SUPER-HOMEM DE NIETZSCHE - E AGORA? COM VIVIANE MOSÉ

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Viviane Mosé Oficial
Quem é o super-homem de Nietzsche ? Super-homem é o humano que se supera, aquele que sabe de sua fra...
Video Transcript:
É tempo de o humano fixar sua mais alta meta de plantar a semente de sua mais alta esperança. Ai de nós chegar ao tempo em que a corda do seu arco terá desaprendido a vibrar. Eu vos digo, é preciso ainda ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela bailarina.
Ainda a caos dentro de vós. Nós hoje vamos falar do super-homem de Nietzsche. Todo mundo já ouviu falar de alguma maneira desse conceito e associa, pelo menos a maioria, quem não tem contato com filosofia, com o super-homem do desenho animado.
Não tem absolutamente nada a ver mas é um bom ponto para a gente começar. O que caracteriza o super-homem das revistas em quadrinhos? a força física, a superioridade física na força, no olhar, no sentido.
Ele tem um corpo super qualificado digamos assim, além da média, muito, mais muito muito muito além, uma imensa superioridade física isso ou super-homem do desenho animado. O conceito de super-homem do Nietzsche não tem absolutamente nada a ver com isso. A ideia de super diz superação, e não superioridade.
Super-homem é o homem que se supera eternamente. E quem é o homem que se supera eternamente? É exatamente aquele que sabe da sua fragilidade, do seu limite.
Então viver é eternamente se deparar com seu limite e a busca por essa expansão. Seria essa direção do super-homem. Mas antes ainda é preciso a gente esclarecer uma coisa: quando ele diz super-homem, ele tá falando de super humanidade e não homem como masculino.
Infelizmente o homo ou humanidade, também se refere a homem como sexo masculino. A gente sabe que isso diz de uma sociedade machista, mais centrada no homem e não na mulher, não no feminino. .
. então por isso a gente tem essa dificuldade. Eu já assumi o humano ao invés de homem, mas quando a gente trata de um autor, é difícil transformar o conceito.
Então imagina que o Nietzsche criou o super-homem numa época em que a humanidade significava homem. Hoje eu posso chamar 'super espécie', mas não posso fazer isso porque esse conceito é do Nietzsche então eu mantenho, mas saibam que quando eu estou dizendo a palavra homem infelizmente em um discurso antigo e machista mas hoje eu estou dizendo homens, mulheres, não apenas homens e mulheres mas transexuais, transgêneros e todas as possibilidades de associação de masculino e feminino em cada um de nós. Enfim é só para esclarecer.
Mas o super-homem, aquele que se supera, que a ideia do Nietzsche parte exatamente da nossa noção de fragilidade, de fraqueza mesmo. Tem um item, para quem gosta de conferir, o aforismo 354 do livro A Gaia Ciência. O que o Nietzsche diz ali?
Ele diz que os humanos, por não terem garras muito afiadas, por não terem dentes muito fortes, por não terem uma potência física muito grande eles são extremamente fracos. É como se os humanos fossem os mais fracos entre os animais. Talvez por isso mesmo a gente tenha construído um ídolo, um mito, como super-homem tão forte, porque nós não somos fortes fisicamente: pelas garras, pelos dentes, pela força física.
A força humana, diz Nietzsche nesse aforismo 354 de A Gaia e Ciência, ele diz: a força humana vem da nossa capacidade de reunião, nós juntos criamos força. É o grupo que nos fortalece mas o grupo exige comunicação, exige linguagem, então a vida em grupo exige valores. A nossa força está no grupo mas o grupo depende de uma inteligência abstrata, de algo que a gente hoje chama de virtual.
A virtualidade é que nos fortalece porque a linguagem que nos fortalece, é a inteligência abstrata que nos fortalece. O grande desafio humano diz respeito ao domínio dos valores muito mais do que do seu limite físico. O que a ciência faz é exatamente tentar romper esses limites físicos humanos por exemplo fazendo com que o ser humano possa voar no avião.
Mas o avião, apesar de ser algo empírico no sentido da construção material de um avião, a ideia de voar vem da abstração, da inteligência altamente abstrata. É ela que vai gerar esse processo de interferência na realidade. Humano diz respeito a valores então é nesse lugar o desafio.
Quando Nietzsche diz que o humano é alguém que deve eternamente se superar, ele tá usando como referência, entre outras coisas que ainda vou citar, exatamente a sua fragilidade e fraqueza. É o contrário do super-homem do desenho. É a partir da fragilidade que é preciso superar.
Não ter garras, não ter dentes grandes demais, entender que a força está no grupo e entender os desafios que a vida em grupo traz. Estamos vivendo isso o tempo inteiro. Sociedade é sinônimo de crise, exatamente porque somos presos a ela mas ao mesmo tempo ela nos oprime.
De onde vem essa ideia do super-homem como aquele que se supera? Super vem de superação. De onde vem esse conceito?
Vem da afirmação do Nietzsche de que vida é vontade e potência. O que é vontade e potência? A vida, ele diz, me confiou seu segredo.
Eu sou aquilo que deve sempre superar a si mesmo. Esse é o conceito de vontade e potência. Então a ideia de que o humano deve ser super no sentido de eternamente se superar, vem da afirmação nietzschiana de que vida é aquilo que necessariamente se supera eternamente.
Isso está presente também no Zaratustra. Se vida é aquilo que eternamente se supera, quando um de nós humanos não tem por princípio a superação, não entende que a humanidade é um processo de eterna superação de si e portanto um processo de expansão. Nós, se não entendemos isso, não somos seres que afirmam a vida.
Quem é o super-homem do Nietzsche? É como se fosse a configuração daquilo que ele afirma no humano. O humano, ele é essencialmente um processo de transformação porque a vida é um processo de transformação.
Nietzsche pensa humano acoplado a vida. Vida é aquilo deve eternamente se superar. O humano necessariamente tem que se vincular a um processo de superação, senão ele não está afirmando a vida.
Quando um humano não afirma vida, ele entra no processo de reação, ou o que o Nietzsche chama de reatividade que é o maior sofrimento. Porque lutar contra a vida, reagir a vida, não se colocar no movimento próprio da vida que é de superação e expansão é uma luta perdida. E isso é o retorno, é o que o Nietzsche chama de niilismo: negar a vida produzindo uma reatividade, produzindo valores que não afirmam aquilo que a vida é.
Eu vou lá então para vocês um trecho do Zaratustra. Eu vos ensino super-homem, um homem é algo que deve ser superado. O que fizeste para superá-lo?
Que o super-homem seja o sentido da Terra. O super-homem é o sentido da Terra. Eu lhes peço, meus irmãos, permaneceis fiéis a Terra e não acrediteis nos que vos falam em esperanças ultraterrenas.
Aqui nesse momento inicial do texto ele está nos chamando atenção, ele está dizendo: o humano nega a Terra. Terra quer dizer o presente, o instante, o agora. Esperanças ultraterrenas é tudo que nos afasta daquilo que temos: que é o agora, que é o instante.
Então nós negamos um instante ou afirmando o futuro ou retornando para o passado. Então a primeira característica desse ser humano que ele afirma como aquilo que a gente tem que buscar, essa eterna superação, ele antes de tudo afirma a Terra e afirma o agora. Mais adiante ele diz: o humano é uma corda estendida entre o animal e o super-homem.
Uma corda sobre o abismo. É perigoso atravessar para o outro lado, é perigoso estar a caminho, é perigoso olhar para trás. É perigoso parar e tremer.
A grandeza do humano está em ser ponte e não ser meta. Aí vem um novo sentido para isso que é: o humano não é nada. A gente pensa muito natureza humana.
A natureza humana é uma potência em transformação mas ela não é necessariamente nada. Nada não quer dizer que ela seja vazio, quer dizer que ela não é nada fixo. Então se nós pensamos a humanidade como um processo e não como uma meta, não como um fim, nós nunca vamos dizer: o ser humano é horrível.
O ser humano está horrível. O ser humano vive um momento de diminuição de si. Isso tudo a gente pode dizer, mas o ser humano ou a humanidade não é.
O grandioso no humano é ele ser um eterno a transformação. Isso é um homem que se supera. O humano, a mulher ou quem quer que seja que se supera.
Estar na vida é estar no processo de superação. Isso lembra também a ideia de universo em expansão. Porque se essa ideia correta, se o universo inteiro é um processo de expansão, como diz a física contemporânea, o conceito do Nietzsche de vida como eterno a superação de si, faz muito sentido.
O humano no mundo em expansão também é um ser em expansão. É como se a gente dissesse que o humano é um universo em expansão junto com todo o universo em expansão. Essa ideia ela quer dizer basicamente o seguinte que nós somos obrigados a expandir, se não ficamos doentes.
Nós somos obrigados a crescer, se não ficamos doentes, se não morrermos, se não retardamos o nosso processo. O maior sofrimento humano pro Nietzsche diz respeito exatamente esse gesto: não afirmar a vida com o fluxo e como transformação. A busca por modelos, por idealidades é o momento de diminuição desse processo, mas não apenas.
A ideia de que nós podemos, como a gente já falou em outros episódios, sobre niilismo, a ideia de eu negar a vida em nome de uma vida depois da morte, me tira do fluxo. Me coloca no fluxo do depois da morte, que é uma idealidade. É uma ideia, é uma abstração, então eu saio do corpo, da vida, do presente, por uma abstração.
Quando eu penso em futuro por exemplo. Quando eu penso em Deus por exemplo, quando eu penso em honestidade por exemplo. Todo esse processo é uma negação desse momento agora que é a única coisa que eu tenho, que é o que me transforma.
Quando um ser humano se transforma, ele se enche de vida. Estar no devir, estar em transformação, estar em superação, afirmar a vida como superação e o universo em expansão, essa é a minha contribuição, Nietzsche não fala disso, mas afirmar esse processo de transformação e devir é afirmar o humano como eterno construção de si e destruição de si e ampliação de si. O que implica nessa afirmação da transformação é assumir o humano como eterna a criação, por isso que a arte é condição para o super-homem, para essa ideia desse humano que Nietzsche gosta tanto.
Então quem é esse ser humano que o Nietzsche afirma tanto, que ele gosta tanto, que não existe necessariamente inclusive, existe e não existe. Você não pode dizer aquela pessoa é um super-homem. Todas as pessoas corajosas, que se arriscam na vida e que entendem que não há um ponto onde chegar.
Que todo o ponto onde a gente chega precisa necessariamente, em algum momento se ampliar. Que nós somos seres em ampliação. E uma ampliação psíquica, ampliação de si que ele tava falando.
Não é física como eu disse no início, o nosso desafio é abstrato. São os nossos valores que nos diminuem, não é o nosso corpo. Até a nossa relação com as doenças, com os impedimentos, tem a ver com o nosso desafio que é psíquico, que é moral, que diz respeito a valores.
O super-homem supera valores. Esse desafio do humano necessariamente tem um retorno que é bem bacana que é quando nós nascemos nós nascemos com o modelo psíquico reduzido, óbvio. Um vocabulário, a gente vai crescendo, vai expandindo.
Quando a gente é criança, a gente é determinado pela família. Na adolescência isso se transforma, quando a gente amplia e amplia mesmo, afirmativamente assumindo o humano como processo de transformação, isso que o Nietzsche está falando com coragem, determinação, a gente abre mão de passado e de futuro e a gente afirma esse eterno presente a partir de um processo de construção de si e de destruição de si, no melhor sentido, porque nós estamos falando de um psiquismo reduzido que se amplia. Quando o psiquismo se amplia, ele cabe mais o mundo, cabe mais com a tradição e isso significa que a gente sofre menos.
O super-homem não existe como fim, não pode apontado. Ele é um modo de ser ele, é uma ética. O super-homem é uma ética, é um modo de viver que o Nietzsche acredita ser o modo mais próximo a vida como vontade de potência e eterna expansão do mundo e do humano.
Esse é o conceito de super-homem. A gente ainda vai falar muito sobre isso, mas por enquanto é só.
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