Bianca tinha tudo, um grande amor, um noivado perfeito e a certeza de uma vida feliz ao lado de Heitor. Mas tudo acabou na manhã seguinte, à noite mais especial da sua vida. Uma decisão dolorosa destruiu seu sonho e mudou tudo para sempre. Antes de começar, comenta aqui de onde você está assistindo. Deixa seu like, se inscreve no canal e ativa o sininho, porque essa história vai mexer com você do começo ao fim. Agora respira fundo, porque o que vem a seguir é impossível de esquecer. tinham acabado de se formar, ele em direito, ela em contabilidade
e ainda estavam descobrindo como seria a vida fora da faculdade. Vidiam planos, boletos e esperanças, como quem monta uma casa com mais amor do que mobília. Naquele dia foram juntos ao shopping comprar algumas coisas pro apartamento. Desde o momento em que Bianca entrou no carro, Heitor percebeu. Ela estava diferente, ria das piadas, mas com um fundo de distração. Os olhos não acompanhavam os sorrisos. Ficaram horas entre sacolas, medidas e pequenas decisões. Depois voltaram pro apartamento e decidiram comer ali mesmo. O céu de São Paulo estava cinza. A cidade parecia suspensa do lado de fora das
janelas grandes da sala. Na cozinha americana, duas taças de vinho. Na mesa de jantar, ainda sem toalha, pizza em pratos improvisados. Era um começo desajeitado, mas cheio de afeto. Heitora observava com atenção. Os gestos dela estavam mais contidos. Evitava contato visual por muito tempo. Parecia presente e ausente ao mesmo tempo. "Tá tudo bem?", Ele perguntou, se aproximando. Ela a sentiu só cansada. Semana puxada. Era verdade. Mas não era só isso. O pai de Bianca estava piorando, mas ela ainda não tinha coragem de contar tudo. A última consulta tinha deixado um nó na garganta. Ou o
transplante acontecia logo ou não haveria tempo. Ela já sabia que o doador seria ela. Só ainda não sabia como dizer isso a Heitor, sem destruir o futuro que ele tanto acreditava. Eles estavam no sofá, a luz baixa. Cidade inteira parecia ter parado do lado de fora. Eitor acariciava lentamente a mão dela, os dedos entrelaçados. Sentia o silêncio pesado entre os dois, mas não queria pressionar. Bianca se aproximou, encostou o rosto no pescoço dele. O beijo surgiu ali lento, demorado, como se estivesse tentando dizer tudo que ainda não tinha sido dito. Quando ele tentou recuar respeitoso,
ela o segurou pela nuca firmeza. Bianca, ele murmurou ofegante. Você tinha dito que queria esperar. Ela hesitou por um segundo, com os olhos marejados, mas não fugiu. Eitor aprofundou o beijo, mas parou logo em seguida. Ainda com a testa encostada na dela, murmurou: "Você tinha dito que queria esperar." Bianca respirou fundo, os olhos escuros brilhando, a pele quente. Eu sei o que eu disse. E eu acreditava mesmo nisso. Ela deslizou os dedos pela nuca dele, puxando-o mais para perto. Mas hoje eu quero você agora. Eitora a olhou como quem confirmava se era verdade. Bianca sorriu
com os lábios trêmulos. Não quero deixar para depois. Não quero mais esperar. Ele não respondeu, só a beijou com mais vontade. A tensão contida entre os dois se rompeu ali. Eitor a pegou pela cintura e a levou no colo até o quarto. O ambiente, ainda sem cortinas, com caixas de mudança e um colchão improvisado, ganhou um ar sagrado com o toque dos dois. Bianca deixou o vestido escorregar pelos ombros. Ficou só de langerry clara, rendada, singela. Heitora observou como se visse um segredo sendo revelado com delicadeza. O ar ainda estava quente do beijo anterior, mas
não havia mais hesitação. Bianca sentia o gosto dele nos lábios, o corpo leve e, ao mesmo tempo, tenso. Eitor manteve a mão firme na cintura dela. O polegar roçava de leve na pele abaixo das costelas, a testa colada à dela, as respirações misturadas, aceleradas. Abre os olhos. Ele murmurou baixo. Ela obedeceu. O olhar dele cravou no dela e então veio o segundo beijo. Mas aquele não era como o primeiro. Foi mais firme, quente, exigente. Os lábios dele tomaram os dela com intensidade. A língua invadiu sem pedir permissão. E ela sentiu. Sentiu o calor, o desejo,
a entrega contida. Heitor a puxou com uma das mãos, colando os corpos. Ela sentiu o peito dele contra o dela, a respiração densa, o calor entre eles. A outra mão subiu pela lateral do rosto, dominando-a com um toque seguro. Ela arfou, tentou acompanhar o ritmo, mas ele conduzia com firmeza, com precisão. A língua dele explorava com desejo, marcando o espaço entre os dois. E embora sempre tivesse imaginado que esse momento só aconteceria depois do casamento, como ela mesma havia dito, foi surpreendido pela entrega dela agora ali, tão inteira. Por isso, cada gesto dele era ainda
mais cuidadoso, mais reverente. Não era só desejo, era amor. Ele queria que ela lembrasse daquela noite como algo bonito, seguro, inesquecível, que ela o escolheu e ele queria ser digno disso. "Tá sentindo?", ele murmurou entre um beijo e outro. "Seu corpo sabe." Ela assentiu sem conseguir falar. Heitor desceu as mãos pelas costas dela, pressionando a base da coluna com firmeza contida. Depois puxou os cabelos soltos para o lado, deixando o pescoço amostra. Beijou com urgência. "Você tá tremendo", ele sussurrou. Eu tô com medo, mas também tô sentindo tudo. Ele parou por um instante, encostou a
testa na dela. Se quiser que eu pare, eu paro agora. Ela negou com a cabeça firme. Não para. Então ele deitou-a com cuidado sobre os lençóis simples, subiu por cima dela, apoiando o peso nos cotovelos, os olhos fixos nos dela. "Respira comigo", Bianca tentou. O corpo tremia, mas não era só medo, era desejo, era novidade, era o tipo de arrepio que ninguém prepara. Heitor levou as mãos até o fecho da Langeri, a retirou devagar, como se desembrulhasse algo precioso. "Você é linda", sussurrou. Ela fechou os olhos. Quando o corpo dele encostou por inteiro no dela,
ela prendeu a respiração. As mãos dele deslizavam por suas laterais, explorando cada curva com delicadeza. Depois desciam pelas coxas quentes, seguras. E então ele se encaixou nela com cuidado. O corpo de Bianca arrepiou na hora. Ela mordeu os lábios tentando respirar direito. Era medo, era tensão, era tudo ao mesmo tempo. E os olhos já estavam cheios de água. Heitor parou imediatamente, encostou a testa na dela. "Tá tudo bem", sussurrou com a voz baixa. Bianca respirou fundo, os olhos ainda fechados. É estranho", murmurou com um sorriso pequeno, trêmulo. "Mas eu quero você aqui dentro de mim."
Ele a beijou com delicadeza. Depois encostou os lábios em seus olhos, como se pedisse silêncio ao mundo. "Respira, deixa o corpo sentir." Ela sentiu. "Eu tô aqui. Só sente devagar." E então, com todo cuidado, ele se encaixou nela, lento, presente, olhando nos olhos dela o tempo inteiro. Bianca prendeu a respiração. O corpo reagiu com um leve tremor, mas ela não desviou o olhar. Era como se aquele instante os unisse de um jeito que nenhuma palavra jamais conseguiria explicar. A tensão inicial cedeu espaço ao calor, ao arrepio, à entrega silenciosa. Heitor a tocava com reverência. Cada
movimento era uma promessa muda. "Eu tô aqui, é só você me sentir", ele sussurrou. E ela sentia. Sentia como se estivesse sendo vista por dentro. Bianca chorou, não por dor, mas por tudo que aquele momento significava, por se sentir viva, por se permitir sentir. E ele também tremeu por dentro porque nunca nunca tinha se conectado com alguém daquele jeito. Depois, o silêncio, ela deitada no peito dele, os dedos entrelaçados, a respiração aos poucos voltando ao ritmo. Ele beijou sua testa devagar. Eu te amo. Bianca não respondeu, apenas apertou a mão dele, como quem diz. Eu
também. Horas depois, já de madrugada, ela despertou, vestiu uma camisa dele, cruzou a sala em silêncio e parou diante da janela. A cidade dormia. Ela encostou a testa no vidro gelado e deixou uma lágrima escorrer. Não pela noite que acabara de viver, mas pelo dia que sabia que viria, pensou no pai, no que estava por vir, na escolha impossível entre o amor e o dever. Virou o rosto devagar e olhou para a cama. Heitor dormia profundamente, a respiração tranquila, o corpo ainda nu, coberto só até a cintura. Ela o observou por alguns segundos com os
olhos marejados. Naquela noite, ela havia se entregado por inteiro, mas sabia no fundo do peito, que teria que partir, porque o amor às vezes não é suficiente, e porque antes de tudo ela precisava salvar o pai. O sol mal tinha nascido quando Bianca acordou, o peito apertado, a garganta seca, ainda usava a camisa de Heitor e o corpo carregava o peso da noite anterior. Não era dor física, era a consciência do que vinha pela frente. Ela se levantou devagar, foi até o banheiro, lavou o rosto, não teve coragem de se olhar no espelho. Sabia que
se fizesse isso desabaria. Quando voltou, Heitor ainda dormia. Respirava fundo, tranquilo. Ele era o homem que ela amava, o homem com quem tinha se entregado e o mesmo que estava prestes a perder. Sentou na beira da cama, olhou para ele em silêncio. Queria gravar tudo, o contorno do rosto, os cílios, a posição do braço cobrindo o abdômen, como se ainda se protegesse mesmo dormindo. "Corda, amor?", sussurrou. Eitor abriu os olhos e sorriu. Tentou puxá-la para perto. Bianca desviou. O que foi? Perguntou confuso. Ela respirou fundo sem saber como dizer. A gente precisa conversar. O sorriso
dele desapareceu. Isso nunca é bom. Bianca engoliu em seco. Eu marquei a cirurgia. Ele se endireitou na cama sem entender. Que cirurgia? a do transplante. Sou compatível com meu pai. Tá tudo pronto. O hospital, os exames. Eu precisava que você soubesse por mim. Heitor ficou mudo por alguns segundos, depois levantou num impulso, passando as mãos no rosto atordoado. E você ia me contar quando? Depois que tudo tivesse acontecido. Eu tô te contando agora. Ele deu um passo na direção dela depois da nossa primeira noite. Depois de se entregar para mim, me fazer acreditar que que
a gente tinha um futuro. Ela interrompeu com os olhos marejados. E eu também quis acreditar, Heitor. A voz dele ficou mais dura. Não, você não quis. Você decidiu sozinha que ia se operar, que ia correr risco e me deixou fora de tudo. Eu não te deixei fora. Deixou sim. Ele gritou, me apagou da sua vida, decidiu tudo e nem me deu o direito de opinar. Você me cortou. Bianca chorava em silêncio. Meu pai tá morrendo, Heitor. Ele a encarou magoado. E eu eu sou o quê? Um capítulo da sua tragédia? Ela abaixou a cabeça. Eu
não quero te arrastar para isso, paraa dor, pro medo. Você merece uma vida leve e eu não posso te dar isso agora. Você acha que eu quero leveza sem você? Ela hesitou. Eu tô fazendo isso para te proteger. Heitor recuou confuso, magoado. Me proteger? Você termina comigo há poucos meses do nosso casamento e ainda chama isso de proteção. Eu tô com medo do que isso vai virar. Medo do que eu posso virar. Ele riu. Um riso amargo. E ainda chama isso de amor? Bianca não respondeu. Então a noite passada foi só isso, né? Uma despedida
bonita antes de sumir. Ela tentou tocá-lo, mas ele se afastou. Não fala isso. Não foi assim. Eu achei que tinha sido escolhido. Agora parece que fui usado. As lágrimas escorriam sem controle. Eu fiz aquilo por amor. Então fica. Ela fechou os olhos. Eu não posso. Você não quer. Eu preciso salvar meu pai. Heitor fechou os punhos. O quarto parecia pequeno demais. E quem vai te salvar? Ela ficou em silêncio, depois foi até a cômoda, tirou a aliança do dedo com as mãos trêmulas, deixou sobre a mesa de canto, parou, o corpo inteiro tremia. "Me perdoa",
sussurrou e saiu chorando. Eitor não se moveu. O quarto estava mudo, a cama ainda quente, o cheiro dela no ar, açainha. Ele ficou parado como quem acabou de perder tudo. Do outro lado da cidade, enquanto o mundo dele desmoronava em silêncio, Bianca se preparava para o dia mais difícil da sua vida, sem volta, sem garantias, sem ele. O destino dos dois já seguia por caminhos paralelos e ela estava prestes a atravessar um limiar que ninguém escolhe, mas que muda tudo. A sala branca do hospital parecia mais fria naquele dia. Tudo tinha cheiro de álcool, angústia
e espera. Bianca segurava a mão do pai com força, os dedos entrelaçados como se pudesse impedir o tempo de passar. Ele estava deitado na maca, magro, abatido, mas ainda sorria com aquele mesmo olhar de sempre, o olhar de quem tinha orgulho. Ao lado da cama, sua mãe tentava se manter firme, não chorava, só segurava a outra mão do marido com carinho, como se o simples toque fosse uma oração silenciosa. "Vai dar tudo certo, pai", Bianca sussurrou, tentando conter as lágrimas. Você sempre foi forte, minha filha. Mais do que imagina. Ele respondeu com a voz fraca,
mas firme. Vai dar tudo certo pra gente, pra nossa família. Bianca se abaixou e encostou a testa na dele. Eu te amo muito. Eu também te amo, Bibi. Obrigado por tudo. Ele respirou fundo, olhou para a esposa e depois de novo para a filha. Assim que a gente sair daqui, vamos marcar aquela viagem. Lembra? Rio Grande do Sul. Tô queria me levar para ver os vinhedos. Ela forçou um sorriso, enxugando os olhos. Você vai voltar a andar por lá com seu chapéu ridículo e seu casaco de lã. Eu vou te levar, juro. A mãe dela
sorriu pela primeira vez no dia. Eu quero ir junto nessa viagem, viu? Murmurou com os olhos marejados. Eles riram mesmo que baixinho, mesmo com medo. Foi então que a equipe médica entrou. O anestesista, uma enfermeira, dois técnicos. Tudo começou a se mover depressa. Bianca olhou para o pai pela última vez acordado. Fica bem, me espera. Ela se deitou na maca ao lado da dele, pronta para ser levada à sala de cirurgia. Sentia o coração disparado, mas o rosto estava sereno. O lençol branco cobria seu corpo inteiro. "Vamos começar a medicação. Tudo bem?", disse o médico.
Ela assentiu, os olhos ainda presos na imagem do pai, a última imagem. O rosto dele foi ficando embaçado, a visão girando devagar, o teto se dissolvendo em branco, a mão da mãe se afastando e então o nada. Quando Bianca acordou, horas depois, tudo parecia fora do lugar. A luz era forte, a boca estava seca, o corpo pesado. Ela tentou mexer a cabeça, mas doía. Tentou falar, mas a garganta parecia fechada. Uma enfermeira se aproximou com um sorriso contido. Bianca, você acordou. Tá tudo bem, respira devagar, tá? Ela piscou, a mente confusa, e murmurou. Meu pai.
A enfermeira hesitou, o sorriso sumiu. Ele teve uma parada logo depois da cirurgia. A equipe tentou reanimar, mas ele não resistiu. O mundo ficou mudo. Bianca não gritou, nem chorou. Só fechou os olhos porque ali alguma parte dela também morreu. O enterro aconteceu num dia nublado. Bianca estava de preto, ao lado da mãe, que mal conseguia ficar de pé. Ela segurava a mão da mãe com firmeza, tentando sustentá-la, mas era ela quem estava desmoronando por dentro. A terra caiu sobre o caixão com um som seco. Aquele som ficou preso na cabeça dela por anos. Bianca
voltou para casa como quem carrega um corpo dentro do próprio corpo. E depois daquele dia nada mais teve cor. 5 anos se passaram. Bianca não viveu, apenas sobreviveu. Trabalhava como analista contábil, morando no mesmo apartamento com a mãe que seguia frágil, depressiva, dependente. Acordava, cumpria tarefas, cuidava da casa, entregava relatórios. Não havia viagens, nem amigos, nem romances. Ela deixou de se ver como mulher. Não usava batom, não trocava o corte de cabelo, não se olhava no espelho com desejo ou orgulho. Era como se tivesse congelado no tempo. O amor ficou trancado num quarto dentro dela
e a chave tinha ido embora no caixão. Enquanto isso, Heitor do outro lado da cidade também mudava, mas por fora ele florescia, venceu casos importantes, apareceu na TV, recebeu prêmios, tornou-se um dos criminalistas mais temidos do país, mas por dentro o gelo, não se apegava a ninguém, não se abria, colecionava casos passageiros, jantares frios e respostas sarcásticas. Não havia espaço para amor. O menino doce, que sonhava com filhos e noites de pizza no apartamento novo, se perdeu. E o lugar dele foi ocupado por um homem duro, cético, amargo. Ambos seguiram, mas nenhum dos dois viveu
de verdade. Até que um e-mail interno muda tudo. Bianca é convidada a participar de um processo seletivo para um cargo em uma empresa contábil de maior porte, parceira da atual. Ela hesita, mas aceita. E naquele novo ambiente, com ar condicionado, exigências altas e pouca paciência, ela começa a se destacar. Discreta, eficiente, perfeccionista, mas sua ascensão incomoda principalmente o contador chefe da equipe, que fará de tudo para derrubá-la. Sem saber, Bianca está prestes a iniciar o capítulo mais difícil de sua história, Um novo abismo, e a volta inesperada do único homem que poderia acender ou apagar
de vez o que restou dentro dela. Nos meses seguintes à contratação, Bianca se tornou o nome mais promissor da equipe contábil. Entrava às 8 em ponto, saía depois do expediente, nunca errava um relatório, nunca atrasava uma entrega. Era discreta, cordial, mas eficiente demais para passar despercebida. E foi exatamente isso que a condenou. O contador chefe da empresa, Rodrigo Ferrão, a princípio, elogiava seu desempenho, mas bastou ela levantar dúvidas sobre inconsistências em alguns lançamentos para tudo começar a mudar. As planilhas desapareciam, dados eram alterados sem explicação e um clima sutil de desconfiança passou a rondá-la. Bianca
não sabia, mas estava sendo cercada. Rodrigo, que comandava o esquema de desvio de verba há anos, percebeu que ela estava perto demais da verdade e decidiu agir antes que fosse tarde. Forjou acessos com o login dela, criou planilhas falsas em seu computador, usou seu e-mail para enviar documentos adulterados, manipulou dois funcionários para deporem contra ela. Tudo friamente calculado. Quando o escândalo estourou, o nome de Bianca era o único citado nos relatórios internos. Ela foi chamada para uma reunião às 10 da manhã. Ao entrar na sala de vidro, encontrou três pessoas sentadas, o diretor jurídico, a
gerente de RH e Rodrigo. "Por favor, Bianca, sente-se." A voz da gerente era cortante, sem margem para diálogo. Rodrigo não a encarou. Nos primeiros minutos, ela achou que fosse um mal entendido, mas à medida que a reunião avançava, o tom mudou. Apresentaram documentos assinados por ela, transações em sua conta bancária que ela desconhecia, movimentações feitas no sistema com seu CPF e senha. "Isso não é possível", disse trêmula. Isso, isso foi plantado. A polícia já foi acionada, informou o diretor. E seu afastamento é imediato. Bianca ficou em choque. Tentou se defender, pediu para ver os dados
e implorou uma perícia técnica. Ninguém ouviu. Às 10:45 da manhã, dois agentes da Polícia Civil entraram pela porta da empresa e a algemaram diante de todos. foi levada direto para a delegacia, onde prestou depoimento por horas, mas nada do que dizia parecia suficiente. Tudo já estava montado. Ela chorava, tentava entender, mas a palavra dela era apenas de uma analista presa por fraude fiscal. foi enviada a uma prisão preventiva feminina enquanto aguardava julgamento. As semanas seguintes foram um borrão. O cabelo perdeu o brilho, a pele, o viço, os olhos a fé. Analista contábil é acusada de
desviar R$ 1.400.000 de empresa privada. Um rosto abatido, a imagem de Bianca sendo levada pela polícia. No outro lado da cidade, Heitor viu a manchete no celular e congelou. Um amigo em comum havia enviado a reportagem com uma pergunta direta, impossível de ignorar. É a Bianca, sua ex? Ele não respondeu. A matéria estava rodando em loop com o vídeo repetindo a mesma cena. Uma mulher de cabeça baixa sendo escoltada pela polícia. O rosto abatido, os olhos perdidos. Era ela. Bianca. Heitor clicou. Leu, leu de novo. Analista contábil é acusada de desviar R$ 1.400.000 de empresa
privada. Ele ficou em silêncio por longos minutos. O celular ainda aceso em sua mão, a garganta seca, o tempo parecia suspenso. Então se levantou, diz com um número antigo de alguém que devia favores. Preciso saber onde ela está detida. Hoje, agora do outro lado da linha, o contato hesitou. Você vai assumir o caso? Heitor não pensou duas vezes. Assim que ela autorizar. Mas antes eu preciso olhar nos olhos dela. Algumas horas depois, o mundo parecia mais cinza. O carro avançava devagar pelas ruas abafadas do centro. No banco do passageiro, o silêncio era tenso, como se
até o ar tivesse medo do que estava por vir. A cela era úmida, estreita e fria, as paredes descascadas, o colchão fino e encardido. Ali dentro o tempo não passava, só doía. Bianca tremia, mesmo em silêncio. O uniforme de presidiária pendia do corpo magro. Ela já não sabia que dia era, só sabia que ainda estava ali respirando por obrigação. A agente chamou com firmeza. Bianca Almeida, atendimento jurídico. Ela se levantou devagar, ombros curvados, olhos fundos, caminhou sem saber o que a esperava. Quando a porta se abriu, o tempo parou. Eitor, de pé, terno escuro, impecável,
braços cruzados, o olhar cortante, nenhuma emoção no rosto. Ela congelou, o coração disparou, esqueceu como se respirava. Ele a olhava como quem encara um fantasma, os destroços de alguém com quem um dia foi feliz. Bianca parecia menor. O rosto abatido, os cabelos presos com pressa. Ela caminhou como quem pisa em cacos. Você, sussurrou, ele não respondeu, apenas puxou a cadeira com firmeza. Sentaram-se frente à frente. Li a matéria, disse ele, voz seca contida. Pedi acesso ao processo como advogado. Ela tentou sorrir, mas só houve um tremor nos lábios. Você acha que eu seria capaz? Heitor
manteve os olhos nela. Maxilar travado respirou fundo. Eu vim descobrir. Bianca baixou os olhos, as mãos apertadas no colo. Eu não fiz isso, Heitor. Silêncio. E naquele silêncio ela entendeu. Não era só a liberdade que estava em jogo, era tudo o que ainda restava dela. Horas depois, foi chamada de novo. Heitor estava lá. Terno azul escuro, pasta organizada, documentos, contrato. Sente-se, disse ele sem erguer os olhos. Ela obedeceu. O silêncio se impôs até que ele fechou a pasta e a encarou. Eu posso tirar você daqui? Bianca franziu a testa. Como assim? Com a estratégia certa,
o processo perde força. Mas para que eu possa te defender, você precisa me nomear oficialmente como seu advogado. E isso? Ele deslizou um papel pela mesa. É uma procuração com plenos poderes, inclui tudo. Ela leu com os olhos arregalados. E por que você faria isso? Ele foi direto. Porque só vou me envolver até o fim se puder ter alguma garantia. Que tipo de garantia? Um casamento. Ela congelou. Isso é uma piada, né? Não, nunca brinquei com a sua vida, nem quando você destruiu a minha. Um casamento aqui, um acordo legal, válido. Você sai daqui com
o meu sobrenome e eu assumo o seu caso sem precisar justificar nada pra imprensa, nem pra ordem. Você quer que eu use seu nome como escudo? Eu quero que você seja minha esposa no papel até que isso acabe. E enquanto for, você vai me ouvir, seguir as regras e me dizer a verdade. Bianca ficou em silêncio. Então você ainda acha que eu fiz aquilo? Eu não sei mais o que pensar. Mas se você mentir, um deslize, uma contradição, um jogo e eu abandono o caso e o casamento, sozinha você não aguenta o que vem aí.
Ela respirou fundo, engoliu o gosto amargo da mágoa. Eu nunca imaginei que você seria capaz de me colocar contra a parede assim. Eu também nunca imaginei te ver desse lado, Bianca, atrás das grades. A vida virou do avesso. A gente não tem mais o luxo das ilusões. Ela abaixou os olhos, as mãos apertadas no colo. E como isso funcionaria? Eu entro com o pedido hoje. Os papéis correm no cartório. Em 15 dias a gente assina. E depois disso entro com o pedido de fiança. Você sai com tornozeleira, endereço fixo, vínculo conjugal. Pra justiça, você vai
ter uma estrutura, pra imprensa, uma versão e para mim um compromisso. E quais são as obrigações? Ele manteve o tom firme, sem vacilar. Todas. Inclusive, eu não vou te forçar a nada, mas você sabe o que esse papel exige. Vai morar comigo, vai manter a imagem, vai manter a postura, vai me acompanhar, vai sorrir quando for necessário e vai manter a cabeça erguida como uma farsa, como um acordo. E quando tudo isso acabar, quando o processo for arquivado, você está livre, mas até lá você é minha esposa. oficialmente, legalmente e socialmente. Ela hesitou, queria fugir.
Mas onde? Para onde? O medo era maior que o orgulho, e o orgulho já tinha morrido ali dentro. Ela encarou a caneta. Você vai me proteger? Vou te manter de pé. Isso é o máximo que posso prometer. Então, ela assinou. Primeiro a procuração, depois o pacto. A mão trêmula rabiscou seu nome ao lado do dele, selando não um recomeço, mas uma sobrevivência a dois. Nos dias que se seguiram, o silêncio pesou mais do que as grades. A espera corroía por dentro, misturada à incerteza, ao medo, a vergonha de estar ali, a sombra dele. 15 dias
haviam se arrastado como uma eternidade. E naquela manhã abafada, de céu sem cor, Bianca foi chamada novamente à sala administrativa do presídio. Ele já a esperava. Terno escuro, postura reta, olhar fechado. Ela entrou com o corpo ereto, mas por dentro sentia tudo ruir. Vestido bege emprestado, cabelo preso, sem maquiagem e, pela primeira vez, sem algemas, os olhos baixos, mas firmes. O silêncio entre eles parecia mais denso que as paredes. Duas testemunhas foram chamadas, entre elas Helena, mãe de Bianca, que assistia tudo calada, com o rosto tenso e os dedos entrelaçados no colo. Ao lado da
cadeira, deixou a mala da filha. Trouxera em silêncio, como quem entrega o que sobrou de uma vida. Bianca não a olhou e Helena também não tentou. Entre as duas, restava apenas o peso do que nunca foi dito. Ao notar a mala no chão, Heitor sentiu um nó no estômago, um aperto no peito, rápido e inexplicável. Parte dele quis quebrar o silêncio, mas o orgulho, ou talvez o medo, o manteve imóvel. A oficial começou a leitura numa voz mecânica. perguntou a ele. "Aceito", respondeu Heitor, sem hesitar, perguntou a ela. Bianca engoliu seco. "Aceito", disse quase num
sussurro. Não houve toque nem troca de olhares, somente papéis sendo assinados, carimbos, grampos e uma promessa silenciosa que mais parecia uma prisão diferente. Às 2:15 daquela tarde, Bianca saiu do presídio sem sirenes, sem escolta, mas também sem certezas. O carro preto a aguardava em frente ao portão. Heitor desceu, abriu a porta para ela e voltou ao volante sem dizer nada. Ela entrou. E o mundo pareceu silenciar ao redor. Nenhum som além do motor e da tensão pairando entre os dois. Pelo retrovisor, olhares curiosos tentavam decifrar a cena. Sussurros em corredores do fórum já falavam da
notícia. Diziam que ele havia pago a fiança logo depois da cerimônia, que agora ela responderia em liberdade, sob condições que o próprio marido assumiria a defesa e que o casamento era legal, estratégico, mas ninguém sabia se havia amor envolvido. O carro não a levou ao antigo apartamento, onde um dia ela pensou que construiria uma vida com ele. Aquele lugar já não existia mais. Tinha sido vendido como tudo que havia entre os dois. O caminho seguiu para um prédio novo, silencioso, impessoal, no coração da cidade, mas sem alma alguma. Subiram sem trocar uma palavra. Entraram. O
apartamento era claro, limpo demais, sem cheiro de gente, sem marcas no chão, sem alma. Ela olhou ao redor e percebeu. Nada ali era provisório. Aquele lugar havia sido preparado para ela. Heitor fechou a porta. É aqui que você vai morar até que tudo isso se resolva. Bianca assentiu com um leve movimento de cabeça. A voz dela parecia ter ficado no presídio. Deixou a bolsa cair ao lado da poltrona e caminhou até o espelho da sala. Heitor desviou o olhar para o canto da sala. A mala dela, ainda intacta, parecia dizer tudo o que Bianca não
conseguia dizer. sempre pronta, sempre esperando. Ele pensou em perguntar porque ela não aguardava, mas engoliu as palavras. Talvez preferisse não ouvir a resposta. O reflexo mostrava uma mulher solta, mas marcada. A tornozeleira discreta no tornozelo direito revelava que a liberdade era apenas parcial, mas o que mais pesava era o papel, o sobrenome, a aliança fria no dedo e o silêncio dele. Ele não olhava, não falava, apenas cumpria o combinado. Bianca respirou fundo, lembrou das palavras dele. Você sai daqui com meu nome e com todas as obrigações de uma esposa. A frase ecoava como sentença. Ela
sabia o que isso queria dizer. Sabia o que viria depois da cerimônia, se fosse um casamento comum. Mas nada naquilo era comum. Nada era amor. Era um acordo, um pacto, uma condição. Ela não queria, não sonhava com aquilo, mas também não sabia mais dizer não. Não sabia mais o que era escolha e o que era medo. Seguiu para o quarto em silêncio. Fechou a porta. Tomou um banho rápido, como quem tenta lavar o passado. Ao sair, abriu a mala que a mãe deixara, pegou a camisola de algodão claro e a vestiu devagar, com mãos trêmulas.
sentou-se na beira da cama, o corpo tenso, a mente girando, esperando, não por desejo, mas porque achava que devia, como se fosse parte do trato, como se aquele fosse o preço da liberdade. O tempo passou meia hora, uma hora, nada, até que a maçaneta girou. Ele entrou, rosto impassível, olhar duro. Bianca se levantou devagar, o coração disparado, o corpo inteiro em alerta. Achava que sabia o que vinha a seguir. Aquela era a primeira noite, a noite do acordo, a noite em que ela devia provar que era de fato sua esposa. Sem dizer uma palavra, levou
as mãos às alças da camisola. Puxou uma, depois a outra. O tecido começou a escorregar pelos ombros, revelando mais do que a pele, revelando a dor de estar ali, se oferecendo por obrigação. Ele não disse nada, nem se moveu. O silêncio não era novo, mas dessa vez cortava mais fundo que qualquer palavra. Você tá fazendo o quê? A voz dele cortou o ar, seca, ríspida, como uma ordem. Ela parou, as mãos ainda nas alças, o rosto voltado pro chão. "Achei que era isso que você queria", murmurou sem conseguir encará-lo. Eitor deu um passo à frente.
Olhar duro, queixo erguido, um homem frio, que um dia fora só amor. Nem pense nisso. Ela ficou imóvel, o coração apertado, o corpo tremendo. Você pode ter o meu nome, pode usar essa aliança, mas não tem mais o meu toque, não tem mais o meu carinho, não tem mais o meu coração. Bianca mordeu os lábios, engoliu o choro. Eu não sinto mais nada por você, nem desejo, nem respeito. E para ser honesto, eu nem sei como um dia te amei. Aquelas palavras foram piores do que qualquer cela. Ela abaixou a cabeça, o rosto pegando fogo
de vergonha, fechou os olhos e engoliu seco. Pela primeira vez, desde que saiu do presídio, quis voltar, porque lá ninguém fingia que se importava. E ali ele tinha deixado claro, não sentia mais nada. "Vai dormir", murmurou sem encará-la. "E por favor, não faz mais isso". nem por obrigação. Virou as costas, saiu, fechou a porta devagar, ficou parado do lado de fora por alguns segundos, o coração em guerra com o orgulho. Queria voltar. Dizer que não era bem assim. Queria segurar a mão dela só por um instante, mas achava que se voltasse estaria se traindo. Ainda
doía demais. Ainda parecia errado sentir qualquer coisa. Respirou fundo, fechou os olhos e seguiu adiante, sem saber se estava sendo forte ou só fugindo. Lá dentro, Bianca permaneceu em pé por alguns segundos, sem chão, sem voz, sem ele. Com mãos trêmulas, tirou devagar a camisola, dobrou a peça em silêncio, guardou de volta na gaveta junto com o que restava da própria dignidade. Depois sentou-se na beira da cama, abraçou os joelhos e chorou até que o cansaço fosse maior que a dor, até que o sono a apagasse, como um alívio breve no meio do naufrágio. Era
madrugada, 3:14 da manhã. Bianca se levantou da cama com o coração apertado, os olhos ardendo, o estômago vazio. A frase dele continuava ecuando: "Nem sei como um dia te amei. Aquelas palavras não tinham fim. Voltavam sempre, de todos os jeitos, no silêncio, na insônia, nas paredes daquele quarto. Foi até o armário, pegou a mala, jogou em cima da cama com força, começou a enfiar as roupas como quem não queria mais pensar. Só sair, só sumir. Sabia que não podia, sabia que era impossível, mas não conseguia mais ficar ali. Era desespero, não plano. Tentou fechar o
zíper, puxou com força, estava emperrado. Mais uma coisa fora do lugar, mais uma trava. Foi quando ouviu a porta se abrir. Heitor entrou devagar, carregava uma bandeja nas mãos, colocou sobre a cômoda sem dizer nada. Tinha pão integral, suco de laranja, cápsulas de vitaminas e dois comprimidos que ela reconheceu, ômega3 e magnésio. Ela não olhou, continuou puxando o zíper da mala como se ele não estivesse ali. As mãos tremiam. "Você precisa comer", ele disse, "Seco." Ela fingiu não ouvir, como se aquela frase não fosse sobre cuidado, mas sobre controle. Vai para onde? A voz dele
veio logo depois, firme, como se ignorasse o gesto que acabara de fazer. Ela não respondeu. Engoliu o choro que ameaçava vir. Só então murmurou: "Pa casa da minha mãe, você não pode sair." "Eu sei." Ele se aproximou, parou do outro lado da cama. Então, por quê? Ela ergueu os olhos. Porque eu não aguento mais esse vazio, essa casa, você me tratando como se eu fosse um fardo. Ele não respondeu. Dormir do lado de um homem que me odeia. Viver como se não existisse, fingir que isso aqui é liberdade, não é? É só uma cela sem
grades. Heitor soltou um suspiro curto, quase impaciente, abaixou os olhos, depois olhou pra mala e disse: "Isso resolve alguma coisa?" Ela riu, um riso baixo, amargo. Não, mas pelo menos me dá a ilusão de que eu posso escolher, de que eu ainda posso sair por vontade própria, porque a verdade é que nem isso eu tenho mais. Ele ficou calado. Ela tentou de novo o zíper, mas os dedos falharam. As mãos já estavam trêmulas demais. "Me dá isso", ele disse. "Não é minha. Você não vai sair daqui, Bianca." Ela ergueu o queixo. "Por que não vai
me impedir?" Ele segurou a mala com firmeza. "Sem violência, mas com firmeza. Eu não preciso." Ela o encarou. Por um instante, achou que fosse desabar ali mesmo, mas não. Ainda tinha alguma coisa segurando por dentro. Uma última camada de orgulho. Você me odeia tanto assim? Sussurrou. Eu não odeio você, ele disse sem alterar o tom. Só não confio mais. A frase foi dita como se não doesse, mas doeu. Ela largou a mala, deixou as roupas ali espalhadas. Eu queria voltar pro tempo em que a sua presença me acalmava. Heitor ficou em silêncio, só observava. Hoje
só o som da sua voz me faz sentir como se estivesse em julgamento de novo. Ele baixou o olhar, encostou a mala na parede fechada. Bianca se sentou na beira da cama, as mãos no colo, o peito subindo e descendo devagar. Isso aqui é pior do que a prisão! Murmurou. Eu sei", ele respondeu quase num sopro. Ela olhou para ele. "Você me odeia. Mas ainda assim não me deixa ir, porque não é isso que você quer? Ele disse, "E você sabe." Ela apertou os olhos, sentindo o choro queimar por dentro. Então me diz, o que
a gente tá fazendo? Heitor respirou fundo, olhou ao redor como se procurasse uma saída que não existia no teto, na parede, no chão, mas só encontrou o próprio reflexo, um homem que ainda a amava e não sabia o que fazer com isso. Sobrevivendo, ela a sentiu com os olhos marejados. É, sobrevivendo. Ele foi até a porta, parou ali por um instante. Antes de sair, disse apenas, sem virar o rosto: "Você precisa comer alguma coisa e descansar". Ela fechou os olhos, tentando se manter firme. Eu não consigo. Houve um silêncio curto, um tempo suspenso. Ele hesitou,
deu dois passos de volta, olhou a mala aberta no chão, olhou para ela. Por dentro ele queria dizer fica. Mas o orgulho, o medo e a dor falavam mais alto. Naquele momento, ela não precisava de palavras, precisava só de um gesto que dissesse fica. Mas ele não disse nada. Depois saiu, não bateu a porta, mas também não olhou para trás. Os dias que se seguiram foram secos, pragmáticos. Heitor tratava dos trâmites legais com precisão cirúrgica. Advogado, parecera, assinatura, anexos. Tudo fluía como um processo e não como uma vida compartilhada. Bianca assistia em silêncio. Na mesa
de jantar, ele preenchia documentos. Ela sentada ao lado, tentava manter a postura, apesar da exaustão constante. Parecia menor, mais pálida. Dormia mal, comia menos ainda. Ele a instruía com frases curtas. Você precisa assinar aqui. Amanhã temos audiência às 9. É importante que você não diga nada sem meu sinal. Não havia calor em sua voz, mas havia empenho. Não havia carinho, mas havia zelo. E isso, por hora, era o que ele conseguia oferecer. A tempestade começou cedo naquela noite. Relâmpagos riscavam o céu com fúria e dentro do quarto, o corpo de Bianca queimava em silêncio. Ela
tentou esconder o mal-estar durante o dia. Disse que era só cansaço, mas agora deitada tremia. A pele úmida, o lençol grudando no corpo suado. Heitor abriu a porta devagar. Não esperava encontrá-la assim. Bianca a voz dele saiu baixa, mas alarmada. Ela virou o rosto. Os olhos febris mal focavam. Estava pálida, os lábios secos, o peito arfando. Ele se aproximou, tocou sua testa, estava em brasa. Droga. Num segundo saiu do quarto, voltou com uma toalha. bacia com água gelada, termômetro e uma muda de roupa limpa. Ajoelhou-se ao lado da cama, molhou o pano e passou com
cuidado pela testa dela, depois pescoço, nuca, axilas. Você tá com quase 40 de febre", murmurou mais para si do que para ela. Ela sussurrou algo. Voz falha quase um lamento. Me perdoa, Heitor. Eu só queria te proteger. Ele congelou, o pano ainda úmido na mão. A frase o atravessou como um soco, mas não disse nada. Apenas a observou, tentando entender. Ela tremia. Você tá ensopada", disse num tom prático, tentando retomar o controle. Abriu a gaveta, pegou uma camisola limpa. "Preciso trocar isso aqui. Vai te fazer mal ficar assim." Com o máximo de cuidado, ergueu o
corpo frágil dela, despiu a roupa úmida, como quem manuseia algo quebrado, cada gesto contido, rígido, mas respeitoso. Ela estava vulnerável, fraca demais para reagir. Vestiu a camisola nela, ajustou os lençóis, voltou com uma segunda toalha e envolveu os pés dela. A cada 5 minutos, trocava a compressa da testa. Ela murmurava frases desconexas. Não queria, nunca quis te machucar. Eu só fiquei com medo. Eu tentei. Tentei. Eitor sentou-se na beirada da cama, a respiração pesada. As palavras dela o atravessavam como facas. Por um instante, encostou a testa na dela, os olhos fechados, como se quisesse transferir
sua lucidez para ela, como se dissesse: "Eu ouvi". Mas não respondeu, não tocou o passado, nem os sentimentos. Tó ficou ali velando a febre, velando uma dor que também era dele, mas que se recusava a nomear. Minutos depois, saiu em silêncio, voltou com um copo de suco fresco e um comprimido. Sentou-se de novo com cuidado. Bianca, você precisa tomar isso disse baixo, tentando não despertá-la por completo. Heitor olhou a mala encostada na parede. Ainda estava ali, sempre pronta, sempre no canto. Quis dizer algo, mas a raiva ainda era um abrigo mais fácil que o perdão.
e ele já não sabia se era orgulho ou medo. Ela estava suada, pálida, rosto febril, lábios rachados. Não respondeu. Apenas virou o rosto, cansada demais, até para resistir. Ele apoiou sua cabeça com uma das mãos e encostou o copo nos lábios dela. O gosto doce a fez ceder. Bebeu aos poucos. Primeiro o suco, depois o comprimido. Ele esperou em silêncio. Depois enxugou sua testa com um pano limpo. Trocou a camisola encharcada por outra seca. Fez tudo com cuidado, sem pressa, sem invadir, mas também se afastar. Horas depois, quando o calor do corpo dela cedeu um
pouco, ajeitou o travesseiro, fechou as cortinas e permaneceu no quarto, sentado na poltrona de frente paraa mala, como se por aquela noite pudesse protegê-la de tudo, até dela mesma. A luz do dia entrava suave pelas frestas da cortina. O silêncio era quase absoluto. Só se ouvia ao longe o som da chuva fina, ainda persistente lá fora. Bianca abriu os olhos devagar, a cabeça latejava, a garganta seca. Tudo parecia turvo, como se o corpo ainda estivesse tentando voltar de algum lugar distante. Virou-se um pouco e então viu Eitor, sentado na poltrona do outro lado do quarto,
imóvel, o olhar fixo na janela, o rosto cansado, os olhos fundos, mas alerta. Ela piscou tentando organizar os pensamentos. Sentia-se estranhamente leve e úmida. baixou os olhos e só então percebeu. A camisola não era a mesma, nem os lençóis. Um arrepio a atravessou, não de vergonha, mas de desconcerto. Ele esteve ali. Ele cuidou dela, tentou se sentar, mas gemeu de leve. Ele percebeu o movimento, levantou-se, caminhou até a cama, olhou para ela por um segundo, a testa levemente franzida. Você teve febre alta, disse direto. Quase 40. Ela sentiu com a cabeça devagar, ainda atordoada. Eu
disse alguma coisa? A voz saiu rouca, fraca. Ele hesitou por um instante, mas não respondeu. Apenas desviou o olhar. Consegue comer alguma coisa? Ela tentou forçar a memória, mas era tudo um borrão. Lembrava da dor do frio, de se sentir perdida, mas as palavras não. Me desculpa se começou, mas ele a interrompeu com um gesto contido. Descansa, Bianca. É só isso que você precisa fazer agora. E então, sem mais uma palavra, virou-se, foi até a porta, abriu devagar. Antes de sair, parou por um breve segundo. Ela não viu o rosto dele, mas por alguma razão
soube. Sabia que algo nele havia mudado, não por fora, mas por dentro. E mesmo assim ele foi embora, frio, silencioso, como quem tenta negar aquilo que já o atravessa inteiro. Já fazia quase três meses desde que Bianca cruzou aquele portão, não como uma prisioneira, mas como alguém tentando reconstruir o que restou. Três meses sob o mesmo teto que Heitor. Três meses de silêncio, olhares curtos, rotinas milimetricamente medidas. Nesse tempo, ela passou de hóspede desconfortável a presença constante, mas ainda assim não havia intimidade, havia vigilância e um tipo estranho de respeito, feito de tensão e limites
não ditos. Numa tarde abafada de sexta, ele a chamou até o escritório. "Preciso que você me explique isso", disse, sem tirar os olhos da tela do notebook. A mesa estava coberta de folhas impressas, contratos antigos, extratos bancários. Heitor havia solicitado toda a documentação diretamente ao cartório da vara, responsável pelo processo. Queria analisar cada detalhe antes da próxima audiência, mais do que um advogado preparando a defesa. Era um homem tentando descobrir se Bianca tinha mesmo cometido aquele crime e por qual motivo. Bianca parou na porta. Não sabia se podia entrar. "Vem logo, senta aqui", murmurou ele,
sem paciência, mas sem hostilidade. Ela se aproximou devagar, pegou uma das folhas. Esse arquivo foi emitido com a senha do Rodrigo. Essa empresa aqui, ela não existe desde 2017. Heitor levantou os olhos. Por um instante, os olhares se encontraram e naquele segundo tenso, ele soube. A garota que ele conheceu jamais teria arquitetado aquilo. Talvez sempre soubesse lá no fundo. Mas era mais fácil manter a frieza do que admitir a verdade que o dilacerava em silêncio. E ele usava a sua assinatura para validar. Usava cópias digitalizadas. Eu só fui saber disso quando já era tarde demais.
Ele fez que sim com a cabeça, pegou outra pasta, abriu um segundo relatório. Isso não tá no processo. Claro que não tá. Isso aqui sumiu dos arquivos da empresa no mês seguinte à minha prisão e ninguém procurou, ninguém queria encontrar nada. O tom dela não era de mágoa, era seco, factual. Mas ele percebeu no fundo dos olhos dela havia cansaço, feridas abertas e uma estranha dignidade que o desarmava. Heitor recostou na cadeira pensativo. Durante três noites seguidas, ficou ali cruzando planilhas, datas, notas frias e Bianca, sem dizer muito, mostrava onde procurar. A cada olhar, a
tensão entre eles crescia, nunca verbalizada, mas presente no modo como ele se aproximava por trás dela para ver a tela, no jeito como as mãos quase se tocavam sobre os papéis. Às vezes, os olhos dela o procuravam rápido demais. Outras vezes, ele demorava a desviar. Foi numa segunda-feira que ele entregou uma nova petição, solicitando que o juiz considerasse as evidências que apontavam para Rodrigo Ferrão como o principal articulador dos desvios financeiros. Não era ainda uma reviravolta no processo, mas era um avanço, um sinal. Na audiência, Bianca não falou. sentou-se em silêncio ao lado do advogado.
O corpo firme, o olhar sereno, como quem havia aprendido a esperar sem implorar. Heitor conduziu tudo com precisão. Defendeu sua inocência com base em fatos, planilhas, prazos e assinaturas, sem apelos, sem dramatizações, apenas o que podia ser provado, porque ele sabia, sempre soube, mas preferia calar. E isso por si só era mais do que ela esperava, porque mesmo sem tocar seu nome com ternura, ele estava ali presente, coerente, impecável. O processo continuava. A sentença ainda era um ponto distante, mas alguma coisa ali dentro tinha começado a ceder. Entre eles, dentro dela, o carro seguia em
silêncio pelas ruas úmidas de São Paulo. A audiência tinha terminado e mesmo com o processo caminhando, a tensão entre os dois era palpável. Bianca apertava o envelope com os documentos contra o colo, mas a raiva fervia mais que a febre que tivera dias atrás. Você devia ter incluído aquele relatório. Ele podia mudar tudo. Ele não respondeu de imediato. Os dedos apertavam o volante com força. Eu decido o que entra nos altos, Bianca. Se a gente entregasse aquilo agora, poderia bagunçar tudo. Não era só um papel, era importante. Eu pedi que confiasse em mim. Nesse momento,
ele virou o rosto, olhos faiscando. "Quer mesmo falar sobre confiança?" A pergunta veio seca, baixa, quase como um desafio. Bianca encarou ele surpresa. Eu acreditei na gente. Acreditei que tínhamos um futuro, que você seria minha esposa e mesmo assim você sumiu. Você sabia do que eu estava passando, Heitor. Eu nunca te escondi nada. A voz dela saiu baixa, mas firme. Você sabia que meu pai tava doente. Sabia que eu ia doar o rim. Só não imaginava o quanto isso ia me custar. Ela desviou o olhar para o vidro embaçado, respirou fundo, tentando manter o controle.
Era uma cirurgia grande, Heitor. Eu ia ficar só com um rim e o médico disse que eu podia nunca mais conseguir engravidar. pausou como se a próxima frase doesse mais do que o corpo. Eu te contei o motivo, mas você nunca soube o quanto aquilo doeu. Heitora olhou em silêncio. Eu não sabia o que ia acontecer comigo. Ela engoliu em seco. Eu me sentia suja, indigna de você, do seu amor. Terminar parecia menos doloroso do que te ver me olhando com pena, ou pior, preso a uma mulher que talvez nunca pudesse te dar filhos. A
voz falhou e mesmo depois de tudo o que eu sacrifiquei, meu pai morreu e minha mãe desabou. Eu precisei cuidar dela e de mim. Heitor passou as mãos pelo rosto. O semáforo fechou, o carro parou. O barulho da chuva era o único som lá fora. Você podia ter ficado. Eu teria te apoiado em tudo ele murmurou com a voz embargada. Bianca virou o rosto devagar. E você podia ter me procurado. Houve um silêncio denso. Eu tava machucado demais, ele confessou olhando paraa frente. Mas olhando para você agora, talvez ainda não seja tarde. Ela não respondeu,
apenas o encarou em silêncio. Os olhos se encontraram, ele firme, ela machucada, mas pela primeira vez sem se esconder. E naquele instante, mesmo com a chuva lavando os vidros do carro do lado de fora, algo dentro deles começava a aquiietar, como se o tempo tivesse parado só para dar espaço à verdade. Entraram juntos, ainda molhados da chuva. Os passos euaram pelo hall. Bianca foi à frente. Eitor fechou a porta com força, como se precisasse encerrar uma parte da história antes de continuar. Não era para ter sido assim", ela disse com a voz embargada. "Mas foi,"
Ele respondeu sem fugir do olhar dela. Pararam no meio da sala próximos de mais. O passado pesado parecia respirar entre eles. "Eu tentei te odiar, Bianca", ele confessou. Juro que tentei, mas tudo o que eu sentia era saudade. Ela abaixou os olhos por um segundo. Quando levantou, estavam ainda mais perto. As mãos se tocaram sem querer, um toque breve, mas cheio de lembrança. Então ele a puxou, não com raiva, com urgência. O beijo veio como um rompante de tudo o que ficou preso, de raiva, de dor, de amor acumulado por anos. Eles se beijaram como
quem pede perdão em silêncio, como quem volta para casa, como quem sobreviveu. Ele a puxou com firmeza, como se a tivesse esperado por anos. As bocas se encontraram com urgência, lábios famintos, línguas que se buscavam num ritmo descompassado, dentes que se tocavam entre beijos trêmulos. O gosto era de chuva, saudade e desejo antigo. Ele mordeu de leve o lábio inferior dela e ela arquejou, puxando-o ainda mais para perto, como se o corpo soubesse que aquele instante era tudo o que importava. Por um segundo, o mundo lá fora desapareceu. Ali, entre beijos e respirações curtas, não
eram mais dois estranhos marcados pelo passado. Eram dois corações reconhecendo um lar. O reencontro não era só físico, era um reencontro de alma. E tudo o que foi dor naquele instante começou a virar cura. As mãos de Heitor percorreram as costas dela com pressa. A blusa encharcada colava na pele e ele puxou pela barra, tirando-a com dificuldade. Bianca não resistiu, levantou os braços e deixou que ele a despisse. Ali mesmo no meio da sala. As roupas caíam no chão como camadas de mágoa sendo deixadas para trás. Ela retribuiu, abrindo os botões da camisa dele com
dedos trêmulos, colando a boca em seu peito quente, molhado, vivo. "Você é minha!", ele sussurrou entre beijos no pescoço, nos ombros, nas palavras que escapavam como promessas. "Eu sempre fui", ela respondeu, puxando-o para mais perto, como se quisesse morar naquele abraço. Caíram juntos no sofá, entre almofadas desfeitas e memórias que ardiam. Ele percorreu seu ventre com os lábios e ela se entregou inteira entre gemidos contidos e respiração entrecortada. Tocavam-se como quem reaprende, como se estivessem dizendo com os dedos tudo o que calaram com a boca. Os movimentos eram intensos, urgentes, mas também delicados. Olhavam-se nos
olhos enquanto se amavam, como se quisessem gravar um ao outro por dentro. Bianca o puxava pela nuca, beijando-o com força, como se só assim o passado pudesse ser apagado. Ele sussurrava palavras entre os beijos: "Nunca te esqueci. Nunca parei de te amar. Eu sei, eu também não." Os corpos se encaixavam com precisão de reencontro. A cada movimento, a dor ia sendo dissolvida em prazer, até que não restava mais nada além deles dois. Dois sobreviventes de uma história que quase não teve volta. Dois amantes molhados de passado, mas finalmente livres para recomeçar. E quando tudo terminou,
Bianca ainda tremia em seus braços. O corpo colado ao dele, a respiração tentando voltar ao ritmo. Heitor a envolveu num abraço silencioso, como se quisesse protegê-la de tudo, até mesmo do tempo. Ele beijou sua testa, depois a boca com ternura, acariciou os fios úmidos grudados em sua pele. "Agora você tá em casa", sussurrou com a voz rouca. "Fica, fica para sempre". Ela fechou os olhos, quase acreditando que o mundo lá fora não existia mais. Quando você chegou naquela noite, ele começou, a voz embargada, na primeira noite, depois de tantos anos. Eu menti. Bianca ergueu o
rosto, os olhos ainda marejados. Heitor levou a mão até o rosto dela e enxugou com delicadeza as lágrimas que desciam. Os dedos ficaram molhados, mas ele não se importou. O toque era leve, como se quisesse pedir perdão com a ponta dos dedos. Eu disse que tinha superado, que você não mexia mais comigo. Ele respirou fundo, olhando para ela com a alma exposta. Mas a verdade é que eu nunca deixei de te amar. Nunca. Ela não disse nada, apenas encostou a testa na dele, sentindo o peito apertar. Eu tinha raiva, mágoa, rancor, mas por baixo de
tudo só tinha amor, só tinha saudade. Bianca o envolveu de novo com os braços, apertando o corpo contra o dele, como se a dor dos dois, finalmente dita, pudesse virar cura. "Eu também menti", ela sussurrou. Quando fui embora, quando disse que era melhor assim, eu só estava com medo. Medo de te machucar, medo de ser um fardo, medo de me perder mais ainda. Eitor a puxou mais para perto, como se não quisesse deixá-la escapar nunca mais. E ali, naquele abraço molhado de passado e perdão, os dois ficaram em silêncio, inteiros, finalmente em paz. Alguns dias
se passaram, as últimas peças do quebra-cabeça, enfim, se encaixaram. Diante das provas anexadas ao processo, Rodrigo Ferrão, o contador chefe, confessou, fez um acordo com o Ministério Público em troca de delação premiada. Bianca foi enfim inocentada. Publicamente, nome limpo, honra resgatada. E no peito, um alívio profundo, como quem volta a respirar depois de anos se afogando. A indenização veio, sim, mas não era sobre dinheiro, era sobre liberdade. Compartor, alugou uma sala pequena e iluminada no oitavo andar de um prédio antigo no centro. Ali montaria seu próprio escritório, suas regras, seu tempo, sua voz. Heitor permaneceu
por perto, não como salvador, mas como alguém que entende que amor de verdade não se impõe, se constrói no silêncio, no dia a dia. Ficar às vezes é o maior gesto de amor. Naquele domingo, enquanto organizavam juntos as estantes e tiravam os últimos objetos das caixas, Bianca parou de repente, passou a mão na testa, desviou o olhar. Tudo certo, amor? Heitor perguntou se aproximando. "Tô só meio zonza", ela respondeu tentando disfarçar. "Deve ser o calor." Ele deixou o envelope de lado, tocou sua cintura com delicadeza. "Você não tá bem desde ontem", murmurou atento. Quase não
comeu, dormiu mal e tá com essa carinha estranha. Bianca respirou fundo. "Eu sei e acho que pode ter um motivo." Ela hesitou. como quem pensa duas vezes antes de abrir uma porta. Um motivo com dois risquinhos daquele tipo de teste. Heitor franziu a testa, mas logo entendeu. Ela segurou sua mão com delicadeza, os olhos misturando receio e esperança. É melhor a gente ver isso logo, né? Dessa vez ele não respondeu com palavras. Só entrelaçou os dedos nos dela, pegou as chaves e saíram juntos. Mais tarde, já em casa, a luz do abajur aquecia o quarto
com um brilho suave. O teste repousava sobre a mesinha de cabeceira. Dois risquinhos vermelhos, pequenos, mas capazes de mudar tudo. Bianca se aninhou no peito de Heitor, o coração ainda acelerado. "A gente merece isso, né?", ela sussurrou com os olhos marejados. Ele sorriu, beijou o alto da cabeça dela com carinho. A gente merece tudo, Bianca. Paz, amor, uma vida nova e esse presentinho inesperado. Ela riu baixinho. E agora? Acha que tá pronto mesmo? Mais do que pronto. Ele disse, passando os dedos no rosto dela com ternura. Já imaginei isso mil vezes. Só não sabia que
a vida ia dar uma segunda chance pra gente. Eu também. E agora parece que tudo faz sentido, né? Faz, porque é a nossa vez de ser feliz de verdade. Ela ergueu o rosto e os dois se olharam por um instante, como quem se reconhece no meio do caos e mesmo machucado, escolhe ficar. "Vai dar certo, né?", ela perguntou num sopro. "Vai, porque agora a gente sabe o quanto custou chegar até aqui." E ali, no calor daquele abraço, não trocaram promessas futuras. Trocaram presença, compromisso real, sem máscaras, afeto sem medo, amor sem pressa, um novo começo
inteiro, calmo e possível. E naquela noite calma, com um bebê a caminho e a certeza de que recomeços existem, Bianca e Eitor finalmente entenderam: "O amor de verdade não chega quando tudo está pronto. Ele chega quando a gente escolhe ficar, apesar de tudo. E você, de onde tá assistindo? Comenta aqui embaixo. A gente quer saber de que lugar do mundo você está nos acompanhando. Se essa trama mexeu com você, deixa seu like, se inscreve no canal Histórias de Amor e Romance e ativa o sininho. Por aqui, cada final abre espaço para algo novo, porque o
amor quando é de verdade nunca termina. Ele recomeça.