[Música] Existia morte antes do pecado original? Essa é a pergunta que nós gostaríamos de responder hoje para você. Um dos nossos alunos enviou uma pergunta: a Igreja Católica crê que a morte entrou no mundo com o pecado.
O problema é que a ciência mostra, com toda a clareza, que um organismo humano não poderia, por sua própria natureza, viver eternamente. Então, como conciliar esta realidade da fé, de que a morte entrou no mundo pelo pecado, e o dado científico de que a morte existiria mesmo assim? Pois bem, vejam, na realidade, nós temos que, em primeiro lugar, ver qual é o dado revelado.
O que é que realmente nós cremos? Bom, para resumir aquilo que a Igreja crê, nada melhor do que o Catecismo da Igreja Católica. O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 1008, que a morte é consequência do pecado.
Intérprete autêntico das afirmações das Sagradas Escrituras e da tradição, o magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem. Agora vem uma frase que é importante: embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. Eis aí a interpretação da Igreja: o homem, sim, admite a Igreja, tem uma natureza mortal, e Deus, no entanto, iria fazer alguma coisa para que ele não morresse.
É aquilo que nós, em teologia, chamamos de dons preternaturais; ou seja, Adão não tinha somente a natureza humana normal, mas ele tinha dons que Deus tinha dado a ele no estado paradisíaco, no estado em que ele estava antes da queda. Tecnicamente, nós usamos a palavra prapso, ou seja, lapsus; é queda. A queda, com "Q" maiúsculo, é o pecado original.
Então, o homem estava no seu estado de antes da queda, o estado prapso. Nessa situação, o homem tinha dons preternaturais, ou seja, dons que depois ele perdeu, que não faziam parte da natureza. Prer significa que vão além, que estão ao lado da natureza, que foram colocados ali para ajudar a natureza do homem, mas que não pertencem à natureza do homem: dons preternaturais, entre os quais estava a imortalidade.
A imortalidade, portanto, que nós professamos anterior ao pecado original não era algo da natureza do próprio homem, mas era um dom que tinha sido dado ao homem por Deus. Agora, até que ponto essa interpretação da Igreja combina com os dados que nós encontramos nas Sagradas Escrituras? Bom, em primeiro lugar, é necessário que a gente vá à narrativa do Livro dos Gênesis.
No Livro dos Gênesis, nós encontramos a seguinte frase, no capítulo 3, versículo 19: depois que o homem pecou, quando Deus decreta que o homem vai morrer, ele diz: "Tu és pó, e ao pó hás de voltar. " Nessa frase, nós vemos o reconhecimento de que é da natureza do próprio homem ser pó, e que, se havia imortalidade, essa imortalidade, ela deveria ser, de alguma forma, um dom de Deus. E onde é que nós encontramos esse indício de imortalidade?
É na chamada Árvore da Vida. Ou seja, havia duas árvores no Paraíso, e a gente só se lembra de uma: a árvore do bem e do mal e a Árvore da Vida. A árvore do bem e do mal foi aquela da qual Adão e Eva comeram.
Deus havia proibido que eles comessem da árvore do bem e do mal. A serpente os enganou, e eles comeram; ou seja, eles desobedeceram a Deus e quiseram, de alguma forma, tornar-se divinos sem Deus. Mas havia uma outra árvore da qual se fala pouco: é a árvore da vida, e essa árvore da vida era exatamente o símbolo dessa imortalidade que seria dada ao homem como um dom preternatural.
Nós vemos isso nas Sagradas Escrituras. Vejam o que diz o Livro dos Gênesis, capítulo 3, versículo 22: quando Deus expulsa o homem do Paraíso, ele diz assim: "Não ponha ele agora a mão na árvore da vida para dela comer e viver para sempre. " Ou seja, o homem perdeu aquele dom; agora, ele não pode.
Ele é expulso do Paraíso para que ele não coma daquela árvore. É toda uma simbologia para dizer que o homem não teria mais acesso a esse dom de Deus, que era o fruto desta árvore, e para impedir que os homens pudessem entrar no Paraíso, simbolicamente, o Livro do Gênesis coloca na porta do Paraíso os querubins. Veja o último versículo do capítulo 3: diz assim: "Tendo expulso o ser humano, postou ao Oriente do Jardim do Éden os querubins com a espada fulgurante a cintilar para guardar o caminho da árvore da vida.
" Então, os querubins estão lá para impedir que o homem entre na vida eterna. É interessante que o bem-aventurado Cardeal Newman, em um dos seus escritos, quando ele faz uma oração, uma meditação sobre a ascensão do Senhor, ele diz que o Cristo ressuscitado agora entra nos céus e, então, os querubins, colocados lá para barrar a entrada do homem, se curvam diante dele e permitem a sua entrada, a entrada do homem na vida eterna. Ou seja, nós podemos agora ter acesso à árvore da vida através de Cristo, mas não mais com o dom preternatural da imortalidade, mas com outro dom: o dom da ressurreição, que nos será dado no fim dos tempos.
Então, aqui está a conciliação do dado revelado e da realidade científica. De fato, é verdade: a natureza do homem, ela é mortal. "Tu és pó e ao pó hás de voltar.
" Mas Deus previa um modo, simbolizado aqui pela árvore da vida, através do qual o homem gozaria de uma imortalidade que não era própria da sua natureza. Agora, vejam: esta realidade de que a morte entrou no mundo pelo pecado está muito clara no Livro da Sabedoria, capítulo 2, versículo 24, que diz assim: "Que foi por inveja do diabo que entrou a morte no mundo. " Esse versículo é citado por São Paulo em Romanos, capítulo 5.
O versículo 12 estou citando aqui para concluir e finalizar esses dois versículos, para nós entendermos que o pecado é uma invenção angélica, uma invenção de um anjo. O homem foi seduzido para entrar no pecado, e que, na verdade, a morte física que nós vivemos aqui é um castigo colocado por Deus para que nós tenhamos medo de uma outra morte, a morte eterna, que é esta que importa, a morte na qual se encontra o diabo e seus demônios. Então, se Deus permitiu a entrada da morte no mundo, foi para nos castigar.
E atenção, cuidado: castigo é uma ação amorosa de Deus. Deus nos ama, nos castigando; um pai bondoso ama seus filhos castigando porque quer educá-los. E assim, Deus nos coloca a morte, o medo da morte, como um sinal, digamos assim, quase como um sacramento na carne de uma outra morte da qual nós deveríamos ter muito mais medo.
O diabo, na sua inveja, quer nos levar para esta morte, esta morte mais terrível. Por isso, ao olharmos para a morte que entrou no mundo por causa do pecado, vejamos nisso um sinal do Deus bondoso que permite cruzes e sofrimentos, porque, com isso, na sua bondade de pai, quer evitar um mal maior. Ele quer que nós tenhamos medo da morte eterna e, para isso, nos dá a morte física como sinal do nosso estado frágil.
Por isso, lutemos, lutemos para obter a vida, a vida que não passa, para um dia podermos comer do fruto saboroso da árvore da vida, que nós pregamos desde já na Eucaristia.