Seja muito bem-vindo ao canal Pense Outra vez, o lugar onde a filosofia e a psicologia se encontram para te ajudar a enxergar a vida com mais profundidade. Hoje a gente vai falar sobre um tema que de alguma forma atravessa a vida de todo mundo, mesmo que nem sempre a gente perceba. O desejo e mais especificamente o poder que o desejo e a sexualidade tem dentro do nosso inconsciente.
Você já parou para pensar até que ponto o seu desejo influencia suas escolhas, suas relações, suas decisões, até sua forma de se enxergar e de enxergar o outro? Será que o que a gente chama de amor, de paixão, de atração, é só uma questão biológica? Ou será que existe algo mais profundo acontecendo dentro da mente?
Carl Jung, um dos maiores nomes da psicologia analítica, acreditava que a sexualidade não era apenas uma função do corpo. Ela é, acima de tudo, simbólica, uma linguagem do inconsciente, uma força arquetípica que carrega significados, traumas, fantasias e que molda a nossa forma de viver, de amar, de buscar sentido na vida. E é sobre isso que a gente vai falar aqui hoje.
Mas calma, esse vídeo não é sobre sexo do jeito que geralmente se fala por aí. Não é sobre o que é certo ou errado, bonito ou feio. Aqui a gente vai olhar paraa sexualidade como uma energia psíquica, algo que quando bem compreendido pode se transformar em criatividade, liberdade, consciência e até espiritualidade.
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E me responde uma coisa nos comentários. Você acha que o desejo controla a gente ou que a gente consegue controlar o desejo? Quero muito saber como você vê isso.
Comenta aí embaixo que eu vou ler tudo. Quando a gente fala em sexo, a maioria das pessoas pensa logo em algo físico, instintivo, ligado ao prazer ou à reprodução. Mas para Kyung, o sexo vai muito além disso.
Ele é uma força que nasce no corpo, sim, mas que ganha um significado muito mais profundo quando a gente olha para ele através da lente do inconsciente. Jung via a sexualidade como uma energia arquetípica. Isso quer dizer que ela não é só uma necessidade biológica, mas uma espécie de símbolo universal presente em todas as culturas, mitos, religiões e histórias da humanidade.
É como se o desejo fosse uma linguagem que o inconsciente usa para se expressar e que aparece disfarçada nas nossas fantasias, nos nossos sonhos, nas nossas buscas, até nas nossas angústias. Essa energia, quando mal compreendida ou reprimida, pode se tornar caótica, gerar compulsões, conflitos, vícios, frustrações. Mas quando a gente começa a olhar para ela com mais consciência, ela pode ser canalizada para algo muito maior do que só o prazer momentâneo.
Pode virar arte, pode virar insight, pode virar cura. E isso acontece porque o desejo, no fundo, está ligado ao movimento da alma. É ele que nos impulsiona a sair do lugar, a buscar algo, a nos aproximar de alguém, a criar, a transformar.
É ele que nos convida a viver com intensidade e ao mesmo tempo, é ele que nos confronta com nossas sombras, nossos medos, nossas inseguranças. Jung acreditava que essa força sexual é, na verdade, uma das manifestações daquilo que ele chamou de libido, mas não no sentido freudiano, puramente sexual. Para Jung, a libido é uma energia vital mais ampla que pode se expressar de várias formas.
Desejo por uma pessoa, por uma ideia, por um propósito, por uma transformação. E o mais interessante é que essa energia pode ser transformada. Ela pode mudar de direção, de forma, de intensidade.
Quando você reprime, ela não desaparece, ela se esconde, se disfarça. Mas quando você acolhe, escuta e entende o que ela tá tentando dizer, ela se integra. E é aí que a sexualidade deixa de ser só impulso e vira ferramenta de crescimento pessoal.
É como se o desejo não estivesse só querendo te levar para fora, para alguém, para alguma experiência, mas também para dentro, para um lugar onde você pode se encontrar de verdade, um lugar onde o desejo vira ponte, não prisão. Agora, para entender ainda melhor como essa energia sexual atua dentro da gente, a gente precisa falar sobre dois conceitos fundamentais da psicologia junguiana, a ânima e o ânimus. Esses dois nomes representam o feminino e o masculino, mas não no sentido externo de gênero ou comportamento social.
Jung dizia que todos nós carregamos dentro da nossa psiquê uma imagem do oposto. Ou seja, dentro de cada homem existe uma mulher interior, a ânima, e dentro de cada mulher existe um homem interior, o animus. Essas imagens não são simples personagens, elas são arquétipos.
Formas simbólicas que influenciam profundamente o jeito que a gente se relaciona com o outro e com a gente mesmo. São projeções do inconsciente que moldam nossos sentimentos, nossas idealizações, nossos julgamentos e até nossas escolhas amorosas. Pensa comigo, quantas vezes você já se sentiu intensamente atraído por alguém que nem fazia tanto sentido racionalmente?
ou quantas vezes você idealizou alguém de um jeito quase mágico, colocando nessa pessoa todas as qualidades que você desejava, como se ela fosse a metade que faltava. Muitas vezes, o que tá acontecendo aí é uma projeção da sua ânima ou do seu ânimos. Você não tá enxergando o outro como ele realmente é.
tá enxergando uma parte de você que está oculta, inconsciente e que se manifesta através do desejo. É como se o inconsciente usasse o outro para mostrar aquilo que você precisa integrar dentro de si. Por isso, Jung dizia que o amor muitas vezes é uma espécie de encontro com o inconsciente e que se a gente não reconhece isso, acaba vivendo relações confusas, idealizadas demais ou até destrutivas.
Porque no fundo a gente tá tentando encontrar fora algo que na verdade tá faltando dentro. A anima no homem representa o contato com o mundo emocional, com a sensibilidade, com a intuição, com a receptividade. Quando ela tá integrada, o homem consegue acessar essas qualidades sem medo, sem vergonha.
Mas quando ela tá reprimida ou distorcida, ela aparece em forma de projeções, como a mulher idealizada, a musa inalcançável ou até a feme fatale, que seduz e depois destrói. Já o animus na mulher é a imagem do masculino interior. Ele representa a razão, a ação, a firmeza, a direção.
Quando tá bem integrado, ele traz força, estrutura, foco. Mas quando tá mal resolvido, ele aparece em forma de crítica interna, rigidez, excesso de racionalidade, ou até na forma daquele homem idealizado, forte, protetor, salvador, que muitas vezes não existe na realidade. Esses arquétipos atuam no nosso inconsciente o tempo todo.
Eles influenciam a forma como a gente se atrai por alguém, como a gente espera ser amado e até o que a gente projeta num relacionamento. E o que Jung nos convida a fazer é parar de buscar fora o que está faltando dentro e começar um processo de integração, ou seja, olhar para essas imagens internas com mais atenção, entender o que elas estão tentando nos mostrar e permitir que o feminino e o masculino dentro da gente possam dialogar. cooperar e se equilibrar, porque no fim das contas o verdadeiro encontro é sempre com a gente mesmo.
E é aí que entra uma das ideias mais provocadoras de Jung. Muitas vezes quando a gente se apaixona, a gente não tá amando o outro de verdade. A gente tá amando um espelho, um reflexo, uma parte da gente que foi projetada naquela pessoa.
Pode parecer estranho no começo, mas pensa comigo. Quantas vezes você já conheceu alguém e sentiu aquela conexão intensa, quase como se fosse alma gêmea, como se aquela pessoa te completasse de um jeito inexplicável. Isso para Jung muitas vezes é a ânima ou ânimos atuando em cheio.
É o inconsciente usando o outro para revelar algo que ainda tá escondido dentro de você. Essas projeções não são ilusões burras. Na verdade, elas têm uma função.
O inconsciente faz isso para tentar te mostrar algo que precisa ser reconhecido, acolhido e integrado. Por exemplo, se um homem projeta anima numa mulher, pode ser que ele esteja tentando se reconectar com sua própria sensibilidade, com seu lado emocional, com uma parte criativa que ficou esquecida. Se uma mulher projeta o ânimus num homem, talvez esteja buscando força, estrutura, direção, mas não no outro, e sim nela mesma.
O problema é que quando a gente não percebe essa dinâmica, começa a cobrar do outro aquilo que ele nunca prometeu ser. Começa a idealizar demais, a esperar perfeição, a sofrer por expectativas que nunca vão se realizar. E aí o amor vira confusão, frustração, até dor.
Quantas vezes você já ouviu ou viveu aquela história de uma relação que começou mágica, intensa, linda e depois virou um pesadelo emocional. Na linguagem junguiana, isso acontece porque a projeção foi quebrada. A imagem idealizada começa a desmoronar e a gente começa a ver o outro como ele realmente é, humano, imperfeito, diferente da fantasia.
Mas olha só, isso não é ruim, isso faz parte do processo. Jung dizia que o objetivo da projeção é justamente ser quebrada, porque é nesse momento que você tem a chance de retirar essa imagem do outro e reintegrar dentro de si. É nesse momento que o amor deixa de ser ilusão e começa a virar verdade quando você para de exigir que o outro te complete e começa a se completar por inteiro.
Quando você entende que o outro pode ser um companheiro de jornada, mas não o seu salvador, não o seu espelho ideal, nem a peça que faltava no quebra-cabeça. Esse tipo de amor mais consciente nasce depois que você encara o espelho e decide continuar o caminho com os próprios pés. É aí que o desejo começa a deixar de ser carência e vira potência.
E é exatamente nesse ponto que a gente começa a enxergar a sexualidade com outros olhos. Para Jung, o sexo não é só uma experiência do corpo, ele é um portal, um portal para algo maior. Algo que se a gente tiver coragem de atravessar, pode nos levar a um nível de consciência muito mais profundo.
Ele chamava isso de individuação, o processo de se tornar quem você realmente é, integrando todas as partes da sua psiquê, inclusive aquelas que você esconde, rejeita ou projeta nos outros. A energia sexual, quando não é reprimida nem vivida de forma inconsciente, se transforma. Ela vira combustível.
Ela vira vontade de criar, de buscar sentido, de transformar sua dor em arte, seu vazio em conexão, sua confusão em clareza. É por isso que em muitas tradições antigas o sexo era visto como algo sagrado, não porque era puro no sentido moral, mas porque era uma força poderosa ligada à vida. a criação, a transcendência.
Jung resgatava essa visão mais simbólica da sexualidade. Ele entendia que quando a gente se conecta com esse desejo de forma consciente, ele pode nos conduzir para um tipo de despertar. Não é à toa que ele falava do arquétipo do herói sexual.
E esse herói não é o conquistador, nem o sedutor. É aquele que atravessa o próprio desejo, enfrenta suas sombras, reconhece suas projeções e volta para si mesmo mais inteiro. É quem não foge do fogo, mas aprende a caminhar dentro dele sem se queimar.
Claro, isso não é simples. A gente vive numa cultura que ou exagera demais o sexo, ou tenta esconder, controlar, reprimir. Ou ele é tratado como mercadoria, como prazer vazio, ou como tabu.
Mas Jung propõe outro caminho, o da integração, o de olhar pro desejo sem medo, sem culpa, sem idealizações, de entender que o desejo pode sim te derrubar, mas também pode te levantar, pode te escravizar, mas também pode te libertar. Tudo depende da consciência que você coloca sobre ele. Quando você começa a entender o que realmente tá buscando por trás de cada atração, de cada carência, de cada fantasia, começa a surgir uma outra relação com a sexualidade, mais livre, mais honesta, mais transformadora.
E é nesse ponto que o desejo deixa de ser só instinto e vira caminho espiritual. Mas para chegar nesse nível de consciência, tem um passo que muita gente evita, o encontro com a sombra. Para Jung, a sombra é tudo aquilo que a gente rejeita em si mesmo.
Tudo o que foi reprimido, escondido, negado, seja porque a sociedade não aceitava, porque a família condenava ou porque a gente mesmo não conseguiu lidar. E a sexualidade costuma ser uma das partes mais escondidas nessa sombra. Desde cedo, muita gente aprende que sentir desejo é feio, que não pode, que é pecado, que é perigoso.
Então, o que acontece? A gente empurra esses sentimentos para debaixo do tapete do inconsciente, mas eles não somem. Eles voltam em forma de culpa, de vergonha, de medo, de relações conturbadas, de comportamentos que a gente nem entende de onde vem.
Jung dizia que o que você nega te domina e o que você aceita te transforma. Então, quando a gente começa a olhar pra própria sombra sexual, para tudo aquilo que foi escondido, sufocado ou distorcido, a gente começa aos poucos a retomar o controle da própria energia. Não é um processo fácil, é desconfortável, sim, às vezes até doloroso, mas é profundamente libertador.
E aqui não se trata de viver tudo que der vontade ou fazer o que quiser sem filtro. Não é sobre se entregar ao impulso, mas sobre escutar o que esse impulso tá querendo dizer. Porque o desejo também fala, ele revela, ele aponta para algo que tá pedindo atenção, muitas vezes algo que você nem sabia que existia em você.
É nesse mergulho no inconsciente que a gente começa a perceber que os desejos mais intensos, os mais conflitantes, os mais proibidos até podem carregar mensagens importantes sobre nossas feridas, nossos limites, nossas necessidades emocionais mais profundas. E quando a gente encara essa parte da psique de frente, começa a ganhar um novo tipo de liberdade. Não a liberdade de fazer tudo, mas a liberdade de não ser mais escravo de nada.
a liberdade de fazer escolhas conscientes, de se relacionar com mais verdade, de sair de padrões repetitivos que muitas vezes a gente nem sabia que estava preso. A sombra não é o seu inimigo, ela é um portal de autoconhecimento. E quando você inclui a sexualidade nesse processo, descobre uma força incrível escondida bem ali, onde antes só havia medo ou vergonha.
É como acender uma luz num quarto que ficou trancado por anos. No começo assusta, mas depois você vê que ali também tem partes de você que estavam esperando ser vistas e amadas. Dentro do universo simbólico da psique, Jung observou que o feminino carrega uma dualidade poderosa.
De um lado, a figura da Madre Cita, a mãe acolhedora, protetora, que cuida, nutre da segurança emocional. Do outro, a tentadora, a mulher sedutora, instintiva, livre, que desperta o desejo, o risco, a transformação. Esses dois arquétipos existem desde os tempos mais antigos.
Estão nos mitos, nas religiões, nos contos de fada e, sem que a gente perceba, também estão presentes no nosso inconsciente, moldando as nossas relações, nossos desejos e até nossas crises afetivas. A madre cita representa o amor incondicional, a entrega, o conforto, a base emocional. Ela é a mulher que cuida, que escuta, que sustenta.
Mas quando esse arquétipo fica dominante demais ou desequilibrado, ele pode se transformar em dependência, em excesso de proteção, em apagamento da própria individualidade para atender o outro. Já a tentadora carrega a energia da paixão, do movimento, da força criativa. Ela é instintiva, magnética, provocadora.
Ela representa o poder de despertar, mas também o medo da perda de controle. E é por isso que historicamente esse arquétipo foi tão demonizado, porque ele mexe com aquilo que é mais reprimido, o desejo de liberdade, de intensidade, de romper com o que é seguro. Jungrava que essas duas figuras vivem dentro de todos nós e não importa o gênero.
No homem, muitas vezes elas aparecem como projeções. Ele busca uma mulher que seja mãe e amante ao mesmo tempo. e se frustra quando descobre que ninguém pode cumprir esse papel dividido.
Na mulher, essas imagens internas podem gerar conflito. Ser doce ou ser ousada, ser cuidadora ou ser livre, ser aceita ou ser desejada. O ponto é que essas duas forças não são opostas, elas são complementares.
E quando a gente aprende a reconhecer essa dualidade dentro de nós e a integrar as duas faces do feminino, a gente para de viver em conflito. A mulher que aceita sua tentadora interior não precisa mais esconder sua potência criativa, nem sua sensualidade. O homem que reconhece sua projeção da madre cita entende que não precisa buscar colo eterno numa parceira.
Ele pode aprender a se cuidar também. Esses arquétipos estão profundamente ligados à forma como a gente ama, deseja, rejeita, idealiza. E quando eles atuam no inconsciente, podem sabotar nossos relacionamentos ou limitar nosso crescimento pessoal.
Mas quando a gente os traz paraa consciência, começa a enxergar com mais clareza o que realmente busca nas relações e o que precisa encontrar primeiro dentro de si. No fim, essa dança entre a nutrição e a sedução, entre o cuidado e a liberdade, é o que torna o feminino tão profundo e tão transformador. Até aqui a gente já entendeu que o desejo não é um simples impulso, nem algo que deve ser ignorado ou reprimido.
Ele é uma linguagem do inconsciente, um movimento interno que pode servir como bússola para quem busca crescer de verdade. E é aí que surge uma figura simbólica muito forte na obra de Jung, o herói sexual. Mas calma, não confunde com aquele estereótipo do garanhão ou da mulher fatal que a sociedade costuma exaltar.
O herói sexual que Jung propõe não é alguém que conquista corpos, é alguém que conquista a si mesmo. É aquele que atravessa as próprias paixões, que enfrenta seus desejos mais profundos e confusos. e em vez de se perder neles, se encontra.
Esse herói não nega o desejo, ele mergulha nele, mas com consciência. Ele reconhece que o desejo pode ser uma armadilha, mas também pode ser um mestre, porque o desejo revela onde estão nossas feridas, nossas carências, nossos anseios mais ocultos. E ao encarar isso de frente, o herói começa a se libertar, não porque deixou de desejar, mas porque passou a entender o que está por trás do desejo.
Sabe aquela sensação de ficar preso num ciclo de relações parecidas ou de repetir os mesmos erros emocionais? Yung diria que aí está o chamado da jornada do herói, porque esses padrões se repetem até que a gente aprenda com eles, até que a gente pare de buscar fora aquilo que precisa despertar por dentro. O herói sexual aprende a usar essa energia como impulso criativo, como força de cura, como poder de transformação.
Ele entende que o desejo não precisa ser negado, ele precisa ser elevado, sublimado. E aqui sublimar não é reprimir nem espiritualizar tudo de forma artificial. é canalizar essa força para algo que expanda a consciência, paraa arte, paraa conexão real, para transformação pessoal, paraa criação de algo com sentido.
É como transmutar o fogo, deixar de se queimar com ele e começar a iluminar o caminho com a sua luz. E olha que interessante, essa jornada do herói é individual, mas também tem reflexos coletivos, porque quanto mais a gente se conhece, mais a gente se relaciona de forma verdadeira. E quanto mais conscientes somos do nosso desejo, menos a gente manipula, fere ou depende dos outros para se sentir inteiro.
Então, no fim das contas, o herói sexual não é aquele que vence o desejo, mas aquele que atravessa ele e volta com sabedoria. Depois de toda essa jornada de encarar as projeções, integrar os arquétipos, atravessar a sombra e despertar o herói interior, a gente começa a perceber que a sexualidade nunca foi apenas sobre prazer, nem só sobre corpo. Ela é, na verdade, uma ponte, uma ponte entre o instinto e o espírito, entre aquilo que nos impulsiona e aquilo que nos transforma.
Para Jung, o impulso sexual é uma das formas mais poderosas da energia psíquica, mas ela não precisa ficar presa só ao plano físico. Essa mesma força, quando reconhecida e canalizada de forma consciente, se transforma em algo maior: criatividade, inspiração, conexão com o sagrado. Em muitas tradições antigas, isso já era entendido.
Sexo era ritual, era meditação, era símbolo de união com algo que vai além do ego. Não se tratava apenas de duas pessoas se encontrando, mas de duas almas se reconhecendo, espelhando uma à outra, abrindo caminhos para transformação mútua. É claro que a nossa cultura moderna perdeu muito desse olhar.
Hoje, o sexo muitas vezes é tratado como um produto, uma performance, uma distração. Mas o inconsciente não se esqueceu do seu significado mais profundo. E quando a gente se abre para olhar o desejo com mais presença e menos julgamento, começa a perceber que ele tá apontando para algo lá dentro, um chamado de expansão.
Não é sobre negar o corpo, é sobre atravessar o corpo até encontrar a alma. É sobre deixar o instinto te ensinar, mas não te dominar. é sobre se permitir sentir e ao mesmo tempo aprender a transformar o sentir em sabedoria.
E olha que curioso, quando a gente vive a sexualidade de forma consciente, não só os relacionamentos melhoram, a vida inteira muda, porque você começa a caminhar com mais presença, mais inteireza, mais verdade. Você deixa de correr atrás de preenchimentos externos e começa a criar de dentro para fora. Jung dizia que o ser humano se realiza quando consegue unir os opostos dentro de si.
E a sexualidade é um dos caminhos mais diretos para isso, porque ela te obriga a lidar com o desejo e o medo, com o prazer e a dor, com o instinto e a espiritualidade. É um convite para crescer, para despertar, para se tornar mais humano e mais inteiro. No fim das contas, o desejo é só o começo.
O que você faz com ele é o que define quem você está se tornando.