Açaí, frutas, cereais e leite em pó. Esses foram os ingredientes escolhidos para transformar isso, nisso aqui. Mas calma que o açaí pode vir premiado com um elemento extra: o parasita que transmite a Doença de Chagas.
[Lucas, Então essas histórias de gente que pegou doença de Chagas comendo açaí são verdadeiras? ] É isso que você vai saber no vídeo de hoje. Mas antes, se inscreve no canal se você gosta de conhecer mais sobre doenças, saúde e saber mais sobre o que a ciência tá descobrindo pelo mundo.
Senta aí que eu vou te contar um pouco da história da doença de Chagas, antes de eu te contar se o açaí é realmente um vilão. 1907. Lassance, Minas Gerais.
Um jovem médico chamado Carlos Chagas especialista em malária foi enviado para combater uma epidemia da doença entre os trabalhadores de uma nova linha de trem. Em sua missão, ele precisou examinar o sangue de macacos da região em busca do parasita da malária e, meu Deus, tinha outra coisa: era uma parasita diferente, esguio. Carlos Chagas, intrigado com sua descoberta, procurou aquele parasita em outros mamíferos na esperança de identificar uma nova espécie.
E dois anos depois, em 1909, ele encontrou, em um gato e logo encontrou o parasita em vários seres humanos. Ele percebeu que o parasita estava associado a uma doença crônica. Pessoas da região estavam morrendo com insuficiência cardíaca, com o coração muito maior do que o normal e todas tinham o parasita no sangue e até no cérebro.
Carlos Chagas descreveu em 1909, tudo sobre a doença de Chagas, que até hoje, é um grave problema de saúde pública. 7 milhões de pessoas no mundo estão infectadas. E o que antes acontecia principalmente nas Américas, hoje já atinge países como Canadá e Estados Unidos.
A doença de Chagas é causada pelo parasita Trypanosoma cruzi. A transmissão clássica desse parasita pro homem acontece através de insetos conhecidos aqui como barbeiros, da espécie Triatoma infestans. Mas não pense você que é pela picada desses insetos, porque na verdade os parasitas são transmitidos pro homem através das fezes do barbeiro.
E tudo isso descoberto por Carlos Chagas. [Esse cara deveria ter ganhado o prêmio Nobel, até hoje ele é o único cientista que descreveu o parasita, o hospedeiro, o vetor, a doença e até a epidemiologia. É Brasil.
. . Peraí Lucas, você disse fezes do barbeiro?
É isso mesmo! O barbeiro deposita suas fezes infectadas com o parasita na pele da pessoa enquanto se alimenta do sangue dela. E a picada do barbeiro causa coceira na pele e ao coçar a pessoa acaba carregando o parasita pra dentro do corpo pelas lesões na pele.
Genial, né? Pro parasita. péssimo pro ser humano.
Mas essa só é a forma de transmissão mais conhecida. Existem várias outras formas de transmitir esse parasita pro homem, e uma das mais perigosas e comuns é a transmissão oral pela ingestão de alimentos contaminados. Até 2004, a transmissão oral da doença de Chagas era pouco conhecida.
Só que esse tipo de transmissão tem acontecido cada vez mais no Brasil. E diferente da picada pelo barbeiro, que é negligenciada, restrita a regiões pobres, os casos de transmissão oral chamam muita atenção, porque eles acontecem em regiões ricas. E também porque acontecem em surtos que acometem várias pessoas que comeram alimentos contaminados ao mesmo tempo.
Hoje, a principal forma de contágio da doença de Chagas já não é a picada do barbeiro, mas sim o consumo de alimentos contaminados. Mas. .
. se a infecção pode acontecer ao comer qualquer alimento contaminado, por que esse terrorismo todo com o açaí? Como descobriram que era o açaí que estava causando esses surtos de doenças de Chagas e não outros alimentos?
Realmente, qualquer alimento que estiver contaminado com o parasita pode gerar casos da doença de Chagas! Mas o que acontece é que existem alguns motivos que levam o açaí direto pro 1º lugar do pódio dos alimentos contaminados. E o primeiro lugar que a gente precisa olhar é pro açaízeiro.
Sério. Olha essa planta aí. Segundo os biólogos, as folhas das palmeiras do açaí criam um microclima extremamente agradável para insetos como o barbeiro.
As folhas da palmeira do açaí criam um ambiente fresquinho, perfeito pra barbeiro ficar. Ele pode simplesmente se esconder ali e só esperar algum animal se abrigar debaixo da palmeira pra então sugar o sangue. É um paraíso pro barbeiro viver!
Mas só isso não provava nada. Até 2004, os surtos de doença de Chagas por via oral aconteceram principalmente em pessoas que viviam em regiões com baixo saneamento básico ou que se alimentaram de caldo de cana contaminado. O barbeiro acaba indo junto com a cana pro moedor e junto o parasita.
Mas havia poucos indícios de que o açaí poderia ser um problema. As primeiras suspeitas vieram quando pesquisadores analisaram os casos de transmissão oral de Doença de Chagas de 2007 a 2013. E mais de 50% das pessoas infectadas apresentaram início de sintomas entre os meses de agosto e novembro, período que misteriosamente coincidia com os meses de safra do açaí no Pará.
Tinha alguma coisa errada com o açaí. Será que ele também estava contaminado, como a cana de açúcar? Como é possível se o barbeiro e nem o parasita podem viver dentro do fruto do açaí?
Bom, pra entender isso, a gente precisa entender que o “açaí”, precisa passar por um processo industrial pra sair disso e virar isso. E nesse processo está a chave da transmissão da Doença de Chagas. O processamento do açaí começa pela colheita, e ele é vendido depois para comércios locais e para a indústria.
Os próximos passos são muito importantes e a falta de higiene neles que vai resultar na contaminação ou não da polpa do açaí. O fruto precisa passar por uma seleção, então ele é peneirado pra tirar as sujeiras e o próprio barbeiro que pode estar junto nas cestas. Esse passo remove o barbeiro que poderia vir junto com a palmeira do açaí.
Mas ainda faltam algumas etapas. Em seguida, o ideal é fazer uma pré-lavagem pra tirar qualquer sujeira que sobrou. O açaí precisa ser muito bem higienizado e a forma adequada é desinfetar os frutos com uma solução de cloro.
Mas é no último passo que temos a garantia que o parasita não vai sobreviver no alimento: é a pasteurização que vai esterilizar os frutos e matar todo tipo de parasita que possa estar ali. Incluindo, o Trypanosoma cruzi. Pra isso, é preciso expor o açaí a uma temperatura muito quente e imediatamente muito fria.
Só então, o caroço é separado, a polpa do açaí é congelada e segue pro transporte da região Norte até as fábricas de mix espalhadas por todo o País. Mas se alguns desses processos falhar, o parasita pode sobreviver no açaí e ir parar dentro do seu estômago. Olha, eu acho muito doido a sequência de eventos que levam a uma infecção.
E é por eu ter te contado como o parasita vai parar no açaí que você vai deixar o like nesse vídeo. Pessoal, surtos sempre vão ocorrer. O açaí hoje é responsável por 70% dos casos de doença de Chagas.
Então de certa forma, ele pode ser considerado um vilão. Mas calma, que desde o início dos anos 2000, os Ministérios da Saúde e da Agricultura vem publicando leis e documentos a fim de padronizar a qualidade da polpa do açaí pra que seja adequada pro consumo. Então, não é o açaí que é o vilão.
Na verdade, é a falta de higiene. A ANVISA também criou as Boas Práticas de Fabricação de produtos usando o açaí e incluiu o açaí no programa de monitoramento que vai evitar novos surtos e minimizar o risco sanitário. E é aqui que eu já vou me antecipar porque provavelmente eu vou receber perguntas assim nos comentários: Lucas, eu devo parar de tomar açaí?
Minha resposta pra você é: NÃO! Não importa se você come o açaí in natura ou processado, o importante é você sempre buscar locais que prezam pela higiene e que fazem o processo de pasteurização, ou seja, locais certificados pela Vigilância Sanitária. Bom, eu acho que ficou mais que provado que a culpa dos surtos da Doença de Chagas não é só do açaí, né?
Mas sabe um negócio que pode sim ser um vilão e causar grandes epidemias? A desinformação. Como eu explico pra você nesse vídeo aqui em que vou te contar porque as pessoas não estão prestando atenção no que está acontecendo na pandemia e isso pode ser um tiro no pé.
Ou então, assiste esse vídeo relacionado. Um grande abraço e eu te vejo no próximo vídeo. Tchau.
Te vejo no próximo vídeo, até lá!