declaração de amor no Dia dos Namorados. Entenda que que essa profundidade são momentos ótimos de serem experienciados em vida. Essas notas, vamos dizer assim, essas notas agudas de um piano que só você que é sensível consegue tocar e vai alcançar são um gozo e um deleite muito bom de ser vivido. É o lado bom ali de potencializar, né, a coisa. Um sexo porrada, um sexo com tesão, né? presentes, aquela coisa, aquela química, cara, isso é muito bom de ser vivido. Claro, nem tudo são flores, nem tudo é belo de novo. Lado positivo e negativo. Entenda,
o obsessivo regradinho que não tem eh ciúmes, eh, não é não é ciumento. Ele pode não ter ciúmes, mas ele não vai sentir esse colorido todo o que você sente. Aí a gente vai ficar olhando pras gramas do vizinho e vai dizer: "Ah, queria ser assim, queria ser assar". Lado positivo e negativo, sabores e dessores de ser quem a gente é. A questão é como eu, no seu caso dos ciúmes, né? Como que eu posso passar segurança e acolhimento pros meus momentos difíceis em relação a quem eu sou? Caso de todos nós, né? mas não
malizendo e criticando quem eu sou e como que ao mesmo tempo eu posso potencializar na vida o meu bônus. O ciclope também deve ficar lá de saco cheio, não mostra no desenho, né, que eu assistia, mas ele deve ficar de saco cheio de ter que usar aquele óculos. Aposto que ele gostaria de poder entrar no mar, na piscina, né, de de tomar um banho e um chuveiro quente, eh, e lavar o rosto, ou de no ir no cinema. Imagina que o ciclope não pode ir no cinema. Ônos e bônus. Ele não pode fazer essas coisas
ir no mar. Ele queria tirar o óculos para ir no mar. Como é que faz? Não sei. Brincadeiras a parte, mas vocês entenderem analogia, né? Então, qualquer modo e funcionamento de vida vai ter suas vantagens. suas desvantagens. O ponto é a gente saber administrar. E para isso é preciso primeiro se conhecer. Só se conhecendo é que a gente aprende a administrar quem a gente é. Que que é se conhecendo, né? É primeiro eu escutar o meu sintoma e encaixar na ideia da minha história. Por isso que eu tô falando aqui sobre essa questão primordial da
história e não só da do fazer com o sintoma, né? Para se conhecer preciso ter esse vertical. sobre nós mesmos, não só fotografia estanque presente, escutar o sintoma para nos entendermos e com base nos entendermos ver o que que a gente pode fazer com isso. Não é o que fizeram com a gente, é o que a gente vai fazer com o que fizeram com a gente, né? Para Lacan, isso não é [Música] conformismo. Isso não é conformismo. É reconhecer que aquele nosso jeito de funcionar, por mais estranho que pareça, tem a ver com a nossa
história e carrega algo profundamente nosso. achar no mundo uma forma socialmente aceita de você poder ser você. É não deixar o sintoma te dominar, mas você saber usar ele a seu favor. Eu eu eu sempre brinco nas minhas aulas quando nós estamos falando sobre algum tema que toca a personalidade, eu sempre gosto de trazer e quando tem slides, eu projeto o slide, né? Aí eu eu gosto de mostrar um caso de loucura explícita para deixar bem claro a loucura das pessoas. Então eu mostro um slide grande na parede, uma foto grande de um jogador de
tênis famoso que tem lá 20 títulos mundiais. Então assim, para quem conhece tênis, né, um Nadal, um Roger Federer, um Dokovic, mas poderia ser um jogador de futebol, um Messi, um Cristiano Ronaldo, alguém assim, né? E aí eu digo assim, gente, se um alienígena, tá, aqueles verdinhos bonitinho que a gente conhece da dos filmes que tá por aí rodando, se um alienígena pegasse sua nave espacial redondinha e descesse aqui na Terra, perguntasse pro Cristiano Ronaldo, pro Roger Feder, para algum desses Esses caras figuras de sucesso na nossa sociedade. Hã, pessoas que triunfaram, milhares de milhares
forte, dezenas de títulos conquistados, né? Milhares de dólares conquistados. E o ET pergunta pro cara: "O que que você fez durante 20 ou 30 anos da tua vida? O que que você fez em vida? Como é que é a tua vida aqui na Terra? Quero entender como é que se vive. Ele responde: Eu fiquei 20 ou 30 anos da minha vida batendo numa raquete com essa bolinha e tentando acertar o quadrado do outro lado de uma rede. Eu fiz isso 10 horas por dia durante 30 anos. ou eu fiquei chutando uma bola numa goleira. Fiquei
treinando isso todos os dias da minha vida, desde que eu tinha 6 anos. O alienígena, ele ia internar esse cara na hora lá no no hospício de Marte, entendeu? Ou não ia? Esse cara não bate bem da cabeça. Por quê? Porque fora de contexto isso é uma loucura completa. Se eu dissesse para vocês, olha gente, eu fiquei 20 anos da minha vida, todos os dias, 10 horas por dia, sentado numa cadeirinha em frente a uma parede tentando ver quantas rachaduras tinha. E cada dia eu me aperfeiçoava em contar mais rápido essas rachaduras. E eu fiz
isso todos os dias, 10 horas por dia. Vocês iam dizer: "Interna esse cara". Hã, é a mesma coisa do que Dokovit, Messi, Cristiano Ronaldo, mas então. A diferença é que isso tem uma função na sociedade. Eu ficar olhando a parede não tem função nenhuma, mas o cara bater numa bolinha tem. Aí a figura muda. Essa é a ideia. Eu nunca convivi com o Cristiano Ronaldo que eu tô muito ocupado. Então eu acabo não respondendo os e-mails dele, os telefonemos. Eu digo: "Ah, outra hora, Cris. Outra hora, Cris, outra hora a gente se fala, né? Mas
se eu convivesse, eu ia perceber no mínimo constratos de obsessividade, porque o cara tem que ser muito obsessivo para manter a rotina que ele mantém, para manter a rotina de treino que ele mantém, para manter a rotina de alimentação e de sono que ele mantém. Da mesma forma, atletas de elite são todos compensadores. Óbvio, para fazer mais que a maioria, por definição, você tem que compensar, remar mais, senão você vai estar na média. Então isso é patológico. Depende, depende da função que isso tem na sociedade, né? Essa é a ideia, achar uma função sublimar, uma
função que tem um gozo para si, mas que também favoreça o outro idealmente, a própria sociedade. E essa também é uma consequência, certo? Porque quando você faz, quando você eh quando você tá bem consigo naturalmente, você se projeta algo que é útil pro externo também. Hã? E aí você vive a vida com mais satisfação dentro do que é possível viver de satisfação na nossa vida, né? É saber navegar com você pelos mares da vida, saber quando ir, para onde ir, como ir. Mas para isso é preciso conhecer a si mesmo. Eu preciso conhecer a mim
mesmo para saber qual a rota dado quem eu sou que mais me favorece. junto com meu sintoma estruturante. A rota vai fazer parte do gozo da sublimação do meu sintoma estruturante. No fundo, o que Lacan tá dizendo é: você não precisa se consertar, você precisa se escutar e achar um caminho para manifestar quem você é. Você precisa se escutar e descobrir o que dá para fazer com você. Por quê? Quem que vai definir o que que é normal na experiência [Música] humana? Quem que vai dizer? Quem que é o cara pálida que vai dizer e
dizer: "Ah, isso aqui é normal e o resto não é." Quem quem qual pessoa está autorizada a fazer isso de olhar paraas outras e dizer: "Ess são normais e esses não são". Hum. A estatística de novo, média não é sinônimo de normalidade, tá? Quem que vai dizer? Os manuais escritos por pessoas, eles podem até traçar a média, mas não podem definir o que é certo ou errado, de sentir, de pensar ou de ser. Média é diferente de normalidade, é diferente de certo ou errado. Como diz Niet, quem faz isso põe-se no ridículo. Porque se tratando
da existência humana, dos modos de ser, todos simplesmente existem. Isso é um fato. Só são. Só que a gente se conhecendo consegue agir com mais potência diante do mundo. Isso é, consegue achar um jeito de poder ser, de poder existir, fazendo as pazes com quem a gente é e respeitando com isso também o modo de ser dos outros, né, que também vai ser uma consequência. Isso para mim é uma das ideias mais bonitas da psicanálise. Terminar a aula, eu vou dar um exemplo pessoal. Vamos expor aqui. Vamos lá. Ã, falando um pouco de mim agora,
tá? Eu leio livros todos os dias, gosto de ler, mas não é só pelo prazer imediato da leitura, tá? Eu leio porque eu sei que depois isso vai virar alguma coisa. vai virar uma aula, vai virar um vídeo, vai virar uma conversa interessante, vai se somar no conhecimento subjetivo que eu tenho para aplicar com os meus pacientes, mesmo que indiretamente, porque amplia o meu campo de visão sobre a vida e o ser humano, tá? Então eu leio porque eu sei que através desse esforço eu consigo transformar algo que talvez ajude outras pessoas a entenderem elas
mesmas melhor. Isso que me mobiliza. Mas não é uma coisa completamente, como é que eu vou te dizer, completamente altruísta, porque como diz Niti, em todo o altruísmo existe um gozo pessoal, existe um gozo egoísta. Eu faço bem pro outro porque isso me faz bem e tá tudo bem. Então, as pessoas entenderem melhor elas mesmas ou as pessoas assistirem as aulas e gostarem e conseguirem compreender melhor um pouco elas. E espero que esse seja o objetivo que é o objetivo dessa aula. Espero que esteja sendo alcançado em algum grau. Isso me mobiliza porque isso reforça
em mim, reparem, isso reforça em mim a ideia de que eu fui entendido, de que eu fui validado, de que eu fui escutado. E essa era uma necessidade que vem lá desde trás na minha infância. A vontade de ver que que eu estou fazendo e falando faz sentido para outra pessoa. Então eu tô conseguindo sublimar isso. Essa é uma forma de talvez eu aparecer, conseguir dar pro outro e ao mesmo tempo receber. Isso traz um reforço e uma avalidação para mim. Poxa, as pessoas estão gostando do que eu tenho para dizer. Elas estão gostando de
mim. É o meio que eu, esse é o meio que eu encontrei de expressar a vontade de vida, de ser gostado. Talvez foi através desses meios que eu acho que eu melhor caibo na vida e é na vida intelectual que vai culminar no ato da leitura. Então, a leitura, por si só, ela é prazerosa para mim, mas ela também é um meio para um fim onde eu gozo. Vejam, eu não tenho 1,80 m, olhos azuis, feições estéticas do Brad Pitt. Hã, Brad Pitt ficando um pouquinho velho, né? Mas eu não sei quem quem que são
os novinhos agora, mas sirva-se de exemplo aí, né? com outra pessoa qualquer de feições estéticas, só não não é meu forte. Então, de alguma forma eu encontrei minha forma de querer ser no mundo por meio do pensamento. Como que eu posso ser gostado? Como que eu posso chamar atenção até um grau narcísico saudável, não é? que todos nós temos narcísico saudável no sentido psicanalí psicanalítico de que a gente precisa ser visto, a gente precisa ser gostado pelo nosso meio para existir em algum grau. Agora falando da parte estruturante do meu sintoma, veja como como isso
aparece, né, no no manual nozológico psiquiátrico. Minha curiosidade é tanta, meu interesse é tão vasto, eh eu sinto que tem tanta coisa no mundo para ser entendida ao mesmo tempo que eu oscilo muito dentro dos tópicos do que que eu gosto de estudar e ler. Se vocês verem minha minha estante com livros, que alguns aqui, outros no quarto, na sala, a princípio não não fecha a lé com cré. É história, antropologia, psicologia, leitura clássica. Então, um mês eu tô motivado com uma coisa, falo, falo, falo, penso, não sei o quê, coitado da minha esposa, tem
que escutar, depois eu vou para outra área, depois eu vou para outra área. E ela pergunta: "Ah, mas e aquela que tu tava lendo lá do do Homero, da Elída?" Não, isso aí já passou agora. Eu tô lá em em Lacan, daí eu vou pro Lacanda, ela vai que legal. E agora Lacan agora já tô em outra coisa. Vai indo. E eu sou eu, eu eu eu me considero muito curioso e sensível a isso, que é difícil eu ficar numa coisa só. Isso é um sintoma, muitos poderiam colocar como um sintoma de TDH, né? Nossa,
esse cara deu um déce de atenção. Olha que problemático isso, porque eu funciono em ondas de excitação e nessa onda de excitação eu entro no hiperfoco, onde eu crio, onde eu concateno todas essas ideias e eu vou lá e dou a luz pro troço, tá? E aí eu dou a luz com tesão por aquilo que eu tô dando a luz, né? Um filho meu que nasce, só que depois eu sou um mau pai. Depois que nasce eu digo: "Pá, cansei, vamos para o próximo". Já já depois que eu já entendi como aquilo aquilo funciona, peguei
o cerne da coisa, eu vou para outra coisa, né? Eventualmente eu troco para algo que desperta mais ainda a minha atenção. Cada leitura me leva para outra leitura. Não sei se algum de vocês tem esse problema que tu tá lendo e daqui a pouco tem uma referência ali dentro da leitura. Eu já vou e olho a referência, né? Já vou ler os livros do cara que citou o cara. E aí vai, né? Eu tenho que controlar às vezes, mas a maioria das vezes eu deixo fluir, tá? Isso mostra um traço que assim, vamos lá, vamos
trazer para um para um outro mundo. Dificilmente eu vou ter saco para ficar fazendo a mesma coisa por muito tempo, muito tempo seguido, hum, se ela não for mais estimulante para mim. E vejam, eu seria facilmente rejeitado em entrevista de empresa por isso, né, por essa característica de alguém que tem certos lampejos de motivação, que senta, cria com hiperfoco, fica horas ali um tesão, depois cansa e muda de assunto. Fica alguns dias sem pensar naquilo, hã, se distrai, depois que já entendeu, perde o interesse. Esse jeito é péssimo para se trabalhar com previsibilidade, continuidade, rotina.
Uma empresa, por exemplo, eu não serviria para ser contador, para ser um planilheiro de Excel, para ser um controlador de voo, de avião. Ai é tudo bater, tudo bater, porque eu eu me eu me eu eu me perco ali, tá? trabalhar, sei lá, com demandas de compra e venda todo dia, a mesma compra, a mesma venda, algum restaurante, alguma empresa, não sei, não, não, não seria para mim, ninguém me contrataria nisso, né? O que que eu vou fazer? Tomar remédio e me adequar ao que o o pessoal espera de mim. Aí, que que acontece? A
psicologia clínica especificamente me cai bem, porque aqui estou com os meus pacientes num espaço em que a gente cria juntos, em que cada história é uma história e cada momento é um momento. Isso me instiga, a me move. Cada sessão não é igual à outra e tem seus desafios que eu gosto de ajudar o paciente chegar ali no insite, na elaboração, ver como que ele vai se colocar perante aquilo, ajudar ele a se estruturar. Cada momento é um momento, cada pessoa é única. Então vocês vejam isso, isso, isso conecta mais comigo, tá? E mesmo assim,
depois de um tempo clinicando, meu corpo começa a pedir algo mais. Aí, como eu já falei em outros vídeos, as aulas que eu era convidado para dar, estava dando em faculdades, em cursos de de pós-graduação, essas coisas assim, quadradinhas, né? Essas aulas elas são quadradinhas. Tava começando a me encher o saco, porque ali não tem espaço nenhum para criatividade, autenticidade, né? Eh, e eu preciso de algo, de certa forma, novo todas as manhãs para me motivar. Alguns podem classificar como défic de dopamina, hã, porque fazer sempre o mesmo me cansa. Vejam, esse canal aqui, esse
espaço, como eu já disse antes e digo várias vezes, é minha forma de sublimação, é a minha forma de fazer com o sintoma junto com os atendimentos. Então, eu leio quatro ou cinco livros ao mesmo tempo, escuto coisas diferentes ao mesmo tempo, não ao mesmo tempo uma frase em cada livro, né? Eu leio porque canso de um, vou pro outro, depois eu volto, depois eu lembro, depois eu volto e e assim eu vou. Não por um propósito maior de produtividade, como eu tanto critico na sociedade do cansaço, mas por uma necessidade de estimulação minha, minha,
né? Eu me conhecendo funciono melhor assim. E aí eu vou conectando essas ideias. Essas ideias vão ali numa certa sopa dentro da minha cabeça e vão se conectando e com um fio maior, daqui a pouco eu sei que isso vai virar uma aula. Então eu leio pelo prazer de ler, mas pelo prazer de sublimar isso aqui com vocês em criatividade, em uma aula, tá? Como é que eu posso deixar aquela aula boa? Como eu posso explicar esse conceito da melhor forma? Entendem? Daí é um desafio para mim montar o roteiro disso. Entendem? sublimação. Isso é
socialmente aceito. Isso é bem visto. Isso me reforça no sentido de um reconhecimento afetivo do que eu não tive, das minhas capacidades. Acho o meu jeito de ser no mundo. Entendem? A sublimação nos atendimentos e aqui com vocês ou nas aulas, né? Comecei lá nas universidades, vim aqui para vocês. Propósito, a narrativa que amarra e dão sentido às coisas na nossa vida. É o modo que eu encontrei de dar um um destino mais habitável ao meu funcionamento. Tivo, curioso, mas também oscilante. É o meu jeito de fazer algo com quem eu sou. As aulas complementam
tudo isso e isso faz diferença, porque no fundo é sobre isso, encontrar algo que faça sentido para você. Não falo só de uma relação de trabalho, mas de caminhos na vida, de formas de se viver em que você caiba com a sua estrutura de personalidade, com seu sintoma estruturante. Seja ela mais obsessiva, a sua estrutura, seja mais ansiosa, seja mais insegura, seja mais impulsiva, mais intensa, mais dramática e transformar isso em uma forma de viver. E se você encontra isso, que que é isso, né? Um jeito de ser e de operar no mundo, mesmo que
imperfeito. E vai ser imperfeito, vai ser incompleto. Lembra do ciclope? Ele não consegue lá ir no cinema tomar banho, mesmo que imperveja em completo a sua maneira. Talvez eu não precise mais de grandes respostas ou grandes feitos para validar a sua existência, porque você já vai ter algo que te permita viver bem, algo que permita no dia a dia a viver com congruência. Congruência. Algo que faça você fluir pela vida com mais leveza, algo que te traga sentido. Porque sentido hoje numa sociedade completamente esva eh esva esvaída mesmo, esvaída, né? Certo essa palavra esvaída de
sentido, já é muita coisa. uma sociedade que tenta, vocês vejam, padronizar um jeito de ser, de se fazer no mundo, de e de encaixar todo mundo. Você pode ser você encontrar sentido nisso em um campo de expressão já é muita coisa. Ser você no mundo assim já é muita coisa. Para mim, isso é a definição do sucesso. Então, primeiro vem Sócrates lá atrás e nos diz: "Conhece-te a ti mesmo". E tá certo, Sócrates? Para Lacan seria o que o seu o que o seu sintoma quer comunicar, porque a partir disso você vai conseguir conhecer a
você mesmo. Qual a necessidade não suprida? O que que falta? Qual o jeito de você operar? Escute o que o seu corpo fala, como diz Niet, é mais razão do seu corpo do que em sua melhor filosofia, o seu melhor pensamento. Então, o sintoma fala através do corpo, conhece-te a ti mesmo. E com base nisso, com base nisso, depois a gente pode trazer um pouco mais paraa Niet, já conhecendo a ti mesmo. Agora é a hora de você se tornar quem você é. Torna-te quem tu és, diz o nosso amigo Bigodudo. Tornar-se quem se é
poder se afirmar no campo da vida, sendo quem você é com seu sintoma, que você entendeu antes o que que ele quer dizer, qual a necessidade que tá ali, como que você opera. Sabendo isso, você consegue colocar no campo da vida. Você não fica rodando que nem barata tonta, preso no próprio sintoma. Muitas vezes você entendeu suas necessidades, entendeu seu jeito de funcionar no mundo, então consegue se afirmar com mais potência. Agora é responsabilidade tua. Se você entende como você é, é responsabilidade tua achar um espaço para se afirmar com mais potência, com mais inteligência,
não ser refém do funcionamento, né? É transformá-lo no no superper. Você tem um super poder, na verdade, né? é é saber usá-lo bem. Como vimos na aula de hoje, se você é criativo, crie. Se você é obsessivo, analise. Use sua capacidade única de esforço e dedicação para se dar bem na vida financeiramente, inclusive, mas sem esquecer de descansar um pouco estrategicamente. Se você é cuidador, cuide. Se você é ansioso, olha, talvez você perceba detalhes que os outros não vêm. Antecipe os problemas, mas tente sempre se sentir seguro. Não julgue a sua ansiedade. Se organize, se
prepare, busque segurança afetiva, mas sem se aprisionar nela. Use essa sensibilidade que você tem para cuidar com atenção, para planejar com carinho, porque isso também é uma forma de amar, tá? Se você é impulsivo, viva com intensidade. Pense momentos de gozo sublime que só você pode alcançar. Mas faça isso sem se colocar em perigo. Transforme esse fogo em movimento, não em queimadura. Hã, sublimar é achar um jeito socialmente aceito e funcional de expressar quem você é, de forma inteligente, usando o meio a seu favor. Porque vejam, o mundo, o mundo é grande, é vasto e
as possibilidades do mundo são vastas. tão vastas, a meu ver, que sempre vai haver uma forma de você pertencer a ele, sendo quem você é, com potência, de forma afirmativa, criativa e espontânea. Na psicologia clássica ou mais clássica, especialmente numa abordagem médica ou comportamental, o sintoma é geralmente algo visto como um sinal de disfunção, ou seja, algo que não deveria estar ali, um erro que precisa ser corrigido ou eliminado. Para Lacan, o sintoma tem um sentido outro, um sentido subjetivo. Ele é a formação do inconsciente. faz parte dela. Uma solução singular que o sujeito encontrou
para lidar com as suas tensões do desejo, da linguagem e da própria estrutura psíquica. Hum. O sintoma, ele tem uma função, ele diz algo de importante sobre a história daquele sujeito, mesmo que isso não seja claro ou a gente consiga escutar à primeira vista. Por isso, o objetivo da psicanálise não é curar o sintoma ou alguém no sentido de eliminar parte de quem a gente é, como se fosse um defeito ou um erro a ser consertado. O que Lacan propõe é outra coisa, é, lembrem-se, aprender a fazer com o sintoma, ou seja, encontrar formas mais
dignas, mais habitáveis de conviver com ele, dá algum uso, algum destino simbólico àquilo que insiste em ser, que é a gente. Essa visão, ela é elegante justamente porque ela não partologiza a experiência de vida, né? Ela não tenta encaixar o sujeito em um modelo ideal de funcionamento em caixinhas. Ela parte do princípio que cada pessoa, cada ser humano, cada indivíduo se organiza como pode a partir do que viveu e do que lhe faltou. O sintoma, nesse sentido, é uma espécie de invenção do sujeito diante do impasse do desejo e da linguagem. Hum. Só que e
friso novamente. Vou frisar várias vezes porque corre o risco de ser muito mal interpretado aqui. Isso não significa que a pessoa tá condenada a sofrer eternamente com a sua ansiedade, com a sua impulsividade, com a sua angústia. Ó, te rala aí. É assim que tu é. Saber fazer com o sintoma não é se conformar, mas pegar isso, criar uma forma de lidar minimamente justa, minimamente possível e habitável. Quando o sujeito começa a compreender o que que o sintoma expressa, quando que ele consegue começar dar lugar aquilo que foi recalcado ou silenciado, muitas vezes o sofrimento
diminui. Muitas vezes não, sempre. Não porque o sintoma desapareceu, arranquei ele fora, mas porque ele encontrou uma forma de se expressar e com isso baixar o volume. Ele deixa de gritar. e de se transformar em algo menos paralisante, hum, mais compatível com a vida, a sua maneira singular de existir. Então, ele baixa o tom quando ele consegue achar vazão na vida. A gente consegue entender o que que ele tá querendo dizer, o conhecimento de si. Ele liberta a análise, ela liberta porque só com conhecimento de si, né, de si mesmo, você vai ser capaz de
escolher com mais clareza e liberdade o que você quer pra vida, qual a sua versão de vida. Se a gente não tiver isso claro e convenhamos como ser livre, ter várias opções de como se viver gera uma angústia, ter que escolher e ser livre envolve uma angústia existencial. Se a gente não sabe quem a gente é, nós vamos ficar tentados a seguir os conselhos dos outros para dar cabo a nossa angústia. Conselho dos gurus, da autoajuda, do milagre da manhã, do milagre da tarde, dos sete passos das pessoas eficazes, dos 18 caminhos para sabedoria, das
21 estratégias do sucesso, o monge e sei lá, Ferrari, hã, alguém de fora da sua vida que não conhece você, que não sabe o seu mod, né? Quer dizer, imagina alguém que que não sabe das suas singularidades, seus afetos, que nunca viu você na vida, que tá lá na internet ou escreveu um livro diretamente dos Estados Unidos, tá em Ohio, em Massachusetts, sei lá eu onde, hã, nem sabe que você existe. Quais suas estratégias? Quais sintomas? Qual o seu jeito de ser? Esse alguém que que mora em outro país, outro estado, essa pessoa vai conseguir
dizer o que que você precisa para viver bem. essa pessoa vai ser capaz de colocar em uma fórmula o segredo da vida pro sucesso, para pra felicidade, hã, para uma boa vida. Eu acho bem difícil, né? Bem difícil. Ninguém, a não ser nós mesmos, tem essa missão. E essa é uma ponte que, como diz Niet, só nós podemos atravessar e só nós sozinhos vamos atravessar e mais ninguém. através do autoconhecimento. Ponto um, para depois eu conseguir exercitar quem eu sou no campo da vida. Mas como é que eu vou exercitar quem eu sou no campo
da vida sem me conhecer? E quem e sem me conhecer não é o eu ideal, quem eu gostaria de ser, não. É quem eu sou, não é? É quem eu sou com as minhas falhas, com os meus chulés. com os meus catarros, com os meus sintomas estruturantes. Esse é quem eu sou. Eu consigo entender e ver isso e respeitar isso. E uma vez que eu consigo, aí sim eu estou habilitado a atravessar a ponte e quem sabe gozar um pouco na vida, podendo eu ser eu, achando formas de eu poder ser eu. Porque enquanto eu
negar isso e quiser ser um ideal, não vai casar. Não vai casar. E se eu nem sei quem eu sou e aí eu fico seguindo essas coisas aí de de internet de gurus, pior ainda. Eu só vou me criticar e que o papo não tá conseguindo eh ter o mesmo sucesso, né? A grama do vizinho mais verde, sucesso aparente que as pessoas vendem que elas têm, né? É isso. Nós mesmos, a não ser eu com eu mesmo, ninguém mais vai conseguir atravessar essa ponte através do autoconhecimento. Teu conhecimento liberta. Eu espero que essa aula tenha
estimulado você de alguma forma a se libertar, caso você ainda não tenha feito, né? Se você é um homem liberto, uma mulher liberta, um jovem liberto, que ótimo, fico feliz, né? Que a ideia é isso. Quanto mais conhecimento eu tenho sobre mim, mais eu consigo exercer minha potência e me encontrar na vida. Que essa aula tenha provocado de alguma forma isso, você se conhecer melhor e após isso, quem sabe ter melhor condições de se afirmar na vida de forma autêntica e criativa, tá? Eu espero que tenham gostado do conteúdo. Até a próxima. M.