Lítio: O Tesouro Escondido do Brasil?

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Em 2022, os carros elétricos já representavam 10%  de todas as vendas de veículos de passeio em todo o mundo. Na Noruega, por exemplo, a maioria das  vendas de carros já são de elétricos: em 2022, 8 a cada 10 carros vendidos eram elétricos. Muito se discute sobre se o elétrico é o futuro ou não, mas pelo menos no futuro próximo  a procura por carros, motos, bicicletas e outros veículos elétricos tende a continuar crescendo.
E o que esses veículos têm em comum? Todos são movidos a bateria. Ou seja, a demanda por baterias  também tem disparado, assim como a matéria prima usada nessas baterias, como o lítio.
Por isso, vários países ao redor do mundo têm olhado com mais carinho pras suas  reservas minerais, e um dos principais alvos é justamente o lítio. Acontece que nesse  cenário, o Brasil tem um enorme potencial. Sim, você provavelmente já cansou de escutar  que o Brasil tem potencial em um monte de coisa, e nunca viu isso ser aproveitado.
Mesmo  assim, o fato é que o Brasil tem tudo pra sair na frente na corrida do lítio: possuímos  uma das maiores reservas do mineral no mundo, um recurso de importância estratégica. A exploração desse potencial pode trazer enormes benefícios econômicos ao país, como atrair  investimentos e capital, além de colocar o Brasil em uma posição de destaque na era das baterias. Mas a coisa pode não ser tão simples assim.
A extração do lítio também gera outras  consequências, e é preciso analisar de fato o futuro desse ativo no Brasil. Afinal, se o lítio for o novo petróleo, estamos sentados em cima de uma fortuna? E o  Brasil vai aproveitar essa oportunidade ou não?
“Baterias de lítio são o novo petróleo. ” Essa frase não é minha, na verdade é do Elon Musk – e sim, talvez tenha um pouco  de viés nela considerando que ele é o dono da Tesla – mas o fato é que ele pode ter razão. O lítio é um elemento químico que tem uma série de utilidades, como na fabricação de vidro  e cerâmica ou de graxas lubrificantes, onde ajuda a aumentar a durabilidade, a resistência à  corrosão e a resistência a temperaturas extremas.
Mas sem sombra de dúvidas o uso mais importante  desse metal é na fabricação de baterias recarregáveis de alta densidade energética – se  você acompanha um pouco o mundo da tecnologia, com certeza já ouviu falar nelas  como as baterias de íons de lítio. O lítio é o metal mais leve e o elemento sólido  menos denso. Seu alto potencial eletroquímico faz dele o elemento químico ideal pra se usar em  baterias recarregáveis, juntamente com outros metais como o cobalto, manganês, níquel e fósforo.
Essas baterias altamente eficientes são usadas em várias aplicações e produtos que necessitam  de baterias de longa duração que possam ser recarregadas, como celulares, notebooks e outros  eletrônicos, como parte do armazenamento de energia em redes elétricas e, por último mas  não menos importante: nos veículos elétricos. As baterias de lítio são as que possuem a  maior proporção de carga por peso, ou seja, são baterias que podem ser mais leves, sem  sacrificar a capacidade de carga. A grosso modo, 1 quilo e meio a 3 quilos de lítio seriam  capazes de armazenar carga suficiente pra uma viagem de mais de 60 quilômetros.
Isso faz dele a  bateria ideal pra ser usada em veículos elétricos. Ainda no início dos anos 2010, a maioria das  grandes montadoras já havia introduzido no mercado modelos de carros com baterias de lítio, e na  época os carros elétricos ainda pareciam um futuro distante. Desde lá, o número de veículos elétricos  disparou, e essa tem se tornado a nova realidade.
À medida que a procura por veículos elétricos  aumenta, é simplesmente inevitável que a procura pelo lítio siga em uma curva de crescimento  constante. Na verdade, segundo o Statista, a demanda mundial por lítio deve  praticamente quadruplicar até 2035, saindo de 1 milhão de toneladas em 2024,  até 3,8 milhões de toneladas em 2035. É exatamente por isso que muitos países  voltaram sua atenção a esse mineral com tanto potencial econômico.
Os países que  conseguirem mexer suas peças no tabuleiro de forma a se firmar como um dos principais  fornecedores de lítio a nível mundial, certamente terão na mão uma vantagem estratégica,  com potencial de enormes benefícios econômicos. Mas atualmente, mais de 75% da produção de lítio  do mundo vem de apenas dois países: Austrália e Chile. O posto de fornecedor mundial de lítio  já chegou a ser dos Estados Unidos nos anos 90, mas o Chile tomou esse lugar com um boom  na produção do mineral no Salar do Atacama, sendo depois ultrapassado pela Austrália.
Só que isso não quer dizer que esses países sejam necessariamente os maiores detentores de  lítio do mundo. Na verdade, as maiores reservas de lítio do mundo estão na Bolívia, com um  total de 23 milhões de toneladas do minério. Juntamente com o Chile e a Argentina, os três  países são chamados de “Triângulo do Lítio”, já que suas reservas somadas correspondem  a mais de 2 terços das reservas mundiais.
Só que desses três, o Chile é o que tem  conseguido aproveitar melhor esse recurso: enquanto o país detém 9 milhões de toneladas  de lítio e produziu 39 mil toneladas em 2022, a Bolívia com 23 milhões de  toneladas só produziu 600 toneladas. Mesmo em crise, a Argentina também tem  aproveitado relativamente bem o mineral, já que é o quarto maior produtor mundial,  mas poderia ser melhor se não fosse por dificuldades tecnológicas e de capacidade. Nesse caso, estamos atrás da Argentina: a produção brasileira de lítio corresponde a  apenas 1 terço da produção argentina.
Mesmo assim, o Brasil fica logo atrás da Argentina no ranking  mundial, sendo o quinto maior produtor de lítio. Mas será que um país de dimensões continentais  como o Brasil não tem condições de bater de frente com os países do topo, e quem sabe  virar um protagonista na corrida do lítio? O lítio é um mineral que pode  ser extraído de diversas fontes.
Alguns dos maiores depósitos de lítio, como os  do Triângulo do Lítio, são do tipo salmoura, ou mais precisamente, salmouras evaporíticas  continentais, onde o material é extraído e levado pra piscinas de evaporação. Já em locais como no México e nos Estados Unidos, o lítio é encontrado em argila,  em depósitos chamados de argilas hectoritas. Mas ainda há um outro tipo de depósito de lítio,  onde o lítio se encontra em rochas chamadas de pegmatitos, e esse é o caso das reservas  encontradas na Austrália, e também aqui no Brasil.
É estimado que o Brasil tenha cerca de 1 milhão de  toneladas de lítio, e, segundo o Serviço Geológico do Brasil, existem reservas em regiões como o  Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Tocantins, Goiás, Bahia, e principalmente em Minas Gerais. Essas reservas colocam o Brasil como o país com a sétima maior reserva de lítio do  planeta, uma posição privilegiada em um mundo cada vez mais sedento por esse minério. Aqui dentro do país, a maior reserva de Lítio fica em Minas Gerais, em uma região  que foi apelidada de “Vale do Lítio”, que é formada por 14 cidades do norte e  nordeste do estado.
Segundo o governo mineiro, essa região já atraiu vários grandes projetos, que  somam investimentos de mais de 5 bilhões de reais, criando quase 4 mil empregos pra região. A Sigma Lithium, mineradora com a maior reserva de lítio, avaliada em mais de 14 bilhões de reais,  tá em negociações com a BYD desde janeiro de 2024: a fabricante de carros elétricos chinesa cogita  comprar a mineradora, pra garantir o suprimento de lítio necessário pra sua futura fábrica  no Brasil, a primeira da marca fora da Ásia. Mas apesar de não terem sido descobertas reservas  de lítio tão grandes quanto as da Bolívia ou da Austrália aqui no Brasil, o lítio brasileiro  tem um diferencial – é o chamado “lítio verde”.
O minério foi batizado assim pois sua produção é  mais sustentável, já que diferente dos processos de mineração comuns, a produção do lítio verde  não utiliza produtos químicos agressivos ao meio ambiente, não precisa de barragens de rejeito  de minério, e reutiliza toda a água usada no processo, além de utilizar energia renovável. O Brasil foi o primeiro a exportar o lítio verde, quando 30 mil toneladas do produto saíram  do Porto de Vitória em julho de 2023 rumo à China. Mas o minério também tem potencial  de ser explorado aqui dentro do país.
Como disse Ieda de Oliveira, CEO da  fabricante de ônibus elétricos Eletra: “Nós temos vantagem, nós temos minério,  temos lítio aqui no Brasil. Então, é muito importante que se entre nessa  questão tecnológica de se desenvolver e de se produzir o lítio, extrair o lítio e ter  toda a cadeia da tecnologia dentro do país” Ou seja, melhorar a tecnologia envolvida  na cadeia produtiva do lítio brasileiro. Mas como todo processo de extração  mineral, existem uma série de impactos que atingem as regiões envolvidas  na mineração – alguns positivos, outros nem tanto.
E a corrida do lítio  também pode acabar mostrando o seu lado ruim. O ouro foi um dos primeiros metais  minerados pelo ser humano. As evidências arqueológicas apontam que a mineração  do ouro ocorre desde a pré-história.
Por conta de suas propriedades estéticas, de  durabilidade e usabilidade, o mineral sempre foi de grande valor pra as civilizações ao longo  da história. Por isso, o homem desenvolveu cada vez mais técnicas de extração do ouro, numa  busca incessante pelo processo mais eficaz, mesmo que isso significasse mais impactos  ambientais a cada nova corrida do ouro. Os processos de mineração, não só  do ouro mas também de outros metais, geralmente são acompanhados de consideráveis  impactos e riscos ambientais – como esquecer dos desastres de Mariana e Brumadinho?
Assim como as antigas corridas do ouro, a corrida pelo lítio tem provocado um  verdadeiro alvoroço global, com investidores, empresas e países competindo pra garantir  acesso a essas reservas estratégicas. Só que à medida que essa busca se intensifica,  naturalmente surgem preocupações sobre os possíveis impactos ambientais e sociais  associados à mineração desse metal. A extração de lítio, muitas vezes,  envolve práticas mineradoras que podem resultar em desmatamento, contaminação da água e  perturbação dos ecossistemas locais.
Além disso, as comunidades nas regiões ricas em lítio  podem enfrentar desafios socioeconômicos, como a pressão sobre os recursos locais,  mudanças na dinâmica social e, por vezes, a falta de benefícios econômicos coerentes. Além dos impactos ambientais, outra preocupação sobre a corrida do lítio é a de que simplesmente  não exista lítio disponível suficiente no planeta pra suprir toda a demanda no futuro,  especialmente pra fabricação de baterias e o crescimento do mercado de energias renováveis. No Brasil, o lítio verde parece ser uma alternativa pioneira pra mitigar os impactos  ambientais da mineração de lítio, muito embora eles ainda existam, mas esse tipo de extração  ainda é uma parte minúscula a nível mundial.
Pra Gleb Yushin, professor do  Instituto de Tecnologia da Georgia, o mercado precisa priorizar o desenvolvimento  de uma nova tecnologia de bateria que utilize materiais mais comuns e ecológicos na  produção de eletrodos, como o silício. Mas além dos problemas de demanda e os impactos  socioambientais, há ainda uma outra questão que precisa ser discutida sobre o lítio,  especialmente no Brasil: a questão política. Nos últimos anos, foram  descobertas reservas gigantescas de lítio no México, no estado de Sonora.
Vendo o potencial de exploração do metal no país, e a chance do México ganhar um papel importante  no mercado de lítio global, o presidente mexicano López Obrador resolveu simplesmente  estatizar as reservas de lítio de todo o país. Isso significa que o governo mexicano controla  todo o processo de extração de produção de lítio, e pra isso foi criada a LitioMX.  É claro que o vizinho do norte, os Estados Unidos, não gostaram nada disso.
Um dos secretários do governo americano disse basicamente que, querendo ou não, o  México vai precisar da iniciativa privada pra conseguir extrair e trazer todo esse  lítio pro mercado, e isso significa abrir a exploração do minério pra empresas privadas. O discurso da professora e pesquisadora Aleida Azamar também corrobora esse ponto de vista.  Segundo a pesquisadora da Universidade Autônoma Metropolitana, na Cidade do México, é  improvável que o México consiga extrair lítio de maneira 100% autônoma, graças  à falta de tecnologia nacional pra isso.
Além disso, há poucas empresas capazes de  extrair o lítio nas condições de Sonora de maneira economicamente viável a longo  prazo. Ela ainda afirma que o governo simplesmente não tem uma estratégia de  longo prazo, o que torna difícil entender o verdadeiro papel da LitioMX nessa questão. O Chile também tem seguido pelo caminho da estatização da indústria do Lítio: em 2023, o  presidente chileno Gabriel Boric anunciou que o governo tinha planos de estatizar a produção  de lítio, controlando a exploração de um dos maiores fornecedores de lítio do mundo, mas  permitindo parcerias com empresas privadas.
Já no Brasil, há alguns anos a exploração do  lítio vem sendo flexibilizada. Isso porque antes, existia uma regulação que classificava o  lítio como um material de interesse nuclear, necessitando de autorização da Comissão Nacional  de Energia Nuclear pra exportação, e criando mais um poço burocrático que dificultava a produção. Mas essa regra caiu em 2022, tornando bem mais viável os investimentos na indústria brasileira  do lítio.
Até agora, o Brasil não discute uma estatização da exploração do lítio, na verdade,  um dos objetivos da campanha Vale do Lítio é justamente atrair investimentos nacionais e  estrangeiros, e transformar o nordeste de Minas Gerais em um pólo de produção do minério. A exploração do lítio no Brasil tem grande potencial, e se feita de maneira adequada,  pode ser um fator determinante na economia, especialmente considerando que o valor da tonelada  do lítio deve aumentar em 40 vezes até 2040. Mas segundo o consultor econômico Guilherme  Gomes, é preciso ter cuidado pra que o Brasil não acabe perpetuando a tradição de  ser um país exportador de commodities, assim como seus vizinhos sul americanos.
A alternativa seria criar uma cadeia produtiva completa englobando a América do  Sul, inclusive com a produção de baterias, algo que seria muito mais benéfico pra  economia do que a simples exportação do lítio. Mas uma boa notícia é a Bravo Motor Company,  que planeja iniciar a construção de seu complexo industrial em Nova Lima, na Grande Belo  Horizonte, no primeiro semestre de 2024, com início da produção previsto para 24  meses após o começo das obras. O projeto vai focar na produção de baterias, sistemas de  armazenamento de energia e veículos elétricos para mobilidade pública, como ônibus, táxis e vans.
Além disso, a Bravo Motor Company firmou uma parceria com uma das maiores fabricantes  de baterias do mundo e começará a importar produtos para atender a demanda antes mesmo  do início da construção do empreendimento, o que permitirá à empresa começar a faturar e  contratar mais colaboradores para o projeto. A empresa e a XBM USA firmaram parceria para a  criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Economia Verde em Nova Lima. Este centro  focará no teste de tecnologias integradas, desenvolvimento de soluções de descarbonização e  evolução da cadeia de valor de materiais críticos, como o lítio, contribuindo para a  atração e formação de talentos na área.
Apesar de todo o mundo ter entrado na corrida  do lítio, o fato é que o Brasil tem o lítio na palma da mão, e é o maior país da América do Sul,  onde mais de 60% do lítio mundial está. Ou seja, o potencial existe e o país já saiu na frente  na exportação do lítio verde. Resta saber se vamos aproveitar essa oportunidade, ou se o  Brasil vai continuar sendo a terra da promessa.
Você acha que o Brasil vai aproveitar essa  oportunidade? O que falta pra ele de fato se adentrar nesse mercado? Comenta aqui abaixo Agora, se você quiser entender o que eu chamo de Algoritmo Humano e como você pode usar  ele pra levar um canal no youtube de 0 a 100 mil inscritos, confere uma aula  grátis no primeiro link da descrição, ou apontando a câmera do seu celular pro QR code  que tá na tela antes que essa aula saia do ar.
Agora, se você quer descobrir  sobre a arma secreta do Elon Musk, e como essa arma foi importante pro crescimento  da tesla, aperta nesse vídeo aqui que tá na tela. Por esse vídeo é isso, um  grande abraço e até mais.
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