Novo mundo do trabalho: plataformas, pejotização, escala 6x1 e IAs | Entrevista com RICARDO ANTUNES

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CartaCapital
Qual o papel dos algoritmos e plataformas digitais na precarização das relações de trabalho? Como is...
Video Transcript:
Olá, amigos de Carta Capital. Eu sou Fabiola Mendonça, repórter da revista Carta Capital no Nordeste. Estou aqui hoje para conversar com o pesquisador Ricardo Antunes.
Ele que é sociólogo, professor da Unicamp e um dos maiores especialistas nos estudos sobre o mundo do trabalho. Então, professor, seja muito bem-vindo e obrigada por ter encontrado um tempinho na sua agenda para conversar com a gente. É um prazer.
Muito obrigado. Eu quero começar a entrevista já lhe perguntando sobre o perfil da classe trabalhadora, né, pegando o gancho aí do primeiro de maio, dia do trabalhador. Quem é esse trabalhador em 1eo de maio de 2025, né, considerando a precarização do mundo do trabalho, a urbanização, a terceirização, a pejotização, enfim, uma série de eh métodos, né, de informalidade do mundo do trabalho.
Se nós fôssemos olhar, tivéssemos fazendo essa entrevista, sei lá, no dia as véspas do primeiro de maio de 1970, tá certo? No Brasil, eh nós teríamos, perceberíamos o tamanho da diferença, não é? O que o que que fundamentalmente ocorreu desde os anos da década de 70 para cá, num processo no início lento, mas profundo.
1973 marca um momento de crise estrutural muito profunda do capitalismo, que grosso modo, de maneira sintética, o a empresa automotiva tayorista e fordista, que o Charles Chapl então magistralmente nos nos apresenta nos tempos modernos, ela não desapareceu, mas ela é hoje completamente diferente. Basta dizer que a Ford, a primeira fábrica automotiva instalada no Brasil, não existe mais no Brasil. Há alguns anos atrás, ela deixou de ter uma fábrica montadora aqui.
Por que que isso ocorreu? No contexto da crise estrutural, eh, Fabíula, nós tivemos o neoliberalismo, a financeirização do mundo, o capital financeiro é quem comanda este universo, e o setor de serviços, que era majoritariamente público. Sou de uma geração que a educação era pública, a saúde pública, a água era pública, a luz era pública, as estradas eram públicas, a previdência era pública.
Tudo isso hoje é privado, foi privatizado e com alta rentabilidade, com altos níveis de lucro e altos índices de extração de sobretalho do mais valor. Quer dizer, isto mudou porque nós tivemos a partir dos anos 80, 90, 2000 a industrialização do setor de serviços. Eu nunca usei nos meus livros, Fabíola, a expressão sociedade pós-industrial.
Eu considero um equívoco, porque o que nós temos agora é um setor, o de serviços que no passado era público e raramente privatizado. Vamos pegar os anos 30, 40, 50 do século passado. E hoje é raro o que dele se mantém público.
É raro, é cada vez menor. Exército, polícia, judiciário, legislativo, nas chamadas atividades lucrativas, todas elas foram privatizadas. Isto gerou o que eu chamei num livro que eu publiquei em 2018, a primeira edição, o privilégio da servidão.
O subtítulo é O novo proletariado de serviços da era digital. Nós tivemos a expansão call center, por exemplo, se nós tivéssemos falando aqui 2004, 2005, o setor que mais se expandia no Brasil nos serviços privatizados era o call center, indústria hoteleira, comércio, tá certo? hipermercados, shoppings.
E neste período também, sem que nós nos percebêssemos, nos apercebêssemos desse processo, as plataformas começaram a nascer, só que elas não tinham visibilidade. A Amazon iniciou vendendo livros em 1994 95, tá certo? A Uber inicia a sua proposta de criar, né, um sistema privado de transporte individual em 2009, 2010, Amazon Mecanical Turk em 2004, 2005 e de repente a coisa explodiu.
Como o contexto era de altos níveis de desemprego, o que que se passou? Tá certo? As empresas plataformizadas deram o pulo do gato.
Eu chamo do golpe Frankenstein, para lembrar o magistral romance da Mary Shirley, tá certo? Ou seja, você tem alta força sobrante de trabalho, desempregados e desempregadas em todos os países do mundo, do norte ao sul, muito mais intensos, naturalmente no sul global, mas também no norte, tá certo? Você tem uma explosão tecnológica que nós estamos falando aqui há 15 minutos.
Algumas milhares de inventos já foram feitos nesses 15 minutos no mundo. Porque é China de um lado, Estados Unidos do outro Japão, é Alemanha. Quer dizer, é uma coisa, é o moinho satânico que disse o C Polani no século passado, hein?
E isto fez com que as empresas dessem o pulo do gato do golpe Frankenstein. Vamos assalariar sem dizer que são assalariados. Vamos proletarizar sem dizer que são proletários e proletárias.
Vamos empregá-los sem assumir a condição de empregador. Por quê? para não pagar os direitos do trabalho nos países onde essas empresas adentraram e para não pagar também a tributação.
Isto é o setor de emprego que mais se expande no mundo. Há um semanas atrás, o o CEO da Uber eh nos disse que a Uber tem hoje em torno de 8 milhões de pessoas trabalhando no sistema de transporte privado. Nenhum desses 8 milhões que fazem o transporte privado, nenhum deles tem nenhum direito do trabalho.
A classe trabalhadora hoje é mais complexa, mais heterogênea, mais fragmentada. Isso eu apresentei nos livros Adeus ao Trabalho, uma pergunta e os sentis do trabalho. E como mostrei mais recentemente nos meus trabalhos mais recentes, ela expandiu um proletariado de serviços que nós não conhecíamos na medida em que transformou capitalisticamente essas empresas.
E veja, e este é um ponto que nós podemos voltar mais à frente, combinando alta tecnologia, um entregador não faz nada sem um celular e sem um algoritmo, comandando ou comandando um entregador ou uma entregadora, um motorista ou um motorista. e ele não tem o menor controle desse algoritmo. E esta alta tecnologia convive com níveis intensos de exploração do trabalho.
Portanto, o primeiro de maio de 2025, nós temos que fazer uma luta que começou pelo menos no primeiro de maio de 1888. Estados Unidos 1886, perdão, quando nos Estados Unidos nós tivemos a conquista da jornada de 8 horas. Nenhum desses motoqueiros hoje do Brasil, nenhum não.
Na média, porque sempre é a exceção, mas na média são jornadas muito acima de 8 e 10 horas por dia, às vezes sem descanso semanal. Então, primeira coisa, jornada de 8 horas. Segunda coisa, direitos de verdade.
Há um site chamado nenhum trabalho sem direitos de verdade, que eu posso te mandar depois o link. que ele é muito rico de informações, muito rico. Foi o meu grupo quem fez a pedido de um projeto de pesquisa que eu tenho com o Ministério Público do Trabalho aqui da região de Campinas.
Foi assumido, até onde eu saiba, pelo MPT Nacional. Nenhum direito do trabalho, nem eh eh nenhum trabalhador sem direitos de verdade, porque eles não têm sequer descanso, férias, 13º, aquilo que as trabalhadoras domésticas com muita luta conseguiram, né, há mais de 10 anos, 10, 12 anos. aquilo que os trabalhadores brasileiros e trabalhadoras vêm lutando desde os anos 30, para não falar dos anos anteriores, é até que as questão, nós estamos um momento de precarização estrutural do trabalho em escala global.
Finalizo que eu já falei demais na primeira questão, mas só para te ajudar e essa experiência minha é interessante. Durante 12 anos eu dei aula na Universidade de Cafoscara de Venezia, tá certo? Ou seja, eu conheço Veneza quase tão bem quanto o Barão Geraldo, que é o distrito aqui que eu moro ao lado da UMICAN.
A precarização do trabalho em Veneza. Tá, porque tem muita gente que acha, mas na Europa é tudo diferente, não é tudo diferente, é diferente, é diferente, mas tem igual também. Ninguém entende o que se passa com a classe trabalhadora na Alemanha, na Itália, na França, na Inglaterra.
Se não estudar as condições ultra precarizadas dos imigrantes, esta classe trabalhadora que é universal, e do chamado precariado, é o jovem trabalhador europeu que não encontra mais os mesmos direitos que os seus pais tiveram na época e fordista, na época do for do for state ou do chamado estado de bem-estar social, vigente em alguns poucos países europeus, especialmente do norte da Europa. Professor, a impressão que dá é que a gente tá voltando aí pro século XVI, século XIX, quando o trabalhador tá trabalhava da sua própria casa ou em algum outro espaço que não seja o espaço da fábrica, o espaço a sede, né, do empresariado, sem nenhum direito trabalhista, sem carga horária, eh fazendo eh sua jornada extensiva de uma forma até desumana, né? Por que chegamos a esse ponto?
Nós chegamos a esse ponto eh pelo seguinte. Primeiro, a tecnologia que nós temos nosso tempo, mais adiante vamos falar um pouquinho da inteligência artificial, dos algoritmos. Ela não é fundamentalmente, ela não está sendo conduzida para o benefício da humanidade.
Ela fundamentalmente está sendo conduzida por grupos, grandes grupos financeiros que controlam o sistema mundial do capital com vistas a mais riqueza, mais valor, mais lucro, a valorização do valor do capital. Então é muito simples explicar isso hoje. Elan Musk e Jeff Bezos, Mukenberg, não é à toa que eles são hoje o braço direito, aliás, o braço extremado da direita norte-americana.
Que que esses artefatos eh eh informacionais, digitais objetivam? Reduzir trabalho vivo. Então, numa indústria, a Volkswagen do Brasil, que chegou a ter 16.
000 Operários ou perto disso na indústria na sua fábrica de São Bernardo, hoje tem quatro, cinco vezes menos e produz quatro ou cinco vezes mais os números aqui com uma certa liberdade, tá certo? Trabalham com muito menos e produzem com muito mais. Por quê?
Porque a indústria 4. 0, por exemplo, hoje é vital pra planta automotiva. A Toyota tá mudando a sua planta pra fábrica pon0.
A Mercedes tem a 4. 0 já na sua unidade de São Bernardo e tantas outras fábricas no Brasil. Este, o objetivo de criar a internet das coisas, automação, robotização ao limite nas fábricas, é para reduzir trabalho vivo.
Então veja, se você tem uma massa sobrante de trabalhadores e trabalhadoras em praticamente todas as atividades industriais tradicionais e você tem a explosão do operariado de serviços que cresce no mundo inteiro com a explosão das plataformas e mais hotelaria e mais trabalho, que eu citei anteriormente, toda aquela massa de Workcana, Mercado Livre, Amazon, Amazon Mecanical Turk, tá certo? Chopia. A a lista é imensa.
Cada país tem dezenas delas. Eles só contratam sobre a condição de trabalho típica do século XVI e X. Eu digo isso nesse livro aqui que eu organizei, projeto com MPT Bergoss a Dereriba, eu chamo assim a segunda tese que eu desenvolvo, o capitalismo de plataforma, entre aspas, é uma descrição, tem algo em comum com a protoforma do capitalismo, o que que é com a forma primeira do capitalismo.
Outsourcing no capitalismo do século XIX, o que que era? Homens, mulheres e crianças trabalhando fora das fábricas com jornadas ilimitadas. Porque eu tô trabalhando na minha casa, eu posso trabalhar 12 horas por dia, 14, inclusive as crianças, porque você não tem nenhum, você já não tinha nem controle rigoroso nas fábricas.
Imagine em casa o que que é o crowduring hoje? É a forma bonitinha da exploração digitalizada, da força de trabalho também sem nenhum direito trabalhando em suas casas. Então, quer dizer, há algo de estranho no reino da Dinamarca, entende?
Alguma coisa não vai bem. Quando nós, veja a aberração que nós chegamos, quando o mundo atingiu um patamar de tecnologia que nós poderíamos trabalhar algumas horas por dia e alguns dias por semana, qual é a jornada média de um trabalhador de plataforma? Mais que 10 horas.
o PL do Lula, que nós vamos falar depois, o PL do governo, que foi desastroso, é triste dizer isso, mas é preciso que seja dito, indicava uma jornada limite de 12 horas de trabalho, vírgula, por plataforma. Supondo que um trabalhador só ou uma trabalhadora só trabalhasse numa plataforma, 12 horas por dia, é ilegal. A jornada de trabalho no Brasil é de 44 horas.
Então, a jornada legal não pode exceder a 8 horas por dia, tá certo? seis dias da semana, sendo que um dos dias da semana pode ser meia jornada para chegar aos 44 horas, tá certo? E não eh e não e muitos muitos eh devo dizer, muitos trabalham 48 horas.
Agora, uma jornada de 12 horas por dia 7, se a minha matemática ainda funciona bem, são 84 horas de trabalho semanal. É uma cint classe de trabalho. E por quê?
Simples assim. Um, o mundo financeiro quer o dinheiro tem que gerar mais dinheiro. Dois, o desemprego é global.
Não há país, salvo raras exceções, do Norte, Finlândia e tal, que os níveis são pequenos, né? Ah, os desempregos diz diz, quer dizer, eu não sou economista do do eu não sou economista, então me dou esse de não cometo essa aberração. Estados Unidos vive quase pleno emprego, você vai ver quase 4% de desemprego.
É assim todo. Enquanto você tiver um desempregado ou uma desempregada, você não tem pleno emprego. Isso pode pode satisfazer a tranquilidade dos economistas do capital financeiro.
Pros sociólogos críticos do trabalho é uma aberração. Então você tem um nível de desemprego em tantas partes do mundo, inclusive no nosso, e muitos na informalidade, no trabalho uberizado, na no PJ, né? formas, digamos assim, de burla, sempre para minimizar, enfraquecer ou burlar e eliminar a jornada protetora de trabalho.
É por isso que nós estamos vendo uma situação dessa. E por último, são monopólios que, sei lá, a a a Apple, ela tem tá em guerra com as similares chinesas. Quem ganhar o 5G mundial vai dar um salto paraa frente.
Quem perder fica cai fora. Então é uma guerra de gigantes. Quem sofre as condições do precariado, perdão, as condições do proletariado, da classe trabalhadora global estão precarizadas, só melhoram quando a luta, como houve, por exemplo, no primeira década do século XX na China, lutas heróicas da classe trabalhadora chinesa para ter um nível de vida mais remunerado.
O mesmo vale hoje para outras situações. O mesmo vale hoje pros trabalhadores de aplicativos. A greve de 31 de março de de desse ano e de primeiro de abril foi espetacularmente rica e forte porque ela mostrou, aliás, primeiro de abril porque é o dia da mentira, não é?
Não é um morre mais de um motorista de moto motoqueiro por dia em São Paulo. Mais de um. E não estou falando dos acidentes, não é possível, né?
Então nós estamos mudando a níveis de degradação do trabalho quando podíamos estar com uma jornada civilizada de trabalho. É justamente sobre essa questão da jornada de trabalho que eu queria lhe ouvir agora em relação a esse projeto, né, que discute a escala 6x1, né, e tendo como alternativa a escala 4x3. é um projeto eh que surgiu lá com o hoje vereador, né, do Rio, eh tá no no congresso eh encampado pela deputada Érica Hilton, né?
Eu queria lhe ouvir é a importância de de um projeto como esse, né? A importância da redução da da jornada de trabalho paraa classe trabalhadora. Eu disse recentemente, já inclusive no artigo que escrevi paraa Carta Capital no final do ano, que as eleições municipais do ano passado, tá certo?
foram as piores eleições da história republicana desde a ditadura militar, que eu me lembro porque já desde então, desde a dit acompanhamos, foi a pior, elegemos um parlamento que cuja qualificação é é impossível de ser dita de modo direto aqui, porque seria teria que ser assintosa. Nós estamos vendo muito bem. A única exceção da campanha foi esse jovem eh trabalhador da área de serviços que resolveu pegar numa questão da vida cotidiana dele, dos seus companheiros e companheiras, que é o trabalho no comércio, nos serviços, que tem uma jornada de 6 dias, 8 horas por dia, em tese, 8 x 5, 40, mais o sexto dia 4:44, que frequentemente vão para 48 ou extrapolam muitas vezes com pagamento de horas extras, é verdade, para suprir o prec os baixos salários, baixos salários, mas muitas vezes burlando a legislação.
Nós sabemos o nível de burla, basta consultar as as reclamações judiciais do tribunal, nos tribunais do trabalho para perceber o nível assintoso de burla que as empresas fazem. Ao tocar nesta questão, ele contrastou com todo a mesmice das eleições municipais. Ele disse: "A vida cotidiana não pode, eu não consigo criar meus filhos, eu não consigo ver meus amigos, a companheira não consegue ver o companheiro.
" Quantos depoimentos eu já coletei que o trabalhador motoqueiro diz: "Eu chego em casa, meu filho que tem um ano, a minha filha que tem um ano já tá dormindo e quando eu saio às 6 da manhã eu, ele não acordou". No caso dosizados, sejam os motoristas ou especialmente os motoqueiros, a jornada é 7 por0, não tem 6 dias. A maioria esmagadora até no domingo trabalha.
E outra, o trabalho ele não tem nada de autônomo, ele não tem nada de empreendedor porque tem a gamificação. Eu eu tenho que eu tô numa competição, eu sou chamado. Se eu não respondo uma, duas, três, a o algoritmo não me chama mais.
É impessoal. A empresa não tem fisicidade. Aonde que está a sede da empresa que eles trabalham?
É isto aqui, o ludismo. Eh, eh, eh, Fabíola, os operários tinham a chance de quebrar as máquinas. Eu não estou defendendo, eu só tô mostrando que entra uma máquina, desemprega.
É, um mês depois uma máquina nova, mais 100 desempregados, a terceira máquina, mais 200. Na terceira eles começaram a quebrar. Se eu for quebrar o algoritmo hoje, eu vou quebrar o meu celular.
Eu vou tomar na cabeça, porque o algoritmo que tá aqui. O que significa? A questão da jornada de trabalho toca diretamente na vida cotidiana da classe trabalhadora, especialmente desse setor de serviços que é mais desprovido de organização sindical e de organização de classe.
Muitos, vou ser muito claro, muitos sindicatos de trabalhadores do comércio são pelegos, são atrelados às empresas e não defendem os direitos da classe trabalhadora. Não todos, não é um setor eh pautado pela combatividade como metalúrgicos ou como bancários, por exemplo. Então, quanto mais desprovida a classe trabalhadora de organismos sindicais, de autoorganização, comissões de empresa, mais difícil é a situação.
É por isso que a jornada 4x3 ela é vital. Professor, o senhor citou aí alguns países que teria iniciado já nesse projeto de redução da jornada. Eu queria que você falasse um pouco, se puder, trazer algumas experiências até para eh combater e bater de frente com a informação de que se reduzir a jornada os empresários teriam prejuízos.
Enfim, eu queria que o senhor trouxesse a luz algum algumas experiências nesse sentido. Tem muitos países que estão ensaiando. Na Inglaterra você tem ensaios disso expressivos, né?
Portugal, Espanha, tentativas países eh nórdicos como a Islândia e outros, tá certo? Você tem ensaios, né? Porque é possível você reduzir a jornada de trabalho significativamente sem reduzir salário, porque senão, né, e ao mesmo tempo aumentar, ampliar os espaços de sociabilidade dos trabalhadores, das trabalhadoras, para que eles possam ir a a festas populares, para que eles possam ir a a a digamos e músicas para dançar.
Nada disso a classe trabalhadora tem. Porque se você tem que trabalhar seis dias da semana, no sétimo você tá exausto e você tem que cuidar da casa. E se for mulher é mais grave ainda, porque a a dupla jornada de trabalho que às vezes vira tripla, é muito mais, né?
Tem os trabalhos da produção e da reprodução que estão muito imbricados. Eu quando fui trabalhar na Inglaterra por um ano na Universidade de Santuer Steven Mesaros, que era então vivo naquela época, não é? Eu presenciei o debate que estava ocorrendo na União Europeia e a França saiu à frente para reduzir a jornada de trabalho do da classe trabalhadora francesa.
Só que qual é o problema, eh Fab, se a França reduz a jornada de trabalho, enquanto a Alemanha tá prolongando ou mantendo lá em cima, a Inglaterra prolongando, a Itália prolongando, a França perde competitividade, porque o a lógica do capitalismo é uma competição muito destrutiva, é um moinho satânico. Isso não é o professor Ricardo tá falando, é o mestre Carolanbes. É, é um moinho satânico aí, onde um ganha, o outro perde.
Isso que significa o quê? Os empresários sempre vão dizer que vão perder produtividade. Eles não vão perder produtividade.
Eles vão perder um quanto um distração da maisvia que eles fazem no tempo excedente. O capital não não subsiste um dia sem trabalho vivo, entende? Um dia, tá?
Se nós nós estamos usando uma máquina aqui, genial. Eu tô falando com você, daqui a pouco tá no YouTube, tá rodando. Agora, se eu parar de falar e você parar e ficar aqui, daqui a pouco a máquina vai cair, ela vai entrar em standby.
Se eu não ligar de novo, nós vamos eh eh mutantes, mutantes. Isso é um exemplo de que o trabalho vivo, você pode reduzir a interação dele. A pandemia permitiu que vários experimentos fossem feitos pelo capital para criar novas modalidades de exploração do trabalho.
O home office foi a Petrobras, a Petrobras aprendeu que reduzindo a presença físbras, que não é propriamente uma empresa privada, tá certo? uma empresa de economia mista. Ela percebeu que ela reduziu imensamente os custos operacionais dela.
Naturalmente não pode ter trabalho de home office, da extração do petróleo. Aí tem que ser feito lá mesmo. Mas o escritório você pode.
E com isso ela reduziu. Tem uma outra coisa que esse é um problema pra classe trabalhadora. A aparente positividade de eu ficar em casa, como é que eu mobilizo quando eu tiver que fazer uma greve?
Vai ser uma greve digital, entende? Se, amanhã eu recebo uma, vamos pegar uma empresa privada que você tá trabalhando tão bem que eu vou aumentar o seu salário, tá? De de cinco para 8.
000. Você quer? Claro que eu quero.
Só que tem um pequeno detalhe. Eu vou te mandar aí um documento, você assina, você não vai ser mais CLT, você vai ser meio PJ. Arrebentou a legislação protetora do trabalho.
O trabalho remoto é um trabalho sem fim, porque você termina o trabalho do do seu emprego e vai trabalhar em casa, né? E se mistura e não tem e não tem mais jornada. Tem uma coisa muito importante que é muito ruim para classe trabalhadora.
Então tudo isso eu tô falando porque o desafio do 4 por tr obriga levantar essas questões de fundo. Qual é o tempo do meu trabalho na minha casa? Ilimitado.
Aí eu produzo mais. Porque eu trabalho, eu começo às 9, vai num acordo às 7, começo às 9, mas eu vou até meia-noite, entende? Então, há há experiências de home office, mas há experiências também de jornada eh de 4x3 que tão não perdem a produtividade.
Por quê? Porque você compensa a produtividade, tá certo? Eh, na medida em que você a cada dia, a inteligência artificial ela tem um objetivo, aumentar a produtividade do trabalho e consequentemente o enriquecimento privado.
O objetivo da inteligência artificial dominante no mundo hoje não é o benefício da humanidade, não é? Deveria ser. E se assim for, até porque a tecnologia não é o invento do capital, até a tecnologia é um invento da humanidade.
O primeiro microcosmo familiar, a primeira homem, primeiro homem, a primeira mulher, quando pegam a pedra e faz a pedra polida, foi um avanço tecnológico impressionante naquele momento. Hoje você pode reduzir a jornada de trabalho substantivamente, porque não faz, porque tem uma guerra entre gigantes. Esses gigantes querem falar muito diretamente, Mercado Livre e Amazon estão em guerra porque o Mercado Livre tá indo longe demais, tá certo?
É aqui no mundo latino-americano e tá dizendo pra Amazon me espera que eu vou chegar em onde você tá, entende? E a Amazon oferecendo entrega de produtos por avião na Argentina para quebrar o berço da da do Mercado Livre. É uma guerra de gigantes e a classe trabalhadora fica comendo, minha mãe que falava assim, comendo pão que o diabo amassou, entende?
É mais ou menos isso que ocorre. Então esse é o problema. Lutar por essa pela redução é vital e não é verdade.
Vai reduzir não a produtividade, vai reduzir o ganho forçado, extraído a partir de uma jornada excedente e desumana de trabalho. É simples assim. Eh, professor, para finalizar, que orientação o senhor daria à classe trabalhadora nesse primeiro de maio?
Só tem uma saída. A empresa diz que você é um indivíduo que sozinho você vai chegar ao céu, ao reino dos céus. É mentira.
Sozinho você tá percebendo o adoecimento, a quebra, a morte. Quando um motoqueiro desses fica 6 meses de licença, ele não ganha um salário. Então a saída é a união de trabalhadores.
Ah, professor, mas é impossível. Diziam isso. Ah, professor, impossível.
Isso. Cada um pensa uma coisa. Nenhuma classe trabalhadora nasce sabendo, Fabula.
Nós também não nascemos sabendo. É a coisa coletiva. Veja que interessante, o mesmo WhatsApp que ata o trabalhador plataformizado à empresa é o que conecta os trabalhadores e começa, eles começam a perguntar: "Você aumentou, abaixou o rendimento seu?
Salário? Abaixou? " Eles explicaram por não.
Para mim também não. Eles te avisaram porque que você foi bloqueado. Não, eles não avisaram.
Bloquearam assim. Então, e o WhatsApp é vital e a empresa não tem como acabar com o WhatsApp. Se ela acabar com a TIBSAP, ela não se comunica com os trabalhadores.
O mesmo instrumental que me sujeita e subordina a uma lógica digital que eu não vejo é diferente quando você tá numa fábrica e vê a máquina, vê o mestre, vê o feitor, vê o gestor, vê o CEO, ou ali tá o CEO naquela sala de vidro lá, você não vê nada hoje. Então elas têm que criar mecanismos. Por isso que a greve, acho que você sabe disso, 31 de março e 1 de abril.
Por que que escolheram 1 de abril, que é um dia de, seria em tese, um dia de pouco movimento, porque é o dia da mentira. As empresas dizem que os os trabalhadores estão todos felizes, que bacana, tá? Passa pela marginal em São Paulo 40 minutos, você no mínimo não, você não fica passando pela marginal, você vê pelo menos em 40 minutos ou 1 hora na marginal dois acidentes de mó pelo menos.
Ah, mas são os os motoristas que são eh eh descontrolados, não são os motoristas. Se eu não correr que nem cachorro louco, como ele chama, eu sou cachorro louco, eu tenho que correr para eu fazer a minha meta e levar um pouco de dinheiro para casa, pagar a Veja, eh, Fabíula, essas empresas montam uma atividade e transferem todos os custos do instrumental de trabalho pra classe trabalhadora. O carro ele compra ou aluga, a moto ele compra ou ele arruga, aluga a bicicleta, ela compra e ela aluga, o celular, ela compra, ele ou aluga e assim vai.
E quando eu compro e alugo e me conecto uma plataforma, a única coisa que eu não vou pedir é se eu tenho direito. Eu vou falar: "Me faz pedido que eu tenho que pagar o juros do carro que eu comprei". É infernal, é um sistema infernal.
E é preciso que os o esta burguesia trilharária global entenda que eh o primeiro de maio vai ter luta. É mais difícil. É mais difícil.
O período é um período difícil. É difícil. Estamos vivendo uma fase de contrrevolução burguesa, de amplitude global no mundo.
Estamos vivendo. Estamos vivendo o risco da eminência de um conflito global incontrolado. Estamos vivendo.
Mas não tem essa coisa de que as lutas sociais acabaram. Se olharmos na China hoje, na Índia, nos Estados Unidos, na Inglaterra, olha o Trump, duas semanas já, duas duas grandes manifestações de massa nos Estados Unidos. Os Estados Unidos tava tinha um nível de manifestação social muito limitado.
Um mês de desastre do Trump já movimento negro, movimento das mulheres, movimento operário, no sindicalismo mais combativo, movimento da juventude, movimento dos imigrantes. começa a ter uma, quer dizer, o mundo, o que nós podemos dizer é que o mundo tá num numa situação onde qualquer previsão de 10, 20, 30 anos e eh quem fizer tá arriscado a a quebrar cara. OK, professor, muito obrigada por enriquecer esse debate tão importante, né, e que mexe diretamente com a vida da classe trabalhadora.
É sempre muito bom ouvir as suas reflexões, né? E ficamos aí na torcida por dias melhores para os trabalhadores. Mais uma vez, obrigada e até a próxima.
Um abraço a vocês. Obrigado. Foi um prazer, tá?
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