O Paradoxo do Navio de Teseu EXPLICADO

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Ciência Todo Dia
Você ainda é o mesmo de anos atrás? Existe um experimento mental famoso na filosofia conhecido como ...
Video Transcript:
Eu vou contar pra vocês uma das histórias mais clássicas da filosofia, que data da Roma Antiga. Essa história é a história da jornada de Teseu e as suas viagens no seu navio, o navio de Teseu. O barco de Teseu é feito de 30 tábuas.
Conforme o navio viaja pelo mar, as tábuas são expostas à umidade, ao sal e ao sol. E elas lentamente ficam desgastadas. Quando uma tábua fica velha e gasta demais, Teseu para em algum porto, joga a tábua, gasta fora e coloca uma tábua nova.
E conforme os anos vão passando, eventualmente, tábua por tábua, Teseu troca todas as tábuas do navio. No fim da história, nenhuma tábua original do navio de Teseu continuava no navio. Então esse navio ainda é o navio no qual Teseu partiu para sua viagem?
Ou ele é um novo navio construído pouco a pouco conforme as tábuas foram substituídas? Eu gostaria muito que vocês escrevessem qual é a opinião de vocês nos comentários. Vamos ver se ela muda durante o vídeo.
A história do navio de Teseu pode parecer um conto inocente com uma pergunta meio pegadinha no final. Mas essa história vai mais fundo. A história do navio de Teseu carrega um dos problemas mais antigos da filosofia, que é o problema da identidade.
E esse problema não vale só para navios. Por exemplo, em 2002, a seleção brasileira ganhou a Copa do Mundo com uma seleção que incluía nomes como Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho. Atualmente ainda existe um time que se chama Seleção Brasileira, mas com outros jogadores, como por exemplo o Neymar.
Será que a Seleção Brasileira atual ainda é a mesma Seleção de 2002? Ou será que a Seleção vira uma Seleção nova toda vez que mudam os jogadores? E quantos jogadores exatamente que é o limite pra gente mudar e virar uma nova Seleção?
E aí deixa eu ir mais a fundo nessa pergunta. O que exatamente define a identidade da seleção brasileira? O uniforme?
O conjunto de jogadores? Um misto dos dois? E se você não gosta de futebol, aqui vai um exemplo musical.
Uma das bandas mais famosas do mundo, Linkin Park, voltou ativa com uma nova vocalista. Vários fãs ficaram descontentes, dizendo que a banda mudou demais e perdeu a sua identidade. Então o que exatamente define a identidade da sua banda favorita?
É o nome dela? Ou é quem tá no vocal? Ou será que é um membro específico mais o nome?
E se você não gosta nem de música nem de futebol, você já teve uma sensação estranha de que as suas memórias ocorreram no que parece ser outra vida? Meio que como se não fosse você que tivesse vivido aquilo. Essa sensação é natural, porque nós estamos em constante transformação.
Essa é a versão humana do navio pode revelar o que você pensa sobre a sua identidade, sobre o retorno do Linkin Park e sobre a atual situação da seleção brasileira. O meu nome é Pedro Loz e eu estou aqui para responder se o navio de Teseu ainda é o mesmo depois de todos esses anos e todas essas tábuas. Mas mais do que isso, eu também quero te fazer refletir se você ainda é a mesma pessoa que se inscreveu no canal há algum tempo atrás.
Se você ainda não se inscreveu, clica aqui. É só um botão. E agora sim, vamos começar a resolver o paradoxo do navio de Teseu.
Esse é o Teseu, esse é o navio de Teseu e esses são os chapéus que vão me ajudar a pensar se o navio de Teseu ainda é o mesmo depois de ter todas as suas tábuas trocadas. Mas vamos começar defendendo que sim, o navio de Teseu ainda é o mesmo depois de todas as suas tábuas serem trocadas. Um jeito comum de fazer isso é argumentar que o navio permanece o mesmo porque a sua forma foi mantida.
Enquanto o navio de Teseu tiver a forma de um navio e for do Teseu, ele vai ser o navio de Teseu. Nesse caso, eu estou dizendo que a identidade é preservada pela continuidade da forma original, independente das mudanças que ocorrem em pequenas partes. Só muito importante!
Nesse contexto de filosofia, a ideia de forma é um pouco mais abrangente do que o conceito que nós estamos acostumados. Forma é o elemento que contribui de uma maneira única para a identidade de um objeto. Ela é uma característica que só aquela coisa tem.
É tipo quando nos intervalos de Pokémon aparecia uma sombra e você precisava acertar qual era o Pokémon. E para saber que Pokémon, você precisa saber o que é um Pokémon. Tanto a sombra quanto o ser um Pokémon são parte da forma.
Aristóteles por exemplo diz que um ser humano é definido pela racionalidade, a característica que é única de humanos e é a racionalidade que nos separa de outras coisas que não são humanos ou seja, para Aristóteles é a racionalidade que dá forma ao ser humano então enquanto você manter sua capacidade de pensar racionalmente você é um humano e mais, é por continuar racional que você sabe que o seu eu de hoje é o mesmo de um ano atrás. E falando em ser racional, vocês sabiam que a FIAP, o Centro de Excelência em Tecnologia mais respeitado do Brasil, tem cursos tecnólogo que duram 2 anos e bacharelado que dura 4 e 5 anos? Ah, e melhor ainda, nas modalidades online e presencial.
Você provavelmente pensa bastante no seu futuro e quer o melhor possível. Uma ótima ideia seria conhecer mais o trabalho da FIAP, que nem eu fiz quando participei de um curso de extensão oferecido por Erezin Boston nos Estados Unidos. Eu gosto muito que o ensino na FIAP é feito com a mão na massa.
Você aprende enquanto aplica o que está aprendendo na vida real, desenvolvendo soluções que vão ser aplicadas no mundo. Eu inclusive participei da Next FIAP, em que os alunos da graduação apresentaram os seus projetos finais para grandes empresas, em um evento muito especial, com muito network. E isso sim é ser conectado com o futuro.
Se você ficou interessado, clica no link aqui da descrição para saber mais sobre todos os cursos que você pode fazer na FIAP. E agora de volta ao vídeo, tem uma coisa me incomodando. Para Aristóteles, é a racionalidade que dá forma ao ser humano.
Então enquanto você permanecer racional, você continua sendo você. Mas espera aí, isso não significa que se alguém perder a capacidade de ser racional, ela deixe de ser ela mesma? É muito comum que pessoas comecem a desenvolver problemas de demência na velhice, e aos poucos elas podem perder a capacidade de serem racionais.
Isso significa que elas não são mais as mesmas pessoas? Se o navio de Teseu ainda é um navio de Teseu por manter sua forma, sim, quem perde a capacidade de raciocinar deixa de ser humano. Então talvez tenha uma forma melhor de justificar por que o navio ainda é um navio de Teseu no fim da viagem.
E lá vamos nós de novo! Talvez o que mantém o navio de Teseu sendo o navio de Teseu é a sua função. O que é ser um navio?
Pro Teseu, esta é a perspectiva funcionalista. E segundo o funcionalismo, enquanto o navio de Teseu carregar o próprio Teseu e a sua carga, ele vai continuar sendo o mesmo navio, não importa se ele mudar de forma. Então não importa quantas vezes as tábuas mudem, o navio de Teseu vai continuar sendo o navio de Teseu.
A menos que alguém mude a função do navio. Imagine que centenas de anos se passaram e um jovem loiro de bigode vergonhoso acha a carcaça do navio de Teseu. Maravilhado com a descoberta, ele acha o navio muito bonito e decide colocar quatro rodas e transformar os restos do navio de Teseu não existe mais.
Ele perdeu a sua identidade e virou algo novo, que é o carro de desfile do Pedro. Não, pera, de jovem, loiro, com um bigode vergonhoso. Mas quando eu falo do navio de Teseu nesse contexto, você ainda sabe exatamente ao que eu estou me referindo.
Então mesmo quando o navio de Teseu ganha uma nova função como um carro alegórico, ele ainda é um pouco navio de Teseu. Talvez exista mais por trás da identidade do navio do que função e forma. Existe mais uma perspectiva defendendo que o navio de Teseu ainda é o mesmo navio que eu gostaria de compartilhar.
Mesmo as partes mudando e mesmo transformando o navio em um carro alegórico, o navio ainda é o mesmo porque sua identidade persiste através do tempo. Em outras palavras, desde que exista uma história bem definida e uma linha de eventos de causas e efeitos que conectem o navio do começo da viagem com o navio ao fim da viagem, ele mantém a sua identidade e continua sendo o navio de Teseu. E desde que você se lembre de quem você era há um ano, você ainda é a mesma pessoa.
Mas peraí. Isso levanta um problema. Se você tiver amnésia, você vira uma nova pessoa?
Ou será que a amnésia faz parte da história da sua identidade, mesmo sem você lembrar? É, realmente tá difícil de usar esse chapéu. Eu vou experimentar outro.
O que significa eu falar que não, o navio de Teseu não é o mesmo depois de ter todas as suas tábuas trocadas? Remover as tábuas originais destrói a identidade do navio. Essa é a ideia de matéria constitutiva, ou seja, de que a alma do navio está nas tábuas que formam ele.
E ao trocar elas, o navio de Teseu deixa de ser o navio original e vira um novo navio. Mas se esse é o caso, quantas tábuas exatamente o Teseu precisou trocar até um novo navio surgir? Uma?
Duas? Metade? Ou será que a cada tábua trocada o navio virava um novo navio?
E na verdade, Teseu navegou com mais de 30 navios no decorrer da história. As implicações disso vão longe. O seu corpo está constantemente trocando de células.
Isso significa que você vira uma nova versão sua milhares de vezes por dia? Onde exatamente está o limite? Realmente.
. . Eu não tô achando boas respostas pro problema do navio de Teseu.
Olha só! Uma nova forma de olhar pro problema! Essa é minha hora de brilhar.
Talvez nós estejamos nos complicando demais por tentar encontrar respostas que satisfaçam ao mesmo tempo todas as pequenas minúcias do que nós imaginamos como identidade. E essa talvez seja uma das respostas possíveis mais interessantes. A identidade do navio de Teseu é algo complicado.
Além de aceitar e negar a possibilidade de identidade do navio, existem posições que defendem uma resposta menos direta para o problema do navio de Teseu. Thomas Hobbes nos deu um exemplo interessante. Ele relativizou a identidade do navio de Teseu.
Para entender isso, imagine que a cada tábua velha trocada por uma nova, eu guardava a tábua velha e aos poucos restaurava um outro navio de Teseu. Agora no fim da viagem, existem dois navios. Um que teve as suas tábuas substituídas e outro feito com as tábuas velhas.
Assim nós teremos dois navios de Teseu. Qual deles é o verdadeiro navio? É o primeiro navio que teve as suas tábuas velhas trocadas?
Ou é um navio restaurado, feito apenas com tábuas velhas? Para Hobbes, a identidade do navio é relativa. Porque ela vai depender tanto da sua continuidade física quanto do observador do navio.
Ou seja, entre os dois navios, o navio de Teseu é o navio em que o Teseu está. E qual dos dois navios é o navio de Teseu muda durante o tempo. A identidade não é algo rígido, é mais uma convenção.
O que parece uma forma legal de pensar quando nós falamos de objetos. Mas imagine que você sem querer tropece e entre numa máquina de clonagem instantânea. E do outro lado saem duas cópias suas.
Qual é o seu eu verdadeiro? E quem garante que você é o verdadeiro e não o clone? Pensando de forma relativa, as pessoas ao seu redor podem até mudar de ideia de quem é o verdadeiro dependendo do que for conveniente para elas.
Talvez a sua namorada prefira considerar uma das cópias da verdadeira, e a sua mãe a outra. E em um sentido relativo, nenhuma delas está errada. E uma outra alternativa é que a identidade vai depender do contexto dado por um observador.
Nós podemos pensar que ele é o navio de Teseu em determinado contexto, mas não é o mesmo navio de Teseu em outro contexto. Por exemplo, o navio no carro alegórico pode ser o navio de Teseu quando Pedro escavou ele das ruínas, mas é só o carro alegórico no dia do carnaval. Isso ajuda a esclarecer como a identidade pode ser compreendida de maneira diversa ao longo do tempo, dependendo da lente através da qual o fenômeno é analisado.
A sua identidade é uma colaboração entre quem você é e o mundo ao seu redor. Talvez um bom exemplo seja a Catedral de Notre Dame, que em 2019 sofreu danos devido a um grande incêndio. Desde então, grandes esforços repararam a Catedral, mas esses esforços envolveram refazer o trabalho e substituir parte do material danificado pelo fogo.
Mas como a Catedral é importante, o fogo foi infeliz e os reparos à estrutura são vistos como algo positivo pela sociedade, ninguém vai ficar falando que ah, mas agora não é mais a mesma catedral histórica porque mexeram na minha torre favorita. O que isso significa é que agora, materiais produzidos no mundo moderno fazem parte de uma construção que ainda é considerada antiga. Agora, se derrubassem toda a catedral e usassem a própria igreja para fazer um shopping chamado Notre-Dame, ninguém consideraria esse shopping a construção original.
A natureza da catedral não parece depender só da catedral, mas também de como as pessoas pensam sobre ela. Mas também existem pessoas que negam o próprio paradoxo do navio de Teseu. Para o filósofo Derek Parfit, o paradoxo do navio de Teseu é um falso paradoxo, que não diferencia adequadamente dois tipos diferentes de identidade, a numérica e a qualitativa.
Vamos voltar a considerar os dois navios de Teseu, o com tábuas novas e o com tábuas velhas. O navio de Teseu original e a versão com as tábuas trocadas são o mesmo navio no sentido qualitativo, ou seja, ambos servem para a mesma coisa e para a mesma pessoa. Mas as duas versões do navio são diferentes no sentido numérico.
As 30 tábuas novas vieram depois das tábuas velhas, então é um navio novo no sentido mais literal. As duas versões do navio são as mesmas na prática, mas não de fato. Ou seja, o problema do paradoxo do navio de Teseu seria um falso paradoxo, porque não existe uma distinção apropriada para distinguir o que é identidade numérica ou qualitativa.
Inclusive essa visão é muito útil para se um dia você for clonado. O seu clone é qualitativamente idêntico a você, mas numericamente diferente. E eu acho que agora é hora de a gente finalmente encarar o elefante branco que está nesse vídeo até agora.
Quem é você? A ideia de separar a identidade em qualitativa e numérica é filosoficamente consistente, ou seja, funciona. Mas ao mesmo tempo não é tão satisfatória assim.
Estava mais divertido ficar confuso sobre a minha identidade e ficar trocando de chapéu. O que isso indica é que talvez uma resposta nem sempre é melhor do que uma pergunta. E na verdade, é pra isso que servem boas perguntas.
E boas histórias. E é por isso que o paradoxo do navio de Teseu está com nós até hoje. Porque ele representa uma pergunta simples, mas profundamente interessante sobre quem nós somos e o que significa mudar.
Um experimento mental simples como a história do navio de Teseu nos força a refletir sobre quem nós somos, como mudamos e quem viramos quando mudamos. E aqui você talvez sinta a tentação de pular para uma resposta científica. No caso de humanos, é simples.
Pedro, a nossa identidade é o que está no nosso cérebro. O que parece uma posição razoável, desde que você concorde que no fim da história, você é o seu sistema nervoso central. Ou seja, eu poderia substituir os seus braços, os seus olhos, a sua boca e todo o seu corpo, mas desde que o seu cérebro e o sistema nervoso fossem mantidos, você ainda seria você.
E se é assim que você pensa, você nunca viu o si mesmo. Tudo o que você vê ou se olha no espelho é uma casca que encobre o seu eu verdadeiro, que é o seu cérebro. E eu não sei vocês, mas eu particularmente não gosto muito dessa resposta.
Mas eu não tô falando pra ignorar a ciência. Eu acho que o meu cérebro faz parte de quem eu sou. Eu só não estou disposto a descartar todas as minhas experiências de vida, a minha aparência e o meu picode questionável da lista de coisas que compõem a minha identidade.
E pra mim, essa é a beleza de um vídeo como esse. Uma pergunta que parece simples nos leva a uma jornada que nos faz questionar coisas que, em um primeiro momento, nós achávamos que entendíamos bem. Nós estamos em um oceano desconhecido.
E se você chegou até essa parte do vídeo, comenta com um emoji de onda pra nunca esquecer e esse vídeo agora faz parte da sua identidade. Muito obrigado e até a próxima.
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