onde tem Cultura a Vale está no poder criativo que nasce dos palcos orquestras das Artes das ruas e dos museus na das diversas identidades brasileiras e na preservação de memórias é valorizando a cultura que crescemos e evoluímos juntos Instituto Cultural vale eu sou um livro que você não deve julgar só pela capa porque sou feito com papel pol natural desenvolvido pela Suzano em outras palavras seus olhos ficam mais confortáveis e o planeta também ministério da cultura e Associação casa aul apresentam 2ª flip festa literária internacional de Parati a flip conta com benefício da lei federal
de incentivo à cultura pronac 23506 e possui acessibilidade para pessoas com deficiências física visual e auditiva tem Patrocínio master Instituto Cultural Vale Patrocínio ouro Itaú CCR e Susano Patrocínio prata ma móveis eletronuclear O Globo e Sesc Patrocínio bronze sebrai e Globo livros parceria institucional Prefeitura de Parati Secretaria Estadual de turismo do Rio de Janeiro e Museu do território é uma concepção Associação casaazul realização ministério da cultura governo federal Brasil união e reconstrução Obrigada e boa mesa [Música] [Aplausos] [Música] k [Música] [Música] [Aplausos] [Música] flip o encontro da literatura com a cidade [Música] eu sou Caiçara
daqui de Parati né nascido criado aqui de família da parte da minha mãe toda de Caiçaras aí então tem esse essa esse legado né de de trazer uma arte com com viés mais de uma mensagem mais ecológica mais cultural né mais ancestral né O que mais me traz a sensação de liberdade além da pintura é andar de bicicleta você você com o seu corpo a sua máquina né e não existe o seu combustível é a sua energia eu chamo minha bicicleta de bike atelier inclusive né porque a minha relação com a bicicleta ela é tão
antiga quanto a minha relação com a arte com a pintura Eu acredito que a arte ela ela é a prova de que o ser humano ele ele se desenvolveu no planeta né é o processo de desenvolvimento da evolução humana mesmo eu digo que você pintar uma paisagem a ar livre você tá absorvendo né as cores e e o ambiente com o seu próprio espírito né né porque com seus próprios olhos Você não tem uma referência aquilo sai diretamente dentro de você então é um trabalho 100% humano né não existe uma influência né de uma tecnologia
alguma coisa do tipo é uma coisa espiritual [Música] mesmo flip o encontro da literatura com a cidade boa noite [Aplausos] Que lindo esse auditório lotad dissimo cheio de autores também para ouvir eh antes de fazer essa introdução da mesa eu queria lembrar que depois dessa mesa tem a nossa mesa Extra que é uma mesa que a gente fez com a tchai surui e o Pablo casela que é para discutir a emergência das queimadas que assolaram o Brasil e ainda ameaçam assolar ainda mais então convido a todos a também participarem dessa bom a gente tá aqui
com eduar Lui esse grande autor que tem arrebatado corações no Brasil e para conversar com ele é uma mesa sobre o poder transformador da literatura entre muitas outras coisas e para entrevistar o Eduard Lui eu vou chamar o Paulo Roberto Pires que é jornalista professor da UFRJ editor da revista serrote mas antes de tudo é um grande flip é das poucas pesso que eu acho que acompanharam todas as flips assim des essas 22 edições então fica muito feliz que ele esteja aqui no palco para mediar essa mesa [Aplausos] [Música] Paulo Boa noite a todos e
todas eu vou chamar logo [Aplausos] bom eh Boa noite a todos e todas Obrigado por virem a essa tão esperada conversa com Eduard Lui é a quem eu agradeço em nome da Flip né por ter aceito o convite via para encontrar seus leitores brasileiros o que já começou ontem andando pela rua e sem poder andar sem parar para uma conversa uma fotografia uma selfie uma festa então Felipe já começou para aí desde ontem né antes de apresentar gostaria de lembrar que vocês podem enviar perguntas por escrito aqui de dentro da Tenda e vocês que também
estão no auditório da praça que depois da mesa o Eduard Lui vai estar autografando hum H exatos 10 anos em 2014 Eduard Lui estreava na literatura ele tinha 22 anos e havia escrito um livro desconcertante O fim de Ed publicado aqui pela tus com tradução da Francisca adilo na folha de rosto tá escrito romance em pouco menos de 200 páginas o que se lê a história real de edel um menino criado numa região muito pobre no norte da França onde ele cresce numa situação que gente podia chamar de desamparo um desamparo afetivo e social muito
cruel a violência e a homofobi mer a violência e homofobia dão Tom suas relaçõ com o mundo e também com os pais e com os irmãos a casa não é um lugar seguro do buing que el sofre Rua e também na escola o pai bebe demais o irmão mais velho também a mãe sofre em tempo integral e também reproduz as violências num ciclo asfixiante tudo que o Ed quer é fugir para bem longe dali e construir para si uma nova vida o livro marca de fato fim de uma pessoa tal ela se apresentava ao mundo
O livro é uma espécie de certidão do seu renascimento Ed viu na escola e a princípio no teatro caminho para romper radicalmente com aquela vida ele logo deixaria a casa para fazer os estudos do secundário e seria o primeiro de sua família a entrar na universidade e depois na col normal superor uma instituição da Elite intelectual francesa onde estudou sart Ron JAC der ridar trocaria ranc a cidade da infância por amian capital da região da picardia e depois por Paris trocaria também o horizonte desesperançado de seus amigos e familiares por uma Carira de escritor Ed
Mudou as roupas mudou o jeito de andar de falar de comer mudou os dentes mudou o corpo mudou no cartório o próprio nome Eduard Lui é um filho de si mesmo da sua transformação n de lá para cá Ele publicou 10 livros cinco deles incluindo freed tem como tema principal a sua família Quem matou meu pai de 2017 parte da história do seu pai claro Tornado inválida por um acidente de trabalho e do destino dele e de outros Operários como ele massacrados pelas políticas de corte de benefícios sociais que nós conhecemos muito bem no Brasil
n combates e metamorfose de uma mulher de 2021 e esse que acaba de ser publicado pela Todavia que é a sua nova Editora no Brasil a Monique liberta narra dos momentos em que sua mãe rompe a Monique o ciclo de submissão e violência que também o havia vitimado semana passada exatamente semana passada sexta-feira passada né foi publicada na França le fond ran que é amilha scus que é a tradutora dos outros livros A todavia traduz a princípio como o colapso em que o Lui narra a história do seu irmão mais velho morto aos 38 anos
vítima de Severa depressão e alcoolismo dois outros livros dão conta da relação de Eduard com o mundo história da violência de 2016 que foi o seu segundo livro né ele narra um estupro uma tentativa de assassinar que sofreu nos primeiros tempos e que vivia em Paris mudar método de 2021 é um ensaio em que detalha todo esse processo sobre o qual a gente vai falar aqui além desse ciclo de narrativas o Eduard Lui organizou 2013 um livro em homenagem a uma de suas referências sociólogo Pierre bour o livro chama Pierre b a insubmissão como herança
e uma e numa coleção que Ele dirige para PR universit de France que é uma editora muito importante publicou um livro chamado diálogo sobre arte e política que é transcrição de conversas com o cineasta kenl que a gente conhece tão bem de filmes como eu Daniel Blake e terra e liberdade agora o último público publicou ainda na raiz da violência que é uma adaptação teatral da história violência com assinada pelo diretor alemão Thomas Emer mais impressionante do que esse volume de trabalho é a intensidade a qualidade desses livros no que diz respeito à literatura mas
também à política isso no momento em que não são poucos os Escritores intelectuais que se protegem nos consensos ou mesmo num silêncio incômodo diante de questões que são comuns à França e ao Brasil o esmagamento das classes dominadas o aumento brutal da desigualdade social pela adesão a políticas globais neoliberais a atuação cada vez mais violenta da Extrema direita a normalização do preconceito do racismo da homofobia começando então eh em lutas e metamorfoses de uma mulher eh você escreve disseram-me que a literatura nunca deveria suar como Manifesto político e no entanto eu afio cada uma das
minhas frases como se Afia a lâmina de uma faca eu queria começar pela faca né Eh como você encontrou o caminho de fazer da sua história que é a história da sua família mais do que uma autobiografia que ela de fato é uma autobiografia também mas uma narrativa que se abre pro e que tem essa cont de intervir no mundo acho que a gente podia começar por aí Thank yount soc un extrait publicado pela todavia H algum tempo é me 33 e eu começo a escrever sobre essa esse quarto e escuro e silencioso lá fora
pela janela aberta ouço vozes na noite e as sirenes da polícia ao longe eu tenho 26 anos e alguns meses a maioria pessoas diria que tenho a vida pela frente que nada começou ainda E no entanto vivo já há muito tempo com a sensação de ter vivido demais e imagino que é por isso que a necessidade de escrever é tão profunda como uma maneira de fixar o passado no escrito e assim Suponho me livrar dele ou talvez pelo contrário que o passado está tão enraizado em mim agora que me obriga a falar dele o tempo
todo a cada instante que tenha me dominar e acreditando me lrar dele apenas reforço a sua existência e seu poder sobre minha vida Talvez eu esteja preso eu não sei eu tinha 21 anos e já era tarde demais já tinha vivido demais tinha conhecido a miséria a pobreza na infância as repetidas cenas da minha mãe me pedindo para ir bater na porta dos vizinhos ou da minha tia AZ su que ume Deão e uma lata de molho de tomate porque ela não tinha mais dinheiro e sabia que uma criança despertaria mais facilmente pena do que
um adulto tinha conhecido a violência meu primo morto na prisão aos 30 anos meu irmão mais velho doente de alcoolismo desde a adolescência que acordava bêbado de manhã antes de ter bebido de tanto que o álcool estava impregnado no seu corpo minha mãe que negava isso com todas as suas forças para jura para nós que elebia que era a útima vez que depois daquela não beberia mais as brigas no bar da cidade o racismo obsessivo das Comunidades rurais isoladas presente atrás de cada palavra ou quase de cada frase aqui não é mais a França é
a África a gente só vê estrangeiros para todo lado o medo constante de não conseguir chegar ao fim do mês de não poder comprar lenha para aquecer a casa ou não poder substituir naol e meu pai meu pai doente pela vida de trabalho na fábrica na linha de produção e depois nas ruas varrendo a sujeira dos outros meu avô doente por causa da mesma vida doente porque sua vida era reprodução quase exata da vida de seu bisavô de seu avô de seu pai e de seu filho privação precariedade abandono escolar aos 14 ou 15 anos
vida na fábrica doença quando eu tinha se ou 7 anos via esses homens à minha volta e achava que a vida deles seria minha que um dia eu iria para a fábrica como eles e que a fábrica me faria curvar as costas também eu fugi desse destino e fui atendente numa padaria zelador vendedor uma livraria gar arrumador em vários teatros secretário professor particular garoto de programa monitor em Colônia de Férias Coba e experiências médicas por milagre estudei numa instituição de ensino superior considerada uma das mais famosas da Europa de onde saí com diploma em filosofia
e em sociologia sendo que ninguém na minha família estudou eu lia Platão Kant derd Bovo conheci depois das classes mais pobres do Norte da França a pequena burguesia provinciana seu amargor e logo em seguida o mundo intelectual parisiense a grande burguesia francesa internacional frequentei as pessoas mais ricas do mundo fiz amor com homens que tinham em suas salas obras de Picasso de mon de Sul que só viajavam de avião particular ficavam em hotéis cuja diária uma única diária custava o que toda a minha família ganhava em um ano de trabalho quando eu era criança para
uma família de sete pessoas estive perto fisicamente pelo menos da aristocracia jantava com Duques em princesas comia caviar e bebia várias vezes por semana champanhes raros com eles passava as férias em mansões na Suíça na casa do prefeito de Genebra que se tornara amigo conheci a vida de traficantes ameio um homem que consertava ferrovias e outro que com pouco mais de 30 anos passaram um terço da vida na prisão dormi nos braços de outro ainda numa das periferias mais perigosas da França com pouco mais de 20 anos troquei meu sobrenome na justiça mudei de nome
transformei meu rosto redesenhei o contorno das entradas de meu cabelo passei por diversas reinventei a maneira de me mover de andar de falar fiz desaparecer o sotaque nortista da minha infância fugi para Barcelona para recomeçar a vida lá com um aristocrata decadente tentei ir para a Índia e abandonar tudo Vivi numa kitnet minúscula em Paris tive um grande apartamento num dos bairros mais ricos de Nova York andei sozinho durante semanas por cidades Americanas de tamanho médio desconhecidas e Fantasmagóricas para tentar me livrar min vi havn quando voltava para ver meu pai ou minha mãe não
sab mais o que dizer uns aos outros não falávamos mais a mesma língua tudo o que eu tinha vivido em tão pouco tempo tudo o que tinha atravessado tudo nos separava [Aplausos] nós sabemos agora todos nós sabemos o que nós estamos de quem nós estamos falando do que nós estamos falando o retrato que você faz do seu pai e da sua mãe do comportamento deles né mostra uma dupla um pouco complementar né ele muito violento ela submissa e por sua vez violenta também né E no fim do de de é você vê uma espécie de
espelho deles do seu irmão mais velho na sua irmã mais velha né uma eh eu gostaria que você falasse dessas ideias de masculinidade e de masculino e feminino e de Como você passou a olhar criticamente para essas duas posições e entender que isso era a sua família Mas ia muito além dela que isso é um pouco o que abre ela pro mundo né hum ui sim eu tive consciência rapidamente da diferença entre o masculino e o feminino justamente porque eu enquanto jovem gay e criança gay na minha infância eu fui considerada rapidamente como uma coisa
que ia contra masculinidade a ideologia da masculinidade é estranha é como se não sendo os masculino suficiente eu queria alguma coisa dos outros como se eu alguma coisa dos outros e eu me perguntava o que que incomodava eles por que eles se incomodavam com a minha maneira de falar o que que roubamos dos outros quando não respeitamos a ideologia ou a mitologia da masculinidade e muito cedo eu enfrentei isso e eu vivi num mundo totalmente estruturado pela dominação masculina todos os dias se falava o que que significava ser um homem de verdade um homem forte
e a relação das classes sociais na verdade é uma relação de masculinidade Porque na minha infância ser um homem ser um verdadeiro homem ter uma performance de masculinidade era se opor à burguesia e era se opor a os homens da burguesia que cruzam as pernas que comiam que se beijavam sendo que nós nós dávamos a mão e é interessante ver como a partir da análise da eh da masculinidade ou da dominação masculina é pegar essa questão da dominação masculina para repensar tudo o que se diz habitualmente sobre a dominação de classe mas uma coisa em
relação ao meu pai e a minha mãe em relação ao que você faz Fala alguma coisa que me interessa naquilo que eu tento contar que no fundo é o que se chama o paradoxo da Dominação e o fato que todas as pessoas que eram dominantes que dominavam na minha infância que dominavam porque eram masculinos e encarnavam a masculinidade meu pai meu irmão Meu outro irmão todos estão destruídos meu pai tem 50 anos mas já não pode andar não consegue respirar meu irmão 38 anos morreu faz anos sendo que as pessoas as mais dominadas como por
exemplo as mulheres é minha mãe minha irmã e eu enquanto gay conseguimos fugir e o que me interessa tentar entender Até que ponto que o que nos destrói pode ser em outro momento o que nos liberta A Dominação e a violência não é uma fotografia não é estático A Dominação é um movimento é um rio é uma coisa que se move uma coisa dialéticas eu vou acabar com um exemplo muito concreto meu pai na minha infância quando ele vivia a violência quando ele recebia a violência ele vitia sempre a ideia de que essa violência era
a escolha dele eu sou um homem Eu bebo muito álcool porque eu sou homem eu faço coisas perigosas porque eu sou um homem eu enfrento sistema escolar porque eu sou masculino a masculinidade era um desempenho da desordem social e que faz com que tudo Que destruiu meu pai e meu irmão foram coisas que eles pensavam ter escolhido sendo que a minha mãe como mulher nunca pensou ter escolhido isso é meu pai que dizia para ela você vai ficar em casa você vai cozinhar você vai limpar a casa não vai dirigir você não pode usar maquiagem
porque são as que se maquiam então a minha mãe nunca pensou que estava escolhendo e um dia ela pensou eu vou retomar do mundo aquilo que me foi roubado e eu me aconteceu a mesma coisa como gay eu nunca pensei que eu tinha escolhido a minha vida eu pensava que eu tinha sido condenado porque mas como a mãe era eu como fui mais falamos da violência falamos dela a partir uma análise muito simples e o que eu tentei fazer no meu livro uma análise da [Aplausos] violência derrotados e e e a mulher e e e
e o gay estão conseguindo eles mudam curso desse Rio né que você fala né É por que é mais fácil para para para ela mudar por que que você acha que é mais fácil e efetivamente é né ou sim é muito mais fácil para ela muito mais fácil mas é justamente é mais fácil para ela mudar porque ela é menos livre não porque ela seja mais livre E no fundo os livros que eu escrevo são livros que enfrentam uma espécie de ideologia que atravessam a história da arte da literatura cinema dos romances uma maneira de
contar que aqueles que conseguem se libertar são menos livres que os outros e por isso conseguiram escapar é o que vemos no vermelho no rujo do o vermelho e o negro doal e quando esse romance começa o filho Julian sorel Está sentado numa árvore e está nas nuvens e o pai que aquele que não vai se libertar é aquele que não vai conseguir se libertar portanto já vemos ali uma espécie de dualidade alguns que seriam livres e outros que não seriam e no final toda a literatura é atravessada por essa mitologia todo o cinema é
popular é atravessado por isso a história do Billy Elliot o menino livre no mundo onde aqueles não são não são livres a história de um menino S hisa on os outros não são sensíveis o que eu tentei foi pulverizar essa narração e colocar numa outra narração de que e conseguimos fugir disso porque não temos escolha porque não Somos Livres eu fugi porque eu não tinha escolha e a minha mãe também teve que se Reinventar porque ela não tinha o escolha e de repente a ausência de liberdade torna a possibilidade da emancipação O que significa que
no mundo não é análise que produzimos sempre em termos de determinismo social contra a liberdade que é uma eh que é uma uma uma um conceito escolar e Naí mas o que queremos é imaginar forças sociais que se enfrentam A Dominação masculina a homossexualidade a classe o racismo amizade o amor por exemplo e de fato ver como essas estruturas que constituem uma vida vão se enfrentar e vão se friccionar e produzir a liberdade entrar em fricção eu toda a literatura me parecia extremamente violenta porque eu pensava e eu não era mais inteligente que a minha
irmã ou mais sensível que a minha irmã As pessoas sempre falavam isso para mim você fez literatura porque você era mais sensível mas isso não é verdade e é horrível pensar assim Eu não era assim foi a fricção que produziu uma ausência de liberdade aconteceu a mesma coisa com a minha mãe e talvez seja por isso que há frequentemente uma história da homossexualidade masculina e mulheres que vemos na arte vemos isso no Xavier é uma espécie de comunidade de metamorfose entre as mulheres e os gays o que vivemos a minha mãe e eu a respeito
da né você fala que toda a metamorfose ou seja toda essa esse processo se dá a partir de um encontro né e e na sua na sua própria transformação H dois encontros muito importantes primeiro com uma colega do colégio a Helena né em mudar m né que você passa a conviver com uma família burguesa de de ver uma um um outro um outro mundo né e depois tem o encontro com o Didier ribon né o sociólogo é é autor do retorno a hames que foi editado no Brasil pela a in eh e você vai assistir
uma conferência dele e e você não tem ideia sobre o que é e ela resume o livro para você de um jeito que é muito rápido eu vou ler o resumo é muito rápido que parece resumir os seus livros né diz ele contava ele o did ribon que tinha nascido Numa família de classe baixa no norte da França depois se tornaram um autor e um intelectual reconhecido no mundo inteiro e usava sua própria vida sua própria trajetória sua passagem de uma extremidade a outra do mundo como matéria para refletir sobre a pobreza sobre a dominação
e a violência de classe seu livro O Livro do DJ ribon não se parecia com outros livros intelectuais e eu eu ouço Eu leio isso e pareço seus livros eh Em algum momento você viu nesse no no no DJ sobretudo e no retorno a hams né Eh o caminho ali que você iria seguir literariamente e não só literariamente mas existencialmente também ui sim o encontro com e com a sua obra e com seu livro e até antes com o encontro com Helena Helena O que é estranho é que isso produziu uma espécie de erro em
mim eu errei Ou seja eu me lembro que no dia que eu fui assistir uma conferência do did ribon que eu conto isso em mudar método o estava numa sala de Conferência como esta e ele conta que el do Meio Operário do Norte da França que ele foi embora para Paris para estudar que ele começou a escrever livros quee encontrou intelectuais que se tornou amigo do Pierre bour Michel fou mar e que toda essa transformação o afastou da sua família que o impediu de falar a sua família porque já não falava a mesma língua e
eu me lembro que quando eu saí da conferência do eu fui ver ele e disse para ele é a história da minha vida o que você acabou de dizer mas não era a história da minha vida eu não tinha ido para Paris eu não tinha escrito nenhum livro não tinha e lido nenhum livro não tinha conhecido a margerite duras que infelizmente tinha morrido e não era a história da minha vida mas eu acreditei que fosse e estranhamente esse erro que me deu a energia para a transformação há uma poetiza que se chama Denise R que
diz que a identidade é uma fantasia é uma é uma maneira como fantasiamos fantasiamos alguma coisa que não somos e pensamos que talvez possamos ser e mudar método em um livro que conta esse desejo de transformação e no fundo a distância que produz da sociedade essa tentativa de se transformar porque quando você vai querer se transformar vão dizer você acha que você o quê você se acha superior a nós você acha que é o quê Como se houvesse uma espécie de crime mais uma vez por não ficarmos no nosso lugar por nós tornarmos uma outra
coisa do que a sociedade nos permite ser encontro com criou esse erro fundamental mas o erro foi foi a minha liberdade no fundo e é isso também isso fico pensando um montão de coisas mas o que conta mudar método o que o que nós é permitido nós tornarmos e o que podemos imitar e nem todos temos o mesmo direito para imitar encontrei o DJ ribon eu eh vinha do Meio pobre e queria me transformar no DJ e Comecei a ler livros a me interessar na cultura e as pessoas as crianças ou jovens da burguesia que
sempre tinham lido livros que tinham sempre ido pro cinema que tinham ouvido conferen pensaram você acha que é o quê E você está nos imitando você quer livros como nós você quer ir o museu antes e você era tão autêntico antes tão bacana então eles imitavam os pais deles como eles tinham visto os pais deles fazerem isso porque eles vinham do meio e privilegiado burguês e então mudar e método levanta essa questão não há pessoas autênticas e pessoas que imitam as pessoas que têm o direito de imitar e aqueles que não tem o direito de
imitar isso lembra muito a questão do gênero também butler que fala o gênero uma imitação de uma imitação sem modelo então não há modelo Não Há Muralhas que nós disse seram que nos dizem ser alguma coisa escrita um painel que diz ser mulher é isso e ser homem é isso não há pessoas que imitam que imitam que imitam mas quando uma pessoa que é transgênero que nasceu homem e quer ser mulher a sociedade vai tentar anular destruir essa pessoa vai dizer você não tem o direito de fazer isso porque esse não é teu papel não
é teu lugar sendo que os outros são imitações de imitações e imitações Eles imitam então então é um pouco longo que eu disse mas isso tudo para dizer que penso que entendemos melhor o mundo eh em termos de imitador legítimo e o ilegítimo e eu imito ilit e convido vocês a serem a mesma coisa do que eu serem imitadores ilegítimos você escreve que Rib produziria eu cito entre aspas produziria sem querer a ruptura mais dolorosa de toda a minha história eu queria saber se já aconteceu o mesmo com você em outra posição dessa relação se
depois de uma palestra sua depois de um encontro como esse depois de uma entrevista alguém tenha te procurado como você procurou o DJ ribon e tenha te falado sobre as inquietações como você falou com ele o que aliás pode estar acontecendo agora aqui nesse momento na plateia na praça em alguém que esteja lendo livro é alguém que vai te pedir autógrafo Eh eu quero saber se você já experimentou isso de eh dessa outra posição porque num num num num trailer de de um de um documentário feito sobre o o chama-se Eduard Lui ou la transformation
é um documentário do François caá você diz a cada vez que alguém diz eu mudo dáessa possibilidade que alguém diga eu quero mudar uhum sim que a cena mais linda que eu vivi foi um dia eu estava na França e EUA apresentando meu livro que se chama luta metamorfose de uma mulher onde conto como a minha mãe deixou o meu pai depois de 20 anos com El noite minha mãe vivia fazia 20 anos com meu pai que mantia ela em casa dizia você tem que limar casa você tem que cozinhar minha mãe não aguentava mais
mas não conseguia ir embora e um dia ela foi embora ela pegou todas as coisas pai botou em sacos de lixo jogou pela janela e falou pro meu pai não volta nunca mais e eles se separaram um EUA apresentando ess livro num Livraria na França e uma mulher me disse eu li o seu livro e fiz exatamente a mesma coisa peguei todas as coisas do meu marido coloquei em sacos de lixo e joguei pela janela já Fazia anos que ele me maltratava e eu já estava realmente farta de de de sofrer disso tudo e quando
eu li o seu livro me deu vontade de embora e isso me tocou muito mexeu muito comigo de ver que uma mulher tinha usado o meu livro luta e metamorfose de uma e mulher de que ela tinha usado esse livro como um manual de fuga e me parece que foi a coisa que mais me tocou e que mais mexeu comigo e outra coisa realmente que mexeu muito comigo na Espanha há uma Fundação que foi criada que se chama fundação Fundação Ed que dá apartamentos Eh que que dão apartamentos ou moradias para as pessoas que foram
expulsas das suas casas por serem LGBT E lá eu encontrei Jovens estrans jovens gays que tinham sido expulsos pela família de casa e eu vi um garoto por exemplo que a família tinha queimado ele tinha deixado marcas de de e para mim é muito importante porque quando você escreve a história da sua própria fuga há pessoas que vão te criticar que vão dizer você conta a sua própria fuga mas você não faz com que os outros fugam você não muda o mundo como se eu pudesse mudar o mundo eu gostaria muito mas eu não posso
mas essa oposição é ilusória também porque como como você dizia todas as vezes que fugimos ou que dizemos eu mudo tornamos a transformação possível na nossa cabeça é como num nível muito mais violento é o que diz Patrick chazo o que o que a Tony Morrison fala sobre a escravidão na no momento da escravidão no no na América havia pessoas na América que fugiam e cada fuga tornava pensável digamos assim outras fugas havia tipo uma cadeia de Fugas que não era organizada também havia estruturas que organizavam essas fugas per cada pessoa que foge torna as
outras fugas possíveis por isso nunca temos que nos sentirmos culpados por termos fugido o g de dizia que fazemos furos vamos furar os canos e que uzem em todos os lugares e me parece que a fuga é essa em no primeiro livro sobre sua mãe né Tava fal eh você fala sobre as trajetórias de de de sim uma uma trajetória de da da de inadequação de como de como as pessoas eh mudam Isso é uma é um motivo que percorre todos os livros e um determinado momento você diz assim eu queria usar a minha nova
vida né como uma Vingança contra a minha infância eu me tornava um desertor de classe de classe social por vingança e essa violência se somava a Todas aquelas que você já tinha vivido Eu gostaria que você falasse do papel da importância do papel da raiva e da vingança na escrita assim porque parece que isso é muito carregado nos seus livros é muito importante também uhum uhum absolument Sim esta ideia de Vingança me obca me obca na minha infância meus pais minha família meus irmãos e minhas irmãs tinham vergonha de mim tinham vergonha daquilo que eu
era as pessoas sempre me diziam que você fala com como por que que você fala assim por que que você fala assim você está doente e eu me lembro que nesse momento eu pensava um dia eu vou fugir e a minha fuga será minha vingança era uma sensação Uma emoção muito violenta porque eu pensava eu vou provar que eu sou melhor do que eles eles dizem que eu sou inferior me pergunta porque ass eu f meor assim mas eu vou mostrar que eu sou superior e quando eu comecei a estudar a ler livros ler Literatura
e jornais eu voltava para casa durante o fim de semana e fingia que estava lendo e eu queria mostrar a eles estão vendo agora eu estou fazendo uma coisa que vocês não conseguem fazer e isso era de uma violência extrema minha mãe se levantava e dizia para com isso para de fazer isso e eu escrevi também para rec consertar reparar a violência que a minha família tinha e feito sobre Enfim uma Mas eu também tinha sido violenta era uma sucessão de violência minha mãe era violenta comigo meu pai era violento com a minha mãe e
eu era violento com a minha mãe era um círculo dentro do qual era todos presos e eu gostaria de e por isso escrevo para ver essa circulação da violência um um mundo no qual ninguém era responsável pela violência a violência nós a conduítes violentas e pessoas violentadas era uma violência que circulava entre nós e para mim é a maneira como vejo a violência eu não acredito na responsabilidade não me parece que haja algum indivíduo responsável me parece que a violência é um fluxo um fluido que circula entre os corpos há um um romance uns melhores
exemplos o romance da Tony Morrison que se chama God um dos últimos romances da Tony moron onde ela Deus ajude essa criança ela conta a história de uma menina negra que vive numa comunidade Negra e que Quanto quanto mais negros formos somos e realmente criticados pela comunidade Negra e pelos blancos e um dia uma mulher dá luz a uma menina mais Negra e a mãe por causa disso vai E então a mãe vai detestar a filha ela fica com vergonha dela porque ela nasceu com corpo negro demais e ela tem vergonha da filha dela e
o que a menina vai fazer é que quando ela V pra escola Quando ela for para ela vai dizer para a família dela que a professora dela que é branca faz abusa dela sexualmente Na verdade o que ela quer fazer é cometer essa violência contra a mãe que nunca gostou dela e a mãe a mãe vai fazer com que a professora vá pra prisão E assim a menina vai olhar para a filha e quando essa professora que fica durante 10 anos na prisão e que sai da prisão quer matar a menina Então quando você vê
esse romance do da Tony moron Da onde vem a violência da professora que vai tentar matar a menina que não tenha outra escolha do que fazer isso essa violência vem da menina da mãe da comunidade é um mundo onde a violência não pertence a ninguém ela está em todos os lugares circula mas é o que acontece na minha família com uma violência menos grave ele é vítima da violência na fábrica ele é violento com a minha mãe que é violenta comigo eu sou violento com ela entendemos muito melhor a violência se analisarmos ela a partir
desse lado mais muito mais do que se quisermos ver quem é o responsável e quisermos castigar o responsável faz 3400 anos que queremos punir os responsáveis e a sociedade não avançou portanto não me parece que seja o caminho certo eu acho essencial no quando você fala dessa dessa cadeia de violência dessa violência espalhada né Eu acho essencial quando você fala que para as classes dominantes a política às vezes parece uma questão estética a pessoa assume essa outra posição faz comentários sobre no Brasil sobre a polarização sobre isso sobre aquilo e parece e é uma uma
distância estética quando pras classes dominadas uma uma decisão política pode afetar a vida delas pode afetar diretamente a a a vida dela eh incl e na sua saída na sua fuga de casa né é acompanhada por adesão a movimentos políticos né organizados né eu eu queria eh eh eh que você falasse um pouco como se forma para você essa consciência política porque não é só a de tá engajado com partido ou orientação tal política mas é essa esse engajamento de quem sofre a violência e e e não de quem simplesmente fica discutindo se alguém Liberal
ou não é Ou enfim uhum Sim não era uma reflexão intelectual não foi uma reflexão intelectual que produziu o meu engajamento político e o que eu conto no livro Quem matou meu pai foi na verdade o fato que na minha infância sentíamos a política todos os dias e que a política para alguém como meu pai ou como minha mãe era uma coisa tão íntima quanto o primeiro beijo que a primeira vez que fazemos amor que a suas relações com os filhos era uma coisa muito íntima e eu tinha lembranças da minha infância íntimas lembranças íntimas
da política mas não políticas antes mesmo de eu saber qual era a diferença entre direita e esquerda progressistas conservadores eu percebia eh como de repente um governo deixava de reembolsar um remédio e de repente meu pai não conseguia mais comprar o remédio dele porque ele tinha dor de barriga dor e e o um belo dia o presidente ja shirak decide Cortar esse reembolso diz acabou não vamos mais reembolsar esse esse remédio e um belo dia meu pai diz não podemos não posso mais comprar esse remédio e ele vai continuar com dores por causa disso não
não não sabia nada de política mas ouv isso depois houve uma reforma com o Nicolás sar era tipo um um auxílio para quem não tinha trabalho que se chama e o sar falou se continuarmos a dar essa renda mínima de inserção as pessoas não vão querer trabalhar eles vão querer são preguiçosas etc e a partir daí ele Transform esse rmi n RS que dizia se vocês não conseguem trabal em alguns meses esse benefício será retirado de vocês e um belo dia administração francês francesa ligava para meu pai e dizia você tem que encontrar um trabalho
você tem que achar um trabalho porque sen não vamos retirar esse benefício de você e meu pai que tinha muitas dores nas costas por causa do trabalho na fábrica um dia que e ele começou a varrer o chão e as ruas e que esse trabalho continuou a esmagar mais ainda as costas dele e então ele parou de trabalhar mas o Nicolas sar dizia pras pessoas ou vocês vão morrer de fome e morrer simplesmente porque já não vamos mais dar esse benefício para vocês ou então vocês vai para esse trabalho que vai matar vocês também então
no meu livro eu falo isso mas eu me lembro disso Desse drama da administração francesa que diz meu pai ou você volta trabalho ou não vamos mais ajudar então essa relação Tima das nossas existências Ciência Política porque a maioria dos escritores não sentiram a política na pele e deles eu por exemplo Emmanuel macron não pode fazer nada comigo porque hoje em dia eu posso pagar pelos remédios posso ir morar em outro lugar eles não podem fazer nada comigo porque eu hoje em dia tenho uma boa condição mas ele pode matar meu pai e eles podem
matar os dominados causou muita controvérsia eh na França ele você eh enumera as pessoas responsáveis pela pelo pelo seu pela pelo destino do seu pai eu vou rapidamente oland Vales eh ir sarosi Macon bertran shirak a história do seu sofrimento ele diz para o pai tem nomes a história da sua vida é a história dessas pessoas que se sucederam para abatê-lo a história do seu corpo é a história desses nomes que su tenderam para destruí-lo a história do seu corpo acusa a história política né e é muito inacreditável Eu gostaria que você comentar isso que
uma dessas pessoas o Martan irch que é um dos responsáveis por essa co escreveu um livro chamado é eu acho inacreditvel o livro Como matei seu pai né E que era um livro de uma espécie de resposta em 2017 também o jornalista francês herv algal Rondo publicou outro livro dos chama duas juventudes francesas do Gené Frances essas duas juventudes são o macron e o Eduard Lis porque nasceram no mesmo da mesma região e tal são vidas paralelas me parece que essas reações falam da contundência da sua ação né parece ser bom isso são boas obras
ups tud bem ele pergunta é engraçado mas não é engraçado é horrível mas que era quando ele eu publiquei meu livro ele nem tentou dizer o Edward Lis é um mentiroso que normalmente o que meus inimigos fazem ele falou S fizemos uma forma para que as pessoas voltassem para o trabalho que uma maneira de respeitar ou seja ele não negou o que eu disse ele falou fizemos isso é muito bom é preciso empurrar as pessoas para o trabalho mas essa reforma neoliberal que consistiu em insistir nas pessoas para que voltem ao trabalho uma coisa que
aconteceu na Inglaterra na Alemanha o Ken fez um filme sobre isso ch que conta como governo Inglês obrigava as pessoas a voltarem para o trabalho até terem um ataque cardíaco uma doença a uma disciplina neoliberal mundial de de de abuso e Quando essas pessoas se manifestaram eu pensei assim que era uma coisa boa que era uma espécie de assédio que o governo fazam porque eles foram forçados a a ouvir o que eu disse porque frequentemente São pessoas que não querem ver a realidade o que eu digo é que eu tento fazer uma literatura de confronto
que produz confronto E durante muito tempo há uma ideia na literatura que dizia que o papel da literatura era mostrar Liv são livros que dizem Vamos mostrar as vidas da classe operária e que ninguém conhece nas minas etc queir chama de literatura engajada Mas o que eu acredito é que no século XX todo mundo conhece a realidade todo mundo sabe igualdade que a dominação masculina que H redes sociais que contam quantas mulheres são mortas por homens todos os dias todo mundo tem acesso à à informação isso está na televisão passa pela na televisão na rádio
então o papel da literatura já não é mais informar sobre alguma coisa tem o papel de forçar o público a ver uma coisa que ele não quer mais ver e é o que eu ch literatura de confronto é uma literatura formal Porque durante muito tempo houve uma oposição ura de literatura formal deger dur etc mas a literatura de confronto é formal e e política como Reinventar a forma a forma para que as pessoas que não querem V ministros e hom políticos me atacam eu penso assim muito bom porque eles foram forçados a esse confronto porque
eles fazem política eles vê todos os dias pessoas que sofrem e que tem então eu não ensino nada para eles mas eu forço eles a verem isso é uma literatura que suspende a liberdade durante alguns minutos algumas páginas para nos forçar a vermos aquilo que não queremos ver é uma literatura que é uma literatura que traz muitas consequências né a gente falou aqui das consequências públicas e políticas e é óbvio que tem uma consequência pessoal também né a sua família se eh se irritou muito com com os livros né Eh com as uma uma umas
reações muito extremada seu irmão teria ido para Paris para tentar com um taco de basb para tentar dá uma surra E o seu pai sua mãe revoltada e tal mas e eh tudo isso cria tem determinado momento há uma grande complexidade nesses livros é um dado momento do Quem matou meu pai você escreve numa frase isolada assim muitas vezes ten a impressão de que amo você você fala sobre seu pai em lutas e metamorfoses de uma mulher inam Monique se liberta eh tem uma uma mudança da relação com a mãe você diz Nossa reaproximação não
a apenas mudou o futuro dela mas também transformou o nosso passado eh você acha que alguma algum em algum nível se pode falar em reconciliação eu sei você pode falar em uma Reconciliação com coisas que parecem irreconciliáveis se pode falar em reconciliação do ponto de vista pessoal e também do ponto de vista Mais amplo non não verdadeiramente não porque coisas que não são recis há coisas que são objetivas o que eu tentei fazer nos meus livros também foi tentar contar divórcios objetivos e não subjetivos houve na literatura muitas histórias de divórcio subjetivo contamos Como já
não amamos mais ninguém essa pessoa como nós separamos dessa pessoa ou alguém já não nos ama então vamos morrer Há muitas coisas assim na literatura Mas o que eu tento contar é um divórcio uma separação que não foi escolhida mas que foi produzida objetivamente pelo mundo social e é por isso que a reconciliação é difícil e isso que a história de transfo de classe Conta as pessoas que mudam de classe como fez o James B como é a história de o que que representa de repente não poder mais falar com o seu pai ou com
a sua mãe não é porque não queremos mais falar com eles mas é porque não falamos a mesma língua já não falamos a mesma linguagem não temos a mesma maneira de olhar o mundo não usamos as mesmas roupas não temos os mesmos gestos e eu contava que na minha infância quando o médico da família vinha na nossa cidadezinha para casa era a única pessoa de um meio burguês que nós víamos porque ele tinha feito estudo Lia livros vinha de uma cidade maior E quando era criança quando o médico vinha para casa quando alguém da minha
casa e alguém ficava doente chamávamos o médico e quando ele entrava na minha casa havia uma violência incrível que se produzia porque tínhamos a sensação quando ele entrava de que não sabíamos falar como ele que nossos dentes Estavam todos estragados ele tinha dentes lindos e tínhamos uma vergonha isso produzia uma violência em nós e ele era muito bonzinho mas não era uma questão de decisão bastava o corpo dele aparecer para que sofremos a violência era uma classe social contra outra classe social e o que eu hoje em quando eu estou diante do meu pai da
minha mãe eu me tornei o corpo que me humilhava eu na minha infância eu me tornei esse corpo da violência e quando estou diante da minha mãe mesmo se temos uma relação mais ou menos boa eu vejo que há uma violência porque a minha mãe fica estressada tomando cuidado em como se senta como ela fala ela come é um estresse social de classes e não podemos nunca e passar por cima disso sempre e eu tento com a minha mãe pelo menos e meu eu não falo mais com meu meu pai porque ele votou na extrema
direita nas últimas eleições eu não perdoei isso dele então ele votou contra mim contra meu corpo contra aquilo que eu sou ele assumiu isso publicamente e nós rompemos as nossas relações há um dado momento Monique se liberta e que a sua mãe tá saindo da casa do segundo homem com que ela vive depois depois do seu pai e você que maltrata ela como seu pai maltratava e você olha para esse homem e diz assim surpreendentemente eu não tenho raiva dele assim aquele homem não era ocupado nem o respons ou responsável pelo que fizera mas tinha
sido o corpo condutor de violência pra Lei dele né el assim um indivíduo que acompanha e reproduz o mundo que o cerca não o indivíduo que cria ou engendra o que quer que seja um cara que recebe as coisas né E esse homem você chama de inocente mas não no sentido de não ter responsabilidade que Inocência é essa que você diz que a nossa eu cito né a condição generalizada ou seja há uma Inocência nessa condução da violência uhum é uma ideia do Kafka do frka que dizia no fundo somos todos inocentes somos todos inocentes
quando uma mãe por exemplo tem um filho que comete um crime ele sempre ela sempre vai tentar perdoar ele vai dizer não ele teve Encontros com pessoas ele teve frequenta ruins ele teve sonhos que realmente não se realizaram e vemos isso como se ela ficasse cega Diz ela ficou cega porque se trata do filho dela mas talvez seja o contrário quando som ficamos próximas das pessoas percebemos que as pessoas são inocentes isso não quer dizer que isso é perdoável mas que há há sempre uma espécie de Inocência mas eu devo devo dizer no entanto que
há também uma diferença entre as classes dominadas e e as que dominam as dominadas nunca são responsáveis e as que dominam sempre são port não há o mesmo grau de Inocência ou de responsabilidade e é estranho porque quando eui o primeiro livro e que era Ed o fim do Ed e história da violência eu sempre dizia eu quero entender essa violência eu quero desculpar essa violência entender da onde vem e eu me lembro porque que ela está aí e há jornalistas que me atacaram você não pode querer entender quando alguém é violento é violento e
quando alguém tem sente Homofobia é assim que é e quando eu falei no Quem matou meu pai sobre a violência do chirag do sarc do macron os mesmos jornalistas me falaram você não pode dizer que são responsáveis são instituições são l são e corporações são as grandes empresas que os dirigem e são as mesmas pessoas que pensam que os dominados são sempre os responsáveis e os que dominam nunca são responsáveis mas quando você tem um conhecimento do mundo que você tem privilégios que você leu livros que você viajou que você conheceu o mundo através da
literatura Você tem uma responsabilidade que é maior porque você conhece melhor [Música] E então os quando os que dominam quando eles exercem uma espécie de violência eles são responsáveis o bolsonaro é responsável macron é responsável shirak é responsável biden é responsável netan netan é responsável mas meu pai não é responsável não é a mesma coisa [Aplausos] [Música] [Aplausos] não em em lutas e metamorfoses de uma mulher né em um determinado momento você fala tudo que eu quero é escrever a mesma história de novo e de novo voltar a ela até que revele fragmentos da sua
verdade cavara um buraco atrás do outro até o ponto que o que está escondido comece a ressumar comece o que esse conjunto de livros e você também diz publicamente inclusive que não vai mais escrever sobre família né mas me parece que lendo a gente percebe muita coisa mas eu gostaria que você tentasse formular o que que esse conjunto de livro revelou para você mesmo pra gente muita coisa mas para você mesmo se oui ça ça ça m'a révélé beaucoup de choses une des choses que ça une des choses que ça m'a révélé je pense c'est
que tout Le Monde essaie de s'enfuir ET ça moi Avant je le savais pas c'est-à-dire que quand j'étais un un enfant ET un adolescent un adolescent gay dans un milieu pauvre ET que je rêvais de m'enfuir Pour avoir une autre Vie à ce moment-là j'avais l'idée que moi je voulais m'enfuir mais les autres voulaient pas s'enfuir j'avais une forme de d'arran transfuge de classr transfo de classe que dizia eu sou alguém que quer ir embora mas que os outros não querem ir embora mas durante muito tempo pensei isso meu pai meu irmão não querem mudar
a vida deles mas eu estava errado e eu conto em todos meus livros é uma espécie da antropologia da Fuga uma espécie de tentativa de fuga como condição humana de de pessoas que o tempo todo tentam fugir ele tenta fugir ir para o sul da França por exemplo meu pai mas ele não tem dinheiro volta para o norte da França e volta na fábrica meu pai bebia muito álcool porque ele achava que ele ia fugir e ele morreu com 38 anos Minha mãe queria fugir e conseguiu fazê-lo como corpos que tentam fugir em todas as
direções mas há corpos que quando tentam fugir É nesse momento que eles desmoronam e meu novo livro que se chama le desmoronamento é uma pessoa que tenta fugir quando meu irmão era violento ele era muito violento comigo tentou me matar várias vezes e essa violência era uma maneira de tentar recuperar um poder sobre a vida dele na França nos Estados Unidos no Brasil as pessoas que são violentas Geralmente os garotos geralmente são eles quando eles são violentos São pessoas que não tiveram nada na vida deles e tiraram tudo deles eles vão para a rua e
vão reencontrar um eles n tiveram Mas eles tentando recuperar esse poder vão perder tudo que eles tinham vão ser mortos numa gang ou etc violentados e tal então H pessoas que tentam fugir que não outros que tentam fugir e não conseguem e eu citava o casca anteriormente Eu Gosto muito dos escritores que tentaram entender de certa maneira um aspecto da nature entender o indivíduo a pessoa velha que não consegue mais se mexer e eu me interesso a pessoa que tenta fugir pode desmoronar de qualquer maneira vai tentar fugir [Aplausos] B [Música]