No vídeo de hoje eu vou te contar tudo sobre os mosquitos transgênicos da dengue que foram liberados em várias cidades. Será que eles são eficazes para combater a dengue ou estamos na verdade criando super mosquitos resistentes a inseticidas? Ou pior: alterando o meio ambiente de uma forma imprevisível?
Será que eles foram os responsáveis por essa epidemia de dengue? Transgênico, é um organismo que teve o seu DNA alterado em laboratório, normalmente para que ele tenha alguma característica especial. Por exemplo, soja transgênica resistente a pragas, bactérias geneticamente modificadas para produzir insulina.
No caso do mosquito da dengue transgênico, o objetivo é criar um mosquito capaz de dizimar… a própria população de mosquitos. Assim, dengue, zika e chikungunya não existiriam mais. Parece uma estratégia bem estranha, né?
Mas a história do que aconteceu em Juazeiro na Bahia, vai nos mostrar do que essa tecnologia é capaz e se faz sentido liberar mosquitos geneticamente modificados por aí. 2010. Como a maioria das cidades do Brasil, Juazeiro já naquela época sofria com o alto número de casos de dengue.
Mas dessa vez, tinha uma novidade. A primeira geração de mosquitos transgênicos da empresa britânica Oxitec seria liberada em uma área da cidade. Os mosquitos tinham 2 genes extras e por isso, eram diferentes dos mosquitos da dengue que a gente encontra por aí.
O primeiro é um gene que faz o mosquito brilhar no escuro quando iluminado com luz negra. Ele permite que os cientistas identifiquem o mosquito transgênico no ambiente e em laboratório. Mas é o segundo gene a verdadeira cereja do bolo, o que faz esse mosquito tão especial.
Ele é um gene que é transmitido pelos mosquitos machos para os filhos, quando eles acasalam com a fêmea na natureza. E pasmem, é um gene letal. A maioria das larvas "filhas" que nascerem com esse gene vão morrer antes de virarem um mosquito adulto.
As poucas que conseguem, vivem muito pouco, porque o gene letal continua atuando. É assim que a tecnologia de mosquito transgênico pode reduzir a população de mosquitos. E como os mosquitos liberados são machos que não picam, afinal quem pica e transmite dengue é a fêmea, não tem tanto problema liberar machos transgênicos por aí.
Mas essa tecnologia só funciona porque durante a produção dos mosquitos transgênicos em laboratório, eles são tratados com tetraciclina, um antídoto que impede o gene letal de fazer mal pra eles por um tempo. Dessa forma, eles conseguem sobreviver por alguns dias em laboratório, ser liberados, acasalar e passar o gene letal adiante. Mas atenção, pessoal.
Essa tecnologia de mosquito transgênico é totalmente diferente do mosquito com Wolbachia, que muita gente também chama erroneamente de mosquito transgênico. Como eu expliquei nesse vídeo aqui, os mosquitos da dengue são infectados em laboratório com uma bactéria, a Wolbachia. Essa bactéria compete com os vírus dengue, zika e chikungunya dentro do mosquito, e impede os vírus de se multiplicarem nele.
Então no mosquito com Wolbachia, não tem manipulação genética. Já o mosquito transgênico que eu expliquei para vocês, é modificado em laboratório para ser uma verdadeira bomba atômica para a população de mosquitos selvagens, acabando com ela em alguns meses. E foi assim que aconteceu em Juazeiro.
Ao longo de um ano, essa primeira geração de mosquitos, chamada carinhosamente de Aedes do Bem, reduziu em até 95% a população de mosquito da dengue nos bairros em que eles foram liberados em comparação com as áreas que não tiveram mosquitos liberados. Mas o mosquito transgênico, como vocês devem imaginar, sempre foi cercado de muita controvérsia. Será que liberar mosquitos transgênicos por aí é, de fato, uma estratégia eficaz e segura, livre de riscos?
Antes de te responder essa pergunta, eu preciso te falar de uma novidade. Estamos passando pela maior epidemia de dengue da história e nesse período complicado, precisamos nos proteger com aquilo que tem eficácia comprovada. Pois olha isso aqui.
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Mas falando em se proteger da dengue, será que o mosquito transgênico é mesmo uma solução ou um problema? É normal desconfiar de tecnologias novas, ainda mais de um mosquito geneticamente modificado que vai ser liberado no ambiente. E se o mosquito transgênico sobreviver e aumentar a população de mosquitos ao invés de reduzir?
Será que ele também não vai se tornar resistente aos inseticidas e virar um super mosquito? Todos esses questionamentos são super válidos e como qualquer tecnologia nova, sempre surgem novos riscos que precisam ser avaliados. Mas a verdade, pessoal, é que os mosquitos transgênicos são até mais frágeis do que os mosquitos "normais".
Um mosquito Aedes vive de 20 a 30 dias, o macho transgênico vive no máximo 4 dias. Isso por conta do gene letal. O mosquito foi tratado com a tetraciclina em laboratório para ele ser resistente a esse gene por alguns dias.
Mas o efeito dela logo passa, e o gene letal atua, matando o mosquito que foi liberado. E como na natureza não tem tanta tetraciclina assim, a maioria das larvas que nascem nesses cruzamentos aí elas acabam morrendo. Mesmo nos ambientes mais contaminados com tetraciclina, como esgotos e criação de gado, a concentração dela é pelo menos 700 vezes menor do que a usada em laboratório.
Por isso, o mosquito transgênico dura tão pouco tempo no ambiente depois de liberado. Os mosquitos transgênicos também são muito mais sensíveis a inseticidas do que os mosquitos que já circulam por aí. Os cientistas selecionaram linhagens que já eram mais sensíveis a inseticidas, justamente para evitar um super mosquito.
Mas ainda existe outra preocupação, que é a de um possível desequilíbrio ecológico se a gente eliminar todos os Aedes aegypti. Na natureza, eliminar alguma espécie pode alterar toda a dinâmica. Por exemplo, se você eliminar os sapos de um lago, as aves predadoras deles podem ficar sem alimento, enquanto os mosquitos que os sapos comiam podem se proliferar.
Quais as consequências de dizimar a população de mosquitos da dengue? Bom, de acordo com estudos ambientais, o sumiço do mosquito da dengue não seria prejudicial ao ecossistema, já que os predadores dele têm várias fontes de alimento, que são outras espécies de mosquitos. Além disso, foi visto que mesmo depois de anos, nas áreas que receberam mosquitos transgênicos não houve um aumento da população de um outro tipo de mosquito da dengue, o Aedes albopictus.
O que é muito bom. Quem é responsável por regulamentar organismos transgênicos é a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a CTNbio. E durante os testes com os mosquitos transgênicos, ficou claro que essa é uma tecnologia segura, tanto que ela foi aprovada para comercialização em 2014.
Mas se o mosquito transgênico dura tão pouco tempo no ambiente, é tão sensível a inseticidas e é seguro do ponto de vista ambiental, porque diabos falam que criamos um supermosquito da dengue? Por que dizem que é esse supermosquito que está por trás das epidemias de dengue? A fonte de toda essa história de supermosquito é surpreendentemente um estudo científico, publicado em 2019.
O estudo fala que os genes dos mosquitos transgênicos foram transferidos para os mosquitos da dengue na natureza, até 30 meses depois do início das liberações. E que isso teria produzido um mosquito híbrido mais robusto. A mídia noticiou isso como algo perigoso, prejudicial.
Mas é claro! O uso de palavras como “Transferência genética”, “híbrido robusto” e “30 meses depois” foi um prato cheio para quem gosta de compartilhar desinformação. Até o Bill Gates, que é um dos patrocinadores da empresa, foi acusado de estar transferindo genes para contaminar os mosquitos brasileiros.
Que beleza. Mas acontece, pessoal, que o estudo repercutiu muito mal na comunidade científica. Os próprios testes da empresa dos transgênicos já tinham visto que cerca de 5% das larvas de mosquitos poderia sobreviver, se tornar adultos, se acasalar e transferir alguns genes para mosquitos da natureza.
E não tem problema nenhum nisso. As larvas filhas desses cruzamentos que sobreviverem são muito frágeis e os estudos mostram que uma vez paralisada a liberação de transgênicos os genes simplesmente desaparecem do ambiente até 5 meses depois. Ué, mas como então foram encontrados genes de mosquitos transgênicos 30 meses depois?
Pois é! Na verdade, pessoal, os autores também não deixaram claro que o experimento de liberação de transgênicos durou 27 meses. Falar que os mosquitos híbridos robustos foram encontrados 30 meses depois dá a entender que o gene está se propagando por muito tempo depois do fim do experimento, sendo que na verdade é só 3 meses depois da última liberação do mosquito transgênico.
Algo dentro do prazo esperado. Ou seja, não existem mosquitos transgênicos voando por aí onde não está tendo teste, ao acaso, e muito menos supermosquitos resistentes. Esse estudo é um dos maiores exemplos de como o exagero em uma publicação científica e a má divulgação podem destruir a reputação de uma tecnologia que potencialmente funciona.
Tá cada vez mais difícil fazer divulgação científica no Brasil. Mas mesmo assim, existe um problema na tecnologia de mosquitos transgênicos que realmente é bastante sério. E eu, particularmente, acredito que seja o motivo dessa tecnologia não ser adotada até hoje no Brasil.
Então clica no gostei se você tá gostando desse vídeo completasso sobre mosquito transgênico e você chegou até aqui, porque agora eu vou te contar o real problema do mosquito transgênico. Na realidade, pessoal, a primeira geração de mosquitos transgênicos aqueles que foram testados lá em Juazeiro na Bahia, em Piracicaba, em Jacobina tinha um sério defeito. Se você liberar mosquitos transgênicos só uma vez ou durante um curto espaço de tempo, mesmo que sejam milhares ou milhões de mosquitos, os machos não vão acasalar com todas as fêmeas do bairro.
Diferente das fêmeas, os machos não voam muito longe e por serem transgênicos, eles já vivem pouco. Por isso, uma única liberação de mosquito transgênico não é suficiente. Para acabar com a população de mosquitos, é preciso liberar mosquitos várias vezes, por meses ou até anos, até conseguir pegar todas as fêmeas da cidade.
E mesmo suprimindo 95% da população de mosquitos, como aconteceu em Juazeiro, o que os testes mostraram é que você precisa continuar liberando mosquito transgênico aos poucos, agora em quantidades menores, para manter os mosquitos em baixa, senão eles voltam. Tanto que Piracicaba, Juazeiro e Jacobina não ficaram livres da epidemia de dengue de 2024. Não significa que a tecnologia é ruim.
Só significa que pra ela ter uma chance de funcionar ela precisa estar ativa e ter várias liberações pra que ela consiga prevenir os casos de dengue. Essa necessidade de ter que liberar mais mosquitos de tempos em tempos aumenta muito o custo da tecnologia e para a maioria das cidades, ela fica inviável. É por isso que a empresa responsável desenvolveu uma segunda geração de mosquitos transgênicos.
Segundo eles, os mosquitos Aedes do Bem lá de 2ª geração geram larvas, em que só os machos sobrevivem. Diferente das primeira geração que a grande maioria morria. Esses machos podem chegar à fase adulta e voar por aí, propagando o gene letal a mais fêmeas e diminuindo a quantidade de mosquitos a serem liberados.
O que é bastante promissor. Mas sinceramente, pessoal, ainda falta muito teste pra nos dizer se dessa vez a tecnologia é viável economicamente. Na minha opinião, no máximo o mosquito transgênico vai se somar a outras tecnologias como a própria Wolbachia, as armadilhas de mosquito adulto que eu já falei várias vezes aqui e a famigerada vacina da dengue, que eu expliquei como funciona nesse vídeo aqui.
Me conta aí se eu te ajudei a entender essa história de mosquito transgênico e compartilha esse vídeo toda vez que ouvir fake news de supermosquito Um grande abraço, se proteja da dengue e diga Olá, Ciência! Tchau.