Crescia em Rondonópolis, uma cidade do interior do Mato Grosso, onde o calor do Cerrado se misturava com o aroma dos doces da tia Dalva. Nossa casa ficava na Rua das Acácias, número 317, um sobrado modesto de madeira, com uma varanda desbotada pelo sol e um quintal repleto de árvores frutíferas que minha tia cultivava com carinho obsessivo. Meus pais, Amanda e Ricardo, morreram num acidente na rodovia quando eu tinha apenas 3 anos de idade.
Era uma noite chuvosa de setembro e eles voltavam de Cuiabá, onde tinham ido resolver questões do pequeno armazém que mantinham no centro da cidade. O carro derrapou numa curva traiçoeira da BR-364, capotando três vezes antes de parar num barranco. Sobrevivi porque estava com febre naquele dia e tia Dalva havia ficado cuidando de mim.
Tenho poucas memórias deles: o perfume de lavanda que minha mãe usava, o bigode do meu pai que fazia cócegas quando ele me beijava, o som das risadas deles ecoando pela casa nas manhãs de domingo. Tudo o mais que sei vem das histórias que tia Dalva me contava, sentada na nossa velha cadeira de balanço, enquanto as cigarras cantavam no final da tarde. Tia Dalva era irmã mais nova da minha mãe e, na época, tinha 28 anos, solteira.
Trabalhava como professora numa escola municipal, mas, após meus pais partirem, percebeu que seu salário não seria suficiente para nos sustentar. Foi então que decidiu transformar seu hobby de confeitaria em profissão. Nossa rotina era meticulosamente organizada: às 4:00 da manhã, o despertador antigo tocava e eu podia ouvir os passos dela descendo a escada que rangia.
O cheiro de café recém-passado subia até meu quarto, misturando-se com o aroma de baunilha e chocolate que logo tomaria conta da casa. Mesmo tão pequena, eu já entendia que cada minuto do seu dia era precioso. Na cozinha transformada em confeitaria, tia Dalva era uma artista.
Suas mãos calejadas criavam flores delicadas de açúcar, borboletas de pasta americana que pareciam prontas para voar, e rendas de glacé tão perfeitas que as noivas da cidade faziam fila para encomendar seus bolos de casamento. O fogão industrial ocupava metade do espaço e, nas prateleiras, formas de todos os tamanhos dividiam lugar com potes de corantes e essências importadas, seu único luxo. Para economizar, ela fazia tudo sozinha: comprava os ingredientes no atacado, negociava preços, fazia as entregas e controlava as encomendas num caderno de capa dura com letra caprichada.
Só aceitou ajuda para as entregas quando seu joelho começou a falhar, depois de escorregar numa calçada molhada, carregando um bolo de três andares. O medo de perdê-la era uma sombra constante em minha vida; cada vez que ela tocia por causa da farinha, eu corria para buscar água. Quando demorava mais que o normal para voltar das entregas, eu ficava postada na varanda, os olhos fixos no final da rua, contando os minutos.
À noite, desenvolvi o hábito de checar sua respiração, esgueirando até seu quarto, nas pontas dos pés. Nossa vida financeira era administrada com precisão militar. Todo dia 5, depois de pagar as contas, tia Dalva separava o dinheiro em envelopes: um para a feira, outro para as emergências e o mais especial deles, um envelope cor-de-rosa decorado com estrelas douradas, onde guardava o dinheiro para meus estudos.
“Cada centavo aqui", ela dizia, "é uma semente para seu futuro. " Na escola Professora Sebastiana de Oliveira, onde estudei todo o ensino fundamental, eu me destacava não só pelas notas, mas pela maturidade precoce. Enquanto outras crianças brincavam no intervalo, eu frequentemente ficava na biblioteca, devorando livros sobre negócios e empreendedorismo que a bibliotecária, senhora Margarida, separava especialmente para mim.
Aos 12 anos, já conhecia cada cliente pelo nome e suas preferências: a senhora Carmen da farmácia, que só aceitava bolo de cenoura com cobertura extra de chocolate; o Dr Paulo, dentista, que encomendava tortas de morango sem açúcar por causa do diabetes; a Dona Zulmira, que pedia os docinhos para os chás da Igreja Matriz. Foi nessa época que comecei a desenvolver meu próprio senso de negócios e sugeri a tia Dalva que criássemos um caderno de receitas especiais para clientes com restrições alimentares, algo inédito na cidade. A ideia deu tão certo que, em três meses, precisamos comprar um freezer novo para dar conta da demanda.
Nas noites em que a exaustão vencia tia Dalva e ela adormecia no sofá, ainda com o avental sujo de farinha, eu a cobria com nossa colcha de retalhos e prometia, silenciosamente, que um dia retribuiria cada sacrifício. Enquanto arrumava a cozinha, planejava um futuro onde ela poderia finalmente descansar. O pote de vidro onde guardávamos as moedas para emergências ficava no alto do armário da cozinha, era decorado com fitas coloridas, e tinha a inscrição "Futuro da Sibelli".
Toda a noite, antes de dormir, eu subia num banquinho para depositar qualquer moeda que houvesse sobrado do dia, sonhando com o momento em que aquelas economias se transformariam em algo maior. Essa rotina de trabalho duro e sonhos guardados em potes de vidro formou a base do meu caráter. Aprendi que a verdadeira riqueza não está apenas no dinheiro, mas na capacidade de construir algo do zero, na força de vontade que nos move mesmo quando tudo parece impossível, e, principalmente, na sabedoria de transformar dificuldades em oportunidades.
Mal sabia eu que essas lições seriam muito mais valiosas do que qualquer herança material. Anos mais tarde, quando enfrentei uma das maiores traições que alguém pode sofrer, foi essa força cultivada na infância que me impediu de desmoronar. Porque algumas pessoas podem tentar nos enganar, podem tentar nos roubar, mas jamais conseguirão tirar aquilo que construímos dentro de nós mesmos.
Aos 23 anos, eu já não era mais aquela menina do interior de Mato Grosso. O pequeno negócio que começou com a venda de bananas e ovos na feira municipal de Rondonópolis se transformou em algo muito maior. Comecei observando as necessidades dos feirantes; muitos perdiam produtos por não conseguirem armazenar adequadamente ou.
. . Transportar no tempo certo, com as economias guardadas no pote de vidro que somavam exatos 3.
417, comprei minha primeira câmara fria usada. O equipamento, apesar de antigo, funcionava perfeitamente. Aluguei um pequeno galpão na periferia da cidade e comecei a oferecer serviço de armazenamento para outros vendedores.
Em seis meses, o espaço já estava pequeno para a demanda. Tia Dalva, que continuava com sua confeitaria, foi a primeira a perceber o potencial do negócio. "Sibell," disse ela numa noite, enquanto contávamos o lucro do dia, "você não está apenas vendendo espaço em câmaras frias, está vendendo segurança para essas pessoas.
" O verdadeiro salto aconteceu quando percebi que poderia expandir para outras cidades. Muitos produtores rurais perdiam parte significativa de suas colheitas por não terem onde estocar. Desenvolvi um sistema de logística que conectava pequenos agricultores a grandes compradores, garantindo o armazenamento adequado dos produtos durante todo o processo.
Em três anos, a rede frigorífica Sibell já operava em quatro Estados. Meu diferencial era a atenção aos detalhes; cada unidade tinha gerador próprio para emergências, sistema de monitoramento de temperatura 24 horas por dia e equipe treinada para agir rapidamente em qualquer situação. Foi nesse período que conheci Kylian.
Ele apareceu em meu escritório numa quinta-feira à tarde, representando uma empresa de importação interessada em alugar espaço para frutas exóticas. Alto, elegante, com um sotaque francês que depois descobri ser falso, ele parecia o executivo perfeito. Nossa primeira reunião durou 4 horas; Kylian demonstrou um interesse genuíno — ou assim pensei — pelo funcionamento do negócio.
Fez perguntas pertinentes sobre expansão, gestão de riscos e planos futuros. Ao final, não tínhamos apenas fechado um contrato comercial, mas também um jantar para o dia seguinte. O namoro foi um turbilhão; Kylian era meticuloso.
Em cada Flores Raras entregues no escritório, jantares em restaurantes exclusivos, viagens de fim de semana em seu jato particular, sua elegância natural contrastava com minha origem simples, e ele parecia adorar isso. "Você é um diamante bruto," costumava dizer. "Precisa apenas do lapidador certo.
" Sandra, minha assistente há 5 anos, foi a primeira a notar algo estranho. "Sem querer" ela disse, após uma reunião em que Kylian esteve presente, "ele faz muitas perguntas sobre os contratos de sociedade. " Dispensei a preocupação dela, atribuindo o interesse à sua formação em administração de empresas.
Duas semanas depois, Kylian me pediu em casamento durante um jantar em sua cobertura. O anel de diamantes, segundo ele, tinha pertencido a sua avó, uma aristocrata francesa. Descobri muito depois que havia sido comprado naquela mesma semana com dinheiro emprestado.
A proposta veio acompanhada de sugestões de negócios: poderíamos unir nossas empresas, disse ele, criar um conglomerado imbatível. Falou sobre sinergia, expansão internacional e um futuro brilhante juntos. Seus olhos brilhavam de uma forma que agora sei não era amor, mas pura ambição.
Na mesma noite, conheci Caroline, sua assistente executiva. Alta, loira, com um sorriso estudado, simpático e olhos frios como gelo. "Estou tão feliz que Kylian finalmente encontrou alguém especial," disse ela, embora seu tom sugerisse exatamente, naquele momento, o brilho de possessividade em seu olhar quando ela observou nosso noivado.
Apenas alguns meses depois, Kylian insistia que não havia razão para esperar, já que nosso amor era tão verdadeiro. Tia Dalva, ao conhecê-lo, teve uma reação discreta, mas significativa. Seu sorriso não alcançava os olhos e suas mãos, sempre tão expressivas, permaneciam quietas sobre o colo durante toda a visita.
Naquela época, meu império já valia mais de R$ 10 milhões. Tinha unidades em 17 cidades, mais de 300 funcionários e planos de expansão para o mercado internacional. Todo esse crescimento, construído com trabalho árduo e estratégia cuidadosa, chamava a atenção.
Agora entendo que foi exatamente isso que atraiu não apenas Kylian, mas também Caroline. A manhã do casamento começou com uma cena que deveria ter me alertado. Encontrei Caroline, a assistente de Kylian, dando ordens aos decoradores como se fosse a noiva.
Quando me viu, seu sorriso não escondia o veneno. "Ah, Sibell, que bom que chegou! Estava apenas garantindo que tudo estivesse perfeito, como Kylian merece.
" O vestido de noiva, um modelo exclusivo italiano, pesava 23 kg. Caroline fez questão de mencionar que o valor poderia alimentar uma família por um ano. "Mas você está acostumada a gastos extravagantes, não é?
" provocou ela, ajustando desnecessariamente meu véu pela terceira vez. A cerimônia aconteceu no salão principal do hotel mais luxuoso de São Paulo: 500 convidados, orquídeas raras decorando cada mesa, uma orquestra de 40 músicos. Kylian insistiu em cada detalhe, sempre argumentando que precisávamos impressionar os convidados internacionais.
Durante os votos, notei algo estranho no olhar dele. Enquanto prometia amor eterno, seus olhos vagavam pela plateia, detendo-se por alguns segundos em Caroline, que ocupava um lugar na primeira fila. Ela usava um vestido vermelho, a única convidada que ousou desafiar a etiqueta tradicional.
Tia Dalva, sentada ao meu lado durante o jantar, segurou minha mão por baixo da mesa. "Ainda dá tempo," sussurrou ela, mas interpretei mal seu aviso. Pensei que estava preocupada com os gastos, com a magnitude do evento.
Não percebi que seus olhos experientes já haviam identificado sinais que eu teimava em ignorar. A primeira dança como casal foi ao som de "A Thousand Years. " Kylian conduzia com perfeição, resultado das aulas particulares que fizemos por três meses.
"Você precisa parecer sofisticada," ele insistia durante os ensaios. Agora entendo que cada aula de dança, cada lição de etiqueta, cada sugestão de mudança no meu guarda-roupa fazia parte de um plano maior. Durante a festa, Caroline circulava entre os convidados como uma serpente, destilando comentários aparentemente inocentes.
"A noiva é um diamante bruto, não é? Kylian tem tanto trabalho pela frente," ou "É impressionante como alguém pode sair da feira e chegar a um evento como este. " O momento do buquê foi particularmente tenso.
Caroline posicionou-se estrategicamente e, ao pegar as flores, lançou-me um olhar triunfante. "Quem sabe o próximo casamento não é o meu? " disse ela, olhando diretamente para Kylian.
Ele riu como se fosse apenas uma brincadeira inocente. No final da festa, enquanto os convidados se despediam, ouvi, sem querer, uma conversa entre eles num corredor vazio. "Está tudo conforme planejado?
" perguntou ela. "Perfeitamente," respondeu Killian. Quando me viram, rapidamente mudaram de assunto, falando sobre os preparativos da viagem de lua de mel.
O jato particular que nos levaria até as Maldivas estava decorado com rosas brancas, escolha de Caroline. "Claro, pensei em cada detalhe para tornar sua viagem inesquecível," disse ela, com um sorriso que não alcançava os olhos. Antes de embarcarmos, abraçou Killian demoradamente, sussurrando algo em seu ouvido que o fez sorrir.
Durante o voo, Killian trabalhava incessantemente no laptop, trocando mensagens. "Assuntos urgentes da empresa," justificou-se, mas seu sorriso ao ler cada mensagem denunciava algo diferente. Fingindo dormir, observei, pelo reflexo da janela, que ele e Caroline trocavam mensagens sobre o grande plano naquela noite.
Deitada na cama da suíte presidencial, com vista para o Oceano Índico, revisei mentalmente cada momento dos últimos meses: o interesse súbito de Killian por minha empresa, a pressa para o casamento, a presença constante e provocadora de Caroline. Como empresária, aprendi a confiar em meus instintos; como mulher, havia escolhido ignorá-los. A lua de mel seria de 15 dias; Killian programou passeios, jantares românticos, mergulhos em recifes de corais, tudo meticulosamente planejado para criar a ilusão do casamento perfeito.
Mal sabia ele que estava sendo cuidadosamente registrado em minha memória. Na manhã do terceiro dia, enquanto observava o mar da varanda de nossa suíte, decidi que estava pronta para ouvir a verdade que já conhecia. Killian acordou tarde, como de costume, e foi direto para o terraço com uma taça de champanhe.
Era a hora do show começar. O sol das Maldivas nascia sobre o Oceano Índico quando Killian decidiu revelar sua verdadeira natureza. Observei seu reflexo no vidro da varanda enquanto ele se aproximava, taça de champanhe na mão, vestindo um robe de seda italiana que Caroline havia escolhido como presente de casamento.
"Precisamos conversar sobre negócios," disse ele, sua voz despida do falso sotaque francês que manteve durante todo o nosso relacionamento. Virei-me lentamente, estudando cada microexpressão em seu rosto. O sorriso ensaiado havia desaparecido, substituído por uma máscara de frieza calculista.
Naquele momento, recebi uma mensagem no celular. Era de Caroline: "Espero que esteja aproveitando sua lua de mel de conto de fadas, querida. Pena que alguns contos terminam em tragédia.
" Anexada à mensagem, uma foto dela usando meu vestido de noiva no dia da prova final, abraçada a Killian. A data da foto: três meses antes do casamento. "Você é uma empresária inteligente," continuou Killian, saboreando cada palavra como se degustasse um vinho precioso.
"Deve entender que casamentos, às vezes, são apenas arranjos comerciais. " E este. .
. ele fez uma pausa dramática, "chegou ao fim. " Sentei-me na espreguiçadeira de frente para o mar, meu rosto uma máscara de serenidade que pareceu desconcertar, por um instante.
O telefone vibrou novamente; outra mensagem de Caroline, desta vez um vídeo deles juntos em Paris durante uma suposta viagem de negócios de Killian, duas semanas antes do casamento. "Quero o divórcio," declarou ele, "e minha parte nos bens: 50% de tudo. É justo, considerando o tempo que investi nessa relação.
" Seus olhos brilhavam com a mesma ambição que confundi com amor meses atrás. Mais uma mensagem de Caroline: "Não se preocupe com a empresa, querida. Vou cuidar de tudo quando você voltar.
Ah, e seu escritório tem uma vista maravilhosa. Mal posso esperar para redecorar! " Killian colocou os papéis do divórcio sobre a mesa de centro, documentos meticulosamente preparados, cada página marcada para a assinatura.
"Caroline cuidou de todos os detalhes legais," explicou ele, sem tentar mais esconder a intimidade entre eles. Nova mensagem: "A propósito, aquele anel de diamantes da avó francesa dele eu que escolhi. Killian tem um gosto terrível para joias.
Mas você já deve ter percebido isso, não é? " "Não precisa decidir agora," disse ele, interpretando meu silêncio como choque. "Temos todo o tempo do mundo.
" Seu tom era quase paternal, como se estivesse explicando algo complexo a uma criança. Caroline continuava seu bombardeio digital: "Sabe aquela música da nossa primeira dança? Foi ideia minha: 'La Vie en Rose'.
" Irônico, não? Sua vida está longe de ser cor-de-rosa. Agora, levantei-me calmamente, caminhei até a mesa e peguei os papéis.
Killian observava cada movimento meu, provavelmente esperando lágrimas, súplicas ou uma explosão de raiva. Em vez disso, sorri, o mesmo sorriso que usei quando fechei meu primeiro contrato milionário. "Você tem uma caneta?
" perguntei, minha voz mais firme que nunca. Ele piscou, momentaneamente confuso com minha reação, mas rapidamente se recompôs, retirando uma Mont Blanc do bolso do robe. Última mensagem de Caroline: "Não se esqueça de assinar na linha pontilhada, querida!
E não se preocupe, prometo cuidar bem do seu marido e da sua empresa. " Assinei cada página com a mesma calma que usei para assinar meus primeiros contratos de aluguel de câmaras frias. Killian observava, alternando entre satisfação e uma leve inquietação diante da minha tranquilidade.
"Sabe," Killian, disse eu, devolvendo os papéis e a caneta, "aprendi muito cedo que na vida, tudo tem seu preço. Alguns são pagos em dinheiro; outros, bem, outros são pagos de formas diferentes. " Ele franziu o cenho, tentando decifrar o significado por trás das minhas palavras.
Peguei meu celular e digitei uma última mensagem para Caroline: "Obrigada por tudo. Você é exatamente o que eu esperava. " Voltei-me para o mar, deixando Killian com seus papéis e sua vitória aparente.
Ele não percebeu o brilho nos meus olhos, aquele mesmo brilho que tia Dalva dizia ser meu diferencial nos negócios, o brilho de quem já tem todos os movimentos calculados. A brisa marinha soprava suavemente enquanto eu planejava cada detalhe do que estava por vir. Caroline queria guerra.
Ótimo, ela acabara de me dar todas as armas que eu precisava. A lua de mel tinha terminado, mas o verdadeiro jogo estava apenas começando. O voo de volta das Maldivas foi um exercício de autocontrole; Caroline havia providenciado uma surpresa.
Ela mesma nos aguardava dentro do jato particular e impecável. Num conjunto Chanel preto, pensei em tornar a volta mais acolhedora, disse ela, seu sorriso afiado como uma lâmina. Durante as 12 horas de voo, observei a dinâmica entre eles: cada olhar, cada toque disfarçado, cada palavra cifrada.
Era uma peça do quebra-cabeça que eu montava silenciosamente. Caroline fazia questão de servir pessoalmente as bebidas, de Killian, roçando os dedos nos dele a cada taça entregue. — Já decidiu o que vai fazer agora?
— perguntou Caroline, sentando-se ao meu lado enquanto Killian dormia. — Deve ser difícil administrar uma empresa tão grande sozinha, principalmente depois de tudo — seu Tom, falsamente preocupado, mal disfarçava o prazer que sentia com a situação. Em São Paulo, ela já havia tomado a liberdade de redecorar meu escritório.
Minha mesa antiga, um presente da tia Dalva, havia sido substituída por uma peça modernista em vidro e aço. — Precisávamos atualizar a imagem da empresa — justificou ela, pisando propositalmente na foto da minha tia que caíra da antiga mesa. Nas semanas seguintes, Caroline ocupou cada vez mais espaço, reorganizou a agenda de reuniões, cancelou os contratos antigos, alegando reestruturação, e começou a circular entre os funcionários rumores sobre minha instabilidade emocional após o divórcio.
Seu golpe mais ousado foi durante a reunião do conselho: entrou sem ser convidada, carregando uma pasta com supostas evidências de minha incapacidade de liderança. A pasta, acidentalmente derrubada na minha frente, continha fotos manipuladas e documentos forjados. — Só estou preocupada com o futuro da empresa — declarou ela, sua voz melodiosa destilando veneno.
Afinal, todos sabemos como decisões emocionais podem ser destrutivas. Seus olhos encontraram os meus, desafiadores. Killian mantinha-se estrategicamente distante, aparecendo apenas em momentos calculados.
— Você deveria considerar se afastar por um tempo — sugeriu ele, durante um encontro aparentemente casual no estacionamento. — Caroline tem experiência em gestão de crise. O plano deles era claro: me desestabilizar emocionalmente, minar minha credibilidade e tomar o controle da empresa.
Caroline já havia inclusive encomendado um novo cartão de visitas: diretora executiva de operações. Mas eles cometeram um erro crucial: subestimaram a menina que cresceu observando cada detalhe do negócio de bolos da tia, que aprendeu a ler pessoas antes mesmo de ler contratos. Durante uma reunião particularmente tensa, minutos foram suficientes para as mensagens de aviso sobre o plano deles que estavam meses antes.
"A idoneidade de nada", dizia uma mensagem de Carol, "logo todo o império dela será nosso. Meu amor, sua parte do plano está saindo perfeitamente". Em outra conversa, discutiam como forjarias para me afastar da presidência.
— Ela é dedicada demais à empresa — reclamava Killian. — Precisamos fazer parecer que está mentalmente instável. Caroline era meticulosa em seus registros, arquivando cada passo do plano em pastas organizadas por data.
Sua obsessão por controle seria sua própria ruína. Mantive minha atuação de mulher fragilizada pelo divórcio; comecei a, propositalmente, cometer pequenos erros em reuniões, demonstrar insegurança em decisões simples, aparecer com olheiras cuidadosamente produzidas com maquiagem. — Está vendo?
— ouvi Caroline comentar com um dos diretores. — É exatamente sobre isso que venho alertando: ela não tem mais condições de liderar. Cada provocação dela era recebida com aparente submissão da minha parte.
— Você tem razão, Caroline — eu dizia, baixando os olhos. — Não sei o que faria sem sua ajuda neste momento difícil. Minha aparente fraqueza os tornava cada vez mais ousados.
Caroline começou a trazer objetos pessoais para meu escritório, incluindo uma foto dela com Killian em Paris, para dar um toque mais pessoal ao ambiente, justificou colocando a moldura estrategicamente de frente para minha mesa. Em casa, passei a dedicar as noites a estudar cada documento que conseguia acessar. Descobri padrões nas ações deles, identifiquei vulnerabilidades, mapeei suas rotinas e contatos.
Cada informação era uma peça do quebra-cabeça que eu montava pacientemente. A parte mais difícil era manter a fachada de fragilidade quando meu sangue fervia de raiva. Mas cada sorriso falso de Caroline, cada olhar condescendente de Killian alimentava minha determinação.
Numa sexta-feira, Caroline cometeu seu erro mais grave. Confiante em sua vitória, enviou um e-mail para toda a diretoria, convocando uma reunião extraordinária para a segunda-feira seguinte. O assunto: reestruturação da presidência, mudanças necessárias.
Sorri ao ler o e-mail; o tabuleiro estava finalmente pronto, cada peça em sua posição. Caroline e Killian estavam prestes a descobrir que a menina que começou vendendo na feira havia se tornado uma das empresárias mais bem-sucedidas do país. A manhã da reunião extraordinária chegou com um ar pesado de expectativa.
Caroline havia passado o fim de semana inteiro no escritório preparando sua apresentação devastadora. Eu sabia disso porque ela mesma fez questão de me enviar fotos do meu escritório tomado por seus papéis e posts com a legenda "remodelando o futuro da empresa". Cheguei uma hora antes do previsto e encontrei-a ensaiando seu discurso diante do espelho da sala de reuniões.
Vestia um conjunto vermelho Valentino, a mesma cor do vestido do casamento, sua marca registrada de provocação. — Sibelle! Que surpresa!
— exclamou ela, mal contendo o sorriso vitorioso. — Não esperava vê-la tão cedo. Achei que talvez nem viesse.
— Seu Tom sugere que estou certa da minha derrota iminente — não perderia por nada, respondi, servindo água. Minhas mãos tremiam levemente, não de medo. Caroline interpretou aquilo como nervosismo e seu sorriso alargou-se.
Os diretores começaram a chegar; Killian estrategicamente foi o último a entrar na sala, como se já fosse o dono, ajeitando a gravata italiana que eu havia lhe dado de presente no último Natal. Caroline levantou-se imediatamente, seus saltos Louboutin ecoando no piso de mármore. — Senhores, senhoras — começou ela, ligando o projetor.
— Estamos aqui para discutir o futuro desta empresa. Como todos sabem, passamos por momentos delicados. Seus olhos se fixaram em mim, saboreando cada palavra.
A apresentação dela era impecável, tinha que admitir: slides perfeitamente organizados, mostrando gráficos de instabilidade na gestão, relatórios de decisões emocionais prejudiciais e até uma análise psicológica forjada sobre meu estado mental pós-divórcio. — Como podem ver — continuou ela, passando para um slide particularmente cruel que mostrava fotos minhas, aparentemente alteradas. .
. A situação é insustentável. Precisamos de uma liderança forte, estável e racional.
K. assentiu gravemente do seu lugar, interpretando perfeitamente seu papel de ex-marido preocupado. Talvez disse ele, sua voz estudada e suave: "Seja hora de considerar um afastamento temporário.
" Caroline sorriu triunfante. "Tenho aqui," disse ela, retirando uma pasta da sua bolsa. "É um documento preparado por nossa equipe jurídica sugerindo isso: um afastamento por tempo indeterminado com transferência temporária de poderes para um comitê executivo.
" O silêncio na sala era palpável; todos os olhares se voltaram para mim, esperando lágrimas, gritos ou um colapso nervoso. Em vez disso, peguei meu celular e comecei a digitar algo. "Se interrompeu," Caroline, irritada com minha aparente falta de atenção, disse: "Isto é sério!
Estamos decidindo o futuro da empresa! " "Ah, sim," respondi, ainda digitando. "Por falar em futuro.
. . " Enviei e, segundos depois, os celulares de todos na sala vibraram simultaneamente.
"O que é isso? " perguntou Caroline, seu rosto empalidecendo ao abrir a mensagem. "Apenas alguns dados que você esqueceu de incluir na sua apresentação," respondi, levantando-me calmamente.
"Por exemplo, as conversas entre você e Killian planejando este momento desde antes do casamento ou os documentos forjados que você preparou. Ah, e claro, o pequeno detalhe de como vocês planejavam assumir o controle da empresa. " Killian tentou levantar-se, mas suas pernas pareciam não responder.
Caroline, pela primeira vez desde que a conheci, ficou sem palavras. "Sabe, Carol," continuei, caminhando até o projetor, "você realmente deveria ser mais cuidadosa com suas senhas. Kylian123 é um tanto óbvio, não acha?
" "Isto é invasão de privacidade! " gritou ela, seu rosto agora vermelho como seu conjunto Valentino. "Não, querida.
Isso é checkmate. " Com um clique, substituí a apresentação dela pela minha própria. Na tela, dezenas de mensagens entre ela e Kylian detalhavam cada passo do plano deles, desde o início do namoro até aquele momento.
"Senhores," dirigi-me ao conselho, "como podem ver, estamos realmente diante de uma tentativa de golpe, mas não do tipo que a senhora Caroline sugeriu. " As próximas duas horas foram um espetáculo de revelações; cada documento que Caroline havia forjado contra mim foi desmontado, cada acusação revertida, cada mentira exposta. "E antes que pensem em medidas legais," conclui, "sugiro que leiam os últimos slides; são especialmente interessantes.
" Caroline desabou em sua cadeira, seu império de mentiras desmoronando ao seu redor. Kylian, o suposto estrategista brilhante, parecia ter envelhecido 10 anos em duas horas. A reunião terminou com uma única decisão unânime do conselho: o afastamento imediato de Caroline de qualquer função na empresa.
Quanto a Kylian, bem, ele já não tinha nenhum poder desde que assinei os papéis do divórcio nas Maldivas. Quando todos saíram, fiquei sozinha na sala com eles. Caroline, ainda atordoada, murmurou algo sobre processo e vingança.
"Sabe qual foi seu maior erro? " perguntei, recolhendo minhas coisas. "Achar que uma mulher que construiu um império do zero seria facilmente vencida por jogos de poder amadores.
" Deixei-os ali, cercados pelos destroços de seus próprios planos fracassados. A guerra que eles começaram estava longe de terminar, mas a primeira batalha, essa eu havia vencido. Com a mesma estratégia que usei para construir minha empresa: atenção aos detalhes e paciência para esperar o momento certo.
A derrota na reunião do conselho não destruiu Caroline como eu esperava; pelo contrário, parecia tê-la transformado em algo ainda mais perigoso. Três dias depois do confronto, ela apareceu no meu escritório vestindo branco, uma mudança calculada de sua habitual preferência pelo vermelho. "Vim buscar minhas coisas," anunciou ela, sua voz melodiosa carregando uma ameaça velada.
E deixaram um presente de despedida sobre minha mesa: colocou um envelope prateado. Dentro, havia fotos do meu passado em Rondon — eu vendendo bananas na feira, carregando caixas de ovos, o pequeno depósito onde comecei. Cada imagem tinha uma anotação maldosa, escrita com sua caligrafia elegante.
"Será que seus clientes internacionais gostariam de conhecer a verdadeira Sibelle? " provocou ela. "Caroline," respondi, organizando as fotos em um mosaico sobre a mesa, "você realmente acha que tenho vergonha das minhas origens?
Estas fotos são minha força, não minha fraqueza. " Seu sorriso vacilou por um instante, mas ela se recompôs rapidamente. "Kylian," disse ela, ajustando sua pulseira Cartier, "ainda não terminamos.
Você pode ter vencido esta batalha, mas conhecemos seus pontos fracos. " Observei enquanto ela recolhia seus pertences, cada movimento uma performance estudada. Caroline tinha transformado o escritório ao lado do meu em seu quartel-general durante os meses que antecederam o casamento; agora esvaziava as gavetas com a mesma precisão com que planejara sua conquista.
"Sabe o que é interessante? " comentei enquanto ela embalava seu último item, um porta-retratos com uma foto dela e Kylian em Veneza. "Você se orgulha tanto de seu poder de manipulação, mas cometeu o erro mais básico: confundiu gentileza com fraqueza.
" Ela parou, seus olhos azuis fixos em mim. "E você cometeu o erro de achar que me conhece," retrucou. "Aquela reunião foi apenas o primeiro ato; agora vem o verdadeiro espetáculo.
" Nos dias seguintes, comecei a entender o significado daquela ameaça. Caroline iniciou uma campanha sutil, mas implacável, para minar minha reputação. Histórias vazadas sobre meu passado apareciam em blogs de fofocas corporativas, sempre com um toque de escândalo.
Kylian, por sua vez, mantinha-se estrategicamente nos bastidores em eventos sociais, apresentando-se como a vítima de um casamento fracassado com uma mulher obcecada por poder. Caroline orquestrava cada movimento dele como uma maestrina perfeita. Mas eles não perceberam que cada ataque apenas fortalecia minha posição.
Cada tentativa de me diminuir por minhas origens humildes gerava simpatia entre funcionários e clientes. A história da menina da feira que construiu um império ressoava mais forte que suas intrigas calculadas. Durante uma reunião com investidores, Caroline tentou seu golpe mais ousado: apareceu sem convite, carregando uma apresentação sobre inconsistências na gestão.
Mas desta vez, eu estava preparada. "Senhores," interrompi antes que ela começasse, "a senhora Caroline tem razão: exitem inconsistências que precisamos discutir. " Projetei, então, os documentos que comprovavam como ela e Kylian haviam tentado manipular informações da empresa naquela noite.
Sozinha em meu escritório, recebi uma última mensagem de Caroline: "Você é mais cruel do que imaginei. " Não, Caroline, respondi. Apenas mais esperta do que você supôs.
O império que construí continuou crescendo. A menina da feira que eles tanto desprezaram provou que não precisava de nomes importantes ou linhagens nobres para vencer. Quanto a Caroline e Kilian, bem, digamos que eles aprenderam da maneira mais dura que algumas pessoas não devem ser subestimadas e que algumas vinganças são servidas não apenas frias, mas meticulosamente planejadas.
AD derrotados, mas não subjugados. Caroline e Kilian não aceitaram a derrota de bom grado. Eles começaram a orquestrar sua contraofensiva, cada movimento calcado na vingança e no desejo de me destruir.
Caroline, sempre a mente por trás dos planos, iniciou uma campanha sutil, mas implacável, para minar minha reputação. Histórias vazadas sobre meu passado em Rondonópolis apareciam em blogs de fofocas corporativas, sempre com um toque de escândalo. Kilian, por sua vez, mantinha-se estrategicamente nos bastidores, apresentando-se como a vítima de um casamento fracassado com uma mulher obcecada por poder.
Mas eles não perceberam que cada ataque apenas fortalecia minha posição. Cada tentativa de me diminuir por minhas origens humildes gerava simpatia entre funcionários e clientes. A história da menina da feira que construiu um império ressoava mais forte que suas intrigas calculadas.
Durante uma reunião com investidores, Caroline tentou seu golpe mais ousado: apareceu sem convite, carregando uma apresentação sobre inconsistências na gestão. Mas, desta vez, eu estava preparada. "Senhores," interrompi antes que ela começasse, "a senhora Caroline tem razão, existem inconsistências que precisamos discutir.
" Projetei, então, os documentos que comprovavam como ela e Kilian haviam tentado manipular informações da empresa. Naquela noite, em meu escritório, recebi uma última mensagem de Caroline: "Você é mais cruel do que imaginei. " Não, Caroline, respondi.
Apenas mais esperta do que você supôs. O império que construí continuou crescendo. A menina da feira que eles tanto desprezaram provou que não precisava de nomes importantes ou linhagens nobres para vencer.
Quanto a Carol e Kilian, bem, digamos que eles aprenderam da maneira mais dura que algumas pessoas não devem ser subestimadas e que algumas vinganças são servidas não apenas frias, mas meticulosamente planejadas. Caroline e Kilian não aceitaram a derrota de bom grado. Eles começaram a orquestrar sua contraofensiva, cada movimento calcado na vingança e no desejo de me destruir.
Caroline, sempre a mente por trás dos planos, iniciou uma campanha sutil, mas implacável, para minar minha reputação. Histórias vazadas sobre meu passado em Rondonópolis apareciam em blogs de fofocas corporativas, sempre com um toque de escândalo. Kilian, por sua vez, mantinha-se estrategicamente nos bastidores, apresentando-se como a vítima de um casamento fracassado com uma mulher obcecada por poder.
Mas eles não perceberam que cada ataque apenas fortalecia minha posição. Cada tentativa de me diminuir por minhas origens humildes gerava simpatia entre funcionários e clientes. A história da menina da feira que construiu um império ressoava mais forte que suas intrigas calculadas.
O tiro saiu pela culatra. Os investidores, impressionados com minha transparência e capacidade de gestão de crise, renovaram sua confiança na empresa. Caroline saiu da sala em silêncio, mas seus olhos prometiam vingança.
A guerra estava longe de terminar. Caroline era como uma jogadora de xadrez; cada movimento era parte de uma estratégia maior. Mas ela esqueceu que aprendia a jogar observando pessoas muito mais espertas que ela na feira de Rondonópolis.
Naquela noite, enquanto organizava documentos, encontrei algo interessante: um cartão de memória esquecido em uma gaveta do escritório que era dela. Nele, descobri o plano completo que ela e Kilian haviam traçado, incluindo detalhes que acreditavam estar seguros. "A ingênua não suspeita de nada," dizia Caroline em um áudio gravado meses antes.
"Vamos destruí-la tão completamente que ela nunca mais terá coragem de mostrar o rosto no mundo dos negócios. " Sorri ao ouvir aquilo. Caroline não percebia que seu movimento era previsível, justamente por ser tão meticulosamente planejado.
Sua obsessão por controle era sua maior vulnerabilidade. Na manhã seguinte, recebi uma mensagem dela, preparada para o próximo round: anexou um vídeo editado de forma maliciosa, sugerindo comportamento inadequado da minha parte em reuniões antigas. Sempre respondi anexando um pequeno trecho do áudio que encontrei.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. A batalha estava apenas começando, mas agora as regras do jogo haviam mudado. Caroline e Kilian queriam guerra?
Ótimo! Eu havia aprendido com tia Dalva que a melhor defesa é conhecer seu inimigo melhor do que ele conhece a si mesmo. O escritório estava silencioso naquela manhã de quinta-feira quando Caroline irrompeu pela porta, seus saltos ecoando como tambores de guerra.
Vestia um conjunto Alexander McQueen vermelho-sangue e carregava uma pasta preta de couro italiano. "Bola a brincadeira de empresária," declarou ela, jogando a pasta sobre minha mesa. "Kilian e eu vamos assumir o controle.
Aqui está a notificação do nosso advogado exigindo 50% das ações da empresa. " Mantive-me em silêncio, observando-a pavonear-se pelo escritório como se já fosse a dona. Caroline sempre teve uma queda pelo dramático; era parte de seu arsenal de manipulação.
"Sabe," continuou ela, passando os dedos pela superfície da minha mesa, "sempre me perguntei como alguém tão básica conseguiu construir tudo isso. Agora entendo, você apenas teve medo de trabalhar duro. Mas a sorte acaba.
" Abri a pasta lentamente, estudando-a, enquanto ela prosseguia com seu monólogo. Os papéis exigiam, à vista, metade das ações, baseando-se no regime de comunhão parcial de bens do nosso casamento. " Onde está Kilian?
" perguntei, minha voz calculadamente calma. "Achei que ele viria pessoalmente para este momento tão especial. " O sorriso de Caroline vacilou por um instante.
"Ele está resolvendo alguns detalhes finais. Não se preocupe, querida, logo ele estará aqui. " "Para descobrir que não existe nenhuma ação em seu nome," interrompi, retirando outro conjunto de documentos da minha gaveta.
"Ou para que todos os bens da empresa foram transferidos para uma holding no nome da minha tia Dalva meses antes. " O rosto dela ficou pálido ao perceber. "Você ver.
. . " Queria ver aqueles documentos que você vasculhou tão meticulosamente.
Eram isca; a real estrutura societária está protegida desde antes de eu conhecer Kilian. Caroline agarrou os papéis, seus dedos perfeitamente manicuros amassando as bordas enquanto lia freneticamente. "Isto é ilegal!
", explodiu ela. "Você não pode ilegal! " Interrompi novamente minha voz, agora carregada de ironia: "Como forjar documentos para tentar me afastar da presidência?
Ou como planejar um casamento apenas para tentar roubar uma empresa? " Nesse momento, meu celular vibrou com uma mensagem de Kyan. "Caroline, não consegui acessar nenhuma conta, está tudo bloqueado!
O que está acontecendo? " Perguntei, mostrando a tela para ela. "Seu querido Kilian parece um pouco desesperado.
" Caroline avançou para tentar pegar o celular, mas parou ao ver seu próprio reflexo na janela espelhada; a máscara de sofisticação, mente desfeita, revelando a verdadeira face da mulher que pensou poder me destruir. "Você é mais calculista do que imaginei," disse ela, tentando recuperar a compostura. "Mas isso não acaba aqui.
Temos outros recursos, como as fotos editadas que você planejava vazar para a imprensa, ou os documentos forjados sobre minha suposta instabilidade mental. Talvez os vídeos manipulados de reuniões antigas. " A cada palavra minha, Caroline recuava um passo; sua expressão alternava entre raiva e incredulidade.
"Como começou? " ela perguntou, mas eu a interrompi novamente. "Como eu sei de tudo isso?
Simples: você fala demais quando se sente vitoriosa, Caroline, especialmente após algumas taças de champagne em sua cobertura, planejando minha destruição com Killian. " O celular vibrou novamente, desta vez era uma mensagem em grupo: Kilian havia sido completamente bloqueado de todas as contas conjuntas que mantínhamos. "Isso é temporário," ameaçou ela, recuperando parte de sua arrogância.
"Nossos advogados. . .
" "Seus advogados já receberam cópias de todas as provas que tenho contra vocês," revelei, abrindo uma gaveta e retirando um pen drive, incluindo este backup das conversas entre vocês, planejando o golpe desde o início. Caroline congelou. "Você está falando?
" sussurrou, mas sua voz traía sua incerteza. "Sabe, Caroline querida, você cometeu o erro de achar que uma mulher que construiu um império do zero não saberia se proteger de golpistas como vocês. " Nesse momento, Kilian irrompeu pela porta, seu rosto vermelho de fúria.
"O que você fez? " gritou ele. "Todas as contas, tudo está bloqueado," completei.
"Sim, eu sei, assim como sei que vocês gastaram todo o dinheiro que tinham apostando na minha ingenuidade. " O casal se entreolhou pela primeira vez, mostrando o verdadeiro medo; não era apenas a perda do golpe planejado, mas a realização de que haviam subestimado completamente sua oponente. "Agora," continuei, sentando-me novamente em minha cadeira, "vocês têm exatamente uma hora para deixar este prédio.
Depois disso, a segurança tem ordens expressas para não permitir sua entrada. Ah, e sugiro que comecem a procurar bons advogados. " Caroline e Kilian saíram do escritório em silêncio, derrotados, mas não subjugados.
Eu sabia que aquela não seria a última vez que os veria; pessoas como eles não desistem facilmente. Caroline não aceitou a derrota silenciosamente. Uma semana depois de ser expulsa do escritório, ela orquestrou seu contra-ataque durante o maior evento empresarial do ano, o Congresso Nacional de Logística e Distribuição.
Eu estava prestes a iniciar minha palestra para 2. 000 executivos quando as telas do auditório foram hackeadas. No lugar da minha apresentação, surgiram fotos minhas do passado em Rondonópolis, editadas de forma humilhante.
A voz de Caroline ecoou pelo sistema de som. "Senhoras e senhores. .
. " sua voz destilava veneno. "Conheçam a verdadeira Sibele, a feirante que construiu um império através de métodos questionáveis.
" Em vez de tentar interromper a apresentação, mantive-me calma no palco. "Por favor," pedi ao público, "prestem atenção. Esta é uma demonstração ao vivo do que pessoas desesperadas são capazes de fazer.
" Caroline apareceu no fundo do auditório, vestindo um deslumbrante vestido vermelho Versace; ao seu lado, Kilian sorria presunçosamente. Eles esperavam meu colapso público, minha humilhação final. "Vocês veem uma feirante nessas fotos," continuei, minha voz firme.
"Eu vejo uma mulher que construiu algo do zero, que não teve medo de trabalhar duro, que não precisou usar um sobrenome importante ou roupas de grife para conquistar seu espaço. " A plateia começou a murmurar em aprovação. Caroline avançou pelo corredor central, seus saltos ecoando ameaçadoramente.
"Eles não sabem da outra parte da história, querida," sibilou ela ao microfone. "Como você manipulou, mentiu, enganou. " "Interessante você mencionar manipulação," Caroline, interrompi, apertando um botão no meu apresentador.
As telas mudaram novamente; agora eram exibidas mensagens entre ela e Kilian, datadas de antes do casamento, conversas explícitas sobre como me conquistar, como fingir amor, como planejar cada detalhe do golpe. "Não! " gritou ela, tentando arrancar os cabos do projetor.
"Isso é montagem! " "Como a montagem que você fez das minhas fotos? " perguntei calmamente, "ou como os documentos forjados que tentou usar contra mim?
" Kilian tentou ir embora discretamente, mas as portas do auditório estavam bloqueadas. Era hora dele também enfrentar a sua ex-esposa. "Apresentei à plateia o homem que se casou comigo por interesse, que planejou cada sorriso, cada beijo, cada momento de falso amor.
" Caroline, percebendo que seu plano havia se voltado contra ela, mudou de tática. "Você não entende," gritou para a plateia. "Ela é a verdadeira manipuladora; forjou essas mensagens.
" "As mensagens que você e eu trocamos, pela senha Kilian123, a mesma que você esqueceu desbloqueada tantas vezes no escritório! " Confiante demais na sua suposta superioridade. O rosto dela empalideceu, e Kilian, finalmente entendendo a extensão do meu plano, desabou em uma cadeira.
"Vocês dois cometeram um erro grave," continuei, agora caminhando pelo palco. "Achavam que por eu vir de uma origem humilde, eu seria facilmente manipulada, que porque trabalhei em uma feira, não saberia jogar no mesmo nível que vocês. " As telas continuavam exibindo provas da conspiração deles; cada foto, cada mensagem, cada documento revelava a verdadeira natureza do casal.
"Caroline," direcionei-me a ela, que agora tremia de raiva, "você passou tanto tempo estudando meus pontos fracos que se esqueceu de proteger os seus. Sua arrogância foi sua ruína. " Ela avançou em minha direção, mas os seguranças já a cercavam.
Kyan permanecia imóvel, destruído pela exposição pública. E quanto a você, meu ex-marido, voltei-me para ele: "Espero que tenha guardado bem o dinheiro do nosso casamento; vai precisar para pagar seus advogados. " A plateia, que assistia a tudo em silêncio, chocada, rompeu em aplausos.
Caroline foi escoltada para fora, gritando ameaças e promessas de vingança. Killian a seguiu, cabisbaixo, sua máscara de homem sofisticado completamente destruída naquela noite. Enquanto a notícia do escândalo se espalhava, recebi uma última mensagem de Caroline: "Isso não acabou.
" Não respondi, mas seu jogo sim. O último ato dessa história começou em uma manhã de inverno, exatamente um ano após o desastre do congresso. Caroline, contra todas as expectativas, ainda não havia desistido.
Sua obsessão em me destruir só aumentou com cada derrota. Naquela manhã, ela executou seu golpe final, ou assim pensava. Invadiu meu escritório durante uma videoconferência com investidores internacionais, carregando uma pasta vermelha.
Seus olhos brilhavam com aquela mesma malícia calculada que eu conhecia tão bem. Finalmente, descobri seu segredo. Ela jogou documentos sobre minha mesa: a verdadeira origem do seu capital inicial.
Mantive a videoconferência ativa propositalmente; 40 executivos das maiores empresas do mundo assistiam àquela cena, exatamente como eu havia planejado. "O dinheiro para comprar sua primeira câmara fria", continuou ela, saboreando cada palavra, "veio de um golpe que você aplicou em um comerciante em Rondonópolis. " Sorri, permitindo que ela continuasse.
Caroline estava tão absorta em seu momento de triunfo que não percebeu a armadilha. "Tenho todas as provas aqui", ela brandiu os papéis como troféus; "depoimentos, documentos, tudo mostrando como você enganou aquele pobre homem. " "Interessante", respondi calmamente.
"E quem seria esse comerciante? " "O Sr. Antônio Mendes", revelou ela triunfante.
"O dono do maior armazém de Rondonópolis na época. " Meu sorriso se alargou. "Caroline, querida, você acabou de cometer seu último erro.
" Com um clique, projetei na tela uma série de documentos. "O Sr. Antônio Mendes nunca existiu.
É uma pessoa fictícia que criei especificamente para este momento. " O rosto dela congelou. "O quê?
Cada documento que você tem aí? " continuei. "Cada depoimento, cada prova, tudo foi cuidadosamente plantado para você encontrar, inclusive aquele pen drive esquecido na sua antiga mesa.
" Os executivos assistiam fascinados. Caroline começou a tremer, finalmente percebendo a extensão da armadilha. "Você passou meses investigando uma história falsa", expliquei.
"Enquanto isso, documentou meticulosamente cada passo do seu plano para me destruir, incluindo todas as leis que quebrou no processo. " "Você. .
. você planejou tudo isso? " Sua voz era apenas um sussurro.
"Desde o momento em que vi você e Killian juntos pela primeira vez, confirmei: cada movimento seu foi previsto e documentado. Cada tentativa de golpe, cada documento forjado, cada ameaça. " Nesse momento, Killian irrompeu pela porta.
"Caroline, não é uma armadilha. " "Tarde demais, ela já havia confessado tudo ao vivo para dezenas de testemunhas internacionais. " "Sabe, Caroline", continuei, levantando-me, "você sempre se orgulhou de sua inteligência, sua capacidade de manipulação, mas esqueceu a lição mais básica: nunca subestime uma adversária.
" "Isso não vai ficar assim", ameaçou ela, recuando em direção à porta. "Já ficou", respondi, projetando mais documentos. "Cada centavo que vocês dois possuem foi obtido através de golpes.
Agora, todas as provas estão com as autoridades competentes. " Killian desabou em uma cadeira, derrotado. Caroline, pela primeira vez, perdeu completamente a compostura.
"Você destruiu nossas vidas", acusou ela. "Não, Caroline, vocês destruíram suas próprias vidas no momento em que decidiram que podiam brincar com a minha. " Os seguranças entraram para escoltá-la para fora.
Caroline, mesmo derrotada, manteve a postura altiva. Killian a seguiu, como uma sombra do homem que fingia ser. Voltei-me para a videoconferência.
"Senhores, peço desculpas pelo teatro, mas era necessário. Agora podemos discutir nossa expansão internacional. " Naquela noite, sozinha em meu escritório, recebi uma última mensagem de Caroline: "Você é mais cruel do que imaginei.
" "Não, Caroline", respondi, "apenas mais esperta do que você supôs. O império que construí continuou crescendo. A menina da feira que eles tanto desprezaram provou que não precisava de nomes importantes ou linhagens nobres para vencer.
Quanto a Caroline e Killian, eles aprenderam da maneira mais dura que algumas pessoas não devem ser subestimadas e que algumas vinganças são servidas não apenas frias, mas meticulosamente planejadas. " Gostou do vídeo? Deixe seu like, se inscreva, ative o sininho e compartilhe.
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