Oi gente eu sou Maria Ferreira do blog Impressões de Maria, no vídeo de hoje eu quero conversar com vocês sobre o livro "Solitária" da Eliana Alves Cruz. Se você ainda não conhece, Eliana Alves Cruz é escritora brasileira, esse se eu não me engano é o quarto livro dela, ela é autora dos outros livros "Água de barrela", "Nada digo de ti que em ti não veja" e "O Crime do cais do Valongo", obras aí que retratam um período, principalmente o período escravocrata do Brasil e aqui a gente vai ter uma obra muito contemporânea que retrata o Brasil atual, desde a época ali de 1900 e pouco até o período da pandemia no Brasil, então é muito atual mesmo, muito contemporânea mesmo, e aqui vão ser abordados assuntos, principalmente a questão do trabalho doméstico no Brasil, a herança escravocrata brasileira e as questões sociais e raciais que envolvem a elite branca brasileira. A gente tem aqui como protagonistas duas mulheres negras que são a Mabel e a Eunice, elas são mãe e filha, então a Eunice é a mãe e a Mabel é a filha e o livro é dividido em três partes, a primeira parte é narrada pela Mabel, a filha, então ela vai contar desde quando era criança e é levada pela mãe para trabalhar na casa dos patrões brancos dela, então ela chegou ali criança, não entendia muito bem o que estava acontecendo, e na medida em que ela vai crescendo, se tornando adolescente, tornando adulta ali naquela casa ela vai entendendo melhor a situação.
E a segunda parte é narrada pela Eunice, ela é empregada doméstica que vai trabalhar para essa família de pessoas brancas, ela é uma empregada que precisa dormir no trabalho, então a gente vai ver o quanto que foi difícil para ela também abdicar dos cuidados da mãe que é mais velha, já é uma senhora e que não conseguia mais trabalhar, então ela foi trabalhar no lugar da mãe dela, a necessidade de levar a filha para o trabalho junto com ela, então ela sabia de todas as limitações que era uma criança ter que morar num quartinho de empregada, que era onde ela dormia e o como que foi difícil, né, para criança e para ela também esse período porque ser uma empregada que dorme no trabalho é o mesmo que vocês está à disposição 24 horas por dia dos seus empregadores, então você não tem muita liberdade, a criança também não tem muita liberdade porque ela tem que ser uma criança invisível, ela não pode exercer a sua infância porque não pode brincar, não pode fazer barulho, então é muito complicado assim para uma criança filha de empregada doméstica que dorme no trabalho, e a terceira parte é narrada por um por um narrador inanimado, eu prefiro não falar qual que é por causa que tem uma surpresa, assim, mas fica aí que é de um narrador inanimado, essa narração e que faz assim totalmente sentido ser essa última parte diferente. Uma das coisas que eu acho muito legal é que os capítulos do livro são curtos, então a narrativa fica muito fluida, mas a escrita da Eliana como um todo, é muito gostosa, assim, ela desliza, sabe? Então e as coisas que ela coloca, ela coloca nos detalhes, então ela vai falar que sobre racismo, sobre todas as coisas erradas que envolvem a questão do trabalho doméstica no Brasil, as faltas de direitos, de garantia de direitos para trabalhadoras, mas aqui não é um livro que é panfletário nesse sentido, as coisas são postam assim nos detalhes de uma forma muito sutil, então é muito gostoso de ler assim, a gente vai se entendendo na história da narrativa e vai se revoltando também com tudo o que acontece com todas os absurdos que acontecem aqui, entendendo o quanto que esse livro é um retrato muito fiel da elite brasileira e o quanto a nossa história ainda hoje tem muito da herança da herança da escravidão no Brasil.
Então como que as relações sociais e raciais se dão, ainda tem muito da herança da escravidão no Brasil e outra coisa que eu gostei é o quanto que todos os títulos aqui tem a ver com os espaços que os personagens estão frequentando. Então isso é um espaço geralmente que tem a ver com a casa, né, com o lugar onde a história se passa que é no edifício, num prédio ali de gente rica, o edifício Golden Plate, então aqui tem quintal planta baixa, piscina, cozinha, escritório, portaria salão de festas, portão e assim por diante, aí tem também quintal, sala de estar, parede e a última parte tem o quarto de empregada, quarto de porteiro, o quarto de hospital, quarto de descanso, e essa última parte aqui é intitulada de "Solitárias", então traz muito essa ideia de de estar preso em um lugar que você não tem muito contato com o mundo exterior, então isso também é muito interessante aqui no livro, acho que a Eliana Alves Cruz tem uma escrita assim muito potente que retrata muito bem a história do Brasil e todos os podres que a nossa elite exala, assim desde contratar crianças para trabalhar como empregadas domésticas, então as crianças já não têm uma infância assim, de trazer crianças para trabalhar como empregados, então crianças de 13 anos, 14 anos a questão também da Eunice ter que trabalhar com a filha e aí acontece um incidente que envolve gravidez na adolescência e a decisão que essa família branca toma vai muito mais encontro com os interesses da família do que com a pessoa que engravidou na adolescência, então a gente vê o quanto que a elite brasileira é muito hipócrita, tem também a questão das cotas, que é posta aqui de uma forma muito sutil também, mas que ajuda a gente a se localizar no período em que a história se passa porque a mabel ela tá muito focada, né lá nos últimos anos de estudo dela de no ensino médio, em passar e estudar e prestar o vestibular para medicina, e claro que a família é branca vai vai ser contra, não vai botar muita fé, então isso funciona como um gás, uma motivação a mais para que a Mabel continue focada nos estudos e ela consegue ser aprovada no vestibular para medicina e depois muita comemoração, e eu gostei muito da forma como ela fala na cara da família, agora eu vou sair daqui vou sair pela porta da frente, consegui, conquistei, claro que fez uso das cotas nas cotas raciais, e tem um personagem aqui que é contra as cotas, e eu gosto dessa sutileza da Eliana de mostrar que esse é um edifício bolsonarista e ela não fala "esse é um edifícil bolsonarista", ela fala "as janelas estavam todas com bandeira do Brasil" e isso a gente já consegue pegar, né, já consegue identificar o que isso significa aqui porque com certeza é algo muito atual, infelizmente. Então é isso, gostei muito desse livro, é muito doloroso, assim, muitas partes muito tristes, a gente vê que muito do tempo da escravidão só se adaptou, não mudou de verdade, a gente tem uma personagem, tem aqui essa situação de ser análoga à escravidão, então é muito triste mesmo, mas a Eliana soube contar essa história com muita sensibilidade, com muita responsabilidade, também, então é um livro que eu indico vocês lerem sem medo, eu li no meu clube de durante o mês de outubro, o Clube Impressões e foi um livro que as pessoas gostaram muito também.
Se você já leu esse livro me conta aqui nos comentários o que você achou, se você gostou, me conta se você já leu outros livros da Eliana Alves Cruz, e eu gostei do quanto a Eliana é uma boa escritora tanto falando sobre o passado do Brasil quanto falando sobre o presente, o quanto que tem esse viés crítico, assim, ela faz isso com muita criticidade, então gostei muito da leitura, espero que vocês tenham gostado dessa resenha, não esqueçam de deixar aqui um comentário e se você é novo por aqui não esquece de se inscrever, também deixar o seu like para o vídeo chegar em mais pessoas e a gente se vê no próximo, vídeo então.