[Música] [Música] Imagine sua história como uma linha do tempo quantos altos e baixos já viveu alegrias dores superações obstáculos a verdade é que essa linha não é assim tão linear inúmeros fatores internos e externos influenciam o tempo todo nossas jornadas e as tornam únicas e complexas Mas e se pudéssemos ser responsáveis por um pequeno estímulo capaz de impactar de forma positiva uma vida inteira e se criássemos oportunidades de Minimizar vulnerabilidades e de alguma forma mudássemos uma trajetória acreditamos que sim isso é possível e por isso desde 2003 apoiamos projetos inspiradores com objetivo de incentivar o
protagonismo social acreditamos que podemos gerar o impacto hoje para que versões cada vez mais felizes dessas histórias possam ser escritas no futuro próximo Instituto CPFL energia que transforma realidade Olá pessoal queremos compartilhar estee momento com vocês 2023 O Café Filosófico CPFL faz 20 anos são mais de 950 palestras realizadas mais de 3.000 horas de gravação mais de 2.000 episódios na TV Cultura uma comunidade digital com quase 1 milhão de pessoas 1200 vídeos no YouTube com mais de 42 milhões de visualizações nesses 20 anos construímos mais que números construímos relações e conectamos histórias tudo isso só
foi possível porque você faz parte dessa história o café agradece o time técnico agradece a todos os nossos amigos palestrantes e curadores e agradece em especial a você para ter uma pequena mostra dos assuntos que tratamos aqui nessas duas décadas vamos ver alguns apresentadores fizeram parte dessa hisória [Música] Olá no Café Filosófico uma parceria TV Cultura e CPF energia Como se dá a relação amorosa nos casais modernos como nasce o desejo o que as mulheres sempre esconderam dos homens e Delas mesmas temos mais medo hoje do que tínhamos no passado ou homem sempre foi esse
animal atormentado o tempo inteiro estamos diante de pequenas e grandes decisões Isto ou Aquilo certo ou errado bom ou mal pode ou não pode para que esta chama não se inflame dentro de nós incendiando tudo ao redor o que fazer quem infringiu a lei da eternidade que não permite recomeçar a vida se o ócio é realmente o começo de todos os vícios então ao menos ele está bem próximo de todas as virtudes aprendi que minha força é justamente conhecer todas as fraquezas que sempre apontaram em minha pessoa de que forma a configuração do trabalho contribui
para modificar a composição social brasileira e faz surgir uma nova classe média hoje vamos nos perguntar existe uma droga do bem a arte é um meio de sentir o d do objeto aquilo que já se tornou não interessa arte e a busca de cada um é uma Para que serve a ficção explicar e interpretar a realidade humana através da [Música] [Música] [Música] Fantasia [Música] boa noite sejam bem-vindos a mais uma gravação do Café Filosófico CPFL sejam bem-vindos todo mundo que todos que estão aqui hoje em Campinas para gravação e também quem está acompanhando a gente
tanto pelo Instagram quanto pelo YouTube se você tá vendo esse vídeo pelo YouTube faço o convite para vocês para vocês se inscreverem no nosso canal aqui embaixo para vocês saberem da nossa programação em primeira mão e para verem também os conteúdos que postamos praticamente diariamente conteúdo conteúdos novos no canal do Café Filosófico CPFL e hoje a gente inicia o módulo Inteligência Artificial submissão e subversão com curadoria de Gisele bagman que é a palestrante de hoje com o tema a era das inteligências artificiais memórias arquivos e apagamentos então por favor recebam com aplausos a nossa convidada
de hoje Gisele artista professora da fal a faculdade de arquitetura e urbanismo da USP pesquisa arte e ativismo na cidade em rede e as estéticas da memória na contemporaneidade é autora de políticas da imagem vigilância e resistência da dadosfera memória da minia políticas do esquecimento entre outros suas obras artísticas integram acervos de museus no Brasil e no exterior como o zkm na Alemanha o DST musum de Berlim o Mac da USP e a pacota de São Paulo recebeu vários prêmios nacionais e internacionais como o prêmio abca de 2016 da Associação Brasileira de críticos de arte
e o de intelligent Museum com o Bruno moresque e Bernardo Fontes promovido pelo zkm e o deut Museum em 2021 ela ainda coordena o projeto temático da Fapesp acero digitais e pesquisa Gisele seja bem-vinda ao Café Filosófico CPFL a palavra é toda sua muito obrigada Felipe pela apresentação Generosa muito obrigada a vocês pela presença e muito obrigada a todos todas e todes que nos seguem agora pelo YouTube ao vivo é uma felicidade enorme estar aqui o hoje eh foi um ano bastante difícil para mim com perdas familiares perdi minha mãe no processo de desenvolvimento dessa
curadoria e contei com um suporte afetivo profissional que eu faço questão de agradecer publicamente da equipe do Instituto CPFL da equipe particularmente do Café Filosófico e mais individualmente é o meu queridíssimo André de e que coordena esse projeto um dos coordenadores desse projeto lindo da da CPFL que é o Café Filosófico uma pessoa que por todas essas circunstâncias eu eu passei um bom tempo sem ver mas que hoje estamos aqui ao vivo e ele também né É Uma emoção muito grande eu agradeço vocês pela colaboração Gabi Marta eu não vou citar todos os envolvidos como
próprio já introduzindo um pouco o nosso tema de hoje de memória esquecimento e apagamentos porque eu tenho medo na emoção de pular algum dos nomes então agradeço a produção como um todo esse essa nossa conversa hoje ela eh discute especificamente a questão da memória e da percepção do tempo e da história na pela pelo impacto da Inteligência Artificial nesses processos e eh Talvez para introduzir a conversa propriamente dita fosse importante circunscrever O que se entende por inteligência artificial Esse é um dos termos mais inflacionados do momento e é equivocadamente entendido como uma espécie de versão
melhorada dos humanos ou uma mistura de piloto automático com um um uma espécie de escravizado autônomo eh sempre penso que talvez a nossa maior Utopia vergonhosamente ainda seja a robô dos Jetsons né a Rose que é uma versão Mecânica do da figura do escravizado né não reclama é eficiente executa todas as tarefas mas Inteligência Artificial não é exatamente isso Inteligência Artificial são eh sistemas computacionais capazes de a partir de modelos treinados com grandes quantidades de dados quando eu falo grandes são muito grandes mesmo então não é 1 imagens São milhões de imagens não são centenas
de textos são bilhões de textos são que perfazem esses conjuntos de dados e eh a partir disso esses modelos podem eh resultar em tecnologias que não só executam tarefas que é algo meio inerente ao nosso modo de vida mediada pela cultura digital não é eu clico um botão e digo Imprima pro meu computador Talvez esse não seja o melhor exemplo porque nem sempre ele obedece mas numa versão eh imaginária nós poderíamos dizer que é um comando que você dá e o computador executa a tarefa então ele não só as intelig ências artificiais grande diferença é
que elas são capazes de tomar decisões diante de dados inéditos elas são treinadas para isso como por exemplo sistemas de reconhecimento facial como que eles vão reconhecer pessoas que eles nunca viram eles têm um arquivo de todas as imagens Não exatamente como nos sistemas de saúde onde inteligência artificial tem sido um suporte para determinados processos de triagem né de Diagnósticos que então reúnem as leem as informações das imagens das pessoas e já dividem por exemplo para entre os pacientes que têm supostamente algum problema dermatológico e aqueles que as imagens já indicam que provavelmente tem alguma
eh algum tipo de eh câncer de pele então o sistema tá prevendo é muito usado já para eh seleções eh a o primeiro processo seletivo por recursos humanos dá um milhão de problemas mas a partir do reconhecimento de determinadas posturas determinadas palavras o sistema pode já indicar ou não a continuidade do processo numa segunda etapa então quando digo assim tomar decisões não é que é uma um um um novo tipo de Big Brother que faz todas as coisas um Frankenstein que vai tomar conta da humanidade mas é tomar decisões diantes de dados que são inéditos
e isso é uma coisa muito interessante porque uma das características menos faladas e mais interessantes dos sistemas de inteligência artificial é que eles são sistemas relacionais ele eles articulam várias eh dados e são capazes de gerar dados a partir de eh outros dados né Então nesse processo eh que eu gostaria de situar um pouco a introdução dessa discussão porque a popularização dessas tecnologias de Inteligência Artificial inegavelmente abrem novas frentes criativas no campo das imagens mas trazem também a possibilidade de consolidação de novos negacionismos históricos por exemplo capazes aí de emplacar as teses mais estapafúrdias né
aliás Esse foi o mote de uma videoinstalação muito interessante feita no desenvolvida no MIT massach institute of technology é um dos das mecas né da produção de conhecimento digital e é um documentário eh que se chama in event of Moon disaster algo que a gente poderia traduzir como no caso de um desastre lunar e nesse trabalho o presidente Richard Nixon reporta diretamente do salão oval da Casa Branca o desastre ocorrido com Apolo X em 69 que não teria chegado ao seu final e o discurso de fato foi escrito por um dos assessores do Nixon como
era de se esperar uma missão arriscada Mas seria lido no caso de um acidente com essa missão lunar de 69 que como nós Terra rondista sabemos não aconteceu ah houve este voo a Terra é redonda e também o a Apollo 11 chegou a lua né mas para fazer esses esse documentário foram usados uma série de discursos vários outros do próprio Richard Nixon além de várias gravações para transferir as suas expressões facia e movimentos labiais ao seu clone e assim sintetizar um audiovisual com a sua voz com a sua dicção com o seu semblante falando palavras
que ele nunca disse sobre um fato que jamais ocorreu e é é muito plástico o trabalho e e eu vou pedir para soltar um trechinho do documentário que às vezes eu eh eu fal assim Mas será que é tão impactante assim vamos colocar um um trechinho do no caso de um desastre lunar eh enquanto eu vou explicando o que que acontece no vídeo essa obra ela ela é importante porque ela funciona como um alerta sobre aí os potenciais estragos dos Deep fakes no plano do revisionismo histórico né Eh Vamos soltar um trechinho do primeiro vídeo
temos aí a Casa Branca eh o vídeo o Richard Nixon abre falando enfim Boa noite por uma fatalidade do destino os homens que foram enviados à Lua ficaram na Lua né ou seja eles não voltaram eles morreram e é um longo discurso aí sobre a o que aconteceu a a o final trágico dessa missão se puder deixar um pouquinho o vídeo correndo enquanto eu tô falando sem som eu acho que facilita pras pessoas entenderem o que que era a a questão mas eh esse esse processo que envolve uma outra palavra muito falada ultimamente que nos
Alerta sobre esse peso dos Deep fakes que pode servir para algo mais do que apenas memes como é muito utilizado na internet é outra palavra que passou a circular muito especialmente aqui no Brasil depois do comercial da Volkswagen que usou a inteligência artificial para ressuscitar a Regina que como nós sabemos faleceu em 1982 Acho que todos se lembraram É nesse é um vídeo em que ela canta é uma propaganda eh em que ela canta em dueto com a sua filha no caso em dueto póstumo com a sua filha Maria Rita deu o que falar e
suscitou polêmicas aí de todas as ordens mobilizando os mais diferentes afetos as polêmicas mais relevantes eh giraram em torno da ética das imagens colocavam em questão a relação da Família com a sua memória né a memória o patrimônio da família de repente então estaria sendo canibalizar e a descontextualização de uma música que foi composta durante a ditadura né Como Nossos Pais do Belquior é uma música de 76 e que aparecia embalando uma peça publicitária na voz de eliz Regina que cantou esta música no plano afetivo as pessoas iam a um Delírio eram suspiros saudades emoções
que foram registradas aí a rodo nas redes sociais mas me parece que a pergunta que não quer falar calar é quais são as fantag fantasmagorias do presente que essas imagens vamos dizer assim no neologismo Deep faked né que foram falsificadas por esses algoritmos como as da Elis eh no produzem né Que tipo de fantasmagoria essa esta tecnologia eh que constrói Deep fakes ela usa recursos que tecnicamente são chamados de transferências de estilo algoritmos que aprendem eh a retirar camadas de um conjunto de dados e transportar para o outro muito resumidamente é algo que vocês já
devem ter ouvido um termo que se chama termo super complicado mas que circula bastante eh redes generativas adversárias né adversárias Por quê né porque o sistema opera a partir da briga entre dois conjuntos de dados né a a receita do bolo aí não vai ser tão fácil aplicar assim ela envolve praticamente três etapas uma coleta de dados em que dezenas de milhares de imagens e de vídeos de alta qualidade eh do rosto da pessoa que será substituída no vídeo é feita né Isso é feito por um uma espécie de precariado da internet que são trabalhadores
e remotos que fazem processos de classificação sem nenhuma intimidade com as imagens comandados e vão colocando etiquetas Essa é eliz essa não é eliz esse é um tomate Esse é um abacaxi esses dados estando organizados eles passam para a etapa do treinamento né é o momento em que essa rede generativa vai se constituir a partir de duas partes principais um sistema gerador e um sistema discriminador o gerador ele é responsável por criar imagens falsas o discrimin ador ele vai o tempo todo tentando barrar essas imagens e dizendo essa imagem não é real aí é que
acontece o aprendizado de máquina é um termo muito perverso porque isso é a anti pedagogia por Excelência eh durante o treinamento cabe a essa a esse sistema gerador convencer a o sistema discriminador que ele é que está certo E no fim do processo se ocorrer o aprendizado de máquina bingo aquele sistema que é o gerador eh se impõe e o discriminador já não consegue mais distinguir Quais são as imagens reais Quais são as imagens criadas algoritmico o treinamento a avança essa briga de gato e rato entre o discriminador e o gerador vai fazendo com que
o sistema se sofistique e vá aprendendo a reproduzir as características as texturas as nuances as modulações de voz então não é uma edição humana não é uma dublagem O que acontece no sistema como nós vimos do Richard Nixon ele fala com a voz dele com a musculatura dele com todos os três jeitos assim como a a el Regina cantava no vídeo E aí que a imagem resultante é isso que nós chamamos de de fake e não é um processo tão banal assim para se chegar a um grau de fidelidade como foi atingido com esse documentário
fake documentário sobre Apolo 11 ou com a Elis Regina isso demanda muitas operações só para dar uma escala esse projeto do da propaganda da Elis reggina demandou quase 2500 horas de produção e profissionais aí de pelo menos três empresas diferentes mas o que me importa ressaltar aqui não é tanto a complexidade do processo mas frisar que isto não é uma edição humana é a inteligência artificial que faz a subi não só cria os frames como ela substitui os frames de um vídeo de origem então eu gravo com uma outra pessoa e depois eu jogo o
clone digital em cima mas não sou eu que faço uma camada um layer como as pessoas que estão acostumadas a trabalhar com Photoshop fazem eh a inteligência artificial que vai substituindo os frames até que as coisas se encaixem isso é um momento sem precedente na história das imagens Tá certo que a gente já convive com uma espécie de história do homem sem a câmera já há algumas décadas todas essas obras que são feitas a partir de imagens do Google imagens que são processadas isso pelo menos des eh do Os anos 20 mas não é esse
o ponto nós estamos falando aqui muito além do pós fotográfico nós estamos falando das imagens sem o humano e eu já vou adiantar aqui uma pergunta que provavelmente vai aparecer ou de parte do público ou de parte seja o nosso Público aqui ou o público que nos assiste online que é a observação Que bom não é é assim sem humano Porque todo o processo sempre começa com humanos são humanos que definem por exemplo que o comercial de 70 anos da Volkswagen no Brasil anunciando a sua combe seria feito com inteligência artificial são humanos que fazem
a catalogação preliminar das imagens são os humanos que definem que assim quero usar uma Inteligência Artificial e vou criar um modelo para isso Eh mas isso e isso seria um argumento para dizer não esta imagem não é uma imagem não humana mas eu fecho acima de tudo com a teórica Joana zilinska Essas são imagens não humanas porque são imagens feitas por máquinas para serem lidas por outras máquinas Se nós formos tentar ler esse processo de encaixe de frames nós só vamos ver o os bastidores das imagens nós não vamos ver as imagens propriamente DIT nós
não vamos ver os sistemas maquínico deem para uma série de códigos e de camadas da imagem digital e nos entregam entregam um artefato que nós chamamos ó temos uma imagem Isto é eles Regina né Eh Então nesse sentido Nós entramos eh num num nó górdio aí de de discussão que foge um pouco ao tema central da nossa eh conversa que é sobre memória arquivamentos e apagamentos e o impacto das ias mas eu abro esse parênteses porque é recorrente que essa dúvida apareça então é uma imagem não Humana porque é uma imagem feita por máquina que
é lida por uma outra máquina né e é capaz de chegar aí a grau de sofisticação como nós vimos né mas o que me interessa aqui é como esses procedimentos impactam a nossa compreensão do passado do presente e do Futuro porque nós pensarmos há cerca de 20 anos quando começou aquela febre retrô retr maníaca de fazer carro dos anos 30 novos fuscas Chrysler Fiat o primeiro Fiat da Fiat né o Fiat 500 e um crítico de arte muito importante o t Clark ele escreveu que antigamente as mercadorias vendiam Promessas de futuro hoje elas parecem que
existem para inventar uma história Um Tempo Perdido de intimidade e de estabilidade de que todo mundo afirma se lembrar mas que ninguém teve na verdade é uma espécie de nostalgia do que nunca fomos né o clar que identificava aí uma necessidade que parecia eh inventar um passado para compensar a banalidade do presente e antes dele Humberto Eco num livro que é um clássico da história e da teoria da comunicação viagem na realidade cotidiana ainda nos anos 80 mostrava que esse tipo de movimentação ele pavimenta uma filosofia da imortalidade a partir de uma duplicação como se
nós não tivéssemos algo concreto para Recordar e que nós precisaríamos inventar para nos lembrar de alguma coisa e ao mesmo tempo como se nós não pudéssemos mais conviver com o passado só com a sua cópia isso e é patente nessa abordagem temática de espaços de convívio que cenarização [Música] [Música] postal de um passado Imaginário que nunca existiu né é uma overdose documental tamanha que nós vivemos pelas redes né todo mundo documentando tudo postando tudo se antecipando aos fatos para vivê-los a partir da imagem que circulará em rede que esse drama de não ter um passado
ele se antecipa oo nosso próprio futuro nós vivemos o nosso presente primeiro como imagem e depois como experiência é um e esse quadro de overdose eh documental faz com que de alguma maneira nós estejamos submergindo na impossibilidade de acessar a nossa memória nós funcionamos hoje atrelados à lógica das nossas timelines nas redes onde é impossível fazer uma busca retrospectiva porque essas redes são não funcionam bem não funcionam super bem não é a função delas né elas não têm essa busca esse tipo de busca retrospectiva porque elas são organizadas em função do momento imediato eh acho
que é o paradigma daquilo que é importante aquilo que for seja o mais atual eu vou tomar uma água e vou pedir para o Kiko me ajudar um minuto fazer uma leitura de um texto um breve texto sobre isso e aí a gente continua a conversar no contexto da cultura das redes O passado é uma espécie de monumento ao presente que não foi o celular com câmera se transformou numa espécie de terceiro olho na palma da mão que escaneia a vida continuamente é inegável que nós estamos vivendo uma verdadeira compulsão pelo arquivamento na era da
Amnésia coletiva coisa que nós mais fazemos é documentar e esse arquivamento ele é mobilizado pela possibilidade de publicação das informações registra-se tudo compulsivamente ainda que seja para desaparecer em 24 horas num Stories do Instagram por exemplo Mas alguma coisa ela tem que ser gravada ela tem que ser capturada E acima de tudo ela tem que ser divulgada E é isso que faz da cultura pop hoje em dia algo cada vez mais intoxicado pelo passado e algo tão intrigante também é quase uma antinomia é difícil de discordar de um crítico de música britânico Simon Reynolds quando
ele diz que em vez de se ocupar de si os anos 2000 se ocupam de todas as décadas anteriores acontecendo de novo de uma só vez é um tempo em que ele diz é tudo re remakes regravações reedições revivals e está tudo tudo integralmente à venda essa questão da memória Virá uma commodity né Ela é um bem de consumo é algo muito característico Da nossa época e ela é tão perturbadora que às vezes para e se pergunta Em que século nós estamos porque parece que nós estamos assim numa esquina do passado em que lambretas cadeiras
pé palito eh cozinhas de fórmica vão fazendo sucesso em busca de uma saudade por aquilo que não foi vivido né Eh se oferecem inclusive calças jeans que já vem rasgadas de fábrica porque quem comprar hoje apesar de ter nascido nos anos 2000 pode imaginar que use Essas calças desde os anos 60 tanto que ela foram se deteriorando E aí o meso exemplo que dei a pouco os carros antigos eh os frigobares coloridos néos pequenininhos vão consolidando esse design retrô que se impõe e vai ganhando seguidores o antropólogo indiano arjun appadurai chama esse essa febre de
saudades do que nunca foi de nostalgia imaginada e ela é fruto de um conjunto de técnicas de merchandising de Marketing e essa experiência publicitária que vai criar essa esse vácuo de perdas que nunca aconteceram como os jovens que nunca haviam visto a eles Regina cantando como os nossos pais e sofreram a ausência súbita de uma cantora pop maravilhosa Sem dúvida mas que não participou da sua experiência de vida não é então esse esse eh impacto das inteligências artificiais ele não acontece isoladamente ele se dá em um contexto histórico com essas variáveis que nós estamos percorrendo
aqui de modo muito rápido mas que eh dialogam com a demanda por essa tecnologia que nós estamos inventando consumindo E acima de tudo demandando porque essa saudade do que não ouve é um dos buracos da nossa época né Eh é uma explosão de repente da memória alguns especialistas chamam do bum da memória que come começa nos anos 90 com uma série de celebrações do Cinquentenário da segunda guerra um ano da queda do muro de Berlim as os 10 anos de fim das ditaduras na América Latina que vão despejar no mercado de entretenimento produtos de várias
ordens e qualidades suplementos livros filmes muitas vezes muito bons mas muitas vezes uma banalidade apropriação da história e que só se justificam pela memória T se tornado um bem de consumo tão importante né Eh diante desse cenário nós podemos afirmar que a a característica mais perturbadora da cultura da memória do fim do século XX em diante é que ela salienta os aspectos mais multifacetados toda a discussão sobre o colonialismo na qual eu não vou entrar em profundidade aqui nem superficialmente porque a a a Larissa Macedo que é a segunda convidada dessa temporada sobre inteligência artificial
aqui do Café Filosófico vai se dedicar a discutir esses temas Mas voltando a que a a ao que eu falava é é inegável que a cultura da memória hoje ela é discutida de prismas muito mais complexos do que há 50 anos atrás e todo o processo do colonialismo indica aí das discussões sobre o decolonial sobre as outras práticas e a diversidade indica isso mas também é inegável que a cultura da memória Nossa do século XX em diante ela é atravessada pelos aspectos mais banais dessa celebrações e dessa compulsão pelo arquivamento e pela memória e foi
isso que fez com que a memória se convertesse do ponto de vista estético e temático numa commodity dos anos 2000 em diante eh acho que o Kiko pode me ajudar aqui a completar essa ideia podemos chamá-lo vivemos hoje em meio a nostalgias inventadas em um contexto profundamente marcado pelo desaparecimento do sujeito Social tragado pela uberização da vida e na encruzilhada do antropoceno que corrói as perspectivas de futuro as coisas hoje hoje são produzidas em uma lógica de reprogramação constante como dados manipulados a fim de serem infinitamente consumidas e recons umidas prevalece nesse sistema uma estética
incapaz de conviver com o envelhecimento a corrosão dos materiais as asperezas do que é natural ela se revela com formas semelhantes nos Espaços urbanos e nos ambientes online não por acaso a iconografia corrente na internet remete a um universo de tons pastel letras redondas e nomes onomatopeico ao marketing de um mundo sem pontas e sem dor que existiria em um Paraíso Artificial que responde bem à lógica dos Jardins murados das redes sociais e a necessidade de update permanente a que a obsolescência programada nos subjuga eh nesse quadro é que nós vemos surgir essa febre de
aplicativos para tridimensionalizar colorizar colorizar animar fotos antigas e dar vida ao passado todos esses aplicativos funcionam muito bem são rápidos fáceis de usar e revelam meticulosos processos de trabal com inteligência artificial acontece eh que eles sugerem também uma uma apropriação da história como gadget como um brinquedinho fácil de ser manipulado me refiro a esses aplicativos que transformam foto preto e branco em foto colorida restauram supostamente em segundos e em consequência nós nos vemos diante de um conjunto de passados fictícios vejam bem a gente já passou pelos negacionismos passamos ISO tudo em menos de 40 minutos
pelos negacionismos pela angústia de produzir uma memória do que nós nunca tivemos e hoje nos vemos diante também nesses atravessamentos das inteligências artificiais lidando com passados absolutamente fictícios e muito semelhantes entre si porque eles parecem sempre imagens muito felizes e liberadas dos defeitos do tempo aliás uma das chamadas desse tipo de aplicativo é sempre libere-se das rugas tire os amassados das fotos assim parece que a passagem do tempo é um grande problema da nossa e civilização vejam que coisa bipolar numa era que privilegia o arquivamento das coisas antes delas acontecerem a passagem do tempo é
o grande Pânico né as melhorias vão eh apagar manchas deidade e as colorização retrospectivas tem um cacoete fundamental é que elas atribuem a tudo um um mundo que parece que oscila entre tons pastéis e tons eh outonais né e o um caso emblemático desse processo de past teorização da história pelos algoritmos de i e essa versão feliz do passado que elas criam aparece num aplicativo que fez muito sucesso e de fato é muito eh eficiente que se chama Deep nostalgia esse Deep aí não quer dizer profundamente nostálgico ele diz respeito ao Deep learning ao processo
de aprendizado profundo das máquinas e esse profundo não quer dizer uma profundidade filosófica é que ela consegue descer camadas eh que perfazem as imagens camadas de dados cada vez mais complexas e eh Profundas então a tradução é sempre ruim nesse caso porque ela dá uma impressão tão poética de uma nostalgia profunda não é bem disso que a gente tá falando Esse perdão esse aplicativo ele permite que fotos antigas eh de antepassados de personalidades ganhem expressões que eh oscilam entre piscadinhas giro de cabeça passando por sorrisos e alguns eh olhos arregalados eu não sei se todo
mundo conhece o aplicativo então eu pedi para colocar na tela uma produção que eu fiz com uma foto do meu bisavô uma foto de 1915 mais ou menos e o resultado em menos de 10 segundos que eu obtive eh usando o de nostálgia com uns dois ou três cliques Esse é o meu bisavô eh essa é uma foto de 2000 de 1915 então obviamente ela não foi gravada em vídeo e o trabalho de fazê-la animada com esses movimentos E essas expressões não foi fruto de uma edição pessoal minha Nem teria competência para tal ela é
fruto de um dois cliques num aplicativo treinado com inteligências artificiais então é muito importante sublinhar mais uma vez que todo o processo está a anos luz de distância de recursos de pós-produção e edição nós estamos falando de procedimentos de aprendizado de máquina em que os algoritmos são programados para reconhecer padrões como a geometria das linhas de um rosto os movimentos labiais e inclusive Hoje em dia a voz para transferi-los de uma imagem a outra não quero ser chata eu Eu prometo que é a última vez que eu repito isso mas é que esse é um
dos pontos cegos da discussão sobre inteligência artificial O que é o Humano o que é o não humano no processo de edição no caso eh do Deep nostálgia cruzam-se aí princípios dos Deep fakes como a gente viu como o caso da eles Regina Como o caso do Papa desfilando com um casaco super fashion que ele nunca vestiu eh porém aí de forma muito mais sofisticada eh nós estamos nos mesclando aí com uma era de uma outra cultura da memória uma cultura da memória atravessada por inteligências artificiais que nos devolvem nesse vazio de nostalgias inventadas passados
fictícios que roubam o nosso presente e se confundem com o nosso futuro e é essa Odisseia o computacional é que faz em segundos todas essas operações muitas pessoas se sentem extremamente perturbadas por essas imagens assombradas por Inteligência Artificial e os motivos de horror em geral vem essa sensação de ver os mortos tomando vida subitamente eu acrescento a esse leque de sensações mais uma o da perturbação diante da paste orização da história em que todos os passados passam de alguma maneira a dialogar de forma homogênea porque os mesmos movimentos que vocês viram nos no meu bisavô
e que comoveram as minhas irmãs por exemplo que se assustaram com esta imagem são os mesmos que aparecerão nas imagens que vocês farão é como se todos nós tivéssemos um passado comum mas esse passado comum nem nunca existiu e ele tem algo de mais grave ele não tem conflitos é um passado que só sorri é um passado que pisca para nós sorri e faz alguns gestos que são distribuídos coletivamente mas essas imagens geradas aí a partir de outros dados mostram também essa eh realidade essa evidência da presença de um um não um novo colonialismo mas
uma nova camada ao colonialismo dada ao colonialismo histórico que um colonialismo dos dados em que as coisas passam a expropriar emoções no ao mesmo tempo que acumular dados das outras pessoas né porque somos nós que estamos aí franqueando sem parar essas imagens e ensinando como as máquinas devem em se comportar é a partir daí que nós podemos ver que uma certa teoria que já foi muito criticada volta a fazer sentido a teoria da curva emocional implicada por inteligências artificiais todo esse espanto todo esse afeto nós sentimos porque eh Há uma um um um vale da
estranheza né que é percorrido nesse processo is é uma teoria de um roboticist japonês um masiro Mori que é muito conhecido talvez não de nome mas pela sua Criatura é um robô ozimo entre outros robôs aí famosos mas de acordo com essa teoria Ines tecnológicos quase semelhant a humanos tendem a Gerar repulsa mas quanto mais semelhantes eles são mais eles tendem a Gerar empatia Então essa teoria que é dos anos 70 Vem recebendo várias atualizações A partir dessa química em combustão catalizadas pelas inteligências oficiais e partindo desse ponto de vista a relação com entes que
ressurgem de um passado numc ocorrido se torna mais complexa de um lado nós temos um presente que é um tempo assombrado pelo falso e pelo vintage né peso da retromania e nele o passado cumpre apenas a função aí de dar uma capinha divertida para o nosso agora né Eh Entre esses produtos é que fica a minha pergunta produtos tão descartáveis criados a partir de inteligência artificial no campo da memória nos sugere perguntar do que nós recordaremos no futuro se o nosso presente é pura reprodução encenada do passado e o passado um elemento maquiado das nossas
visões de futuro Deu para entender a volta eh se não deu para entender eu vou pedir uma última imagem a imagem do Face App que é uma imagem que ficou muito conhecida e talvez aqui eh alguém testou esse aplicativo esses aplicativos que mudam a idade da pessoas são super bipolares eh porque eles nos colocam com uma diante dessa situação de projetar o passado no futuro não é nos ver daqui a 30 anos daqui a 40 anos daqui a 50 anos em que contexto nós podemos ter uma relação dessa com o passado que não o nosso
contexto atual mediado pelas inteligências artificiais né um tempo que vive de memó de saudades do que nunca foi tem como expectativa de futuro se ver a partir do seu suposto passado né Nós projetamos a velice a partir dessas imagens e é muito é inegável aí que essa a a instrumentalização que esses aplicativos eh a a instrumentalização desses aplicativos para coletar dados das pessoas arquivar padrões que podem ser utilizados para fins de vigilância ou para outras formas de manipulação eu não vou discutir esse tema porque é exatamente a a conversa que a Fernanda Bruno professora da
UFRJ terá com vocês aqui no Café Filosófico friso que o meu ponto aqui é out e eu pergunto como é que esses aplicativos respondem a um momento que malgrado a obsolescência programada da tecnologia e a falência institucional da infraestrutura da Cultura Teima em apelar para um desejo de eterna Juventude é uma coisa paradoxal ou como diz o filósofo Peter Paul pelbart nós abolimos o passado como passado Eh Ou pelo menos o passado na forma que nós conhecíamos né e acho que o Kico tem um comentário aí a respeito desse processo e Seria interessante se ele
pudesse entrar agora para comentar diante dos desmoronamentos cotidianos de incêndios que consomem patrimônios e desastres ecológicos e políticos que engolem vidas e soterramiento essa frase é uma frase que me marcou muito aí em algumas publicações que eu fiz que a catástrofe não tem um depois e o que estaria impulsionando talvez essa nossa conservação para o futuro não é mais a angústia de que nós vamos perder os nossos vestígios mas sim o medo de que nós não teremos nada para transmitir É uma sensação acho que todo esse Nossa essa nossa reflexão sobre o estatuto da memória
no século XX ela perpassa Exatamente isso a consciência de que nós estamos vivendo a curva do antropoceno e que talvez nós não tenhamos um depois e que talvez nós não tenhamos nada a transmitir e que talvez A Conservação dos nossos materiais por serem digitais e absolutamente dependentes da dos ritmos industriais da obsolescência programada comprometam a nossa percepção do tempo do passado do presente e do futuro e nesse contexto que eh imagens de que propõem o ruído a corrosão dos materiais as os erros de processamento maquínico aparecem como estéticas da memória críticas a o embelezamento do
passado pela supressão do tempo como são essa série de aplicativos e de recursos Deep fake que nós comentamos aqui também não vou discutir esse assunto do glit e desse tipo de estética porque essa série ela perdão eh termina gloriosamente o com a participação de uma artista genial a a biarritz que com certeza vai dar uma surra de glit no público vai ser e um dos centros aí da sua discussão eu queria era fechar chamando atenção que se os anos 80 foram marcados pela emergência do tema dos lugares da memória e pelas Estéticas combinatórias pós-moderna e
os 90 como nós comentamos aqui eh consolidaram as políticas transnacionais da memória os grandes eventos midiáticos Talvez os anos 2000 sejam ao menos nessas duas primeiras décadas em que estamos aqui os anos das ruínas das memórias desobedientes do século digital das estéticas que se contrapõem a essa suposta febre e essa suposta necessidade de um arquivamento que se antecipa a própria experiência eh do presente acho que duas décadas depois do bund da memória como commodity né que nós comentamos da emergência do retrô das febres midiáticas parece que no contexto do antropoceno e da perda de perspectiva
de futuro que ele traz consigo foi a é é o que nos restou é inventar um passado para o nosso depois algo que a assinatura da propaganda para fechar da onde eu parti no início eh protagonizada pela Elis Regina insinua avisando que o novo veio de novo essa é a última frase do comercial seriam essas as fantasmagorias das inteligências artificiais o assombro diante da nossa impossibilidade de acessar o próprio presente já que ele roda na velocidade das timelines e é comprometido pela obsolescência e já que o futuro Parece que só existe como uma miragem uma
miragem de um passado que é ele mesmo um make daquele próprio fake né ele refaz aquela própria falsificação da história e da memória acho que avancei aqui um pouco no meu tempo mas encerro com essa dúvida transmitindo transferindo já que falamos tanto de transferência de estilos transferindo essa minha dúvida a vocês nesse tempo da explosão do super arquivamento da overdose documental seriam essas as fantasmagorias das inteligências artificiais esse assombro Eu repito diante da impossibilidade de acessar o próprio presente já que o futuro ele parece que só existe como uma miragem como uma curva de um
passado que é ele mesmo esse remake do fake obrigada gente [Aplausos] Gisele vou agradecer a sua sua apresentação eh obrigadíssimo mesmo em nome de todo mundo aqui da equipe eu acho que é recíproco também estamos muito felizes de recebê-lo recebê-lo aqui hoje agradecer né você falou toda a equipe Então acho que a gente tá repassando aí também o a gratidão que tivemos pela pelo seu aceite e pelaa apresentação nessa primeira hora né agora a gente vai pra parte das perguntas Então quem tiver aqui aqui no estúdio quiser fazer pergunta tem um papelzinho só escrever ou
chamar alguém da produção e quem tá es tiver acompanhando a gente pela internet tanto pelo YouTube quanto pelo Instagram só escrever no chat e reforço o pedido para se inscrever no canal para vocês saberem em primeira mão da programação e dos vídeos que soltamos praticamente todo dia tem um vídeo novo no nosso canal e para começar essa segunda parte né a parte do debate a gente eh para comemorar os 20 anos do café a gente tá dando uma olhada no acervo para ver temas que dialoguem com o tema do dia a gente vai ver agora
um trechinho de um de um Café Filosófico antigo e um dos motivos que me levaram a escolher de fazer ciencia no Brasil é que o Brasil poderia produzo tipo epistemologia noo tipo concio que fosse além da Idea Umo tecnica produzid tipo concio erao que prodo Brasil porque no Brasil existiam culturas ainda viva e hoje diria resistentes Porque estão sendo terminadas esta cultura exprime uma ideia de humano e uma ideia de tecnologia que não é aquela produzida da narrativa ocidental este elemento é fundamental para entender as redes para entender o que significa Qual é a oportunidade
que o digital eh produz para o conhecimento sensacional Gisele a gente queria que você comentasse alguma eh sobre esse trecho né do do café desculpa não aqui tipo a gente passou esse trecho do café não eu tava aqui pensando processando porque a essa discussão ela passou a ser Central na atualidade né a a do colonialismo do colonialismo histórico e perceber o quanto com as inteligências artificiais eh ela se tornou mais complexa avançando para essas camadas do colonialismo de dados então toda essa discussão que o máximo coloca que retoma essa ideia das epist olias do Sul
eh de outras formas de outras cosmovisões de outras cosmogonias de outras percepções do tempo da história e da própria relação da tecnologia não como um sinônimo de cultura e uma cultura que se opõe à natureza mas como algo integrado como essa discussão ela vem se aprofundando de eh for forma inequívoca é impossível e acho que nós estamos vivendo um dos momentos mais importantes desse processo com novos ministérios políticas de cotas tudo isso faz parte dessa transformação mas o quanto entre 2014 e 2023 nessa aceleração do tempo nós passamos a conviver com novas formas de colonialismo
que tornam esse colonialismo histórico mais complexo que agora avançam para essa expropriação da vida dos nossos afetos porque é isso que é comercializado no pacote dos aplicativos por exemplo que eu comentei hoje para Abir as perguntas agora a gente vai com uma pergunta gravada em vídeo do artista e pesquisador de Inteligência Artificial o Bruno moresque Olá Gisele eu gostaria de te ouvir a partir de sua longa experiência teórica e artística em relação ao mundo das imagens e da tecnologia sobre a importância de reconhecermos ideologias dominantes e práticas visuais no treinamento da Inteligência Artificial especialmente n
nas ferramentas de visão computacional como você acha que hoje nós estamos ensinando as máquinas a ver o mundo o que estamos reforçando e o que estamos excluindo e quais são as pras humanas ligadas a essas imagens à quais não estamos prestando a devida atenção uau sugestão Tragam o Bruno moresque ao Café Filosófico porque ele é sensacional eh ah Bruno olha essa pergunta é é uma pergunta muito cara a várias das nossas discussões inclusive o trabalho que nós fizemos no zkm e que foi citado aí na minha biografia tem a ver com isso o que me
eh o que me perturba na discussão sobre visão computacional e as suas relações com a inteligência artificial é que a inteligência artificial ela é uma tecnologia que opera a partir do reconhecimento de padrões da identificação desses padrões e é a partir desses pões que dados novos podem ser gerados nesse processo toda uma série de dados vamos dizer assim dissidentes ou que não se encaixam no padrão vão sendo retirados e numa em em vários aspectos eh recordando até técnicas dos retratos compostos do Francis Galton que é o pai de de Eugenia que superponha várias fotos eh
apagava as particularidades para identificar o criminoso genérico O Judeu O Judeu Genérico e na verdade os lip fakes que nós comentamos hoje várias vezes não deixam de ser um genérico das imagens e dos padrões sobre um determinado indivíduo e a perturbação que isso me causa é pensar que se a visão é um atributo biológico o olhar é cultural o que nós vemos é historicamente produzido não pré-determinado mas responde aos contextos as tecnologias as aos acessos que nós temos ao nosso modo de vida como um todo Será que no mundo dominado pela pelos pelos padrões das
Iá nós vamos nós corremos o risco de deixar de ver aquilo que é particular e diferente e que foge ao padrão essa para mim é a a a resposta que eu entregaria a uma pergunta tão desafiadora an como a sua só dar alguns recados aqui pro pessoal que tá acompanhando pela internet tem pessoas do Brasil até de fora do país estão acompanhando ao vivo eh mandar um salve aqui de Portugal um abraço de lá eh e só de alcance também só para gente ter uma ideia de quem tá acompanhando a gente tá presente aqui né
então então é tudo a ver com a com a temática do dia a gente teve um alcance até agora até o momento de 10.000 pessoas que passaram para ver a sua palestra e seguiremos ainda para para para aumentar esse número e agora a gente vai para uma pergunta aqui do público então por favor só pode eh se apresentar e fazer sua pergunta obrigado boa noite eh eu meu nome é Lucas eu sou de Minas eu era professor do Estado antes e hoje eu trabalho com tecnologia aqui em Campinas durante a palestra eu tava refletindo e
eu lembrei que há pouco tempo a gente teve um BM que se falava muito do metaverso e tão rápido quandoo surgiu isso isso deu uma ofuscada e hoje a gente tá falando muito de de i e o mercado em si tem voltado muito para que a gente falou né em cima da dessa geração viver o que ela não viveu né coisas que a gente viveu no passado e essa simulação E aí me ficou na dúvida ali durante a conversa que talvez uma próxima etapa porque a o desenvolvimento em cima do metaverso Ele não parou ele
foi só ele só saiu de elot mas ele continua sendo trabalhado e com uma ferramenta nova que a gente tem dia a considerando que o material que a gente tem de toda a humanidade né armazenar antes para uma poder combinar esse material e montar simular as as experiências Talvez seja uma nova etapa quando o metaverso surgir de novo ele combinado com isso trazer pro mercado né porque vai ser voltado muito pra monetização disso de trazer as realidades para serem vividas por pessoas que nunca viveram aquilo então é é mais fácil né como a gente como
você apresentou muito bem aí a ela trazer e fazer combinações ela gerar em cima daquilo porque o novo para ela é baseado em tudo que ela tem de de material passado e aí esse é seu novo bom né então a gente em vez da da ideia que a gente vê em muitos filmes de Tecnologia da da ideia do metaverso mostrar coisas incríveis de universo as pessoas vivendo num futuro distante a gente trazer tudo de volta pras pessoas poderem viver isso E aí entrar isso voltar isso virar um mercado real virtual uma vez que o metaverse
quando ele surgiu não chamou tanta atenção porque ele tava provendo o que a gente tinha da realidade né Obrigado Ah Lucas agradeço muito seu comentário é mais um comentário do que uma pergunta e eu concordo com você é uma nunca tinha pensado nisso adoro conversar porque sempre tem alguém mais iluminado do que você né Eh a ideia de que em Sistemas imersivos todos esses procedimentos que nós discutimos dado o contexto eu tem insistido assim o antropoceno é o nosso tempo né o antropoceno capitaloceno plasticos seno plantation Ceno ten um monte de nomes que eu estou
eh generalizando no mais conhecido que é o antropoceno a emergência climática tudo isso nos coloca muito diante dessa febre de passados que nunca existiram porque nós temos vivemos essa angústia de que o futuro nos escapa e que evolução a evolução de sistemas eh imersivos como metaverso pode eh ser um ingrediente sem precedentes nessa crise do tempo e das reconfigurações da cultura da memória eh que nós estamos vivendo obrigada muito obrigada vou ler mais alguns comentários aqui eh o o Hélio de Portugal né que se manifestou aqui com a gente a Júlia Gomes dis sensacional essa
palestra e a Larissa meneguini obrigada por trazerem essa mulher sensacional a gente que agradece a presença dela aqui agradece também o seu comentário e a gente vai pra pergunta agora a gente tem uma pergunta já relacionada com o módulo que é uma pergunta da Bia Hit ela que vai participar né Desse módulo ela tá acompanhando a gente então mandar um beijo para ela a gente já faz inclusive o propaganda para comparecerem também né para verem pela internet imperdível gente fecha a série com pode fazer a propaganda fica à vontade não mas é isso mesmo acho
que is é divulgar né esse módulo inteiro que foi pensado pela Gisele e a Bia hits é uma das das convidadas e a Bia hits diz assim Gisele e ela diz que ela amou quando você chamou o termo aprendizado de máquina como uma anti pedagogia por Excelência e a pergunta que a Bia rit faz é você poderia falar mais um pouquinho sobre essa Sua percepção Ah Bia rits querida eu só posso agradecer aí a pergunta porque acima de tudo eu sou professora Sou professora desde os 18 anos Tô com 61 então a coisa que eu
mais fiz na vida foi pensar a e praticar modelos pedagógicos e eu digo que é uma anti pedagogia porque ela é primeiro a antítese de Um fundamento que é do Paulo Freire que me parece ainda o mais Sublime princípio da educação a educação a pedagogia ela não pode ser pensada na lógica bancária Ou seja que você tem crianças adultos ou adolescentes que funcionam meio como receptáculos vazos você vazios Você deposita as ideias e eles reproduzem essas ideias mais ou menos a lógica do machine learning é essa Só que mais perversa é criar padrões eh para
que esses padrões sejam revisitados reconstruídos e ampliados mas tem que partir de um padrão não existe uma gestão criativa da dissidência né é uma anti pedagogia porque é um aprendizado do controle da uniformização da homogeneização senão o sistema não fun questiona eu quero deixar claro assim que eu venho trabalhando muito com inteligência artificial nos meus trabalhos artísticos acho que tem potências em aberto sensacionais e porém se nós não efetuarmos a crítica desses procedimentos nós nos transformamos numa espécie de Deep fake de nós mesmos aonde aprender é consumir um padrão nem que esse padrão seja a
perversão de uma fake News ou de uma imagem e Deep fake com motivações aí nada legítimas já que o tema é inteligência artificial a gente fez uma simulação de uma pergunta pelo chat GPT para fazer para você eu adoro chat GPT Hein gente não adianta querer falar mal chat GPT comigo bem a pergunta pessoal do chat jpt para você é a seguinte eh à medida que a inteligência artificial avança na capacidade de gerar imagens altamente realistas e até mesmo replicar o estilo de artistas ou períodos históricos Como podemos equilibrar a criatividade e inovação com as
questões de direitos autorais e autenticidade artística Olha eu acho que Inteligência Artificial ela entre outras coisas que além de uma revisão crítica da própria terminologia que é super antropocêntrica né assim os pilares do colonialismo estão aí né a ideia de rede neural porque é semelhante ao cérebro a lingua processamento de linguagem natural que é o fundamento do chpt ela ela coloca novos novas questões éticas mas ela também abala edifícios que nós teimamos em tratar como se nós continuássemos vivendo no século XIX né acho que a categoria da autoria tem que ser respeitada e revalidada a
noção de direito autoral pela propriedade e exclusiva sobre um conteúdo é óbvio que não não precisou da inteligência artificial para ser revalidado is está em discussão pelo menos Desde da da artte pop né assim Quem fez a caixa de sabom brillo quem fez a lata de sopa campel eh nós precisamos aprender a reconhecer a genialidade do remix da cópia da apropriação porque o conhecimento o processo de conhecimento é esse Mas precisamos reconhecer também que esse processo de conhecimento mobiliza atores diversos que em o mundo capitalista precisam estar implicados nos processos de produção agora tratar isso
a partir de formulações que nunca foram respeitadas dentro do quadro do capitalismo é um pouco anacrônico do meu ponto de vista tem mais uma pergunta do público vou pedir só para você se apresentar e pode fazer pergunta OK Olá boa noite eu sou a shame assim como colega eu também trabalho com tecnologia e sou especialista em machine learning e inteligência artificial e uma coisa que eu sempre me pergunto é sobre a ética que gera todo o meu trabalho e eu tenho uma né uma pergunta dentre muitas mas hoje assim como nas fotografias Por exemplo quando
eu começou a fotografia era uma coisa muito particular de quem poderia custear isso a os storages hoje onde você armazena dados de qualidade principalmente a gente vem vem vendo né que tá crescendo o valor para você armazenar Então eu fico a gente tava discutindo aqui de quem serão essas memórias que a gente vai sentir saudade de quem serão porque assim não é de toda a população a gente não vai conseguir pegar um grupo todos os né os os terráqueos e gerar isso não então vai ser a gente fala de não ter viés Mas já tem
um viés e o viés hoje tá partindo ao meu ver né de quem pode bancar ou quem pode pagar Independente se é com o tempo ou com dinheiro por você armazenar isso porque esses dados que vão gerar as memórias que a gente vai S saudade e de quem são esses dados Então olha eu te agradeço muito pela pergunta porque acho que essa discussão é estratégica Essa é uma das dimensões do colonialismo dos dados menos discutidas a privatização da memória coletiva eu tenho me tenho perguntado em várias palestras o que vai acontecer com a memória da
covid quando o Google decidir que o YouTube não é mais um um nicho de marketing interessante Porque toda a memória da covid não a nossa a do mundo passou pelo YouTube né via Zoom viva Google Meet as lives isso aquilo nós o a própria eh Organização Mundial de Saúde todo mundo canalizou as suas eh questões sobre em recomendações e a produção cultural que foi eh ocorreu durante a covid via tá bom o Instagram também ai o tiktok teve uma curva aí enorme de crescimento provando que é mídia de solitários né Eh se esse sistema sai
do ar Como já aconteceu com mais peis como com levando aí boa parte da memória da história da música no século XX não é porque ela eh começa a ela engata a partir daí Como já aconteceu com o gel sits que é a web 1.0 quem não conheceu não conhecerá mais né então há um problema ético de eh reivindicar acho que essa discussão sobre a memória Quando eu digo Nós pensamos precisamos pensar criticamente as inteligências artificiais você tem tem toda a razão sem colocar em questão as suas infraestruturas os seus modos de acumulação e a
maneira como a memória virou um capital em jogo e essa memória ela é um capital porque a moeda são os nossos afetos né No fundo no fundo o que nós Compartilhamos nas redes sociais são os nossos afetos são as nossas aspirações de reconhecimento pelo outro sejam as empresas sejam os indivíduos Então esse quadro da memória da cultura da memória no contexto do digital ela não diz respeito somente à Agilidade de armazenar em Sistemas em nuvem que podem desaparecer a qualquer momento ela diz respeito a uma ética do acesso ao passado coletivo e individual né então
assim não tenho como concordar mais com o que você falou eu não tô nem tentando responder só estou concordando porque eh passa por aí sim a gente tem uma pergunta agora do Leonardo Brandão que ele diz que na nossa atualidade ouve-se muito alguns dizerem né para que para que ir à escola se a inteligência artificial está aí para nos ajudar dis dito isso como você vê essa realidade a profissão ficou obsoleta com a inteligência artificial ou ela veio para ajudar a profissão docente se bem usada na nossa profissão na profissão docente exclusivamente Ah eu acho
que o processo de digitalização da Cultura como um todo é muito bem-vindo eu sou de uma geração que cresceu eh durante a ditadura ditadura militar fez faculdade graduação nos anos 80 e era dramático nós não tínhamos acesso a nada tudo que qualquer aluno meu encontra com qualidade na Wikipédia eu tinha que esperar meses ou anos para chegar no Brasil então sim existe um processo que é Irreversível é muito importante porém no que tange a escola acho que a escola não é só um lugar de aprender conteúdos eu volto à resposta que eu dei para beits
continuando a questão A escola é o lugar de correr riscos porque é o lugar da sociabilidade de lidar com o imprevisto a importância de se ter uma criança uma adolescente na escola não é só a importância de transmitir um conteúdo que supostamente é melhor do que seria em outros meios essa é uma esfera da função da escola mas a função principal meu ponto de vista é a mudança é o imprevisto é o diálogo é o lugar da do aprendizado a partir das experiências e dos conflitos que se dão num espaço de sociabilidade então eh a
escola tradicional com os mesmos métodos prosseguirá já não prossegue já não prossegue a escola como espaço de convívio está ameaçada pelos meios digitais não deixemos que ISO ISO aconteça né isso é o fim da de uma Pedagogia da sociabilidade de uma pedagogia para diferença de uma pedagogia pro conflito e portanto uma pedagogia para o comum Gisele infelizmente chegamos ao final do Café Filosófico de hoje eu aprendi tanto verdade não é um Clichê mesmo foram comentários muito importantes a de novo foi recíproco também é tanto aprendizado como to a gratidão de ter você aqui vou de
novo agradecer em nome do Instituto né se os nomes que você citou acho que eu vou também não conseguiria falar o nome de todo mundo mas enfim o Instituto inteiro agradece a sua participação aqui acho que também todo mundo que tá aqui presente todo mundo que tá vendo pelo YouTube também ficou muito feliz com a sua apresentação mas antes de eu encerrar por aqui eu vou te passar a palavra caso você queira fazer o encerramento da noite fica à vontade puxa eu vou agradecer de uma forma muito convencional eu vou dizer muito obrigada de todo
coração é sempre eu comentei com o André deak antes do programa para mim é sempre uma emoção vir a Campinas Apesar de morar em São Paulo tão pertinho porque meu pai foi o segundo Professor a chegar no Unicamp el como o primeiro faleceu logo depois da inauguração ele foi durante muitos anos o professor decano da Unicamp foi pró-reitor criou departamento de genética médica assim que Campinas é um pedaço da minha história né da história que não foi feita por Iá a história que eu vivi aqui então no quadro todo ainda que eu descrevi gente muito
obrigada pela oportunidade pela paciência pela cumplicidade foi ótimo conversar com vocês para ela por [Aplausos] favor Gisele novamente agradeço espero que seja o primeiro de muitos cafés que você participe aqui eh agradecer também pelas leituras do Kiko pelo Bruno também que viu pergunta todo mundo que compareceu aqui quem participou também pela internet enviando comentários e também perguntas um recado para quem tá aqui presente em Campinas eu dou sempre esse recado para quem é a primeira vez aqui no no Café fiquem à vontade para tirar foto do cenário marquem a gente nas redes sociais @ institut
CPFL vai ser um pra gente gente repostar essas fotos que vocês tirarem aqui e quem tá acompanhando o vídeo pelo YouTube Sigam a gente nas redes sociais se inscrevam no canal para saberem novidades da programação e dos vídeos que Subimos basicamente todo dia um vídeo novo no nosso canal e um outro recado aqui nesse domingo no dia 8 na TV na TV Cultura sexualidade hoje em debate com Dian Carlo spid ziri e na semana que vem dia na terça-feira quinta-feira é feriado então o café vai ser na terça-feira dia 10 a gente continua o módulo
da Gisele é inteligência artificial submissão e subversão com a Larissa Macedo e o tema Encruzilhadas arte redes sociais Inteligência Artificial nos vemos semana que vem Obrigado até lá domingo como que eu e me identifico como que eu eh me percebo na série vida em movimento e os movimentos da vida se essa pessoa ter uma identidade de gênero que não corresponde à Norma Será que isso é é o motivo para você afastá-la o psiquiatra Dian Carlos piri faz uma reflexão sobre diversidade sexual isso pode ser uma oportunidade a mais para você aprimorar o teu amor em
relação a outro domingo 7 da noite no Café Filosófico n