Em 1998, essa obra foi leiloada. Uma jovem mulher de perfil, feita a giz em papel velino. No leilão, o artista criador da obra e a mulher retratada foram tidos como desconhecidos e a peça foi descrita no catálogo como a obra de um artista alemão do século XIX, que tentava imitar o estilo renascentista italiano.
Em meio a todas as pessoas que estavam no leilão, uma em especial foi atraído pela beleza da obra: o colecionador Peter Silverman. Logo de cara, quando viu a pintura, ele desconfiou que, na verdade, ela poderia ter sido pintada durante o Renascimento e não séculos depois como os leiloeiros estavam descrevendo. E então, ele deu um lance.
Foram 18 mil dólares, que era o dobro do mínimo do valor que você precisava dar, mas… ele não conseguiu comprar, um outro cara chegou e deu 21 mil dólares! Assim, Silverman acreditou que nunca mais veria a obra. 9 anos se passaram e ele acabou entrando por acaso em uma galeria em Manhattan e lá estava o desenho que mais uma vez acendeu uma chama no coração de Peter.
Como quem não quer nada, ele chegou para o dono da galeria e perguntou o valor daquele quadro e ofereceu mais ou menos o valor que ele tinha dado no leilão. Assim, ele sai da galeria com o desenho em um envelope embaixo do braço. Ele não sabia na época, mas estava carregando o desenho que deixaria todos os especialistas do mundo da arte malucos.
Já que ele poderia ter sido feito pelo próprio Leonardo da Vinci. Mas, e se eu te falar que por um detalhe minúsculo, isso até hoje isso é debatido. Como ele chegou à conclusão que aquele desenho era de Leonardo?
E por que o mundo da arte parou quando soube da existência dessa obra? Hoje no Investigando - Cinzas. Oi, eu sou o Tinôco e existem algumas coisas nessa pintura que nos chamam a atenção.
Primeiro que a mulher foi pintada de perfil, algo que Leonardo da Vinci nunca havia feito. Em praticamente todas as suas obras, a pessoa está ou de frente ou meio de ladinho, como é o caso da Monalisa, por exemplo. Segundo, que ela não está em um quadro, mas sim em um pedaço de papel, que era relativamente normal para Da Vinci que, antes de pintar o quadro, fazia diversos rascunhos da obra em seu caderno de bolso.
Isso tudo colocou uma pulga atrás da orelha de Silverman, que resolveu ir mais a fundo para saber a origem daquele desenho. A primeira coisa que você pode estar se perguntando é: mas não tinha nenhuma assinatura? Pouquíssimos artistas da Renascença assinavam seus quadros, por isso é tão difícil definir com clareza quem as pintou.
As mais famosas pinturas de Leonardo Da Vinci não foram assinadas por ele, a Monalisa, a Última Ceia, nenhuma delas tem o registro assinado de seu criador. E isso não se aplica apenas a Leonardo. Michelangelo, Donatello e Rafael também não assinavam, deve ser porque é difícil assinar com aquela mãozinha de tartaruga.
Então, a melhor maneira de saber a quem tal obra pertence é analisando sua pintura e alguns detalhes escondidos nela. No caso do desenho comprado por Silverman, a saga envolveu um trabalho quase que de detetive. Com o primeiro passo sendo a análise de especialistas que descobriram algo inacreditável.
Logo de cara, os primeiros especialistas que viram a obra descartaram a possibilidade dela ter sido pintada durante a Renascença. Mas Silverman não estava convencido e levou seu desenho à Paris, onde ele o mostraria para a especialista em arte Mina Gregori. Segundo ela: “Esse desenho exibe influências duais: florentina, na beleza delicada e milanesa, no figurino e na trança”.
Isso significa que esses traços encaixam perfeitamente com Leonardo da Vinci. Já que ele foi um dos únicos artistas renascentistas que viveu tanto em Florença quanto em Milão, desenvolvendo assim o seu estilo artístico com influência de cada cidade. Em Florença, ele pintou obras como “O Batismo de Cristo”, “A Anunciação” e a própria “Mona Lisa”.
E em Milão, obras como “A Última Ceia”, “A Virgem das Rochas” e a “Dama com Arminho”. Isso tudo encorajou Silverman a continuar indo atrás. E então, ele conhece Nicholas Turner, que havia trabalhado como curador no Museu Britânico, e logo mostrou para ele uma foto do desenho que havia comprado.
Até o momento, Silverman acreditava que a obra tinha sido pintada pelo menos por um dos pupilos que trabalhavam com Leonardo em seu ateliê. Mas, Turner o surpreendeu. Analisando as hachuras inclinadas feitas com a mão esquerda, ele afirmou que o desenho havia sido pintado por Leonardo em pessoa, já que essa era uma marca registrada dele por ser canhoto.
Segundo ele: “Todos os aspectos do sombreamento desse retrato são um testemunho visual das teorias de Leonardo sobre a iluminação. ” Mas, como sempre, havia algumas pessoas que discordavam disso. A principal delas era Carmen Bambach, curadora do Museu Metropolitano de Nova Iorque, que afirmou que a obra não havia sido feita por Leonardo, já que, segundo ela, até onde se sabia, Da Vinci jamais havia desenhado em papel velino.
Mas, um ponto que precisamos entender é que essa ideia é aplicada apenas aos mais de 4 mil quadros atribuídos a ele, mas não às ilustrações que ele havia feito em seu caderno, como eu mencionei. Grande parte das coisas que nós sabemos sobre Leonardo Da Vinci vem dos escritos que ele deixou em seu caderno de anotações. Inclusive, alguns desenhos feitos para um livro de seu amigo Luca Pacioli.
Esses desenhos eram de figuras geométricas que estariam no livro “De Divina Proportione” e que haviam sido feitas por Leonardo exatamente em papel velino. Isso colocou uma sementinha na cabeça de Silverman, a ideia de que, quem sabe, esse desenho poderia ter sido feito por Leonardo para ilustrar um livro. Até aqui, os especialistas estavam divididos.
Uns diziam que era de Leonardo, outros afirmavam com veemência que não pertencia a ele. Então, o próximo passo foi partir para a experimentação científica. A primeira coisa feita por Silverman foi submeter o papel do desenho a um teste de datação por carbono-14.
Esse teste consegue quantificar a degradação do carbono em matéria orgânica, determinando assim a idade de um objeto em questão. E os resultados foram conclusivos, o papel velino havia sido produzido entre 1440 e 1650. O que de primeira já eliminava a ideia inicial do leilão que dizia que o desenho havia sido produzido no século XIX, mas ainda não eliminava a possibilidade de um falsificador ter usado um papel velho para desenhar.
O grande ponto é que, pelo menos, essa datação já não eliminava a possibilidade do desenho ter sido feito por Leonardo Da Vinci. Assim, Silverman leva o desenho até a Lumiere Technology, uma empresa especializada em análises digitais de obras de arte. Lá, foi tirado uma série de fotografias em altíssima resolução, capazes de captar 1.
600 pixels por milímetro quadrado! O que permitiu que a imagem fosse ampliada em centenas de vezes para podermos ver cada fibra do tecido. Assim, foi possível comparar a pintura com outros desenhos que a gente já sabia que haviam sido feitos por Leonardo.
Eles puderam ver que, nesse caso, havia espirais e nós costurados, assim como havia sido feito em “A Dama com Arminho” de Da Vinci. A proporção da cabeça e do pescoço, junto dos detalhes no olho, também são muito parecidos com outro desenho chamado “Retrato de uma jovem de perfil”. Além disso, eles notaram que as sombras do desenho eram meticulosamente feitas, respeitando a perspectiva que Leonardo utilizava.
Segundo Vasari, um biógrafo que viveu na mesma época que os grandes renascentistas italianos: “Ele [Leonardo] chegou a perder tempo ilustrando o encordoamento dos fios. ” Hoje, nós sabemos como Da Vinci era apegado aos detalhes, principalmente com as sombras que ele considerava a alma de um bom desenho. Então, os resultados foram mostrados para outros especialistas que ficaram impressionados.
Uma delas foi Cristina Geddo, especialista em Leonardo da Universidade de Genebra, que destacou o uso de três cores de pastel seco, uma técnica que Da Vinci havia sido pioneiro. Depois disso tudo, Silverman sentiu que era o momento de convocar o maior especialista em Leonardo do mundo: Martin Kemp, que construiu toda a sua carreira impecável com base no estudo das obras de Leonardo. Ele vivia recebendo milhares de e-mails com pessoas pedindo para conferir ali se a obra que elas tinham eram de Da Vinci ou não, mas em uma manhã de 2008 ele recebeu algo diferente.
Quando ele abriu o e-mail de Silverman e começou a analisar a obra, um frio em sua barriga começou a aparecer. Tudo batia perfeitamente com uma obra de Da Vinci. Kemp começou a acreditar e disse que “Depois de 40 anos envolvido com Leonardo, pensei que havia visto de tudo.
Mas não tinha. Estou totalmente convencido. ” Assim, ele se juntou com outros especialistas, que publicaram o livro “A Bela Princesa: A História da Nova Obra-Prima de Leonardo Da Vinci”.
E em meio a tudo isso, uma outra evidência veio à tona. Uma impressão digital foi encontrada na obra. Este poderia ser o grande momento da descoberta ou colocar tudo por água abaixo.
Eles levaram a impressão digital a um professor no Instituto de Criminologia e Direito Criminal, mas ele não conseguiu analisá-la. Então, eles resolveram convocar o público para resolver esse enigma e postaram em um site perguntando se alguém podia ajudá-los. Mais de 50 especialistas se ofereceram, mas, mais uma vez, o resultado foi inconclusivo, não sendo possível determinar nenhum padrão.
E é aqui que um personagem controverso entra na história: Peter Paul Biro, que é um perito forense especialista em encontrar impressões digitais para testar a legitimidade de obras de arte, já tendo feito isso com outros artistas como Jackson Pollock, por exemplo. Ampliando a imagem, Biro revelou que encontrou detalhes do sulco do dedo de Leonardo e comparou os padrões com outra impressão digital que Leonardo havia deixado em outra obra: “São Jerônimo no deserto”. Ele afirmou que havia pelo menos oito pontos de similaridade e que aquela obra era sim de Leonardo.
O problema foi que a técnica utilizada por ele era, no mínimo, diferente. Já que ela foi inventada por ele mesmo, que se recusava a mostrar como fazia. Ele basicamente produziu uma nova imagem a partir do desenho e foi por isso que ele conseguiu encontrar os oito pontos de similaridade.
Essa “prova” apareceu na capa de todos os jornais do mundo em 2009. Segundo a revista Time: “O mundo da arte está em polvorosa com a recente descoberta de um retrato [. .
. ] que agora está sendo atribuído a Leonardo da Vinci”. Agora, o desenho que Silverman havia comprado por pouco mais de 20 mil dólares, estava estimado em mais de 150 milhões!
Mas tudo estava prestes a mudar. A história de Biro começou a ser contestada por David Grann, que apontou algumas inconsistências em toda essa análise feita por ele. David levantou alguns questionamentos sobre os métodos usados por Biro para desenvolver essas imagens melhoradas das impressões digitais e afirmou que esses oito pontos de similaridade não existem.
Biro negou as acusações e chegou a processar Grann por difamação, mas o recurso foi negado por um juiz federal. Esse ataque à credibilidade de Biro colocou em xeque tudo que havia sido afirmado até então. Até que mais uma reviravolta aconteceu, foi notado que, à esquerda da pintura, havia sinais de que alguém usou uma pequena faca para fazer minúsculos cortes no papel, fazendo assim três furinhos ao longo da borda.
Com isso, eles voltaram à ideia de que o desenho fazia parte de um livro. Até que Kemp recebe um e-mail de um professor da história da arte, avisando a ele sobre um livro que estava na Biblioteca Nacional da Polônia. Esse livro tinha um volume sobre a história da família Sforza, que governou Milão durante o Renascimento, e que um de seus líderes havia trabalhado diretamente com Leonardo da Vinci.
Esse livro era perfeitamente ilustrado em papel velino e foi feito sob medida para comemorar o casamento de Bianca Sforza. A obra havia sido feita em 1496 e pertencia ao rei da França, que, anos mais tarde, deu de presente ao rei da Polônia em 1518, quando esse se casou com Bona Sforza. O livro foi analisado por muitos especialistas que notaram que uma página havia sido arrancada.
Essa ficava logo após a introdução e tinha justamente três furinhos na borda que se alinhavam perfeitamente com o desenho de Silvermen. Perfeito, agora eles tinham descoberto de onde o desenho havia sido tirado, mas ainda não podiam provar que era uma obra de Leonardo da Vinci, tanto que até hoje essa dúvida persiste. Os especialistas em arte seguem divididos.
Já que as formas do desenho não tem algumas características que Leonardo utilizava, como a técnica do sfumato, por exemplo, que foi utilizada por ele na Mona Lisa. Isso tudo descredibilizou ainda mais o desenho, tanto que a Galeria Nacional de Londres fez uma exposição com obras que haviam sido produzidas por Leonardo quando ele estava em Milão, mas esse desenho em específico não foi nem cogitado para aparecer na exposição. Independente de tudo isso, a obra permanece como um enigma em meio a tudo que nós conhecemos sobre Leonardo e essa intensa busca pela verdade do desenho só mostra a grandiosidade do artista italiano.
Todos os anos surgem novas telas que poderiam ter sido pintadas por Da Vinci, na maioria dos casos realmente não é dele, mas em raros momentos eles são comprovados. O último grande acontecimento desse estilo aconteceu em 2005. Que foi mais ou menos no mesmo estilo dessa que eu contei no vídeo, a única diferença é que nesse caso, a obra descoberta foi “Salvator Mundi”, uma das pinturas mais impressionantes da história humana.
Ela mostra Jesus Cristo dando uma benção com a mão direita enquanto segura uma bola de cristal com a mão esquerda. Nesse caso, a pintura foi vendida em leilão pela Christie’s em Nova York, que é uma das empresas de arte mais importantes do mundo, pelo valor de 450 milhões de dólares! Se tornando assim, a pintura mais cara já vendida na história.
E aqui, uma questão nos chamou a atenção, já que essa é uma pintura que nós desconfiávamos que ele havia feito graças a alguns registros históricos, mas que simplesmente tínhamos perdido ela com o tempo. Por exemplo, no caderno de um de seus pupilos tinha uma pintura que se referia a “Cristo à maneira de Deus, o Pai”. Ela também chegou a ser catalogada na coleção do Rei Carlos I da Inglaterra, que foi decapitado em 1649 e na do Rei Carlos II, que restaurou a monarquia.
Existem vários desenhos de Leonardo que nós acreditamos ser o rascunho de alguma pintura magnífica, mas que simplesmente não sabemos a localização. Provavelmente, o maior exemplo disso e que também é o quadro mais procurado de todos os tempos é a “Leda e o Cisne” de da Da Vinci. E o que a torna tão rara é que nós temos o registro de que ele fez essa pintura, graças a alguns esboços que ele fez em seu caderno.
Pouco tempo depois, em 1625, ela é registrada no Palácio Real Francês, com um visitante descrevendo-a como “uma figura de Leda em pé, nua quase por inteiro”. Ela conta sobre o Mito de Leda, uma princesa que foi seduzida por Zeus, que se metamorfoseou em forma de cisne e que teve quatro filhos com ela. Sendo a primeira Helena, que mais tarde seria conhecida como Helena de Troia, depois Clitemnestra, Castor e Pólux.
Essa simbologia voltado para a fertilidade e o sexo fez essa ser a obra mais cobiçada de Leonardo. Alguns especuladores costumam dizer que ela foi destruída pela Madame de Maintenon, que foi amante e segunda esposa de Luís XIV, por ter considerado ela indecente demais. E para piorar, existem diversas cópias dela espalhadas pelo mundo, que vão desde cópias dos próprios aprendizes de Leonardo até de criminosos que plagiam a obra com o intuito de ganhar dinheiro.
Toda essa mística por trás do nome de Leonardo da Vinci, fez dele o mais relevante pintor de todos os tempos. Suas obras atravessaram os séculos, deixando rastros de sua genialidade por aí e algumas vezes desaparecendo por completo. Quantas obras mais estão espalhadas pelo mundo, mas nós não temos ideia da sua existência?
Nós jamais saberemos. O que nós sabemos é que nada será capaz de apagar a história de um dos mais brilhantes seres humanos que já pisaram na face da Terra. Bom, esse foi o vídeo, eu espero que você tenha gostado.
Grande parte dessa história foi tirada da biografia do Leonardo da Vinci escrita por Walter Isaacson. E lembre-se de ir lá na Lolja conferir os moletons e camisas que a gente está produzindo aqui no canal, que eu tenho certeza que você vai gostar. Tem vários modelos com diversas referências a história, a filósofos, enfim, com certeza você vai gostar, então clica aqui na descrição e vai lá conferir.
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Tchau!