[Música] K [Música] [Música] Muito boa noite, meus caros! Sejam bem-vindos à nossa jornada da história da igreja no Brasil. Eu começo parabenizando você que escolheu estar aqui nesta noite para aprofundar o seu conhecimento a respeito da história da igreja e também para fortalecer a sua fé. Né? Parabéns! Espero que, participando hoje, você também convide outras pessoas para estar conosco amanhã e depois de amanhã. A jornada da história da igreja no Brasil é um evento pensado para três dias: hoje, amanhã e depois, sempre às 20 horas. É uma oportunidade de se aprofundar nesta história que
tantas vezes é negligenciada nos livros, nos materiais, no tempo em que passamos pela escola, pela universidade. O grande objetivo dessa jornada é trazer um pouco de luz a respeito desse tema, às vezes tão esquecido, tão pouco conhecido, mas que é um tema de suma importância. A identidade do Brasil está ligada à história da igreja; não é possível dissociar a história da igreja no Brasil da própria história do Brasil. Né? São histórias que se complementam, se entrecruzam. Então, você que está aqui, certamente demonstra o seu interesse, demonstra o seu desejo de conhecer, de esclarecer e de
se aprofundar nessa temática tão importante. Eu sou o professor Rafael Tonom. Eu sou filósofo, historiador, pai, lego consagrado, esposo e estou aqui nessa noite para, junto com vocês, percorrer esse caminho buscando as raízes da história da igreja no Brasil e as contribuições que a igreja deixou na história do Brasil e que chegam até nós, que nos tocam de um modo especial no nosso dia a dia. O que nós vamos aprender aqui não é encontrado nos livros didáticos e nem sempre é encontrado na internet também, de forma mais límpida, mais confiável. Né? Ao longo dos anos,
nós sabemos que a narrativa a respeito da história da igreja foi propositalmente fragmentada, distorcida e, às vezes, até apagada. Quando não se nega, né, qualquer importância real àquilo que a igreja fez e construiu aqui no Brasil. Então, muitas pessoas acabam recebendo informações recortadas. Esse papel da igreja é omitido, né? Mas qual é o resultado prático disso? O resultado prático disso é um povo que desconhece as suas próprias raízes, que se envergonha da sua própria história e que se sente diminuído, como se a história do Brasil fosse sempre algo para deixar para depois. Né? Aquela ideia
de que a história de outros países, de outros lugares, sempre é mais importante que a nossa própria história. Eu, nesses 20 anos como professor, lecionando para alunos de várias idades diferentes, ano a ano, sempre me deparo com essa mesma realidade. Basta eu começar uma matéria sobre Brasil na escola que os alunos, né, pelo menos um ou outro, sempre vão dizer: "Ah, mas Brasil, nossa história do Brasil é muito chata! Vamos ver outra coisa, vamos estudar guerras, vamos ver outras coisas." Ou seja, os nossos alunos, crianças e adolescentes, já trazem dos seus primeiros anos de escola
este preconceito em relação à história do Brasil. Mas, na verdade, o preconceito desses nossos alunos e até das pessoas em geral não é um preconceito em relação à história do Brasil, mas sim àquilo que eles imaginam que seja a história do Brasil. Agora, é claro, né? Eu não estou aqui dizendo que a nossa história foi uma história linear, só com coisas boas, heroicas, belas, justas ou verdadeiras. Né? Nós sabemos que não é assim. A história do Brasil teve muita incoerência, a história do Brasil teve muito sangue, teve pontos a lamentar e a estudar para evitar
esses mesmos erros. Então, há muito de negativo. Mas olhar para a história do Brasil é como olhar para a história da nossa família. Na história da nossa família, existem fatos que nos dão orgulho. Então, nós queremos contar para todo mundo, não é assim? Na história da nossa família, se você tem um filho que passou num vestibular para um curso superconcorrido, nossa, você fica feliz, orgulhoso, orgulhosa e conta para os amigos, para os vizinhos e diz: "Olha, né? Ele estudou! Ela estudou e conseguiu passar nessa prova que é tão concorrida, que é tão difícil! Puxa vida!"
E aí você fica feliz e compartilha isso com todo mundo. Agora, existem fatos também na história da nossa família que nós nos envergonhamos. E, às vezes, olhamos para esses fatos com lamento. Então, você não vai ver ninguém dizendo por aí: "Olha, na minha família meu pai tem esse problema. Ele chega em casa dizendo isso, fazendo aquilo." Isso aí você não vai sair contando para todo mundo ou colocando isso à vista de todas as pessoas porque você se envergonha disso. A história do Brasil, a história da igreja no Brasil é como a história da nossa família,
como a nossa própria história. Na nossa própria história, nós temos fatos dos quais nos lembramos com alegria e temos fatos dos quais nos lembramos com vergonha, com tristeza, coisas que nós fizemos e não deveríamos ter feito. Não é assim? Então, antes de emitir julgamentos sobre personagens e fatos históricos, sobre pessoas que já não estão mais aqui para se defender, nós devemos pensar que a história da igreja no Brasil é como a nossa história, é como a história da nossa família. São pessoas, são seres humanos concretos que viveram em um determinado tempo, numa determinada circunstância e
numa condição histórica específica. E tudo isso influenciou o modo de agir e de pensar dessas pessoas. E também não podemos exigir destas pessoas atitudes ou reações que nós temos hoje. Isso não tem cabimento! Porque essas pessoas há 500 anos atrás, há 300 anos atrás, não conheciam as mesmas coisas que nós conhecemos, não tinham as mesmas oportunidades que nós temos. Então, isso é o que nós chamamos em história de anacronismo. É uma leitura, é uma visão a respeito do passado usando as lentes... Erradas, não podemos usar as lentes do presente para julgar o passado. Para medir
o passado, temos que usar a régua do passado, a régua da circunstância. Então, quando nós começamos a olhar a história assim, começamos a fazer uma análise mais serena dos fatos, uma análise menos apaixonada. Portanto, às vezes as pessoas têm uma tendência muito grande a dizer: "Está certo, está errado", ou uma tendência de generalizar ações de pessoas individuais ou de grupos de pessoas como se fossem a opinião da Igreja. Por exemplo, uma coisa são as ações dos filhos da Igreja; outra coisa é a ação, o pensamento e o sentir da Igreja enquanto instituição. Então, por exemplo,
quando olhamos para a história do Brasil, vemos o terror da escravidão, onde seres humanos eram propriedade de outros seres humanos. Isso será sempre algo absurdo, algo complicado de imaginar, o sofrimento de quantos e quantos africanos que vieram aqui para o Brasil, trabalharam aqui, ajudaram a construir o Brasil, mas foram escravizados. E, muitas vezes, foram escravizados em fazendas, em propriedades de pessoas que eram católicas, batizadas. Agora, uma coisa são as ações dos filhos da Igreja; outra coisa é o que a Igreja, enquanto instituição, dizia. Qual documento papal autoriza a escravidão? Não há um documento papal endossando
a escravidão, ordenando a escravidão. Pelo contrário, nós temos documentos papais defendendo a dignidade da pessoa humana e documentos papais contrários à escravidão. Por exemplo, a carta do Papa Paulo III, a bula "Sublimis Deus", condena a escravidão. É a voz oficial da Igreja, mas, enquanto a bula foi publicada e espalhada pela Europa e chegou aqui ao Brasil também, muitos católicos, filhos da Igreja, agiam contrariamente àquilo que a Igreja dizia. Até mesmo, às vezes, religiosos agindo contra aquilo que a Igreja dizia. Muita gente olha para isso com escândalo, hoje em dia, dizendo: "Olha lá, eram católicos fazendo!".
Sim, eram católicos desobedecendo aquilo que os Papas diziam. Os Papas eram contrários à escravidão; várias bulas papais condenavam a escravidão. Então, o que os documentos oficiais diziam? O que a Igreja dizia naquela época? A Igreja dizia que não, mas muitos filhos da Igreja diziam que sim. Então, nós vamos medir a Igreja pelas más ações de membros da Igreja? Vamos fazer um exercício. Hoje em dia, se formos aplicar essa lógica, muitos católicos, infelizmente, caem neste jogo de argumentação e não se dão conta de que isso ainda acontece. Quantos católicos vivem contrariando a doutrina da Igreja? Inclusive
muitos dos que criticam a própria Igreja não vivem a doutrina da Igreja, não obedecem os mandamentos da Igreja e desconhecem os princípios básicos para viver bem a fé cristã. E aí apontam um dedo para a Igreja lá no passado, imputando à Igreja, acusando a Igreja como se ela fosse a responsável pelas más ações de membros dela que agiam em desacordo com ela. É o que acontece hoje em dia. Quantos católicos vivem de uma maneira relaxada, contrária à doutrina da Igreja? E aí, as pessoas de fora, de fora até da Igreja Católica, outros irmãos de outras
religiões olham e falam: "Nossa, mas olha lá como aquele sujeito vive!" E, às vezes, essa pessoa causa escândalo. Mas nós não podemos, assim como no passado, não poderíamos… hoje não podemos medir o que a Igreja realmente pensa e diz pelos católicos que vivem mal. Como que nós temos que medir a Igreja? Por aqueles que vivem de acordo com aquilo que ela ensina. E aí nós vamos olhar para quem? Para os santos. A Igreja Católica tem os santos. Para que servem os santos? Porque os santos são elevados à honra dos altares. Porque são seguidores de Cristo,
amigos de Cristo que doaram suas vidas heroicamente, praticando as virtudes em grau heroico, para amar a Deus, para amar ao próximo, para fazer-se tudo para todos. Então, os santos revelam a medida exata do que pensa a Igreja e de como deseja a Igreja que um católico viva e aja. Então, se nós quisermos medir a história da Igreja do Brasil, não devemos medi-la por aqueles católicos, por exemplo, que tinham escravos. Não só pelo fato de possuí-los, apesar de a Igreja dizer que não, mas que os maltratavam. Então, não posso medir a Igreja por estes maus filhos
dela que agiram mal, que agiram com falta de humanidade, mas eu devo medir a Igreja por aqueles filhos que foram heroicos, que foram bons. Eu vou medir a Igreja Católica no Brasil por um São José de Anchieta; eu vou medir a Igreja Católica do Brasil através de um São Roque Gonzales, um São João de Castilho, através de um Frei Galvão, de uma Irmã Dulce, de uma Beata Inácia, de um Beato Padre Vítor, do Beato Donizete. É assim que eu tenho que medir a história da Igreja no Brasil, através dos filhos da Igreja no Brasil que
agiram em acordo com aquilo que a Santa Igreja diz, crê e ensina. Aí sim, eu posso estabelecer uma medida mais justa. Entendeu? Então, olhar para a história implica em olhar para toda a história. Eu volto na comparação que eu fiz. Ao olhar para a história da Igreja no Brasil, eu tenho que pensar como se fosse a história da minha família. E eu não posso ignorar aquilo que é negativo. O que é negativo não pode ser negado, varrido para debaixo do tapete, esquecido. Mas eu também não posso olhar para aquilo que é negativo como se fosse
a totalidade das ações da Igreja. Entendeu? Eu tenho que olhar a partir daquilo que de fato é o espírito, a essência da Igreja: a Igreja divinamente fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, como nós lemos no Evangelho de São Mateus, capítulo 16, versículo 18 e seguintes. Cristo funda a sua Igreja e estabelece como chefe da sua Igreja Pedro, o príncipe dos Apóstolos. Os seus legítimos sucessores, Cristo constitui a Igreja. Cristo promete que as portas do inferno não prevalecerão sobre a Igreja, mas os membros da Igreja, nem todos os membros da Igreja, né?, correspondem à doutrina, à
graça de Deus. Então, nem todos os membros da Igreja conseguem expressar a missão mesma da Igreja. Mas nós temos muitos exemplos daqueles que conseguiram. Então nós temos que olhar para os bons exemplos e imitá-los, e olhar também para os maus exemplos e evitá-los, pegar essas más ações e evitá-las. Então, por exemplo, nós encontraremos na história da Igreja no Brasil um heroísmo muito grande por parte dos Jesuítas, sobretudo na defesa das populações indígenas. Este heroísmo começa já no início da chegada dos Jesuítas aqui. Os Jesuítas aportam aqui no Brasil junto com Tomé de Souza, que foi
o primeiro governador geral do Brasil, nomeado pelo Rei de Portugal. Tomé de Souza vem para fundar uma capital aqui no Brasil e eles escolheram como ponto para esta fundação da capital onde hoje nós temos Salvador. A cidade de Salvador foi, de fato, a primeira capital do Brasil, de 1549, ano da chegada de Tomé de Souza, até 1763, quando a capital se transferiu para o Rio de Janeiro. De 1763 até 1960, a capital permaneceu no Rio de Janeiro; foi a segunda capital do Brasil. E depois, em 1960, foi inaugurada a cidade de Brasília, e a capital
foi transferida definitivamente para lá, onde permanece até hoje. Na chegada de Tomé de Souza para fundar a capital do Brasil, ele traz consigo o primeiro grupo de Jesuítas, encabeçado pelo Padre Manuel da Nóbrega. Quando os Jesuítas chegam aqui no Brasil, eles chegam no dia 2 de fevereiro de 1549. Até mesmo o dia da chegada dos Jesuítas é emblemático. Eles faziam um cálculo mais ou menos de quantos dias levaria para chegar, mas isso variava muito por conta do tempo, por conta de várias circunstâncias climáticas, etc. Então, nem sempre a previsão de dias para atravessar o Atlântico
de Portugal para cá se concretizava. Os portugueses fizeram esse cálculo na época da vinda de Tomé de Souza e, providencialmente, chegam aqui no dia 2 de fevereiro, o dia da Apresentação do Senhor. É muito curioso isso, a gente vê que a providência, a mão da Providência que tudo governa, permitiu que esses homens chegassem aqui para evangelizar o Brasil. Já existiam os franciscanos aqui fazendo esse trabalho, mas chegaram Jesuítas no dia da Apresentação do Senhor, aqueles que iriam entrar o Senhor aos povos originários, chegam no dia da Apresentação do Senhor. Uma semana depois da chegada dos
Jesuítas, uma semana, eles já haviam erguido um casebre de sapê, coberto ali com palha; era a primeira escola formal do Brasil, a primeira escola. Então, quando nós olhamos para Portugal, nós temos que entender também um pouco da história de Portugal. A história do Brasil está intimamente ligada à história de Portugal; não dá para descolar uma coisa da outra. Os nossos jovens, nossos alunos, eles aprendem a odiar Portugal: "Portugal veio aqui para roubar o nosso ouro, para matar os nossos índios, para destruir tudo." Não estamos negando que houve violência; ocorreram diversos problemas, incoerências, más ações por
parte dos europeus que aqui chegaram. Isso aí é inegável, aconteceu. Mas nós devemos sempre pensar que existe o quê? O mistério da iniquidade. Onde há ser humano, há o pecado. Qual colonização no mundo foi linear, foi totalmente boa, sem sangue, com o máximo respeito a todas as populações locais? Nenhuma! Nenhuma. E aí a gente entra numa loucura de uma tentação que começa a imputar a Portugal toda a culpa, como se Portugal fosse a pior das nações que fez aqui as piores atrocidades imagináveis. E, na realidade, os portugueses eram homens do seu tempo; pensavam de acordo
com aquilo que conheciam, de acordo com aquilo que sabiam no seu tempo. E os outros povos também. Portugal ainda tem uma grande vantagem em relação a outros povos, porque os portugueses não viam problema em chegar em lugares desconhecidos e começar ali a própria vida; é o que eles fizeram vindo para cá. Então, essa história de que esses homens atravessaram o mar numa viagem incerta, sem saber se voltariam para as suas casas, sem saber o que encontrariam aqui, para chegar aqui e tentar achar um pouco de ouro e levar madeira para lá, é preciso ter mais
fé para acreditar que é só isso do que realmente admitir que alguma coisa está errada nessa história. Ah, mas como a gente resolve o problema? Indo às fontes primárias. Quando nós olhamos para os relatos do descobrimento do Brasil, e são vários, as pessoas falam muito da carta de Pero Vaz de Caminha, que é a mais conhecida, mas existem outros relatos. Existe, por exemplo, um documento chamado de "A Carta do Piloto Anônimo". O que é a carta do piloto anônimo? É uma carta náutica profundamente técnica, falando a respeito dos graus de latitude, longitude, distanciamento de terra,
e vai narrando como foi tudo isso vindo aqui para o Brasil. É uma outra fonte histórica primária sobre a história do Brasil, entendendo? Existem relatos de outros viajantes que vieram aqui ao Brasil já no início da chegada dos portugueses por aqui. Então, é necessário voltar a essas fontes e analisá-las dentro do seu contexto, entendendo? Então, por isso que estou dizendo: nós temos que analisar de maneira justa isso. Então, imputar aos portugueses a culpa por tudo é anacronismo, né? É analisar as coisas com a mentalidade que nós temos hoje. E, na verdade, quando nós voltamos à
história dos portugueses, nós vamos ver que o próprio povo português lutou pela defesa da própria fé. A Península Ibérica, não só Portugal, mas a Espanha também, teve de lidar muito. Cedo, com a invasão dos muçulmanos a partir ali do século VI, as invasões muçulmanas na Península Ibérica se intensificaram. Os reinos cristãos foram sufocados pela presença islâmica; foram fundados sultanatos e califados dentro do território da Península Ibérica. Então, existiam já alguns reinos dentro da Península Ibérica, que eram os reinos cristãos católicos de origem visigótica, que foram sendo suprimidos, atacados e encurralados pela presença islâmica. Por um
lado, a presença islâmica trouxe uma série de contribuições culturais que, no fim das contas, tiveram um saldo positivo. Por exemplo, a introdução dos números arábicos é uma coisa que os muçulmanos trouxeram, assim como alguns conhecimentos astronômicos que depois serviriam às grandes navegações. Os muçulmanos trouxeram isso, mas, junto com os conhecimentos positivos, veio também uma série de problemas, como os ataques violentos a igrejas, a profanação de igrejas e cemitérios, sequestros de católicos e mulheres sendo tomadas como escravas sexuais, além de crianças sendo vendidas. Portanto, houve também um aspecto muito negativo. Esses católicos ibéricos tiveram que lutar
pela sua fé; isso forjou o caráter dos espanhóis e dos portugueses. Essa questão da luta pela fé, da defesa por aquilo em que se acredita. E aí, Dom Pelayo, na região das Astúrias, na Península Ibérica, vai chefiar um pequeno grupo de soldados católicos que vai dar combate aos muçulmanos e vai vencê-los na famosíssima Batalha de Covadonga. Então, dali em diante, essa ideia da retomada dos territórios cristãos na Península Ibérica vai ganhando força. Os reinos cristãos, os reinos católicos, vão se restabelecendo. Mas a Reconquista Cristã começa ali no século VI e só será concluída no século
XV. Somente no século XV, com a rainha Isabel, a Católica, esposa do rei Fernando, que são os chamados Reis Católicos da Espanha. No dia 2 de janeiro de 1492, a rainha Isabel retomou a cidade de Granada, que era a última cidade dominada pelos muçulmanos; era o último reduto muçulmano na Espanha. Nesse mesmo dia em que a rainha Isabel toma Granada, chega para falar com ela um nave chamado Cristóvão Colombo. Colombo, que tem uma identidade — aliás, a identidade não, mas a nacionalidade — uma tanto quanto incerta, muito discutida pelos historiadores sobre de onde Colombo era.
Alguns dizem que ele era genovês, mas, hoje em dia, a maioria dos historiadores tende a acreditar que Colombo era português. Por quê? Porque, quando Colombo descobre a América, ele nomeia várias localidades com os mesmos nomes que alguns vilarejos de Portugal. Seria muita coincidência, não é? Existem várias teses a respeito de Colombo, mas é fato que, no dia da conclusão da Reconquista Cristã, ele chega para falar com a rainha Isabel, pedindo patrocínio para sua viagem. Ele queria navegar a oeste para fazer a circum-navegação. E é curioso que, depois, a rainha da Espanha autorizará Colombo a fazer
essa viagem, vai patrociná-lo, e ele descobre a América no dia de Nossa Senhora do Pilar, 12 de outubro de 1492. A Espanha que financia esse empreendimento de Colombo recebe, no dia da sua padroeira, uma nova terra, um novo continente. Então, de novo, nós vemos a mão da providência que conduz as coisas; não podemos negar isso. O que acontece é que Portugal e Espanha foram forjados nesta luta. Portugal se torna independente da Espanha no ano de 1139. Só que Dom Afonso Henriques não simplesmente fez uma batalha e proclamou a independência; não, ele teve de lutar e
vencer muitos soberanos locais que eram muçulmanos e estavam dentro do território do Condado do Portucalense. Essa fé dos portugueses está intimamente ligada à origem da própria nação portuguesa. Eles combateram pela fé. Na véspera da Batalha de Orque existe a chamada Lenda de Orque. A Lenda de Orque é a história fundante de Portugal. A Batalha de Orque, nós todos conhecemos; foi a batalha que deu a independência a Portugal. Mas contam os cronistas que Dom Afonso Henriques, na véspera da batalha, viu Nosso Senhor Jesus Cristo, que lhe disse que ele deveria aceitar a aclamação que os seus
homens lhe faziam como rei. Cristo prometeu a ele a vitória, mas garantiu que Portugal tinha também uma missão: a missão de levar a fé, de dilatar a fé católica em todos os territórios que a providência divina confiaria a Portugal, isso no ano de 1139. Então, para Portugal, conservar a fé é conservar a própria identidade lusitana. E isso se transmitiu ao Brasil; essa herança chega até nós. Aliás, as grandes navegações são fruto desta visão apostólica de dilatação da fé que os portugueses tinham. Nós não podemos negar isso. E veja bem: eu repito novamente, não estou dizendo
que esse caminho foi linear. Foi feito só por gente boa? Santa? Justa? Não, no meio dessa história toda, nós vamos encontrar muita gente heroica, muita gente santa, mas também muita gente equivocada ou até mal-intencionada. Isso nós encontramos até mesmo na Sagrada Escritura. Quando olhamos para o grupo dos Apóstolos, que foram escolhidos por Cristo, que é Deus feito homem, nós temos lá um Judas, que vendeu Jesus por 30 moedas. Quando olhamos para o Capítulo primeiro do Evangelho de Mateus, nós vemos a descendência de Jesus: 40 gerações que prepararam a vinda do Messias. Nessas 40 gerações que
são parentes de Jesus, o que nós temos lá? Temos profetas, temos gente santa, temos gente justa, mas temos ladrões, homicidas e até duas prostitutas. Isso está no Capítulo primeiro do Evangelho de Mateus, para mostrar que Cristo, enquanto Redentor do gênero humano, assume a humanidade levando na sua descendência de tudo: bons e maus. Assim também a... História da Igreja no Brasil: nós temos gente boa e gente má. Aliás, a gente não pode, é, pensar, né, com aquele, é, com aquele modo, né, que nos é ensinado ali, às vezes, na escola, na universidade, que é um modo
muito binário, assim, de pensar: ou é uma coisa ou é outra, ou é opressor ou é oprimido. Não, nós podemos ter gente, é, que tem cargos, que tem poder na mão e que sejam pessoas muito boas, como podemos ter pessoas que tenham poder nas mãos e ajam como verdadeiros tiranos. As pessoas são boas e são más, entendeu? Então, existe gente boa, aliás, existe muita gente boa. Então, nós não podemos olhar para os portugueses como: "Ah, os portugueses são os opressores, são os vilões, vieram aqui para tirar o nosso ouro, para matar os índios." Espere, será
que entre os portugueses não tinha gente boa? Será que na história da nossa família não tem muita gente boa? Será que nas ações da nossa vida não tem muita coisa boa que a gente fez? Então, a gente precisa usar o bom senso para analisar a história. A gente precisa usar o contexto para analisar a história. E aí, quando nós olhamos para a história de Portugal, nós veremos isso: eles defenderam a fé, entenderam que era necessário levar essa fé para outras pessoas. Na Idade Média, os portugueses, é, fizeram algo bastante interessante a pedido do seu rei,
Dom Dinis. Dom Dinis foi um rei ao mesmo tempo admirado pelos seus sucessos militares e por ser também um rei poeta. Dom Dinis contribuiu grandemente para o estabelecimento da língua portuguesa enquanto idioma. Na época de Dom Dinis, ainda falava-se o galego; português era uma mistura do galego já com, é, alguns sinais assim da nossa língua portuguesa mais moderna, digamos assim. Dom Dinis ajudou a estabelecer os princípios da nossa língua como nós a conhecemos, como ela chegou até nós. Então, Dom Dinis foi um rei admirado, celebrado, mas que na sua vida pessoal teve muitas incoerências, muitas
amantes, muitos filhos bastardos. Mas isso não anula, por exemplo, seus sucessos militares e sua genialidade na poesia. E Dom Dinis era casado com Santa Isabel, a Rainha Santa de Portugal. Santa Isabel, com muita paciência, rezou por esse marido, ajudou a esse marido, inclusive criou os filhos bastardos do marido heroicamente. E uma vez disseram a ela: "Mas, Sua Majestade, a senhora não precisa fazer nada disso." E ela disse: "Se eu não fizer com o pai que essas crianças têm, elas perderão a própria alma. Eu preciso educá-las na fé." Quando Dom Dinis caiu doente, ele também cai
em si, se arrepende, pede perdão à sua esposa. Santa Isabel o perdoa e, quando ele morre, ela renuncia à coroa e entra no convento das claríssimas de Coimbra, o convento de Santa Clara Nova, onde hoje a Rainha Santa está sepultada. No altar-mor do convento de Santa Clara, está lá a urna com os restos de Santa Isabel, Rainha de Portugal, uma rainha santa. Nessa história, uma rainha que lutou para converter o próprio marido. E foi este esposo que, apesar de seu comportamento um tanto quanto inadequado no seu viver o seu matrimônio, foi este homem que salvou
a Ordem dos Templários da completa extinção em Portugal, em 1314. Quando o Papa extinguiu a ordem dos Templários da Igreja, Dom Dinis pede ao Papa para preservar, pede o privilégio de poder preservar a Ordem dos Templários em Portugal. O Papa concede, mas com uma condição: era necessário alterar o nome da ordem, era necessário dar uma nova regra de vida e estabelecer um local para a ordem dos Cavaleiros do Templo. Então, Dom Dinis destina o Convento de Cristo na cidade de Tomar, que tantos e tantos turistas anualmente visitam. O Convento de Cristo, em Tomar, foi o
quartel-general dos Templários, que passaram a se chamar Ordo Militis Christi, a Ordem da Milícia de Cristo em Portugal. São os Templários, e o que a Ordem da Milícia de Cristo vai fazer já na Idade Média? Começará a se empenhar no estudo das navegações. Eles começam a reunir engenheiros, começam a reunir cartógrafos, estudiosos de várias áreas, matemáticos, astrônomos, e é desta reunião de esforços que, um pouco depois, nascerá a Escola de Sagres. E a Escola de Sagres será conduzida por estes membros da Ordem de Cristo em Portugal. E são esses membros da Ordem de Cristo que
vão se lançar ao mar, que vão se lançar ao mar e vão buscar uma nova rota para as Índias, quando os muçulmanos fecham o caminho, a rota de passagem do Bósforo, do Estreito de Bósforo, por onde os católicos passavam para entrar na Turquia e fazer comércio com o Oriente. Quando os muçulmanos resolvem fechar essa rota, após a queda de Constantinopla em 1453, aparentemente, o comércio europeu estaria arruinado. E qual era o plano dos muçulmanos? Vamos arruinar o comércio dos europeus, enfraquecê-los, desidratar a sua economia e depois invadir. Vamos islamizar a Europa. Então, Portugal toma como
uma verdadeira cruzada a missão de conquistar o mar. É conquistar o mar, não somente para Portugal, não somente para fazer comércio, é garantir, garantir a continuidade da liberdade de praticar a fé católica dentro do continente europeu. Trata-se de uma questão de fé, é um esforço apostólico também de Portugal. Ah, mas todos os navegadores pensavam assim? Não, é claro que não, mas o rei pensava assim. Aqueles que comandavam, aqueles que chefiavam pensavam assim. E muitos dos que navegavam também pensavam, mas todos pensavam assim? Nem todos! Como nem todos hoje? No Brasil, por exemplo, ou em qualquer
lugar do mundo, pensam igual. Às vezes as pessoas não pensam igual, mas analisando grosso modo, o que é o bem comum naquele momento, as pessoas acabam aderindo. E assim foi. Então, Portugal se lança ao mar. Poema lindíssimo, né, de Fernando Pessoa, chamado "Mar Português", onde Fernando Pessoa vai dizendo, né, tudo que os portugueses fizeram de esforços para conquistar o mar. Ele diz, né, tudo para que fosses nosso, ó mar. Então, de fato, os portugueses se lançam ao mar e começam a buscar uma rota alternativa de navegação para fazer o seu comércio com o Oriente, garantindo
que o comércio garantiria uma economia viva, uma economia em funcionamento, e, consequentemente, conseguiriam se armar e se proteger de qualquer investida muçulmana, garantindo assim a sua cultura, garantindo assim a prática da sua fé. É uma cruzada. Antes, a cruzada era para defender os lugares santos lá na Terra Santa. Agora, a cruzada que os templários, lá em Portugal, vão empreender é a conquista do mar. E farão isso e vão contornar a África. Bartolomeu Dias vai tentar contornar o continente africano, vai se deparar com o Cabo das Tormentas, mas os portugueses não desistirão até que Vasco da
Gama consiga atingir o caminho até as Índias. O próprio Bartolomeu Dias, que tentou tantas vezes contornar o continente africano, virá para o Brasil. Bartolomeu Dias estava no grupo das caravelas que acompanharam Cabral até aqui, no descobrimento do Brasil. Bartolomeu Dias estava aqui na ocasião do descobrimento. Então, nós veremos que é um esforço apostólico. Não se trata apenas de navegar, fazer comércio, buscar madeira, buscar ouro. As pessoas podem ter um ímpeto, um desejo por riquezas muito grande, mas agora, as pessoas se arriscarem como esses portugueses se arriscavam, sem ter algo sobrenatural que os mova; as pessoas
não fazem isso. É muita gente que olha para os portugueses acusando-os de querer só ouro, ouro, ouro, riqueza, riqueza, riqueza, né? Se esquece de que se fosse só isso, quem assim fala, se fosse só isso, por que outros europeus não se lançaram antes ao mar? Aliás, existiam outros povos europeus que eram muito mais ávidos por riquezas do que Portugal e Espanha. Então, quer dizer, há um princípio de sobrenaturalidade, de busca da vontade de Deus, de alargamento e dilatação da fé. Basta a gente olhar os documentos oficiais. O Diário de Colombo, quando ele veio para a
América, na ocasião do descobrimento da América, o Diário de Colombo tem várias vezes a palavra "cruz", a palavra "salvação", a palavra "evangelho". Colombo fala disso várias vezes. Na carta de Pero Vaz de Caminha, há muitas referências religiosas. O próprio Pero de Caminha dirá ao rei de Portugal, Dom Manuel, que os indígenas com os quais eles se encontraram pareceram muito próximos, muito amistosos e muito bons, muito receptivos. E o próprio Pero Vaz de Caminha se arrisca a dar um conselho ao rei. Ele disse: "Se Vossa Majestade quiser fazer bem a essa gente, faça vir muitos padres
para que os batize." Olha a visão de Caminha: essas pessoas têm de ter acesso à nossa fé. Por quê? Porque os portugueses estavam convencidos, convencidos do valor da sua fé. Aí, muitos vão acusar, dizendo assim: "Ah, claro, né, os jesuítas, os portugueses, os franciscanos trouxeram para os índios uma fé que eles não pediram." Realmente, eles não pediram a fé. E por que não pediram? Porque como as pessoas podem pedir algo que elas não conhecem? Como que você vai pedir algo ou vai desejar algo que é bom se você não conhece? E o que Portugal fez?
Portugal, os portugueses, os jesuítas, os franciscanos, os carmelitas, os beneditinos que vieram para cá vieram trazendo esta fé que estas pessoas não pediram, mas que a providência de Deus permitiu que chegassem aqui, né? Que a providência de Deus permitiu. Porque há algo que nós devemos ter em mente, e este algo que nós devemos ter em mente é o que está lá no fim do Evangelho de São Mateus, no fim do Evangelho de São Mateus, né? São Mateus... não, perdão, São Marcos, né? Capítulo 16, versículo 15. E no fim de Mateus também fala, né? Olha o
que Jesus diz: "Ide por todo mundo, pregai o evangelho a toda criatura." É um mandato de Cristo. Portugal fez com que o Brasil nascesse a partir desse mandato de Cristo, né? "Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura." Então, Cristo está dando aqui um mandato: ide, ide, ensinai. É um mandato, não é uma opção. Então, quem de fato é católico, é cristão, tem este mandato de levar o evangelho onde estiver. E levar o evangelho jamais pode ser uma destruição de culturas. Muita gente diz: "Ah, mas os missionários trouxeram o evangelho aqui e
destruíram a cultura indígena." Bom, o que os missionários modificaram? Aquilo que era contrário à lei natural e à lei de Deus. Isso, os missionários modificaram. Aliás, o evangelho, onde ele chega, ele produz modificação. Basta a gente pensar nas narrativas aí de São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João. As pessoas que chegam para falar com Jesus chegam de um jeito e saem de outro. Elas sempre saem transformadas. O contato de uma cultura com o evangelho necessariamente deve produzir uma transformação. Por exemplo, os jesuítas, quando chegam aqui no Brasil, eles se deparam com a prática
da antropofagia. Grupos indígenas que aprisionavam gente de outras tribos e se alimentavam dessas pessoas. É claro que alguns desses povos, né, boa parte deles, aliás, entendiam a antropofagia não só como uma refeição: "Ah, vamos comer carne humana." Mas eles entendiam até como um ritual. Nós vamos absorver a força, a virtude destas pessoas que nós estamos devorando, comendo a carne. O que os jesuítas vão fazer? Pouco a pouco, vão incentivando essas populações, explicando, pregando, falando que não se pode fazer isso. Você não pode comer carne humana. Você não pode simplesmente capturar uma pessoa, né? É um
filho de Deus, né? Você não pode fazer isso. Né? Como os jesuítas também vão ensinar as mulheres indígenas a não praticar mais o infanticídio. Padre José de Anchieta. Quando chega no Planalto de Piratininga, é hoje a cidade de São Paulo. Ele mesmo narra o horror que causou nele e nos outros missionários uma cena que ele viu: de uma avó que estava com o neto recém-nascido. A criança tinha alguma pequena deficiência. Eles abriram, né? A avó pegou o bebê; a mãe havia acabado de dar à luz e a avó pegou o bebê, abriu um buraco e
enterrou o bebê porque o bebê tinha uma pequena deficiência. Era um infanticídio, era uma prática comum entre os indígenas. E aí, então, enterrava a criança viva, matava a criança. O padre Anchieta, com as próprias mãos, ele cavou e tirou aquele bebê e levou aquela criança à Casa dos Padres e cuidou daquela criança. E aquele menino cresceu junto com os Jesuítas e depois ficou ali trabalhando junto com os Jesuítas. Ele tinha um probleminha na perna, mas cresceu normalmente, trabalhou normalmente. E aí, os padres Jesuítas vão começar a ensinar: "Não, você não pode fazer isso, é seu
filho, né? É filho de Deus, é imagem e semelhança de Deus." Então, vejam, né? Aqueles que acusam os Jesuítas de ter destruído a cultura, mas essa, aí, se você pode trazer a luz do Evangelho, a luz do Evangelho pode iluminar aquela cultura. É mandato de Cristo: "Ide por todo o universo e pregai o Evangelho a toda criatura, sem distinção, a todos, todos, todos." O Evangelho é para todos. O que os Jesuítas fizeram? Trouxeram o Evangelho sem distinção. Uma semana depois que chegaram aqui, tinha uma escola funcionando para alfabetizar, para educar quem? Os indígenas, os filhos
dos colonos também, mas os indígenas, entendeu? Então, nós devemos olhar para essa história do Brasil entendendo que esses homens vieram também pelo Evangelho. Ah, mas fizeram muito comércio, tiraram... sim, sim, porque todo mundo que empreende, empreende para se sustentar, para se manter. E, obviamente, Portugal queria manter seus empreendimentos, o seu reino. E, de novo, eu digo: eles sempre fizeram tudo de maneira justa, correta. Não, nem sempre esse caminho é cheio de incoerências, cheio, cheio de problemas, mas há um princípio que rege, há um princípio, né, que está por detrás dessas ações. Então, os Jesuítas, quando
vêem e evangelizam essas culturas, é para elevá-los, para impedir a destruição das vidas dos próprios indígenas que eram, às vezes, alvo de outras tribos, eram caçados e devorados, ou das crianças que eram enterradas vivas. Então, começa-se a ensinar diferente. Isso não é destruição da cultura, mas uma elevação desta cultura. Do mesmo modo, basta a gente pensar, por exemplo, na região sul do Brasil, a região dos Sete Povos das Missões. Naquela região, chegaram a existir mais de 20 colégios Jesuítas. Os Jesuítas ensinaram, entre outras tantas coisas, escultura, pintura, música. Alguns dos instrumentos musicais que eram tocados
nas orquestras europeias eram instrumentos fabricados dentro das Missões Jesuítas. Olha que coisa! Eram fabricados ali. Os indígenas não só sabiam, não só aprenderam a tocar esses instrumentos, como aprenderam também a fabricar esses instrumentos. E era algo de tamanha qualidade que as orquestras europeias adquiriram, compravam dos Jesuítas aqui no Brasil. E eram os indígenas que faziam, né? Isso aí, entendeu? Então, a gente tem que começar a olhar as coisas dentro da lógica da época em que elas aconteceram, né? Uma outra fala muito comum, né, é de que o Brasil foi alvo de um saque. Na verdade,
o que acontecia? O Brasil não tinha uma unidade territorial. Se você perguntasse a um indígena: "Qual é o seu território? Qual é o seu país?" eles não tinham essa ideia de identidade nacional. Eles tinham uma ideia de ocupação territorial por tribo. E aí, o sujeito diria para você: "Ah, minha terra, o meu país é daquela árvore ali até aquele rio", o espaço que a tribo dele ocupava. Então, o Brasil era uma colcha de retalhos, com vários povos, várias línguas diferentes, né? E, quando Portugal chega, Portugal só consegue colonizar também pelas alianças que foram fazendo com
os próprios indígenas e foram conseguindo entrar, né, dentro aqui do território brasileiro. E conseguiram fundar cidades e tudo mais. Ah, mas tiraram muita coisa daqui. Sim, tiraram muita coisa daqui! Só que aí o que acontece? Não tiraram do Brasil porque o Brasil não existia. O que existia era uma extensão de Portugal, né? Tanto é que, se você falasse em brasileiro antes de 1822, não existia. Não tinha sentido essa expressão "brasileiro", porque não existia essa ideia de identidade nacional. Identidade nacional ela começa de 1822 para frente. De 1822 para trás, o que nós temos? Ah, é
o Portugal de Além-Mar. Ou, senão, quando se falava de quem nascia aqui, até se usava a expressão "brasileiro", mas geralmente se dizia: "É um português do Brasil", né, ou "um português de Além-Mar". E as mesmas leis que vigoravam em Portugal vigoravam aqui. Os portugueses, diferente de outros povos, viam na migração uma possibilidade de se manter nos lugares onde eles chegavam. Então, os portugueses tinham esse costume. Então, quando eles chegavam, eles construíam a vida no local onde eles chegavam. Então, eles iam erguendo o que eu chamo de o tripé caritativo. Onde Portugal chegava, eles faziam isso.
O que é o tripé caritativo? Eles construíam igrejas, construíam hospitais, as Santas Casas e escolas, né? Então, era para instruir e alimentar a alma, cuidar do corpo e instruir. Então, Portugal sempre fazia isso. Por exemplo, nas invasões francesas no Brasil, quantas escolas os franceses fundaram? Eles não fundaram escolas, né? Quantas escolas ou Santas Casas ou quantas obras destinadas diretamente aos indígenas os holandeses fundaram quando chegaram ali na altura de Recife e depois foram subindo até o Rio? Grande do Norte, né? Então, comparativamente, é totalmente diferente, né? Olhando ainda para a história aqui do Brasil, nós
vemos, por exemplo, essa "Miss Generação". Ela acontece muito cedo, né? Essa questão da fusão das raças. O Diogo Alvares, né, o Caramuru, que era um náufrago português, ele foi parar mais ou menos na altura ali. Ele naufragou mais longe um pouco, mas chegou na costa de onde é Salvador, e ali ele foi acolhido pelos Tupinambás. Os Tupinambás, inclusive, queriam devorá-lo, né? Tinham até essa intenção de devorá-lo. E aí tem toda a história que ele dá o tiro, assusta os indígenas, que o chamam de Caramuru, né, Deus do Trovão ou Deus do Fogo. O Caramuru vai
se estabelecer ali naquela tribo; depois, ele vai receber o comando daquela tribo; o próprio Cacique passa o comando para ele e ele se casa com quem? Com Paraguaçu, a filha do Cacique, que depois se converterá e será batizada com o nome de Catarina Paraguaçu, um nome cristão, né? Dessa mulher. E nós temos aí o primeiro casal católico do Brasil, né? Nós temos um homem e uma mulher católicos, batizados, unidos em matrimônio, que vão gerar filhos que já são frutos do início dessa mistura racial. Depois, nós vamos ter, na altura de Santo André, a Vila de
Santo André da Borda do Campo, perto de São Paulo, que é a cidade de Santo André hoje em dia. Ali, um outro náufrago português, o João Ramalho, vai se casar com a filha do cacique Tibiriçá, chamada Bartira. Também ali, né? Um primeiro núcleo familiar fruto dessa mistura racial e depois isso vai se popularizando aí no Brasil. Então, esta fé, ela vai também se difundindo, né, nas famílias. Agora, esse caminho não foi um caminho linear, um caminho cheio de flores, um caminho tranquilo, né? A começar pelo fato de que a história da Igreja no Brasil sempre
contou com um grande desafio, que é a extensão territorial do Brasil, a grande necessidade de evangelização desses povos, de conhecimento da doutrina, da Verdade etc. e tal. E depois, o próprio Padre Anchieta vai dizer que mais difícil do que catequizar os índios, que eram pagãos que não conheciam o cristianismo, havia um problema, né? Que era a catequização dos próprios portugueses, porque muitos desses marujos, né, que vinham nessas caravelas, eram funcionários contratados. Então, quer dizer, por mais que o ideal fosse grande, o Rei de Portugal tivesse um ideal grande, os comandantes das caravelas tivessem um ideal
grande, os homens que vinham contratados nem sempre tinham esse ideal, também, na mesma altura, na mesma elevação. E aí vem um problema que o próprio Padre José de Anchieta vai narrar, que às vezes era dificílimo catequizar os portugueses que já tinham maus hábitos enraizados e tudo mais. Então, não raras vezes, os Jesuítas, que eram uma congregação de direito pontifício e que podiam se reportar diretamente ao Papa, não raras vezes denunciaram os maus-tratos que os portugueses faziam aos indígenas. Não raras vezes denunciaram más ações dos colonos. Isso explica o porquê do ódio de algumas autoridades civis
portuguesas em relação aos Jesuítas. Esse ódio, lá no século XV, vai culminar com a política do Marquês de Pombal, que era o primeiro-ministro do Rei de Portugal, querendo expulsar os Jesuítas do Brasil. Por quê? Porque não era interessante você ter aqui padres e religiosos que eram os olhos da Igreja, os olhos do Papa, e que denunciavam aquilo que viam aqui. Tanto é que os Jesuítas foram expulsos e isso foi um fracasso para a educação no Brasil, porque os únicos professores formais do Brasil eram os Jesuítas, para não dizer os únicos, né? No norte do Brasil,
existia uma escola mantida pelos Oratorianos e outra escola mantida pelos Carmelitas, mas não tinha mais nada. Todas as outras escolas formais pertenciam à Companhia de Jesus. Quando a Companhia de Jesus foi expulsa daqui do Brasil, em 1759, criou-se um grande vácuo na educação do Brasil. Basta a gente olhar: São José de Anchieta. São José de Anchieta foi o primeiro escritor na nossa língua aqui. São José de Anchieta elaborou a gramática da língua tupi, ele foi o primeiro dramaturgo, o primeiro a escrever peças teatrais, escreveu a obra “Gestes Mend”, um poema em latim narrando a vida
de Mend, escreveu o poema da Virgem. O poema da Virgem é o maior poema mariano na história da Igreja, quase 6.000 versos contando a vida da Virgem Maria, Padre Anchieta. Então, os colégios Jesuítas aqui no Brasil produziram muita coisa, fizeram muito bem, mas de repente o governo português os expulsa daqui. É uma questão claramente política. Então, a história da Igreja no Brasil não foi linear. A história da Igreja no Brasil cresceu e se desenvolveu com muita dificuldade: ausência de clero, poucos padres, regiões que viam padre, às vezes, a cada 5 anos. Então, o que fez
a fé no Brasil muitas vezes se manter? Foram os leigos. Em quantos e quantos lugares no Brasil, o catolicismo se desenvolveu a partir do laicato? Dos leigos que se reuniam aos sábados para cantar o Ofício de Nossa Senhora, aos domingos para rezar um terço, pelo menos para santificar o domingo, pela ausência de sacerdote que pudesse rezar a Santa Missa. As irmandades religiosas mantiveram a fé viva em muitas regiões onde quase não se via sacerdote. Então, o catolicismo no Brasil cresceu a duras penas. E como a Igreja estava unida ao Estado, muita gente pensa assim. Isso
também já é assunto para a nossa conversa de amanhã, né? Mas muita gente pensa assim: a Igreja, como estava unida ao Estado, tinha plenos poderes. Ela fazia... O que queria não era bem assim; pelo contrário, o estado português muitas vezes, por influências de seus ministros ou até mesmo de pessoas da nobreza portuguesa, fez uma verdadeira campanha contra a Igreja, atrapalhando muito a evangelização aqui no Brasil. Depois, quando o Brasil se torna independente, aí sim, o Brasil se separa de Portugal; aí sim, nós estamos falando de um país independente, um país que começa a distinguir a
sua própria identidade. Mas é claro, sem negar a sua raiz, sem negar a sua origem. Aí nós vamos ver que o problema começou a se agravar ainda mais porque, no Brasil Império, nós tivemos um Imperador que era Maçom, Dom Pedro I, e que, para agradar à Maçonaria, ele fez uma série de ajustes no modo de conduzir a Igreja aqui no Brasil. Então, a Igreja ficou totalmente travada. Depois, no segundo reinado, na época de Dom Pedro I, não existe nenhuma comprovação de que ele fosse filiado à Maçonaria, mas nós sabemos, certamente, que ele era um filom
Maçom. Ele tinha muita simpatia pelas ideias da Maçonaria e teve vários gabinetes de ministros compostos por maçons. E o que Dom Pedro I fez? Restringiu absurdamente a ação da Igreja Católica no Brasil. Então, a história da Igreja no Brasil, longe de ser um caminho de flores onde a Igreja fez tudo o que quis, foi um caminho muito difícil, né? Muito árduo. E para isso, meus caros, é que eu promovi aqui esses três dias de aula justamente para levantar essas questões e depois começar a responder a essas questões, apontando caminhos por onde a gente pode seguir.
Amanhã eu vou falar justamente disso: das Bíblias, biografias, livros, fontes que a gente pode consultar para conseguir entender de maneira justa. E quando eu digo de maneira justa, é fazendo exatamente isso aqui que eu estou dizendo: não é tapando o sol com a peneira. Porque existe uma apologia que é ruim; às vezes, aquelas pessoas não vamos defender a Igreja, e aí a pessoa exagera na defesa, varrendo para baixo do tapete tudo aquilo que é negativo das ações dos filhos da Igreja. Não se pode fazer isso; isso é uma apologia ruim. Agora, eu também não posso
fazer uma apologia onde eu só procuro exaltar aquilo que é bom, sem analisar como isso foi possível, né? Quem promoveu isso? Quem fez isso? Então, se vamos falar da Igreja, nós temos que olhar para todas as circunstâncias, até para que a gente saiba responder bem a determinadas questões quando nos perguntarem, para que a gente saiba, para o nosso próprio conhecimento. E isso certamente pode nos ajudar muito na nossa maneira de enxergar as coisas. Então, por exemplo, quando a gente olha lá no segundo reinado, só para terminar aqui já o nosso assunto, e aí eu vou
responder algumas questões aqui do chat. Então, se você tiver sua pergunta, já coloque aí no chat. Mas, por exemplo, no fim do segundo reinado, nós temos a questão religiosa. O que é a questão religiosa? A questão religiosa foi quando dois bispos brasileiros, para obedecer às ordens do Papa, desobedeceram o Imperador; é desobediência civil. Aí o que Dom Pedro I manda fazer? Manda prender os bispos. E aí foi um momento, assim, um capítulo na história da Igreja no Brasil, único. Por quê? Porque é uma Igreja que já estava cansada de ser sufocada pelo Estado. Então, é
uma Igreja que queria dar um respiro, um grito de respiro. E aí depois vem a República. Muita gente olha para a República e fala: "Ah, mas a República introduziu o estado laico, separou a Igreja do governo, do Trono!" Para a Igreja Católica isso não foi ruim, não foi ruim do ponto de vista político. A perda da monarquia foi terrível porque, na monarquia, nós tínhamos o quê? Uma porção de estadistas, de políticos que realmente estudavam os problemas do Brasil e tinham uma visão patriótica de defesa da nação e tudo mais. Mas, por outro lado, havia muita
interferência da Maçonaria contra a Igreja. Com a República, separou. E aí o que vai acontecer com a Igreja no Brasil? A Igreja no Brasil vai deslanchar; o número de dioceses aumenta, as vocações aumentam, a ação da Igreja se expande. Por quê? Porque a Igreja já não estava mais submetida ao Estado. Olha que interessante! Então, é necessário, minha gente, é por isso que eu promovi aqui essa nossa conversa, justamente para despertar em todos vocês, em mim também, cada vez que eu falo disso, despertar em nós essa consciência de que a história da Igreja no Brasil não
é do jeito que a gente pensa ou do jeito que a gente aprendeu. Ela é muito mais complexa, tem várias nuances que nós precisamos considerar. Tá bom? Então, eu, particularmente, no dia de hoje, posso dizer para vocês que me sinto muito feliz em saber que eu, imagino que vocês também, tive a oportunidade de nascer, crescer, de constituir a minha família num país que sempre esteve nos planos de Deus, num país que é fruto do "sim" à palavra de Deus lá no Evangelho de Marcos, capítulo 16, versículo 15, e que eles levaram isso a sério: "Ide
por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura." É o Brasil, né? E vocês, meus caros, gostaram dessa aula de hoje? Então deixem aí os seus comentários e também coloquem suas dúvidas. Eu vou dar uma olhada aqui em algumas perguntas; não dá tempo de responder todas, mas algumas questões eu irei responder. Vamos lá, deixa eu ver aqui. O Caio Casaroto coloca aqui: "Boa noite, professor, posso dizer..." Que um pálido senso de nacionalidade começou quando da expulsão dos holandeses calvinistas na Batalha de Guararapes. E não é exagero dizer que começa ali a se desenhar uma
certa ideia de nacionalidade brasileira. Isso é verdade; a sua análise, aí eu concordo plenamente com ela. Eu acredito que alguns momentos da história do Brasil começaram a dar essa noção. Um primeiro momento, antes até da expulsão dos holandeses ali de Recife, né? Ali de Pernambuco. Antes disso, até na questão da expulsão dos franceses no Rio de Janeiro, esse senso já começou a aparecer. Quando aconteceu a Confederação dos Tamoios, o Padre Anchieta foi uma peça fundamental para congregar os indígenas ao lado dos portugueses e lutar contra os franceses. Então, ali já há uma certa visão comum
de indígenas, de portugueses e de mestiços; já tinha muita gente mestiça, já tinha brasileiros nascidos no Brasil ali naquela batalha no Rio de Janeiro. Então, ali já há um certo lampejo de nacionalidade, mas depois, na expulsão dos holandeses, isso fica um pouco mais claro. Por quê? É claro que isso é uma interpretação posterior. As pessoas que estavam envolvidas ali no evento, na hora, certamente não tinham isso tão claro na cabeça. Mas na expulsão dos holandeses, o que vai acontecer? Se você pegar lá o Felipe Camarão, o Henrique Dias e o Vidal de Negreiros, esses três
generais eram de três raças diferentes, né? Era um branco, um negro e um indígena. Então, você tem as três raças principais constitutivas do Brasil moderno, né? A partir da mistura. E essas três raças se congregam. Existiu o Batalhão dos negros, o Batalhão dos índios e o Batalhão dos brancos, que se juntaram e combateram. Inclusive, muitos historiadores consideram que a Batalha de Guararapes, ali em Recife, foi a gênese do exército brasileiro, o nascimento do exército brasileiro, porque são três tropas de três raças que se congregam por um ideal comum. E o que juntou essas pessoas, basicamente,
né? É só um ideal de defesa territorial, não é o ideal da fé. Tanto é que, nessa guerra de expulsão dos holandeses, uma das principais batalhas, né, ela era chamada, mas os historiadores, sobretudo depois da proclamação da República, foram deixando de usar essa expressão, mas era uma batalha chamada de Guerra da Luz Divina, que foi a batalha decisiva que derrotou os holandeses. É uma batalha onde há relatos de que os próprios holandeses viram uma mulher segurando um menino, tendo ao lado um velho de barba branca e cabelo branco. E esta mulher, junto com o menino
e com esse velho, ela andava entre os membros da tropa do exército português e causava um grande horror nas tropas holandesas. E os portugueses, brasileiros e indígenas, enfim, que lutaram, identificaram imediatamente como sendo a Virgem Maria. E no local da Batalha de Guararapes havia uma capelinha de Santo Antão. Então, identificaram que seria Santo Antão, abad, esse velho aparecendo ao lado da mulher e do menino. Então, quer dizer, era chamada de Guerra da Luz Divina. Então, há um princípio de defesa do território, defesa da própria cultura, mas também de defesa da fé, porque nós temos aí
holandeses que eram calvinistas e que, inclusive, trouxeram judeus junto consigo. E não podemos esquecer disso, porque aí fala-se muito de massacre do lado de Portugal e fala-se dos holandeses como se tudo fosse lindo e maravilhoso, e as pessoas ignoram, por exemplo, que os holandeses promoveram o massacre dos protomártires do Brasil, os mártires de Cunhaú e Uruaçu: 70 pessoas numa cidade, 80 pessoas em outra cidade, incluindo mulheres, crianças e velhos que foram trucidados dentro da igreja. Maurício de Nassau trouxe consigo um judeu chamado Jacó Rabi, que, em nome do governador, no momento em que estava sendo
celebrada a missa, mandou fechar todas as portas da igreja e massacrou 80 pessoas. Mateus Moreira, um leigo católico, tentando impedir a profanação do Santíssimo Sacramento, ele abriu os braços, se colocou diante do altar para que não profanassem o Santíssimo e o que eles fizeram? Abriram as costas dele com uma machadada e arrancaram o coração com a mão. Então, quando nós falamos de colonização holandesa, nós temos que falar. Muita gente fala: "Ah, mas a ponte que foi instalada em Recife, tudo que foi construído em Recife, herança holandesa, que é tão bonito!" Sim, é claro, não podemos
negar as contribuições culturais que eles trouxeram, mas também não podemos negar o horror e as guerras religiosas que eles também trouxeram. Se guerras religiosas aconteciam por parte dos portugueses, elas ocorriam também do outro lado. É claro que aqui eu não estou justificando um erro com outro, mas simplesmente apresentando a história em todas as suas versões, em todos os seus lados. É isso que é ideal e é necessário para que conheçamos a história de maneira justa, né? De maneira justa. Certo, vamos ver aqui mais alguma questão. Aqui, a Maria Estela Rodrigues comentando: "Parabéns, muito interessante. Estas
aulas nos proporcionam muitos conhecimentos." Obrigada! Eu que agradeço, Maristela. Eline S. pergunta: "Como era a relação dos Jesuítas com as bandeiras? Como as bandeiras eram constituídas? Havia ataques a aldeias onde estavam Jesuítas?" Era uma relação tensa, né? Porque alguns bandeirantes, por exemplo, Borba Gato. Borba Gato era um bandeirante português que não admitia a ideia de escravização indígena. Borba Gato era um pouco avesso a essa ideia, mas os outros bandeirantes eram super favoráveis à escravização, ao apresamento de indígenas. E aí eles vão entrar em conflito com os Jesuítas. Os Jesuítas estabeleciam suas missões, começavam a educar
os indígenas, a catequizá-los, etc. E não raras vezes os bandeirantes vinham até os acampamentos. Jesuítas e a prezavam os índios; ali mesmo, isso várias vezes acabou criando muitos atritos entre a coroa e os próprios bandeirantes, porque os jesuítas denunciavam isso. E os jesuítas, como podiam se reportar diretamente ao Papa, obviamente eles também não eram bem vistos pelos bandeirantes. Então, foi uma relação muito tensa. Isso explica por que a coroa portuguesa e a coroa espanhola quiseram expulsar o Jesus dos seus domínios, e isso explica também o porquê que, no fim das contas, o Papa acabou sendo
induzido a erro e suprimindo a Companhia de Jesus. Então, era uma relação difícil, sim. A Eni comenta aqui: “Deixa eu ver o que a Eni diz aqui. Professor, chega a dar uma tristeza por nos terem escondido a história da Igreja no Brasil, mas me alegro por Deus ter estado presente, né? Gratidão é assim, né? Deus chegou aqui ao Brasil mais claramente, o anúncio de Deus, o anúncio do Evangelho, né? Quando os missionários chegam aqui, o que não significa que Deus já não estivesse aqui, né? Com as populações que estavam aqui, mas eles não podiam conhecer
a Deus se ninguém lhes pregasse. É o que São Paulo fala, né? São Paulo fala: ‘E como saberão do Evangelho se ninguém lhes anunciar?’. Então, eles cumpriram esse mandato de anunciar o Evangelho.” Igor Guilherme, professor, diz: “Apesar de o fim da monarquia ter sido, de alguma maneira, positivo para a expansão católica no território, se a Princesa Isabel fosse conduzida ao trono, essa expansão teria sido mais eficaz. Então, esse é um dos grandes problemas. A própria maçonaria se articulou de tal forma para derrubar a monarquia o quanto antes, justamente para que não houvesse um terceiro reinado,
porque o terceiro reinado seria da Princesa Isabel. A Princesa Isabel era considerada uma ultramontana.” O que é uma ultramontana? É a expressão que eles usavam no século XIX para aquelas pessoas, bispos ou leigos, que eram mais obedientes a Roma, ao Papa, do que ao governo civil local. A Princesa Isabel era muito obediente a Roma; tanto é que, quando ela aboliu a escravidão no Brasil, imediatamente o Papa Leão XIII mandou a rosa de ouro para a Princesa Isabel. A Princesa Isabel foi a única personalidade brasileira a receber a Rosa de Ouro. A segunda mulher a receber
a Rosa de Ouro foi Nossa Senhora Aparecida, né? Mas só a Princesa Isabel recebeu esse reconhecimento da Igreja. Então, o terceiro reinado, o reinado da Princesa Isabel, teria sido muito diferente, né? É claro que Dom Pedro dava muita abertura para a maçonaria, mas a maçonaria sabia que no reinado de Isabel isso não aconteceria. Vamos ver aqui mais uma questão. Aqui, Andreas, professor, eu entendo que o senhor quer ser justo, mas mesmo os tais “crimes justos” denunciados pelos críticos da Igreja estão errados. A lenda negra e a apologia do rango manipulam a herança histórica. Então, mas
aqui eu não estou dizendo que os crimes devam ser esquecidos; pelo contrário, eu estou fazendo aqui uma distinção, né? Uma distinção de termos. Uma coisa são os mandatos da Igreja, aquilo que o Papa e a Igreja falaram. Não existe nenhum mandato pontifício mandando maltratar os africanos escravizados; não existe nenhum mandato pontifício mandando escravizar indígenas. Agora, o que existiu, né? Existiram muitos católicos batizados, gente de Igreja, que deveria agir bem e não agiu, e maltratou os escravos, aprisionou os indígenas, aproveitou-se dessas populações e explorou. Então, é uma questão de justiça distinguir as coisas. É como hoje
em dia, por exemplo: a doutrina da Igreja é muito clara; as pessoas não podem comungar em pecado mortal. Quando a gente olha nas igrejas, o tamanho das filas de confissão e o tamanho das filas de comunhão, a conta não bate. Tem muita gente comungando que certamente não se confessa, né? Mas isso não significa que a Igreja Católica está liberando a comunhão para todo mundo e que tanto faz. Não, as pessoas é que estão vivendo mal; ou seja, as pessoas têm uma consciência mal formada e agem mal, né? Então, é essa questão também que a gente
deve olhar na história da Igreja do Brasil, né? Não se trata de negar. Não, eu não estou dizendo que os crimes não são crimes; são, são condenáveis, são deploráveis, não devem ser repetidos. Mas nós devemos estudá-los, conhecê-los, justamente para olhar para essas incoerências dos filhos da Igreja e também entender que hoje nós também temos as nossas incoerências. É claro que, às vezes, a nossa incoerência desse tamaninho perde um clima gigantesco que outros cometeram antes de nós. Não significa também que eu quero igualar tudo, mas apenas distinguir e colocar cada “livrinho” no seu cantinho, aí nessa
prateleira da história. Certo, muito bem, meus caros. Então, vamos chegando ao fim aqui desse primeiro dia da nossa jornada. Amanhã, estaremos aqui no mesmo horário, às 20 horas, perdão, não 21, 20 horas, hein? Às 8 da noite. Vamos continuar essa história, e você verá amanhã como a Igreja Católica ajudou a construir o Brasil. Nós podemos dizer que o Brasil foi construído pela fé. A gente vai responder essa questão amanhã, falando sobre os mitos e verdades a respeito da história da Igreja Católica no Brasil. Eu também gostaria de aproveitar para convidar você. Caso você ainda não
esteja no nosso grupo exclusivo, entre no nosso grupo exclusivo lá do WhatsApp. Por lá, você receberá todas as comunicações, tá bom? E depois dessa aula, na aula de amanhã também, depois, também será disponibilizado para quem estiver nos grupos o resumo. Da aula, o resumo do conteúdo. Então, a gente já preparou um materialzinho, um PDF, que vamos encaminhar para vocês com algumas bibliografias também; algumas referências a gente vai colocar lá bonitinho para vocês. Então, depois que passa a aula, a gente, né, fecha esse materialzinho e disponibiliza para vocês, tá bom? E você também terá acesso aos
links das aulas; a gente vai postar tudo lá. Então, para quem perder hoje, essas aulas ficarão disponíveis por alguns dias apenas; depois, elas saem do ar, tá bom? Então, aproveite para convidar amigos, familiares e pessoas da sua paróquia para participar e para se fortalecer na fé e no conhecimento da história da igreja no Brasil. Fiquem com Deus! Até amanhã. Agradeço muitíssimo pela presença de vocês e espero todo mundo por aqui de novo amanhã. Até lá!