preparados e adestrados para amar a moda de Platão. Na escola, eu estudei a vida inteira nos jesuítas aqui de São Paulo. Eu me lembro no primário, a pro coordenadora era a tia Maria das Graças.
E a tia Maria das Graças sempre dizia: "O primário é a preparação para o ginásio. " Vocês têm que desejar entrar no ginásio. Amor pelo ginásio.
Quando estamos no primário, passam-se 4 anos, você entra finalmente no ginásio e nesse momento você tem todos os motivos do mundo para acreditar que agora a vida vai valer a pena. Agora você tem um professor para cada disciplina. Agora você não é mais um bebezinho.
Agora você já tem discernimento. Agora vai ser tudo bom. Haverá gozo e felicidade.
Mas entra a tia Guelumar. E a tia Guommar avisa: "O ginásio é preparação para o colegial. Vocês têm que aprender a ser adultos aqui.
No colegial, sim, não haverá uniforme mais. No colegial, sim, poderão escolher entre as atas humanas e biológicas. E ficamos mais 4 anos nos preparando para o colegial.
Já são oito de preparação para a vida. chega no colegial, você tem todos os motivos para acreditar que agora a vida vai valer a pena. Afinal, agora é em outro prédio, no prédio novo.
Agora só os adultos entram. Agora é show de bola. Agora haverá haverá de fato uma vida que ganha nela mesma toda a sua razão de ser.
Mas entra o coordenador Mário Zan, indivíduo gigante, e com voz de trovão avisa: "O colegial, como devem deduzir, é a preparação para o vestibular". Você então entra na faculdade, quando entra na faculdade tem todos os motivos do mundo para acreditar que agora é do agora é show de bola, agora é nós, velho. Agora ninguém segura, ainda mais dependendo do curso que você for fazer, desses cursos, tipo comunicação, direito, filosofia, coisa meia boca, dá para fazer as três ao mesmo tempo e você ainda se diverte.
É show de bola. Então você pega e diz: "Agora vai ser incrível". Mas aí você começa a andar pelos corredores da faculdade, você vê lá eh estágio disso, estágio daquilo, estágio na Uniler, estágio na Nestley, estágio na Oi, estágio na Vivo, estágio na coisa e alguém já buzina na tua, no teu ouvido, malandro eu, se fosse você arrumava um estágio agora mesmo, porque aqui você não vai aprender nenhuma.
Se você não entrar logo no mercado de trabalho, você tá ninguém mais vai te contratar. Você tem que entrar no mercado de trabalho, faça um estágio imediatamente. E aí você vai que nem um doido atrás de um estágio e tem o dia que você consegue o estágio.
Nesse dia você diz: "Agora ninguém me segura". Já são muitos anos esperando, mais de 12. Agora vai.
Você chega no primeiro dia do estágio, alguém olha para você e diz: "Sabe o que que é estagiário? Se você não for efetivado, não vai valer nada isso aqui. E agora, o objeto do desejo é a carteira assinada, é a efetivação.
Até o dia que você, depois de passar noites e noites em claro trabalhando que nem um condenado, você explorado padrão, você consegue a carteira assinada. Nesse momento já são 17 anos e por alguma razão você começa a desconfiar. Já não era sem tempo.
Você entra no primeiro dia, você vai com a família toda, bamba, bandas e fanfarras, faixas, parabéns, a vida começou. alegria. Agora é nós.
E você é recebido pelo chefe. O chefe olha para você e diz: "Sabe o que é? A empresa tem 15 níveis e você obviamente tá no G15.
Enquanto você não passar pro G14, você é invisível. Você não existe, não tem nem lugar paraa sua bicicleta no estacionamento. G15 não existe.
Que que eu faço para passar pro G14? Persiga metas. O que são metas?
São como cenouras. Eu vou ligar o PowerPoint, vou mostrar a cenoura e você sai correndo. Quando você agarrar a cenoura, você traz para mim.
Show de bola. E lá sai você. atrás da cenoura e aí você agarra a primeira cenoura.
Aliás, a primeira cenoura agarrada é uma sensação indescritível. Você traz a cenoura na mão dentro no ônibus e traz pro chefe, diz: "Tá aqui a cenoura, vamos à comemoração". A vida finalmente chegou.
O chefe liga o PowerPoint e apresenta uma nova cenoura. E aí você pega a cenoura, entrega a cenoura, pega a cenoura, entrega a cenoura, pega a cenoura, entrega a cenoura e você vai subindo. Depois de 15 anos, você já tá no G8.
O seu chefe já tá no G3, o seu chefe até já é chamado com aquela sigla CPO, iko, wif, não sei quê. Seu chefe se acha agora e você tá no bom caminho. Aí você encontra o chefe tomando café e diz: "Só por curiosidade, faz 15 anos que eu persigo tuas cenouras.
Onde é que você enfia tanta cenoura, cara? Vai ter um dia que vão fazer uma festa para você. Quando fizerem uma festa para você, você já dançou.
Vão fazer uma placa também. Obrigado, perseguidor de cenouras. Foram 30 anos de dedicação e suor.
Foram 30 anos em que as cenouras canalizaram toda a tua energia. Parabéns, muito obrigado, mas vamos substituir você por alguém mais jovem e mais iludido. E aí você começa a dizer coisas como quando eu me aposentar, aí sim a vida vai valer a pena.
Mas já tá chegando no fim. Você vai comprar uma Kombi, uma casa em Serra Negra. E quando você tiver com 80 anos, com a família chorando em volta nas últimas, ainda é possível que chamem alguém vestido diferente, com olhar sombrio e disse: "Nada tristeza, porque o melhor ainda está por vir".
[Aplausos] E você terá passado 80 anos sem ter tido coragem de levantar a mão para dizer: "Tem alguma coisa de errado no reino de Heros, no reino do amor de Platão. Tem alguma coisa de errado, porque essa vida é um saco sem fundo. Não tem saco para tanta cenoura.
Sempre haverá o que falta e o que faz falta. No mundo do consumo é a mesma coisa. Ou você já viu alguma publicidade que diz assim: "Agora que você já comprou, guarde o seu cartão de crédito e vá ser feliz com o que você tem.
Jamais o que você compra não vale nada. O que vale é o que você ainda não comprou. Platão, Platão é triunfal e o capitalismo aplaude o amor de Platão porque é movido pelo que falta.
Do lado da produção, o lucro ainda não alcançado. Do lado do consumo, os bens que ainda faltam ser adquiridos. E qual é a promessa da sociedade capitalista?
Sempre haverá o que você não tem ainda para que você possa se deixar guiar por essa estrela guia que é a falta, a frustração e a perseguição do que você nunca conseguirá alcançar.