Olá, sejam bem-vindos ao nosso canal eu sou o Mário, dirijo o Templo Espiritual Caboclo Pantera Negra e o Ilé Ifá Ajàgùnmàlè Olóòtọ Aiyé, no nosso vídeo de hoje vou tratar sobre um dos cultos que antecederam a Umbanda e que nós podemos chamar esse culto de "A avó da Umbanda", que é a Cabula. Espero que apreciem ao vídeo Vejam, esse vídeo ele vai ser um complemento do vídeo que eu falo sobre a Santidade, porque alguns elementos que eu trouxe que falam sobre a Cabula também se remetem à Santidade, então vejam, a Cabula era um culto praticado em diversas partes do Brasil. Há registros especialmente feitos no Espírito Santo, porém nós encontramos em Salvador por exemplo o nome de um bairro chamado de Cabula, e segundo as pesquisas mais recentes esse nome desse bairro se deve à prática da Cabula naquela região então nós temos registro tanto em Salvador quanto no Espírito Santo e depois vem para o Rio de Janeiro então provavelmente tenha saído da Bahia, vindo para o Espírito Santo e finalmente para o Rio de Janeiro.
A Cabula é um culto em que a grande parte dele se baseia na tradição Bantu, porém há a mistura com muitos elementos que na época chamavam-se de elementos Muçulmi, ou Malê, essas palavras Muçulmi designa em árabe a palavra Muslimim, que quer dizer muçulmano, e Malê e a palavra Ìmàle em Yorùbá que também designa muçulmanos então a Cabula se constrói com essas duas, com esses dois povos que foram para o Brasil escravizados e o nome Cabula vem da alteração da palavra Cabala. E essa Cabala que se fala, nós vamos encontrar também mais recentemente nos livros do Tancredo nos anos 50 Inclusive tem um livro que Ele publicou chamado a Cabala da Umbanda então este nome já existia, não no sentido da Cabalá Judaica do misticismo próprio do judeu, mas como algo secreto como algo desconhecido, então a Cabula tem esse mesmo sentido porque era uma prática que era bastante reservada, então a Cabula tem alguns nomes que nós conhecemos que nós até usamos até hoje e outros nomes que nós não conhecemos, por exemplo o Cafioto que a palavra é da língua Congo Angola quer dizer "filho pequeno". Que são as pessoas que frequentavam o terreiro E se fossem homens eram chamados de Mucambo ou de Mucamba, então vocês vejam que já tem ligação da questão ancestral com o povo Bantu.
Os Camanás eram os iniciados na Cabula, que passavam por um ritual próprio de iniciação, a iniciação na Cabula era um ritual bastante marcante para a comunidade, então a comunidade se reunia, os rituais de Cabula eram feitos em sua maioria no meio da Mata, logicamente para preservar o grupo da perseguição do estado ou da monarquia dependendo do tempo em que aconteceu era feito na mata e após vários banhos ritualísticos que era feito no Caialo, que é a pessoa que vai se iniciar, que vai ser iniciada depois de iniciado ele se chama Camaná, mas o Caialo é a pessoa que está no caminho da iniciação, então o Caialo ou a Caiala, era preparado com banhos depois era defumado com várias ervas também, colocava a roupa branca nova, entrava na Engira, que era o ritual, o que nós usamos até hoje como gira mas é o nome que já se usava na Cabula no século 18 e 19, então nós atualmente herdamos diversos termos da Cabula. Além disso depois que ele passava por esses rituais purificatórios ele entrava cerimoniosamente na Engira e ele tinha que passar três vezes por entre as pernas do Embanda, o Embanda é o sacerdote e também a palavra Embanda vai também influenciar o nome Umbanda porque tanto Embanda, quanto Umbanda significa sacerdote, que é aquele que pratica a Quimbanda esse nome também se dá nesse sentido. Então nós temos também essa outra lembrança que o Embanda que era o sacerdote no qual a pessoa passava três vezes por entre as suas pernas depois disso ele era cruzado com uma vela acesa pelos demais Camanás, então cada Camaná vinha com uma vela acesa e cruzava o seu corpo na frente depois ele passava a vela por entre as pernas do iniciado e cruzava pelas costas e cada Camaná fazia isso.
Depois desse ritual havia a comemoração cumprimentavam o novo Camaná, ele passava então a fazer parte do grupo dos iniciados dos Camaná, e entre os rituais entre a vida deles nós temos alguns nomes então o Camucite é o local de reunião onde se reuniam para fazer a mesa, as duas mesas principais da Cabula era a mesa de Santa Bárbara , e a de Santa Maria então já vemos aí as questões sincréticas que já existiam desde sempre, que o povo Bantu já veio da África para o Brasil já com muita parte sincrética Então essas duas mesas eram as principais, ainda aqui nós não encontramos Òrìṣà ainda não existe Òrìṣà aqui ainda porque o povo Yorùbá chega depois. E aí a questão do Òrìṣà agrega para isso tudo então ainda nós vamos temos Òrìṣà ainda não há Exu não há Pomba Gira, o que se incorpora nas pessoas são os Táta que a gente usa até hoje os nomes de Táta, Táta Caveira, Táta rompe-mato então vários nomes que usamos hoje são nomes oriundos da Cabula e que acabaram também permanecendo até hoje em especial na Umbanda e na Quimbanda. Continuando, o Camolelê, era um gorro que os homens usavam que era um gorro muito próximo daquele que os muçulmanos usavam em terras africanas, que é mais um exemplo da influência Malê, da influência Islâmica que tem também na Cabula.
O Cambone que nós também usamos na Umbanda era o auxiliar do Embanda, que fazia a assistência aos Táta, aos seres que incorporavam nas pessoas. O Nimbu eram os cantos que eles faziam então o primeiro Nimbu que era feito era o Nimbu para abrir a Engira, então é um canto que abria a Engira, logo depois de abrir-se a Engira, cantava-se o segundo Nimbu que é lógico para defumação então depois de aberta a Engira, nós fazemos a defumação então segundo canto logo após a abertura é o de defumação, e aí de fumavam todas as pessoas que participavam tanto os Camanás, os iniciados, os Caialo, que hoje nós chamamos de Abiyan no Candomblé que são aqueles que estão se preparando para ser iniciados, como os Cafiotos, que são o público geral, Mucambo homens , Mucamba mulheres. Então nada se cria, tudo vai se adaptando as novas realidades dos seres humanos, na Cabula, há o culto, a reverência à Deus e há o culto especial aos Bakulo, o Bakulo na tradição Bantu se refere aos ancestrais.
Porém na Cabula o Bakulo Vai um pouco mais além dos ancestrais, como também o Bakulo pode ser representado por elementos da natureza, então forças da natureza que também podem ser representados pelos Bakulo e é o que ele se manifestam nas pessoas. Então os Táta são os Bakulo, o que incorpora nas pessoas, então o Bakulo para o povo Bantu é o nome que se dá aos ancestrais também você vai encontrar, depois da Umbanda e depois na Quimbanda, os Bakuro que é a mesma ideia só que mudou Bakulo para Bakuro, mas é a mesma palavra que designa o ancestral. Quando o iniciado depois de ser cruzado como falei antes pelas velas ele tinha um outro cruzamento que a gente era o cruzamento com a pemba que também é uma prática antiga, quando você cruza o terreiro, Encruza Encruza Encruza Terreiro, Encruza Encruza Encruza terreiro Encruza.
. . Encruza o terreiro com a pemba então ele também era cruzado com a pemba, o Ẹfun que nós falamos hoje era o pó, uma argila branca que fazia com que a pessoa era consagrada finalmente depois de passar pelas pernas do Embanda do iniciador, depois de ser cruzado com as velas, ser cruzado com a pemba, ele estava iniciado como um novo Camaná.
Outra forma de eu chamar o estado de transe, a incorporação dos Táta, que são os Bakulo, os ancestrais e a força da natureza o estado de transe que eu tenho se chama Santé, esse termo Santé vem, naquele vídeo que eu falei anteriormente, do vídeo falando sobre a Santidade que é a manifestação, é o transe que a pessoa se encontra por meio das cantigas das danças e no caso específico da Cabula, pelo consumo do tabaco, seja ele fumado, seja por rapé da mesma forma como se dá o transe na Santidade. Então veja e a bisavó, melhor dizendo a mãe da Cabula nós podemos dizer que é Santidade, a filha da Cabula nós podemos dizer que a Macumba e a filha da Macumba são duas filhas especificamente, a primeira é uma filha que depois divide-se em duas que é a Umbanda que depois deriva pra Quimbanda, então no histórico do que nós praticamos hoje a Cabula tem um papel fundamental, porque depois da Santidade que era um culto indígena católico a Cabula já entra com os elementos afro, já sai somente dos elementos católicos indígenas, e aqui entram os elementos afro. Então é nesse contexto da circulação das memórias brasileiras católicas indígenas e finalmente negra que a Cabula se desenvolve, então a Cabula é o primeiro culto sistematizado e organizado que existe no Brasil que mistura as nossas três configurações básicas, da influência católica, da influência da própria questão indígena e da influência da tradição africana.
Então é o primeiro culto que realmente une as três vertentes como um culto organizado, os demais não tem esse culto organizado tão forte como foi a Cabula, com todo o sistema que eu descrevi da iniciação, da forma com a pessoa se comporta e assim por diante.