Mas nós temos também relíquias; nós temos objetos que tocaram, que foram tocados por Jesus e que são conservados em várias partes do mundo. Ah, Rafael, mas como nós vamos saber se esses objetos são verdadeiros ou não? Muito bem, todas essas relíquias, hoje em dia, ou a maioria delas, pelo menos, já foram e continuam sendo alvo de estudos de especialistas: cientistas, historiadores.
E essas relíquias, a maioria delas, apontam realmente para uma veracidade histórica. Mas, mais do que a veracidade histórica para a Igreja — aliás, a veracidade histórica é importante! É importante que os estudiosos emitam sua opinião sobre essas relíquias — mas, mais do que isso, a Igreja tem um outro critério que sempre usou.
Qual é o critério? Os efeitos produzidos por essas relíquias. Uma relíquia falsa não produziria efeitos; seria só mais um objeto guardado, seria mais um objeto de procedência duvidosa.
Acontece que, diante das relíquias de Cristo, ao longo desses 2000 anos de cristianismo, nós presenciamos e continuamos a presenciar, ainda hoje — isso já aconteceu no passado e segue acontecendo — muitos milagres, muitas curas. Então, isso é um sinal inequívoco da veracidade desses objetos. Então nós temos alguns objetos, né?
Então, por exemplo, nós temos o madeiro da Santa Cruz. Existem, na verdade, a cruz de Cristo; ela foi encontrada no século IV, por volta do ano 320. As relíquias da cruz foram encontradas.
Então, quer dizer, 320 é ali, né? Uma distância de pouco menos de três séculos da existência histórica de Cristo. As relíquias da paixão: a cruz, os cravos, os pregos, o título — a tabuleta que Pilatos mandou escrever e colocar sobre a cabeça de Cristo — tudo isso foi achado.
A coroa de espinhos, tudo isso foi encontrado, né? E a partir dali, desse encontro, começou a ser venerado. E aí muita gente já naquela época tinha dúvida: “Pô, puxa vida, mas como saber se é verdade ou não?
” Bom, as relíquias da cruz e essas relíquias todas da paixão foram encontradas por quem? Por Santa Helena, mãe do Imperador Constantino. Constantino foi o Imperador que deu liberdade de culto aos cristãos, quando cessou a perseguição aos cristãos, aos católicos.
E Santa Helena teve um sonho onde o seu anjo lhe indicava o lugar onde estariam as relíquias de Cristo em Jerusalém. E Santa Helena foi procurar e achou no local indicado. Ela mandou escavar; o bispo de Jerusalém, na época, não deu muita trela para isso.
Aliás, o bispo de Jerusalém desconfiava que essa história das relíquias de Santa Helena poderia ser mais uma sugestão, mais uma imaginação do que algo efetivo. Acontece que a Imperatriz mandou escavar no local indicado, encontrou uma cruz totalmente apodrecida perto de onde está o Calvário; estava enterrada. E houve uma dúvida: então, será que essa é a cruz de Cristo?
Bom, essa cruz foi separada, continuaram escavando, e encontraram uma outra cruz, parcialmente apodrecida — não totalmente, mas parcialmente — e depois, por fim, escavaram e encontraram uma terceira cruz, bem conservada e íntegra. Santa Helena intuiu que esta cruz bem conservada seria de Cristo e, inspirada pelo Espírito Santo, certamente ela conseguiu discernir qual era a cruz verdadeira. O próprio bispo de Jerusalém disse a ela que seria praticamente impossível distinguir qual era a cruz verdadeira.
Mas Santa Helena teve um discernimento interessante: ela mandou vir os doentes de Jerusalém e mandou que tocassem na primeira cruz. Eles tocaram, ninguém foi curado. Santa Helena deduziu: “Essa é a cruz do mau ladrão.
” A cruz parcialmente apodrecida, os doentes que tocaram nela, alguns foram curados, mas a grande maioria não. E depois ela mandou que os doentes tocassem na terceira cruz; todos os que tocaram foram curados! Todos, todos, todos!
E aí, então, o próprio bispo de Jerusalém se convenceu de que aquela de fato era a cruz de Cristo. Junto daquela cruz, encontraram uma tabuleta, um título escrito em três línguas, como a gente lê no evangelho: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”, escrito em aramaico, escrito em grego, escrito em latim. Então, era uma prova cabal, arqueológica, de que realmente aquela era a cruz de Cristo.
Junto daquela cruz, encontraram um embrulho com três cravos tingidos de sangue; o próprio madeiro estava tingido de sangue; e também havia ali uma coroa de espinhos. Todo esse material foi recolhido por Santa Helena. O bispo de Jerusalém pediu um pedaço e, aí, a cruz começou a ser dividida.
Então, o madeiro da cruz foi dividido. Hoje em dia, existem relíquias do madeiro da cruz. Existem a maior parte, o maior pedaço do madeiro da cruz e o título da cruz — essa tabuleta com a inscrição que foi colocada sobre a cabeça de Jesus — e um dos pregos se encontram na Basílica da Santa Cruz de Jerusalém, em Roma.
Essas relíquias podem ser visitadas ainda hoje. A Basílica da Santa Cruz de Jerusalém era a antiga casa, o antigo palácio de Santa Helena, que ela cedeu para ser transformado em Basílica e guardar algumas dessas relíquias da paixão. Então, essa é uma primeira relíquia que ainda existe.
Uma segunda relíquia muito famosa é o Santo Sudário. O Santo Sudário é a relíquia mais enigmática de Jesus, né? Inclusive, mais pra frente, de repente, a gente faça um lente católica só sobre o Santo Sudário, que é um conteúdo riquíssimo.
O Santo Sudário é o lençol que envolveu o corpo de Cristo e que depois ele foi dobrado e conservado por muitos séculos em Jerusalém e Constantinopla. E, depois dali, foi levado pelos cruzados para a Europa. Durante a época das Cruzadas, provavelmente, o sudário ficou dobrado por muito tempo porque se venerou em Jerusalém; depois, em Constantinopla, durante muito tempo, um tecido que era chamado de mandilon, que tinha a face de Cristo.
Na verdade, provavelmente, eles dobraram o Santo Sudário, colocaram só a face dobrada, e por isso as pessoas achavam que era só o. . .
Pano da face, mas na realidade, era um pano que, se estendido, tinha impresso dos dois lados a imagem daquele que foi crucificado e colocado no sepulcro. O Sudário é uma imagem enigmática. Por que enigmática?
Ele possui manchas de sangue, mas possui gravado no tecido uma imagem frente e verso de um homem que foi flagelado, foi crucificado e foi colocado ali, né, dentro daquele lençol. Então, olha que coisa interessante, né? Agora, o mais interessante foi no século XIX, quando começaram a duvidar da autenticidade do Sudário.
E então começaram a fazer testes de fotografia. Quando o Sudário foi fotografado pela primeira vez, o Santo Sudário, dá para ver uma imagem assim muito de leve impressa. Dá para ver um homem de cabelo comprido, barba comprida, com sinais dos pregos nas mãos e nos pés, o lado furado, igualzinho ao relato de Cristo.
E aí muita gente fala: "Ah, mas será que é Cristo? " Puxa vida, né? É aquilo que Santo Inácio de Loyola dizia: para quem crê, nenhuma prova é necessária; para quem não crê, nenhuma prova é suficiente.
Então, é uma questão de querer ou não querer acreditar, porque tudo indica ali que é Cristo. Quando bateram a primeira foto do Sudário, o que eles perceberam? Que o tecido do Santo Sudário é um negativo fotográfico.
Ao ser fotografado, a imagem apareceu nítida do homem do Sudário, como um pano pintado. Como muitos diziam: "Ah, aquilo é uma pintura feita na Idade Média. " Como que uma pintura na Idade Média teria uma técnica de negativo fotográfico, sendo que a fotografia só foi descoberta no século XIX?
Impossível! Outro detalhe: a imagem que está no Sudário foi impressa por radiação. Mas radiação, quando emitida numa alta frequência sobre um pedaço de pano, o que a radiação faz?
Faz com que o pano vire pó. Como explicar que uma imagem tenha sido gravada por radiação num tecido sem consumir o tecido? Então, um grande mistério, né?
O Santo Sudário atualmente se encontra na Catedral de Turim, na Catedral de São João Batista, em Turim, na Itália. Desde 1578, o Sudário se encontra ali, né, na Itália, e já foi preservado miraculosamente de dois incêndios. É algo que intriga os cientistas até hoje.
Essa é uma outra relíquia de Jesus. Depois, nós temos o Santo Cálice, né, na cidade de Valência, na Espanha. É justamente nessa cidade, na catedral, que se guarda um cálice desde a Idade Média.
Esse cálice foi trazido para a Espanha pelos cruzados, também os cruzados, aqueles soldados cristãos que fizeram uma grande expedição durante a Idade Média para libertar os lugares santos. Eles trouxeram esse cálice para a cidade de Valência. É um cálice que acredita-se ser o cálice que Jesus usou na Última Ceia, o Santo Graal, né?
O Santo Cálice usado por Jesus. É interessante que muita gente considerava essa história como lenda até que, nos anos 70, foi feita uma análise do cálice. E é muito interessante que o cálice tem umas incrustações em ouro, pedras preciosas e tudo mais.
A análise que foi feita nos anos 70 constatou que, ao longo dos séculos, algumas pedras preciosas, alguns enfeites, foram sendo acrescentados, mas, por exemplo, a copa do cálice, os estudiosos constataram que ela é da mesma região de Jesus, né, lá na Palestina, e é uma peça do século I. Então, realmente há uma probabilidade muito grande de que o cálice de Valência seja, de fato, o cálice que Jesus usou na Última Ceia. E é interessante que esse cálice fica dentro de um nicho de vidro, e as pessoas podem venerá-lo.
Há relatos de muitos milagres, muitas curas alcançadas por pessoas que rezaram diante do Santo Cálice. O Santo Cálice foi usado, inclusive, pelo Papa João Paulo I, que, na sua visita a Valência, na Espanha, nos anos 80, rezou missa utilizando o Santo Cálice, e Bento XVI também. Então, é uma outra relíquia: a ponta da lança de Longinos ou de São Longuinho.
A ponta da lança de São Longuinho se encontra atualmente no Vaticano. Inclusive, no Vaticano, quando nós entramos na Basílica de São Pedro, tem lá o altar principal de São Pedro e quatro grandes imagens gigantescas, né, à volta do altar de São Pedro. Uma dessas imagens é a imagem de Longinos, São Longuinho.
E onde está essa imagem? Logo acima dela existe uma tribuna. Dentro desta tribuna, acima de onde está a imagem de São Longuinho, é guardada a relíquia da lança de São Longuinho.
Essa relíquia também foi recolhida por Santa Helena, né, nos primeiros séculos da fé cristã. Essa relíquia foi roubada e depois restituída ao tesouro ali da Basílica de São Pedro. Depois, na Alemanha, na Catedral de Tréveris, guarda-se a Santa Túnica.
É uma túnica sem costura. Nós lemos no Evangelho que os soldados sortearam entre si; eles repartiram as vestes de Jesus, mas a túnica que não tinha costura, de alto a baixo, era tecida com um único fio, com uma única forma ali de tecelagem de cima a baixo. Ela não foi rasgada.
Os soldados jogaram a sorte, né, jogaram dados ali para ver com quem ficaria a túnica, e esta túnica ficou com um desses soldados. E aí a tradição vai dizer que este soldado que ficou com a Santa Túnica era de origem germânica e notou que o contato das pessoas, sobretudo dos doentes com esta túnica, provocava curas. E aí ele foi se informar quem era esse homem, né, cuja túnica ele havia herdado.
E aí se torna cristão e tudo mais. E a Santa Túnica vai passar por vários lugares e, na Idade Média, ela chega à Alemanha. Também lá, muitas pessoas que rezam diante desta peça são curadas.
A Santa Túnica de Tréveris também foi analisada. Por cientistas, e de fato se trata, é de um tecido do século I da nossa era. Os cravos da crucifixão eram três.
Quando Santa Helena estava vindo com as relíquias da Terra Santa para Roma, uma grande tempestade ameaçava afundar aquelas embarcações. Santa Helena, tomada de temor e com a possibilidade, inclusive, de perder aquelas relíquias, ela tirou um dos pregos da Paixão de Cristo no mar; a tempestade acalmou, mas perdeu o prego. Então, um dos cravos foi perdido; outro cravo encontra-se na Basílica da Santa Cruz de Jerusalém, em Roma, e o terceiro cravo está na Catedral de Milão.
No Domo de Milão, venera-se um dos cravos de Cristo. Então, uma relíquia que existe na Catedral de Notre-Dame de Paris venera-se a coroa de espinhos de Cristo. Essa coroa de espinhos foi encontrada por Santa Helena, ficou em Jerusalém, foi para Constantinopla, e para outras localidades ali do Oriente.
Depois, com a invasão dos muçulmanos, os muçulmanos tomaram essa coroa. E na época das Cruzadas, o Rei da França, Luís IX, sabendo que esta coroa estava em poder dos muçulmanos, ele pagou o resgate pela coroa e recuperou a coroa de espinhos. Para isso, São Luís mandou construir a Sainte-Chapelle, no centro de Paris, perto da catedral de Notre-Dame.
É onde hoje é o prédio da Justiça, o prédio do Judiciário, ali no centro de Paris; não é mais uma capela. Desde a época da Revolução Francesa, infelizmente, os revolucionários invadiram a Sainte-Chapelle e profanaram a capela, mas essa capela foi originalmente construída para ser um grande relicário, para guardar a coroa de espinhos. É por isso que São Luís IX, o Rei São Luís, é representado sempre segurando uma coroa de espinhos nas mãos, justamente porque foi ele quem trouxe a coroa de espinhos de Cristo para a França.
A coroa de espinhos se encontra no tesouro da Catedral de Notre-Dame. Após o incêndio na Catedral de Notre-Dame, a coroa de espinhos e outras relíquias foram levadas para a Igreja de Saint-Sulpice em Paris, que está sendo usada como catedral provisória, mas assim que reinaugurarem Notre-Dame, a coroa de espinhos volta para Notre-Dame. Existe, inclusive, a possibilidade de venerar a relíquia da coroa de espinhos de Cristo toda a primeira sexta-feira do mês; essa relíquia é exposta e é possível chegar bem perto dela e rezar diante dela, na Catedral de Notre-Dame em Paris.
Depois, nós temos a pedra do Calvário, lá em Jerusalém. A pedra do Calvário, hoje em dia, foi construída uma igreja, a Basílica do Calvário, a Basílica do Santo Sepulcro, e existe uma imagem de Cristo crucificado, de Nossa Senhora, São João Evangelista e Santa Maria Madalena, em cima do local onde Cristo foi crucificado. Inclusive, essa pedra está rachada; como diz o Evangelho, houve um tremor de terra e realmente as pedras se fenderam.
Então, essa pedra rachada, onde a cruz de Cristo estava plantada, se encontra ali em Jerusalém, e as pessoas podem ir tocar. Enfim, aqui eu dei alguns exemplos de algumas das muitas relíquias de Cristo que existem. Existem relíquias de Nossa Senhora também; por exemplo, em Chartres, na França, existe na Catedral de Chartres a relíquia do véu de Nossa Senhora.
Existe na cidade de Prato, na Itália, a relíquia do cinto de Nossa Senhora e tantas e tantas outras relíquias.