Era uma tarde ensolarada de sábado quando decidi fazer uma visita surpresa ao meu avô. A casa dele sempre teve um cheiro peculiar de madeira antiga e chá de ervas, e eu sentia falta disso. Quando cheguei à porta, ouvi o som familiar de um rádio tocando músicas dos anos 60.
Bati três vezes, como sempre fazia, e esperei. “Júlia! Que surpresa boa!
” disse meu avô, abrindo a porta com um sorriso caloroso. Seus olhos brilhavam com a mesma alegria de quando eu era criança. Ele me puxou para um abraço apertado, o tipo de abraço que só ele sabia dar, carregado de amor e conforto.
Entramos juntos, e eu senti uma onda de nostalgia ao ver a sala de estar: as mesmas fotos emolduradas nas paredes, o sofá velho mas aconchegante, e a mesinha de centro repleta de livros e revistas. Era como voltar no tempo. “Vamos para a varanda, vovô?
” sugeri, ansiosa para aproveitar o clima agradável. Sentamo-nos na varanda, com uma leve brisa soprando. Ele trouxe uma bandeja com chá de camomila e biscoitos caseiros, seus favoritos.
Peguei uma xícara e dei um gole, sentindo o sabor reconfortante do chá. “Então, como vão as coisas na faculdade? ” ele perguntou, com aquele tom de voz que mostrava genuíno interesse.
“Está tudo bem, vovô. As aulas estão puxadas, mas estou gostando muito do curso. E você, como tem passado seus dias?
” Ele sorriu, olhando para o horizonte por um momento antes de responder: “Ah, meus dias são tranquilos. Tenho lido bastante, cuidando do jardim, mas me fale mais sobre você, querida. Quais são suas novidades?
” Enquanto conversávamos sobre minha vida universitária, uma curiosidade começou a crescer dentro de mim. Eu sempre soube que meu avô tinha uma vida cheia de histórias fascinantes, mas nunca tinha perguntado diretamente sobre elas. Hoje decidi que era o momento perfeito para isso.
“Vovô, posso te fazer uma pergunta um pouco diferente? ” eu disse, hesitante. “Claro, Júlia, pergunte o que quiser.
” Respirei fundo e olhei nos olhos dele. “Como era sua vida quando você tinha minha idade? Você teve algum grande amor?
” Ele riu suavemente, como se estivesse lembrando de algo distante e querido. “Ah, minha querida, isso é uma longa história. Mas se você tiver paciência, adorarei compartilhar com você.
” Eu sorri, sentindo meu coração se aquecer. “Tenho todo o tempo do mundo, vovô. ” E assim, ele começou a contar, transportando-se para uma época diferente, cheia de aventuras e romances que eu mal podia imaginar.
“A conversa sobre a vida quando eu tinha a sua idade, Júlia, o mundo era um lugar bem diferente,” começou o vovô Carlos, sua voz adquirindo um tom nostálgico. “Eu era um jovem cheio de sonhos e ambições, como você. ” Ele olhou para o jardim florido à nossa frente e, por um momento, parecia estar vendo algo muito além das flores.
“Eu morava numa cidade pequena, dessas onde todo mundo conhece todo mundo. Na época, eu trabalhava na padaria do seu bisavô e, nas folgas, jogava futebol com os amigos. ” “Você era bom no futebol?
” perguntei, imaginando meu avô correndo atrás de uma bola. “Ah, eu me virava bem,” ele respondeu com um sorriso modesto, “mas o que realmente marcou minha juventude foi o amor. ” “Amor?
” eu repeti, curiosa. “Quem era ela? ” Ele suspirou, seu olhar suavizando ainda mais.
“O nome dela era Helena, a mulher mais bonita que eu já vi. Tínhamos 17 anos quando nos conhecemos na festa da cidade. Ela tinha um sorriso que iluminava qualquer lugar.
” Ele começou a contar sobre suas noites passeando pela praça com Helena, as conversas intermináveis sobre o céu estrelado, e o jeito como ela ria de suas piadas bobas. “Ela era diferente de todas as outras garotas; tinha um espírito livre e uma alegria contagiante,” disse ele. “Então, o que aconteceu com vocês?
” perguntei, sentindo a tensão da história se desenrolando. “Helena queria explorar o mundo e eu não podia deixar a padaria do seu bisavô. Tínhamos sonhos diferentes, e por mais que nos amássemos, sabíamos que não daria certo.
Ela partiu para a cidade grande e eu fiquei. ” A tristeza em sua voz era palpável, “mas nunca me arrependi de deixá-la ir. Queria que ela seguisse seus sonhos, assim como eu segui os meus.
” “Você a viu de novo? ” perguntei, querendo saber mais. “Sim, muitos anos depois.
Ela voltou para a cidade com a família dela e tivemos uma conversa rápida, lembrando dos velhos tempos. Ela estava feliz, e isso era o que importava. ” Eu absorvia cada palavra, fascinada pela profundidade das histórias do meu avô.
“E depois de Helena? Você conheceu a vovó? ” Ele sorriu amplamente.
“Sim, pouco tempo depois conheci sua avó Clara, numa dessas festas da cidade. Ela era gentil e tinha um coração enorme. Nos apaixonamos rapidamente e nunca mais nos separamos.
Foi amor à primeira vista,” perguntei, rindo. “Quase isso,” ele respondeu, rindo também. “Sua avó tinha uma paciência incrível comigo e sempre foi meu porto seguro.
” Olhei para ele, sentindo uma imensa gratidão por ter a oportunidade de ouvir essas histórias. “Vovô, suas histórias são incríveis. Eu quero guardar todas elas para sempre.
” Ele me olhou com ternura. “E você também terá suas próprias histórias, Júlia. Lembre-se de vivê-las plenamente.
” Uma ideia começou a se formar na minha mente enquanto ouvia meu avô falar. “Vovô, você acha que poderia me dar um celular de presente? Eu prometo que vou usá-lo para guardar todas essas histórias e muito mais.
” Ele ficou surpreso por um momento, mas depois sorriu. “Claro, minha querida! Quero que você possa guardar todas essas lembranças.
” Eu sorri de volta, sentindo meu coração se aquecer ainda mais. Sabia que com o celular poderia capturar momentos preciosos e manter viva a memória das histórias do meu avô. Enquanto nos levantávamos para voltar para dentro, ele riu suavemente.
“Eu sei que você vai, e eu fico feliz em poder te ajudar a fazer isso. ” Entramos na cozinha, onde a mesa ainda estava posta com os biscoitos e o chá que. .
. Havíamos deixado sentar-nos novamente, aproveitando o restante dos biscoitos e terminando nossas xícaras de chá. Como vovô foi bom comigo, resolvi ser boazinha com ele.
Percebi que ele estava há muito tempo sem uma alegria maior. Sim, eu fiz isso por ele; ele adorou! Eu adorei!
Esse é um segredo nosso; eu serei sempre a sua neta preferida. Terminei o embola gato e me despedi. Obrigada pelo chá, pelas histórias e pelo leite, vovô.
Eu realmente aprecio cada momento que passo aqui com você. Eu também, Júlia. É sempre bom compartilhar minhas histórias com você, e agora, com esse celular, você poderá guardar muitas novas memórias.
Quando terminamos de comer, ajudei a arrumar a cozinha. Cada movimento, cada gesto, parecia parte de um ritual que fortalecia ainda mais nossos laços. Quando tudo estava limpo e organizado, ele me acompanhou até a porta.
Eu o abracei novamente, segurando-o com força. Até logo, vovô! Mal posso esperar para voltar e ouvir mais histórias.
Até logo, Júlia! E lembre-se: as melhores histórias são aquelas que ainda estão por vir. Sai da casa dele com um sorriso no rosto, celular novo em mãos e o coração cheio de memórias preciosas.
Eu sabia que, com aquele presente, poderia capturar e preservar cada momento especial que viria, mantendo viva a conexão entre gerações. Havia muitos segredinhos para serem guardados ali. Gostou, meu amor?
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