“Por que minha mente está tagarelando, tão irrequieta? ”. Você já fez essa pergunta a si mesmo?
Por que sua mente é tão irrequieta e está sempre tagarelando, indo de uma coisa para outra, movendo-se de uma distração para outra? Por que a sua mente está tagarelando? E o que é que você pode fazer a esse respeito?
Seu impulso imediato é controlar isso: “Eu não devo tagarelar”. O controlador que diz: “Eu não devo tagarelar”, é em si parte da tagarelice. Percebe a beleza disso?
Por que a mente está tagarelando, sem ficar quieta um minuto, sem estar um minuto completamente livre de qualquer problema? Novamente, essa preocupação mental é o resultado da sua educação, da natureza social de sua vida. Mas quando você percebe que sua mente está tagarelando e enfrenta isso, se fixa nisso, então você verá o que acontece.
Você diz: “Está bem; tagarele”. Você está atento, o que significa que não está tentando tagarelar; está apenas atento a essa tagarelice. Se você o fizer, verá o que acontece: sua mente fica lúcida e provavelmente esse é o estado de um ser humano “normal”, saudável.
Observe e Aquiete-se. Jiddu Krishnamurti. Você pode observar uma nuvem, uma árvore ou o movimento de um rio com a mente bastante quieta porque eles não são muito importantes para você, mas observar a si mesmo é muito mais difícil porque lá as exigências são muito práticas, as reações muito rápidas.
Portanto, quando você está em contato direto com o medo ou o desespero, a solidão ou o ciúme, ou qualquer outro estado mental desagradável, consegue olhar para isso tão completamente que sua mente fica quieta o suficiente para perceber? Quando estamos conscientes de nós mesmos, todo o movimento do viver não é uma revelação do “eu”, do ego? O ego é um processo muito complexo que só pode ser revelado na relação, em nossas atividades diárias, no modo como falamos, no modo como julgamos, calculamos, no modo como condenamos os outros e a nós mesmos.
Tudo isso revela o estado condicionado de nosso próprio pensar, e não é importante estar cônscio de todo este processo? Se você acha difícil estar consciente, então experimente anotar cada pensamento e sentimento que surge ao longo do dia; anote suas reações de inveja, ciúme, vaidade, sensualidade, as intenções por trás de suas palavras, e assim por diante. Se você anotar estas coisas quando puder, e a noite antes de dormir examinar tudo que escreveu durante o dia, estudar e examinar sem julgamento, sem condenação, começará a descobrir as causas ocultas de seus pensamentos e sentimentos, desejos e palavras.
Ora, o importante nisto é estudar com livre inteligência o que você anotou, e ao estudar você ficará consciente de seu próprio estado. Na chama da autoconsciência, do autoconhecimento, as causas do conflito são descobertas e consumidas. Você deveria continuar anotando seus pensamentos e sentimentos, intenções e reações, não uma vez ou duas, mas durante um considerável número de dias até ser capaz de estar consciente deles instantaneamente.
Meditação não é apenas constante autoconsciência, mas constante abandono do ego. A partir do pensamento correto há meditação, da qual vem a tranquilidade da sabedoria; e nessa serenidade o mais elevado se realiza. Anotar o que se pensa e sente, os desejos e reações, gera uma consciência interna, a cooperação do inconsciente com o consciente, e isto leva à integração e compreensão.
Uma das perguntas mais importantes que devemos fazer a nós mesmos é esta: Até onde, até que profundidade pode a mente penetrar em si mesma? Só a mente que está completamente só pode achar a realidade. E existe uma realidade - não uma realidade teórica, não uma certa coisa inventada pelas religiões organizadas ou experimentada por uns poucos santos, conforme o peculiar condicionamento de cada um, porém uma realidade, uma imensidade que só pode ser descoberta pela mente que percebeu seus próprios movimentos e compreendeu a si própria.
O que traz a paz, a verdadeira tranquilidade e serenidade da mente, é a compreensão do processo total de nós mesmos, e isso não significa buscar a paz, mas compreender o “eu”. Autoconhecimento não significa acumular conhecimentos sobre si próprio; significa observar a si próprio. Se aprendo acumulando conhecimentos, nada aprendo a respeito de mim mesmo.
. . Para a compreensão da vida diária, não necessitamos de nenhum guru, de nenhuma autoridade ou instrutor.
O que nos cabe fazer é, apenas, observar, estar cônscios de nossos atos, pensamentos, e “motivos”, e descobrir se existe alguma possibilidade de transformarmos totalmente nossas humanas tendências, crenças e desesperos. Conhecer a si mesmo é sabedoria. Não nos conhecermos profundamente, fundamentalmente, é ignorância; e vocês não podem se conhecer se não são capazes de se olhar, de se ver exatamente como são, sem nenhuma deformação, sem nenhum desejo de mudar nada.
Perceber, sem condenar, sem julgar; observar pura e simplesmente, e sem escolha, olhar sem condenação, interpretação, comparação; nisso há grande beleza, e grande clareza na observação. Se dessa maneira você se observar sem escolha, então, nesse percebimento, existe atenção, nenhuma entidade existe como “observador”, nem “coisa observada”. Não há “observador” a olhar aquilo a que está observando.
O que vocês veem se transforma, porque a distância entre o observador e a coisa observada desapareceu e, por conseguinte, não há conflito. Compreender o “eu” requer muitíssima inteligência, um estado de intensa vigilância, de alerta, de agudez mental, uma incessante observação para que o “eu” não possa escapulir-se. Temos de observar o que realmente somos, sem nenhuma espécie de fuga.
E não nomeiem ao que veem: Observem-no, apenas! Terão então a paixão, a energia necessária ao observar, e nesse observar verifica-se uma extraordinária transformação. O autoconhecimento brota quando vocês observam e compreendem todos os seus sentimentos e pensamentos, momento por momento, dia a dia.
A totalidade dessa compreensão resolverá os problemas da vida.