Queridos amigos, nós estamos nos aproximando do início da chamada Quaresma de São Miguel, que se tornou muito popular aqui no Brasil graças ao apostolado de vários amigos, como Frei Gilson, as irmãs do Instituto RET e tantos outros. E eu gostaria de compartilhar com vocês uma reflexão sobre a batalha espiritual, mas uma reflexão um pouco diferente daquela que talvez você esteja acostumado a escutar. Porque, quando nós falamos de batalha espiritual, muitas vezes nos colocamos como os protagonistas desta batalha, o que nos deixa, muitas vezes, exauridos, cansados e paranoicos, sobretudo diante de batalhas que ultrapassam os nossos limites.
Por isso, eu queria ler e comentar com vocês um texto, para mim muito precioso, de um sacerdote napolitano chamado Don Lindo Rotolo, intitulado "As Batalhas do Senhor: Como Vencê-las". Don Lindo é um sacerdote que foi contemporâneo do Padre Pio, é conhecido como o Padre Pio de Nápoles e que foi muito perseguido em seu tempo. Ele sofreu uma sanção da Igreja, ficou 13 anos sem poder celebrar os sacramentos e viveu piedosa e santamente esse período, dedicando-se ao estudo e ao apostolado, sem poder exercer o seu ministério de maneira pública.
As virtudes heroicas de Don Lindo e o modo como ele encarou tudo isso fizeram com que ele realmente se aprofundasse no mistério do sacerdócio. A frase que está escrita em seu túmulo fala disso: ele diz que, justamente quando perdeu o seu sacerdócio, foi aí que ele o encontrou, porque a essência do sacerdócio não é outra coisa senão sacrifício. Portanto, ele é alguém que tem uma autoridade espiritual impressionante para nos falar sobre as batalhas do Senhor, sobre como vencê-las, sobre como suportá-las, sobre como receber de Deus a provisão necessária para combater.
Ele começa dizendo o seguinte: "O mal no mundo, os pecados, os erros nos causam grande sofrimento. Quando buscamos bem, esse sofrimento é duplo. No início da vida espiritual, sentimos uma dor pungente pelos desajustes do mundo; sofremos mais pelo desajuste e pela injustiça do que pelo amor a Deus ofendido.
Nesse caso, o zelo é mais ruidoso; trememos, queremos falar, acreditamos ser um prejuízo quando não podemos falar. Podemos até cair em conflitos, em atos violentos, etc. " Que bom diagnóstico esse de Don Lindo no início do seu texto!
Porque, de fato, às vezes nós olhamos o pecado mal, olhamos os desajustes dentro e fora da Santa Igreja, tanta coisa acontecendo, e podemos cair numa espécie de ativismo louco em que nos vemos como os protagonistas de uma restauração ou de uma ação que está muito mais focada no erro, naquilo que está desajustado, do que no Deus ofendido. E aqui, queridos, que nós precisamos entender que existe um modo sobrenatural de encarar as batalhas de Deus, e esse modo sobrenatural consiste em entendermos que a batalha pertence ao Senhor. A batalha pertence a Ele, e que o nosso coração precisa estar muito mais concentrado sobre Ele, voltado sobre Ele, sobre o coração d'Ele.
Por isso, Don Lindo continua: "Quando o amor a Deus cresce, então sentimos mais dor pela ofensa a Ele, e mais do que falar, sentimos a necessidade de reparar. A dor é mais profunda e o zelo é mais calmo, mais caridoso, mais compassivo, porque vê o pecador sob a luz da bondade de Deus, que também o suporta. " Vejam que nível sobrenatural Don Lindo aqui destina diante dos nossos olhos!
Nosso coração precisa se voltar mais para o Senhor. Eu me lembro aqui de Francisco de Fátima, Francisco Marto, que tinha a vocação de consolar Jesus; essa era a vocação dele. Do outro lado, Jacinta, que tinha a vocação de reparar Jesus, de expiar os pecados junto com Jesus.
Veja, os dois pastorinhos não foram tentando consertar a Igreja e o mundo à base de marretadas; não caíram no erro grotesco de se terem como protagonistas, porque estavam mais preocupados com Deus, com a sua glória, com o coração de Cristo, enxergando tudo sob o olhar da compaixão. Portanto, por exemplo, olhando o pecador sob a luz da bondade de Deus, os pobres pecadores, como gostavam de chamar, às vezes, por detrás de certa agressividade espiritual, se encontra não apenas o orgulho, mas também a falta de caridade; se encontra aquela atitude de quem quer se autoafirmar ou quer humilhar o outro, enquanto nós precisamos olhar tudo sob a perspectiva amorosa de Deus. Continua Don Lindo: "Nós caminhamos em um mar onde todos são náufragos e onde poucos estão na arca da salvação; são como os náufragos do dilúvio universal, que iam contra o abismo, casando-se, rindo, comprando, vendendo, enquanto um bando de Noé arduamente construía sua arca.
Caminhamos entre pessoas pestilentas, que cobrem seus bubões purulentos com roupas elegantes, entre pessoas que escorregam e não percebem. Estamos entre pequenos vermes que levantam orgulhosamente a testa suja contra o Senhor. Que pena não poder fazer nada!
No entanto, Deus nos dá as armas para lutar, desde que vivamos com Jesus. O ativista não consegue perceber isso porque está tagado de engajamento, de uma necessidade de ação desesperada que ele não percebe que não pode fazer nada. É como Moisés, que diante do povo faminto, a única coisa que pode fazer é pedir a Deus que mandasse alimento para o povo.
Ou Noé, no exemplo aqui dado por Dom Lindo, que não podia fazer nada; a única coisa que ele podia fazer era construir a arca e seguir o seu caminho. Que adiantava ele se revoltar, se rebelar ou criar algum tipo de movimento? Não havia nada o que fazer.
Veja, quando nós não podemos fazer nada, por mil e uma razões, será que Deus quer que nós nos atiramos ou é hora de recuar? É hora de nós ponderarmos muito bem o que fazer, se devemos fazer ou se devemos apenas deixar Deus agir. " Continua Don Lindo: "É preciso ter grande confiança na providência de Deus.
Ele sabe tirar o. . .
” Bem, desse mal, Deus não é vencido por suas criaturas, mas é um Rei infinitamente grande que permite tanto mal precisamente porque é infinitamente grande e bom. Isso, para nós, deveria ser uma ideia tão clara que nós não nos tornássemos perplexos diante do mal. Ou seja, eu já vi muitas pessoas que, diante do mal, se comportam de maneira a escandalizar.
Então, elas se perguntam: por que Deus permitiu isso? Por que Deus permitiu aquilo? É quase que dizendo: “Se eu fosse Deus, eu seria melhor.
Se eu fosse Deus, eu não permitiria que tudo isso acontecesse. ” No entanto, São Tomás de Aquino explica muito bem tudo isso quando ele diz que é melhor tirar o bem do mal do que tirar o bem do bem. Só pode fazer isso quem é infinitamente melhor.
E por isso Deus, na sua onipotência – Deus que pode salvar a todos, Deus que pode fazer aquilo que Ele quer com infinita sabedoria – Ele pode permitir que o mal aconteça e extrair daí um bem muito maior. Só que nós não entendemos isso sempre. À primeira vista, nós ficamos confusos, nós ficamos perdidos.
E o que é que nos faz perder de vista a grandeza de Deus? Ou seja, nós percebemos que todo mal tem um limite. Só Deus é infinito.
Todo mal tem fim; só Deus não tem fim, e que Ele pode permitir o mal para extrair daí um bem maior. O que nos faz perder de vista essa realidade é a nossa desconfiança. Nós não confiamos em Deus tanto quanto deveríamos confiar.
Nós queremos nos fazer, nós queremos nos garantir, nós queremos batalhar, nós queremos produzir com os nossos esforços humanos aquilo que só Deus pode fazer. É a tentação gnóstica de querer destruir o mundo e apressar a vinda de Cristo; é a tentação de todos os revolucionários de todos os tempos que, tentando melhorar, só pioraram, tentando reformar, só deformaram. É Deus, aquele que realiza suas obras.
Continua Dom Lindo: você vê o pintor que mistura as cores, misturando o branco com o preto, o verde com o azul, etc. Você sabe que ele é um artista e confia no seu trabalho. Ao olhar para os desajustes do mundo, volte seus olhos para Deus, que é infinita bondade e Providência.
Tenha confiança de que Ele domina aquele desajuste. Volte-se para Ele e confie, sem ansiedade. Muitas vezes, a ansiedade excessiva esconde um ato de desconfiança.
Vejam que frase impactante e verdadeira, e que metáfora apropriada essa que utiliza Dom Lindo. Nós, quando vemos um artista misturando as cores, podemos ficar perplexos. Como é que Deus permite que o mal e o bem se misturem?
Não! Eu quero que o preto esteja no lugar do preto, o branco no lugar do branco, o amarelo no lugar do amarelo, e o vermelho no lugar do vermelho. Eu quero esquematizar tudo de uma maneira matemática; não é assim que um pintor pinta.
Deus está fazendo uma obra de arte. Como nós dizemos na carta aos Efésios, Ele está preparando para si uma igreja pura, santa e imaculada, sem mancha nem ruga, gloriosa. Ele está fazendo uma obra que nossos olhos não conseguem perceber.
Essa ansiedade, essa angústia, essa atitude de insegurança nasce da tua desconfiança. Você não consegue confiar em Deus e quer fazer batalha espiritual. Como é possível isso, se a fé é o elemento primordial de tudo?
Eu preciso depositar a minha vida nas mãos de Deus. Como é que eu me permito lutar, querer enfrentar o demônio, se eu não confio no Deus providente? Então, Dom Lindo diz: aponte suas armas contra o mal e ofereça seus sofrimentos.
Ofereça a dor de suas misérias. Isso é um tesouro que você possui. Ao oferecê-lo a Deus, você faz um ato de humildade e fé e atrai a Sua misericórdia.
Deus é poderoso para usar suas penas quando elas também são penas por sua própria miséria, e quando você as dá a Jesus. O que você pode dar ao médico que trata os doentes com varíola, senão o pus de uma de suas próprias pústulas de varíola? É uma miséria, mas o médico usa aquele pus para fazer o enchimento benéfico.
Não se preocupe com o que você pode fazer, com o que você pode escrever. Ore silenciosamente, com confiança humilde e com humildade confiante. A oração traz, ao combate, o plano de guerra do General; traz o suprimento do céu.
Você ora e as graças chovem, e os anjos se mobilizam. A oração é como um bombardeio feito de cima. Antes de avançar contra o mal, suba em um avião, suba alto no céu e de lá solte as bombas que desorganizam o plano de Satanás.
Veja que coisa maravilhosa tudo isso que Dom Lindo está dizendo aqui. De um lado, precisamos entender que, quando não podemos fazer nada, o sofrimento de não podermos fazer já é uma arma. O sofrimento por suportarmos as demoras de Deus, por não entendermos, por nos vermos incapazes, miseráveis, é humildade – é como dizer, Santa Teresa: “A verdade é que eu não sou nada.
Eu sou um vermezinho de terra; eu sou um micróbio. Quem sou eu para querer transformar todas as coisas? Eu não sou ninguém.
” Essa é a realidade sobre quem eu sou. Então, o que eu preciso fazer é ir para o chão e exercer isso que Dom Lindo aqui chama de confiança humilde e humildade confiante. Confiança humilde é a coisa que, primeiramente, é mais difícil de ter.
Aquele que é soberbo e ativista não consegue confiar; ele quer garantir porque ele acha que são suas ações que vão fazer algo acontecer. Mas se eu me deixo a Deus, se eu ofereço a minha limitação, a minha incapacidade de agir, o sofrimento de ver tantas coisas desajustadas sem compreendê-las, se tudo isso eu ofereço a Deus, o que acontece é que a confiança humilde me leva. .
. A humildade confiante. Ou seja, eu começo a confiar em Deus; aquela humildade começa a se tornar mais segura do que todas as soberbas.
Aquela humildade de estar no chão, a dependência completa de Deus, é o que faz com que eu entre verdadeiramente na oração. Eu penetro nessa altura. Don Dolindo aqui fala de pegar um avião e ir para cima, para fazer um bombardeio desde cima, para fazer uma luta, uma guerra desde cima.
Eu só posso subir, como diz o Salmo 90, para o esconderijo do Altíssimo, no momento em que eu adquiro a perspectiva do Altíssimo. Ou seja, eu não sou capaz de entender o que Deus está fazendo, mas sei que Ele está fazendo algo; e, se parece que Ele está em silêncio, é porque Ele está trabalhando de modo mais profundo que eu não consigo compreender. Então, eu me coloco nessa perspectiva alta, elevada, e é ali que eu vejo as coisas acontecerem.
É ali que a minha oração se torna eficaz para soltar as bombas que desorganizam o plano de Satanás. Essa imagem é muito forte, mas, sobretudo, ela demanda altura. Diz Don Dolindo: "Ore com confiança em Deus, com segurança.
Senhor, faça cessar este mal, eu vos suplico, para a vossa glória. " Veja, para a vossa glória. Quantos estão buscando não a glória de Deus, mas a sua própria glória, o seu próprio proveito?
Sentem-se diminuídos, menosprezados, abandonados, criticados, no ostracismo, deixados de lado, vilipendiados, execrados, e, por causa do seu orgulho ferido, oram: "Deus, eu não suporto mais! Deus, eu não aguento mais! Quando é que o Senhor vai me ouvir?
" Escuta: quem realmente está preocupado com a glória de Deus é como Moisés, no capítulo dois do livro do Êxodo, quando Deus diz: "Moisés, olha, eu vou destruir esse povo; eu vou começar um povo novo a partir somente de ti. " E Moisés diz: "Não, Senhor! Não!
O que vão dizer os pagãos ao ouvirem que o Senhor destruiu todo o seu povo no deserto? Eles vão dizer que o Senhor trouxe-os para o deserto para exterminá-los. " Veja, Moisés estava preocupado com a glória de Deus, com a fama de Deus, e não em que Deus começasse tudo com ele.
Ele não estava preocupado em ter razão, em ser melhor do que ninguém. Portanto, eu só sou capaz de orar com confiança e dizer: "Senhor, faça cessar esse mal", se eu entendo que o mal é todo tipo de com a qual Deus é alvejado continuamente, e eu penso mais na glória dele do que em qualquer outra coisa. Diz Don Dolindo: "Essa frase tão simples: ao subir ao céu, torna-se uma nuvem; carrega-se de eletricidade celeste, curva-se em direção à Terra, dispara um raio, queima os depósitos de pólvora, faz saltar a artilharia, revoluciona a Terra e, em seguida, se abre em chuva benéfica.
" Que imagem grandiosa essa! A imagem de quem entendeu que a solução sempre está na oração que se eleva aos céus. Essa frase é tão simples: se eleva aos céus, se torna uma nuvem, se carrega de eletricidade, e aí os raios começam a disparar, disparam de cima para baixo, não de baixo para baixo.
Talvez você esteja muito preocupado com a artilharia, enquanto Deus está preocupado com a força aérea. Talvez você esteja muito preocupado em ganhar no seu esforço, quando Deus está ocupado; Ele não se preocupa com aqueles que estão unidos a Ele nos céus, nas regiões celestiais, para fazer essa nuvem de oração se tornar cada vez mais intensa, mais carregada, para que o Senhor produza os seus raios. Don Dolindo diz: "Aja, fale, trabalhe, mas subordinadamente a outras armas.
" Veja que coisa impressionante! Eu não sou chamado por Deus a ficar parado, a uma inatividade praticamente preguiçosa, mas há uma atividade que depende da oração, que depende do meu sofrimento, da capacidade que eu tenho de oferecer o sacrifício da minha vida, o sacrifício de não entender, o sacrifício de não poder fazer. Porque o que importa, no final das contas, é Ele, é tão somente Ele.
Continua: se o terreno não for limpo, a infantaria não pode proceder à ação. Não se aflija ao falar, mas olhe para Deus, que lhe dá a Palavra viva. Uma palavra do céu vale 1 discurso, um tiro de 305 vale mil tiros de fuzil; é a pura verdade!
Aquele centurião no evangelho que disse a Cristo: "Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa, mas dizei uma palavra e meu servo será curado. " Uma palavra, uma palavra, uma palavra! Viva de Deus, uma palavra que atravesse a minha alma, uma palavra que me vivifique!
Tudo desde que vinda da boca de Deus! Eu preciso entender: se os meus discursos não são excessivos. Será que eu não estou com muita loquacidade, colocando muito empenho nas minhas argumentações, nos meus raciocínios, ao invés de penetrar na nuvem da oração, na nuvem do desconhecimento?
Continua: Deus segue caminhos diferentes dos seus. Você fala, trabalha, age, fazendo o melhor para não tentar a Deus, para dar a Ele sua assistência, mas descanse Nele. Se você quiser falar e não puder, confie a Ele a palavra não dita; Ele a falará em seu coração.
Há quanta gente falando, quanto falatório, quanta murmuração, quanta indignação verbal, quanta superficialidade! Quanta gente dizendo mil e uma coisas inconsequentemente, escrevendo sem parar, interagindo. Mas quem é capaz de silenciar para deixar Deus falar?
Talvez você esteja hoje muito indignado porque você queria que as coisas fossem de um jeito, mas será que Deus está seguindo o seu caminho? Os caminhos do Senhor nem sempre coincidem com aquilo que nós imaginamos. Para o homem, muitos caminhos são bons, mas, como diz o Livro dos Provérbios, é o Senhor quem pesa o coração; é Ele que sabe.
No fundo, eu preciso me perguntar: por que Deus permitiu ou permite isto ou aquilo? Eu não sei, eu não posso intervir em tudo. Xet encher justamente porque eu preciso ser um intérprete da providência divina.
Às vezes eu tenho que olhar, silenciar e observar, porque é isso que o Senhor me chama a fazer. Se a palavra sair seca, diz: "D, lindo, confia a Ele para que Ele a torne fecunda. " Se você fala com fervor de vida, louve a Deus que a preenche.
Em geral, quando você se sente insatisfeito e humilhado, você dá mais fruto. Porque então Deus se manifesta mais. Aja com simplicidade.
Nunca se perturbe. Se você precisa se calar, combata com outras armas. Nunca se desencoraje, porque se você se desencoraja, você busca a si mesmo.
Se você quer ter sucesso, ame. Não conseguir tanto quanto gostaria, mas espere com calma os momentos de Deus. Que palavras tão maravilhosas são essas, que nos fazem perceber o lastro de vida que elas têm por trás!
Quando você não puder [Música] falar, lute com outras armas. Se você se sente insatisfeito, humilhado, é aí que você dá mais frutos. Aprenda a glorificar a Deus nessa situação, porque a glória d'Ele que importa, não a nossa.
Nós não podemos buscar a nós mesmos; nós temos que buscar a Deus e esperar com calma os momentos d'Ele. Isso é grandioso, porque às vezes nós ficamos tão contrariados quando as pessoas fecham a porta na nossa cara, porque talvez nos desprezem ou por algum motivo nos excluam, mas tudo isso está calculado pela providência divina para produzir uma eficácia sobrenatural. Não é pela força nem pela violência, mas pelo meu Santo Espírito, diz o Senhor através do profeta Zacarias.
Continua, Dom Dolindo. É preciso paciência, perseverança e calma. Seja como uma formiga: se estragarem o seu trabalho, o buraco que ela fez, ela o refaz com a mesma calma.
Seja como a aranha: se você destrói sua teia, ela a refaz à noite e faz um refúgio no canto do muro. Você a destrói novamente, ela vai para outro lugar até conseguir armar a armadilha para a mosca. Você busca uma alma; faça uma para atrair.
Essa rede deve ser feita não de fio de algodão, mas entregando-se. Deve ser feita com suas penas, com suas orações, com seus suspiros. Se um defeito, uma armadilha, um mal a destruir, refaça tantas vezes com a mesma calma.
Chegará o dia em que você capturará a alma; então, com o apostolado externo, você não lhe sugerirá a morte como o reino faz com a mosca, mas a vida! Você a fará ressurgir. Que coisa maravilhosa pensarmos que, muitas vezes, temos que ter a paciência de ver o nosso trabalho destruído, de ver aquilo que nós fazemos indo por água abaixo, de vermos a nossa vida desmoronando diante dos nossos próprios olhos.
Mas, é como diz Jesus no Evangelho: é pela perseverança, pela paciência que salvereis as vossas almas. Então, é necessário recomeçar, é necessário refazer, é necessário ter calma, porque o objetivo é a vida. A vida sobrenatural é a vida de Deus, é alcançar aquele coração perdido que talvez já não consiga mais enxergar nada para além do horizonte.
Nós precisamos construir essa teia com entrega, com oração, com suspiro. Às vezes, nós damos pouco valor a isso. Notem que o primeiro livro de Samuel nos conta que Israel estava num momento em que as palavras do Senhor eram raras; já não havia revelações, nenhum profeta falava.
Estavam todos numa perplexidade absurda, até que uma mulher chamada Ana foi ao templo do Senhor em Siló e começou a chorar e chorava e chorava e chorava. Lágrimas de dor, lágrimas de confiança em Deus, lágrimas de quem já perdeu o amor próprio. Ela queria um filho; no começo, ela queria um filho para ela poder ser mãe.
Depois, ela queria um filho porque ela queria segurar o marido. Aí o marido arranjou outra chamada Penina. E aí ela já não queria mais um filho para nada, mas ela queria um filho para Deus.
Na verdade, ela estava querendo a Deus; ela estava querendo ver o poder de Deus agindo. E chorava e chorava a tal ponto que Eli, que era o sumo sacerdote naquele tempo, achava que ela estava bêbada. Mas Deus ouviu a oração de Ana e ela foi mãe do grande último juiz de Israel, chamado Samuel, que ungiu o rei Davi.
Talvez a gente não dê tanta importância hoje em dia para esse apostolado que nasce na oração, nas lágrimas, no sofrimento, na pena, nos suspiros, nos desejos. Que nasce muito mais em manifestarmos a Deus o quanto nós quereríamos que Ele fosse enaltecido, que Ele fosse mais conhecido, que o perfume de Sua presença pudesse se alastrar por mais e mais lugares. Às vezes, a gente está tão preocupado com resultado humano que a gente se esquece de que o protagonista é Ele.
Continua, Dom Dolindo. Mantenha sempre a paz, descanse em Deus, viva em Deus. Não olhe tanto para os homens, para os meios humanos.
Só Tu, Senhor. O caso é difícil; volte-se para Deus. Só Tu podes, Senhor.
Existem obstáculos; triunfa! Só Tu, Senhor. Você recebe um golpe, é colocado de lado; você é guardado debaixo da cama, sobre o alqueire.
Siga o Senhor, mesmo nisso. Debaixo da cama, você pode atacar melhor, pode dar um golpe magnífico em quem você não poderia atacar de frente, porque é isso! Às vezes a gente acha que dá para atacar de frente; a gente não tem força para atacar de frente, mas a gente pode atacar por baixo.
É naquele lugar humilde em que a nossa pouca força vai fazer a diferença. Nós precisamos entender que só o Senhor pode; nós não podemos. Só o Senhor é capaz; nós não somos capazes.
Nós olhamos tanto para os homens. Sabe, ultimamente eu não tenho visto notícias já há algum tempo, porque de que adianta? Eu sou capaz de mudar alguma coisa daquilo?
Não. A minha indignação, a minha raiva, a minha revolta podem fazer alguma coisa mudar? Não.
Então… Para que eu quero saber disso? Será que não é hora da gente parar de olhar tanto para o noticiário e começar a olhar mais para o Rosário, para o sacrário, para o confessionário? Será que, ao invés de buscar tantos meios humanos, nós não precisamos buscar mais Deus e dizemos: "Só Tu, Senhor, só Tu, só Tu.
Eu não posso nada, eu não consigo nada, eu preciso estar no chão. " Continua Don Dolindo: "A paciência é a obra perfeita, e com a paciência se vence. " Os apóstolos venceram com o martírio, Jesus com a cruz.
Espere e confie. Jesus venceu o mundo e já o venceu inteiramente. Não há o que comece que Ele já não tenha vencido.
Portanto, descanse Nele e espere com paz a sua hora. Siga o caminho que Deus lhe traça. Você é uma mulher, e o que isso importa?
Quando o Senhor faz nascer as almas para a vida, Ele chama as mulheres ao apostolado porque precisa de mães. Quando Ele deve nutrir o mundo ressuscitado, chama os homens porque precisa de pais. Chamou a Virgem Maria quando quis nascer, e Ele nasceu para devolver a vida.
Ele chamou a Virgem Maria no cenáculo e aos pés da cruz. Quando a igreja nasceu e foi instituída, depois enviou os apóstolos para nutrir o mundo ressuscitado, e a igreja nasceu de seu sangue através de Maria na sua obra de Restauração. Jesus escolheu as mulheres porque a humanidade apóstata estava morta e precisava renascer.
Primeiro eram necessárias as mães, depois Ele enviará os sacerdotes para nutrir. Você é uma mulher? Pois bem, Jesus a escolheu assim.
Descanse nisso. Ele sabia que queria de você um apostolado; Ele quis assim, e você descanse Nele. Que linda essa metáfora de Don Dolindo!
Mostra que as obras de Deus sempre começam com as mães. Primeiro veio Ana, depois veio Samuel; primeiro veio Maria, depois veio Jesus. Na obra da Restauração, Ele sempre começa com o trabalho passivo, o trabalho de receber de Deus, gestar na oração, no sofrimento, nas lágrimas, para depois a obra vir à luz.
Então, Ele começa a enviar os homens, os sacerdotes, nas palavras de Don Dolindo, para nutrir a obra já realizada. Mas quem é que tem a paciência de se colocar em alinhamento com Deus quando o momento é de gestar? Gestar pela oração, gestar pelo sacrifício, gestar pelo sofrimento, pela pena, pelo cansaço, pela rejeição, pelo silêncio.
Os caminhos mais poderosos de Deus estão no interior da alma; um átomo vivificado por Jesus Cristo é tão poderoso quanto um sistema planetário. De fato, a energia atômica é exatamente isso. Uma montanha é mais um obstáculo do que uma vantagem para quem precisa se mover.
Não ame as coisas grandes, as grandes cenas, os grandes movimentos, mas as coisas humildes. Quem se veste de púrpura não dá fruto. Quem anda descalço, como São Pedro, abate o orgulho da Roma imperial.
Não se preocupe excessivamente consigo mesmo. Não seja pessimista; a mãe que se preocupa consigo mesma alimenta mal o filho. O pessimismo prejudica muito a alma.
Dar e desconfiar. Nossas misérias são como recipientes onde se recolhe o lixo. Se você perder tempo com isso, não fará nada.
Confie, confie e dê suas misérias a Jesus para que Ele as transforme em adubo. Assim termina esse texto impressionante de Don Dolindo. Rotulo: eu preciso confiar, eu preciso entregar ao Senhor as minhas misérias para que Ele as transforme em adubo, as minhas impotências, as minhas incapacidades.
Eu preciso entregar tudo isso para Ele, confiar Nele, não confiar nada em mim mesmo. Quando Deus quer que eu morra, eu não posso querer de alguma maneira continuar sendo. Eu preciso estar por baixo, andar descalço como São Pedro, que abate o orgulho da Roma imperial.
Tiremos a nossa alma de qualquer tipo de pessimismo, porque nós dependemos inteiramente de Deus e tudo o que Ele quer, Ele fará, fará muito melhor do que nós imaginamos ou pensamos ou conseguimos conceber, simplesmente porque faz tudo concorrer para o bem, até o mal, a fim de que possa produzir frutos de santidade, desde que nós lutemos, não as nossas batalhas, mas as batalhas d'Ele, do jeito que Ele quer que nós batalhemos, com as estratégias d'Ele, com os objetivos d'Ele, no compasso d'Ele, na hora d'Ele, na forma d'Ele. Caso contrário, eu posso fazer o que eu quiser, posso fazer mil e uma quaresmas de São Miguel, posso fazer as orações mais extravagantes possíveis. Tudo isso será ineficaz porque serei sempre eu e não o Senhor através da minha pobreza.
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Batalhe as batalhas, as batalhas de Deus, não as tuas batalhas. Quem batalha as batalhas de Deus já venceu. E, como diz Maria Santíssima: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.
" A vitória é certa desde que nós estejamos do lado vencedor, ou seja, o lado de Cristo e de sua mãe Imaculada. Um grande abraço e que Deus te abençoe! Tem alguém te vigiando, alguém que te odeia e que resolveu destruir a sua vida.
Sim, eu estou falando do diabo. Ele existe; ele quer arrasar com a sua história. Como defender-se disso?
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