E aí, [Música]. E aí, tá bom, boa noite a todos. É uma satisfação sempre vir aqui ao Centro Dom Bosco, uma vez por mês, para ministrar uma aulinha sobre temas diversos.
Hoje, o que eu sugeri foi abordarmos o problema do mal. O mal é um problema filosófico que atravessa séculos. Na antiguidade, na Grécia, ele não recebeu, digamos assim, tantas formulações satisfatórias.
Não se chegou a problematizar o mal como aconteceu ao longo da história do cristianismo. Com Santo Agostinho, nós temos uma grande primeira referência numa obra que eu publiquei aqui no Brasil, fiz publicar, e que o Centro Dom Bosco recentemente redigiu, que é o "De Natura Boni, Contra Maniqueus" - sobre a natureza do bem e contra os maniqueus. É uma obra pequenina e nela, Santo Agostinho nos ensina coisas muito interessantes que se atualizam séculos depois.
Aproveitar, mas não apenas eu, outros filósofos depois de Agostinho, outros teólogos, vão aprofundar o problema do mal e vão estrear o seu olhar a diferentes áreas do conhecimento. Chegou-se a formulações que o julgo metafisicamente definitivas. Então, o que me cabe aqui, nesta breve aula, é trazer algo dessas formulações.
Eu fiz uma breve linha temática aqui, com anotações que vou comentar. A primeira delas é a seguinte: bem e mal são dois conceitos que só fazem sentido relacionados a. .
. ou, hoje, que são os conceitos de finalidade e natureza. Se se destrói o conceito de finalidade, o problema do mal não ganha uma formulação satisfatória, porque algo será bom ou mau em ordem ao fim que as potências que estão inscritas no ente qualquer fazem à ciência.
Vou refazer a formulação aqui agora: algo é bom ou mau de acordo com cumprir ou não o fim daquele ente. Então, é próprio de uma parede, só para dar um exemplo prosaico, ser dar suporte ao teto. Se ela não cumprir essa finalidade, ela será má enquanto parede.
E se a pessoa, mais pegando esta ideia de Santo Agostinho, ele diz coisas que são ao mesmo tempo simples e muito interessantes. Eu trouxe aqui alguns excertos de uma obra que é um clássico, que é o "De Mal", são as questões disputadas sobre o mal, e vai se disputar, foi um método dialético que ganhou acumulação extraordinária na Idade Média, na Escolástica, e sobretudo em Santo Tomás de Aquino. A primeira das questões é relativa a se o mal tem essência ou não.
Ser, item: ser ou não. E Santo Tomás nos informará que o mal tem um sujeito de inerência. Todo mal é inerente a um bem.
O mal não tem ser, não tem essência; o mal opera enquanto corrupção de um bem devido. Então, ficamos com essa ideia: antes de tudo no nosso horizonte, bem e mal só fazem sentido se considerarmos o conceito de telos, finalidade. Então, uma coisa sem a sua finalidade será boa se cumprir.
No caso do homem, que é um ente muito complexo, composto de matéria e forma, que é a alma, tem um sem-número de potências. Nós fomos feitos para, sobretudo, conhecer a verdade e amar o bem, e não o mal. O ente humano é este naufrágio existencial que acontece quando ele não conhece a verdade.
E aqui, a verdade não apenas no sentido geral e abstrato, mas toda e qualquer verdade. A nossa tendência fundamental é buscar a verdade. Fazer o interesse por repousar quando depara com uma.
Então, quando não logramos isto, estamos no mal. E quando não amamos as coisas pelo bem que elas carregam consigo, também estamos no mal. Então, fica que a formulação: o bom é atualizar as potências, erradicam na forma do ente, fazendo lograr os… é natural.
Os entes têm um fim, quer natural, quer artificial. Mas todo e qualquer ente opera em ordem a um fim ou um conjunto de fins. Então, essa ideia, ao longo da filosofia moderna, foi combatida por filósofos que tentaram destruir o conceito de natureza e de finalidade.
Houve vários que tentaram destruir o conceito de causalidade. Ouvi alguns também que trouxeram formulações com certo brilho, porém muito aporético, achei muito sem, sem nenhuma, digamos assim, caráter de verdade. Um deles foi David Hume.
No seu ensaio sobre o entendimento humano, ele, em outras obras também, ataca o conceito de causalidade e acaba por atacar diretamente também o de natureza. A natureza, que é o tempo em relação ao qual bem e mal fazem sentido, já nos dizia Aristóteles que a natureza é o seguinte: é algo que é natural. Isso no "Livro da Física", que é um livro importantíssimo.
Aristóteles. Um parênteses aqui que eu faço: hoje, a pessoa que estuda física, dificilmente, nas faculdades de física, estuda a física aristotélica. Assim como dificilmente, nas faculdades de psicologia, estuda-se o "De Anima", o peripatético.
Esquece-se de Aristóteles. O livro sobre a alma começa a se estudar já a partir de autores que tentaram atacar a metafísica sem nunca passar pelo, pelo conhecimento. E isto significa dar com os burros na água, começar pelos caminhos errados.
Então, Aristóteles deve ser para todos nós, ainda hoje, a diferença nesses temas. E se a pessoa mais que comentou a metafísica de Aristóteles, ele acrescenta algo. E o que é a formulação aristotélica?
É a natureza é aquilo que sempre ou quase sempre alcança o mesmo fim a partir de suas próprias potências. Ou seja, algo é dito natural quando alcança sempre e, por vezes, quase sempre, que às vezes há um defeito na natureza que impede de lograr o seu fim. Então, isto é natural: o rio nasce numa fonte e, naturalmente, chega ao mar ou a uma lagoa.
Não está natural do rio, é natural do esôfago levar o alimento mastigado. Para o estômago, por sua vez, vai trabalhar com várias enzimas e vai fazer com que o nosso organismo produza em paz, oi meninas, aquelas que são necessárias para sua sobrevivência. E aquilo que não for aproveitável vai ser, digamos assim, expelido, né, no lugar devido.
Então, esse processo digestivo vou fazer uma analogia, lá na frente, com a nossa alma, porque na nossa alma também há uma digestão que pode ser, inclusive, uma indigestão daquilo que nós pensamos. Naquilo que nós amamos, muitas vezes, nós, ao botarmos para dentro da alma conceitos abstrusos ou ruins, nós literalmente não trazemos a proteína da verdade para ela. E a pessoa, quando chega nesse estado, ela é como um navio que está em alto mar, sem bússola, e vai, em algum momento, naufragar em algum recife.
O mesmo em alto-mar, tão bom é atualizar, repito, as potências que radicalizam na forma doente, fazendo-o lograr o seu fim natural. Mal é não atualizar essas potências e malograr ontologicamente. Então, por exemplo, no caso espiritual, o mal é o pecado.
Todo e qualquer pecado é contra a nossa natureza: intelectivo-volitiva, ou seja, agentes inteligentes dotados de vontade. Então, o pecado é um malogro existencial. E nós vamos ver aqui que o mal vai ser, em qualquer tipo de ente, essa espécie de malogro.
Eu pus aqui entre aspas uma coisa que eu notei quando vim a caminho para cá: o mal é a vitória ou prevalência da corrupção sobre a natureza. Ou seja, toda vez que o mal que, em sua essência, é do bem devido, ele opera, ele corrompe a natureza. Não é mal para esta garrafa de água não enxergar, porque ela não possui potências visíveis.
Então, prestemos bem atenção: o mal não é uma simples ausência de ser. Ele, em caso de todos os entes, é a privação do bem devido. Eu permitam-me citar aqui um dos nossos maiores escritores, um dos nossos maiores filósofos, tão pouco lidos, foi o Padre Leonel Franca.
Ele tem um livro, um conjunto de conferências, que se chama "A Prova da Existência de Deus". E depois de ele falar da prova da existência de Deus pela contingência, para o argumento da contingência, e depois de ele falar do argumento da finalidade, ele fala das desordens. O que o Padre Leonel Franca saboreia, porque isso aqui é ouro em pó: "Depois da Luz, as Sombras.
O universo contempla-se como um todo harmonioso, espetáculo magnífico de uma ordem que a inteligência não cessa de admirar, extasiada, desde que sobre a natureza se abriram olhos humanos: poetas, sábios e santos com as suas almas diversamente assinadas, acolhem na sua música interior alguma das suas harmonias e inesgotáveis belezas de formas, equilíbrio de proporções, complexidade de estruturas, regularidade de fenômenos". O que se nos depara nesta imensa organização da natureza que vai executando um plano gigantesco, cujas grandes linhas mal começamos a entrever: matéria que a erva se diferencia, regida pela simplicidade das grandes leis cósmicas; vida que se eleva e ramifica no esforço constante de formas mais altas e de realizações mais complexas; inteligência do homem, a medir-se na sua superioridade espiritual com a imensidade da matéria que envolve, a dominá-la com as vitórias de sua arte, a pulir cada vez mais dócil, a serviço de uma civilização ideal que o atrai e em que se transformam em realidade histórica os sonhos de grandeza, de paz, de heroísmo, de verdade, de beleza e de bem que desabrocham como aspirações incoercíveis, eternamente a renascer das profundidades de sua natureza. Impossível subtrair-se a esta impressão de grandeza e de ordem no mundo que, na realidade, mais e mais nos aparece feito com medida, número e peso.
Como diz, é sagrado: "Esse é o livro da sabedoria". Daí a conclusão de uma inteligência primeira, razão suprema da inteligibilidade desta ordem. Não há mais, tão fácil deu o gênero humano, na espontaneidade natural dos seus processos demonstrativos, confirmou a reflexão meditativa dos grandes pensadores, no exame esmiuçador de suas análises e na severidade das suas exigências críticas.
Luzes incontestavelmente, mas não haveria também sombras ao lado da beleza? Não oferece também este mundo — o mundo aqui não é o planeta Terra, é o conjunto das coisas criadas — só um parêntese: um espetáculo desolador da fealdade ao lado do bem? O mal, da ordem à desordem, é fácil bosquejar em grandes linhas o quadro das harmonias cósmicas, mas não se poderia, com igual facilidade, carregar as contas das suas desarmonias.
Quem não se lembra de haver lido na pena de algum pessimista hipocondríaco, como Schopenhauer, a respeito de uma dessas terras sombrias que nos fazem arrepiar os cabelos e estremecer até a medula dos ossos ante a visão de uma natureza que não parece senão trabalhar para o mal e compraz-se na desgraça, na destruição e na morte? E o Padre Leonel Franca vai mostrando que, em cada ordem deste universo, há males que, embora o sejam efetivamente, ordenam-se a bens superiores para a harmonia geral. E neste espetáculo da natureza criada por Deus, a natureza, para o cristão, é arte divina.
Ela não é auto-caída, ela não nasceu de si mesma, ela tem um autor, e este autor é aquele a quem normalmente chamamos Deus. E a natureza é o que alguém poderia. .
. quis fazer várias objeções, mas este está sobejamente demonstrado: o que é impossível que o conjunto de entes que perfazem o universo tenha dado a si mesmo o ser. Nenhum agente pode dar a si mesmo o ser, e o próprio ser subsistente, que é Deus, ele é o incausado.
Não houve uma causa anterior a Deus, a Deus mesmo em si mesmo, e nem ao conjunto dos entes naturais. Então, o Padre Leonel Franca nos demonstra aqui de maneira linda, no seu texto, é grande, mas ele demonstra aqui. O mal, barato das desordens, né?
No meio desta ordem, é cumprir uma função. Ele cumpre uma função, e esta função é, digamos assim, ajudar o conjunto das coisas a permanecer. Como emagrecer, melhor dizendo, no ser.
Então, Deus é a pena não apenas o criador desta ordem, como é um mantenedor desta ordem. E, se pensarmos na natureza, o próprio Leonel Franca faz a menção a tubarões que, por exemplo, comem sardinhas ali, talvez perto do que é a ilha de Madagascar. É ruim para as sardinhas, é óbvio, porém é bom para o ecossistema, porque se aquelas sardinhas se multiplicassem em número, digamos assim, exorbitante, elas comeriam as algas que estão ali nos rios e nos mangues daquela praia próximos àquela praia, e aquilo acarretaria uma espécie de desordem – é, hoje, diria alguém, ecológica, mas é muito mais do que isso: uma desordem naquele específico ecossistema.
Ou seja, naquilo que opera com perdas e ganhos, mas opera com as perdas otimamente. Então, é o mal aqui, no plano físico, no plano docente que perfazem o universo; ele sempre cumprirá esse papel de ser um instrumento de bens maiores. Então, é frequente em Padre Leonel Franca, realmente, farão bem as suas próprias inteligências, que, a parte de ser um grande pensador, ele é um prosador daqueles de mão cheia.
É um dos grandes prosadores nossos da primeira metade do século 20. Daí, o professor Sérgio Pacha, que eu acho que não me deixa mentir nisto: é um homem que traduziu, arrastou, estudou, comentou a essa. É um homem de muitos talentos.
E, hoje, olhando para a PUC do Rio de Janeiro, penso que Padre Leonel Franca deve estremecer na sua tumba ao ver que a PUC se transformou. Porque a PUC não só não faz quase nenhuma menção ao seu fundador, que foi um homem brilhante e estudioso do Colégio Anchieta, depois um homem que estudou várias ciências – o Padre Leonel Franca era um polymath. Ele tinha essa vocação para realizar sem ter legalmente em diferentes frentes.
E, realmente, quando olhamos para a PUC atual, concluímos com tristeza que ela não faz jus ao seu fundador. A PUC do Rio, tão frequente. Esse livro aqui é um livro, é o problema de Deus; é um belo livro, e sempre escrito com este sabor.
Aqui, vocês puderam ter um contato com isso e ter uma ideia mais perfeita, pelo texto do Padre Leonel Franca, do que eu disse aqui, que o mal nos ventes orgânicos é a vitória da corrupção sobre a natureza. Ou a vitória ou a prevalência; o tema da geração e da corrupção, também o tema multimilenar que Aristóteles já tratou de uma maneira profunda. O tema da geração e da corrupção, Santo Tomás o comentou, como comentou outras obras também de Aristóteles.
Então, toda esta imensa natureza, nela nós vemos o espetáculo da geração, do desenvolvimento e da corrupção nos ventes orgânicos. Mas, em tudo o mais, há uma espécie – como eu disse – de mal barato. E aqui vale fazer a seguinte observação: uma coisa eu disse lá no início: que bem e mal são conceitos que só fazem sentido se relacionados a outros dois conceitos, que são de finalidade e natureza, mas, sobretudo, o de finalidade.
E aqui a imagem que me vem à mente, para fazermos uma analogia, é de um charuto. Pensamos no charuto; eu sou um apreciador de charutos, gosto de fumar um charuto. O charuto é uma realidade que, digamos assim, foi feita para corromper-se.
Nós acendemos o charuto, e o bem do charuto é queimar, e, queimando, deixar de ser charuto. Então, pensamos: o mal de um charuto seria não acender e não queimar, não cumprir o fim para o qual ele foi projetado. Então, o mal é mais contrário ao conceito de finalidade do que à mera corrupção.
Assim, a degradação da finalidade é aquilo que mais nos faz vislumbrar os males, tanto os físicos quanto em nós mesmos, humanos. Tenhamos isto em vista que nós vamos crescer nessa escala aqui e chegar às formas mais, digamos assim, simples da ordem do ser, porém mais complexas para o nosso intelecto. Então, recapitulando, o mal não tem ser nem essência; é a privação do bem.
Devido a isso, o mal, em essência, sempre busca o bem. Então, o mal é parasita; é sempre um parasita do bem. Não há cárie sem dente, não há câncer sem o órgão que ele corrompa, e assim em todas as demais coisas.
O sujeito de inerência do mal, como eu disse há pouco, é o bem. O mal, além de não ter ser, evidentemente também não tem essência e, assim, não tem substância. E substância, como diria Aristóteles, é "subir estar", né?
Ou seja, nós somos seres substanciais e, inerentes a nós, vários acidentes: movimento, peso, lugar etc. Então, o conceito de substância também está implicado no conceito de mal, já que o mal corrompe a substância. Mas nós vamos ver aqui que de maneiras distintas.
Então, outra coisa importante de destacar: o mal é sempre um acidente, já que ele não tem substância. É sempre um acidente; portanto, aquela expressão vulgar que diz que "o mal é um mal necessário" na verdade não faz sentido algum. Porque se é mal, é uma desnecessidade metafísica; nunca é necessário.
Então, portanto, não façamos acordo com o mal, nenhum tipo de acordo, seja no plano político, seja no plano espiritual etc. O mal, nós não necessitamos dele para sermos o que somos naquilo que podemos ser de maneira mais excelente. Então, o mal é sempre um acidente, portanto, inere em uma substância.
Outra coisa: o mal. . .
Não é simplesmente o contrário do bem. O próprio Santo Tomás, no "De Mal", a certa altura, menciona que as trevas não são o contrário da luz; são a privação da luz. E as trevas não estão para a luz como o seu contrário.
As trevas são a privação de luz. Se alguém, no lugar trevoso, acende uma lamparina, pode ser uma vela, mas fazem-se as sombras. A luz enxerga tanto as sombras como as trevas, e não enxergam a si mesmas; e não chegam a nada.
De maneira a algo assim, também o mal não é o contrário do bem; ele é uma privação de ver, uma privação do bem. Devido a um cisto no nosso horizonte, quando estudamos coisas mais profundas do ponto de vista teológico, por exemplo, os anjos, muitas vezes as pessoas pensam que Lúcifer é uma espécie de antagonista de Deus, o que só pode ser dito por uma benévola analogia. Para com Lúcifer, tem-se uma criatura, né?
Deus não tem contrários. Deus é o absoluto; Deus é o próprio ser subsistente. Todos os demônios são criaturas, criaturas elevadas no plano da natureza, sem dúvida nenhuma, mas criaturas.
Então, é bom, como diz Santo Agostinho no famoso sermão, temermos antes as penas da luz do que as penas das trevas. Nós temos, às vezes, medo dos termos, medo das tentações, e caímos em escrúpulos. Antes, temamos a Deus.
O "Timor Dei" é o princípio da vida espiritual. É um caminho do temor; é o amor. Nos primeiros, começamos por temer aquele que é o sumamente temível, para depois, consertando a nossa vida, virmos a amar.
Efetivamente, nós vamos nobiliar, tornando nobres os motivos das nossas escolhas. E, quando Deus entra efetivamente nas equações humanas, deixa de ser um conceito abstrato. Muita gente tem, às vezes, até uma vida relativamente piedosa, mas Deus, né?
Está ali no Credo, está ali no terço, está ali, né, nas práticas piedosas das mais diversas. Mas, às vezes, não está na verdadeira prática cotidiana, quando a pessoa pensa: "não vou fazer isso, que eu não quero desagradar a Deus". E, quando faz, sofre; e, sobretudo, porque desagradou, mais do que qualquer outra coisa.
Então, tenhamos estímulo. Horizonte: o mal não é o contrário do bem, é só a privação de um bem devido. E, na escala espiritual, é bom que exercitemos muito o temor de Deus.
Nós vivemos em uma sociedade pós-cristã, digamos assim. Ninguém duvide disto, em que as pessoas não são tementes a Deus, então fazem o que elas sabem, o que lhes parece uma coisa maravilhosa. Mas Deus, com o contributo, digamos assim, não é fácil.
Algumas autoridades espirituais fazem com que Deus passe a ser um conceito abstrato, e as religiões são, como que, equiparadas na voz dos próprios pastores. O que é uma tragédia. Então, se hoje as mães jogam os filhos pela janela, não é proporcionado.
Nós pegamos esse estado de barbárie horroroso, não é a troco de nada; é porque Deus virou o grande "I" da lei no plano civil. É, olá, seja muito. .
. Estado? Deus, não só ele é um fora-da-lei, como ele é malquisto.
Outra coisa, que é uma formulação que eu anotei aqui e que vale comentar: a bondade ou maldade. Há outro conceito de ordem. Eu falei aqui que bem e mal dizem respeito a dois conceitos, sobretudo: natureza e finalidade, mas também o conceito de ordem.
Santo Agostinho, por exemplo, quando fala da ordem da paz, ele tem uma formulação muito famosa, né? "Pax tranquilitas ordinis": a paz é a tranquilidade na ordem. Não é isso, professor Sérgio?
Não sei se é. E, sem ordem, não há paz; sem ordem, há bagunça, confusão mental, moral e física, etc. Então, a bondade ou maldade de algo indica-se por sua ordenação ou não aos fins a que tendem as suas potências.
Então, o conceito de potência e ato vai estar implicado também no conceito de bem e de mal. Potência, em nome, é possibilidade de ser ou possibilidade de operar; energia, ato é ser ou operar. Entre a potência e o ato, há o hábito.
Hábitos, segundo Santo Agostinho, são, digamos assim, no homem, ou virtude, se for um hábito congruente com os fins a que tende a nossa natureza intelectivo-coletiva, ou será um hábito vicioso. Será um vício se contrariar esses mesmos fins, por exemplo. É algo dito contra a natureza da mente.
E a própria natureza da mente, de Santo Agostinho, no "De Mendacio", é expandir-se e repousar quando depara com a verdade. Então, todo mentiroso não é espontâneo. A nossa espontaneidade é essa natural da inteligência, essa inquirição das coisas em busca da verdade e o repouso efetivo, quando realmente essa busca se dá, quando a pessoa se dá por satisfeita nesta busca.
Um mentiroso, sempre invertida, de alguma maneira, o mentiroso não é espontâneo. Então, um bom diretor espiritual, ele sempre vê certos sinais sensíveis por mentiroso; deixa transparecer, sem querer, já que o mentiroso quer sempre parecer veraz. E, muitas vezes, de falsas veracidades, chega-se a mentir com a verdade, mudando o DNA da verdade.
É possível sem mentir com a verdade. No outro livro, Santo Agostinho, que é o "Contra Mendacium", ele disse que, na hierarquia das mentiras, a pior é a espiritual. E, nesta, geralmente, o que acontece é a pessoa contar mentiras apresentando parcelas de verdade.
Isso é um mal. E só uma, quando a serpente, né, na tentação e de "mendacium", diz para Eva: "Se comerdes do fruto proibido, sereis como deuses pelo conhecimento e não morrereis. " Não morrerei, diz uma parcela da verdade que o demônio sabe: a nossa alma é imortal.
Então, muitas vezes é possível dizer uma parcela da verdade e mentir com esta parcela. A verdade foi feita para que nós percebamos a saibamos, Gisela, por inteiro, em cada ocasião das nossas. Vidas, então, conceito de ordem é outro conceito.
Fidalmente implicado na ideia de bem e de mal. Outra coisa que eu anotei aqui que é referida, digamos assim, às áreas do conhecimento: a metafísica, que é a ciência do ser ou do ente, enquanto ente, é a ciência de grau máximo de abstração da matéria. Ela, beijo, dismoda, Lisa, ausente para abordar não uma perspectiva sua do ente, como a física, que aborda o ente na perspectiva do movimento, como as matemáticas, quaisquer que sejam, que abordam o ente na perspectiva das relações.
A metafísica, ela aborda o ente em ponto em ti e, em termos metafísicos, o mal é não ser. Mal é não ser. Então, num certo sentido, já houve quem dissesse, como alguns tomistas da terceira da Escolástica, estar dia, né, como o Ferrari, em si, e outros, disseram coisas muito interessantes.
Por exemplo, e o inferno, por pior que seja – e é o pior que pode haver – ainda é menos ruim do que ele não ser absoluto. E aí há vários argumentos teológicos para isto. Um deles é que, mesmo sendo justa a pena, Deus não faz com que os réprobos sofram ininterruptamente; eles têm certos interstícios, né, não de paz, mas de dor menor.
Então, pior ainda é não ser. Ser é uma maravilha! O ser.
Deus pode fazer com que um ente deixe de ser, mas não pode fazer com que deixe de ter sido, o que é diferente. Nosso passado é irrevogável. O que foi posto na ordem do ser nunca sairá; está posto de uma vez para sempre.
Então, pensemos nisto. Então, metafisicamente, o mal é não ser. Ontologicamente, eu vou, é essencial, que faço entre o metafisicamente e o ontologicamente.
É isso que eu disse há pouco: que a privação do bem, devido. . .
No ambiente, a ontologia trata. Docente. .
. Quando o Raíb de Guerra, o pretensioso Raídar, que deu a entender que, desde os pré-socráticos até ele, sujeito Nordeste, né, toda a história da filosofia esqueceu de ser e só abordou o ente, ele bateu na trave mais ou menos, né, porque realmente muitos filósofos não alcançam, abordando-se, eles são a verdade, só a verdade. Mas houve alguns que abordaram ser profundamente.
O principal foi Santo Tomás de Aquino, um dos discípulos do Raídar. E já contei essa história, mas é sempre bom repetir. Foi o Raniere Lotes, lá em 1974, no aniversário de morte de Santo Tomás, ele escreveu um artigo que virou o livro "O Ser em Raiva e Agressão".
Ele, mais ele, a raiva que seu mestre esqueceu-se de Santo Tomás, não! Então, é quase que uma confissão, digamos assim, de algo mais ou menos profundo, mas está de fato muito estiloso, só a bordo um ente. A antologia é ciência do ente; a metafísica, ela seria, nesta distinção que estou fazendo aqui, a ciência do ser.
Então, metafisicamente, o mal é não ser; ontologicamente, o mal é a privação do bem devido. E o nosso bem? E o bem de qualquer ente?
Qual seria o bem de qualquer ente? Desde cada um de nós aqui, que está vivo, portanto deve estar com a sua alma no pleno gozo do seu hábito de ser, até ausentes inanimadas, todo e qualquer ente, o seu bem é permanecer no ser com a sua forma atual. O bem de uma pedra é continuar sendo pedra.
Se a pedra se deixar, digamos assim, será uma oi para ela. Agora, a pedra pode se despedir, vis-ar, entre aspas, por coisas, experiências da ela. Alguém pode quebrá-la, alguém pode dar um tiro nela, transformar em partículas quase que infinitas e, mais entre aspas, de matéria.
Agora, aniquilá-la não pode, porque nós não tocamos no ser que a metafísica trata. O ser é o suposto fundamental de tudo. A não é nem a forma, né, matéria?
E sem o ser e o ser, nós não tocamos (tocamos matéria e forma dos dentes). Já, gnosiologicamente, ou seja, no plano da teoria do conhecimento, o mal é a ignorância. O mal, a ignorância é.
. . Eu aqui, no Cosmogonia, tem um artigo que é baseado até numa obra, por cento, Dom Bosco, traduziu recentemente, muito recentemente, que é Teologia Moral para seculares, né, a Teologia Moral dos leigos.
E aqui, a certa altura, existe um arquivo chamado "Meandros da Ignorância". A ignorância tem, ela não é simplesmente o ser, digamos assim, asiático. A ignorância, ela tem sobre si uma certa ciência.
Já consegui nada por alguns grandes escritores. E o Roio Marin, que é este autor que escreveu essa Teologia Moral para seculares, ele fala coisas que eu aproveito aqui. Aproveitei certinho.
Em 2010, no Cosmogonia, os melhores tratadistas de moral nos ensinam que, para dar-se o ato propriamente humano, são necessárias algumas pré-condições, pois há, em ocasiões diversas, impedimentos para tal ato realizar-se em sua plenitude. Um deles é a ignorância, definida como carência abt – fala de ciência! – é um sujeito capaz ou ausência de um conhecimento que alguém poderia e deveria ter, dada a sua condição ou o seu ofício, mas que, por negligência, não adquiriu.
De acordo com Rui, o Mari, importante teórico da Universidade de Salamanca, de meados do século 20 e autor do clássico "Teologia Moral para Seculares", a ignorância distingue-se das seguintes categorias psicológicas: da necessidade, ou seja, o caráter de início, que é a carência de conhecimentos mínimos obrigatórios. Honesto, não tem conhecimento mínimo sobre a trazer uma besta, né? A besta, uma besta de estrita observância.
Honesto, na prática, mal sabe orientar-se à direita ou à esquerda e, em geral, não tem culpa disto. Distingue-se também daí na advertência, que é a falta de atenção atual relativa a algo que habitualmente se conhece e tem na agenda. Advertência, eu atualmente não presto atenção naquilo que.
. . Habitualmente, eu sei, né?
O que implica uma certa negligência do esquecimento, que é a privação habitual ou atual de uma ciência que se possuía anteriormente, e do erro, que é um juízo equivocado sobre a verdade de uma coisa. Então, quando eu digo aqui que o mal gnosiológico é a ignorância, tem muita coisa implicada. É óbvio que ele também será o erro, será o engano, e numa escala de culpabilidade, né?
Quanto mais o engano for, digamos assim, tiver por objeto um ente superior, mais dramático ele será e mais culpável ele será. Afastar alguém de Deus, por exemplo, por meio de mentiras religiosas é gravíssimo! É gravíssima ou mal gravíssimos.
A ignorância, em geral, pode dividir-se nos seguintes tópicos: com relação ao objeto, ela é de direito, se trata é acerca da lei que mandam para o ideal e de fato; a ignorância de que tal ou qual ação está compreendida na lei positiva e com relação ao sujeito. A ignorância vai ser a invencível ou a vencível. A invencível é aquela que não pode desvanecer-se em um sujeito que aparece, seja por diferentes razões, de nenhuma maneira ele alcança removê-la, e a ignorância absolutamente invencível seja porque ele tenta inúmeras vezes livrar-se dela, estudando, perscrutando, indagando de amigos, mas não consegue.
É a ignorância moralmente invencível. Sujeito em boa vontade, mas ele, digamos assim, nasceu em noite de eclipse, está com dificuldades que são existenciais, dramáticas; já vencível é a ignorância que se poderia superar com algum esforço, pela reflexão e pelos estudos. E há outras subdivisões, mas só para ficar e com isto, é um vasto horizonte: mal metafísico, não ser; mal ontológico, privação do bem devido, podem ser magnos, zoológicos; a ignorância e a escala que vai desde a ignorância mais culpável que pode haver até a ignorância absolutamente indesculpável.
Por exemplo, ninguém pode culpar um amnésico por não ler a Suma Teológica; é evidente! Mas moralmente, tão abaixo do que gnosiológico, num certo sentido, moral, o mal moral é não fazer o que se deve fazer. O Vieira, não sem mão, e famoso, ele diz o seguinte: quem fez no que devia, devia o que fez; está vinde.
Todos não fez mais do que a sua obrigação. Ora, a vida moral é esse dificultoso abrir os olhos em relação ao que se deve fazer e de acordo com o que se pode fazer. São João Bosco também editou aqui, tá indo para o fim, a magnífica, a estupenda, monumental, tanto em tamanho como em profundidade, Teologia Moral de Santo Afonso de Ligório, que é o doutor da moral católica.
Há várias regras dos atos morais, né? Então, a consciência, a lei, há vários tipos de consciência; existe a consciência duvidosa, a consciência provável, a minimamente provável, a probabilidade máxima, e por aí vamos. A vida moral é como um tecido, um bordado riquíssimo, cheio de cores e detalhes, e quanto mais nós vamos percebendo esses detalhes, mais vamos crescendo na percepção de nós mesmos e na percepção da realidade que nos circunda.
Já espiritualmente, o mal é mau, e do que no plano moral, é o pecado. O pecado, e aqui pensamos no pecado, evidentemente, no plano moral, mas daquilo que ele tem de desordem com relação ao Criador. Aqui, no "De Malu", nas questões disputadas sobre o mal, Santo Tomás de Aquino, para o fim, ele trata dos sete pecados capitais e também do pecado da sua bemaventurança; é onde ele trata disto mais profundamente.
Ele tratou em quase todas as obras dos pecados capitais, em algum trecho, direta ou indiretamente, mas aqui ele realmente mostra, de maneira esplêndida, quais são as filhas de cada pecado capital e como que o pecado capital capta, ele é a cabeça de outros pecados, nunca anda desacompanhado; ele sempre tem comparsas, é como passas, mais ou menos, digamos assim, de fraudadores da nossa humana condição. Então, no "De Malu", aqui, quando ele fala da soberba como o pecado superior capital, por exemplo, baseando-se em São Gregório Magno e pedindo quase a velha São Paulo apóstolo, que nos diz no texto sagrado que a raiz de todos os pecados é a avareza. É Santo Tomás que, sem contrariar, coloca a soberba como um pecado superior capital, como fonte de todos os demais.
Como eu disse aqui numa aula, né, e refluindo para a nossa alma, a soberba, desde aquilo que é mais espiritual, são aqueles pecados capitais que não têm comunhão com o corpo, vaidade, avareza, etc. , até aqueles que estão mais pegados ao corpo, como a gula, a luxúria e a ira. Organicamente, o mal é a doença; o mal é doença, e da medicina, é a arte de trazermos a saúde.
Eu devia ser, né? Nós vemos agora, neste período de ditadura sanitária, em muitos daqueles que fizeram seu juramento de Hipócrates, que perjuraram. Existe um princípio médico que é o seguinte: a clínica, na emergência, tem a prevalência.
Se o sujeito está ali, chega quase morrendo, né? O clínico que o atenderá e vai consultar vai ficar à espera de que um acordo internacional, um organismo internacional defina o procedimento. É preciso salvar aquela vida ali na hora, então, assim, a clínica foi jogada na lata do lixo em prol de medidas coletivas proclamadas por organismos a serviço, sabemos talvez nós de quem e quantas vidas se perderam.
Então, o mal mexe, o frango, organicamente, é a doença, e o bem daqui é a saúde. Muitas vezes, ele se atualiza por meio da arte da medicina. Um dos grandes autores medievais que resgata conceitos antiquíssimos na área da medicina e que dificilmente, do vidro, que ele seja estudar, porque hoje o médico, muitas vezes, é formado para fazer exame sofisticadíssimo, dizer quase um leitor de exames, como professor universitário, um comentador de PowerPoint, né?
É fácil! É. Que o pai não cometa PowerPoint por gente que não sabe de improviso.
É tendo um tema que, presumivelmente, domina. Você não sabe discorrer sobre aquilo. Na verdade, não, dormindo.
Hoje em dia, o que a gente vê são comentadores de PowerPoint e, às vezes, na área médica, são leitores de exames e, muitas vezes, maus leitores. Substituem, muitas vezes, o exame de toque, o exame clínico. As pessoas parecem até ter nojo de tocar o ser humano.
Como é que o sujeito é médico, né? Então, o autor ao qual aqui me refiro, Avicena, um autor muçulmano, ele escreveu sobre a medicina de maneira muito elevada. São só mais um leu, e, neste respeito, em vários pontos ele diz coisas muito interessantes sobre o organismo humano.
Então, o mal orgânico é a doença. E a doença, aqui, não é só no homem; em todos os animais, e inclusas aqui as plantas. As plantas, neste universo, seguram as próprias e, com razão, elas têm alma.
Elas são, nesse sentido, animadas, né? Já que vêm em si mesmas o seu princípio intrínseco de movimento. O corpo-alma é isto; são as plantas.
Não há como adoecer. É como diz o Vieram no outro sermão: as árvores morrem duas vezes, primeiro quando secam, depois quando caem. E assim deve morrer o cristão: primeiro para o pecado, para que quando chegar a sua segunda morte, esta não seja definitiva.
Então, é uma pele, uma imagem, mais uma imagem que nos aponta para muitas coisas que são eternas, no sentido de que são para todos os tempos. Pois, qual é o mal pior em mim? É a doença física ou eu apagar em mim certos movimentos anímicos superiores pelo pecado?
O que é uma doença? Ou perder a face humana? As pessoas, para salvarem suas vidas, jogaram na lata do lixo a sua humanidade.
Muitas vezes vimos isto recentemente, ou seja, estavam desumanadas. Elas não tinham; estavam com grau de ignorância mais ou menos culpável. Porque, sendo a prudência aquela virtude da escolha certa, a prudência, lá, o homem prudente não delega para terceiros aquilo que está a sua mão investigar.
Então, delegar para o estado, muitas vezes, decisões a respeito da nossa própria vida que não estão em nossa mão, de alguma maneira, e nós somos os gestores dos nossos medos, dos nossos temores; várias, inclusive, temos, natural da morte. Delegar para o estado, às vezes, é cómodo. Então, as certezas que nós vemos por aí nos últimos tempos, na verdade, não eram nada mais, nada menos do que a ignorância culpável transformada em lei, protegida por todas as supremas cortes, europeias, nos Estados Unidos e aqui, a nossa também.
Digamos assim, os ministros que lá pontificam não podem ser ditos gênios da raça, né? Não há nenhum que se notabilize pelo intelecto superior. Pelo menos eu não conheço; e, se os senhores conhecem, por favor, me apresentem.
Quero crer, né? Eu peço a Deus para que as boas intenções pairam sobre essas inteligências mais ou menos apagadas. Nós temos apagadas; ainda não era constitucional falar isso, né?
Quem sabe, daqui a pouco, será politicamente. O mal é o não atendimento do bem; como isso pode dar-se de diversas maneiras. Mas os legisladores, como os nossos, não se notabilizam por serem criaturas que têm da lei o seu mais elevado conceito, como regra da razão, ordenada ao bem comum.
Então, as más leis são mau político; as tiranias são tiranias sangrentas, são um mau político. As guerras, muitas vezes, são mau políticos, embora algumas das vezes sejam, ah, aquele mal que é instrumento de um bem maior, que é trazer a paz. Muitas vezes, o que condicionou a guerra foi uma situação insustentável.
E não é que eu reputo também um dos maiores prosadores da nossa língua; não só aqui no Brasil, mas qualquer um que já escreveu na língua portuguesa. Os Sertões são a obra-prima. Ele refere-se, por exemplo, a Canudos como a "taipa de Tróia dos jagunços"; é uma bela imagem.
E os augustos estavam ali, sob o comando de Antônio Conselheiro. Não eram estúpidos, como muitos fizeram crer, né? Muitas vezes, o não suportar a simplicidade de Antônio Conselheiro.
Com todos os problemas que ele pudesse ter, pintaram-no como uma espécie de demônio. E o massacre que se seguiu a isso, depois que nosso exército passou por algumas, digamos assim, pequenas vergonhas da sua história, são derrotas para o jagunço naquele terreno ali de Canudos. Inclusive, chamaram general pelo general com grandes feitos passados.
E aí, sem o exército, venceram alguns. Mas a guerra, às vezes, se faz necessária; mas ela é sempre um mal. A guerra não é algo a ser querido em si.
Então, recapitulando, as caras de cima para baixo: metafisicamente, o mal é o não-ser; ontologicamente, o mal é a privação do bem. Individualmente, em nós, geologicamente, o mal é a ignorância; moralmente, o mal é o pecado; ou seja, moralmente, ao mal, eu não faço o que se deve. Espiritualmente, o mal é o pecado; organicamente, ele é a doença; politicamente, ele é o malogro do bem comum.
Então, é isto que estamos a dizer aqui: o mal, como relacionado ao conceito de finalidade, de natureza, teve adversários, muitos adversários. Recentemente, até porque o conceito de natureza talvez seja o que mais é atacado na contemporaneidade. Porque, quando se propõe, por exemplo, a ideologia do gênero, as coisas que estão no plano político, na verdade, é preciso que tais proposições venham à luz.
E os seus propositores jogam na lata do lixo, consciente, a natureza. Já que não há natureza, tudo pode ser concebido mentalmente. Então, não é fácil lidar com pessoas que, nesse âmbito, têm uma atuação tão feroz e tão inimiga das pessoas de bem.
Discussão possível contra quem nega dados são evidências. Evidente-se, mas como é que você vai discutir sobre a temperatura contra quem nega, com quem nega a realidade do calor? O calor é uma evidência, assim como o frio.
Aquilo que nos atinge fisicamente é evidente neste plano, etc. Então, é o tema do mal que fica consignado aqui mais uma vez. Ele é um tema perene para a filosofia, também é um tema perene para a teologia.
Por exemplo, houve grandes comentadores da Sagrada Escritura, tanto desconhecidos como os autores das glosas medievais. Havia duas grandes glosas na Idade Média sobre a Sagrada Escritura: uma delas era a glosa marginal, que eram pequenos comentários escritos à margem do texto sagrado, e outra era a glosa interlinear, ou seja, a glosa que era escrita nas entrelinhas. No afã de economizar, o comentador tinha que às vezes escrever ali à margem do texto, e alguns desses disseram coisas maravilhosas comentando passagens da Sagrada Escritura relativas ao mal.
Por exemplo, nós sabemos, se lemos com atenção o Livro de Jó, que existe uma esperança, mas nem toda esperança é boa. A esperança daquela pessoa que, fazendo algo errado, já conta de antemão com o perdão daquele a quem faz mal é uma má esperança. Assim é com muitos de nós, pecadores: vamos pecando, temos cama, né?
Eu vou me confessar amanhã; vou fazer uma merdinha aqui hoje, tá? O texto da Sagrada Escritura diz algo assim: "espécie dele é abominação", "espécie loron abominas". A esperança desses ou deles, é ruminar viveu, é uma abominação.
Melhor dizendo, Santo Agostinho também comentou a Sagrada Escritura; tem um sermão que diz que esta esperança, né, perversa, espécie é terrível. Então, este conceito de mal é aplicável a todas as realidades, ao quanto tem ser e a todas as operações. É nesse sentido que tem ser, ou seja, tudo que tem ser, tudo que tem seu cliente abastece.
Agora, as operações que são tesouras de nada nos dentes, elas contribuem para o mal deles próprios. Estão em tudo. Nós podemos vislumbrar bem e mal.
Como nós somos dotados de inteligência e vontade, cabe a nós, olhando a realidade, frequentando a realidade com olhos de ver, e frequentando os grandes autores, sejam autores espirituais, sejam metafísicos, sejam teólogos, sejam poetas, sejam prosadores, nós podemos e devemos entender que o mal é uma realidade presente em nós pelas nossas inclinações, pelos vícios, por aquilo que nos é difícil de vencer. Portanto, cabe a nós fazer um esforço; é um dever moral, um esforço para ir destruindo em nós, aos poucos, e pedindo ajuda de Deus. Aquilo que nos impede de sermos felizes.
A felicidade, segundo Santo Tomás na Suma Teológica, é um ato da inteligência. Ninguém pode ser feliz na desinteligência das coisas. É óbvio que não basta inteligir para ser feliz; demônio é muito inteligente.
Aquela gente quer intuitivo, e, no entanto, ele não tem algo que ainda é superior ao conhecer, que é o amar. Não basta conhecer, é necessário amar. Amar o próprio conhecimento, antes de tudo, amar as pessoas, amar a si mesmo.
A pessoa tem o dever moral de amar-se; o amor próprio é o primeiro dos amores que deve ser cultivado. Quem não se ama, não ama a ninguém, não ama a Deus. Esta percepção da hierarquia de coisas com que lidamos é ela que vai nos fazer perceber o bem que podemos realizar em nossa vida e os males que nos acossam cotidianamente.
E aí, conforme nós vamos sendo derrotados por nós mesmos ao longo da nossa trajetória existencial, nós podemos ter essa condição de entes caídos e nos voltarmos a Deus, pedindo ao tribunal da sua misericórdia que Ele nos releve, que Ele nos levante. Esta é a vida católica, é a vida de quem percebe o mal presente na própria alma e busca os remédios nos sacramentos, na meditação de verdades que são verdades de sempre. Assim, aos poucos, a pessoa vai se elevando, chega a patamares contemplativos superiores e faz o caminho que os grandes estudiosos de teologia ascética e mística dizem que é o caminho que vai da via purgativa até a via iluminativa.
Eu burro, e-mail que me atrapalha a ser o melhor que posso ser; ao purgar, enxergo melhor ainda aquilo que posso ser. E é aí que entra a via iluminativa. E, por fim, quando a alma vai se abrindo para esse fluxo superior, aí sim é que Deus faz verdadeiras obras grandiosas em nossa vida, que é a nossa colaboração na obra da nossa própria salvação.
Tá bom, mas, faço muito obrigado por mais um dia aqui. Para mim, é uma alegria vir ao Centro Dom Bosco. Até a próxima!