PADRE JOSÉ EDUARDO | O QUE REALMENTE ACONTECE NA SANTA MISSA

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Luciano Barbieri
Neste episódio especial do nosso podcast, conversamos com o Padre José Eduardo sobre o que realmente...
Video Transcript:
Olá, pessoal! Estamos iniciando mais um podcast "Luciano com Vida", convidados especiais, com conteúdos que geram vida. É uma alegria ter você conosco mais uma vez e quero convidar você a ficar conosco até o final desse podcast. O tema que nós vamos trabalhar, conversar e dialogar aqui hoje é sobre a Santa Missa, e nós vamos esclarecer ponto a ponto, parte a parte, da Santa Missa. Para que esse podcast seja um sucesso, nós trouxemos uma pessoa muito querida. Tenho certeza que muitos de vocês conhecem esse sacerdote, conhecem esse padre. Já falei para ele que é uma
alegria muito grande tê-lo conosco aqui nesta tarde, nesta noite, né, neste podcast. A pessoa que está conosco como convidado é um sacerdote, é um padre da Diocese de Osasco. Ele é doutor em Teologia Moral pela Universidade Santa Cruz de Roma. A partir de 2013, ele se tornou conferencista em vários temas como gênero, aborto, defesa da família e da educação. Ele é pároco aqui na cidade de Osasco, na Paróquia São Domingos. É com muita alegria que nós temos hoje conosco o padre José Eduardo de Oliveira e Silva. Padre, seja bem-vindo, viu? Muito obrigado! A alegria é
toda minha e tenho certeza, padre, que esse podcast vai ajudar muita gente, principalmente nós, católicos, a compreendermos melhor a Santa Missa. Padre, antes de iniciarmos, para aquelas pessoas que estão nos acompanhando e muitos já acompanham o senhor nas suas redes sociais, eu acredito que muita gente tem curiosidade de saber, né, quem é o padre Zé Eduardo? Onde nasceu, a família, a vocação? Um padre muito querido. Como surgiu a vocação? A família teve influência? Como nasceu tudo isso? Onde o senhor nasceu e como surgiu a vocação? Padre: Eu nasci em Piracicaba, em 1981, portanto, tenho 43
anos. Até os 11 anos de idade, a minha família não era muito praticante. Foi aos 11 anos que eu percebi que tinha que fazer a primeira comunhão porque os colegas de turma tinham feito no final do ano anterior. Então, fui à igreja etc. E, justamente na primeira missa que participei, eu meio que vi a minha vocação; entendi que fui chamado para ser sacerdote. O senhor nunca tinha ido à missa ou já tinha ido? Sim, eu tinha ido, mas pela lembrança, umas duas ou três vezes, mas era muito pequeno, né? Então, nunca tinha participado realmente da
Santa Missa e, naquele dia, eu me converti e nunca mais faltei à missa. Com 11 anos de idade, além de me converter, descobri o propósito da minha vida, que era o sacerdócio. Nossa, com 11 anos! E para entrar no seminário demorou um tempo, eu entrei com 17 anos, e daí me ordenei com 24. Logo em seguida, já comecei o exercício do ministério e sempre exerci aqui na cidade de Osasco. Bom, eu fiquei um ano como vigário na Catedral aqui de Osasco, depois fiquei um ano e meio em Araçariguama como pároco. De lá, fui para Roma
e fiquei quatro anos em Roma fazendo mestrado e doutorado em Teologia. Voltei e fui para a Paróquia São Domingos, que é onde estou até hoje. Quantos anos já na paróquia, padre? Doze anos. Doze anos na paróquia! Nossa! Os padres diocesanos, tira uma dúvida, padre. Falando um pouco sobre esse trabalho nas paróquias, os padres diocesanos, eles têm um tempo para ficar diferente dos religiosos ou não têm? Bom, a nomeação para pároco, pelo Direito Canônico, não tem um tempo determinado. A Conferência Episcopal estabeleceu um critério que é o critério de seis anos, mas aí cabe bastante discricionariedade,
né? Sim. Então, há bispos que são muito rigorosos quanto aos seis anos e outros que são menos rigorosos. Sim, então o sacerdote vai ficando e se está tudo bem, está tudo bem. Posso tirar uma dúvida? O senhor disse que com a sua família não era muito de ir à igreja, coisas assim. O senhor começou com 11 anos e, depois dessa experiência com Deus, aos 17 anos entrou no seminário. A sua vocação, o senhor sente que impactou a sua família de alguma forma? Padre: Impactou. No começo, eles não entenderam muito bem, mas depois entenderam e hoje
são super me ajudam demais, né? É mesmo? E moram em Carapicuíba? Ainda moram em Carapicuíba. Mora em Carapicuíba. Padre, fora esse trabalho que o senhor tem hoje pastoral na sua paróquia, o senhor é muito conhecido nas redes sociais pelos cursos, pelas formações. O senhor comentava há pouco que ontem acabou de lançar um curso também. Como que surgiu esse desejo de evangelizar, de formar pelas redes sociais? Olha, eu nunca tive muito interesse por isso. Na verdade, o que aconteceu quando eu voltei em 2012 para o Brasil, logo em seguida explodiu o tema de gênero. Sim, então,
em função do meu trabalho de esclarecimento e conscientização sobre ideologia de gênero, eu acabei, digamos assim, me valendo muito das minhas redes sociais. Então, criei, na época, o Facebook. Meu Facebook tinha bastantes seguidores. Eu cheguei naquela época—bom, até hoje—tenho cerca de 100 mil seguidores, mais ou menos, no Facebook. Nas duas páginas, deve dar uns 200 mil, né? Sim. E só que o que acontece: esse trabalho de gênero ficou bastante forte até 2016. Depois de 2016, quando veio o governo do presidente Temer, eu já praticamente não fui mais a Brasília, ia raramente etc. Então, em 2020,
veio a pandemia. Com a pandemia, todos nós fomos obrigados a fazer, digamos, trabalhos através das redes sociais, a celebração de missas etc. E, justamente, foi aí que migrou um pouco, digamos... A minha atuação é uma atuação mais sobre temas de moral pública, etc. Eu comecei a pregar por todo o Brasil, bom, primeiro pelas redes sociais. Eu ia pregando, era essa a minha, digamos assim, as pessoas iam consumindo as minhas pregações. Isso foi aumentando e, depois que terminou a pandemia, eu fui chamado a pregar em vários lugares, etc. Bom, como nas redes sociais, sobretudo no Instagram,
e também no YouTube, eu tive bastante repercussão. Então, eu comecei a me dedicar mais a esse tipo de ministério da palavra, né? Sim, porque tem realmente feito a diferença na vida de muitas pessoas. Ah, a gente ouve falar muito, padre, e o senhor consegue conciliar bem o trabalho paroquial com esse trabalho de missão, de evangelização, de orientação e formação que o senhor dá pelo país? Padre, consigo, porque eu tenho viajado cada vez menos. Ah, sim, atendo poucos convites. E também porque parte desse trabalho é um trabalho que eu já faço na paróquia. Então, eu prego
para o meu povo e a pregação fica disponível, sim, sim. Basicamente, é isso. E o que foge disso são cursos ou vídeos que eu faço, mas eu faço no espaço da paróquia mesmo. Então, é tudo tranquilo, bacana. Padre, eu sou professor também, né? Eu trabalho em uma escola denominada Católica, também há mais de 20 anos. E o senhor começou um trabalho também na educação. O senhor começou, o senhor fundou uma escola, seria assim, né? Chamado Maria Mater. Por que, padre, começou também agora esse trabalho na educação? Qual que é a importância de ter uma escola?
É confessional? Seria isso? Não é propriamente uma escola confessional, mas é uma escola inspirada em valores cristãos católicos. O que acontece? Eu tenho quatro sobrinhos e, concretamente, nós tivemos um problema que não havia vaga para o meu sobrinho no colégio onde a minha sobrinha estudava. E havia outros excedentes; havia pessoas que estavam realmente precisando. Então, para atender essa demanda, nós resolvemos abrir um colégio. E, graças a Deus, com muito espírito de humildade, assim, sem querer ser os donos de nada, mas com muita tranquilidade, começamos. Deus tem nos abençoado e a coisa está andando. Que bom,
padre! O que eu percebo, né? Não sei se o senhor já tem essa mesma visão. A gente que trabalha em escola, e é notável, e os valores cristãos parecem que cada vez vão diminuindo mais. Uhum! Se você diz que você é cristão, que você é católico, ah, eu acredito, penso assim, acredito nisso, as pessoas te deixam de lado. Parece que os valores cristãos, dentro do âmbito, eu acho, desde a universidade, né? Parece que cada vez mais são deixados de lado. Eu penso que uma escola, ou convencional ou que tenha um cunho católico, nos dias de
hoje, pode fazer muita diferença, não faz? Padre, claro! Sobretudo porque, pense, né, o ambiente educacional tem se tornado cada vez mais tóxico, sim, para as famílias que queiram, digamos assim, manter uma segurança maior do ponto de vista da identidade dos seus filhos, da identidade da sua fé, dos seus valores. Então, quando famílias se unem para iniciar uma experiência pedagógica, atendendo aos seus filhos e, ao mesmo tempo, a outras pessoas, isso sempre ajuda a sociedade, sim. É importante. Alguns dias atrás, nós fizemos um podcast com a Bruna, catequista. Eu acho que ela trabalha, ela é professora
lá. Ela é professora e contou para nós várias situações que ela tem vivenciado e o bem que tem feito. Padre, graças a Deus pela sua missão e pelo seu trabalho. Que essa escola possa crescer muito em Osasco. Mas vamos lá, padre. O tema proposto para nós hoje aqui é falar um pouco sobre a missa, entender, compreender melhor a Santa Missa. O que não vemos que acontece ali na Santa Missa? Para pegarmos bem do início, padre, como que surgiu a Santa Missa? Algumas pessoas falam que a Santa Missa teve seu início lá na Última Ceia. Foi
na Última Ceia, não foi na Última Ceia? Quando surgiu esse termo? A missa passou por mudanças, como aconteceu? Como surgiu? Uhum, bom, o sacramento da Eucaristia foi instituído por nosso Senhor durante a Santa Ceia. Porém, a Santa Ceia não é mais do que uma antecipação sacramental do sacrifício que nosso Senhor realizou no Calvário. Então, eu diria que, na Santa Ceia, Jesus antecipou a sua entrega de maneira sacramental. E na Santa Missa, o Senhor posticipou a Última Ceia. Cada missa faz referência ao sacrifício de Cristo no Calvário. Sim, o rito fundamental da Santa Missa está dividido
em duas partes. Nós poderíamos dizer em três partes: que seria a liturgia da palavra, né? A parte em que se medita e se reza em cima da palavra de Deus; a liturgia eucarística; mas especialmente a consagração. Sim, porque quando acontece a transubstanciação do pão do vinho, no corpo e sangue de Cristo, e a comunhão, que é quando nós recebemos o corpo de Cristo na Santíssima Eucaristia. Agora, os ritos que foram compondo a Santa Missa, eles foram variando ao longo dos tempos, num crescimento orgânico. O que eu quero dizer com crescimento orgânico? A missa nunca foi
instituída como rito de uma maneira autoritativa; foi acontecendo um desenvolvimento. Então, por exemplo, a Igreja tem 21 ritos, sim, 21 ou 22 ritos diferentes para a celebração da Santa Missa. Todos esses ritos remontam a algum apóstolo, têm a ver com a atividade de algum apóstolo ou com alguma das igrejas apostólicas. Para dizer, por exemplo, o rito armênio tem a ver… Faz evoca São Bartolomeu, tá? O rito bizantino evoca Santo André, evoca... eh, eh, eh... São Pedro também, que foi Patriarca de Constantinopla antes de ser Patriarca de Roma. E esses ritos todos têm as características das
localidades em que foram se desenvolvendo. Eh, tem certas similaridades e certas, digamos, dissimilaridades. Sim, a estrutura é a mesma: a liturgia da palavra, a consagração e a comunhão, mas o modo como isso se desenvolve, sim, foi crescendo organicamente ao longo dos séculos. Nós não podemos dizer que houve um momento exato no qual a forma da missa foi fechada. Sim, sim, sim, nós podemos dizer que no Concílio de Trento, o Papa São Pio V, depois do Concílio, ele fechou a forma da missa. Desculpe cortar o senhor, é por isso que dizem então que ele que criou
a missa por causa deste Concílio? Ele não criou, é assim. Mas eu li algo que fala... eh, talvez atribuam isso a ele por causa deste Concílio. Seria isso? P... é que é o seguinte: a missa, a chamada missa tridentina, né? Mas ela não é tridentina, ela é muito anterior a Trento. Ela foi crescendo organicamente durante o contexto da reforma protestante. Tá? Como havia o perigo de corrupção doutrinal da celebração litúrgica, então São Pio V, digamos assim, encerrou o processo orgânico de formação da liturgia latina. Então, ele encerrou, ele disse que os ritos que tinham mais
de 200 anos podem continuar sendo usados; os ditos aprovados para as ordens religiosas podem continuar sendo usados; os demais estão abrogados. E esse Missal se torna obrigatório pelo bem da Igreja. Sim, agora, depois do Concílio Vaticano II, esse rito foi reformado. Ah, tá! Então, o que nós temos é uma reforma, sim. A reforma não foi feita pelo Concílio, ela foi feita depois do Concílio, atendendo em algumas medidas ao que foi pedido pelo Concílio Vaticano I. Tá, por que é importante dizer isso? Porque a reforma litúrgica foi feita e muitas pessoas não se sentiram muito satisfeitas
com todas as mudanças da reforma. Tem muitas pessoas que questionam ainda... não tem padre? Exato! E a Igreja nunca dogmatizou, porque a Igreja sempre foi múltipla. Então, assim como, por exemplo, tem uma Igreja bizantina e eu posso ir lá participar do rito bizantino da divina liturgia de São João Crisóstomo ou da divina liturgia de São Basílio, por exemplo, eu posso ir a uma missa, na forma moderna, digamos assim, no rito reformado, ou assistir dentro daquilo que a Igreja permite num rito precedente. A Igreja nunca pretendeu dogmatizar essa questão. Sim, sim, sim. Padre, existe algum relato
ali dos primeiros séculos de algum santo falando já sobre a missa? Como era relatado? O senhor pode lembrar de algum? O primeiro é a Didaché, que é anterior a vários escritos do Novo Testamento. Ali vem descrito um pouco o rito da missa. Depois, São Justino faz uma descrição do rito da missa. Inclusive, ali existe uma descrição do cânon da liturgia, da oração eucarística. Né? Depois, nós temos, mais adiante, já uma consolidação, especialmente nos séculos IV e V. Surgem os chamados sacrários. O comentário chama gelasiano e outros que existiam também e do Papa Gelásio, né? Porque,
justamente naquele período, aconteceram vários concílios para resolver questões doutrinais acerca da graça. Tá? Então, as orações foram compostas, muito contendo esse conteúdo doutrinal que coloca, por exemplo, ênfase na graça divina, na oração de súplica, e assim por diante. Depois disso, o rito foi se desenvolvendo até São Gregório Magno. São Gregório Magno foi um importante Papa nesse sentido; ele reformou a liturgia latina. Por exemplo, a chamada missa papal. Eh, o rito da missa papal remonta a São Gregório Magno. Já naquele período, havia a clara tradição da missa papal, assim como os ritos da Semana Santa. São
Gregório Magno, de que período, Padre? Século VII, por ali. Sim, sim. Eh, ele... os ritos do Tríduo Pascal, a Semana Santa do Tríduo Pascal também remontam a esse mesmo período. E a coisa interessante é que eles perduraram até bem pouco tempo atrás. A última missa papal foi celebrada por Paulo VI em 1969, por aí, com o rito mesmo da missa papal. E a Semana Santa até Pio XII era a mesma Semana Santa, mesmíssima que se celebrava há séculos, né? Tá, Padre, o termo "missa", ele começa a ser usado quando? Ele começa a ser usado... não
há uma data assim, né? Sim, mas mais do que dizer quando é o porquê. Tá? Então, antigamente, no século I, por ali, os catecúmenos não participavam da liturgia eucarística. Tá? Eles participavam apenas da liturgia da palavra, desde que fossem admitidos como catecúmenos, porque antes de serem catecúmenos, nada, nada, nada, nada, nada, nada. Então, quando chegava ao final da liturgia da palavra, o sacerdote dizia: "Ite, missa est". Uhum! "Voces estão enviados", né? E aí começava a chamada missa dos fiéis. Havia a missa dos catecúmenos, né? Que era essa até, digamos, o fim da liturgia da palavra,
até as preces comuns. E depois começava a missa dos fiéis, que alguns chamavam de antemissa. E aí, depois, de missa. Tá? Mas a palavra missa veio por causa disso, porque uma vez que eles foram enviados, né... Eh, então, aí os fiéis podiam participar da liturgia eucarística. Tá, Padre, se eu usar o termo errado, o senhor me corrija. Claro! Eh, para nós, católicos, se tratando assim de espiritualidade, de culto, de orações, a missa é o ápice. A missa é o centro e o cume da vida. Cristã, centro, com a missa, várias pessoas comentam isso: a missa
semanal ela compensa a missa dominical? Não, não, não; a igreja preceitua ao fiel que participe da missa aos domingos. Sim, por quê? Porque o domingo é o dia do Senhor, é o dia em que Cristo ressuscitou, então é a nossa Páscoa semanal. Isso era muito forte nos primeiros séculos. Os cristãos se uniam, às vezes escondidos em catacumbas, etc., nas noites dos sábados e celebravam durante a noite inteira a liturgia da palavra e, já ao alvorecer, a liturgia eucarística. E como há um ponto, existem alguns mártires - Bento 16 gostava muito desses mártires - que foram
martirizados justamente por guardarem o domingo. Eles diziam: "Sem o domingo não, nós não podemos ficar; não nos obrigue a deixar de participar da missa, não nos obriga a deixar o descanso dominical." E, de fato, por isso, eles foram martirizados. Então, faltar à missa dominical, se não é um caso de doença, é pecado, padre; é pecado grave, né? É necessário se confessar quando a gente falta à missa no domingo. Porém, a gente tem que entender o seguinte: quando essa falta é uma falta voluntária. Uhum. Então, por exemplo, algumas pessoas acabam faltando, mas não por culpa própria,
digamos assim. Uma pessoa que estava indo para a missa deixou para assistir à missa no final da tarde no domingo e, ao ir para a missa, houve um acidente e ela não conseguiu chegar. Isso não é pecado grave. Sim. Ou existem situações, às vezes, donas de casa que recebem uma visita de surpresa bem na hora em que você vai à missa, e digamos que seja o final da tarde do domingo e a pessoa não tem o que fazer; não vai colocar a visita embora, mas algumas pessoas fazem isso, né? Dizem: "Olha, desculpa, eu tô indo
pra missa. Se quiserem esperar, na volta a gente conversa." Mas nem todo mundo tem essa fibra moral, né? Tá. Então, há casos em que você, pelo menos, não tem um pecado grave porque não houve consentimento grave. Sim, um consentimento, digamos assim, perfeito, né? A pessoa, na verdade, não fez porque não pôde. Então, nesses casos, não há propriamente um pecado grave. Sim, padre. Há poucos dias, eu até vou tirar essa dúvida agora com o senhor: um amigo comentava comigo, "Vamos lá, é domingo, dia de ir à missa, e eu tive ali um imprevisto, alguma coisa, que
eu não tive a possibilidade de participar da Santa Missa". O que me foi passado foi que o pároco — eu não sei se é o pároco ou o padre — pode, eu não sei qual é o termo que se utiliza, conceder porque eu não pude participar daquela missa, que eu participe de uma outra. Mas só o pároco que pode dar essa autorização. Existe isso? Uma outra durante a semana, você fala? Não, não; não existe. O que existe é o seguinte: existem casos em que o fiel está isento do cumprimento do preceito. Então, digamos assim, Fulano
mora longe, lá num recanto qualquer; a missa acontece raramente, etc., e é domingo, ele não consegue se deslocar, ele está isento do preceito dominical. Nesse caso, uhum, se houver uma celebração da palavra ali perto, é a melhor coisa que ele pode fazer porque, pelo menos, ele vai receber a Santa Comunhão. Sim, agora, existe o caso da dispensa, em que o sacerdote pode dar uma dispensa por algum motivo, por alguma razão, mas não trocar a observância do domingo por outro dia. Tem que ser por outro. Como seria então? Ele simplesmente dispensa, e a pessoa não está
obrigada a ir, mas também daí não está em pecado. Também não está em pecado. Ah, tá legal, legal; é só o pároco de residência, né? Tem essa prerrogativa. Ah, bacana, bacana. Padre, pessoal, eu falei para vocês que o nosso podcast hoje ia ser fantástico. Padre, só de início aqui, eu já tô aprendendo muito com o senhor, tá? Tô aprendendo muito. Há pouco, padre, o senhor disse que existem mais de 20, 21, 22 ritos, né, na igreja. O rito bizantino, por exemplo, o sinal da cruz. Me ajude. Os três dedinhos, dois na palma da mão; os
três é a Santíssima Trindade, os dois as duas naturezas de Cristo. Isso. O rito, padre, ele é mutável? E se ele... eu acho que o senhor já comentou sobre isso, mas eu gostei que o senhor falasse um pouquinho. Se ele for mutável, quem tem autoridade para legislar sobre isso? Bom, depende do que você chama de mutável, né? Tá. Então, a igreja não tem autorização de mudar, por exemplo, a matéria dos sacramentos; tá, pão é pão, vinho é vinho, óleo é óleo, água é água, etc. Certo? Até certo ponto, a igreja também não tem autorização de
mudar a forma dos sacramentos. Então, no caso da Eucaristia, as palavras da instituição da Eucaristia, as palavras do Sacramento do batismo, as palavras da absolvição, enfim, até certo ponto, né? E assim por diante. Agora, a Santa Sé, o romano pontífice, ele tem a prerrogativa de legislar sobre liturgia em matéria universal. Tá. Por exemplo, foi o que aconteceu no Concílio Vaticano I, em que houve uma reforma. Ou seja, você pegou o rito da missa e o simplificou, autorizando, por exemplo, a recitação de partes em vernáculo ou mesmo do rito inteiro em língua corrente, né? Depois, a
Santa Sé dá aos bispos, primeiro as conferências episcopais, mas também aos bispos, e às vezes até ao padre, a liberdade de, digamos assim, escolher partes da missa. Então, por exemplo... Ontem foi Dia de São Charbel. O sacerdote podia escolher celebrar a missa do Tempo Comum, a missa de São Charbel ou outra missa que tivesse necessidade. Existe essa liberdade. Ele poderia escolher as leituras próprias de São Charbel; se houver uma razão para isso, ele poderia celebrar com as leituras do dia. Por exemplo, foi o que eu fiz. Enfim, há uma certa liberdade de manejo. Agora, se
você me chama de mudar o rito, eu inventar uma missa, né? Então invento oração eucarística, invento, coloco coisas... A Igreja não respalda esse tipo de alteração, justamente porque, na mentalidade católica, o rito da missa é um rito pelo qual eu passo. Ele não é uma obra de mãos humanas; ele deve ser recebido como um dom de Deus através da Igreja, pelo qual nós passamos, sim, humildemente, obedientemente, né? Então existem situações um pouco dramáticas. Depois do Concílio Vaticano II, o próprio Papa Francisco reconheceu isso na carta apostólica Desiderio Desideravi, em que ele fala sobre abusos litúrgicos
e coisas terríveis que têm acontecido em muitos lugares, e ele manda que nós, sacerdotes, nos atenhamos ao rito e às leis litúrgicas, que elas servem para nos regular. Justamente, sim, sim, sim. Padre, há pouco o senhor comentou que temos ali as duas partes da Santa Missa: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Temos lá os ritos iniciais e os ritos finais, que são cheios de momentos também, muitos, muitos ricos, muito ricos, né? Santo Agostinho diz: "Só se ama aquilo que se conhece." Por exemplo, antes de entrarmos nessa parte da Liturgia da Palavra, qual é
o grande significado, por exemplo, da procissão de entrada? O fato dos ritos iniciais, ali, do padre, quando inicia a Santa Missa, depois da procissão, beijar ou oscular o altar? Padre, olha, a procissão de entrada remete tanto ao caminhar do Povo de Deus ao longo da história, quanto ao caminhar de Cristo no caminho do Calvário; tem esse significado também. Tanto é que ela é precedida pela cruz, e o sacerdote vai revestido com a casula, que é o símbolo da cruz. Muitas casulas, inclusive, tinham o símbolo da cruz no seu desenho. E o sacerdote beija o altar
porque é Cristo esposo que beija a Igreja esposa. Então, é um beijo do encontro do noivo com a noiva, no ato de amor supremo que é o sacrifício de Cristo, que se faz presente ali durante a Santa Missa. Padre, a missa se inicia ali com o sinal da cruz e termina também com o sinal da cruz, né? Sim. Como surgiu esse gesto de iniciar com o sinal da cruz? Por que o sinal da cruz? Todos os ritos católicos têm o sinal da cruz, sim. Inclusive, antigamente, o rito romano tinha muitos sinais da cruz que se
faziam, né? Mas muitos mesmo. No final do Glória, no final do Credo, no final dos Santos, na hora da benção da água, do ofertório, durante a oração eucarística, dezenas de vezes. Fazer o sinal da cruz com a hóstia sobre o cálice, com a hóstia fora do cálice, quando o sacerdote dava comunhão para os fiéis, quando o sacerdote comungava... Enfim, o sinal da cruz é de tempos imemoriais. É porque, justamente, é o sinal do cristão. O catecismo antigo diz assim: "És cristão?" "Sim, sou cristão.” "E qual é o sinal do cristão?" "O sinal do cristão é
o sinal da cruz." Porque para nós, hoje, a cruz se tornou uma coisa usual, um símbolo usual. Mas para os primeiros cristãos não era. Imaginem. É como se nós pegássemos uma cadeira elétrica e colocássemos aqui, ou um fuzil. Quer dizer, para eles era um instrumento de tortura, um instrumento de morte. Mas em Roma, dizer a palavra "crux" era proibido. Nossa! Porque um cidadão romano não podia ser crucificado, era o tipo de morte mais terrível. Justamente aquele tipo de morte, mais terrível, que seria... Imagine dizer o seguinte: "Meu Deus morreu numa cruz." É um negócio realmente
chocante, forte, né? Fortemente deveria causar, digamos assim, estranheza, vergonha. Então, o cristão ostenta isso como sinal de glória, de triunfo, de beleza, invocando sobre si os efeitos do sacrifício de Cristo. Então, de tempos imemoriais, é um símbolo poderoso. Tem uma passagem que diz que o sinal da cruz é loucura. No primeiro Coríntios, capítulo 1, sim, São Paulo fala: "Eu vos anuncio Cristo e Cristo crucificado; escândalo para os judeus e sensatez para os pagãos." Sim, sim, sim. Muito bom, Padre. A incensação que acontece do altar, ali, no presbitério, já no início da Santa Missa, ela deveria
acontecer em todas as missas ou tem missas específicas? Nas missas solenes, né? O que acontece hoje em dia é que eu acredito que se banalizou muito o conceito de missa solene. Às vezes eu vou celebrar em paróquias, por exemplo, na novena, os nove dias da novena, São... com o turíbulo, com incenso, me parece um pouco abusivo. E a missa solene é para ser nas solenidades, é para ser nos momentos solenes mesmo, né? E o que acontece? O turíbulo é um símbolo também muito, muito significativo. Ele aparece nas Escrituras, sim, no Livro do Apocalipse. Aparece claramente
a menção ao turíbulo; turíbulo de ouro, turíbulo com os carvões, com as brasas do altar. Ele é um símbolo do coração, tá? Então ele inclusive parece um pouco o coração, e dentro dele existem aquelas brasas ardentes que representam o coração cheio de caridade, cheio de amor a Deus, tá ardendo. De amor a Deus, quando o nosso coração está ardendo de amor a Deus, a oração é um perfume precioso que sobe ao céu. Mas ela não é um perfume precioso que sobe ao céu como uma flecha; ela sobe ao céu carregada, ela sobe ao céu lentamente.
É aquela fumaça carregada do incenso, perfumada com uma nuvem que vai subindo, subindo vagarosamente, né? Porque a boa oração não se faz de maneira apressada, não se faz de maneira célere. A boa oração é a oração experimentada, saborosa, perfumada, bem sentida. Então, quando o sacerdote incensa o altar, o que ele está fazendo é fazer referência a que as nossas orações estão depositadas ali, juntamente com as orações dos Santos, para subir ao céu. Certo? Ótimo, padre. Nós temos, ali no início, o ato penitencial, onde três vezes se reza o "Kyrie eleison". Primeiro, por que no início
da celebração existe algum significado em já iniciar pedindo perdão? Por que se repete três vezes? O ato penitencial perdoa todos os pecados. Bom, isso é complexo. Sua pergunta é complexa. Por si, uma coisa é que o arrependimento perfeito apaga os nossos pecados, certo? Porém, o arrependimento perfeito inclui o propósito de se confessar na primeira oportunidade. Portanto, no ato penitencial, eu até posso fazer um ato de contrição perfeita, estando profundamente e perfeitamente arrependido, mas não posso, se tiver um pecado grave, se eu tiver consciência de ter cometido um pecado grave. A Igreja diz que eu tenho
que me confessar. Isso é muito importante. Mas a missa começa com o ato penitencial porque, veja, eu vou te dar um exemplo. Digamos assim que eu te dei um calote, tá? E eu te encontro na rua e aí eu te digo: "Oh, tudo bem, amigo!", te dou um abraço, etc. Eu estou sendo extremamente hipócrita com você, porque a primeira questão que eu tenho que resolver é a questão do calote. Sim, tenho que pagar o calote. Então, veja, nós pecamos contra Deus. Se a missa começasse com um ato de louvor, com um ato de adoração, e
não com a consciência que nós temos de ser pecadores e de termos ofendido muitas vezes um Deus que é santo, nós seríamos hipócritas. Nós seríamos, inclusive, assim, aborrecidos na presença de Deus. Então, a fé católica é uma fé muito humilde. Sim, ela te joga no chão logo no começo. Você bate no peito, diz: "Eu pequei!" e pede perdão. Você pede misericórdia, exatamente como aquele publicano no templo de que fala São Lucas, né? Que havia um fariseu e um publicano. O fariseu ficou dizendo: "Ó, Senhor, porque tal, eu não sou como os outros homens." E o
publicano, dizendo: "Senhor, tende piedade de mim, porque sou pecador." E Jesus disse: "Esse voltou para casa justificado." Então, a missa começa assim. Eu já vi, por exemplo, pessoas dizendo assim: "A Igreja Católica é esquisita porque ela fica com esse negócio de 'minha culpa, minha culpa, minha culpa'." Outras religiões são mais positivas; você já chega, já joga o cara para cima, já diz que Deus vai fazer tudo, que Deus é poderoso, etc. Sim, sim, sim. Então, não é que a Igreja Católica é esquisita; é que ela é cristã. A gente começa batendo no peito e pedindo
perdão humildemente, sem hipocrisia, porque é o que nós somos: miseráveis pecadores e precisamos da misericórdia de Deus. Sim, verdade, padre. Entendi. Padre, terminamos ali o ato penitencial, com exceção talvez das missas de semana, né? É normal, todos os domingos, nós cantarmos o Glória, rezarmos o Glória na Santa Missa. O Glória tem uma letra que tem que ser seguida. Estou perguntando porque eu lembro, uma vez, há muitos anos, eu fui a uma missa e, na hora que o padre falou "vamos cantar o nosso hino de louvor", cantaram aquela música "Deus, quero louvar-te", né? Existe uma letra
do Glória. Depois do ato penitencial, agora se reza o Glória. Então, primeiro, antes de falar do Glória, só uma coisa: você perguntou por que se diz três vezes "Senhor, Cristo e Senhor". Na forma antiga se dizia três vezes: "Senhor, Senhor, Senhor; Cristo, Cristo, Cristo; Senhor, Senhor, Senhor." Três vezes. No Concílio Vaticano II, depois do Concílio, na reforma litúrgica, ficaram seis vezes: duas, duas e duas. Nas três vezes, nós estamos pedindo a Cristo o perdão, certo? Então, na verdade, são três invocações a Cristo, do mesmo jeito que eu disse "minha culpa, minha culpa, minha tão grande
culpa." Três vezes é "misericórdia, misericórdia, misericórdia." Três vezes. Então, o padre e o povo respondem, né? O Glória, segundo a introdução Geral do Missal Romano, tem uma letra fixa que não pode ser mudada, tá? Inclusive porque é uma letra muito antiga, do século VI, na liturgia romana. Antigamente, não se cantava o Glória; ele se cantava só na noite de Natal e mais vezes na liturgia galicana. Mas aí, depois, a liturgia romana incorporou o Glória. Antes da reforma litúrgica, se rezava o Glória praticamente todo santo dia, porque, durante a semana, se celebravam as missas dos santos.
Sim, todo dia tinha um santo e quando se reza a missa do santo, tem Glória. No rito antigo, na forma antiga, a gente só canta o "Rejoice and Glorify" nas festas e solenidades, certo? Então, via de regra, deveria se seguir aquela letra. Agora, houve um período em que a Santa Sé autorizou a CNBB a versionar uma letra do Glória em forma... Eh, digamos, de estrofes rimadas. Uhum. E aí foram aparecendo aquelas glórias com aquela letra: "Glória a Deus nos altos céus, paz na terra, seus amados." Pessoal fala que é a versão da CNBB. Seria isso?
É a versão da CNBB; ela foi autorizada durante o período, pelo que eu soube. Agora estamos num período de tolerância de mais de dois anos até que ela seja suprimida definitivamente. Ah, tá, entendi. Padre, padre, passamos aqui pelos ritos iniciais. Começamos agora, então, a primeira parte: a liturgia da palavra. Temos ali a primeira leitura, salmo, segunda leitura e o evangelho. Eh, quem é que pode proclamar o evangelho? Por exemplo, eu sou o Senhor? É o padre. Eu sou o ministro. Um padre, estando ali no presbitério, ele pode autorizar um leigo a pregar. Essa é a
função apenas do padre. Eh, o padre pode chamar um religioso não ordenado ou uma religiosa para poder anunciar o evangelho. Pregar o evangelho poderia explicar um pouco para nós sobre isso? Padre, existem três documentos a esse respeito. Sim, um chama-se "Acerca da Colaboração dos Fiéis Leigos no Sagrado Ministério dos Sacerdotes", em que essa questão foi respondida. Se diz que não, a homilia, o evangelho, etc., só pode ser proclamado por ministro ordenado. Depois, na instrução "Redemptoris Sacramentum", também se diz que não. E, por último, na Introdução Geral do Missal Romano, não como proibição, mas como afirmação,
se diz que essas são partes reservadas aos ministros ordenados. Se houver diácono, o diácono pode ler o evangelho e pode pregar também. Pode as duas coisas, as duas coisas. Ele é um ministro ordenado. Tá, tá ótimo. Eh, padre, essa estrutura da liturgia da palavra, ela existe um motivo porque foi criada assim: primeira leitura, salmo, segunda leitura e evangelho ou não? Como? Então, não tem muito motivo. Em que sentido? Eh, o rito antigo tinha apenas a epístola, que às vezes era o chamado tracto. Então se lia um trecho do Velho Testamento. Isso acontece em missas penitenciais;
geralmente, se lia algum texto do Velho Testamento, mas o mais comum era a leitura de uma epístola, de um trecho de uma epístola dos apóstolos e depois o evangelho. No Concílio Vaticano II, a Igreja quis dar mais visibilidade à palavra de Deus. Tá, ela quis aumentar os, digamos assim, o concílio diz, né, que a mesa da palavra seja mais farta e, de fato, não tem nem comparação, né? O número de leituras bíblicas que nós fazemos é o número de... Então, só o fato de nas solenidades nós termos a primeira e a segunda leitura, uhum, já
é uma coisa extraordinária. Além disso, eh, a resposta se dá pelo salmo responsorial também, que é um trecho. Não, não é como antigamente. O gradual romano, gradual romano também era bíblico, mas era menos responsivo. O salmo responsorial é bem mais responsorial, além de que todas as outras partes da missa estão impregnadas de textos bíblicos, né? Então, de fato, no ofício divino, na missa, nós temos uma fartura muito maior em relação à leitura da palavra de Deus e é uma riqueza que o povo possa, inclusive, escutar o sermão também, que explica, né, a homilia, que explica
aquilo que está ali sendo lido, né? Sim, padre. Por que na missa de Páscoa da noite de Páscoa, ali, nós não temos somente a primeira leitura? O salmo tem várias leituras. Tem algum motivo para isso? Sim, é que, na verdade, o que acontece é que a liturgia da vigília pascal é a última das vigílias que ficou, que permaneceu, né? O que é uma vigília? Então, no ofício divino, nós temos as chamadas matinas ou ofício de leituras. Sim, o ofício de leituras hoje é um ofício muito mais simplificado, mas antigamente era um ofício muito complexo porque,
além de ter nove salmos, tinha nove leituras, cada qual com seu responsório e a sua oração, além das bênçãos relativas a cada leitura e, antes das leituras, uma pequena invocação. Então, é um negócio bem complexo. Ah, então veja, na noite de Páscoa, se fazia a missa em forma de vigília. O que significa o quê? As matinas eram rezadas antes da missa. Tá, então, no fundo, é a mesma coisa. Se você reza a liturgia das horas, você vai ver que no Sábado Santo nós não rezamos matinas. Uhum. Eh, por que nós não rezamos matinas? Porque as
leituras seriam as mesmas, as leituras da noite do Sábado Santo. Entendi, entendi, com seus cânticos, com seus salmos, com as suas orações e assim por diante. Tanto é que, quando termina a sétima leitura com o seu salmo e a sua oração, o que acontece? O padre canta o glória. Sim, em toda a glória, né? Sim, sim. E aí se faz a oração coleta da missa. É como se a missa começasse ali. Certo? Até ali fosse um grande ato penitencial, né? Quer dizer, a vigília substitui, no caso, o ato penitencial com uma missa estacional, né? A
procissão, aqueles ritos substituem um ato penitencial e a missa começaria propriamente no "ínicio de louvor". Sim, mas existem outras vigílias. Tá, então, a vigília de Pentecostes ainda existe? Sim, inclusive no novo missal. Ela está mais valorizada, tá? Colocada junto com o próprio do tempo e assim por diante. Antigamente, era mais complicado rezar a vigília de Pentecostes. Eh, existe também a vigília de Natal, é que a gente não tem costume de fazer. E a vigília de Natal seria o quê? Se você ler nas rubricas da missa da noite, ali se prevê que o ofício de leituras
seja celebrado antes da missa de Natal. Tá, e a missa de Natal começaria... Com a glória e a oração coleta e assim por diante, sim, sim. Então, é que a gente não faz o uso disso, mas a liturgia prevê que possa ser assim. Entendi, padre. Padre, chegando ali próximo já do finalzinho e da liturgia da Palavra, nós temos a profissão de fé, o Creio. Eu me recordo que a minha esposa fez o doutorado dela em Portugal e um dia ela me mandou uma foto de lá que ela passou em frente a uma igreja protestante. Chamou
muito a atenção dela porque tinha um escrito que era o Credo. É claro que eles não utilizavam a Igreja Católica, né? Outras denominações rezam o Creio também, sim. O símbolo apostólico é o Credo simples, né? Ele é comum a todas as confissões cristãs: católicos, ortodoxos, anglicanos e evangélicos. Ah, evangélicos também, até porque há umas duas semanas me encaminharam um vídeo de um culto evangélico onde eles rezavam o Creio. Não citava-se o termo Igreja Católica; é Igreja Universal, eles colocam, né? Isso. Ah, então, é rezado por outras igrejas também, claro. Bacana, padre. Bacana. O Creio é,
para nós, o resumo das verdades de fé que nós, católicos, temos. É isto. Exatamente, correto, padre. Estamos entrando aqui agora na liturgia eucarística. A liturgia eucarística inicia-se com o Ofertório. Ela se inicia com o Ofertório, sim. Qual é o significado do Ofertório nesse momento? O Ofertório é quando a matéria que será, digamos, o objeto do sacrifício é trazida ao altar, tá? Então, o pão e o vinho são apresentados e são oferecidos a Deus sobre o altar. Não é uma mera apresentação. Sim, a gente diz em português "apresentação das oferendas", mas fala: "apresentação do quê? Das
oferendas?" Ou seja, é um Ofertório real. Eu digo isso porque Lutero, por exemplo, era contrário. Ele tinha ódio do Ofertório, né? Ele dizia que era muito blasfemo. Ah, blasfemo porque onde já se viu o homem oferecer alguma coisa a Deus? Na mente dele não tem sentido. Tudo que o homem faz é pecado. Então, na verdade, você está oferecendo pecado para Deus. Para ele, é uma coisa blasfema e sacrílega. Sim, para nós não. Para nós, eles são dons de Deus que nós devolvemos a Deus. Inclusive, depois do Ofertório, ainda não existe a Eucaristia. Sim, porém as
matérias apresentadas tornaram-se oblatas. Portanto, qualquer coisa que se faça com elas tem nível de sacrilégio. Quando o senhor diz o termo "oblatas", o senhor diz o quê? Oblata significa que foi oferecida. Ah, tá. Ela foi posta de lado, né? Hum, oblata, eh, ela foi colocada de lado, ou seja, foi separada para Deus. Então, aquilo já não pertence mais às coisas profanas. Entendi. Portanto, se eu, por exemplo, chutasse ali uma âmbula... Claro que não! Não equivale a um sacrilégio contra a Eucaristia. Sim, sim, mas é um sacrilégio contra algo que é santo. Entendi, padre. Entendi, padre.
Tem... não sei se eu poderia perguntar isso pro senhor. Eh, eh, vários filmes, ainda essa semana, eu assisti um, acho que é "O Véu por Baixo do Véu", alguma coisa assim, que mostra a Santa Missa e coisas que os nossos olhos não poderiam ver. Até viam esses dias. É no momento do Santo, com todos os anjos e os santos. Daí, quando começa a cantar o Santo ali no altar, aparecem alguns anjos santos. Realmente, eh, se os nossos olhos tivessem a possibilidade... Não sei se é uma pergunta infantil, tá? Mas se os nossos olhos pudessem ver
o que acontece naquele momento, seria realmente aquilo ou não? Seria muitíssimo mais do que aquilo, mesmo, padre, porque, veja, com uma linguagem bem teológica... Claro, porque veja, uma coisa é a linguagem mística, sim, em que a gente pode falar, eh, nesses termos: anjos, santos, a cruz, não sei o que. Tal a gente é transportado para o Calvário. Isso é uma linguagem mística. Na linguagem teológica, o que está presente ali é o próprio Cristo fazendo presente o seu "suscipe" eterno ao Pai. A palavra "suscipe" desapareceu do Ofertório. Eh, ela significa, eh, eh, eh, "recebei", né? Sim,
e é uma palavra muito bonita. Ela, ela, ela é muito, muito densa. Antigamente, eh, se faziam muitos santinhos com uma mão assim, simplesmente escrito "suscipe", que é "recebei, ó Pai, recebei, ó Deus." Então, na alma santíssima de nosso Senhor, desde o momento da Encarnação até o momento do Calvário, até hoje, Ele apresenta ao Pai seu sacrifício: "Suscipe, recebei, no lugar dos pecados desses homens, no lugar das coisas que eles desobedeceram, no lugar das coisas mal feitas que eles fizeram, recebei." Então, esse ato litúrgico e sacerdotal de Cristo é que se faz ali presente. Então, a
alma de Cristo é muito mais do que a gente vê: anjo, santo, ver Nossa Senhora, ver, eh, sei lá, cruz mesmo, etc. É a alma, é Cristo mesmo ali oficiando o seu sacrifício. Não de uma maneira dramática, cruenta, mas teológica. Ele está realmente ali, e as espécies sacramentais são como que um véu que encobre toda essa glória. Porque, se nós víssemos, nós morreríamos. Nossa, existe a história, parece, de uma... Não é de uma santa que chegou, claro que não tem nada a ver com esse contexto, com esse assunto, e queria muito ver um anjo? Não
me recordo se foi Santa Teresa ou quem foi, e teve a permissão de ver. Foi, parece que desmaiou e ficou vários dias desmaiada. Não sei se eu já ouviu. Eu me lembro, mas é muito possível. Os pastorinhos de Fátima, quando viam o anjo de Portugal, eles ficavam fisicamente desfalecidos por dias, até. Por dias. Padre, chegamos ali no momento da consagração, momento da transubstanciação. Eh, lá na minha paróquia, em momentos assim, quando eu estou ali de joelho no momento da consagração, eu vejo algumas mães com criancinhas pequenas, e elas apontam para a criança e dizem: "Olha
lá, é Jesus, o padre está realizando a consagração." Elas mostram Jesus, mas eu percebo que tem muita gente que, talvez por causa da formação do tempo, não tem essa compreensão de que é Jesus vivo na Eucaristia. O senhor poderia, eh, explicar para nós o que é a transubstanciação que acontece naquele momento ali? Padre, bom, esse termo "transubstanciação" é um termo filosófico, tá? Bastante sofisticado e tecnicamente muito trabalhado, muito articulado, porque ele faz menção a dois fatos, né? Primeiro, que existe a substância e que essa substância se muda em outra substância. Só que uma pessoa que
não é, digamos assim, treinada em filosofia, que não domina os jargões filosóficos, isso soa um pouco estranho, né? "Substância"? Como assim substância? Então, por que a Igreja fez uso dessa terminologia aristotélica? Porque nós precisamos explicar o fato de que Cristo não nos mandou para a Igreja para comer pão. Sim, porque veja, não tem muito sentido. Quer dizer, ele morreu na cruz e manda a gente para a Igreja comer pão. Quer dizer, a Igreja é uma padaria que agora eu vou comer pão? Pãozinho, né? Ah, é um pão bento, por favor, né? Não, não é isso.
Não é pão, sim, mas como que não é pão, mas continua parecendo pão? Estou vendo pão! Como que é? Como que não é mais vinho, mas continua parecendo vinho? Tem o cheiro de vinho, tem a textura, etc. Como que isso acontece? Com que nome que a gente dá para isso? Então, Aristóteles dizia o seguinte: os entes, tudo aquilo que é, os entes, eles têm duas características. Existe neles algo que é permanente e algo que é alterável, tá? O que é permanente é o que ele chama de substância. Então, por exemplo, um gato pode engordar, pode
emagrecer, ele pode ser mais preto, pode ser mais branco, pode estar deitado, pode estar em pé, mas é sempre um gato. Acidente, portanto, a palavra "acidente" significa o que cai por cima. Sim, são realidades secundárias que mudam sem que a substância mude, né? A gente mesmo, a gente era um bebezinho pequeno, nasceu, depois a gente virou esses monstrengos enormes, e aí, o que acontece? É a mesma pessoa. A substância é a mesma, sim. A palavra "substância" é o que está de baixo, sim, né? "Substar" é o que está por baixo. Então, veja, na Eucaristia, de
certo modo, acontece o contrário disso, porque o que muda não são os acidentes; os acidentes permanecem, e o que muda é a substância, tá? Ou seja, o pão deixa de ser pão e se torna o corpo de Cristo. O vinho deixa de ser vinho e se torna o sangue de Cristo. Porém, eh, embora na espécie do pão Cristo esteja presente, em razão de corpo, e ele está unido ao seu corpo, sangue, alma e divindade, tá? Embora na espécie do vinho ele esteja presente sob razão de sangue, ele está presente com corpo, alma e divindade também,
sim, sim, porque na glória não se dividem, sim. Sim, ali ele instituiu este Sacramento em duas espécies, porque a separação entre corpo e sangue indica o sacrifício. Entendi que é o corpo entregue e o sangue derramado. Ora, essa é a forma com a qual a Igreja nos explica que eu não estou comendo pão, é o corpo. Eu estou comendo o corpo de Cristo. Então, a brancura do pão, o gosto do pão, o tamanho do pão, o sabor do pão, tá tudo ali como que suspenso, né? Uhum. Porque não tem mais sujeito, não tem mais pão
ali, sim? Então, os acidentes estão como que suspensos, e por baixo está Cristo. A substância que está ali é Cristo; ele, como se reveste daqueles acidentes, para se tornar alimento nosso. O que é uma coisa fantástica, porque a união que nós temos com o alimento é a mais íntima que a gente pode ter com qualquer coisa. Não existe união mais íntima do que aquela que existe quando eu como algo. Ele se torna quem eu sou, sim, sim, sim. Então, por isso que esse Sacramento tem o nome de comunhão, porque quando eu comungo, entre eu e
Cristo, há uma fusão que é para nós muito consoladora, porque a maior parte de nós não vai conseguir chegar à sétima morada, mas para me unir a Cristo eu não preciso chegar à sétima morada. Basta eu comungar. Poxa, então, quando eu comungo com devoção, é realmente ele que está em mim e eu que estou nele. Há uma fusão completa, o que mostra a radicalidade da entrega do nosso Salvador, sim, sim. Então, o Dogma Eucarístico é simplesmente grandioso. Padre, no início da Igreja, ali nos primeiros séculos, eles já tinham essa visão. O Senhor falou: "Eu não
estou ali para comer pão, não estou ali para tomar." Eles já tinham essa vida. Claro, você imagina que São Paulo diz que se alguém... São Paulo diz em 1 Coríntios, capítulo 11, que se alguém come o corpo e bebe o sangue, eh, em pecado, come e bebe a sua própria condenação. E aí ele conclui lá no versículo 30 dizendo assim: "É por isso que muitos de vós estais doentes e alguns até morreram." Sim, sim, verdade. Agora, alguém morre comendo pão? Quer dizer, ah, você vai comer... não é que você comer um pão bento você vai
morrer. Não tem sentido isso. Ele está falando do próprio corpo do Senhor, sim, sim, sim. E se você ver, por exemplo, as Catequeses de Jerusalém, são muito antigas. De quando Padre, mais ou menos, eu me lembro agora o século exato, mas deve ser o século III, lá no início mesmo, é século II, III. Ali, naquelas catequeses, ele fala: "Isso não é um pão ordinário, esse é outro, é Cristo, é o corpo de Cristo." Na própria Didaquê também se fala, só que a linguagem vai se aprimorando. Com o passar do tempo, nós vamos utilizando termos que,
digamos, tornam a ideia mais clara. Então, eu não vou ter lá nos primeiríssimos séculos da Igreja a palavra "transubstanciação", sim, é algo mais novo, né? Isso começa bem mais tarde, aliás, antes do Concílio de Trento, depois de São Tomás. Então a Igreja começa a falar claramente de transubstanciação, mas antes disso a fé da Igreja já era essa: acreditava-se que deixou de ser pão, agora é o corpo de Cristo, e com o corpo, a alma e a divindade. Padre, ainda dentro desse assunto, nós temos os milagres eucarísticos, que realmente estão ali, na frente de pessoas, a
hóstia, o pão, se torna carne, e o vinho se torna sangue. O senhor poderia relatar um desses milagres eucarísticos? Tem muitos, mas assim, por exemplo, um milagre que eu sempre achei muito interessante foi aquele em que uma mulher estava muito apavorada, com medo do marido fugir. Isso foi aonde, Padre? Em Cássia, na Itália? Ou foi em Lanciano? Um outro milagre, Bolsena, agora eu não me lembro exatamente qual que é. E o que aconteceu? Ela foi uma feiticeira, e a feiticeira disse: "Não, você tem que fazer o seguinte: vai à igreja, pega uma hóstia consagrada, você
coloca em cima de uma telha e põe no fogo. Quando ela estiver bem torradinha e virar um farelo, você coloca isso na comida do seu marido." Isso, a feiticeira orientou ela, e ele não vai embora de casa. Então, ela foi. Antigamente, não era que nem hoje, comungava raramente, só se comungava logo depois de se confessar e com o jejum que começava na meia-noite, e era completo jejum, até de água, até a hora da missa, até a hora da comunhão. Então, o que acontecia? A pessoa ia comungar, a língua estava seca. Então, ela foi, recebeu a
comunhão, ficou com a hóstia na língua, pegou a hóstia, levou para casa. Tinha colocado numa lenço, levou para casa. Quando ela colocou a hóstia em cima da telha e acendeu fogo, a hóstia começou a sangrar. Nossa! Então, ela ficou com medo, pegou aquele pano, aliás, pegou aquela telha, colocou a hóstia com a telha e tudo dentro do lenço, colocou um outro pano e enterrou dentro de um terreno ao lado da casa dela. Sim, o marido fez um coxo, anos depois, algo como 20 anos depois, uma coisa assim, para colocar o cavalo, para colocar um burro
lá dentro. Porque eles tinham um burrinho. Na hora que ele foi colocar o burro dentro do coxo, o burro não quis entrar. Ele ficou apavorado, não queria entrar. Ele bateu, bateu, bateu, e o burro não entrou. Não teve quem fizesse o burro entrar no coxo. Então, a mulher viu aquilo e contou para o marido o que ela tinha feito. Então, eles desenterraram. Era o local mesmo, então eles desenterraram. Na hora que eles desenterraram, para surpresa deles, apesar de tantos anos, um lugar úmido etc., a hóstia estava intacta e o sangue estava fresco. Nossa! Chamaram o
padre, e eles verificaram aquilo, fizeram uma procissão e levaram. E está lá até hoje, né? Isso é um milagre eucarístico bastante impressionante, mas tem vários, tem muitos milagres eucarísticos. Poxa, o Beato Carlo Acutis, que agora vai ser canonizado, fez um documentário só sobre os milagres eucarísticos. Só sobre os milagres eucarísticos. Parece que tem uma página na internet, alguma coisa assim. Não tem? Exato. Aqui no Brasil, Padre, existe algum estudo de algum caso de milagre eucarístico ou não? Deve ter, é que eu não conheço tudo, né? Ah, tinha a Dona Lola, que ela morreu há pouco
tempo, há uns 10, 15 anos, que ela ficou sem comer nada durante 40 anos. Ela, de São Paulo, Minas Gerais? Minas Gerais. Ah, ela foi sustentada só com Eucaristia durante 10 anos. Mais de 40 anos, meu Deus! Eu acho, se não me engano, é um caso de maior duração da inapetência, né? E ela só comungava, só comungava, e não morreu. Nossa! E tem algum caso de... ah, que sangrou, mas eu não me lembro exatamente aonde agora. Na vida do Padre Cícero tem a famosa história da Beata Maria de Araújo, né? Sim, que ele foi dar
comunhão a ela, e sangrou na boca dela. E aí depois o milagre teve que ser abafado porque os inimigos lá não aceitaram, né? Mas a Igreja é bem cuidadosa nesses estudos, né, Padre? Muito, porque sempre se podem dar falsificações, né? Sim, sim, sim. Padre, vamos continuar aqui a conversa. Está maravilhosa, viu, Padre? Estamos chegando ali. Vamos dar um pequeno salto aqui. Chegamos ali na hora do Pai Nosso, tá? Algumas pessoas, eh, primeiro, desculpa, o Pai Nosso, eh, por que o Pai Nosso rezado na missa? Ele não pode terminar com o Amém? E já entro numa
outra pergunta: por que o Pai Nosso católico parece que é diferente do Pai Nosso evangélico? O que muda aí, Padre? Bom, vou começar por essa última, né? Na tradução do Pai Nosso para a língua portuguesa, os tradutores escolheram fazer algumas adaptações. Então, por exemplo, eh... no... No Brasil, o tratamento de "tu" soa muito informal em algumas regiões, tá? Por exemplo, no Nordeste, uma pessoa não fala pra mãe: "Mãe, tu vai não sei aonde?" Sim, sim, ainda porque nós usamos o "tu" julgando o verbo na terceira pessoa, que é errado, né? Então, "tu vai", não "tu
vais". Sim, no Sul também é mais ou menos assim. Então, na língua portuguesa, a gente sempre diz "vosso" e "vós" para se referir a Deus nas orações litúrgicas. Então: "Pai Nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso nome", porque é mais respeitoso, é mais majestático. Depois, há uma diferença na parte "perdoai-nos as nossas dívidas", sim, assim como nós perdoamos os nossos devedores. E a Igreja escolheu manter assim aqui no Brasil, como "perdoar-nos as nossas ofensas", tomando o texto de São Lucas e colocando no de São Mateus, tá? Porque "dívida" pra gente soa como algo
que parece que Deus vai estimular o calote. As pessoas são simples, sim, então, assim: "perdoar as nossas dívidas", assim como nós perdoamos nossos devedores, ou seja, todo mundo é caloteiro. Então, para não estimular esse tipo de mentalidade, trocou-se "dívida" por "ofensa". As traduções, elas têm que ser algo catequético, né? Elas têm que ter algo de catequese. O "pão nosso supersubstancial", que seria a tradução correta seguindo o texto de São Mateus, é literalmente traduzido nesse caso por São Jerônimo. Nós chamamos "ponos de cada dia" como em São Lucas, porque "supersubstancial" também as pessoas não entendem do
que se trata, tá? E "não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal", porque poderia ser traduzido de outro jeito, né? Inclusive, essa última palavra "livrai-nos do mal" é mal traduzida mesmo, porque ela meio que trai o sentido original da palavra. Porque ali não se fala de mal, mas do maligno. Ah, tá, entendi, não é mal como uma qualidade abstrata. Sim, entendi, mas é mal enquanto uma pessoa má, um adjetivo concreto. Então, escolheram deixar assim "livrai-nos do mal". Bom, sobre o "Amém", é porque na atual oração litúrgica todos nós rezamos o Pai Nosso, sim.
Então, como nós todos rezamos o Pai Nosso, o padre, junto com os fiéis, então o Pai Nosso termina, mas a oração continua. Então: "livra-nos do mal, Amém"; "livrai-nos de todos os mares, ó Pai". É como se aquele "livrai-nos" continuasse. Então, não tem sentido dizer "Amém" se a oração continua. Entendi, entendi, né? Então, toda vez que tem o Pai Nosso e depois você tem uma oração na sequência, no Ofício Divino isso acontece em Laudes e Vésperas, tá? Então, você termina o Pai Nosso e logo depois você tem uma oração. Então você não diz nenhum "Amém" do
Pai Nosso e nem o "Oremos", porque você já está orando, uhum, né? "Livrai-nos do mal". Aí você diz: "Atendei, Senhor, as nossas súplicas", porque é a continuação da oração. Mas na forma extraordinária não era assim. Ah, tá, na forma extraordinária o padre rezava o Pai Nosso em voz alta, sozinho, e ele dizia no final: "Não nos deixeis cair em tentação", e o povo respondia: "Mas livrai-nos do mal". E o padre, em voz submissa, sussurrando, dizia o "Amém", porque é o "Amém" de Deus. É Deus dizendo "Amém" como o Pai Nosso é a oração do Senhor.
Então, é a única oração que quem diz "Amém" é Deus. Sim, entendi nesse sentido. Agora, algumas pessoas, por exemplo, se confundem. Então, por exemplo, no terço, você vai rezar "Pai Nosso, Ave Maria". Aí tem um "Amém", sim, porque você vai rezar "Ave Maria". Depois você entende que você não está falando mais com o Pai, você está falando com ela, né? Ó Padre, ainda dentro do momento do Pai Nosso, uma coisa que às vezes em alguns lugares acaba se tornando um pouco polêmica é o Pai Nosso. Tem pessoas que levantam os braços para rezar na hora
da missa. Tem pessoas que não levantam. Alguns dizem que somente o padre deve levantar os braços. O povo tem algum problema em levantar ou não? Não. Então veja, até a edição atual do Missal, ainda se podia dizer com bastante segurança que, quando o Missal diz "E todos juntos dizem", e o sacerdote abre as mãos e todos juntos dizem "Pai Nosso", tá? Ele está se referindo ao rito antigo em que o padre dizia sozinho. Agora ele está dizendo "todos juntos", né? Mas só o padre é que estendia as mãos. Porém, na nova tradução do Missal, tem
uma fórmula que foi aprovada pela Santa Sé, exclusivamente para o Brasil, importada do rito ambrosiano, tá? Em que o sacerdote começa dizendo: "Elevemos juntos as nossas". Ah, tá, ou seja, pelo menos no Brasil essa elasticidade é permitida. Não tem problema, então não tem problema. Tá certo? Ainda muito parecido com isso, na oração da paz, a oração da paz é uma oração do sacerdote. Porém, se o sacerdote pede para que o povo, que os fiéis que estão ali na celebração rezem, não há problema, pode ser rezado. Não é correta, do ponto de vista litúrgico, que é
uma oração do sacerdote, sim. Agora, eu não acho que ninguém está cometendo um pecado grave com isso que está rezando. A gente não pode ser tão fanático assim, tão fundamentalista. Entendi. Não, porque muitas pessoas questionam coisas, né? Então, é bom não criar nenhum cavalo de batalha por essas questões. Acho uma perda de tempo, tá? Padre, antes de chegar o momento ali da comunhão, as pessoas percebem ali no altar, antes ainda do padre comungar, o padre quebra um pedacinho da Eucaristia e joga dentro do cálice. O que significa aquele gesto e qual que é a oração
que é feita naquele momento ali, Padre? Bom, então você tem, você, o sacerdote, durante o Cordeiro. Hum, o sacerdote fraciona a hóstia em três partes, três partes que significam os três dias da Sepultura de Cristo. Os três dias da Sepultura... E aí, a menor parte, porque Jesus ressuscitou no terceiro dia, bem cedinho. Ah, então a menor parte ele coloca dentro do cálice, que é... E essa união do Corpo e do Sangue significa, durante a Santa Missa, a hora da Ressurreição. Eh, no rito antigo, tinha uma cerimônia muito interessante. Atualmente, o padre deixa a hóstia em
cima da patena, tá? No rito antigo não era assim; a patena ficava embaixo do corporal e o padre mantinha a hóstia diretamente sobre o corporal. E isso ia até depois do Pai Nosso. Terminado o Pai Nosso, o padre pegava a patena, fazia o embolismo, né? "Livros de todos os mares, ó Pai", e tal. Fazia a sobressal da Cruz e colocava a hóstia em cima da patena. Tá? Por que isso? Porque isso representava o seguinte: durante a paixão, a glória da divindade ficou escondida, mas como aquele momento da Ressurreição, a glória da humanidade santíssima de Cristo
reaparece com todo seu esplendor por causa do Mistério da Ressurreição. Então, veja, eh, essa fração do pão, que é um gesto muito importante na liturgia, fala da Ressurreição do Senhor. A oração que você faz é: "É, é, é, Comix, se o Corpo Sang, J nov V eterna. Esta união do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, Senhor nosso, que vamos receber, nos sirva para a vida eterna." Essa oração que se faz, né? Sim... E depois, o sacerdote diz umas orações, ou uma oração, né? Há duas; ele escolhe uma delas de preparação para a Comungar, que
ele reza antes de comungar. S do próprio sacerdote, do próprio sacerdote, tá? Padre, na hora da comunhão, existe eh alguma celebração especial onde eh o leigo pode comungar nas duas espécies ou fica a critério do padre? Fica a critério do padre, etc. Né? Assim, na igreja romana, nunca foi muito costume a comungar sobre duas espécies. Por quê? Questões higiênicas. Eh, eh, a comunhão das espécies ela sempre... Ela pode ter um perigo de sacrilégio, sim, porque você pode derramar uma gota do Sangue de Cristo no chão. E tem o perigo de eh também a questão higiênica,
né? Porque, querendo ou não, eh, o padre toma sim. Eh... Depois, você for passar o cálice para todo mundo, no final vai estar uma situação meio, meio desesperadora. Eh, ou, por exemplo, eh, se você usar a cânula, que é uma das possibilidades, como é que você vai purificar essa cânula depois? É complicado, eh, ou se você usa colher, né? Pega a colher, aí bota na boca da pessoa a gotinha, né? Mas, além de poder cair, eh, o bafo, né? Vai ali um bafo, sim. Então, são coisas um pouco, pouco higiênicas. A solução que você deu
para isso foi a comunhão sobre as duas espécies, tá? Que é atingir e entregar na boca da pessoa. Mas, mesmo assim, existem situações um pouco complexas. Por exemplo, como é que eu vou saber quem é alcoólatra e quem não é alcoólatra? Porque o gosto do álcool continua ali, sim? É um problema. Depois, eu tenho que ter uma multiplicação de cálices, porque eu vou precisar ou tirar um cálice para cálices menores. Aí, eh... Existe uma possibilidade de profanação ali, né? Ou você coloca naqueles sininhos, mas os cálices, eles podem cair. Eh, ou seja, é sempre problemática
sobre as duas espécies. Então, a Igreja deixa isso ao critério do Bispo, da Conferência Episcopal do bispo e, em última análise, do padre, né? Tá, eu faço raramente, porque, segundo a doutrina católica, a comunhão é completa em qualquer uma das espécies. Então, por exemplo, se uma pessoa estiver com câncer de garganta e ela não pode consumir uma fração da hóstia, ela pode comungar só sob a espécie do vinho. É Cristo total ali, é Cristo, é Cristo total ali. Eh, então, em cada uma das espécies, Cristo está por inteiro, sim? Então, essa ideia de que tem
a só comunhão sobre duas espécies é comunhão em sentido completo. Ela tem algo de herético, algo de protestante aí por trás. Sim, sim, e tem todo o respeito também, né? Padre, por esse momento, algumas coisas que eu me recordo: eu lembro de uma vez que eu sou ministro da Eucaristia e eu me lembro que eu estava ali ao lado do padre, eh, distribuindo a Santa Comunhão, e veio na fila uma senhora de uma religião afro, com todos aqueles ornamentos que estavam ali, e ela estendeu a mão para receber Jesus. O padre, eu me recordo, faz
muitos anos isso, ele disse: "Na boca." E ele colocou na boca. Tá? Eh, me recordo de uma vez que o ministro que estava ali distribuindo a Santa Comunhão, a Eucaristia caiu no chão. Quando acontecem fatos assim de cair no chão, eh, falaram para mim que você não pode negar a comunhão para uma pessoa quando isso acontece. Como que tem que ser a reação? Caiu no chão, o respeito... Uma pessoa de uma religião diferente, como que tem que ser a ação do sacerdote ali? Padre, é muito... É uma saia justa, né? Uma saia muito justa. Bom,
quando a comunhão cai no chão, a gente tem que recolhê-la e purificar o lugar onde ela caiu, né? Essa purificação é feita como? É na hora que água e sanguíneo. Água e sanguíneo nada mais do que isso. Sanguíneo é uma espécie de lenço, né, que se usa para tratar a Eucaristia, geralmente feito de linho. Eh, agora, quando uma pessoa vem para comungar, a gente só tem autorização para negar a comunhão aos excomungados públicos, sim. Então, alguém que foi... Excomungado, da você sabe que realmente ou alguém que apostatou através de um ato de defecção formal da
Igreja Católica? Isso é público, o padre sabe, todo mundo sabe, inclusive os excomungados. É uma coisa muito séria. Se o excomungado entrar na igreja, o padre tem que parar a missa. Ah, ele não pode continuar enquanto a pessoa não sair. Nossa, é muito sério isso! Agora, se a pessoa não foi excomungada, é uma situação mais complexa. Por quê? Eu não sei o que está acontecendo ali. Você fala de uma pessoa com um adereço de outra religião. Mas e se essa pessoa for, por exemplo, uma vendedora de produtos? É raro, seria complicado, etc., mas poderia, teoricamente,
acontecer. O que o padre vai fazer? Vai falar assim: "Senhora, no máximo que ele pode fazer é perguntar: 'A senhora é católica? Está tudo certinho, tá? Tem certeza? Então vou dar comunhão na boca, senhora, por favor.'" Mas com educação. Pode, pode acontecer, por exemplo, de um pecador público, uma pessoa que, por exemplo, está em aberta oposição ao ensinamento da igreja. Eu geralmente prefiro agir antes. Eu me lembro que uma vez havia um político na missa que não podia comungar. O senhor já conhecia a história; seria um escândalo se ele comungasse. Então, antes da missa, eu
chamei ou o que eu faria, por exemplo, é pedir para um dos assistentes da missa ir até a pessoa, muito discretamente, falar assim: "Olha, o padre pediu para você não ir à hora da comunhão. Depois da missa a gente conversa." Para evitar esse constrangimento, né? Se for causar escândalo na igreja. Entendi, padre. Várias pessoas dizem assim: "Ah, se eu chegar até na hora do Perdão, até antes da primeira leitura, eu posso comungar." Isso pode? Não pode? Existe alguma regra? Como que é? Não, não é bem assim. O pessoal inventa muita coisa, né? É! Então, por
exemplo, tem gente que diz assim: "Se eu chegar depois do ato penitencial, eu não posso comungar." Onde que está escrito isso? Não existe nada, não é verdade. Ou seja, às vezes acontecem atrasos que não são intencionais. Sim, sim, existem pessoas, eu estou convencido disso, existem pessoas que não conseguem pensar de maneira temporal, do mesmo jeito que a gente. Isso tem muito a ver com a cultura, né? Eu sou um paulista que já nasci na era do relógio de pulso, e tudo muito cronometrado. Então eu, para mim, calcular o tempo do deslocamento para chegar antes é
uma coisa natural, mas para algumas pessoas não é. Sim, então algumas pessoas são atrasadas, meio que, assim, não digo por natureza, mas é por cultura, por modo de pensar, por disposições psicológicas. E acontece um atraso involuntário, a pessoa pode comungar normalmente se ela tiver em condições de comungar. Durante os domingos, a igreja diz assim: "Nós temos que participar da missa inteira." Eu ia falar isso agora. Isso! Que a participação da missa inteira supõe o quê? Que a pessoa fez o possível para chegar no começo da missa. Se aconteceu de a pessoa não conseguir chegar porque,
sei lá, na hora que ele saiu tinha pouco tempo, chegou para estacionar, foi um trabalho, e quando ela chegou lá na porta estava na hora do Glória... Não é culpa, né? Então a pessoa pode comungar, pede perdão a Deus em algum momento da missa, se faz isso, né? Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. Sim, sim, durante as missas da semana, as missas de segunda a sábado, a de segunda, né? Desde que não seja uma missa dominical, inclusive não há obrigação de assistir à missa inteira. Ah, é! Não há!
A pessoa, se chegar na hora do rito da comunhão, ali na hora do Pai Nosso, pode comungar! Nossa, eu não sabia disso, padre! Durante a semana, porque não há obrigação de assistir à missa inteira! Durante os domingos, sim. Então, se há um atraso que não é intencional, sim, que não é intencional, eu não vejo nenhum problema. Tá, existe também, padre, eu acho que vale a pena dizer isso, o caso de pessoa, porque a missa dominical todo católico tem que participar. Mas, por exemplo, vamos lá, o caso de um policial, um médico, que ele não pode
ir à missa naquele dia porque ele está de plantão, ele tem que trabalhar, ele não está em pecado grave. Nesse caso, isento do preceito, isento do preceito. Então ele pode, no outro domingo, comungar, não tem problema nenhum. Bacana, padre! Bacana, padre! Dentro desta função que o sacerdote exerce ali, é comum nós ouvirmos o termo "o padre está in persona Christi". O que que significa esse termo "in persona"? Nos momentos, digamos, essenciais da celebração de um Sacramento, então, na hora da consagração, na hora da absolvição, no instante que o padre batiza, quando o padre faz a
unção, no momento em que ele unge, a igreja diz que o sacerdote está in persona Christi; ou seja, ele empresta o seu ser, as suas mãos, a sua cabeça, o seu corpo, o seu coração a Cristo, e Cristo se serve do sacerdote como causa instrumental. Mais ou menos assim. É como eu uso essa caneca para beber água, certo? Ela é um instrumento para que eu beba água, né? Ou como uma caneta para escrever. Então o sacerdote, só naquele momento. Então, na hora da consagração, por exemplo, naquele instante, eu estou in persona Christi e consagro. Ou
seja, é o próprio Cristo que está consagrando através de mim. Sim, assim, quando por exemplo eu dou absolvição, é Cristo que está dando absolvição. Através de mim, só que com a diferença de que, se Cristo estivesse aqui em pessoa e o sacerdote estivesse ali do lado, um penitente vem se confessar com Cristo e outro vai se confessar com o sacerdote. De Cristo, os dois são perdoados do mesmo modo; só que aqui não tem uma causa instrumental, a não ser a humanidade santíssima de Cristo. Sim, sim, e ali tem uma causa instrumental que é o sacerdote.
Quando nós entramos nesse aspecto de "Persona Christi", eu anotei uma frase de São Cadarso; eu não sei se ela entraria nesse aspecto. São Cadarso diz assim: "Sem o sacerdote, a Paixão de Cristo não teria sentido." Entraria neste ponto, talvez, padre, ou não? Eu acho que ela é mais profunda ainda, né? Porque veja: sem o sacerdócio, por Padre Cristo seria... E se Cristo não é sacerdote, sim, ele é apenas um justiçado. Ele é apenas alguém, um apenado, alguém que foi condenado a uma pena capital, um mártir, mas ele não é isso. Ele diz no evangelho: "Ninguém
tira minha vida; eu a dou por mim mesmo. Tenho o poder de dá-la e tenho o poder de tomá-la de novo." Ou seja, ele é sacerdote; ele oferece a sua vida, ele dá a sua vida. Então, o sacerdócio é a alma do sacrifício. Então, se Cristo não fosse sacerdote, não haveria... a paixão não teria significado. Entendi, entendi. E se o sacerdócio de Cristo não se estendesse até os nossos dias, nos seus sacerdotes, a missa e o sacrifício de Cristo seriam uma coisa lá do passado, em que eu acessaria tão somente pela minha fé imperfeita. Entendi,
mas pela sua misericórdia, o que ele fez? Ele instituiu este Sacramento e, apesar da minha fé imperfeita, pelo Sacramento eu tenho um acesso perfeito àquele sacrifício consumado na cruz. Sim, padre, uma pergunta: como que a Santa Missa... e aí o senhor poderia citar exemplos... O senhor é padre há tantos anos; acho que o senhor já viu várias situações. Como que a Santa Missa pode influenciar a vida espiritual de uma pessoa? A pessoa, pelo fato de talvez... eu não sou dessa pastoral, mas eu vou à missa todos os domingos. A vida da pessoa pode ser influenciada?
A vida espiritual completamente, porque, claro, se a minha vida espiritual tem como seu ponto de arrancada o sacrifício de Cristo, tudo muda. Ou seja, humildemente, todos os domingos eu vou e passo pelo sacrifício de Cristo, escuto a sua palavra, comungo. Meu Deus! A minha vida ganha uma dimensão completamente nova. Sim, sim! Que vivesse meus dias como se fosse um animal, né? Então, tanto faz a segunda, quanto o domingo, quanto a terça, quanto a quarta, tudo a mesma coisa. Né? O cachorro é assim; o cachorro não sabe que é domingo. Uhum, né? Então, o cristão sabe
que é domingo, ele consegue separar aquele dia para Deus. Ele consegue, naquele dia, separar o momento que ele vai à Santa Missa, e aquele momento é um momento central. Ele não vai apenas cumprir um preceito; ele vai às fontes da salvação para beber diretamente do Salvador. Vários santos comentam sobre os efeitos da missa dominical na vida da pessoa. Eu acho... eu não me recordo se é Santo Agostinho que fala que, para o fiel, a partir do momento que ele já sai da sua casa indo para a igreja, eh, os passos são contados que ele está
indo para a Santa Missa. Tudo aquilo ali é anotado. Eu lia, eh... estava ouvindo, nesses dias, um outro podcast sobre a Santa Missa. Não me recordo também o nome do santo que contava que tudo aquilo que a gente realiza no domingo, depois que você realiza, após a Santa Missa, essas coisas são realizadas com mais êxito. Isso é verdade, padre? Pode ser? Depende muito da fé com que você participa da missa, né? Sim. Se você vai olhar para mim, se está ali como quem está no programa do Faustão, sim, não vai ter efeito nenhum. Mas você
está piedosamente, etc., com fé, de certo aquilo vai trazer, pelo menos, uma união com Deus que vai santificar todas as ações do seu dia, né? Tá bom, padre! Estamos quase no finalzinho do nosso podcast. Chegamos ali na parte final da Santa Missa, a bênção final. Tem a bênção final e a bênção solene. Qual é a diferença? A única diferença é que, na bênção solene, existem algumas invocações que tornam mais explícito o mistério que está se celebrando. Então, uma bênção solene de Natal vai falar do Mistério da Encarnação, uma bênção solene de Páscoa vai falar da
Ressurreição, etc. E a bênção simples, que é a simples invocação da bênção de Deus, ela encerra a missa, o último ato da Santa Missa, pelo qual nós recebemos, por assim dizer, o impulso final que Deus nos dá para partirmos para nossas casas com o coração sido. Alguns comentadores, e não só, né? Alguns líderes carismáticos mesmo falam da eficácia da bênção final. Eu me lembro que o padre de grandes uma vez falou: "Vocês querem ver o poder da bênção final?" E, na hora da bênção final, ele começou a dar umas bênçãos individuais; tinha gente que voava
de um lado para outro, uma coisa impressionante, né? Para dizer que a bênção final, se recebida com fé, é a bênção da missa, né? Sim! É como se você pegasse toda aquela força, né? O sacerdote pega toda a força do sacrifício da missa, um canhão, e joga em cima de você. Pá! Nossa! É um canhão de bênçãos, né? Então, é uma bênção realmente, é a bênção das bênçãos. Padre, ainda dentro desse aspecto da bênção final, me recordei de um caso muito antigo e eu acho... Que entra dentro disso que o senhor está falando, eu me
recordo uma vez, no final de uma missa, uma senhora procurou um sacerdote na sacristia e pediu para que ele abençoasse a água. Ele falou: "Mas eu já dei a benção na missa, ela vale ou não vale? Depende da intenção que o sacerdote tem." Então, por exemplo, se eu vou dar a bênção da água e digo: "Agora vou dar a benção da água", eu dou a benção da água; não tem para que a pessoa me trazer para eu benzer depois, porque eu já benzi, sim, sim, sim. Agora, se eu não tiver intenção de dar a benção
na água específica, aí a bênção final não valeu para tudo aquilo. Ah, bacana, bacana! Por exemplo, nas missas do Papa, em geral, se diz em algum momento: "O sumo pontífice tem a intenção de abençoar todos os objetos que se forem apresentados", isso no finalzinho, na bênção final, sim. Então, naquele caso, ele tem a intenção de abençoar todos os objetos. Ah, tá! Então, geralmente, quando o Papa dá a bênção no final de uma audiência, no final do Ângelus, no final de uma missa, ele tem a intenção de abençoar todos os objetos presentes. O sacerdote poderia fazer
a mesma coisa, mas ele teria que dizer, né? Sim, tá ótimo, Padre. Infelizmente, o nosso tempo é muito curto, mas que conversa fantástica, né? Que conversa fantástica! Tenho certeza que esse podcast, tudo aquilo que o senhor partilhou conosco aqui, vai ajudar muita gente. Fico contente. Muito obrigado! Muita gente, e para finalizarmos, olhando aqui para essa câmera, eu gostaria que o senhor deixasse, dentro desse tema ou o que o senhor quiser falar, uma mensagem para aqueles que estão nos acompanhando, que são católicos, que vão à missa, que estão afastados da missa. Fique à vontade, Padre. Olha,
nos Atos dos Apóstolos, São Pedro diz uma frase que é grandiosa: "Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos." Nós, cristãos, não inventamos um jeito de nos salvar. O único modo de nos salvarmos é passando por Cristo e pelo seu sacrifício. É o que nós fazemos em cada missa. Talvez aqui, nesse momento, você não dê tanto valor à Santa Missa. Você acha que talvez seja um pouco chato participar da missa, etc. Mas escuta o que eu estou falando: um dia você
vai morrer, e aí você vai entender o valor que cada missa teve para você e, sobretudo, o valor que cada missa tem para você, inclusive depois da sua morte. Guarde isso no seu coração! Não brinque com as coisas santas. Seja fiel, porque o que se nos pede é muito pouco: apenas a missa do domingo. Qualquer coisa na nossa vida vale mais do que isso. Se nós juntássemos os minutos que nós passamos no banheiro durante a semana, eles excederiam o tempo de uma missa. Se eu não sou capaz de dar a Deus o tempo de uma
missa no domingo, isso significa que o meu amor por Ele não passa de uma mentira. Obrigado, Padre! Quero agradecer a você que ficou conosco até agora. Se você gostou de tudo isso que ouviu, escute mais uma vez, duas, três vezes. Compartilhe esse conteúdo. Se fez bem a você, tenho certeza que vai fazer bem também para outras pessoas. Curta, compartilhe, comece a nos seguir. Nós vamos deixar também depois o endereço do senhor para que as pessoas possam estar acompanhando os cursos que o senhor dá, que são fantásticos. E, mais uma vez, Padre, muito obrigado pela disponibilidade
de estar conosco. Foi uma grande alegria, e eu gostaria, se possível, que nós finalizássemos com o senhor dando a bênção para nós, tá bom? Por intercessão do Imaculado Coração da Santíssima Virgem Maria e de São José, seu castíssimo esposo, a bênção de Deus Todo-Poderoso: Pai, Filho e Espírito Santo, sobre vós e permaneça para sempre. Amém! Amém! Obrigado, Padre! Pessoal, até a próxima! Tchau, tchau!
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