Jiddu Krishnamurti - A Morte do Passado

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Corvo Seco
Trechos do livro “Talks with American Students”, de Jiddu Krishnamurti. Jiddu Krishnamurti (1895 - ...
Video Transcript:
O que é a morte? Podemos “experimentar” a morte enquanto estamos vivos? A morte, afinal de contas, é o “desconhecido”, e, para sondar esse desconhecido, temos de “entrar no reino da morte” enquanto vivos.
Do contrário, ao morrermos – de doença ou acidente – perderemos a consciência, e não haverá mais possibilidade de compreendermos o que se acha além. Mas, para sermos capazes, ativamente, enquanto estamos vivos e plenamente lúcidos, de compreender, no seu todo, o problema da morte, é preciso uma espantosa soma de energia, capacidade e investigação. Assim, é possível descobrir o que significa, psicologicamente, morrer?
Você deve descobrir como morrer interiormente, psicologicamente. O que significa morrer psicologicamente, interiormente? É possível, psicologicamente, morrer para tudo o que conhecemos?
“Morrer para o conhecido” significa dar fim ao conhecido. Para se compreender a beleza e a extraordinária natureza da morte, é preciso estar livre do conhecido. No morrer para o conhecido, está o começo da compreensão da morte, porque a mente então se torna fresca, nova, e nenhum medo existe; Assim, do começo ao fim, a vida e a morte são inseparáveis.
Só quando há um fim, pode haver um novo começo. Para que algo novo possa  surgir, é necessário que exista A Morte do Passado. Jiddu Krishnamurti.
Primeiro, vamos investigar o que há  de verdadeiro com relação à morte. Morrer, significa o fim de  tudo o que você conhece. E tudo o que você conhece é apenas memória, não?
Seus prazeres, suas dores, ansiedades, pesares, solidão, lisonjas, insultos – tudo isso é apenas memória armazenada. Tal é o centro de onde você age: a memória. O que significa isto: morrer?
Significa, evidentemente, morrer para  todas as coisas que acumulamos, todas as experiências, todas as lembranças,  todos os laços que nos prendem. Morrer é deixar de ser “eu”, “ego”. É não  ter mais a ideia de uma continuidade do “eu”, suas lembranças, suas mágoas, seus  sentimentos vingativos, seu desejo de preenchimento, de “vir a ser”.
E é  possível experimentar um tal momento de não-existência do “eu”. Nesse  momento, conheceremos o que é a morte. Assim, para compreender a morte,  experimentá-la realmente, é preciso morrer para o ontem, para todas as suas lembranças,  as feridas psicológicas, a lisonja, o insulto, a mesquinhez, a inveja –  é preciso morrer para tudo isso.
Todas as nossas insignificantes ansiedades,  apetites, invejas, vaidades – temos que morrer para tudo isso imediatamente. Todos nós temos muitas experiências, e cada experiência deixa sua marca; cada pensamento, cada influência molda-nos a mente. E é uma coisa essencial morrermos para tudo o que temos experimentado, para que a mente se torne jovem, fresca e “inocente”.
Só uma mente “inocente” está morta para o passado – e só essa mente pode perceber o que é verdadeiro, só essa mente inocente pode transcender as coisas fabricadas pelo homem. Esse morrer traz a tranquilidade. A mente  “inocente” é a mente tranquila; e só a mente tranquila pode descobrir o  que existe nessa tranquilidade.
Enquanto a experiência deixar vestígio  de memória, que é tempo, nunca será possível experimentar o que é eterno. A  mente, portanto, deve deixar-se morrer, momento a momento, para cada experiência.  Efetivamente, só nesse estado ela é criadora.
É somente quando morremos,  momento a momento, para as coisas de ontem, é só então que se  apresenta o desconhecido, o novo. Em geral vivemos sob a pesada carga do  conhecido, do ontem, das memórias, do “eu”, esse feixe das memórias acumuladas,  sem nenhuma realidade em si. E morrer cada dia, para todas as coisas  que acumulastes, psicologicamente, é renascer totalmente.
Ou sabemos morrer  todos os dias – e morrendo, realmente, nossa mente se torna nova, firme,  ardorosa, sumamente viva; ou ficamos com o feixe de memórias e sua atividade  egocêntrica, seus pensamentos, sua busca de preenchimento, seu desejo de ser  importante, de imitar, de copiar. Observe isso, quando você morre para  tudo o que conhece, quando para você não existe o ontem, nem o amanhã,  nem o presente – no sentido de tempo psicológico, o que existe então? Verbalmente, posso lhes dizer que existe algo imenso, extraordinariamente vivo; A meu ver, a questão real é esta: “É possível eliminar o ‘eu’?
” “É possível eliminar o ‘ego? ” Se pudéssemos morrer, interiormente,  para todos os apegos de família, posição, realização, então ficaríamos livres  do conhecido que é sempre o passado, projetando-se como o futuro, mas  ainda permanecendo no passado. Só com o “fim do passado” há algo totalmente novo.
Morrer interiormente significa que o passado deve chegar completamente ao fim – você deve morrer para todos os seus prazeres, para todas as memórias que você acalentou, para todas as coisas que você ama, e todos os dias você deve morrer, não em teoria, mas verdadeiramente. Morrer para aquele prazer que você teve  ontem significa morrer instantaneamente para ele, sem dar continuidade ao prazer  como pensamento. E viver assim, para que a mente seja sempre jovem, fresca  e inocente, sempre vulnerável, é meditação.
Meditação, é saber como olhar, como observar, como ouvir cada palavra, cada movimento do pensamento, e isso requer grande atenção e vigilância. Então, a morte não está no futuro. A morte é agora, quando não existe tempo, quando não existe eu me tornando alguma coisa, quando não existe interesse próprio, atividade egocêntrica - que é todo processo do tempo.
Então, viver e morrer estão sempre juntos. E você não conhece a beleza que é isto. A tentativa, sem esforço, de viver com a morte em infinito silêncio.
Para descobrir o que é viver, e também o que é morrer, precisamos entrar em contato com a morte, isto é, temos de finalizar, todos os dias, tudo o que conhecemos. Temos de destruir a imagem que  formamos a respeito de nós mesmos, de nossos conhecidos, de nossas relações  com a sociedade; temos de destruir tudo. Você precisa morrer para todo o conhecimento  que tens sobre si mesmo; porque o “eu” nunca é estático, ele está sempre  variando, não apenas fisicamente, mas também psicologicamente.
Você não é mais  o que foi ontem, ainda que desejasse ser; operou-se uma mudança,  da qual ainda podes não saber. Devemos morrer todos os dias, para  todos os problemas e prazeres, nunca se levando para o amanhã problema  nenhum, de modo que a mente permaneça sempre atenta, ativa, lúcida. E isso só  é possível ao morrermos diariamente para todas as acumulações psicológicas.
Só a mente que abandona os seus fardos todos os dias, que todos os dias põe fim aos seus problemas, é inocente. Então a vida ganha um sentido totalmente diferente. Então se pode descobrir o que é o amor.
Só quando a mente sabe morrer  para si própria, existe amor. E só este amor traz harmonia à vida, pois  nenhum argumento intelectual, filosofia, livro sagrado ou profano  pode trazer harmonia à vida. Só este amor traz harmonia à vida.
E, quando há amor, tudo o que se  faz é virtude, bondade e beleza.
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