MILIONÁRIO encontra EX-NAMORADA no meio da rua como MENDIGA, EM CHOQUE ele LOGO...

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Narrações Emocionantes
História - MILIONÁRIO encontra EX-NAMORADA no meio da rua como MENDIGA, EM CHOQUE ele LOGO...
Video Transcript:
Daniel caminhava apressado pelas ruas da cidade, sua mente focada nos negócios que precisava resolver naquele dia. O trânsito estava caótico e ele havia decidido ir a pé para sua reunião com um investidor importante. Milionário e bem-sucedido, Daniel se orgulhava da vida que havia construído. Ele sempre foi determinado e ambicioso, e isso o levou ao topo; porém, no fundo, sabia que havia sacrificado muito no caminho, incluindo pessoas importantes. Enquanto atravessava uma rua movimentada, algo em comum chamou sua atenção no meio do caos urbano. Entre carros e pedestres, ele avistou uma figura encurvada, suja e maltrapilha,
sentada na calçada. Daniel, normalmente, não prestava muita atenção a esse tipo de cena; ele estava acostumado a ver pessoas vivendo à margem da sociedade, principalmente em uma cidade grande como aquela. Mas, por algum motivo, dessa vez ele parou. Seus olhos fixaram-se na mulher e um choque percorreu seu corpo como um raio. Ele a conhecia. Era Taís. Daniel ficou paralisado por alguns segundos, não podia acreditar no que estava vendo. Taís, sua ex-namorada, a mulher que um dia foi o grande amor de sua vida, estava ali, vivendo nas ruas como uma mendiga. Sua mente começou a girar.
Como isso era possível? Taís sempre fora uma mulher forte, cheia de energia, com sonhos e planos. Eles haviam terminado anos atrás, quando suas vidas tomaram rumos diferentes. Ela sempre quis uma vida mais simples, mais livre, e ele queria o mundo. Suas ambições e estilos de vida acabaram os separando, mas Daniel nunca imaginou que ela acabaria assim. Ele se aproximou devagar, tentando processar o que seus olhos viam. Taís estava com o rosto escondido por trás dos cabelos desgrenhados, vestindo roupas sujas e rasgadas. Seu corpo estava magro, frágil, e suas mãos, que ele lembrava serem delicadas, estavam
agora cobertas de sujeira. Havia um pequeno cobertor velho jogado sobre suas pernas, mas era claro que aquilo não bastava para protegê-la do frio daquela manhã. “Taís,” ele disse, a voz saindo mais fraca do que pretendia. Ela não reagiu de imediato. Ele deu mais alguns passos em sua direção, o coração batendo forte no peito. “Taís, sou eu, Daniel.” Finalmente, ela levantou a cabeça e os olhos de Daniel se encheram de lágrimas ao ver o estado dela. Os olhos de Taís, antes tão brilhantes e cheios de vida, agora estavam vazios, como se algo dentro dela tivesse sido
apagado. Por um instante, ela olhou para ele sem reconhecimento, como se estivesse vendo um estranho. O choque foi ainda maior; como a mulher que ele amou tanto, que ele conhecia tão bem, poderia ter chegado a esse ponto? Daniel agachou-se ao lado dela, esquecendo completamente de sua reunião, do tempo e de quem ele era agora. Nada importava mais. Ele queria respostas, queria entender o que tinha acontecido. Taís piscou lentamente e, por um breve momento, pareceu reconhecê-lo. Seus lábios se moveram, como se quisessem dizer algo, mas não emitiram som. Ele sentiu um aperto no peito; a realidade
de vê-la naquela condição era dolorosa demais. “Taís, o que aconteceu com você?” perguntou, com a voz embargada. Ela, no entanto, voltou a desviar o olhar, parecendo retraída, como se estivesse perdida em um mundo de sua própria tristeza e miséria. Dan sentiu uma mistura de desespero e culpa. Mesmo tendo seguido um caminho diferente, ele nunca quis mal a ela, e ver a pessoa que um dia amou tanto naquela situação partia seu coração. Ele tentou mais uma vez falar com ela, mas Taís permanecia distante, seus olhos vagos, como se não estivesse completamente presente. Daniel, sem saber o
que fazer, tirou o celular do bolso e, por um momento, pensou em chamar ajuda, mas hesitou. Algo dentro dele dizia que aquele momento precisava ser resolvido entre eles. Ela não precisava de um estranho ajudando-a; precisava de alguém que a conhecia, que se importava. Determinando-se a não deixá-la ali, Daniel estendeu a mão: “Vem, Taís, vamos sair daqui. Eu vou te ajudar.” Mas Taís não se moveu. O silêncio entre eles era ensurdecedor. Daniel sabia que havia muito mais por trás daquele encontro, algo sombrio e doloroso que ele ainda não entendia. De alguma forma, sentia que a vida
dele estava prestes a mudar de maneira irreversível. A vida de Taís havia se despedaçado e agora ele precisava descobrir o porquê. Enquanto Daniel permanecia ali, ajoelhado na calçada ao lado de Taís, uma enxurrada de memórias começou a invadir sua mente. Ele se lembrava nitidamente de quando a conheceu; era uma mulher cheia de vida, inteligente e determinada. Eles se conheceram na universidade, em meio a um projeto de empreendedorismo. Ela tinha um espírito livre, um coração generoso e um desejo genuíno de fazer a diferença no mundo, sem estar presa às ambições materiais. Ela queria mudar vidas e
ele, conquistar o mundo. Desde o início, as diferenças entre eles eram evidentes, mas a paixão que sentiam um pelo outro superava qualquer obstáculo. Na época, Daniel estava apenas começando sua jornada para o sucesso. Ambicioso e determinado, ele sonhava em criar um império, enquanto isso, Taís tinha sonhos mais simples; ela queria abrir uma ONG para ajudar comunidades carentes. Ela não se importava com dinheiro ou status; seu objetivo era usar sua inteligência e seu coração para fazer a diferença. Apesar disso, eles se completavam de uma maneira que Daniel nunca tinha experimentado antes; ela trazia leveza para sua
vida agitada e ele oferecia a ela um vislumbre de um mundo que ela raramente considerava. O relacionamento deles foi intenso, mas, à medida que Daniel começou a subir na carreira, as diferenças entre os dois começaram a pesar. Ele passava mais tempo no escritório, em reuniões e jantares de negócios, enquanto Taís se envolvia cada vez mais em projetos sociais, muitas vezes viajando para lugares remotos para oferecer seu tempo e habilidades. As discussões começaram a se tornar frequentes. Ele não entendia por que ela não queria mais, por que se contentava com tão pouco. Ela, por outro lado,
não compreendia sua obsessão. Com o sucesso e o poder, lentamente o amor que compartilhavam foi sendo sufocado pelas divergências de visão de mundo. Quando finalmente decidiram terminar, a dor foi insuportável para ambos. Chorou muito naquele último encontro e Daniel, embora tentasse manter sua postura fria e racional, sentiu como se uma parte de si tivesse sido arrancada. O término foi difícil, mas inevitável. Ele seguiu seu caminho, subindo cada vez mais na carreira e acumulando uma fortuna invejável, enquanto ela desapareceu de sua vida. Por anos, Daniel tentou não pensar em Taís. Ele sabia que seguiram por caminhos
diferentes, mas não imaginava que aquele seria o destino dela. Agora, vendo-a naquela condição, o sentimento de culpa e arrependimento o consumia. Será que ele poderia ter feito algo diferente? Será que se tivesse sido mais flexível, eles ainda estariam juntos? Todas essas perguntas giravam em sua mente enquanto ele observava Taís, frágil e vulnerável. Taís continuava em silêncio, os olhos fixos no chão, como se tentasse evitar qualquer visual. Daniel não conseguia entender por que ela estava assim; nunca foi uma mulher frágil, nunca se deixou abater pelas dificuldades da vida. Ela sempre foi uma lutadora. O que teria
acontecido para quebrar aquele espírito tão forte? Tentando controlar a emoção que ameaçava transbordar, Daniel voltou a falar, dessa vez com mais urgência na voz. — Taís, por favor, me diz o que aconteceu. Eu não posso te deixar aqui desse jeito. Ela levantou a cabeça lentamente e o encarou por um breve momento. Havia dor em seus olhos, mas também uma resistência, como se ela estivesse lutando para manter uma parte de si intacta. Após alguns segundos, ela balbuciou: — Por que você se importa agora, Daniel? Aquelas palavras o atingiram como uma faca no peito. Havia uma acusação
silenciosa na voz dela, uma lembrança de que talvez ele tivesse falhado em vê-la e apoiá-la quando ela mais precisava. Ele respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas para responder. — Eu me importo porque você foi importante para mim. Não posso te ver assim, Taís. Eu nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer com você. Ela riu, mas foi uma risada amarga, desprovida de qualquer alegria. — A vida dá voltas, não é? As coisas mudam, Daniel. As pessoas mudam. Aquelas palavras ficaram ecoando na mente de Daniel. Ele sabia que a vida era imprevisível, mas nunca pensou que
o destino dela pudesse ser tão cruel. Taís desviou o olhar mais uma vez, visivelmente desconfortável com a conversa. Daniel sentiu que, de alguma forma, ela estava se afastando emocionalmente, se protegendo. Era como se ela estivesse construindo um muro em torno de si mesma para que ninguém pudesse ver sua verdadeira dor, mas ele não podia desistir dela. Não agora. — Taís — ele disse suavemente, inclinando-se mais perto —, me deixe te ajudar. Seja lá o que aconteceu, podemos resolver. Você não precisa passar por isso sozinha. Por um momento, pareceu que ela iria ceder. Seus olhos brilharam
por um instante e ele quase viu a mulher que conheceu anos atrás, mas em seguida ela balançou a cabeça e sussurrou: — Você não entende, Daniel. Não é tão simples. O coração dele apertou ainda mais. O que ela quis dizer com isso? O que havia por trás daquela resposta? Ele sentiu que havia muito mais por além da superfície, algo que ela ainda não estava disposta a compartilhar. Mas ele sabia que não poderia forçá-la a falar. Tudo o que podia fazer naquele momento era estender a mão. Sem dizer mais nada, ele se levantou e estendeu a
mão para ela, esperando que ela aceitasse. Taís olhou para ele e por um momento hesitou, como se estivesse avaliando a situação, o passado e tudo o que isso representava. Depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade, ela estendeu a mão trêmula e segurou a dele. Daniel ajudou-a a se levantar e, quando ela ficou de pé, percebeu o quão fraca e frágil ela realmente estava. Taís calhou levemente, mas ele assegurou-se firme, determinado a não deixá-la cair, física ou emocionalmente. Sem saber exatamente para onde iriam, Daniel decidiu levá-la para um lugar seguro. Ele precisava de respostas, mas
acima de tudo precisava ter certeza de que ela ficaria bem. Apoiada em seu braço, Daniel caminhava pelas ruas movimentadas com o coração acelerado. Cada passo que davam juntos era como um misto de esperança e dor. Ele não conseguia parar de olhar para ela, tentando entender como aquela mulher forte e cheia de vida havia chegado àquela situação. Taís estava magra, sua pele estava pálida e seus olhos, que antes brilhavam com uma energia inconfundível, agora pareciam apagados, como se a luz tivesse sido drenada. Aos poucos, a caminhada foi feita em silêncio. Taís não dizia nada, apenas seguia
com passos incertos, quase trôpegos, enquanto Daniel, ainda em choque, não sabia por onde começar. Ele precisava entender o que havia acontecido, mas algo dentro dele dizia que não era o momento de pressioná-la. Sabia que antes de qualquer coisa ela precisava de cuidados. As roupas de Taís estavam em estado deplorável, cheias de sujeira, e o cheiro que exalava indicava que fazia muito tempo que ela não tomava um banho adequado. Ele decidiu levá-la para um hotel próximo, um dos mais discretos e confortáveis da cidade. Quando entraram no saguão, Daniel sentiu os olhares curiosos dos recepcionistas e hóspedes,
provavelmente intrigados pela presença de uma mulher em condições tão precárias ao lado de um homem tão bem vestido. Taís, com o olhar baixo, parecia alheia a tudo isso. Daniel, por outro lado, sentiu uma mistura de constrangimento e raiva por aqueles olhares julgadores. Sabia que no fundo as pessoas não entendiam nada sobre o que estava acontecendo, mas ainda assim ele não conseguia evitar o desconforto. Ele se aproximou da recepção e pediu uma suíte para eles. O atendente, visivelmente desconfortável, lançou mais um olhar para Taís, mas prontamente entregou as chaves. Daniel se segurou para não falar nada;
sabia que qualquer comentário naquele momento só pioraria a situação. A diária pegou as chaves e, sem dizer uma palavra, conduziu Taís até o elevador. Enquanto subiam, o silêncio entre eles era quase palpável. Daniel olhou para Thaís várias vezes, querendo puxar conversa, perguntar como ela estava se sentindo, mas não sabia como começar. Era difícil encarar aquela nova realidade; ele a conhecia tão bem, ou pelo menos pensava que conhecia. Thaís nunca foi do tipo que se deixava abater facilmente, e vê-la assim, tão fragilizada, o deixava completamente desorientado. Quando chegaram à suíte, ele abriu a porta e a
conduziu para dentro. O quarto era luxuoso, decorado com móveis de bom gosto, uma cama enorme e lençóis impecáveis. Ao entrarem, Taís olhou em volta, como se aquele ambiente fosse algo estranho para ela. Daniel percebeu sua hesitação e tentou quebrar o silêncio que se instalara entre eles. "Você pode tomar um banho primeiro, Taís, e eu vou pedir algo para você comer," disse ele, tentando soar o mais gentil e calmo possível. Thaís olhou para ele, seus olhos parecendo quase mortos de cansaço e desalento. Ela não respondeu, mas, com um leve aceno de cabeça, seguiu em direção ao
banheiro. Daniel a observou ir, sentindo o coração apertar mais a cada segundo. Não sabia como ela estava, mas sabia que algo terrível havia acontecido para deixá-la naquele estado. Quando a porta do banheiro se fechou, ele finalmente soltou um suspiro que estava preso em seu peito, caminhou até a cama e sentou-se na beira, a cabeça entre as mãos. O que ele deveria fazer? Como poderia ajudar Thaís a sair daquela situação? Será que ela queria mesmo a ajuda dele? E mais, como ele havia deixado tanto tempo passar sem sequer pensar em como ela estava? Sentado ali, sozinho
naquele quarto silencioso, Daniel se lembrou de como Thaís sempre foi independente. Ela não precisava dele, e talvez fosse exatamente por isso que ele sempre a admirou tanto. Mesmo quando estavam juntos, ela fazia questão de deixar claro que suas vidas não deveriam girar em torno um do outro. Mas agora ela parecia tão perdida, tão longe daquela mulher forte que ele conhecera. Ele sentiu um nó na garganta ao pensar que talvez ele tivesse sido parte do motivo de sua queda. Enquanto Thaís tomava banho, Daniel pediu serviço de quarto, escolhendo alguns pratos leves, imaginando que ela precisaria de
algo nutritivo depois de tanto tempo nas ruas. Sua mente, no entanto, não parava. Como aquilo havia acontecido? O que a levara a esse ponto? Cada vez que tentava encontrar uma resposta, mais perguntas surgiam. Minutos depois, ele ouviu o som da água sendo desligada, seguido do som suave da porta do banheiro se abrindo. Thaís saiu envolta em um roupão branco que parecia gigantesco em seu corpo esquelético. Seu cabelo estava molhado e seu rosto, agora limpo, revelava traços de cansaço profundo, mas também uma beleza que ele ainda reconhecia, mesmo depois de tantos anos. Ela andou devagar até
a cama e sentou-se à beira, sem olhar diretamente para ele. O silêncio continuava a pairar entre eles, e Daniel sabia que precisava dizer algo, qualquer coisa. "Taís, eu não quero te pressionar, mas eu preciso entender o que aconteceu com você. Como você chegou a esse ponto?" Ela permaneceu em silêncio por um momento, suas mãos tremendo levemente enquanto segurava a toalha em volta de si. Parecia estar lutando com as palavras, como se cada resposta trouxesse à tona uma avalanche de emoções que ela tentava reprimir. Depois de um tempo, ela finalmente falou, mas sua voz era baixa,
quase um sussurro. "A vida não foi fácil, Daniel. Nem todo mundo consegue sobreviver ao que o mundo joga em cima de nós." Aquilo fez o coração de Daniel apertar ainda mais. Ele queria entender, queria ajudar, mas sentia que Thaís estava guardando muito mais do que aquelas poucas palavras podiam revelar. Havia uma tristeza profunda nela, algo que ia além da aparência e da situação em que ela se encontrava. "Eu sei que não foi fácil, mas por que você não procurou ajuda? Por que não me procurou?" Ele sabia que era uma pergunta delicada, talvez até egoísta, mas
precisava entender. Thaís finalmente olhou para ele, e havia uma dor imensa em seus olhos. "Você foi o último lugar para onde eu pensaria ir, Daniel. Nós vivemos em mundos diferentes. Eu sabia que se eu pedisse ajuda, você me veria assim, e eu não queria que você visse." Aquelas palavras caíram como uma pedra sobre o peito de Daniel. Ele percebeu que, de certa forma, ela se sentia envergonhada, e isso doía mais do que ele podia imaginar. Thaís não queria ser vista como fraca, não queria que ele a visse derrotada. Daniel balançou a cabeça, tentando controlar a
própria emoção. "Eu nunca teria te julgado, Taís. Eu só quero te ajudar." Ela suspirou profundamente e desviou o olhar. "Eu não sei se você pode, Daniel. Tem coisas que o dinheiro não resolve." As palavras dela ecoaram na mente dele enquanto ele sentava-se ao lado dela, sem saber o que mais dizer. A vida deles havia se distanciado tanto que, naquele momento, ele sentia como se estivessem em mundos opostos. Mas, ao mesmo tempo, não podia ignorar o fato de que ela estava ali, ao lado dele, e ele faria o que fosse necessário para ajudá-la, mesmo que não
soubesse por onde começar. O silêncio voltou a se instalar no quarto enquanto Daniel tentava encontrar uma maneira de alcançar a Thaís que ele um dia conhecera. O silêncio no quarto parecia interminável. Daniel sentiu o peso da distância emocional que agora existia entre ele e Thaís, uma distância que não era medida em metros, mas em cicatrizes e experiências que ele não compartilhava. Ele tentou buscar uma maneira de romper o vazio, uma maneira de trazê-la de volta, mas tudo que conseguia fazer era observar a fragilidade diante dele. Thaís parecia tão distante, como se estivesse presa em outro
lugar, muito além daquele quarto. Luxuoso e longe do Daniel que conhecia, mesmo sentada ali ao seu lado, ela não estava verdadeiramente presente; seus olhos olhavam para o chão, as mãos trêmulas agarradas ao tecido do roupão, e sua mente parecia vaguear por algum espaço sombrio onde ele não podia alcançá-la. Daniel sentiu uma pressão esmagadora no peito; ele queria dizer algo, qualquer coisa que pudesse confortá-la, mas nada parecia suficiente. As palavras que lhe vinham à mente pareciam vazias, incapazes de preencher o abismo que havia se formado entre eles. Cada segundo que passava sem uma resposta ou reação
de Taís o deixava mais ansioso, mais desesperado por alguma fagulha de conexão. Ele se levantou lentamente da cama e foi até a janela do quarto; o cenário da cidade lá fora parecia tão distante da realidade que ele agora enfrentava. Carros passavam rapidamente pelas ruas, pessoas caminhavam apressadas com seus próprios problemas, enquanto ali, naquele quarto silencioso, tudo parava no tempo. Daniel fechou os olhos por um momento, tentando organizar os pensamentos. — Taís — ele disse, com a voz suave, mas firme, tentando encontrar um ponto de conexão —, eu sei que passamos por muita coisa e eu
sei que não é fácil, mas por favor, me diga o que aconteceu. Eu estou aqui agora; me deixe te ajudar. Ela levantou o olhar lentamente, mas não para ele. Parecia olhar além dele, como se estivesse encarando um ponto invisível no ar, perdida em suas lembranças. Daniel podia ver que havia uma batalha interna sendo travada dentro dela; a maneira como seus olhos se estreitavam e seus lábios tremiam deixava claro que falar sobre o que aconteceu era doloroso demais. Mas ele precisava tentar de qualquer forma, sabia que, para ela se recuperar, era essencial enfrentar os fantasmas que
haviam levado até aquele ponto. — Você não vai entender — Daniel disse, ela finalmente, com a voz fraca, quase como um sussurro — a vida é a vida; não é só sobre dinheiro, sucesso e essas coisas que você sempre buscou. Tem coisas que te quebram por dentro e, quando você menos percebe, você já está destruída. Eu... eu perdi tudo. Ele sentiu um aperto no coração ao ouvir aquelas palavras. Taís, a mulher que sempre teve uma visão tão clara sobre o que era importante na vida, estava agora ali falando sobre perdas que iam além do material.
Daniel sabia que o problema dela não era algo que ele pudesse consertar com dinheiro ou um gesto generoso; o que havia despedaçado ia muito mais fundo do que ele conseguia entender. — Eu nunca quis que você passasse por isso, nunca quis que fosse assim — disse ele, virando-se para encará-la. — Eu sei que nossas vidas seguiram rumos diferentes, mas é porque você nunca me procurou. Eu teria ajudado, Taís, não importa o que tenha acontecido. Ela sorriu tristemente, um sorriso que não chegava a seus olhos. — Por Daniel, eu sabia que, se eu te procurasse, você
me veria assim. Eu sabia que você não entenderia. Eu não queria ser uma vergonha para você. Daniel sentiu como se uma faca tivesse sido cravada em seu peito. Uma vergonha... a mulher que ele admirava mais do que qualquer outra pensava que era uma vergonha para ele. Como ele poderia ter deixado as coisas chegarem a esse ponto? Como ele não viu, não percebeu que ela estava desmoronando enquanto ele estava imerso em seus negócios e sucesso? — Você nunca foi e nunca será uma vergonha para mim, Taís — disse ele com firmeza. — Você foi uma das
poucas pessoas que realmente me conheceu, uma das poucas que sempre acreditou em mim, mesmo quando ninguém mais acreditava. Eu nunca deixaria você sozinha. Ela fechou os olhos por um momento, como se quisesse bloquear aquelas palavras, talvez por não acreditar nelas ou talvez porque não queria enfrentar a realidade que ele estava apresentando. — Mas eu estava sozinha, Daniel, quando tudo desabou e eu não tinha ninguém. Aquelas palavras ficaram ecoando na mente de Daniel. Ele... que Taís sentiu o abandono. Ele poderia ter feito algo. Sua mente voltou à época em que estavam juntos; eles eram jovens apaixonados
e tudo parecia possível. Taís sempre dizia que ele estava se afastando emocionalmente conforme sua carreira avançava, mas ele nunca deu a devida atenção a essas palavras; ele sempre pensou que, eventualmente, eles se entenderiam, que suas ambições diferentes eram apenas fases da vida que passariam. — Eu deveria ter estado lá para você — admitiu ele, sentindo a culpa pesando mais do que nunca. — Eu errei, Taís. Eu te deixei ir e, quando as coisas ficaram difíceis, eu nem sabia o que estava acontecendo com você. Mas agora eu estou aqui. Eu não posso mudar o passado, mas
posso te ajudar agora. Ela suspirou e olhou pela janela, a expressão cansada. — Eu não sei se posso ser ajudada, Daniel. Eu perdi muito; não só materialmente, mas é... perdi a mim mesma. O mundo que eu conhecia desmoronou e eu fiquei sozinha, tentando juntar os pedaços. Só que os pedaços não cabem mais. Daniel deu alguns passos em direção a ela e se ajoelhou ao seu lado, tentando mostrar que estava disposto a tudo para ajudá-la a reconstruir sua vida. — Taís, por favor, você ainda está aqui e isso é o mais importante. Nós podemos encontrar uma
maneira. Eu vou estar do seu lado, não importa o que aconteça. Ela olhou e, pela primeira vez naquele dia, seus olhos pareciam menos vazios, como se uma pequena parte dela estivesse finalmente ouvindo o que ele dizia, mas ainda havia uma barreira, uma dor profunda que não desapareceria tão facilmente. — Você sempre foi bom com palavras, Daniel — ela murmurou. — Mas isso não resolve tudo. Não sei se posso voltar a ser quem eu era, nem sei se quero. Aquela confissão atingiu Daniel em cheio. Ele percebeu que não estava apenas lidando com alguém que perdeu tudo,
mas com uma mulher que, de alguma forma, perdeu a vontade de se encontrar. A vida havia sido cruel com Taís e... Por mais que ele tentasse, sabia que a recuperação seria longa, dolorosa e incerta. Mesmo assim, ele não desistiria. — Eu não estou aqui para te forçar a voltar a ser quem você era — disse ele, sua voz cheia de sinceridade —, mas estou aqui para te apoiar enquanto você encontra uma nova maneira de viver a vida. Pode não ser como antes, mas isso não significa que você está sozinha, não enquanto eu estiver aqui. Thí
olhou para ele e, por um breve momento, Daniel viu um vislumbre da mulher forte que ela costumava ser. Ela não respondeu de imediato, mas seus olhos pareciam reconhecer a sinceridade dele. Ela sabia que, de alguma forma, precisaria confiar nele novamente, mesmo que fosse apenas uma pequena esperança em meio ao caos. E assim, naquele quarto de hotel silencioso, algo começou a mudar. Ainda havia muita dor, muitas feridas a serem curadas, mas, pela primeira vez em muito tempo, Thaís sentiu que talvez houvesse uma saída, mesmo que fosse distante. Daniel, decidido a não deixá-la cair novamente, prometeu a
si mesmo que faria o que fosse preciso para ajudá-la a encontrar essa saída. Por mais difícil que fosse, ele não desistiria dela. Daniel estava sentado à mesa do quarto de hotel, observando Thí com cuidado. Ela parecia exausta, tanto física quanto emocionalmente, mas havia um leve brilho em seus olhos que ele não via desde o momento em que a encontrara na rua. Não era muito, mas era o suficiente para reascender sua esperança de que ela poderia se reerguer, de que ainda havia uma chance para ela retomar o controle de sua vida. Mesmo assim, ele sabia que
aquele caminho seria longo, cheio de altos e baixos, e não poderia deixá-la enfrentar isso sozinha. Enquanto o serviço de quarto entregava a refeição que ele havia pedido, Daniel tentou organizar os pensamentos. Sabia que não bastava apenas alimentá-la e oferecer um banho; Taí precisava de muito mais do que conforto imediato. Ela precisava de ajuda de verdade, uma intervenção que pudesse fazer diferença em sua vida a longo prazo. Ele ainda não sabia exatamente como fazer isso, mas tinha certeza de que não iria deixá-la sozinha novamente. Taí se sentou à mesa lentamente, ainda envolta no roupão macio. Sua
postura revelava cansaço, mas também uma certa relutância em aceitar a ajuda que Daniel oferecia. Ela nunca gostou de depender de ninguém e, ele sabia que aquela situação era um golpe duro em seu orgulho. Ainda assim, ela não recusou a refeição que ele havia pedido, comeu devagar, mastigando cada pedaço como se estivesse se forçando a continuar. Daniel observava em silêncio, respeitando seu espaço, sem pressioná-la. Depois de alguns minutos, Taí quebrou o silêncio. — Eu não sei o que fazer agora, Daniel — sua voz estava baixa, quase um murmúrio, e ela não ergueu os olhos da comida.
— Não tenho para onde ir, nem sei por onde começar. A confissão direta dela o abalou. Taí sempre foi uma mulher de ação, alguém que resolvia as coisas por conta própria. Agora, ela estava ali, desmoronada, sem saber o que fazer. Ele percebeu que ela estava no fundo do poço, e aquilo tocou profundamente. Não podia esperar que ela resolvesse tudo sozinha. — Você não precisa decidir tudo agora — disse ele, escolhendo as palavras com cuidado. — Vamos resolver isso juntos. O importante é que você não está mais nas ruas. Podemos dar um passo de cada vez,
sem pressa. Taís levantou os olhos para ele e, pela primeira vez desde que se reencontraram, ele sentiu uma abertura, uma fração de vulnerabilidade que ela deixava transparecer. Havia dor e incerteza, mas também uma leve aceitação de que talvez ele pudesse ser o apoio que ela tanto precisava. Daniel não pensou duas vezes; sabia que não poderia deixá-la partir novamente para a solidão e miséria das ruas. Tomou uma decisão impulsiva, mas para ele era a única escolha possível. — Taí, venha morar comigo, pelo menos por um tempo — ele disse com determinação em sua voz. — Você
precisa de um lugar seguro para ficar e se recuperar. Eu posso te oferecer isso, sem esperar nada em troca. Thí o encarou, surpresa. Seu rosto demonstrava choque e hesitação ao mesmo tempo. Era claro que ela não esperava essa oferta. A ideia de depender de alguém, especialmente de Daniel, mexia com suas inseguranças. Ela parecia prestes a recusar, mas ele interrompeu qualquer protesto antes que ela pudesse falar. — Não estou sugerindo isso por pena ou por algum tipo de caridade — continuou Daniel. — Estou sugerindo porque eu me importo. Por mais que nossas vidas tenham tomado caminhos
diferentes, você ainda é importante para mim e eu não posso te deixar assim. Taí desviou o olhar, claramente desconfortável com a situação. — Eu não posso morar com você, Daniel. Não posso ser um fardo. — Você não é um fardo — ele disse com firmeza. — Não quero que pense assim. Todo mundo precisa de ajuda em algum momento da vida; até eu precisei. Você só está passando por um momento difícil, e eu quero estar ao seu lado para te ajudar a se reerguer. Não tem nada de errado nisso. Ela ficou em silêncio, absorvendo as palavras
dele. Thí parecia estar lutando internamente, tentando decidir entre aceitar a oferta de Daniel ou seguir seu instinto de independência, que a havia guiado por tantos anos, mas que naquele momento não a estava ajudando. Depois de alguns minutos de tensão, ela finalmente respondeu, ainda com a voz hesitante. — Eu não sei se posso fazer isso, Daniel. Aceitar a sua ajuda é... é difícil para mim. Eu sempre tentei resolver tudo sozinha. — Eu sei que é — ele respondeu suavemente. — Mas talvez seja hora de deixar alguém te ajudar, pelo menos por agora. Não estou pedindo para
você abrir mão da sua independência, mas só para aceitar apoio, só até você estar bem de novo. Taís olhou para ele com olhos cheios de dúvidas, mas também com um brilho de esperança. Havia uma... Uma pequena parte dela queria acreditar que ele estava certo, que aceitar ajuda não era sinal de fraqueza, mas sim uma chance de se reerguer. Ela sabia que não poderia continuar vivendo nas ruas, naquela situação desesperadora. Com um suspiro profundo, ela finalmente cedeu: "Tudo bem, Daniel, eu aceito, mas é só por um tempo." Daniel sentiu uma onda de alívio percorrer seu corpo.
Sabia que essa decisão não havia sido fácil para ela, mas era um passo importante. Ele sorriu, mantendo-se sem exagerar na comemoração, respeitando o espaço dela por um tempo. "Quanto você precisar", disse ele, confirmando que essa era uma escolha dela, sem nenhuma pressão. Thí abaixou a cabeça, pensativa, enquanto terminava sua refeição em silêncio. Daniel a observava com carinho, sabendo que o caminho à frente ainda seria complicado, mas que, pelo menos agora, havia uma pequena esperança de que as coisas pudessem melhorar. Ele sabia que ela não se recuperaria da noite para o dia e que as feridas
que carregava iam além do que ele podia ver. No entanto, só o fato de ela ter aceitado a ajuda era um avanço que ele jamais imaginaria horas atrás, quando a viu sentada na calçada. Ele se levantou e se aproximou dela, colocando a mão gentilmente em seu ombro: "Eu vou cuidar de tudo. Amanhã cedo a gente pode ir para minha casa. Você vai ter seu espaço, a cidade e o tempo que precisar, e eu estarei lá ao seu lado." Thí sentiu lentamente, ainda incerta, mas com uma pequena chama de esperança reacendendo em seu coração. Ela sabia
que não seria fácil, mas talvez, só talvez, essa fosse a primeira oportunidade real que teve em muito tempo de recomeçar. E, pela primeira vez em muito tempo, ela deixou-se acreditar que merecia essa chance. Na manhã seguinte, Daniel acordou cedo. Estava nervoso, ansioso, mas acima de tudo, determinado. Tinha passado grande parte da noite em claro, pensando na situação de Taís, em como sua vida tinha tomado um rumo tão inesperado, e em como ele agora fazia parte dessa nova trajetória. Não podia mudar o passado, mas estava decidido a ajudá-la a reconstruir o futuro. Ao se levantar, Daniel
olhou para o outro lado do quarto, onde Taís ainda dormia profundamente. Ela parecia tão frágil, envolta no cobertor branco e limpo do hotel. Era difícil associar aquela imagem à mulher vibrante que ele conhecera há anos. Durante todo o relacionamento, ela sempre fora a pessoa que irradiava uma força natural, alguém que ele acreditava que jamais seria derrotada pelas dificuldades da vida. Mas ali estava ela, despedaçada por circunstâncias que ele ainda não entendia por completo. Sabia que Taís estava lutando contra algo muito maior do que ele podia ver. A noite anterior havia sido difícil. Depois de finalmente
aceitar a proposta de Daniel para ficar em sua casa, Taís praticamente se fechou; eles mal trocaram palavras. A vulnerabilidade que ela havia mostrado antes foi rapidamente encoberta por um silêncio denso, quase palpável. Era como se, ao aceitar ajuda, ela também estivesse aceitando o peso de sua própria fragilidade, e isso a deixava desconfortável, quase retraída. Daniel decidiu não forçar mais conversas. Ele sabia que, naquele momento, Taís precisava de tempo para processar tudo o que estava acontecendo. Ela precisava encontrar suas próprias respostas antes de se abrir novamente, e ele estava disposto a esperar o tempo que fosse
necessário. Enquanto Taís dormia, Daniel tomou o telefone e organizou tudo para a mudança, pediu para que seus funcionários em casa preparassem o quarto de hóspedes o mais confortável possível, sem muitos detalhes que pudessem incomodá-la. Queria que ela tivesse um espaço acolhedor, mas não sufocante. Sabia que, mais do que nunca, Taís precisava de privacidade, acima de tudo, de respeito. Ele instruiu a equipe a ser discreta, sem fazer perguntas ou comentários. Thí precisava se sentir segura e em paz. Depois de resolver esses detalhes, Daniel pediu café da manhã para ambos. Ele se certificou de que fosse algo
leve, sabendo que ela provavelmente ainda estava fraca. Quando o serviço de quarto chegou, o cheiro de café fresco e pães recém-assados começou a preencher o ar. Ele se aproximou da cama e tocou levemente no ombro de Taís, chamando-a: "Thí, o café da manhã está aqui! Você deve estar com fome." Ela se mexeu lentamente, seus olhos piscando contra a luz que entrava pela janela. O cansaço ainda estava evidente em seu rosto, mas algo nela parecia um pouco mais presente. Taís olhou para Daniel sem dizer nada, apenas assentiu levemente e começou a se levantar. Ele observou com
cuidado, preocupado com a maneira lenta e hesitante com que ela se movia. Ainda havia uma resistência visível nela, como se aceitar aquele simples gesto de cuidado fosse um desafio. Eles sentaram à mesa, frente a frente, e o silêncio entre eles era novamente quase esmagador. Taís mexia no prato, mas parecia distraída, perdida em pensamentos. Daniel não sabia como quebrar aquela barreira que parecia cada vez mais alta. Por um lado, ele não queria pressioná-la, mas, por outro, a sensação de impotência o deixava inquieto. Ele não era do tipo que gostava de ficar parado quando via alguém em
necessidade, especialmente quando se tratava de Taís. Enquanto o silêncio se prolongava, Daniel decidiu tentar mais uma vez. Sabia que precisava ser cuidadoso, mas também não podia ignorar o fato de que, para ela, começar a se recuperar era essencial que falasse sobre o que havia acontecido. "Taís," ele começou, escolhendo as palavras com cautela, "eu sei que você não quer falar sobre o que aconteceu, e eu entendo isso, mas eu quero que você saiba que estou aqui para te ouvir. Seja o que for, estou aqui, sem julgamentos." Ela parou de mexer no garfo e levantou os olhos
lentamente, olhando para ele com uma expressão que misturava cansaço e descrença. Por um momento, Daniel achou que ela responderia, que finalmente se abriria. Mas, em vez disso, Thí desviou o olhar. E voltou a focar na comida. A dor no peito de Daniel aumentou. Ele sabia que a confiança dela ainda estava abalada. Mas aquela resposta silenciosa foi como um soco no estômago. "Eu só quero te ajudar", disse ele, a voz mais baixa, quase um sussurro. "Não precisa ser agora, mas quando você estiver pronta, eu estarei aqui." Thaís finalmente respondeu, mas suas palavras foram frias, distantes. "Eu
sei que você quer ajudar, Daniel. Mas nem tudo pode ser consertado." Aquelas palavras pairaram no ar, pesadas, cheias de significados ocultos que ele ainda não compreendia. Daniel tentou processar o que ela queria dizer, mas sabia que naquele momento Thaís não estava disposta a explicar. Ele teria que esperar, o que quer que estivesse assombrando-a era algo que ela ainda não conseguia verbalizar, e isso o preocupava profundamente. Depois do café da manhã, eles se prepararam para deixar o hotel. Dani organizou um carro para levá-los até sua casa. O caminho foi igualmente silencioso, com Thaís olhando pela janela,
absorvida em seus próprios pensamentos. Daniel respeitou o silêncio, por mais desconfortável que fosse. Ele sabia que precisaria de paciência e que não poderia forçar nada. Thaís estava com ele agora, e isso já era um avanço significativo, por menor que fosse. Chegaram à casa de Daniel no meio da manhã. Era uma mansão moderna, com grandes janelas de vidro, cercada por jardins perfeitamente cuidados. Thaís parecia deslocada ao entrar; ela sempre havia sido avessa a grandes demonstrações de riqueza, e Daniel sabia que sua casa poderia representar para ela um contraste doloroso com a realidade que vivia nas ruas.
Mesmo assim, ela entrou em silêncio, seguindo Daniel pelos corredores até o quarto que ele havia preparado para ela. "Esse é o seu quarto", disse ele, abrindo a porta com um gesto gentil. "Você tem privacidade aqui. Ninguém vai incomodar você." Thaís entrou lentamente no cômodo, observando o espaço com um olhar distante. Era um quarto simples, porém elegante, decorado com tons suaves. Havia uma cama grande e confortável, um armário espaçoso e uma janela que dava para o jardim. Ela sentiu levemente, mas não disse nada. Daniel ficou parado na porta, esperando que ela falasse, mas o silêncio dela
era impenetrável. "Se precisar de qualquer coisa, eu estarei aqui", disse ele, tentando soar o mais acolhedor possível. "Sinta-se à vontade, Thaís." Ela apenas murmurou algo ininteligível em resposta e sentou-se na cama, as mãos repousando em seu colo. Daniel observou por um momento, sentindo-se impotente. Ele queria que ela soubesse que estava ao seu lado, mas sabia que, no fim, ela precisaria tomar a decisão de confiar nele por conta própria. Sem saber mais o que fazer, Daniel deu um último olhar para ela antes de sair do quarto, fechando a porta suavemente atrás de si. Ele sabia que
a jornada de recuperação seria longa e que, por mais que quisesse, não poderia apressá-la. O silêncio de Thaís era uma barreira que ele ainda não sabia como quebrar, mas não desistiria. Enquanto caminhava pelos corredores da casa, Daniel se pegou pensando em como poderia ser útil sem invadir o espaço de Thaís. Sabia que precisaria de paciência e sensibilidade. Ela não era mais a mulher que ele conhecera, e ele precisava entender isso. Thaís havia mudado, e agora ele precisava encontrar uma nova maneira de se conectar com ela, respeitando suas feridas e oferecendo o apoio que ela merecia.
Assim, mais uma vez, o silêncio se instalou, desta vez no coração de Daniel também. Os dias começaram a passar de forma lenta e silenciosa na casa de Daniel. Thaís, ainda envolta em seu próprio mundo, raramente falava e passava boa parte do tempo trancada no quarto, saindo apenas para comer ou caminhar pelo jardim. Daniel respeitava seu espaço, tentando dar-lhe a privacidade que ela tanto parecia precisar. Mas enquanto ele observava à distância, memórias de seu relacionamento começavam a invadir sua mente com uma força inesperada. Nos primeiros dias, Daniel se viu repassando momentos que vivera com Thaís. Lembranças
que ele havia enterrado no fundo de sua memória começaram a emergir: momentos felizes e tristes, mas acima de tudo, cheios de uma intensidade que ele não experimentara com mais ninguém. Desde então, ele se perguntava como tinham chegado a esse ponto, como ela, a mulher que um dia iluminou sua vida com tanta alegria, agora estava vivendo nas sombras de sua própria existência. Daniel se lembrava de quando conheceu Thaís na universidade. Eles tinham sonhos muito diferentes, mas uma paixão em comum que os conectava de uma maneira inexplicável. Ele queria conquistar o mundo, alcançar o topo, construir um
império. Thaís, por outro lado, sonhava em mudar o mundo de uma forma mais humana, mais próxima das pessoas. Ela sempre falava em justiça social, em ajudar os mais necessitados. Seus olhos brilhavam quando falava sobre os projetos de impacto social que queria implementar. Daniel admirava aquilo nela, mesmo que soubesse, no fundo, que seus caminhos estavam destinados a se separar. Eles eram diferentes, e talvez fosse exatamente essa diferença que os atraía tanto. Thaís trazia leveza à vida de Daniel, uma perspectiva que ele não tinha. Com ela, ele conseguia ver além dos números, além do sucesso financeiro. Ela
o fazia enxergar as pessoas, suas histórias, suas lutas. Havia uma doçura nela que equilibrava sua ambição feroz. Lembrou-se das noites em que eles passavam juntos, deitados na cama, conversando sobre o futuro. Thaís falava sobre abrir uma ONG, sobre como queria dedicar sua vida a causas nobres, e Daniel, por mais que não entendesse completamente essa escolha, admirava a paixão com que ela falava. Ele, por outro lado, compartilhava com ela seus planos de dominar o mercado, de construir um império empresarial que pudesse deixá-lo no topo. Thaís sempre ouvia com atenção, mas também o questionava, desafiando suas ideias
com uma visão mais empática do mundo. Foi essa diferença de visão que, aos poucos, começou a afastá-los à medida que Daniel se dedicava cada vez mais à sua carreira. Thaís sentia-se cada vez... Mas, desconectada daquele universo, ela não se importava com o luxo, com os jantares de negócios, com o ritmo frenético que ele seguia. E Daniel, imerso em sua busca pelo sucesso, não percebeu o quanto ela estava se distanciando, até que fosse tarde demais. Lembrou-se da última briga que tiveram, uma discussão acalorada sobre o que cada um queria para o futuro. Thí o acusara de
estar se tornando obcecado pelo poder, pelo dinheiro, e de estar se afastando daquilo que realmente importava. Ela lhe disse que não queria viver uma vida onde o sucesso financeiro era a única medida de felicidade. Daniel, por sua vez, não conseguia entender por que ela não valorizava o que ele estava construindo. A discussão terminou com ambos magoados e distantes, e pouco tempo depois decidiram que era melhor seguir caminhos separados. Nos primeiros meses após o término, Daniel mergulhou ainda mais no trabalho. Ele achava que o tempo curaria as feridas, que o sucesso profissional preencheria o vazio que
Thí havia deixado, e de certa forma, conseguiu. Ele construiu seu império, alcançou tudo que sonhava, mas de tempos em tempos, o pensamento de Thí surgia como uma sombra, lembrando-o de que havia algo mais na vida do que números e contratos. Agora, ela estava ali, na casa dele, de uma maneira que ele nunca poderia ter imaginado. Thaís, tão forte e determinada, estava quebrada, despedaçada por algo que ele ainda não entendia. Daniel sentia-se impotente, sem saber como ajudar, como alcançar a mulher que ele um dia conheceu. Em uma das noites, enquanto observava o céu escuro pela janela
de seu quarto, Daniel se lembrou de um momento específico que marcou o início do fim de seu relacionamento com Thí. Eles estavam em uma viagem a um resort de luxo que ele havia organizado para fechar um grande negócio. Era um ambiente deslumbrante, com tudo que o dinheiro podia comprar, mas Thaís parecia deslocada. Naquela noite, sentados na varanda do quarto de hotel, ela lhe dissera que aquilo não era o que ela queria da vida. "Eu não quero ser parte de um mundo onde as pessoas vivem em bolhas distantes da realidade das outras," ela dissera, com uma
franqueza que ele nunca esqueceu. "Eu te amo, Daniel, mas sinto que estamos nos perdendo. Você está cada vez mais mergulhado nesse mundo de aparências, e eu não quero isso para mim." Naquele momento, Daniel a encarou, sem entender completamente o que ela queria dizer. O sucesso que estava construindo era a combinação de anos de esforço, e ele queria que ela fizesse parte disso. Mas Thaís via as coisas de uma forma diferente; ela não se importava com o que ele podia proporcionar materialmente. Ela queria algo mais significativo, algo que ele, na época, não conseguia compreender. Agora, anos
depois, Daniel finalmente começava a entender o que Thí tentava lhe dizer naquela noite: o mundo em que ele estava imerso era vazio para ela, e isso foi o que os separou. E o que mais o atormentava era o fato de que, de certa forma, ele tinha contribuído para o isolamento que ela sentia. Talvez se tivesse dado mais ao que Thí queria, se tivesse escutado com mais cuidado, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas agora não era o momento para arrependimentos e, sim, para ação. Thais estava ali em sua casa, e ele tinha uma nova oportunidade
de ajudá-la a encontrar o caminho de volta para si mesma. Ela não era mais a mesma mulher que ele conhecera, mas no fundo ele sabia que ainda havia algo dela ali. A chama da Thí que ele amava ainda estava viva, por menor que fosse, e ele estava disposto a fazer o que fosse preciso para ajudá-la a reacender essa chama. Certa tarde, enquanto passeava pelo jardim da casa, Daniel avistou Thaís sentada sozinha em um banco, de frente para as flores. Ela estava com o rosto relaxado, mas havia uma profunda tristeza em seu olhar. Ele decidiu se
aproximar com cautela, sentando-se ao lado dela sem dizer nada. Apenas sua presença parecia trazer um leve conforto, e o silêncio entre eles era menos denso do que antes. Depois de alguns minutos, Thaís quebrou o silêncio: "Você alguma vez já se arrependeu de alguma coisa?" Daniel perguntou, ela com a voz suave, mas carregada de algo que ele não conseguia identificar completamente. Daniel ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre a pergunta. Ele tinha muitos arrependimentos, mas nenhum era maior do que ter perdido Thaís. E naquele momento, ele soube que precisava ser honesto. "Sim," respondeu, olhando diretamente
para ela. "Eu me arrependo de ter te perdido, de não ter te ouvido quando você tentava me mostrar que o que eu achava ser importante não era tudo." Thaís não respondeu de imediato; ela apenas assentiu levemente, como se estivesse processando as palavras dele. Havia muito a ser dito ainda, muitas feridas que precisavam ser curadas, mas naquele momento, Daniel sentiu que havia dado o primeiro passo, o primeiro de muitos para tentar reconectar-se com Thaís, a mulher que ele nunca deixou de amar, mesmo que tivesse percebido isso tarde demais. E naquele momento de silêncio compartilhado, ele soube
que, de alguma forma, ainda havia esperança. O silêncio no jardim era profundo, quase reconfortante. Thí e Daniel permaneceram lado a lado no banco, com o vento suave balançando levemente as folhas das árvores ao redor. O som dos pássaros cantando e das flores se movendo ao sabor do vento criava uma sensação de paz, mas ao mesmo tempo era como se um peso invisível pairasse sobre eles. Daniel sabia que Thí estava travando uma batalha interna, e ele ainda não sabia como alcançar a verdadeira raiz daquela dor. Thaís, após ouvir as palavras de arrependimento de Daniel, pareceu se
fechar novamente. Ela desviou o olhar para o horizonte, os olhos fixos em algum ponto distante. Havia muito que ela carregava dentro de si, mas parecia relutante em compartilhar. Para ela, falar... De sua dor, de suas perdas, era expor uma vulnerabilidade que sempre evitou. Daniel queria quebrar o silêncio que os separava; queria que Thaís soubesse que ele estava ali, pronto para ouvi-la, pronto para ajudar, mas não sabia como encontrar o momento. CTO temia pressioná-la, temia que ao tentar se aproximar, ela se retraísse ainda mais. Ele respirou fundo, sentindo o ar fresco do jardim, e decidiu dar
o primeiro passo. Novamente, Thaís começou: “Eu...”. A voz calma: “Eu não sei o que aconteceu com você nos últimos anos, e sei que para você deve ser difícil falar sobre isso, mas por favor, entenda que você não precisa carregar tudo sozinha, não agora.” Ela continuou, olhando para o horizonte, como se suas palavras não a atingissem. Por um momento, Daniel pensou que ela permaneceria em silêncio, como tantas outras vezes, mas inesperadamente ela falou: “Você diz que quer me ajudar, Daniel, mas eu não sei se existe ajuda para o que aconteceu comigo”, disse ela com uma tristeza
profunda na voz. “Às vezes sinto que o que perdi é irreparável.” Daniel inclinou-se um pouco, tentando enxergar o rosto dela. “O que você perdeu, Thaís? O que aconteceu?” Ela fechou os olhos por um breve momento, como se precisasse reunir forças para continuar: “Eu perdi tudo, Daniel. Tudo o que era importante para mim: minha família, meus amigos, meu propósito; tudo desmoronou de uma vez só, e eu... eu não consegui me segurar. Foi como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés.” Essas palavras atingiram Daniel como um soco. Thaís sempre fora tão forte, tão determinada. A ideia
de que ela havia perdido tudo, de que estava sozinha no mundo, era difícil de processar. Ele se perguntava como não soube de nada disso antes. Como ela conseguiu desaparecer de sua vida e enfrentar uma destruição tão completa sem que ele soubesse? “Mas como?” perguntou ele, tentando entender o que aconteceu exatamente. “Você estava tão bem quando nos separamos. Eu nunca imaginei que sua vida pudesse tomar esse rumo.” Thaís suspirou, claramente lutando com as emoções que a tomavam. “Quando nos separamos, eu segui meu caminho, tentando fazer o que eu sempre quis. Abri a H de que tanto
falava, comecei a trabalhar com pessoas em situações de vulnerabilidade. Era o que eu sonhava fazer, mas a vida tem uma maneira cruel de testar nossas forças.” Ela parou, olhando para o céu por um momento, como se precisasse de coragem para continuar. Daniel sentiu a dor nas palavras dela, e o peso de cada uma parecia afundá-lo ainda mais na tristeza dela. “Minha mãe adoeceu logo depois”, continuou Thaís. “Câncer. Foi rápido, brutal. Eu larguei tudo para cuidar dela. Tentei fazer o que pude, mas nada adiantou. Ela se foi, e com ela eu senti que parte de mim
também foi. Meu pai... ele nunca se recuperou. Afundou na depressão alguns meses depois, e ele tirou a própria vida.” Aqueles palavras ecoaram no ar, e Daniel sentiu uma dor aguda no peito. Nunca soubera sobre o que havia acontecido com os pais de Thaís. Não sabia que ela havia passado por tanto sofrimento. Sentiu-se impotente, como se tivesse falhado em algum momento por não estar presente. Thaís continuou, a voz agora carregada de uma tristeza profunda que parecia dominar cada palavra: “Depois disso, foi como se tudo desmoronasse. Perdi o foco no trabalho, e as pessoas que dependiam de
mim também foram prejudicadas. Minha ONG faliu. Os poucos amigos que eu tinha se afastaram, alguns por causa das minhas próprias falhas, outros porque não sabiam como lidar com minha dor. Eu não tinha mais ninguém, e então acabei nas ruas.” Daniel não conseguia acreditar no que ouvia. Thaís, que sempre foi tão dedicada, tão cheia de vida e esperança, agora estava reduzida a isso. Ele sabia que a vida podia ser cruel, mas a rapidez com que tudo desmoronou para ela o deixou devastado. “Thaís...” ele começou, sem saber ao certo o que dizer. Ele queria encontrar as palavras
certas, mas não sabia como. “Eu sinto muito. Não posso imaginar o quanto você sofreu, o quanto foi difícil passar por tudo isso sozinha.” Ela balançou a cabeça lentamente, como se suas palavras não a alcançassem completamente. “Não há nada que você possa fazer para mudar o que aconteceu, Daniel. O que está feito, está feito.” “Talvez não possamos mudar o que aconteceu”, disse ele, a voz cheia de emoção, “mas podemos mudar o que vem a seguir. Você não precisa continuar sozinha, Thaís. Eu sei que é difícil acreditar, mas eu quero estar aqui para você. Não vou deixar
que você passe por isso sozinha outra vez.” Ela virou o rosto para ele, os olhos cheios de lágrimas que ela lutava para segurar. “Eu não sei se posso ser consertada, Daniel. Não sei se existe um jeito de voltar a ser quem eu era.” Daniel sentiu um aperto no coração ao ouvir aquilo. Ele entendia, de alguma forma, o que ela estava dizendo. Sabia que o trauma que ela enfrentara havia mudado quem ela era, e talvez ela nunca fosse exatamente a mesma mulher que ele conheceu, mas isso não significava que ela não poderia se curar. Não significava
que não houvesse esperança. “Eu não estou pedindo para você voltar a ser quem era antes”, disse ele suavemente, tentando alcançá-la. “Eu só quero que você se permita recomeçar. Seja lá quem você vai se tornar depois disso, eu quero estar ao seu lado.” Thaís abaixou a cabeça, e uma lágrima finalmente escorreu por seu rosto. Ela parecia hesitante, mas ao mesmo tempo era como se uma pequena parte dela quisesse acreditar nas palavras de Daniel. Ele estendeu a mão e segurou a dela levemente. Thaís não recuou, mas também não apertou a mão dele. Era um gesto sutil, mas
importante; era o primeiro passo. “Eu não sei se estou pronta para aceitar toda essa ajuda”, disse ela, a voz ainda trêmula, “mas talvez eu possa tentar.” Só, e não me pressione. Daniel assentiu, entendendo a delicadeza da situação. Eu não vou te pressionar, nós vamos no seu tempo, um dia de cada vez. Eles permaneceram sentados ali em silêncio, mas o silêncio agora não era pesado como antes. Havia algo de diferente, algo que parecia menos opressor. Taís finalmente começava a aceitar a mão que Daniel estendia, mesmo que de forma tímida e hesitante. Para ele, aquele era um
pequeno passo na direção certa, e ele estava disposto a caminhar ao lado dela, por mais longa que a jornada fosse. O pedido de ajuda de Taís não foi direto, não veio na forma de palavras claras, mas o simples fato de ela admitir que talvez precisasse de alguém, que talvez estivesse disposta a tentar, foi suficiente para Daniel. Naquele momento, ele soube que ainda havia esperança. A partir daquele dia, o caminho seria árduo, cheio de desafios, mas pela primeira vez em muito tempo, Daniel sentiu que havia um fio de conexão entre eles, e ele seguraria esse fio
com todas as suas forças até que Taís estivesse pronta para segurá-lo com ele. Nos dias que se seguiram ao momento no jardim, uma mudança sutil tomou conta da rotina de Thái e Daniel. Embora o silêncio ainda prevalecesse em muitos momentos, havia algo diferente no ar. Thái parecia, aos poucos, começar a aceitar a presença de Daniel ao seu lado, mesmo que fosse de forma hesitante. Com pequenos gestos, ela ainda passava muito tempo sozinha, mas agora, de vez em quando, surgia no jardim ou na sala de estar, sem parecer tão deslocada quanto antes. Daniel notava cada pequeno
sinal de progresso com um misto de esperança e cautela, sabendo que cada passo dado por ela era uma vitória, mas que o processo seria longo. Thái ainda não falava muito sobre o que havia acontecido, mas o simples fato de ela sair do quarto já era um sinal de que talvez estivesse disposta a tentar, mesmo que não soubesse ainda como. Uma tarde, Daniel a encontrou na cozinha. Ela estava parada em frente à janela, olhando para o jardim com uma xícara de chá nas mãos. O sol iluminava seus cabelos, e por um breve momento ele a viu
como antes, a mulher que, apesar de tudo, ainda era capaz de apreciar a beleza simples de um dia ensolarado. Ele se aproximou devagar, sem querer interromper o momento. — Bom dia — disse ele, suavemente. Thái olhou para ele por cima do ombro, com um pequeno sorriso quase imperceptível. — Bom dia — foi um simples cumprimento, mas o tom de sua voz era mais leve do que nos dias anteriores. Havia algo ali que Daniel não via há muito tempo, uma leveza que quase parecia perdida. Ele se sentou à mesa, observando-a por um momento, enquanto ela continuava
olhando pela janela. — Eu estava pensando em dar um passeio mais tarde — disse ele casualmente, como se fosse um convite sutil. — Talvez você queira me acompanhar. Thái hesitou por um momento, seu olhar ainda fixo no jardim. Daniel não sabia ao certo se ela aceitaria ou se recusaria, como havia feito tantas outras vezes, mas, para sua surpresa, ela assentiu lentamente. — Pode ser — respondeu, quase num sussurro. Daniel reprimiu o impulso de sorrir demais, temendo que qualquer excesso de entusiasmo pudesse fazê-la recuar. — Ótimo, podemos sair em algumas horas, se você quiser. Taís concordou
com um leve aceno de cabeça e voltou a contemplar o jardim. Daniel se levantou, deu-lhe espaço e saiu da cozinha. Aquilo era um progresso; por menor que fosse, era um passo na direção de algo mais, algo que ele esperava há semanas. Mais tarde, eles se prepararam para o passeio. Daniel escolheu um parque tranquilo, afastado do barulho e da confusão da cidade. Ele sabia que Thái precisava de calma, de um espaço onde pudesse se sentir à vontade, longe de olhares curiosos. A ideia de levar alguém tão vulnerável para um ambiente tumultuado incomodava profundamente; ele queria que
ela se sentisse segura. Quando chegaram ao parque, Thái olhou ao redor com um misto de curiosidade e nostalgia. O lugar era sereno, com trilhas arborizadas, bancos espalhados e flores coloridas. O som de água corrente de um pequeno riacho que cortava o parque tornava o ambiente ainda mais relaxante. Daniel a observou, tentando interpretar o que se passava em sua mente. Ela parecia à vontade, mas ainda havia um distanciamento; era como se ela estivesse ali, mas ao mesmo tempo presa em pensamentos que ele não podia alcançar. Eles começaram a caminhar lado a lado. O silêncio entre eles
era confortável; desta vez, nenhum dos dois sentia a necessidade de preencher o espaço com palavras, apenas o som das folhas balançando e dos pássaros cantando os acompanhava. Para Daniel, aquilo era um momento especial, a oportunidade de estar ao lado de Thái sem que o peso do passado fosse uma sombra constante entre eles. Em determinado momento, Thái parou perto de uma pequena ponte de madeira que atravessava o riacho. Ela se apoiou na grade da ponte, olhando a água fluir por entre as pedras lisas. Daniel parou ao lado dela em silêncio, sentindo que ela tinha algo a
dizer, mas sabendo que não podia apressar o momento. — Eu costumava vir a um lugar como este quando era mais nova — Thái disse, de repente, a voz distante, quase como se estivesse falando consigo mesma. — Me ajudava a clarear a mente, a pensar. Daniel ouviu com atenção, sentindo que aquela era uma janela para o passado dela que ele não conhecia completamente. — E o que você costumava pensar nesses momentos? — perguntou ele, com cuidado, para não interromper o fluxo de seus pensamentos. Ela sorriu de leve, mas não havia alegria no gesto. — Sonhava com
o futuro, com todas as coisas que eu queria fazer, as pessoas que eu queria ajudar. Sonhava com um mundo melhor, onde eu pudesse fazer alguma diferença. Daniel assentiu, reconhecendo a paixão que ela sempre teve em relação ao... Seu trabalho e seus ideais fizeram muita diferença, Taís, e você ainda pode fazer a diferença. Ela balançou a cabeça sem tirar os olhos da água. — Eu não sei mais, Daniel. Depois de tudo o que aconteceu, sinto que perdi meu caminho. Como posso ajudar os outros se nem consigo me ajudar? Aquela confissão tocou Daniel profundamente. Ele sabia que
Taís carregava uma enorme culpa por ter falhado. Ou, pelo menos, era assim que ela via a sua trajetória. Ele queria que ela entendesse que falhar faz parte da vida, que as quedas não significavam o fim, mas como dizer isso a alguém que passou por tanto sofrimento? — Você não falhou, Taís — disse ele suavemente, aproximando-se um pouco mais dela. — Você fez o melhor que pôde em circunstâncias impossíveis. Não é fraqueza precisar de ajuda ou se sentir perdida; todos nós passamos por momentos em que não sabemos o que fazer. Ela suspirou, ainda olhando para o
riacho. — Eu só... não sei mais quem sou, quem eu deveria ser. Daniel ficou em silêncio por um momento, escolhendo suas próximas palavras com cuidado. Ele sabia que qualquer coisa que dissesse precisaria ser genuína, ou ela se afastaria novamente. — Você é alguém que se importa com as pessoas, que tem um coração enorme. Isso não desapareceu, Taís. Está aí, mesmo que você não consiga ver agora. O que aconteceu com você não define quem você é; o que define é o que você faz daqui em diante. Taís virou-se para ele, e seus olhos estavam cheios de
lágrimas que ela se recusava a derramar. — E se eu não souber como continuar, Daniel? E se eu não conseguir encontrar esse caminho de volta? Daniel se aproximou, sem invadir seu espaço pessoal, mas o suficiente para que ela soubesse que ele estava ali, sem julgamento, sem pressão. — Você não precisa encontrar o caminho de volta sozinha. Eu estou aqui, e se você se perder de novo, vou estar ao seu lado, não importa quanto tempo leve. Por um momento, Taís ficou em silêncio, encarando-o, como se estivesse tentando decidir se podia confiar na promessa dele. Ela respirou
fundo, e Daniel viu que, mesmo lutando contra as próprias emoções, algo nela estava mudando. Não era uma transformação completa, mas era um passo, e ele sabia que, para ela, qualquer avanço era significativo. Finalmente, ela sentiu levemente como se estivesse aceitando o fato de que talvez não precisasse passar por aquilo sozinha. — Obrigada, Daniel — murmurou, com a voz fraca, mas sincera. — Eu não sei o que vai acontecer daqui para frente, mas obrigada por não desistir de mim. Daniel sentiu o coração se aquecer com aquelas palavras. Era a primeira vez que Taís realmente reconhecia a
presença dele de maneira tão significativa. Ele sabia que o caminho seria longo, mas aquela pequena vitória era tudo que ele precisava para continuar. — Eu nunca vou desistir de você — respondeu ele com firmeza. — Estamos juntos nessa, seja qual for o próximo passo. Eles continuaram a caminhada pelo parque, lado a lado, e, dessa vez, o silêncio entre eles era mais leve, menos carregado de dúvidas e medos. Havia ainda muitas cicatrizes a serem curadas, muitas questões a serem resolvidas, mas naquele momento, Taís sentiu que uma nova chance estava se abrindo para ambos. Ela estava começando
a acreditar novamente, não apenas em si mesma, mas na ideia de que havia um futuro e que ela poderia encontrá-lo, um passo de cada vez, e ele estaria lá com ela até o fim. Os dias continuaram passando lentamente, mas com uma diferença notável: Taís estava começando a se abrir aos poucos. O processo era lento e delicado, como andar sobre vidro quebrado; cada passo que ela dava era meticulosamente calculado, como se ainda temesse que, a qualquer momento, o mundo desmoronaria novamente. Daniel a observava com paciência e respeito, compreendendo que cada avanço, por menor que fosse, era
uma conquista. Taís ainda passava boa parte do tempo sozinha, mas agora aceitava os convites de Daniel para caminhadas e refeições juntos. As conversas eram ocasionais, sempre cuidadosas, mas começavam a se tornar mais profundas. Ele percebia que havia uma reserva em suas palavras, como se ela ainda estivesse processando tudo o que havia passado. Mas Daniel também sabia que forçar qualquer tipo de revelação seria contraproducente. Então, em uma manhã de céu nublado, algo mudou. Eles estavam na sala de estar. Daniel trabalhava em seu laptop, revisando alguns relatórios para uma reunião, enquanto Taís, sentada no sofá ao lado,
lia um livro. O som suave das páginas virando preenchia o espaço. De tempos em tempos, o silêncio confortável entre eles parecia indicar que as coisas estavam caminhando bem. Foi então que, sem aviso, Taís fechou o livro de repente e o colocou sobre a mesa de centro. O barulho inesperado fez Daniel erguer os olhos. — Daniel — começou, com a voz um pouco trêmula — precisamos conversar. O tom dela o pegou de surpresa. Ele havia esperado que Taís fosse se abrir aos poucos, mas algo em sua postura, na firmeza de suas palavras, indicava que aquele momento
havia chegado. Algo mais profundo estava prestes a ser revelado. Daniel fechou o laptop e o colocou de lado, virando-se para encará-la completamente. Seu coração bateu mais rápido com a antecipação do que estava por vir. — Claro — disse ele calmamente, embora sentisse uma leve tensão no ar. — Sobre o que você quer falar? Taís respirou fundo, como se estivesse reunindo toda a coragem que tinha. Ela olhou para as mãos que estavam entrelaçadas em seu colo e, por um longo momento, não disse nada. Quando finalmente falou, sua voz estava embargada, mas determinada. — Eu sei que
você quer me ajudar — começou, ainda evitando o olhar de Daniel — e eu sou grata por isso, mas há coisas que você não sabe, coisas que eu ainda não te contei. Daniel assentiu, tentando mostrar que estava presente e preparado para ouvir. Ele não tinha ideia do que ela estava prestes a dizer, mas sabia. Que era algo grande, algo que vinha pesando sobre ela há muito tempo. Eu já te contei sobre a morte da minha mãe e sobre meu pai – continuou ela, com a voz agora mais estável. Mas isso foi só parte do que
aconteceu, foi o começo da minha queda. Sim, mas havia mais. Ela fez uma pausa, como se estivesse avaliando se deveria ou não continuar, e Daniel esperou pacientemente, sabendo que qualquer palavra precipitada poderia fazer com que ela recuasse. – Eu tomei decisões erradas depois que perdi minha família – admitiu ela finalmente, erguendo os olhos para encontrar os dele. Havia dor, arrependimento e algo mais, algo que Daniel ainda não conseguia decifrar. – Eu me envolvi com as pessoas erradas, confiei em quem não deveria, e isso me custou tudo. Daniel franziu o senho, sentindo o estômago apertar. Ele
se inclinou um pouco à frente, sem perceber que estava aprendendo a respiração. – Como assim, Thaís? O que você quer dizer? Ela desviou o olhar novamente, as mãos ainda apertadas uma contra a outra. – Eu estava desesperada. Eu estava enfrentando problemas financeiros logo depois da morte dos meus pais. Eu precisava de fundos, precisava manter as coisas funcionando, porque era a única coisa que me restava, a única coisa que fazia sentido para mim. Daniel ficou em silêncio, esperando que ela continuasse. – Foi aí que eu conheci pessoas que me prometeram ajuda: investidores, pessoas que pareciam confiáveis.
No início, eles prometeram que financiariam os projetos da ONG, que tudo voltaria a funcionar, mas eu não li as letras miúdas. Eu estava cega pela necessidade de salvar o que restava do meu trabalho. Eu assinei contratos sem entender as consequências. Ela fez uma pausa, sua respiração ficando mais pesada. Daniel observava atentamente, tentando juntar as peças do que ela estava revelando. – Essas pessoas não estavam interessadas em ajudar – continuou Thaís, a voz agora mais amarga. – Eles estavam interessados em me usar, em tirar proveito da ONG para fazer lavagem de dinheiro. Eu não percebi na
época, mas eles me colocaram no meio de algo muito maior, muito mais sujo do que eu podia imaginar. Daniel ficou chocado com as palavras dela. Ele jamais imaginaria que Thaís, com toda sua integridade, pudesse ser apanhada em algo tão sombrio. Ela sempre foi tão cuidada, tão ética, mas agora ele começava a entender que o desespero havia levado Thaís a confiar em pessoas que, no fim, a destruíram. – E o que aconteceu depois? – perguntou ele suavemente, tentando não pressioná-la, mas sentindo a necessidade de saber mais. – Quando tudo veio à tona, eu fui a única
responsabilizada. Eles sumiram, desapareceram no ar e me deixaram sozinha para lidar com o caos. Fui acusada de desvio de fundos, de ser cúmplice de algo que eu nem sabia que estava acontecendo. As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela, mas Thaís não fez esforço para escondê-las. – Eu perdi tudo, Daniel. Minha reputação, meu trabalho, minha dignidade. Ninguém mais queria me ajudar. Eu era vista como uma criminosa, uma fraude. Daniel sentiu a raiva começar a borbulhar dentro de si, não contra Thaís, mas contra as pessoas que haviam se aproveitado dela em um momento de vulnerabilidade. Ele
sabia que ela não faria nada daquilo intencionalmente, sabia que ela fora manipulada, usada por aqueles que deveriam ajudá-la. – E você não conseguiu provar que foi enganada, que não estava envolvida nisso de propósito? – perguntou ele, tentando entender como a situação havia chegado a esse ponto. Thaís balançou a cabeça, frustrada. – Não havia provas suficientes. Eu era a cara da ONG, eu era responsável legal. Todos os documentos, todas as assinaturas estavam no meu nome. Eu fui ingênua, fui manipulada, mas a culpa recaiu toda sobre mim. E depois disso minha vida desmoronou. Perdi minha casa, fui
despejada e logo depois comecei a viver nas ruas. Daniel mal podia acreditar no que ouvia. Thaís, aquela mulher que ele conhecera como sendo tão íntegra, tão dedicada a causas nobres, havia sido arrastada para um abismo de corrupção sem sequer perceber. O sofrimento que ela carregava agora fazia todo sentido. Não era apenas o luto por seus pais ou o fracasso da ONG, era a vergonha, a injustiça de ter sido transformada em vilã por algo que estava fora de seu controle. Ele se levantou lentamente, aproximando-se de Thaís e, ajoelhando-se ao seu lado no sofá, colocou uma mão
gentilmente sobre as dela, que ainda tremiam levemente. – Thaís – disse ele, com a voz cheia de emoção –, eu sinto muito que você tenha passado por tudo isso, mas você precisa entender que nada disso foi culpa sua. Você foi vítima de pessoas cruéis e oportunistas. Isso não define quem você é. Ela olhou, as lágrimas ainda correndo pelo rosto, mas sem desviar o olhar. Dessa vez, havia uma dor profunda em seus olhos, mas também uma centelha de algo mais. Talvez uma pequena esperança de que as palavras de Daniel fossem verdade. – Mas como eu posso
superar isso, Daniel? Como posso seguir em frente sabendo que falhei em tudo o que acreditava? Daniel apertou levemente as mãos dela, mantendo o olhar firme. – Você não falhou, Thaís. Você foi traída, e o fato de você ter sobrevivido a tudo isso, o fato de ainda estar aqui, de pé, mostra o quanto você é forte. O que aconteceu não apaga o bem que você fez e não define quem você é. Podemos encontrar um caminho de volta juntos. Ela deixou escapar um soluço, as lágrimas finalmente transbordando com mais intensidade. Daniel a puxou para perto, abraçando-a suavemente,
enquanto ela cedia à dor que havia segurado por tanto tempo. Ele sabia que aquele momento era apenas o começo de uma longa jornada de cura, mas finalmente Thaís estava permitindo que ele ajudasse a carregar o peso de suas feridas. E enquanto ele a assegurava, sabia que, pela primeira vez, ela estava realmente pronta para começar a reerguer as partes despedaçadas de sua vida. Os dias que se seguiram à revelação de Thaís foram marcados por uma... Nova fase na vida dela e de Daniel. Havia agora uma abertura entre eles, um entendimento silencioso que os aproximava ainda mais.
Thaís estava disposta a aceitar que o peso que carregava era grande demais para suportar sozinha, e Daniel, por sua vez, estava determinado a ajudá-la de qualquer maneira que pudesse. Mas ao mesmo tempo ele sabia que seria necessária cautela. Thaís ainda estava vulnerável e qualquer pressão indevida poderia fazê-la recuar. Thaís começou a participar mais das rotinas da casa; ela se levantava cedo e tomava café da manhã com algo que, até pouco tempo atrás, parecia impensável. As conversas, ainda que breves, se tornaram mais frequentes e a presença dela na casa já não era mais de alguém que
estava apenas de passagem. Era como se ela, aos poucos, começasse a encontrar uma sensação de pertencimento, ainda que incerta. Mas para Daniel, algo ainda o incomodava profundamente. Ele sabia que Thaís não se sentia pronta para recomeçar sua vida sozinha. Ela ainda carregava o fardo de tudo que aconteceu: da amiga que perdeu, das pessoas que enganaram sua confiança, da reputação que foi destruída, e ele não podia ignorar o fato de que, mesmo que agora estivesse disposta a falar sobre seu passado, Thaís ainda precisava de algo mais. Ela precisava de um propósito, de algo que a fizesse
acreditar que poderia seguir em frente. Foi com esse pensamento que Daniel começou a formular uma ideia, algo que vinha martelando em sua mente desde o dia em que ela desabafou. Sabia que não seria fácil para ela aceitar, mas também sabia que Thaís era uma mulher de ação e que talvez o que ela precisasse fosse exatamente isso: uma nova missão. Certa manhã, enquanto tomavam café na varanda da casa, Daniel percebeu que aquele seria o momento ideal para colocar sua proposta em prática. Thaís estava sentada em silêncio, olhando para o jardim com um olhar distante, mas parecia
mais serena do que nas semanas anteriores. Daniel respirou fundo, preparou-se mentalmente e decidiu falar. — Thaís — ele começou, quebrando o silêncio — eu venho pensando muito sobre tudo o que você me contou, sobre o que aconteceu com a ONG e sobre como você se sente em relação a isso. Ela olhou de relance, curiosa, mas não respondeu de imediato. Estava acostumada com a abordagem calma e cuidadosa de Daniel, então aguardou que ele continuasse. — Eu sei o quanto aquilo significava para você — continuou ele, tentando medir cada palavra — e sei também que tudo que
aconteceu destruiu muito mais do que sua reputação ou seu trabalho. Destruiu uma parte de você que sempre quis fazer a diferença no mundo. Thaís suspirou, colocando a xícara de café sobre a mesa, os olhos ainda fixos no jardim à sua frente. — Sim — respondeu ela, quase num sussurro — eu não sei mais se posso fazer a diferença, Daniel. Não depois de tudo isso. Daniel assentiu, compreendendo a dúvida e o medo que ela carregava, mas ele sabia que essa mentalidade poderia aprisioná-la para sempre se não fosse enfrentada. E era isso que o motivava a apresentar
a ideia que vinha maturando. — Eu acredito que você ainda pode — disse ele, suavemente, inclinando-se levemente para a frente, aproximando-se dela — e eu quero te ajudar a provar isso. Thaís franziu o cenho, confusa. Ela olhou diretamente nos olhos dele, esperando que ele explicasse. — Eu pensei em algo — Daniel continuou, agora com mais firmeza na voz. — Eu tenho recursos, contatos e, acima de tudo, acredito que o que você fez com a sua ONG era algo extremamente importante. Acho que podemos recomeçar. Podemos criar algo novo juntos: uma nova ONG, uma nova missão. E
desta vez, com todo o apoio que você precisar, sem precisar confiar em pessoas erradas ou cair em armadilhas. Eu estarei ao seu lado. As palavras pairaram no ar e o silêncio que se seguiu foi carregado de expectativa. Daniel sabia que essa proposta não seria algo simples para ela processar. Thaís o encarava, o choque evidente em seu rosto. Parecia que ela estava tentando absorver o que ele acabara de sugerir, como se a ideia de voltar a fazer algo parecidíssimo com o que a destruíra fosse impossível de conceber. — Daniel, eu... — Thaís começou, mas suas palavras
vacilaram. Ela desviou o olhar, como se estivesse tentando controlar o turbilhão de emoções que começava a surgir dentro dela. — Você não entende, eu não posso simplesmente recomeçar! Não depois de tudo o que aconteceu. Minha reputação foi destruída. Quem vai confiar em mim outra vez? Daniel sentiu a dor nas palavras dela, mas sabia que aquilo era apenas mais uma camada do medo que ela carregava. Thaís não acreditava mais em si mesma e era isso que ele precisava ajudá-la a superar. — As pessoas erradas te usaram e te destruíram, Thaís — disse ele com firmeza. —
Mas isso não significa que você não pode recuperar o que perdeu. Eu sei que vai ser difícil, sei que você tem medo, mas eu acredito em você e estou disposto a te apoiar em cada passo do caminho. Nós não precisamos fazer isso sozinhos. Podemos construir algo sólido, com a transparência e a honestidade que sempre fizeram parte de quem você é. Thaís balançou a cabeça, ainda em negação. — Você não entende! Eu perdi tudo, Daniel! Não sei nem por onde começar! — Por isso estou aqui — disse ele. — Eu posso te ajudar a começar. Com
os recursos certos e as pessoas certas ao seu lado, você pode voltar a fazer o que sempre fez melhor e ajudar os outros. Não se trata de apagar o que aconteceu no passado, mas de recomeçar de uma maneira que seja justa com quem você realmente é. Ela continuou em silêncio e Daniel sabia que ela estava lutando com a própria resistência interna. Ele esperava que, no fundo, ela sentisse uma fagulha de esperança, algo que a motivasse a pelo menos considerar a proposta. Thaís, ainda hesitante, finalmente olhou para ele, os olhos cheios de dúvidas e inseguranças. —
E se der errado? — perguntou ela. De novo, e se eu falhar de novo? Daniel segurou as mãos dela gentilmente, fixando os olhos nos dela. "E se der certo, Taís? E se dessa vez você conseguir fazer exatamente o que sempre quis, sem que ninguém te impeça? Nós podemos fazer isso juntos, você não precisa carregar tudo sozinha. Desta vez você terá apoio de verdade." As palavras dele pareciam começar a fazer sentido para ela. Taís ficou em silêncio por um longo tempo, processando tudo o que ele havia dito. Ela sabia que Daniel estava falando com sinceridade, sabia
que ele queria realmente ajudá-la a recomeçar, mas o medo de falhar, de ser traída novamente, a paralisava. No entanto, algo dentro dela, uma pequena parte de si que ela achava estar perdida, começava a se reanimar. A ideia de voltar a ajudar os outros, de retomar o propósito que havia sido destruído, mexia profundamente com seu coração. E talvez, só talvez, fosse possível fazer isso de uma maneira diferente. "Dessa vez eu não sei se estou pronta," disse ela, com a voz ainda hesitante, mas Daniel percebeu um leve brilho de esperança em seu tom. "Não precisa estar pronta
agora," respondeu ele. "Podemos começar devagar, um passo de cada vez. O que importa é que você não precisa fazer isso sozinha." Taís assentiu lentamente, absorvendo as palavras dele. Ela ainda não estava completamente convencida; ainda havia muito medo e insegurança dentro de si, mas a semente havia sido plantada. Pela primeira vez em muito tempo, ela começou a vislumbrar a possibilidade de recomeçar. "Eu vou pensar sobre isso," disse ela, finalmente deixando escapar um leve sorriso. "Mas obrigada por acreditar em mim, isso significa muito." Daniel sorriu de volta, sentindo que aquele era o início de algo novo. "É
claro que acredito, sempre acreditei." E com aquelas palavras, o futuro começava a se desenhar à frente deles; ainda incerto, mas cheio de novas possibilidades. Nos dias seguintes à proposta de Daniel, Taís foi tomada por um turbilhão de emoções. A ideia de recomeçar a vida, de tentar mais uma vez fazer o que sempre acreditou ser sua missão, a deixou inquieta. Havia algo profundamente tentador na proposta de Daniel, mas o medo ainda dominava seus pensamentos. Ela temia que, se falhasse de novo, não conseguiria suportar. Já havia perdido tanto, e a possibilidade de enfrentar mais uma derrota a
paralisava. Por outro lado, havia uma pequena parte de Taís que ansiava por se reconectar com aquele lado de si mesma que havia se perdido; o lado que acreditava em causas, em ajudar os outros. Esse lado ainda existia dentro dela, mas estava soterrado por camadas de medo, trauma e insegurança. Daniel havia conseguido reacender uma fagulha, mas sabia que, se quisesse mesmo aceitar essa nova chance, precisaria de muito mais do que apenas coragem; precisaria de confiança em si mesma, algo que ela não tinha certeza de que podia recuperar. Taís começou a passar mais tempo sozinha, refletindo sobre
a proposta. Durante o dia, ela caminhava pelo jardim, sentava-se à beira da piscina ou apenas se deixava envolver pelo silêncio do ambiente. Daniel respeitava esse tempo, entendendo que ela precisava de espaço para processar tudo. Ele não a pressionava, e isso a fazia sentir-se mais à vontade, sabendo que ele estava ao seu lado, sem forçar nada. Certa tarde, enquanto ela caminhava pelo jardim, Daniel se juntou a ela. Taís, absorvida em seus pensamentos, não o ouviu se aproximar até que ele estivesse ao seu lado. Ela se virou levemente, surpresa ao vê-lo, mas sorriu. Estava mais tranquila, e
ele podia perceber isso em sua expressão. "Você está mais pensativa esses dias," comentou ele, tentando quebrar o gelo. Ela suspirou e assentiu. "Sim, sua proposta me deu muito o que pensar." Daniel sorriu, mas não disse nada, esperando que ela continuasse. Ele sabia que ela ainda estava processando tudo e que forçar qualquer decisão agora não seria o melhor caminho. "Eu passei muito tempo me sentindo perdida," disse Taís, olhando para as flores do jardim. "Quando tudo desmoronou, senti que minha identidade foi destruída. Tudo o que eu pensava ser importante, tudo o que eu acreditava, parecia ter sido
arrancado de mim. E quando você me propôs tentar de novo, eu percebi o quanto ainda tenho medo de fracassar." Daniel a ouviu com atenção, sem interrompê-la. Sabia que ela estava desabafando, talvez pela primeira vez, de forma sincera e aberta. Mas continuou: "Ao mesmo tempo, algo dentro de mim está dizendo que talvez eu precise tentar, que talvez não seja sobre fracasso ou sucesso, mas sobre me dar a chance de recomeçar, de me curar.” Daniel sentiu o coração bater mais forte ao ouvir aquilo. Era exatamente o que ele esperava que ela enxergasse, que essa nova jornada não
seria apenas sobre restaurar sua carreira ou reputação, mas sobre restaurar a si mesma. "Você não precisa fazer isso sozinha," disse ele, sua voz suave e cheia de carinho. "Estou aqui para o que você precisar, Taís. E se você não se sentir pronta agora, podemos esperar. O importante é que você não desista de si mesma." Ela sorriu, com tristeza, mas havia uma leveza em seu semblante que Daniel não via há muito tempo. "Eu sei, Daniel, e isso me dá mais força. Acho que por muito tempo eu achei que estava sozinha no mundo, que ninguém poderia entender
ou se importar. Mas você se importou." "Eu sempre me importei," disse ele, com uma sinceridade que fez o coração de Taís acelerar levemente. Ela olhou para ele, e naquele momento, algo em seus olhos brilhou. Pela primeira vez, Taís começou a ver um futuro diferente, um futuro em que ela poderia, quem sabe, não apenas sobreviver, mas viver de verdade, fazer algo que a conectasse novamente ao seu propósito. "E se eu aceitar sua proposta," começou ela cautelosa, "como você imagina que começaríamos? O que teríamos que fazer?" Daniel sentiu uma onda de esperança crescer dentro de si. Ele
sabia que aquela... A pergunta era um sinal de que Thí estava considerando seriamente a ideia. Mesmo que ainda estivesse com medo, ele se virou para ela sorrindo. — Podemos começar do zero, sem pressa — disse ele. — Primeiro, você pode voltar a planejar o que sempre quis fazer. O que você gostaria de mudar? Quem você gostaria de ajudar? E, então, com isso em mente, podemos usar meus contatos e recursos para garantir que tudo seja feito da maneira certa: pessoas confiáveis, financiamento transparente. Podemos garantir que você tenha o controle total de tudo. Thí refletiu sobre aquelas
palavras. A ideia de começar algo novo, com controle, transparência e apoio, parecia muito diferente da experiência traumática que havia vivido. Daniel não estava sugerindo que ela refizesse o que tinha perdido, mas que criasse algo novo, algo que estivesse de acordo com os seus valores e sua visão de mundo. — Eu sempre quis ajudar as mulheres vulneráveis — disse ela lentamente. — Mulheres que, como eu, se perderam em algum momento e enfrentam dificuldades, que não têm para onde ir. Eu achava que minha história poderia fazer isso, mas não tinha os recursos certos. Agora, talvez possa ser
diferente. Daniel assentiu, encorajando-a. — Pode ser exatamente isso, Taís. Podemos construir um lugar que ofereça abrigo, apoio psicológico, reabilitação: um espaço seguro para essas mulheres. E podemos garantir que tudo seja feito com total transparência e responsabilidade. Thí sentiu algo se agitar dentro dela, uma fagulha que há muito tempo parecia apagada. A ideia de ajudar outras mulheres, de fazer algo concreto para mudar vidas, tocava profundamente sua alma. Ela sabia que a jornada seria longa e desafiadora, mas pela primeira vez em muito tempo, a esperança começava a se enraizar. — Eu acho, é, acho que posso tentar
— disse ela com a voz ainda hesitante, mas cheia de sinceridade. — Eu quero fazer isso, Daniel. Quero me reconectar com aquilo que sempre foi importante para mim, mas eu tenho medo. Daniel pegou as mãos dela gentilmente, seus olhos cheios de carinho. — Eu sei que você tem medo, Taís, e é normal. Mas saiba que desta vez você não está sozinha. Vamos fazer isso juntos, um passo de cada vez. Ela olhou para ele, os olhos marejados de emoção, mas dessa vez não era tristeza; era algo novo, algo que ela não sentia há muito tempo. Thí
sabia que o caminho à frente seria incerto e cheio de obstáculos, mas também sabia que não precisava enfrentá-lo sozinha. Daniel estava ali, oferecendo seu apoio e seu amor, e isso fazia toda a diferença. Com um leve sorriso, ela assentiu. — Tudo bem. Vamos tentar. Daniel sorriu de volta, sentindo uma imensa onda de alívio e alegria ao ouvir aquelas palavras. Ele sabia que ainda havia muito trabalho a ser feito, mas o primeiro e mais importante passo havia sido dado. Taís estava pronta para recomeçar, e ele estaria ao lado dela em cada passo dessa nova jornada. Os
meses que se seguiram foram marcados por um esforço conjunto de reconstrução. Thí, com a ajuda de Daniel, começou a planejar a criação de um novo projeto social. O foco era claro: ajudar mulheres que, como ela, haviam sido vítimas de abusos, perdas ou injustiças, e que precisavam de apoio para se reerguer. Com a experiência que Daniel possuía em gestão e os contatos certos, eles conseguiram levantar o apoio necessário para iniciar o projeto. A cada reunião, a cada planejamento, Taís começava a reencontrar sua voz. Ela já não era mais aquela mulher quebrada que ele havia encontrado nas
ruas. Aos poucos, o brilho em seus olhos voltou e a força que Daniel sempre admirou nela começou a se manifestar novamente. Claro, o medo ainda estava lá, como uma sombra que a seguia, mas agora Thí tinha algo maior para enfrentar esse medo: uma causa, um propósito e o apoio de alguém que acreditava profundamente nela. E assim, com um recomeço cauteloso, mas decidido, Taís começou a renascer, não como a mulher que era antes, mas como alguém mais forte, mais resiliente, pronta para enfrentar o futuro de cabeça erguida. O renascimento de Taís não foi apenas um triunfo
pessoal, mas também uma promessa de que, independentemente do que a vida trouxesse, ela sempre encontraria uma maneira de se reerguer. Com Daniel ao seu lado, ela sabia que agora podia seguir em frente, e dessa vez, o futuro estava nas mãos dela. À medida que o novo projeto de Taís começava a tomar forma, Daniel não pôde deixar de notar como ela estava mudando. A transformação era nítida. A mulher que ele havia encontrado destroçada, sem esperança e perdida, agora começava a mostrar sinais claros da força que sempre a definiu. Havia um brilho novo em seus olhos, uma
determinação que, embora cautelosa, reacendia algo profundo dentro dela. Os dias eram preenchidos com reuniões, planejamento e visitas a possíveis locais onde a ONG poderia ser estabelecida. Thí assumia o controle de cada detalhe com a paixão e o foco que Daniel sempre admirou. Ver essa chama reascender em seu coração mexia com ele mais do que imaginava. O espaço entre eles, que havia sido preenchido por silêncio, dor e incerteza, agora começava a se transformar em algo mais leve, mais familiar. Estavam, aos poucos, encontrando uma nova forma de se relacionar, e isso trazia à tona sentimentos que Daniel
havia enterrado há muito tempo. Certo dia, após uma reunião particularmente produtiva com possíveis patrocinadores, Thí e Daniel decidiram sair para comemorar. Não era um jantar luxuoso ou um grande evento, apenas uma caminhada tranquila por um parque no final da tarde, algo que ambos precisavam após o estresse do trabalho. O ar estava fresco, com o céu tingido por tons de laranja e roxo, conforme o sol começava a se pôr no horizonte. As árvores ao redor balançavam suavemente com a brisa, e o som dos pássaros se misturava ao ruído distante da cidade. Caminhavam lado a lado em
silêncio por um tempo, até que Thí suspirou, quebrando. O momento de quietude. Você sabe, eu nunca pensei que voltaria a me sentir assim. Ela disse, olhando para o céu com um pequeno sorriso nos lábios. Daniel olhou para ela, curioso, assim como ela parou e virou-se para encará-lo, sentindo que sou capaz de fazer algo bom, sentindo que tenho controle sobre minha vida de novo. Daniel sentiu um calor no peito ao ouvir aquilo. Saber que ele havia, de alguma forma, contribuído para que Taí voltasse a acreditar em si mesma preenchia-o com uma sensação de orgulho e felicidade
que ele não conseguia esconder. — Você sempre foi capaz — Taís respondeu, ele, com um sorriso genuíno. — Tudo o que você precisava era de um empurrão para lembrar disso. Thí riu suavemente e balançou a cabeça. — Não, Daniel, não foi só isso. Você me deu muito mais do que um empurrão; você acreditou em mim quando eu mesma não acreditava. Isso fez toda a diferença. Ela parou, olhando diretamente para ele, e Daniel sentiu seu coração acelerar. O olhar de Thí era mais fundo, mais intenso do que ele lembrava. Era como se, pela primeira vez desde
que ela voltou à vida dele, ela estivesse enxergando por completo, sem as barreiras que a dor havia construído entre eles. — Eu não teria conseguido sem você — ela disse, a voz suave, mas firme. Daniel sorriu, sentindo o peso emocional das palavras dela. Ele sempre quis ajudá-la a se reerguer, mas o que não tinha previsto era que, no processo, algo mais estava acontecendo entre eles; algo que ele não podia ignorar. A proximidade, o cuidado, o apoio, tudo isso havia reacendido algo que ele pensou estar perdido para sempre: o amor que ele sentia por Thí, enterrado
sob anos de separação e de caminhos diferentes, agora estava à superfície, mais forte e mais claro do que nunca. — Taís — ele começou, hesitante, mas decidido a finalmente falar o que estava em seu coração. — Eu preciso te dizer algo. Ela franziu levemente o cenho, curiosa, mas esperou que ele continuasse. — Quando você voltou à minha vida de uma forma tão inesperada, eu estava completamente focado em te ajudar, e, sinceramente, não pensei em mais nada além de te dar o apoio que você precisava para se reerguer. Mas, conforme fomos passando mais tempo juntos, conforme
vi você voltar a ser a mulher incrível que sempre foi, algo dentro de mim mudou. Naí olhou para ele com mais intensidade agora, como se começasse a entender para onde aquela conversa estava indo. O coração dela bateu mais rápido, mas ela permaneceu em silêncio, esperando que Daniel terminasse. — Eu nunca deixei de me importar com você, mesmo quando seguimos caminhos diferentes — continuou ele, a voz mais suave, mais cheia de sinceridade. — E agora, com tudo o que passamos juntos, com tudo o que você está conquistando, percebi que meus sentimentos por você não desapareceram; eles
estão mais fortes do que nunca. O silêncio entre eles era palpável, e Taís ficou imóvel por um momento, absorvendo o que ele acabara de dizer. As palavras de Daniel trouxeram à tona uma enxurrada de emoções que ela havia tentado suprimir desde que se reaproximaram. Ela sempre soube, em algum nível, que os sentimentos que tinham um pelo outro no passado eram profundos, mas, depois de tudo que aconteceu, achava que era impossível voltar a sentir aquilo, que as feridas haviam mudado tudo. Mas agora, ali, diante dele, com a sinceridade em seus olhos, ela percebeu que talvez as
coisas não fossem tão impossíveis quanto pensava. — Daniel — ela começou, sua voz ligeiramente trêmula, mas com um sorriso tímido surgindo em seus lábios. — Eu... não sei o que dizer. Não esperava que você dissesse isso, e, para ser honesta, eu não sabia o que fazer com os sentimentos que comecei a perceber que ainda tenho por você. Daniel sentiu uma onda de esperança crescer dentro de si, e seu coração disparou. — Então, você ainda sente algo por mim? Taís riu suavemente, o som misturado à emoção que transbordava em seu coração. — Eu sempre senti, Daniel.
Só que, com tudo que aconteceu, eu me afastei de tudo, inclusive dos meus próprios sentimentos. Eu estava tão perdida, com tanto medo, que nunca imaginei que pudesse me permitir sentir isso de novo. Ele deu um passo à frente, segurando delicadamente as mãos dela. — Você não precisa ter medo, Taís, não mais. Não importa o que aconteça daqui em diante, eu estarei ao seu lado, seja com o projeto, seja com sua recuperação. E, se você quiser, também podemos tentar recomeçar o que deixamos para trás. Ela olhou para ele, seus olhos cheios de emoções conflitantes. Ainda havia
medo, é claro, mas também havia uma alegria crescente, uma esperança que ela não esperava sentir novamente por muito tempo. Taí acreditou que seu coração estava fechado, que ela não poderia mais amar ou ser amada da maneira que um dia foi, mas Daniel, com sua paciência e apoio inabaláveis, estava mostrando a ela que, mesmo nas ruínas, o amor podia florescer novamente. — Eu quero tentar — disse ela finalmente, sentindo o coração acelerar com a decisão. — Eu quero recomeçar, Daniel, com você. Ele sorriu amplamente, e, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Daniel a puxou
suavemente para um abraço. Taí sentiu o calor de seu corpo contra o dela e, pela primeira vez em muito tempo, ela se sentiu segura, verdadeiramente em paz. O abraço não era apenas um gesto de carinho, mas uma promessa silenciosa de que juntos eles poderiam enfrentar o que viesse pela frente. Quando eles se afastaram levemente, Daniel a olhou nos olhos com delicadeza e aproximou seus lábios dos dela. O beijo que compartilhavam não era cheio de paixão avassaladora, mas de uma ternura profunda; um amor que havia resistido ao tempo, às dificuldades e ao sofrimento. Era um recomeço,
um renascimento, não apenas para Thí, mas para ambos. Quando o beijo terminou, Thí sorriu, com os olhos marejados. — Obrigada por nunca ter desistido de mim — disse ela. A voz embargada, eu nunca poderia… respondeu Daniel com a voz igualmente emocionada: "Você sempre foi o amor da minha vida, Taís." Eles voltaram a caminhar pelo parque agora de mãos dadas, em silêncio, mas o silêncio não era mais de incerteza ou medo; era de conforto, de entendimento mútuo. Ambos sabiam que, embora ainda houvesse desafios à frente, eles os enfrentariam juntos, como parceiros, como amantes. Como duas pessoas
que, apesar de todas as adversidades, encontraram uma maneira de amar novamente. Naquele momento, Taís não estava apenas se reerguendo em sua carreira e propósito de vida; ela estava se permitindo recomeçar no amor, em uma jornada ao lado de Daniel que, embora incerta, agora era cheia de promessas. O amor que renascia entre eles era mais forte, mais maduro e estava pronto para enfrentar qualquer coisa que viesse pela frente. Os meses que se seguiram ao reencontro emocional entre Daniel e Thaís foram um período de crescimento e transformação para ambos, não apenas pelo renascimento do amor que os
unia, mas também pelo desenvolvimento do novo projeto que estavam construindo juntos. A UnG estava tomando forma com rapidez e cada novo passo parecia confirmar que Thaís estava de volta ao caminho que tanto amava: o de ajudar os outros, especialmente mulheres vulneráveis que, como ela, haviam enfrentado duras batalhas na vida. Thaís se tornava mais forte a cada dia; seu trabalho no projeto a energizava, e a presença constante de Daniel ao seu lado a fazia acreditar que ela poderia, sim, voltar a ser a mulher que um dia foi. Com a sabedoria adquirida após tantas quedas, a força
que ela redescobria dentro de si, aliada ao apoio e carinho de Daniel, era suficiente para fazer Taís sentir que estava vivendo uma nova fase, uma fase de esperança. No entanto, mesmo com o avanço do projeto e o amor florescendo, uma sombra ainda pairava sobre Taís: o passado. O escândalo em que fora envolvida por conta da primeira ONG ainda a assombrava. Embora agora estivesse cercada de pessoas que acreditavam nela, Thaís sabia que sua reputação estava longe de ser completamente restaurada. A imprensa ainda a via com desconfiança e havia uma constante tensão no ar. Isso a preocupava,
mas ela tentava focar no presente, deixar que o trabalho falasse por si. Porém, tudo começou a mudar quando, um dia, durante uma reunião com possíveis financiadores do projeto, uma informação inesperada chegou até Thaís. A reunião acontecia em um restaurante elegante e tanto, e tanto ela quanto Daniel estavam entusiasmados com a oportunidade de captar novos recursos para expandir o alcance da ONG. A conversa fluía bem até que, de repente, um dos investidores olhou para Thaís com um semblante sério. "Eu preciso ser honesto com você, Taís," disse ele, entrelaçando os dedos sobre a mesa. "Há rumores circulando
sobre o seu passado. Muitas pessoas ainda acreditam que você foi responsável pelo desvio de dinheiro na sua antiga ONG." O coração de Thaís apertou instantaneamente. Ela trocou um olhar com Daniel, que a encorajou silenciosamente com um leve aceno de cabeça. Ela já esperava por algo assim, mas não estava totalmente preparada para enfrentar aquela questão diretamente, especialmente em um ambiente de negócios tão importante. "Eu entendo suas preocupações," respondeu ela, mantendo a calma na voz. "E posso garantir que fui vítima de um esquema do qual não tinha conhecimento. Na época, cometi o erro de confiar nas pessoas
erradas. Sei que ainda há dúvidas sobre o que aconteceu, mas estou disposta a esclarecer qualquer coisa que vocês precisem." O investidor observou atentamente, como se estivesse avaliando sua sinceridade. "Taís, eu acredito em sua história, mas o mundo dos negócios é implacável. A confiança é tudo, e muitos ainda associam seu nome a escândalos. Isso pode prejudicar o trabalho que você está tentando fazer agora." Thaís sentiu um peso crescer em seu peito; tudo o que ela mais temia estava se concretizando. O fantasma do passado não a deixaria tão facilmente. Mas, antes que ela pudesse responder, o investidor
fez uma pausa e acrescentou algo que mudou completamente o rumo da conversa. "Porém," ele disse lentamente, "ouvi dizer que uma das pessoas que te prejudicou está de volta ao país." Thaís congelou ao ouvir aquilo. "O quê?" perguntou, a voz saindo quase sem fôlego. "Sim," confirmou o homem, cruzando os braços. "A pessoa que controlava os fundos de sua ONG. Ouvi dizer que ele foi visto recentemente e que pode estar envolvido em novos esquemas. O nome dele já circula novamente nos círculos financeiros." Thaís sentiu um choque percorrer todo o corpo. A pessoa de quem o investidor falava
era uma figura chave em sua queda; era alguém em quem ela confiou cegamente, que havia prometido ajudá-la a manter sua ONG viva, mas que, na verdade, a usou para fins criminosos, deixando-a com toda a culpa. Esse homem, que ela acreditava ter desaparecido após o escândalo, agora estava de volta e, com ele, a ameaça de que seu passado poderia ser ainda mais explorado. Daniel, que até então estava em silêncio percebendo o impacto da notícia sobre Thaís, finalmente interveio: "Como você sabe disso?" perguntou, a voz carregada de preocupação. "O nome dele foi mencionado em algumas reuniões recentes,"
respondeu o investidor, inclinando-se levemente para a frente. "Ainda não há provas concretas, mas ele está tentando restabelecer contatos. Pelo visto, quer se envolver em novos negócios." Thaís ficou em silêncio, tentando processar a informação. As lembranças daquela época vieram à tona com uma força esmagadora. Ela se lembrou de como, na época, tudo parecia tão certo, como aquele homem a convenceu de que ele tinha os recursos e o interesse em apoiar sua causa, apenas para, no final, desviar os fundos e deixá-la carregando a culpa. Ele desapareceu logo após o escândalo, e Thaís passou anos tentando sobreviver às
consequências. Agora ele estava de volta, e isso significava que, além de tentar reconstruir sua vida, Thaís teria que enfrentar a sombra de sua destruição quando a reunião terminou. Investidores se despediram de forma cordial. Thí e Daniel ficaram sozinhos no restaurante. O silêncio entre eles era tenso, e Daniel sabia que aquela informação havia abalado profundamente a confiança que Thí estava começando a reconstruir. — Você está bem? — ele perguntou gentilmente, vendo como ela parecia absorta. Thí balançou a cabeça, o olhar fixo no copo à sua frente. — Eu não sei, não sei o que pensar, Daniel.
Ele está de volta, e isso pode significar que tudo que estamos construindo pode desmoronar de novo. E eu, eu não consigo enfrentar isso outra vez. Daniel pegou a mão dela sobre a mesa, apertando-a com firmeza. — Você não está sozinha desta vez. Eu estou com você, e não vamos deixar isso acontecer. Se ele está de volta, nós o enfrentaremos juntos. Vamos investigar, descobrir o que ele está fazendo e, se necessário, trazer a verdade à tona. Thí olhou para ele, seu coração apertado, mas sentindo uma onda de alívio ao saber que não precisaria lidar com isso
sozinha. Ela sabia que enfrentar aquele homem novamente seria doloroso, mas Daniel estava ao seu lado, e isso faz toda a diferença. — Eu não quero que ele destrua mais nada — disse ela, sua voz carregada de emoção. — Não dessa vez. — Ele não vai — prometeu Daniel. — Nós não vamos deixar. Nos dias que se seguiram, Daniel começou a usar seus contatos no mundo dos negócios para investigar a situação. Ele era conhecido por sua descrição e capacidade de reunir informações, e logo descobriu que o homem que arruinou Thí estava, de fato, tentando se restabelecer
no mercado. Sua estratégia era a mesma de antes: aproximar-se de Rues e causas sociais para usar seus fundos de forma ilícita. Ao descobrir isso, Daniel e Thí sabiam que precisavam agir. Thí, embora assustada, começou a perceber que dessa vez tinha as ferramentas e o apoio necessários para enfrentar essa batalha. Não era mais a jovem idealista que fora manipulada no passado; agora ela estava mais forte, mais sábia e pronta para lutar por sua verdade. — Vamos expor — disse Thí a Daniel, com uma firmeza renovada. — Ele não pode continuar destruindo vidas como fez com a
minha. Dessa vez, vou ser eu quem vai derrubá-lo. Daniel sorriu, orgulhoso da força que via em seus olhos. — Estou com você, Thí. Vamos fazer isso juntos. E assim, eles começaram a planejar o que seria a reviravolta mais importante na vida de Thí, não apenas para restaurar sua reputação, mas para finalmente enfrentar o homem que a derrubou e garantir que ele não pudesse fazer o mesmo com mais ninguém. A guerra estava apenas começando, mas Thí estava pronta para lutar. O momento de enfrentar o homem que arruinou sua vida estava mais próximo do que ela jamais
imaginou. Nos dias que seguiram a revelação sobre seu retorno, Thí e Daniel passaram a reunir informações com mais intensidade. Daniel usou sua rede de contatos e logo descobriram que esse homem, Marcos Ferreira, estava tentando se infiltrar novamente no mundo das ONGs e causas sociais, utilizando o mesmo modus operandi de antes, disfarçando suas intenções sob a fachada de filantropia. Ele não só estava solto, mas também preparava o terreno para repetir o esquema que destruiu a vida de Thí anos atrás. Para Thí, cada nova descoberta sobre Marcos era como reviver os piores momentos de sua vida. Ele
havia sido uma figura carismática, de fala mansa, que prometia salvar sua ONG da falência. E, ingênua, desesperada para manter viva a única coisa que restava de seu propósito, ela o deixou entrar, sem perceber que estava assinando sua própria sentença de destruição. Agora, ela sabia que, se quisesse realmente se libertar das sombras do passado, teria que enfrentá-lo, mas não seria fácil. Marcos não era apenas um manipulador; ele também tinha aliados poderosos. Havia rumores de que ele estava novamente em contato com pessoas influentes dispostas a ajudá-lo a reerguer sua imagem. Sabendo disso, Daniel e Thí sabiam que
precisariam ser estratégicos. Não bastava apenas confrontá-lo; precisavam de provas, de um plano sólido que garantisse que ele não escaparia outra vez. Uma noite, enquanto discutiam suas próximas ações, um novo contato entrou em cena: um antigo conhecido de Daniel, com anos de experiência em investigações financeiras, que aceitou ajudar o casal a reunir informações sobre Marcos e suas atividades recentes. Ele os encontrou em um café discreto no centro da cidade, trazendo uma pasta repleta de documentos e evidências. — Vocês estavam certos — disse o homem enquanto abria a pasta sobre a mesa. — Ele está novamente envolvido
em atividades suspeitas. Está tentando fechar parcerias com ONGs menores usando uma nova identidade corporativa. Mas é o mesmo esquema de antes; Marcos Ferreira está apenas esperando a oportunidade certa para agir. Thí sentiu uma mistura de alívio e raiva. Finalmente, tinham provas concretas de que Marcos estava repetindo os mesmos crimes que a destruíram no passado. Daniel, ao seu lado, analisava os documentos com atenção, o rosto sério e concentrado. — Se expuser isso à mídia, ele estará acabado — comentou Daniel. — Mas precisamos de mais — disse Thí. — Precisamos de uma prova definitiva, algo que amarre
todos esses indícios. Thí sabia que Daniel estava certo; qualquer erro poderia dar a Marcos a chance de se esconder novamente. Eles precisavam de um golpe certeiro, algo que acabasse com ele de uma vez por todas. — Eu quero falar com ele — disse Thí, de repente. Daniel e o investigador a encararam surpresos. — Falar com ele? — repetiu Daniel, com um tom de incredulidade. — Thí, você não precisa fazer isso. Ele já te prejudicou tanto. — Eu sei — respondeu ela, a voz firme —, mas eu preciso vê-lo. Eu preciso confrontá-lo cara a cara. Ele
precisa saber que não pode mais me destruir. Eu quero que ele veja que eu estou mais forte agora e que não vou deixar que ele continue a fazer isso com outras pessoas. Daniel hesitou, preocupado com a ideia de Thí enfrentar Marcos diretamente, mas viu a determinação nos olhos dela. Não era mais um ato de vingança ou de raiva. Era uma necessidade de recuperação. Thí precisava confrontar o homem que havia roubado seu passado para que pudesse seguir em frente com o futuro. — Tudo bem — disse ele finalmente, segurando a mão dela com carinho —, mas
você não vai fazer isso sozinha. Eu estarei lá com você. Taís sorriu, sentindo-se fortalecida pela presença de Daniel. Ela sabia que não seria fácil, mas também sabia que esse era o passo que precisava dar para se libertar completamente do passado. A oportunidade surgiu alguns dias depois, em um evento beneficente organizado por uma das zombies com as quais estava tentando se associar. Thí e Daniel souberam disso através de seus contatos e sabiam que essa era a chance perfeita. Eles conseguiriam vê-lo, confrontá-lo e, com sorte, obter mais informações para garantir que ele fosse exposto ao público. O
evento aconteceu em um grande salão luxuosamente decorado, com pessoas influentes do mundo dos negócios e da filantropia presentes. Taís sentia um nervosismo crescente à medida que se aproximavam do local. Cada passo que dava dentro daquele salão a fazia reviver o que aconteceu no passado, mas ela também sabia que agora era diferente. Ela não estava mais sozinha. — Ele está aqui — sussurrou Daniel ao ver Marcos conversando com um pequeno grupo de investidores do outro lado do salão. Taís sentiu o corpo inteiro estremecer, mas respirou fundo e assentiu. Havia mais espaço para o medo. Ela caminhou
ao lado de Daniel, cada passo calculado, até que finalmente estavam próximos o suficiente para serem vistos por Marcos. O momento em que ele a viu foi quase surreal. Por um instante, Thí percebeu o olhar de surpresa em seu rosto. Ele não esperava vê-la ali. A última vez que haviam se encontrado, Thí estava destruída, caída, sem forças para lutar. Mas agora ela estava de pé, forte e determinada. — Taís! — disse Marcos, com uma expressão que misturava incredulidade e desconforto. Ela o encarou, sentindo toda a tensão e o peso daquele encontro, mas sem permitir que isso
transparecesse. — Sim, Marcos, sou eu. Não esperava me ver de novo, não é? Ele riu, mas o som era nervoso. — Eu ouvi que você estava envolvida em um novo projeto, mas não achei que viria a este evento. — Eu não vim por causa do evento — respondeu ela, a voz firme —, vim por sua causa. A expressão de Marcos mudou rapidamente. Ele tentou manter a compostura, mas havia uma clara tensão no ar. Ele sabia que Taís sabia e ele sabia que não poderia subestimá-la desta vez. — O que você quer? — perguntou ele, com
um tom forçado. Ela deu um passo à frente, encarando-o diretamente nos olhos. — Quero que você pare, Marcos. Sei o que está fazendo. Sei que está tentando usar outras zombies como fez com a minha, mas desta vez as coisas serão diferentes. Desta vez eu tenho provas. Marcos ficou em silêncio por um momento, tentando avaliar a situação. Então soltou uma risada seca. — Provas, Taís? Você sabe tão bem quanto eu que o mundo dos negócios é complicado. Às vezes temos que fazer escolhas difíceis. — Você roubou dinheiro destinado a pessoas que precisavam de ajuda — interrompeu
Taís, a voz firme e clara. — Você destruiu minha ONG, destruiu minha reputação e agora está tentando fazer isso de novo com outras pessoas, mas eu não vou deixar. Daniel se aproximou, mostrando a pasta de documentos que haviam coletado. — Temos tudo que precisamos para te expor, Marcos, e vamos fazer isso. Marcos ficou pálido ao ver a pasta. Sabia que estava encurralado. Ele tentou esboçar uma defesa, mas sua confiança já havia desaparecido. Taís sentiu uma onda de alívio percorrer seu corpo. Ela o havia confrontado e ele não tinha mais poder sobre ela. — O jogo
acabou, Marcos — disse ela, dando o último golpe. — Você pode correr, mas dessa vez a verdade vai te alcançar. Nos dias seguintes, Thí e Daniel levaram as provas que tinham para a imprensa. Com a ajuda de seus contatos, a história foi exposta publicamente. Marcos Ferreira, o homem que destruiu a vida de Thí, agora era o foco de uma grande investigação e seu nome estava manchado para sempre. Taís, por sua vez, sentiu como se uma enorme carga fosse retirada de seus ombros. O passado finalmente estava aonde pertencia, no passado. Ela havia enfrentado seu maior inimigo
e agora podia seguir em frente com sua vida, com seu projeto e com o amor que redescobriu ao lado de Daniel. Ela estava livre. A exposição de Marcos Ferreira trouxe consigo um turbilhão de emoções para Thí. Embora ela tivesse conseguido justiça contra o homem que arruinou sua vida, a vitória deixou um rastro de dúvidas e preocupações. Ela estava livre do passado, mas o caminho à frente não parecia tão claro quanto imaginava. O que viria depois disso? Ela havia focado tanto em derrubar Marcos, em limpar seu nome, que agora, sem esse peso nas costas, uma nova
incerteza a consumia. Nos dias que se seguiram ao escândalo, a mídia cobriu amplamente o caso. Marcos Ferreira se tornara o alvo de inúmeras investigações e seu nome agora era sinônimo de fraude e manipulação. Taís foi retratada como uma sobrevivente, uma mulher que, apesar de ter sido injustamente acusada no passado, conseguiu se reerguer e expor a verdade. Isso deveria tê-la preenchido com satisfação, mas a realidade era mais complicada. Daniel percebeu rapidamente que algo não estava certo. Taís, que antes parecia animada com o progresso da nova ONG e com a reviravolta de sua vida, estava estranhamente distante.
Mesmo nos momentos em que estavam juntos, ele notava um certo distanciamento, como se ela estivesse perdida em pensamentos sombrios. Ele sabia que, apesar de terem vencido uma batalha importante, o trauma do passado ainda pairava sobre ela. Certo dia, após uma reunião com os advogados sobre as próximas etapas da investigação de Marcos, Daniel decidiu que não podia mais ignorar o que estava acontecendo. Ele encontrou Thí sentada na varanda da casa. Olhando para o horizonte, absorta em seus próprios pensamentos, ela parecia tão longe, tão introspectiva, que ele se aproximou com cautela, como se qualquer palavra errada pudesse
quebrar o frágil equilíbrio que ela tentava manter. — Taís, — chamou ele suavemente. Ela demorou alguns segundos para reagir, mas finalmente virou o rosto para ele, forçando um sorriso. — Oi, Daniel. — Ele se sentou ao lado dela, sem dizer nada a princípio. Taís olhou para ele por um momento, tentando ler sua expressão, mas sabia que Daniel era um homem perceptivo demais para ser enganado por sua fachada. — Você não está bem, — disse ele, sem rodeios, mas com ternura. — Desde que tudo isso aconteceu com Marcos, eu percebi que você está diferente. Taís suspirou,
desviando o olhar de volta para o horizonte. — Eu só... estou tentando processar tudo. Daniel, foi muita coisa em pouco tempo. Eu deveria estar feliz, aliviada, mas... — Ele a encorajou com um olhar suave. — Mas o quê? — Ela fechou os olhos por um momento, tentando organizar os pensamentos. — Mas eu não sei mais o que fazer agora. Passei tanto tempo lutando para limpar meu nome, tanto tempo focada em derrubar Marcos, que agora, sem essa batalha constante, me sinto... vazia. Daniel ficou em silêncio, deixando que ela continuasse. — Eu deveria estar comemorando, deveria estar
feliz por finalmente ter superado isso. Mas, ao mesmo tempo, me sinto perdida, como se não soubesse mais quem eu sou ou o que realmente quero fazer a partir de agora. Ele assentiu lentamente, compreendendo a profundidade do que ela estava dizendo. Taís passou anos lutando contra o peso do passado e, agora que o conflito havia chegado ao fim, o vazio deixado por essa luta era avassalador. Ele segurou a mão dela, apertando-a suavemente, mostrando que estava ali para ela, independentemente de suas dúvidas. — Eu entendo que essa sensação de vazio possa ser assustadora, — disse Daniel calmamente.
— Mas isso também pode ser uma oportunidade. Taís, agora você tem a chance de recomeçar, de verdade, sem a sombra de Marcos, sem a pressão de limpar seu nome. Agora você pode escolher o que realmente quer fazer, sem ser guiada pelo medo ou pelo passado. Ela olhou para ele, os olhos carregados de incertezas. — E se eu não souber o que quero? Daniel sorriu levemente. — Tudo bem não saber agora. Você passou por muita coisa. Talvez, antes de tentar descobrir o que fazer a seguir, você precise de um tempo para si mesma, para se reconectar
com quem você é. Taís ficou em silêncio, refletindo sobre o que ele havia dito. Ela sabia que Daniel tinha razão. Durante tanto tempo, sua vida foi moldada pelo medo, pelo trauma, pelas feridas do passado. Agora, sem essas amarras, ela precisava redescobrir quem era por completo, sem que as cicatrizes definissem seu caminho. Mas, ao mesmo tempo, havia outra questão que a incomodava profundamente. — Tem mais uma coisa, — disse ela, sua voz quase um sussurro. Daniel inclinou-se levemente, esperando que ela continuasse. — Eu... não sei se consigo continuar com a ONG. Aquelas palavras pegaram Daniel de
surpresa. Ele a encarou com uma mistura de incredulidade e preocupação. — A ONG que havia sido a força motriz de Taís, o motivo pelo qual ela começou a reconstruir sua vida, agora parecia ser mais um fardo. — Como assim? — perguntou ele, tentando entender. Ela passou a mão pelos cabelos, claramente frustrada consigo mesma. — Eu amo o que fazemos, Daniel. Amo a ideia de ajudar outras mulheres, de ser um apoio para elas, mas... estou cansada. Sinto que, depois de tudo o que aconteceu, perdi a conexão com isso. Antes, eu fazia isso porque sentia uma paixão
genuína, porque queria mudar o mundo. Mas agora, sinto que estou fazendo isso por obrigação, para tentar provar algo a mim mesma. Ela fez uma pausa, respirando fundo antes de continuar. — Eu tenho medo de que, se continuar, isso acabe me consumindo de novo, e eu não sei se consigo passar por tudo aquilo outra vez. Daniel sentiu o coração apertado. Ele sabia o quanto o trabalho na ONG era importante para Taís, mas também sabia que, se ela estava sentindo aquilo, era porque algo realmente havia mudado dentro dela. Ele não queria que ela se sacrificasse, não queria
que o peso do projeto a destruísse novamente. — Eu a amo demais para permitir que você se force a algo que não a preenche mais. Se isso não te faz mais feliz, Taís, você não precisa continuar, — disse ele suavemente. — Ninguém espera que você carregue esse peso se não quiser. Você fez muito, já ajudou muitas pessoas, mas agora talvez seja hora de focar em você mesma. Taís olhou para ele, os olhos marejados de emoção. — Mas e todas aquelas mulheres, e tudo que construímos juntos? Não seria um desperdício parar agora? Daniel apertou suas mãos
com mais firmeza, olhando diretamente em seus olhos. — Não seria um desperdício, Taís. O que você construiu é algo que pode continuar mesmo sem você à frente. Podemos encontrar outras pessoas para liderar o projeto, outras pessoas que compartilhem da sua visão. Mas você não precisa se sacrificar por isso. Se sua felicidade está em outro lugar, então é lá que você deve ir. Ela ficou em silêncio por um longo tempo, processando as palavras de Daniel. Lá no fundo, Taís sabia que ele estava certo. Ela não precisava mais provar nada a ninguém; tinha a liberdade de escolher
seu caminho, sem as expectativas dos outros, sem as pressões que ela mesma se impunha. — Eu preciso de tempo, — disse ela finalmente, sua voz quebrada, mas sincera. — Preciso de tempo para descobrir o que realmente quero. Daniel sorriu e acariciou seu rosto com ternura. — E você terá o tempo do mundo. Eu estarei ao seu lado, não importa o que decida. Taís sorriu em meio às lágrimas que começaram a cair, aliviada por finalmente ter colocado para fora o que a consumia. Ela sabia que essa jornada de redescoberta não seria fácil, mas também sabia que,
pela primeira vez... Em muito tempo, ela tinha a liberdade de fazer escolhas baseadas em seus próprios desejos e não no que os outros esperavam dela. Abraçada por Daniel, ela sentiu um peso ser tirado de seus ombros. A incerteza ainda estava lá, mas agora, em vez de medo, o que preenchia seu coração era a sensação de que ela poderia encontrar, finalmente, seu verdadeiro propósito, seja ele qual fosse. Taís estava pronta para começar uma nova jornada. Sem pressa, sem cobranças, e dessa vez, ela faria isso não por obrigação, mas por si mesma. Os dias que seguiram a
conversa na varanda marcaram o início de uma nova fase para Thaís. A partir daquele momento, ela decidiu dar um passo atrás em relação à ONG. Embora amasse a causa e o que haviam construído, ela reconheceu que seu coração já não estava mais totalmente conectado ao projeto como antes. Era um choque admitir isso, mas também era libertador. Ela compartilhou essa decisão com Daniel, que, como sempre, a apoiou incondicionalmente. Ele ajudou a encontrar pessoas competentes e dedicadas para assumir o projeto, garantindo que a ONG continuasse a prosperar, mesmo sem sua liderança direta. Embora Thaís ainda estivesse envolvida,
agora ocupava um papel mais discreto, focando em aconselhar e orientar as novas lideranças, sem carregar todo o peso nas costas. Essa mudança de perspectiva trouxe uma leveza inesperada. Thaís começou a redescobrir pequenos prazeres que havia negligenciado por muito tempo, coisas simples como passar tardes no jardim, ler um bom livro ou caminhar sem pressa pelas ruas da cidade. Ela começou a dedicar mais tempo a si mesma e, pela primeira vez em muitos anos, se permitiu desacelerar. Certa manhã, enquanto ela preparava café, Daniel entrou na cozinha com um sorriso caloroso, como de costume. Ele se aproximou dela
e a abraçou por trás, beijando suavemente seu pescoço. “Você parece mais tranquila”, comentou ele, observando a expressão relaxada de Thaís. Ela sorriu, apreciando o calor do abraço dele. “Eu acho que estou começando a me sentir livre de verdade”, respondeu ela, virando-se para encará-lo. “Pela primeira vez em muito tempo, não sinto mais aquela pressão de ter que provar algo para mim ou para os outros.” Daniel sorriu de volta, seus olhos cheios de carinho. “Isso é tudo que eu sempre quis para você: que você se sentisse em paz.” Thaís suspirou, apreciando aquele momento de simplicidade. A paz
de que Daniel falava estava lentamente se tornando uma realidade para ela. Mas, mesmo com essa sensação de tranquilidade, algo ainda faltava. Agora que ela não tinha mais a necessidade de se provar para o mundo, Thaís começou a se perguntar o que realmente queria fazer com a nova liberdade que havia conquistado. O que a faria verdadeiramente feliz era uma questão que surgia repetidamente em sua mente. Um dia, enquanto caminhava sozinha por um parque, Thaís se viu refletindo sobre sua vida. Ela havia passado, portanto, pela queda da ONG, a luta para limpar seu nome, a reviravolta emocional
ao reencontrar Daniel e, finalmente, a derrota de Marcos Ferreira. Mas com tudo isso atrás dela, havia uma nova jornada pela frente. Agora que o passado não a controlava mais, a pergunta era: o que ela realmente queria fazer? Thaís sabia que ainda amava o trabalho social. Ajudar os outros sempre foi uma parte fundamental de quem ela era. No entanto, a forma como estava fazendo isso precisava mudar. Ela não queria mais estar na linha de frente de um grande projeto; a pressão era grande demais e ela já havia pagado o preço por tentar carregar esse peso sozinha.
Enquanto se sentava em um banco à beira do lago, observando os reflexos da água, uma ideia começou a se formar em sua mente. Ela não precisava abandonar o trabalho social, mas talvez pudesse abordá-lo de uma maneira diferente, uma maneira que fosse mais leve, mais pessoal. Taís começou a pensar em como poderia usar sua experiência e sabedoria para ajudar de outra forma, algo mais próximo, mais íntimo. Foi então que surgiu a ideia de criar um projeto menor, algo mais focado em ajudar individualmente mulheres que, como ela, haviam enfrentado traumas e recomeços difíceis. Não uma grande ONG,
mas um espaço seguro e acolhedor, onde as mulheres pudessem encontrar apoio emocional e psicológico, longe das burocracias e das pressões de grandes instituições. A ideia cresceu em sua mente com uma clareza impressionante. Ela imaginava um local discreto onde pudesse trabalhar diretamente com terapeutas e conselheiros, oferecendo apoio individualizado para mulheres que precisavam de uma segunda chance, assim como ela havia precisado. Um lugar de acolhimento onde as histórias de superação fossem tratadas com a atenção e o carinho que mereciam. Thaís sorriu sozinha, sentindo pela primeira vez em muito tempo que havia encontrado algo que realmente ressoava com
seu coração. Esse projeto seria sua nova missão, e não haveria pressa em colocá-lo em prática; tudo seria feito no seu tempo, de forma que ela se sentisse conectada e realizada. Naquela noite, ao contar para Daniel sobre sua nova ideia, ela viu um brilho de orgulho e alegria nos olhos dele. “Isso parece perfeito para você”, disse ele com entusiasmo. “É algo que vai te permitir fazer a diferença sem carregar o mundo nas costas.” Thaís concordou, sentindo uma empolgação calma crescer dentro dela. “Eu quero que seja algo mais pessoal. Acho que é isso que me faltava.” E
assim, com o apoio total de Daniel, ela buscou contatos na área da Psicologia e do acolhimento social, criando uma pequena rede de pessoas dispostas a colaborar. Não havia pressa; dessa vez, Thaís faria as coisas no seu ritmo, seguindo sua intuição e seu coração. À medida que o projeto tomava forma, Thaís percebia como estava crescendo emocionalmente. Ela havia superado muitos obstáculos e aprendido a não se definir por seus fracassos ou sucessos passados. Mais do que nunca, estava vivendo para si mesma, por sua própria felicidade, e isso fez com que sua vida, de certa forma, encontrasse um
novo sentido. Um equilíbrio que ela jamais imaginou ser possível, certo fim de tarde, enquanto caminhava com Daniel pela praia, um dos raros momentos em que ambos podiam relaxar e simplesmente aproveitar a companhia um do outro. Thaí sentiu uma profunda gratidão, não apenas por ter superado os desafios que enfrentara, mas por ter Daniel ao seu lado durante todo o processo. Ele havia sido seu porto seguro, sua âncora em meio à tempestade. Sentados na areia, observando as ondas quebrarem suavemente contra a costa, Thaí se virou para ele: — Eu nunca te agradeci o suficiente por tudo o
que fez por mim — disse ela, sua voz baixa, mas cheia de emoção. Daniel olhou para ela, sorrindo suavemente. — Você não precisa me agradecer, Thaí. Eu só fiz o que qualquer pessoa que ama faria. Ela sorriu, tocada pela simplicidade das palavras dele. — Eu sei, mas ainda assim, eu não teria conseguido sem você. E agora, olhando para tudo o que aconteceu, sinto que finalmente estou no lugar certo. Daniel a abraçou, puxando-a para mais perto. — E eu também estou no lugar certo com você. O vento suave da praia e o som das ondas criaram
uma atmosfera de paz ao redor deles. Thaí sentiu, naquele momento, que havia encontrado não apenas a paz que tanto procurava, mas também a certeza de que o futuro, mesmo com suas incertezas, seria cheio de possibilidades. Agora, com a liberdade de escolher seu próprio caminho e com o amor de Daniel ao seu lado, Thaí sabia que o futuro estava em suas mãos e ela estava mais pronta do que nunca para vivê-lo plenamente. Finalmente, o passado havia ficado para trás e o caminho da liberdade do amor se abria à sua frente, cheio de novas promessas e esperanças.
O tempo passou, e o novo projeto de Thaí floresceu de uma maneira que ela jamais poderia ter previsto. O espaço de acolhimento que ela havia idealizado tomou forma com uma suavidade que a surpreendeu, como se tudo o que ela havia vivido a tivesse preparado para aquele exato momento. Ao invés da pressão sufocante de gerir uma grande ONG, agora ela trabalhava em um pequeno centro acolhedor e discreto, onde mulheres que precisavam de apoio encontravam um lugar seguro para compartilhar suas histórias, reconstruir suas vidas e se reerguer. Thaí se sentia conectada a cada pessoa que entrava por
aquelas portas. O trabalho era emocionalmente intenso, mas ao mesmo tempo incrivelmente gratificante; ela havia conseguido exatamente o que sempre desejou: ajudar os outros de forma pessoal, sem ser sobrecarregada por burocracias ou interesses. No centro, as mulheres encontravam não apenas ajuda prática, mas também uma comunidade que as acolhia com empatia e sem julgamentos. O impacto que o centro teve na vida dessas mulheres foi rapidamente percebido. Aos poucos, histórias de superação começaram a surgir. Thaí viu mulheres que haviam perdido tudo voltarem a encontrar força, esperança e um propósito para suas vidas. Ela sabia, cada vez mais, que
havia encontrado sua verdadeira vocação. Não se tratava mais de provar nada para ninguém, mas de seguir seu coração e fazer a diferença na vida de quem mais precisava. Daniel esteve ao lado dela durante todo o processo. Ele a apoiava em cada decisão, mas também respeitava seu espaço, deixando que Thaí conduzisse o projeto como bem entendesse. Ele era seu parceiro, tanto no amor quanto na vida profissional; juntos, eles tornaram-se uma equipe imbatível, e o vínculo entre eles só crescia dia após dia. Uma tarde, enquanto Thaí organizava um pequeno evento de confraternização no centro, Daniel apareceu com
uma expressão que ela não reconheceu de imediato. Ele estava calmo, mas havia algo nos olhos dele, um brilho que fez o coração de Thaí acelerar, sem que ela soubesse por quê. — Podemos conversar um minuto? — perguntou ele, sorrindo de lado. Thaí assentiu, curiosa, e o seguiu até o jardim nos fundos do centro, um local que ela havia transformado em um espaço de paz e reflexão para as mulheres que frequentavam o local. O jardim estava lindo naquele final de tarde, com o sol pintando o céu em tons dourados e laranjas. Daniel parou no centro do
jardim e virou-se para ela, pegando suas mãos nas dele. — Thaí, — começou ele, sua voz baixa e cheia de emoção — há tanto tempo estamos juntos e eu sempre soube que com você minha vida tinha encontrado um novo sentido. Mas ao ver tudo que você fez, como você se reergueu e ajudou tantas pessoas, meu respeito por você só cresceu. E o que sinto por você, bem, é algo que as palavras não conseguem expressar completamente. Thaí sentiu o coração acelerar, mas se manteve em silêncio, deixando que ele continuasse. — Desde que nos reencontramos, você me
mostrou o verdadeiro significado de força e resiliência. E depois de tudo que passamos, de todas as lutas e vitórias, eu não consigo mais imaginar minha vida sem você ao meu lado. Ele sorriu, aquele sorriso caloroso e sincero que sempre a fazia se sentir segura. — Então pensei que já estava mais do que na hora de perguntar isso... Daniel soltou as mãos dela por um momento, levando uma das mãos ao bolso de seu casaco. Quando ele se ajoelhou diante dela e tirou uma pequena caixa de veludo, Thaí sentiu seu coração parar por um instante. Seus olhos
se encheram de lágrimas antes mesmo que ele pudesse abrir a caixa. — Thaí, você quer casar comigo? — perguntou ele, abrindo a caixa para revelar um anel simples, mas incrivelmente bonito, que refletia a luz do pôr do sol. — Quero passar o resto da minha vida ao seu lado, apoiando você, amando você e construindo um futuro juntos. As lágrimas escorreram pelo rosto de Thaí, mas eram lágrimas de pura felicidade. Ela jamais imaginou que, depois de tudo que havia vivido, poderia encontrar um amor tão verdadeiro e um parceiro tão dedicado. Seu passado, com toda dor e
sofrimento, parecia agora um capítulo distante, algo que havia moldado, mas que não a definia mais. Definia o futuro que estava diante dela, nas mãos de Daniel, e ela sabia que era isso que sempre quis. Sem hesitar, ela sorriu e disse: "E sim, Daniel, eu quero." A resposta de Thí veio cheia de certeza, e Daniel, ainda ajoelhado, riu suavemente antes de se levantar e colocar o anel delicadamente em seu dedo. Ele a puxou para perto, abraçando-a com firmeza. Enquanto o sol se punha ao fundo, iluminando-os com uma luz dourada, o beijo que compartilharam foi cheio de
emoção; um beijo que selava não apenas o amor que sentiam, mas a promessa de um futuro juntos. Os preparativos para o casamento começaram de maneira tranquila. Thaí e Daniel queriam algo simples, íntimo, com as pessoas mais próximas. Para eles, o que realmente importava era celebrar o amor e a jornada que tinham trilhado juntos. O centro de acolhimento continuava a funcionar com sucesso, e Thaí se sentia realizada, sabendo que seu impacto era profundo e duradouro. O novo projeto não apenas havia se tornado um símbolo de superação para ela, mas também para todas as mulheres que ali
encontravam esperança. No dia do casamento, tudo parecia perfeito. Thaís, vestida com um simples e elegante vestido branco, caminhava ao lado de Daniel em um jardim decorado com flores coloridas e luzes suaves. A cerimônia, realizada ao ar livre, refletia a simplicidade e a beleza do amor que eles haviam construído juntos. Entre amigos próximos e colegas de trabalho, o casal trocou votos que tocaram o coração de todos os presentes. "Prometo estar ao seu lado em todos os momentos, assim como você esteve ao meu," disse Thí em seus votos, a voz embargada pela emoção. "Juntos, vencemos desafios, reconstruímos
nossas vidas, e sei que, com você ao meu lado, posso enfrentar qualquer coisa." Daniel sorriu, as palavras dela ecoando em seu coração. "Eu prometo continuar sendo seu porto seguro, seu maior apoiador e aquele que sempre vai te amar em todas as fases da vida. Thaís, você é o amor da minha vida, e prometo te fazer feliz todos os dias." Após o beijo que selou a união, os convidados aplaudiram, e Thaís e Daniel se perderam em um abraço, sentindo o peso do amor e da felicidade que os envolvia. O futuro estava cheio de promessas, mas naquele
momento, eles só queriam aproveitar a felicidade pura de estarem juntos. Meses após o casamento, Thí e Daniel ainda estavam imersos na alegria de sua nova vida juntos. Thaís continuava a trabalhar no centro, mas agora com mais leveza, sabendo que encontrava o equilíbrio perfeito entre sua vocação e sua vida pessoal. Em um dia especial, Daniel chegou em casa com uma surpresa. "Tenho algo para te contar," disse ele, sorrindo de forma misteriosa. Thí olhou curiosa. "O que é?" Ele puxou-a para o sofá e disse: "Eu estive pensando em algo. Que tal tirarmos um tempo só para nós
dois? Uma viagem longe de tudo. Vamos aproveitar o mundo e nos reconectar ainda mais, sem distrações." Thaí sorriu amplamente. "Isso soa perfeito!" E assim, eles planejaram uma viagem, uma aventura ao redor do mundo, sem planos definidos, apenas para viver o momento e descobrir o que o futuro reservava. Era um novo capítulo, uma nova jornada, mas desta vez sem as sombras do passado, apenas o brilho do presente e a promessa de um futuro cheio de amor. O futuro era agora, e Thí e Daniel estavam prontos para vivê-lo juntos.
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GAROTINHA DIZ: 'PAPAI, POR QUE NOS ABANDONOU?' AO MILIONÁRIO NO AEROPORTO, DEIXANDO-O EM CHOQUE...
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Relatos Comoventes
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Sogros Ricos Riram Do Noivo Pobre, Mas Quando Ele Falou Na Cerimônia, Todos Ficaram Espantados...
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MILIONÁRIO ACUSA JOVEM CAIXA DE ROUBO E 2 HORAS DEPOIS FICA CHOCADO APÓS VER AS CÂMERAS
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Tramas e Intrigas
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ELES ESTAVAM TÃO FRÁGEIS E PRECISAVAM DE UMA MÃE, MAS ELA NÃO SABIA O QUE O DESTINO RESERVOU...
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Uma Grande História
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❤️ MILIONÁRIO REPUGNANTE Compra uma ESPOSA por UM MÊS Minha Família me VENDEU a um SHEIK
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Ela Jurou Nunca Amar Novamente, Mas Ele Mudou Tudo! – Até Descobrir Um Segredo Que Mudou Suas Vidas
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Após Salvar Seu Filho, Mulher Rica Pede a Morador De Rua Ser Seu Noivo Por Um Dia No Casamento Do Ex
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Histórias Incríveis
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O milionário abandonou sua mulher, 23 anos depois, ele a viu com um jovem idêntico a ele...
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Jovem MILIONÁRIO encontra seu AVÔ como MENDIGO na RUA, Então ELE...
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Um velho milionário estava acamado em coma, mas a nova enfermeira descobriu um segredo sobre ele
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A CRUEL ESPOSA DO MILIONÁRIO HUMILHOU A FAXINEIRA... UM MINUTO DEPOIS, TODOS FICARAM SEM PALAVRAS...
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Uma História Incrível
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MENINO CHORA NO TÚMULO de sua MÃE e Diz "Me leva com você". ALGO INCRÍVEL ACONTECE COM ELE
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Histórias que Encantam
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MILIONÁRIO ENCONTROU UM MENDIGO COMPLETAMENTE IDÊNTICO A ELE PEDINDO ESMOLA, 2 HORAS DEPOIS...
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Milionário vai à casa da ex e vê sua filha de 7 anos limpando o chão e chorando. O que ele fez...
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Neto Engana o Avô, Vende Sua Casa e o Coloca Em Um Asilo, Mas 4 Anos Depois Ele Recebe Uma Visita
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GRÁVIDA é ABANDONADA pelo NAMORADO que VOLTA quando o FILHO se torna MILIONÁRIO, então ELE...
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GAROTA ROUBA Bolsa de uma MILIONÁRIA, que ao SEGUI-LA ficou em CHOQUE ao VER...
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