Muito facilmente, confundimos o mundo como o simbolizamos com o mundo como ele é. Como costumava dizer o filósofo e semanticista Alfred Korzybski, é uma necessidade urgente distinguir entre o mapa e o território. A doença da civilização, seja ocidental ou oriental, é que confundimos nossa maravilhosa facilidade de descrição com o que realmente está acontecendo, confundimos o mundo rotulado e classificado com o mundo como ele é.
Pensamentos e palavras são convenções. Essas palavras são úteis, desde que as tratemos como convenções e saibamos usá-las como linhas imaginárias de latitude e longitude, que estão desenhadas nos mapas, mas que não podem ser encontradas na terra. Hipnotizados pelas palavras, as confundimos com o mundo real como se o mundo fosse feito de palavras.
Como consequência, ficamos desalentados e perplexos quando elas não se encaixam. Para abandonar essa confusão, devemos ir às raízes de nosso próprio pensamento; Para Além da Fantasia Conceitual. Alan Watts.
A realidade do presente, esse agora, vital e em movimento, frustra todas as definições e descrições. Eis o mundo real e misterioso que palavras e ideias nunca conseguem esclarecer. Estou tentando falar sobre algo indizível, e que palavras e outros símbolos apenas representam.
Como disse Santo Agostinho de Hipona quando perguntado sobre a natureza do tempo: “Que é, pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a quem me pede, não sei”. Deixe-me ilustrar este ponto, o tempo.
O tempo do relógio é apenas um método de medição, comum a todas as sociedades civilizadas, e tem o mesmo tipo de realidade (ou irrealidade) que as linhas imaginárias de latitude e longitude. Se você for enfeitiçado pelo relógio, você não terá presente. O “agora” não será mais do que um ponto geométrico em que o futuro se torna passado.
Mas se você realmente sentir o mundo, descobrirá que nunca existe, não existiu ou existirá nada além do presente. E para a realização perfeita de qualquer arte, você deve ter essa profunda sensação de eterno presente. Sem pressa.
Sem demora. Apenas a sensação de fluir com o curso dos eventos da mesma forma que você dança uma música, sem tentar ultrapassá-la e sem ficar para trás. Assim, o ponto que estou enfatizando é que as pessoas civilizadas, sejam ocidentais ou orientais, precisam ser liberadas e deshipnotizadas de seus sistemas de simbolismo e, assim, tornar-se mais intensamente conscientes das vibrações vivas do mundo real.
Os abstracionistas, se possível, economizariam tempo comendo o cardápio ao invés do jantar, o que é quase o que realmente acontece naqueles restaurantes sofisticados que servem mais para os olhos do que para o estômago. Confundimos os símbolos com a vida. Acreditamos que a realidade da sobremesa está nas informações de uma análise química, e não na ingestão.
O cerne da questão é que estamos vivendo em uma cultura que foi hipnotizada por símbolos - palavras, números, medidas, quantidades e imagens - e que as confundimos e preferimos em relação a realidade física. Outra maneira de comer o cardápio é preferir o dinheiro à riqueza. A realidade do dinheiro é do mesmo tipo que a realidade dos centímetros, gramas, horas ou linhas de longitude.
Inventamos o dinheiro como inventamos a escala Fahrenheit de temperatura ou a medida avoirdupois de peso. O dinheiro é uma forma de medir a riqueza, mas não é a riqueza em si. Um baú de moedas de ouro ou uma carteira gorda de notas não servem para nada para um marinheiro naufragado sozinho em uma jangada.
Ele precisa de uma riqueza real, na forma de uma vara de pescar, uma bússola, um motor de popa, a gasolina e uma companheira. Por gerações, nossos pais confundiram o símbolo com a realidade, confundiram o dinheiro com a riqueza e confundiram a personalidade (ou ego) com o organismo humano real. E aqui está o cerne do problema.
O ego (assim como o dinheiro) é um conceito, um símbolo, até mesmo uma ilusão - não um processo biológico ou uma realidade física. Esse “eu” não biológico é uma abstração, um complexo de palavras, símbolos e ideias - uma persona, ou máscara, em vez de um ser vivo. Sobre isso, Timothy Leary disse que devemos sair de nossas mentes (valores abstratos) para voltar aos nossos sentidos (valores concretos).
Voltar aos nossos sentidos significa assumir a experiência de nossa própria existência, como organismos vivos, e não como “personalidades”, como personagens de uma peça de teatro ou de um romance que encenam algum enredo artificial em que as pessoas são simplesmente máscaras para um conflito de interesses, ideias ou princípios abstratos. Os seres humanos em todo o mundo precisam relaxar e levar a si mesmos com mais leveza. O que nós esquecemos é que os pensamentos e as palavras são convenções e que é fatal tomá-los muito a sério.
. . A “doença da mente” é a confusão do que pode ser dito, ou pensado, e imaginado como uma possibilidade de ser, com o que, de fato é e acontece na realidade.
A liberação dessa confusão vem com a consciência, não com o pensamento. Nas palavras de Shunryu Suzuki: “O homem é um ser pensante, mas suas grandes obras são feitas quando ele não está calculando e pensando. A ‘infantilidade’ deve ser restaurada com longos anos de treinamento na arte do esquecimento de si mesmo.
Quando isso é alcançado, o homem pensa, mas não pensa. Ele pensa como chuvas caindo do céu; ele pensa como as ondas rolando no oceano; ele pensa como as estrelas iluminando os céus noturnos; ele pensa como a folhagem verde brotando na brisa relaxante da primavera. Na verdade, ele é as chuvas, o oceano, as estrelas e a folhagem”.