Por mais de uma década, a General Motors escondeu um segredo que abalaria a confiança até dos seus mais fiéis clientes. Uma tragédia que teria permanecido por baixo dos panos, não fosse a indignação de um grupo de vítimas e advogados. Desde a popularização do automóvel, defeitos nas peças ou problemas de montagens sempre existiram – o que é perfeitamente comum, especialmente nos modelos mais antigos, já que os carros, em sua essência, nada mais são do que uma máquina mecânica composta por um conjunto de peças interligadas – e essas peças podem sofrer de alguma imperfeição.
Os donos de carros, motos, e outros veículos, sabem que mesmo com a manutenção em dia, sempre estamos sujeitos a um defeito mecânico. Mas a disseminação dos automóveis também trouxe um outro problema: os acidentes. Hoje em dia, acidentes de trânsito fazem parte do cotidiano das cidades e das estradas, sejam por falha mecânica ou falha humana.
Mas é óbvio que ninguém quer se envolver em um, muito menos se for um acidente grave, com risco de vida. Mas o que fazer quando o fabricante do seu próprio veículo resolve esconder um problema no carro que pode te colocar num acidente fatal? Como se sentir ao perder um ente querido por negligência de uma montadora?
E que preço uma companhia deve pagar ao colocar seus clientes em risco? Hoje, a gente conta um dos capítulos mais sombrios da General Motors, uma história que, à primeira vista, parece não passar de uma simples falha mecânica, mas que no final revela uma imensa falha humana – um escândalo que já custou a vida de mais de uma centena de pessoas. O ano era 2014, a gigante automotiva norte-americana General Motors emitiu um aviso de recall em vários de seus modelos, afetando mais de 2 milhões e meio de veículos, que estavam sob suspeita de apresentar defeito em uma peça da ignição.
Supostamente, essa peça poderia a qualquer momento desligar o motor do carro e desativar o sistema de frenagem e airbags, o que poderia ser fatal. Esse pequeno componente pode ter custado a vida da jovem Brooke Melton: em 2010, a enfermeira norte-americana perdeu o controle de seu carro, um Chevrolet Cobalt ano 2005, enquanto dirigia numa rodovia de volta pra casa. Ela bateu de frente com outro veículo, e morreu na hora.
No relatório da polícia, a perícia citou que o acidente foi causado por excesso de velocidade. Mas pros pais de Brooke, algo parecia errado nessa história. Isso porque um dia antes, a jovem relatou que o carro estava lhe dando dores de cabeça quando “simplesmente parava de funcionar”.
Em 2011, insatisfeitos com o desfecho da história, os pais de Brooke relataram suas suspeitas sobre o carro a Lance Cooper, advogado especialista em acidentes automotivos graves, que topou iniciar uma investigação mais a fundo sobre o caso. Ele comprou o que restou do carro da seguradora de Brooke por 500 dólares e começou a investigar pra tentar entender o que poderia ter acontecido no momento em que ela conduzia o carro. Quando recebeu os dados da SDM — o equivalente a uma caixa preta de avião que registra os dados do veículo em funcionamento — Lance descobriu que poucos segundos antes do acidente em si, a velocidade do carro espontaneamente caiu de 90 quilômetros por hora pra zero de forma brusca, algo que simplesmente não fazia sentido.
Além disso, o carro mudou a configuração de rodagem para “acessório”, que é o modo pra alimentar apenas o rádio. Não satisfeito, Cooper decidiu ainda consultar um mecânico de sua confiança e ele constatou que a ignição do carro havia sido desligada cerca de 3 segundos antes do impacto, o que fez com que Brooke Melton perdesse totalmente o controle da direção e fosse pra fora da pista. O mecânico Charlie Miller também encontrou boletins emitidos pela General Motors anos antes, em 2005 e 2006, que alertavam pro problema da ignição do Cobalt, que poderia fazer com que o carro fosse desligado acidentalmente enquanto dirigia.
Mas apesar das evidências técnicas apontarem que a culpada pelo acidente era da General Motors pela falha no componente, por anos a montadora negou sua culpa ou qualquer outro indício de defeito de fabricação dos seus modelos. Mas as histórias apontavam cada vez mais pro fato de realmente haver algo errado com os modelos envolvidos em acidentes. Não por acaso, relatórios indicam que a GM, na verdade, não só sabia das falhas, como já sabia muito antes: em 2003, os engenheiros da companhia já tinham sido alertados do grave problema, que foi deixado de lado simplesmente pra não gerar custos adicionais à montadora – assumir um defeito e fazer recalls parecia caro demais pra GM, saía mais barato fingir que não sabia de nada – afinal, o que de pior poderia acontecer?
A General Motors poderia ter solucionado o caso assim que tomou ciência da existência dele, a peça era fácil de substituir e na verdade teria custado muito pouco à montadora — mais precisamente, menos de um dólar por automóvel. O problema na ignição dos carros era ocasionado por um interruptor, que estava sendo acionado de forma indevida — até o peso adicional de um chaveiro podia ser suficiente — desligando o motor do carro de maneira brusca, juntamente com o sistema de direção hidráulica e frenagem. Em 2005, após receberem novos relatórios de perda de potência dos modelos Chevrolet Cobalt, engenheiros da GM propuseram uma mudança no design da chave, pra que fosse possível pendurar objetos sem correr o risco de empurrá-la indevidamente.
A companhia inicialmente aprovou o novo projeto da chave, mas semanas depois, a proposta foi cancelada por significar um “alto custo”. No ano seguinte, a Delphi, empresa fabricante da peça propõe uma mudança no projeto da ignição, que passa a ser instalada nos carros a partir de 2007. Mas a substituição da peça não aconteceu da forma mais eficiente, já que o número do modelo não foi alterado, o que acabou gerando uma confusão na linha de montagem — então, alguns carros novos foram equipados com o componente redesenhado, enquanto outros não.
Além do Chevrolet Cobalt, os modelos G5 da marca Pontiac e o ION da Saturn, ambos fabricados pela GM, também apresentaram problemas nos airbags e na ignição, causando acidentes, inclusive com vítimas fatais. O tempo passou e a General Motors insistiu em fechar os olhos para o problema que, anos mais tarde, viria a se tornar o maior escândalo na história da companhia. O número contabilizado de vítimas de acidentes causados pela falha não é exato, mas em 2017, o jornal Detroit Free Press divulgou um relatório com uma estimativa de 124 vítimas fatais e mais de 250 feridos em decorrência do problema.
A diretora executiva da GM, Mary Barra, disse à imprensa e ao Congresso americano que a companhia falhou em tomar uma providência quanto ao grave erro, mesmo não sabendo explicar exatamente o porquê da negligência a um problema simples ter se arrastado por uma década. Segundo Barra, a cultura “difícil” da empresa foi o que mais atrapalhou pra que o erro fosse reconhecido e consertado o quanto antes. A General Motors tardou a tomar uma posição ativa frente às acusações, e os modelos defeituosos circulavam normalmente pelas ruas até o início de 2014 — quando finalmente a companhia anunciou um recall.
Mas pras vítimas e seus familiares, já era tarde demais. Em 2014, a GM anunciou um recall de segurança, que substituiria os interruptores de ignição defeituosos de mais de 2 milhões de seus veículos, além de oferecer um serviço de aluguel gratuito a seus clientes afetados, já que o reparo de todos esses carros poderia demorar meses. Até o anúncio do primeiro recall, foram reconhecidas pela companhia as mortes de 13 pessoas envolvidas em acidentes por causa dos interruptores — mas esse número aumentou substancialmente conforme o caso ganhou publicidade.
A Agência Nacional de Segurança no Tráfego do governo dos Estados Unidos, já havia notificado a General Motors em março de 2007, pela morte de Amber Rose, que também teve o motor de seu carro, um Cobalt, desligado por causa do problema na ignição, o que levou também à falha nos airbags na hora do acidente, que não dispararam. No entanto, nem a GM e nem a agência conduziram nenhuma investigação na época. Meses depois, a agência lançou uma investigação a respeito de outros 4 acidentes envolvendo vítimas fatais, mas sem sucesso em detectar o erro, já que em cada caso algo diferente parecia ter ocorrido.
Quando o escândalo chegou ao Congresso americano em abril de 2014, o chefe da Agência Nacional de Segurança no Tráfego, David Friedman, disse que a General Motors não colaborou com a investigação dos acidentes, o que dificultou pra que a agência adotasse uma abordagem mais resolutiva. Foi então que o advogado Lance Cooper conseguiu avançar com o processo judicial pela morte da jovem Brooke: ele convenceu um ex-engenheiro da GM a depor num pré-julgamento, o que foi crucial pra que a montadora finalmente revelasse o defeito — mas não sem antes a companhia ter oferecido 5 milhões de dólares à família pra que a ação fosse encerrada e todas as informações mantidas em segredo. A GM foi punida pela negligência com uma multa de 35 milhões de dólares aplicada pela Agência de Segurança, o valor máximo permitido pela lei americana.
No decreto de consentimento, a companhia assumiu que propositalmente ignorou a necessidade de recall dos veículos. Em resposta às acusações, a General Motors iniciou uma investigação interna e divulgou uma nota reconhecendo a responsabilidade pelos acidentes, mas afirmou que a negligência ocorreu não por um encobrimento do problema, e sim por um “mal-entendido” acerca de como os carros foram construídos. Além disso, a diretora Mary Barra demitiu 15 funcionários acusados pela falha, dentre eles, o engenheiro responsável por aprovar o interruptor, Raymond DeGiorgio.
Raymond foi um dos principais responsáveis por reter as informações do interruptor defeituoso. Segundo a investigação, ele se reuniu diversas vezes com engenheiros da Delphi que lhe cobravam uma solução, mas achou melhor simplesmente poupar os gastos que a companhia teria pra substituí-lo. Em maio de 2015, o advogado americano Kenneth Feinberg, conhecido por lidar com indenizações de vítimas de alto nível, foi contratado pela General Motors pra criar um fundo de compensação às famílias que foram atingidas, pra o qual a companhia reservou mais de 500 milhões de dólares.
Além do dinheiro gasto com o fundo, a GM também desembolsou mais de 1 bilhão e meio de dólares em forma de custo do recall. Além de pagar multa pela negligência em corrigir o defeito da peça, a GM também respondeu por não divulgar informações e manter segredo a respeito do problema. Um caso parecido aconteceu com a Toyota, quando a empresa teve que pagar mais de 1 bilhão de dólares por mentir aos consumidores sobre um problema de aceleração não intencional em seus veículos.
A General Motors também não é a primeira empresa a protagonizar um escândalo automotivo que resultou em mortes: a fabricante japonesa de peças e acessórios automotivos, Takata, foi à falência por causa de airbags defeituosos que já causaram mais de 30 mortes e centenas de ferimentos graves. A falha nos dispositivos de segurança ocorre no momento do acidente, onde o airbag pode lançar estilhaços de metal em alta velocidade contra os ocupantes do carro. A empresa foi acusada de vender mais de 100 milhões de airbags com defeito pro mundo inteiro, distribuídos entre mais de 10 marcas de carros.
Diferente da Takata, a General Motors conseguiu superar uma de suas maiores crises e voltar a crescer. Apesar de ter insistido durante tanto tempo que nenhum dos responsáveis pela gestão sabia do fatídico erro, a diretora executiva Mary Barra decidiu apostar num novo modelo de gestão, que segundo ela, é centrado no controle de qualidade — e não em controlar gastos, como antes. Grandes companhias estão suscetíveis a erros que podem gerar muita dor de cabeça aos seus clientes, mas a história da GM nos mostra que muitas vezes é melhor simplesmente admitir o erro e assumir o prejuízo, antes que seja tarde demais.
No caso da GM, além do imenso custo material decorrente da sua simples e pura negligência, a General Motors foi responsável também pela perda do bem mais precioso: vidas. Me conta, o que você acha disso? Comenta aqui em baixo.
Agora, se você quer descobrir como eu transformei o youtube em um negócio e como você pode fazer o mesmo, eu acabei de gravar uma aula nova onde eu te mostro como ir do Zero a 100 mil inscritos utilizando o que eu chamo de Efeito Netflix. Pra assistir é só acessar o primeiro link da descrição descrição desse video apertando em “mais” logo abaixo do título desse vídeo. Ou apontando a câmera do seu celular pro QR code que tá na tela antes que essa aula saia do ar.
E pra descobrir o que está acontecendo com o BOXE, como ele quase desapareceu e tem voltado a cena por lutas de celebridades, confere esse vídeo que tá aqui na tela. Aperta nele que eu te vejo lá em alguns segundos. Por esse vídeo é isso, um grande abraço e até mais.