Se a Grande Colômbia existisse hoje, seria uma nação de quase 100 milhões de habitantes. Com 2,5 milhões de quilômetros quadrados de território, seria o décimo maior país do mundo, tendo quase o tamanho da Argentina. E teria ainda as maiores reservas de petróleo do mundo, um canal interoceânico e uma enorme variedade geográfica, cultural e social.
Eu sou Adriano Brito, da BBC News Brasil, e neste vídeo eu vou falar sobre essa promissora república fundada em 1819, que acabou dando lugar a 4 países da América Latina. Bem, na Europa daquela época se pensava que a Grande Colômbia se tornaria uma das nações mais poderosas do planeta. Um país gigante no norte da América do Sul.
No fim, a Grande Colômbia acabou sendo um projeto efêmero, embora tenha deixado um legado político importante. Mas vamos voltar ao começo. Ao ser fundada em 1819, a Grande Colômbia na verdade foi batizada de República da Colômbia – o “Grande” veio só depois, para diferenciar da Colômbia que conhecemos hoje.
Ela surgiu primeiro para consolidar a independência desse pedaço da América da Espanha. Era preciso dar forma e organizar esses territórios que, durante a era colonial, formavam o Vice-Reino de Nova Granada, que compreendia o que hoje são Equador, Colômbia, Panamá e Venezuela. Naquela época, Simón Bolívar e seu exército tinham libertado vários territórios do colonalismo espanhol desde a eclosão de processos de independência, em 1809.
Mas outros territórios continuavam nas mãos dos espanhóis. A ideia, então, era de certa forma “se blindar”, fazendo da independência um processo irreversível. Mas Bolívar também queria fazer isso baseado na ideia de um Estado grande, forte, que pudesse fazer frente a todas as ameaças a que estavam expostos esses territórios que agora eram livres.
E foi assim que, em 15 de fevereiro de 1819, no Congresso de Angostura, nasceu a República da Colômbia. Com sua Lei Fundamental, o novo Estado partia do zero com um sistema novo para a época. Foi o início de um projeto político comum em liberdade.
Foram realizadas, pela primeira vez, eleições em que o povo pôde participar, algo impensável durante a os tempos de colônia, nos quais as pessoas comuns estavam à margem da vida política. Os representantes do Congresso criaram as primeiras leis e as instituições políticas, econômicas e sociais que iriam reger a nova república. Simón Bolívar foi eleito presidente, e assim se instaurou o voto como uma maneira de legitimar uma autoridade.
Ainda que, como eu contarei já já, o fim disso tenha sido dramático. Um símbolo visível do que restou daquele nascimento comum são, por exemplo, as bandeiras de três desses países atualmente. Mas então, como fracassou esse grande projeto de integração?
Muitos apostavam que a posição estratégica da Grande Colômbia – com saída para o Pacífico pelo porto de Guayaquil e ao Caribe pelo porto de Cartagena – colocaria a economia para andar. Mas o desafio era enorme: eles vinham de uma guerra devastadora. Muitas das fontes de riqueza tinham sido destruídas, como minas e fazendas.
E a região tinha ficado desconectada do comércio internacional. Além disso, existia uma rivalidade política entre os territórios da confederação. Um exemplo disso é que Venezuela ou Nova Granada, que foram as fundadoras, sempre tiveram mais influência que Quito ou Guayaquil.
Diante dessa crise política, a figura de Bolívar foi determinante. Se ele foi essencial no nascimento da Grande Colômbia, também teve papel crucial no fracasso. Em 1828, ele se declarou ditador.
E, embora fosse o herói das batalhas pela independência, não teve o mesmo sucesso político em tempos de paz. Bolívar morreu em 1830, mesmo ano em que seu sonho de integração na América começava a se dissolver. Ao leste ficou a Venezuela.
No sudoeste, Quito e Guayaquil se encaminharam para fundar o que logo seria a República do Equador. No centro, a Nova Granada, que é o que hoje conhecemos como Colômbia – mas que só herdou o nome em 1863 –, e o Panamá, que nasceu como Estado independente em 1903. Mas ainda que tenha sido breve, a Grande Colômbia é vista como um rito de passagem para formação da nacionalidade desses quatro países, que têm tido uma vida independente de grandes conquistas, mas também turbulenta.
A Colômbia tem sofrido com um dos conflitos armados mais longos do mundo, que teve início lá na década de 1960. O Equador teve várias revoltas militares e uma profunda crise econômica e política no fim do século passado, o que levou o país a usar o dólar como moeda. Já o Panamá teve uma complexa relação com os Estados Unidos, que incluía a controvérsia colonial pela zona do canal e a traumática invasão de 1989.
E por fim a Venezuela é hoje um dos países mais pobres das Américas, apesar de seus abundantes recursos naturais. Muitos têm se questionado ao longo da história sobre como esses países seriam diferentes se a Grande Colômbia, o grande sonho de Bolívar não tivesse fracassado. Bem, eu fico por aqui.
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