Se você esteve nesse planeta nos últimos dias, deve ter visto matéria sobre mulheres que tratam bonecas reborn como se fossem filhos de verdade. Tem gente que até monta quarta e faz aniversário. A questão é se isso é apenas um hobby inofensivo ou se é um caso de loucura coletiva.
Vou mostrar para você uma visão psiquiátrica sobre esse comportamento. Olá, meu nome é Fernando Fernandes, sou médico psiquiatra e palestrante e é muito bom ter você aqui comigo. Antes de tudo, o que são essas bonecas?
Reborn. Os bebês Reborn são bonecas fabricadas artesanalmente ou de forma industrial, mas com extremo cuidado para apecerem bebês humanos reais. Elas são feitas com materiais especiais, tem peso igual ao de um bebê, detalhes como veias, manchinhas na pele.
Algumas até simulam batimentos cardíacos ou movimento respiratório. Eu dei uma olhada nessas bonecas e algumas são bem realistas mesmo. Dá uma olhada nessa aqui com cara de joelho igualzinho bebê recém-nascido.
Olha essa aqui, que linda. Olha essa outra aqui também. Mas tem também algumas bem feias cá entre nós.
Dá uma olhada nessa aqui, por exemplo, que me lembrou o Chuck com esse macacãozinho azul. ou essa outra aqui que parece aquele elfo do filme do Harry Potter. E antes da minha análise psiquiátrica, eu preciso confessar uma coisa para vocês.
Eu estou um tanto quanto confuso com tanta bizarrice que tá sendo divulgada. Tem coisa que a gente não sabe se as pessoas estão fazendo por trollagem ou se acreditam mesmo naquilo que estão fazendo. Tem maternidade de bebê reborne, mas até aí tudo bem.
Para mim isso não passa de uma loja de boneca. Mas aí apareceu uma adolescente que levou a boneca um hospital de verdade. Aí depois o deputado quis mostrar trabalho e fez uma lei proibindo boneca em hospital de gente.
E tem casal que tá até brigando na justiça por guarda de boneca. O negócio tá tão bizarro que a gente não sabe se é piada ou se é sério. Ou seja, a gente não sabe se riora.
Então, nenhum comentário daqui paraa frente que eu vou fazer depende se tudo isso é verdade ou não. É importante a gente entender que existe um espectro de comportamentos relacionados a essas bonecas. E esse comportamento mais extremado certamente é a exceção da exceção.
Pelo menos é isso que eu quero acreditar. Bom, em primeiro lugar, os bebês Reborne podem ser algo muito salutar e apenas uma expressão de arte e colecionismo. Muitas pessoas apreciam essas bonecas como peças artísticas, reconhecendo o trabalho meticuloso dos artesãos ou de uma marca que fabricou.
Esse fenômeno, gente, não é de hoje. Ele é muito antigo. Nos séculos XVI, XIX, início do século XX, a moda eram as bonecas de porcelana, tanto na Europa quanto na China, ou seja, em diferentes culturas.
E muita gente coleciona até hoje. Essa coleção, por exemplo, que eu estou mostrando para vocês, é de uma brasileira e vale aproximadamente 300. 000.
E essa boneca aqui que eu tô mostrando na tela, foi comprada por 300. 000 está exposta em um museu. Em paralelo a isso, pode ser também um hobby recreativo.
Algumas pessoas gostam de vestir e fotografar essas bonecas como um passatempo, sem confundir com a realidade. Da mesma forma que algumas pessoas passam seu tempo fazendo maquetes de trenzinho elétrico ou modelos de aviões, que são hobbies muito saudáveis. Por incrível que pareça, as bonecas Reborn já foram testadas com uma função terapêutica.
Em ambiente de pesquisa, essas bonecas eram usadas como ferramenta terapêutica para idosos com demência de Alzheimer ou para pessoas que perderam filhos, oferecendo algum conforto emocional. E por fim, no extremo do espectro, pode haver um comportamento dissociativo. Há pessoas que tratam as bonecas como se fossem bebês reais e não de acordo com a sua natureza inanimada.
Aí não há dúvida que estamos falando da excepcionalidade de um problema realmente psiquiátrico. E nesse caso vamos falar sobre algumas hipóteses diagnósticas. Primeira delas é o transtorno dissociativo.
Quando uma pessoa realmente age como se a boneca fosse um ser vivo, certamente está caminhando para uma ruptura na percepção da realidade. Aí a gente já está no limite com um transtorno delirante, que pode ser outro diagnóstico. Por exemplo, quando a gente vê pessoas querendo entrar na justiça pedindo pensão para uma boneca, a pessoa perdeu completamente o juízo crítico e realmente acredita que a boneca é um ser humano com direitos.
Outra possibilidade até menos extrema do que essa seria um luto patológico. Em alguns casos, a devoção a um bebê reborn pode estar relacionada a um luto não elaborado. Mulheres que sofreram perdas ou não puderam ter filhos biológicos podem encontrar nas bonecas uma forma de lidar com essa dor.
Quando o mecanismo substitui o processo saudável de luto, isso pode ser bastante problemático. Uma outra visão é o ponto de vista psicodinâmico, no qual a gente pode entender esse fenômeno como a manifestação de diversos mecanismos de defesa. Por exemplo, um deles é a negação.
A pessoa nega a realidade de que não tem um filho ou que perdeu um bebê. Outro mecanismo é a projeção. A pessoa projeta na boneca desejos e fantasias relacionados à maternidade.
Um terceiro mecanismo de defesa é a regressão. A pessoa retorna comportamentos infantis como brincar de boneca, mas com uma intensidade adulta. É importante entender que muitas vezes o comportamento tem uma função no psiquismo da pessoa e essa função nem sempre é tão clara.
Muitas vezes, o apego excessivo à boneca protege a pessoa de entrar em contato com sentimentos dolorosos ou traumas não elaborados. Cada comportamento, por mais estranho que pareça, pode ter uma função psicológica e representa uma tentativa de lidar com alguma dor ou necessidade emocional que a pessoa tem. Obviamente, nesses casos, o tratamento ele é muito bem-vindo e necessário, podendo envolver psicoterapia, abordagem familiar e sim medicação nos casos em que há sintomas de transtornos psiquiátricos associados.
A gente concluiu então que a linha entre hobby, arte, terapia ou sintoma é bastante tênue e exige uma reflexão caso a caso. O que define se o comportamento é saudável ou não vai ser o grau de prejuízo funcional e o nível de desconexão com a realidade que a pessoa tem. E você, qual é a sua opinião sobre esse assunto?
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