Olá pessoal meu nome é Guilherme peréz eu sou especialista de conteúdo e curadoria aqui na casa do saber e eu vim aqui hoje Para te convidar a se inscrever na próxima edição do clube do livro da casa que começa no dia 18 de julho às 20 horas nessa nova edição a gente vai discutir este livrinho aqui Sociedade do cansaço do biun shuan que é um Pensador sul-coreano radicado na Alemanha e quem vai guiar as discussões e os debates é o Lucas Nascimento Machado Doutor em filosofia pela USP Professor aqui da casa e inclusive tradutor de
algumas das obras do ham pro português como vocês podem ver é um livro curtinho pequeno mas não por isso menos potente menos importante porque ele dialoga com questões que a grande maioria de nós vive cotidianamente é a pressão por desempenho a produtividade incessante a necessidade de ser autêntico o tempo inteiro ainda que isso nos custe a nossa capacidade de viver esse é um resumo muito curtinho de alguns dos temas que a gente vai discutir nesse Clube por isso eu Convido você a se inscrever e a participar dessas discussões que vão abrir um pouco mais nossos
olhos na direção de uma vida um pouco mais consciente você encontra todas as informações aqui na descrição do vídeo e eu espero você lá com a nossa essa transição pro que o ran chama de uma sociedade do desempenho eh se transforma um pouco Essa maneira de produzir capital para se preservar diante da Morte né e aqui a gente pode dizer eh sem muito medo de errar que na sociedade do desempenho caracterizada Eh aí por um excesso de positividade né o trabalho o que se Visa produzir pro meio do trabalho é antes de tudo imediatamente a
si próprio eu sou Lucas Machado professor de história da filosofia pela UFRJ Doutor em filosofia pela USP eh também sou o atual diretor da associação latino-americana de Filosofia intercultural e um dos tradutores da obra do Ram no Brasil esse é o nosso curso eh para repensar o mundo humano uma introdução à filosofia do b churan e a ideia aqui é fazer uma breve apresentação da filosofia do autor na maneira com que ele pensa a nossa vida sobre o capitalismo mas também outras formas de vida possíveis né Que tipo de vida vida seria uma vida para
além das demandas do capitalismo hoje né bom então uma das principais características Aí talvez da da filosofia do R um problema com que ele tá sempre se debatendo é de tentar caracterizar o que seria Afinal a o nosso modo de existência sobre o capitalismo né De que maneira operaria a existência segundo a lógica capitalista né Esse é um dos grandes problemas com que ele se ocupa na sua filosofia eh e o nome que a gente poderia dar para esse modo de vida sobre o capitalismo de uma maneira geral seria de existência Econômica né Eh e
o r em diferentes momentos diferentes fases da sua filosofia ele tá de todo modo sempre preocupado em mostrar como essa existência Econômica opera uma das formulações e fundamentais que o han sempre usa para se referir ao capitalismo é que essa ideia de que mais capital equivale a menos morte né Que que isso significa exatamente em certo sentido o r enxerga o capitalismo e o modo de vida sobre o capitalismo basicamente como uma luta contra a morte a morte S entendida justamente como aquilo que nega a minha existência né A minha o meu modo de ser
a minha identidade enquanto indivíduo né de alguma maneira então Eh o propósito da vida sobre a vida sob um regime capitalista é preservar a si mesmo tanto quanto possível diante da Morte né é tentar prolongar a sua existência tanto quanto possível e sempre tentando mantê-la Idêntica a si própria porque o que interessa que você Preserve a si mesmo né E isso se faz isso se busca fazer pelo menos acumulando o capital Porque afinal a capital são os recursos os elementos que te permitem de alguma maneira eh mobilizar as coisas em função da sua própria existência
né Eh nesse sentido em diversos momentos da sua filosofia o r também insiste que eh economia vem de oicos né do grego oicos que significa casa e do nomia aí né que teria essa ideia de manutenção de alguma maneira manutenção da casa né mas o que que significa nesse nesse contexto a manutenção da casa significa a preservação desse espaço que é o meu espaço o espaço da minha existência onde eu levo a minha existência que é o espaço dedicado a ela e a preservação desta existência que é a minha né e e para essa manutenção
da casa justamente para essa manutenção do meu espaço o que o indivíduo so Esse regime esse modo de existência capitalista faz é acumular capital né ou seja capital como justamente essa transformação do outro de outras existências em um em uma ferramenta para dar continuidade a minha própria né Eh Essa é a grande característica comum geral que a gente poderia dizer eh por meio da qual o hanan analisa o capitalismo nas diferentes fases nos diferentes momentos da sua filosofia né Por mais que ele essa filosofia passe muitas vezes por mudanças significativas no uso que faz de
alguns vocabulários como por exemplo de negatividade de positividade de si mesmo e assim por diante eh algo perman permanece invariável no no diagnóstico do H que é essa ideia de que o ismo seja qual forma seja lá qual for a forma que ele adquire é sempre uma luta contra a morte é sempre essa busca de preservar a sua própria existência Idêntica a si mesma né manter preservar um um um senso de uma identidade própria da sua e dessa identidade da sua existência como sendo Aquilo em função de que tudo tem que girar na sua vida
né Essa autopreservação E aí de que maneiras o r Analisa Então porque a gente tá vendo o que que seria o objetivo desse modo de vida né que seria se preservar a todo custo Mas quais seriam as maneiras por meio das quais O o aquele que leva uma existência Econômica né ou simplesmente a existência Econômica de uma maneira geral eh buscaria preservar a sua própria existência né de que tipo de estratégias de que tipo de atividade ela se Valeria para fazer isso tem duas explicações diferentes do r em duas fases diferentes da sua filosofia que
correspondem também a dois momentos distintos na própria sociedade em que que o r tá analisando né em um primeiro momento nos livros antes da sociedade do cansaço que é o grande Marco aí da filosofia do H né ele considera que o principal modo da existência Econômica dar ade a si mesmo é por meio de daquilo que nesse contexto ele chama de uma certa negatividade né O que que significa essa negatividade Nesse contexto significa estabelecer limites rígidos que separam eu do outro né E que preservam o espaço da minha existência da minha identidade em relação ao
outro né ou seja é criando esse espaço esse espaço da casa justamente né lembremos lá do oicos esse espaço que é dedicado à minha existência a preservação dessa existência e a preservação da identidade dessa existência comigo mesmo eh consigo mesma né que leva aí a operar de modo a deixar do lado de fora tudo aquilo que não corresponda a essa identidade tudo aquilo que possa ameaçá-la tudo aquilo que possa formá-la comprometê-la deixá-la de lado deixar do lado de fora Portanto o outro né aquilo que se coloca como uma outra existência que poderia me descentrar da
minha própria né e fazer com que a minha própria existência se Voltasse a algo outro que não a sua própria preservação Nesse contexto Então o que o que ocorre nessa maneira de proceder da perspectiva do R é uma busca de estabelecer um limite rígido né entre o eu e o outro mantendo o outro do lado de fora e criando assim um espaço de transcendência do eu né Eh Pode parecer estranho falar isso nesse nesse contexto em que a gente tá falando capitalismo como algo que né tem uma uma evidentemente uma base material muito forte mas
a transcendência aqui se refere ao fato f de que segundo Essa maneira de proceder o que interessa pro sujeito é constituir um espaço no qual ele se relacione apenas consigo mesmo e que portanto não esteja situado no mundo como nós geralmente o compreendemos certo porque o mundo é justamente esse lugar em que nós nos relacionamos com tudo aquilo que está lá fora né com o outro com os outros objetos com as outras coisas com os outros e animais seres humanos e assim por diante né então para que seja para que se possa preservar essa identidade
consigo mesmo é necessário criar um espaço de transcendência em relação ao mundo que é o lugar onde eu me relaciono com o outro né Ou seja é preciso operar aí nesse sentido de transformar na verdade Toda a relação que se tenha com o outro em uma relação que apenas serve para prolongar para reforçar e preservar a minha própria existência e por isso mesmo não é uma relação de fato com o outro é apenas uma relação comigo mesmo por meio do outro né submetendo o outro transformando o outro em um recurso em uma ferramenta né em
algo que gira em torno da preservação da minha própria existência né Eh quando R faz esse tipo de diagnóstico da existência Econômica né antes de escrever a o Sociedade do cansaço ele tá pensando o modelo de sociedade que depois ele vai falar com todas as palavras também eh no Sociedade do cansaço mesmo né mas ele parece ter em mente principalmente o que seria o modelo da sociedade disciplinar tal como Foucault descreve né Essa sociedade em que justamente se Visa eh promover a vida em certo sentido fazer com que o indivíduo viva e seja produtivo né
mas ao estabelecer limites bastante rígidos sua forma de vida né E nessa maneira e desse mod estabeler separações dicotomias entre o normal e o patológico entre o a esfera do trabalho e a esfera do descanso uma rígida separação entre os espaços que garante aí De algum modo que se dê continuidade a esse modo de vida voltado pra produtividade né e a produtividade ela mesma como um modo de preservar essa identidade consigo mesma dessa existência Econômica né só que em um determinado momento o r vai considerar que Justamente a nossa sociedade passa por uma mudança de
paradigma né uma mudança de paradigma por meio da qual a gente passa da sociedade disciplinar para Sociedade do desempenho que é aquilo de que ele fala Justamente na sociedade do cansaço né e a partir desse momento na verdade ele vai considerar que essa existência Econômica ela não vai mais operar eh segundo essa lógica da negatividade da exclusão da Separação né de manter o outro do lado de fora eh de estabelecer limites Claros eh tanto pro outro quanto pra minha própria atividade que é o que garante que ela seja conserve digamos assim uma espécie de identidade
consigo mesmo né Eh aqui na verdade se chegará à conclusão que a maneira mais eficaz de aumentar a produtividade de maneira a Gerar Mais Capital que que que contribua portanto para lutar contra a morte para lutar contra isso que me forçaria a me descentrar da minha própria existência né é Não impor limite algum pro indivíduo é não impor limite algum pro sua pra sua atividade pra atividade por meio da qual ele produz e gera capital né é Não impor regras né Eh demarcações Claras no interior das quais ele deveria realizar essa atividade mas pelo contrário
fazer com que isso permeie todas as esferas da sua vida né E isso que o r vai vai chamar Nesse contexto justamente de eh positividade ou Mais especificamente um excesso de positividade né Eh o que que significa esse excesso de positividade aqui exatamente bom se o a negatividade era justamente essa essa atividade caracterizada por estabelecer limites estabelecer demarcações e distinções a positividade aqui ser essa maneira de proceder justamente por meio da qual muito pelo contrário se desfaz essas distinções que separam o eu do outro né é que criam espaços delimitados de atividade por exemplo e
e de identificação né a consequência disso nesse nesse contexto é que o indivíduo né condicionado por esse excesso de positividade ele busca se afirmar a a cada instante por meio de tudo que ele faz e ele não enxerga em nada algo que se oponha a essa afirmação de si mesmo e da sua própria existência e da sua própria identidade né ora a consequência aí dessa perspectiva do rã é que aqui a gente acaba tendo uma forma de Capitalismo né um um uma uma configuração da vida capitalista da existência Econômica que acaba sendo muito mais opressora
do que aquela da sociedade disciplinar que era caracterizada pela negatividade né Por quê Porque se lá nessa sociedade disciplinar se operava por meio da negatividade para se afirmar essa essa existência Econômica né ou seja estabelecendo um limite Claro entre a existência do sujeito que tenta preservar a si mesmo e tudo aquilo que se situaria fora dela e que não não prestaria não cumpriria um propósito eh não serviria de nenhuma maneira paraa preservação dessa existência essa demarcação de limites ao mesmo tempo é o que garantia que em algum lugar ainda existisse espaço para esse outro e
ainda estivesse aberto a possibilidade Para de se relacionar a isso que não tem como centro a minha própria existência e a preservação dela né é um pouco diferente quando justamente por meio da ideia de excesso de positividade a gente sequer julga que haja algum lugar no mundo alguma coisa né no na nossa vida alguma coisa lá fora que pudesse nos Colocar diante de algo que nos descentrar de nós mesmos né que não giraria em torno da nossa própria existência Porque a partir de agora na verdade a gente não vê limites que separem eu do outro
mas de tal maneira que faz é justamente que eu identifique todas as coisas como cumprindo servindo ao propósito de preservar a minha própria existência de afirmar a minha própria identidade de por meio delas eu me confirmar naquilo que eu sou né então aqui e isso justamente de novo como uma maneira de buscar triunfar sobre a morte né nessa maneira nesse sentido de que aqui a preocupação é justamente se em nenhum lugar eu encontro alguma coisa que me faça eh me relacionar eh com algo que vá além dessa preocupação com a minha própria existência né então
a consequência é que dessa maneira de um modo muito mais radical tudo se torna eh mero reflexo Melo mero espelho de mim mesmo para mim em tudo eu apenas vejo uma maneira de de Eh Ou melhor não é nem simplesmente uma maneira de continuar a minha própria existência em tudo eu realmente vejo simplesmente a prolongação da minha própria identidade no que eu faço no que eu vejo em quem eu me relaciono eu sempre só enxergo a mim mesmo só dou sentido a essas coisas por considerar que de alguma maneira elas dão continuidade à minha própria
identidade né Eh e a consequência desse modo portanto é que nesse sentido o ran insiste né nessa nessa Sociedade do excesso de positividade na verdade nós viveríamos como espécies de mortos vivos né ou seja qual que é o preço que nós temos que pagar para triunfar sobre a morte Nesse contexto é nós vivermos de um modo que exclui inteiramente a relação com o outro e que faz com que em todo lugar não seja possível nós transformarmos quem nós somos eh nós nos colocarmos diante de uma experiência transformadora que nos descentra porque em tudo a gente
sempre encontra de novo a mesma a A mesmo modo de existir a mesma preocupação com se afirmar e se afirmar através do outro e portanto a gente se encontra naquilo que o ran chama de inferno do igual né ou seja um contexto em que não mais a gente tem aí a possibilidade de se relacionar com algo que nos traga essa experiência do que nos leva além da nossa própria existência e além daquilo que gira em torno da sua própria preservação né mas pelo contrário aqui tudo tudo existe apenas em função dessa eh compulsão de sobrevivência
né uma compulsão de sobrevivência que se traduz aí justamente como essa eh nessa atividade de buscar afirmar a si mesmo buscar afirmar a sua capacidade como indivíduo eh e nisso ver a sua a sua individualidade assegurada reafirmada sua identidade eh reforçada aí né por meio da sua produtividade né por meio do do quanto você produz por meio daquilo que você faz e a apenas nessa produtividade se considerar de fato livre porque só aí você sente que você está se afirmando na sua própria existência como indivíduo e nada mais né e é por isso que na
próxima aula nós vamos discutir um pouco mais afinal o que que é o paradoxo dessa condição né do indivíduo nesse novo regime da existência Econômica digamos assim né que é Esse regime caracterizado por esse excesso de positividade por essa afirmação irrestrita sem limites de si mesmo né e que tipo de paradoxo isso engendra que tipo de problemas isso gera do ponto de vista da forma de vida que nós levamos e da exploração a que ela acaba sendo submetida então Eh para sintetizar né a gente pode dizer que pro R eh o modo de o nosso
modo de vida sobre o capitalismo né isso que a gente poderia chamar aí de existência Econômica ele é caracterizado fundamentalmente pela busca de triunfar sobre a morte né mas triunfar sobre a morte significa preservar a sua própria existência preservar-se idêntico a si mesmo e a maneira fundamental de se fazer isso vale a pena salientar aqui é justamente o trabalho certo é por meio do trabalho que de alguma maneira eu garanto os meios para minha existência para minha subsistência na verdade né Eh então esse vai ser sempre o objetivo do capitalismo de uma maneira geral gerar
Mais Capital por meio do trabalho de maneira a garantir a minha sobrevivência né a preservação da minha identidade mas os mecanismos por meio dos quais Ele vai operar para Para realizar isso se configuram se se transfiguram ao longo do tempo né no caso aí da sociedade disciplinar de acordo com r o trabalho que se faz para produzir esse Capital que que eh preserva ajuda a se preservar diante da Morte né é justamente o trabalho do negativo a gente poderia dizer esse trabalho de você de alguma maneira eh converter as coisas em algo que cumpre o
propósito que contribui pro propósito de preservar a sua existência né E aí é um trabalho nesse sentido até um pouco mais mais corriqueiro que a gente tá habituado então sei lá se você por exemplo quer precisa se aquecer no inverno você corta uma árvore e faz lenha Porque a partir disso você transforma essa outra existência em uma coisa que tá ali e que que passa a cumprir existir ali de uma maneira que serve unicamente a cumprir o propósito de garantir que se você continue existindo aí né cumprir um propósito para a sua vida né Eh
só que com a nossa essa transição pro quean chama de uma sociedade do desempenho eh se transforma um pouco Essa maneira de produzir capital para se preservar diante da Morte né e aqui a gente pode dizer sem muito medo de errar Que na sociedade do desempenho caracterizada Eh aí por um excesso de positividade né o trabalho o que se Visa produzir por meio do trabalho é antes de tudo imediatamente a si próprio né produzir essa afirmação de si mesmo que é uma coisa que a gente vê o maior exemplo disso é claro eh seriam as
redes sociais certo na rede social aquilo que você tá produzindo já é imediatamente a si mesmo uma imagem de si mesmo né um um um uma um recorte de si mesmo uma aparência de si mesmo que é aquilo por meio do qual você espera dar continuidade à sua própria existência né então se note inclusive que nesse tipo de trabalho já não se passa mais por essa mediação eh com um outro que primeiro oferece alguma resistência e que por isso mesmo me força a me relacionar com ele para que então eu con ver tem algo que
pode eh servir ao propósito de eh prolongarem minha existência né Não aqui a produtividade é uma maneira de me relacionar diretamente comigo mesmo e com a minha própria existência e de produzi-la continuamente sem que exista nada mais além disso né e por isso mesmo acaba sendo da perspectiva do R eh uma maneira uma forma de Capitalismo muito mais eficaz né em sua demanda de produtiv justamente em sua demanda de triunfar sobre a morte mas também ao mesmo tempo muito mais exploratória né que depreda em certo sentido de uma maneira muito mais profunda a existência humana
Olá eu sou o Lucas Machado eu sou atualmente Professor Substituto de história da filosofia na UFRJ Doutor em filosofia pela USP e diretor atual diretor da associação latino-americana de filosofia intercultural a alaf esse é o nosso curso de eh jornada filosófica espiritualidade nós teremos nesse curso seis aulas na primeira aula nós discutiremos o tema da filosofia como exercícios espirituais no segundo filosofia e espiritualidade na antiguidade no terceiro filosofia e espiritualidade no cristianismo na no quarto filosofia e espiritualidade na modernidade no quinto filosofia e espiritualidade na contemporaneidade e por fim no sexto e último encontro filosofia
e espiritualidade em tradições não ocidentais na nossa primeira aula eu acho que é importante esclarecer Em que sentido a gente vai estabelecer aqui essa ponte entre esses conceitos essas ideias de Filosofia e espiritualidade né Eh e a nossa principal referência para trilhar esse caminho vai ser uma obra importante do piador O que é a filosofia antiga né porque a gente acredita que essa perspectiva do ror sobre a filosof fia antiga em que ele fala dela como modo de vida nos permite eh pensar essa articulação entre filosofia e espiritualidade de uma maneira que vai além dos
tipos de oposições caricaturais que T que se tende a fazer muit À vezes nesse meio filosófico né entre espiritualidade e filosofia entre eh religião e conhecimento entre preocupações de ordem eh espiritual e preocupações de ordem filosófica né a gente acredita que aqui nessa nessa proposta do rador de pensar a filosofia como modo de vida O Elo da filosofia como a dimensão de uma prática espiritual né E na verdade até a sua não apenas na antiguidade né que é o foco do rador mas também ao longo aí da história da filosofia nos diferentes nos diferentes períodos
aí eh que a gente esteja falando da filosofia medieval da moderna ou mesmo da Contemporânea essa temática na verdade da relação entre filosofia e espiritualidade eh muito antes de tá defasada hoje se torna mais atual do que nunca né repensar as maneiras com que nós podemos conceber a filosofia quando sendo como sendo inseparável de uma dimensão espiritual de uma dimensão de transformação e de busca de conexão com um todo maior do que nós mesmos né Eh então para essa primeira aula eu queria antes de tudo explicar justamente eh O que que o adô eh nesse
livro que é a filosofia antiga e em outro livro dele também que se chama justamente exercícios espirituais e a filosofia antiga o que que ele entende por exercícios espirituais né e de que maneira ele pretende mostrar que para os antigos a filosofia era antes de tudo exercício espiritual né um conjunto de exercícios espirituais visando a autotransformação do indivíduo de tal maneira que Justamente não faz sentido pensar que haja uma separação estrita aí entre a dimensão filosófica e a dimensão espiritual muito pelo contrário eh nessa nessa origem digamos na antiguidade eh essa dimensão da da da
atividade filosófica e a dimensão da atividade espiritual são inseparáveis não são concebíveis uma sem a outra né a filosofia não é concebível sem a sua dimensão da do exercício para transformar quem nós somos e portanto do exercício espiritual né Eh bom para que a gente possa discutir ti isso então Eh com um pouco mais de profundidade cabe aqui explicar o um pouco com um pouco mais de detalhe o que o adô entende eh pela filosofia como modo de vida e como isso leva a a que ele formule esse conceito de exercícios espirituais né então o
adô no início de ambos esses livros né tanto que a filosofia antiga quanto o exercícios espirituais ele insiste que no nosso contexto contemporâneo no contexto moderno e contemporâneo né você tende a conceber a filosofia antes de tudo como um discurso né como uma modalidade de discurso e que Portanto o a ênfase aí ao se fazer e ao se ensinar filosofia estaria na sua dimensão conceitual na sua dimensão teórica se a gente quiser né Eh no sentido de que aí antes de tudo o que interessa é o tipo de trabalho com conceitos que se formula a
fim de se constituir um discurso quer seja um discurso sistemático quer seja um discurso crítico né a fim de explicar alguma coisa ou desconstruir alguma explicação sobre algo mas por isso mesmo a filosofia estaria antes de tudo nesse nessa eh formulação de conceitos a fim de elaborar um discurso para explicar ou criticar alguma coisa nesse plano meramente discursivo né nesse plano de formular um modo de se falar sobre as coisas um modo de se explicar as coisas por meio de certos conceitos mas sem que isso deva ter necessariamente algum impacto em quem nós somos né
e em como nós vivemos eh para além do que nós meramente falamos da maneira com que nós buscamos explicar as coisas nesse nível meramente conceitual né e de uma forma ou de outra a gente tende a pensar que os filósofos da antiguidade eles concebiam a filosofia da mesma maneira né como se o que interessasse fosse formular um discurso único sobre as coisas que consistisse De algum modo na filosofia daquele filósofo né então a filosofia aí seria o discurso que o filósofo elaboraria para explicar as coisas eh para dissertar sobre determinados temas acerca dos quais ele
quer fornecer uma explicação uma uma uma eh fundamentação teórica acerca desses fatos né Eh Ou se posicionar criticamente em relação a eles mas sempre fazendo isso pura e simplesmente nesse plano do discurso né da fala do conceito do que permanece apenas no nível discursivo em de como nós falamos e podemos explicar ou criticar certas explicações por meio de conceitos mas sem ter essa preocupação do que que is teria de consequência para nós enquanto sujeitos enquanto indivíduos paraa Nossa maneira de viver para como nós Agimos no nosso dia a dia porque aqui o que o que
o que interessa é o o poder explicativo desse discurso né o quanto ele seria capaz de fornecer uma explicação teórica ou uma crítica bem fundamentada a alguma explicação teórica sobre as coisas né Eh mas por isso mesmo de uma tal maneira que o interessa é pura e simplesmente a sua constituição enquanto discurso e não o impacto que ele teria nas nossas vidas na maneira com que nós vivemos as nossas vidas né o Adon insiste muito que essa concepção de filosofia se a gente a projeta pros filósofos da antiguidade ela é fatalmente anacrônica né Por quê
Porque para esses filósofos a filosofia seria antes de tudo uma um modo de de vida né uma escolha por uma certa maneira de ser e de viver que se acredita que aquela que trará a maior realização existencial né a maior Plenitude que nos nos aproximará o máximo possível de um estado eh de Sabedoria pensada aqui não como acúmulo de conhecimentos mas como essa Perfeição no modo de ser e no modo de viver né Eh e por isso mesmo nesse contexto não se trata de dizer que o discurso filosófico esse discurso conceitual argumentativo racional sistemático né
ou se não sistemático pelo menos construído de maneira lógica digamos assim né que ele não desempenhe portanto então nenhum papel na prática filosófica desses filósofos da antiguidade né pelo contrário eh em geral ele desempenha um papel essencial aí e por isso esses filósofos desenvolvem discursos filosóficos extremamente eh complexos e e sofisticados e refinados né mas se eles fazem isso não é porque a explicação seja uma finalidade em si mesma porque o discurso que seja capaz de explicar a respeito de de algum tema ou sobre as coisas seja um fim em si mesmo mas pelo contrário
o que importa nessa atividade de elaborar discursos é como isso pode contribuir para a nossa própria transformação como indivíduos e a transformação da maneira com que vivemos Que tipo de consciência nós temos de nós mesmos e do mundo né Eh e tanto que em função disso o próprio AD aponta que nos filósofos da antiguidade dificil é difícil você achar uma espécie de sistema filosófico que seria exposto de uma maneira eh única e consistente ao longo de diferentes obras do mesmo autor né como se a preocupação dele fosse constituir um único discurso filosófico eh em que
US o único sistema de conceitos que fosse o seu discurso a sua filosofia né Eh e se é tão difícil de encontrar isso nesses filósofos antigos é que Justamente a preocupação deles não era de fornecer um sistema único um discurso único que em que consistisse a sua filosofia sua explicação sobre o mundo mas antes o discurso deveria servir aí apenas como uma ferramenta para se exercitar numa certa maneira de ser que é o que esses filósofos consideram ser propriamente a filosofia como tal né a filosofia estando aí portanto na maneira com que nós vivemos e
aquilo que nós praticamos na nossa vida no nosso dia a dia e o discurso nesse sentido aparece aí como uma ferramenta útil eh eh e importante para transformar a maneira com que nós vivemos mas que precisamente porque não é o foco precisamente porque ele não é um fim em si mesmo ele é suscetível de H ele eh pode passar por transformações né alterações nos usos dos conceitos que estão sendo feitos ou do ponto de partida de eh teórico que se assume né porque aí interessa menos a Teoria em si mesma e mais que tipo de
transformação na nossa maneira de ver as coisas ela pode trazer né Que que isso tudo teria a ver então com essa questão da espiritualidade né que afinal o que a gente pretende explorar aqui no nosso curso uma das principais preocupações do do do início desses dois livros né O que é a filosofia antiga e os exercícios espirituais Ou pelo menos uma das primeiras preocupações é elucidar porque ele usa esse termo exercícios espirituais certo porque pode parecer estranho justamente para aqueles que eh estão habituados a estudar filosofia nessa perspectiva mais moderna e contemporânea segundo a qual
o o o o foco da filosofia seria esse discurso lógico sistemático racional e portanto o foco estaria aí no poder explicativo desses discursos e não tanto da sua na sua capacidade de surtir algum efeito espiritual em nós né mas vadon insiste né olha não havia nenhum outro termo melhor era preciso usar o termo espiritual aqui por quê Porque esses exercícios que os filósofos da antiguidade praticavam eles não são exercícios meramente intelectuais por exemplo que visem que visem a desenvolver o meu intelecto né o meu raciocínio por exemplo a minha habilidade de argumentação eles também não
são exercícios meramente exercícios éticos no sentido de eu me exercitar no modo correto de me comportar com as pessoas porque a questão aí não é simplesmente como eu me comporto com as pessoas mas de que maneira eu experimento o mundo né esses exercícios então o propósito deles é transformar o ser do indivíduo em sua integralidade né transformar o todo da psiquê da consciência e do ser do sujeito de modo que se corresponda a proposta de modo de vida da filosofia a qual ele adere né então a gente pode dizer aí que a escolha pro espiritual
em primeiro lugar vem desse fato que se trata aí de transformar a gente poderia dizer não apenas uma dimensão das nossas faculdades eh cognitivas né não apenas uma de uma uma uma das esferas da nossa consciência mas o todo do nosso espírito né transformar todo o nosso espírito de modo a levarmos uma vida inteiramente diferente e as consequências dessa adoção de um outro modo de vida eh se refletirem na integralidade de quem nós somos e de como nós vivemos e de que consciência nós temos de nós mesmos né por isso que ele insiste esses exercícios
eles não visam apenas a transformar eh a nosso o nosso intelecto ou a nossa eh o nosso comportamento ético mas visam transformar a nossa emoção a nossa imaginação eh inclusive também o nosso próprio corpo né os envolve também exercícios físicos Então se trata de transformar o todo do nosso espírito o todo do nosso ser de quem nós somos e de como nós compreendemos a nós mesmos e ao mundo né uma segunda razão para que se escolha esse termo de exercícios espirituais e isso vai ser importante sobretudo quando mais para frente a gente for falar da
contraposição entre o Foucault e o bioman por exemplo né é que aqui o próprio radon insiste né esses exercícios eles têm essa perspectiva de trazer pro indivíduo a consciência da sua ligação com o todo que ultrapassa né trazer essa essa experiência da sua ligação com o todo todo do seu pertencimento ao todo seu pertencimento ao Cosmos né Eh a gente pode inclusive pegar aqui uma citação do do nos exercícios espirituais e a filosofia antiga né em que ele fala lá na página 20 de fato esses exercícios correspondem a uma transformação da visão de mundo e
a uma metamorfose da personalidade a palavra espiritual permite entender bem que esses exercícios são obra não somente do pensamento mas de todo o psiquismo do indivíduo e sobretudo ela revela as verdadeiras dimensões desses exercícios graças a eles o indivíduo se eleva à Vida do Espírito objetivo Isto é recoloca na Perspectiva do todo eternizar-se ultrapassando né Eh então quando nós falarmos de espiritual aqui nesse curso né e usarmos esse termo sobretudo em conexão com esse conceito do dos exercícios espirituais é sobretudo a essa compreensão do ador de espiritual que nós estamos nos referindo né Essa dimensão
da autotransformação integral daquilo que eh corresponde ao psiquismo do indivíduo como um todo e não apenas a uma parte dele né E E que ao mesmo tempo está vinculado a esse propósito da Integração com o todo né Eh e vejam isso inclusive nos leva a um outro aspecto importante eh que a gente vai explorar ao longo desse curso que é a maneira com que o ror ele tende a classificar diferentes tipos de exercícios espirituais e o modo com que eles seriam complementares entre si né particularmente aí no capítulo 9 do que é a filosofia antiga
a gente poderia dizer de maneira muito sintética que por mais que as diferentes escolas filosóficas da antiguidade tivessem cada uma delas é claro o seu próprio eh modo de vida né Eh que estaria atrelado aí de modo correspondente a um discurso filosófico próprio a essas escolas cada escola tendo o seu próprio discurso filosófico vinculado ao seu modo de vida específico né ainda assim o adô insiste que Há certos eh H certas finalidades comuns e certos elementos comuns nos exercícios espirituais praticados por essas escolas que permitem justamente delinear essas quase que uma espécie de eh características
quase que uma espécie de características fundamentais dos exercícios espirituais como um todo praticados pelas diferentes escolas filosóficas e características fundamentais que seriam compartilhadas pelos exercícios espirituais de todas essas escolas né até porque de acordo com ador eh da mesma maneira que essas escolas compartilham eh características fundamentais no no seus exercícios espirituais elas compartilhariam e não por acaso ideais semelhantes de Sabedoria né Afinal a filosofia pensada como exercício espiritual é esse amor à sabedoria essa busca à sabedoria a sabedoria que entendida mais uma vez né Não como um acúmulo de conhecimentos teóricos mas como essa Perfeição
no ser e no viver o Saber Viver da maneira mais plena possível né Eh e e para se aproximar desse ideal de Sabedoria que muitas vezes na maior parte das vezes no contexto aí greco-romano pelo menos é colocado como um ideal inalcançável mas do qual a gente deve buscar sempre se aproximar o máximo possível se praticaria esses tipos de exercício espiritual eh que o Rad dividiria sobretudo em dois tipos né que seria os exercícios de concentração no eu e consciência de si né e os exercícios de dilatação do eu e consciência cósmica que apesar de
irem em sentidos opostos são completamente complementares né Por quê O que que seriam os exercícios de eh concentração no no eu né seriam esses exercícios por meio dos quais o indivíduo buscaria estar inteiramente consciente de si mesmo e de quem ele é a cada instante e sobretudo né no instante presente estar em inteiramente consciente daquilo que Ele Vive no instante em que ele vive e consciente de quem ele é nesse mesmo instante né do que que está acontecendo com ele né consciente de si nesse sentido de consciente de tudo aquilo que ele vive de como
ele vive isso de quem ele é ao experimentar essas coisas de como ele reage de como ele se sente de como ele se porta de como ele age de com que intensão ele age né das Sensações que ele desfruta nesse momento esses exercícios buscam então cultivar essa atenção plena no presente do daquilo que o sujeito vive né torná-lo inteiramente consciente daquilo que ele mesmo está vivendo consciente do que é a sua experiência a sua consciência a cada instante né por outro lado um exercício eh o outro outro tipo de exercício que vai no sentido oposto
mais complementar seria esse exercício de dilatação do eu e ou eh da consciência cósmica né que seriam esses exercícios por meio dos quais o sujeito buscaria se tornar consciente da sua relação com um todo maior do que ele né com algo com algo maior do que ele próprio e de que ao mesmo tempo ele faz parte né de tal maneira que ele tem essa experiência de que aquilo que ele verdadeiramente é o seu verdadeiro eu digamos assim né Eh não se encontra na sua condição individual no seu modo de existir como indivíduo limitado parcial que
não é capaz dessa perspectiva do todo né então esses são exercícios que buscam cultivar no indivíduo tornar o indivíduo capaz de adotar essa perspectiva do todo ver as coisas a partir desse olhar eh do Cosmos né a partir da perspectiva do Cosmos ver aquilo que ele passa segundo essa perspectiva desse todo ao qual ele pertence e aferir sentido à coisas segundo essa perspectiva do do seu pertencimento a esse todo que revela ele uma dimensão da sua existência mais fundamental mais verdadeira mais essencial do que a sua existência a sua condição meramente enquanto indivíduo esses exercícios
de que eu falei aqui eles são em certo sentido tem direções Opostas mas são complementares né Eh justamente porque Em ambos os casos se trata de cultivar essa atenção plena né de mim mesmo e do mundo com que eu me relaciono porque só na plena consciência se pode alcançar essa condição de plenitude de felicidade aqui pensada não como a satisfação de prazeres individuais né mas como essa condição de tranquilidade de imperturbabilidade que é o ideal de felicidade eh dos filósofos da antiguidade né Porque só nessa condição de plena consciência nós desfrutamos justamente de um estado
de Plenitude que basta a si mesmo né pro qual não falta referência a algo fora dele de tal maneira que nós possamos desfrutar inteiramente A nossa condição presente né se sentir justamente pleno porque interligado né com a nossa verdadeira natureza com aquilo que nós somos e com o nosso e com o pertencimento do que não somos a essa totalidade da realidade né daí de novo essa dimensão espiritual dos do da prática filosófica da antiguidade né então nas nossas próximas aulas a gente vai discutir um pouco de novo sobretudo baseado aí nesse livro do O que
é a filosofia antiga né mas sobretudo também nas últimas aulas eh indo um pouco para além dele e discutindo eh autores que não nos quais o adô não necessariamente se aprofunda mas outros autores que exploraram essa essa eh abordagem da filosofia como modo de vida discuta né e e tentar ver como essa Perspectiva da filosofia como modo de vida e a filosofia Então como exercícios espirituais ela teria se desdobrado aí ao longo da história não apenas eh em tradições que nós eh costumamos chamar de ocidentais né apesar de ter uma série de problemas com essa
terminologia que não cabe abordar aqui né mas também em tradições para lendas de origem greco-romana assim em que a gente vê a prática da filosofia né nessa íntima relação entre um discurso filosófico argumentativo conceitual e o propósito de uma transformação espiritual que Deva levar essa a esse ideal de felicidade esse ideal de Sabedoria como tranquilidade como completa imperturbabilidade por nos encontrarmos em estado de Plenitude Serena eu sou Lucas Machado atualmente sou Professor Substituto de história da filosofia pela UFRJ sou Doutor em filosofia pela USP eh sou o atual diretor também da associação latino-americana de filosofia
intercultural a alaf né e também atuo no momento como colaborador do projeto mapping philosophy as a way of life eh no curso de hoje né no nosso curso aqui nós vamos discutir figuras da filosofia como modo de vida né passando por diferentes figuras representativas dessa concepção da filosofia não meramente como um discurso mas como uma certa maneira de viver né ao longo de diferentes tradições não limitad aí portanto a a tradições filosóficas de origem Greco europeia mas também explorando outras tradições passando des do do Egito an até a Índia e a China eh nesse num
período mais ou menos aí semelhante né semelhante ao ao dos autores gregos que nós vamos estudar melhor dizendo né já que no caso do do Egito a gente vai tratar estudar discutir aí autores de um período significantemente mais antigo né Eh e aqui então Mais especificamente nas nossas aulas primeiro eu vou fazer para vocês uma apresentação aí do que essa concepção da filosofia como modo de vida me baseando principalmente na obra do Pier radol O que é a filosofia antiga né para na sequência falar um pouco dessas diferentes figuras eh tratando sempre em pares dentro
dessas diferentes tradições né primeiro falando no caso da filosofia egípcia do ptar tep e do amenemope né na sequência falado na filosofia grega de Sócrates e Platão eh depois na filosofia indiana de buda e nagarjuna né e concluir aí falando na filosofia chinesa de laut schan né Eh então vamos começar primeiramente Então vamos discutir essa concepção de filosofia como modo de vida que a princípio nos leva a questionar um pouco aquilo que é a nossa compreensão corrente hoje em dia do que seria a filosofia né porque Como o próprio Rad observa no seu livro O
que é a filosofia antiga né hoje em dia nos meios universitários pelo menos se tende a ensinar a filosofia como se se tratasse aí de ensinar os sistemas dos filósofos né então você ent você ensina o que seria o sistema filosófico de Hegel o que seria o sistema filosófico eh de Kant o que seria o sistema filosófico do satre né Ou seja a gente pensa a filosofia em termos dos discursos filosóficos dos seus grandes autores né que discursos filosóficos Eles teriam desenvolvido para falar acerca de quais temas e a ênfase aí portanto recairia na filosofia
compreendida como uma espécie de discurso eh quer sistemático quer crítico Mas então entendida portanto eh prioritariamente nessa sua dimensão conceitual né dos conceitos que os filósofos usam formulam e articulam entre si para elaborar um certo discurso filosófico acerca dos temas que eles são centrais né bom o Rad insiste que se a gente olha pra Filosofia na antiguidade aí e na antiguidade greco-romana mesmo né parece haver uma certa um certo problema em pensar que esses filósofos desse período eles mesmos compreendessem a filosofia dessa forma né né como se o principal nas suas filosofias estivesse no discurso
filosófico que eles elaboraram e que portanto a sua filosofia fosse consistisse numa espécie de discurso filosófico único e consistente e coerente articulado né de maneira sistemática entre si né de tal maneira que a filosofia do desse de um determinado filósofo seria esse seu discurso filosófico que deveria ser portanto uma espécie de unidade sistemática e coerente né eh isso se apresentaria aí como um problema essa compreensão de filosofia quando a gente olha para esses filósofos antigos Porque alguns dos algumas das principais figuras dessa filosofia feita na antiguidade não tenderiam a princípio a apresentar um discurso único
e coerente que a gente pudesse nomear da sua filosofia um dos principais exemplos que o rador USA Nesse contexto é justamente o do Platão que teria escrito muitos diálogos mas nos seus diálogos você não encontraria formulada expressamente o que seria a perspectiva do Platão acerca de um determinado tema mas pelo contrário a gente sempre encontra a perspectiva de diferentes personagens eh tendo aí o Sócrates da maior parte das vezes como a figura de destaque nos diálogos de modo que nos leva a assumir que a posição do Platão eh corresponderia tenderia a corresponder à posição expressa
pelo próprio Sócrates eh mas mesmo assim de uma maneira que não tem como ter certeza se ali o o que seria a posição do Platão acerca desses temas e mais aindaa eh parece que entre diferentes diálogos haveria uma grande inconsistência dos discursos que são articulados ali para dissertar sobre certos temas né de tal maneira que os pontos de partida que cada diálogo toma nem sempre são os mesmos Ou nem sempre são consistentes entre si né então embora uma obra um diálogo Platônico ela seja internamente consistente né Nem sempre se encontraria essa consistência externa com as
outras obras eh e isso suscitaria um problema porque a gente poderia pensar então horas eh será então que se esses filósofos da antiguidade eles não for forma um discurso único e coerente e sistemático ao longo das suas diferentes obras que isso significaria que eles são então maus filósofos que eles não fazem bem filosofia né ou será que filosofia para eles significava alguma outra coisa que para eles aquilo que eles compreendiam como a sua principal atividade filosófica não estava na formulação de um discurso único e coerente mas na verdade o uso que eles fazem do discurso
é meramente instrumental né visando alguma outra coisa que seria o cerne da sua compreensão do que seria fazer filosofia né É isso que o Rad defende quando ele fala da filosofia como modo de vida justamente o que ele está querendo dizer aí é que para os filósofos antigos né Eh desis pelo menos do de Sócrates e de Platão ou do retrato que Sócrates faz de Platão desculpa ou do retrato que Platão faz de Sócrates ao menos né a filosofia seria Concebida não como uma espécie de discurso sistemático ou crítico conceitual né a ênfase aí no
que seria a filosofia não estaria na dimensão conceitual ou discursiva da mesma mas antes de tudo na sua prática como um certo modo de vida como uma certa maneira de ser e de eh viver né a filosofia seria antes de tudo algo que se experimenta na sua maneira de ser na maneira com que se vive com que se age com que se experimenta as coisas na sua própria vida né Eh buscando viver de um determinado modo buscando ser de um determinado modo e por isso é algo que deve ser experimentado em nós mesmos no nosso
próprio ser né uma certa maneira de ser que embora se relacione como nós vamos ver também nas nossas aulas aqui eh de uma maneira indissociável com o discurso filosófico não pode pode ser reduzido a esse porque na verdade o discurso filosófico aí é antes de tudo uma ferramenta um exercício espiritual que deve servir para transformar contribuir paraa transformação do nosso modo de ser e do nosso modo de viver Mas o que importa aqui antes de tudo é essa transformação é que a gente seja de uma determinada maneira e o discurso portanto aí se apresenta como
uma ferramenta para alcançar Essa maneira de ser que em última instância na maior parte da às vezes é considerada como algo que nunca pode ser abarcado inteiramente pelo discurso filosófico né daí a importância de tratá-lo apenas como uma ferramenta isso que explicaria de acordo com essa perspectiva as aparentes inconsistências entre os diferentes diálogos platônicos por exemplo né Porque aí Justamente a preocupação do Platão não é construir um único sistema teórico conceitual que dê conta de explicar tudo né ele não tá preocupado em construir uma teoria consistente sobretudo ele tá preocupado em apresentar uma certa maneira
de viver por meio desse diálogo e contribuir para que por meio de cada diálogo diferente não importa qual seja o tema e não importa qual seja o ponto de partida teórico que se tome se seja capaz de identificar esse modo de vida o que em que consiste o modo de vida filosófico e ser encorajado exortado a praticá-lo aqui justamente é importante ressaltar né porque quando a gente fala então que a filosofia seria o modo de vida antes de tudo PR os antigos e não o discurso filosófico isso justamente não tem a consequência de pensar que
o discurso filosófico é inteiramente irrelevante né como se para esses filósofos eles estivessem falando então não Então não vamos não vamos buscar discutir sobre as coisas formular teorias sobre as coisas ou debater formular argumentos eh tudo isso é uma perda de tempo né de fato algumas vezes chega a ser quase o caso com certas modos de vida filosófico filosóficos da antiguidade né como por exemplo dos cínicos eh mas não é necessariamente o caso né em geral pelo contrário o que você encontra aí é que há uma função indispensável do discurso filosófico para o modo de
vida filosófico né é preciso praticar esse discurso filosófico mas como uma ferramenta que deve sempre levar para além de si mesmo que não deve né um um um um um discurso que Deve nos levar a não ficar apenas na teoria mas efetivamente a termos uma experiência transformadora que nos leve a mudar a maneira com que vivemos como nós Agimos no nosso dia a dia como nós compreendemos a nós mesmos de que maneira nós experimentamos a nós mesmos e ao mundo né no nosso dia a dia de que maneira nós experimentamos o nosso próprio ser nesse
dia dia a dia né Eh e essa dimensão da experiência dessa experiência de uma outra maneira de ser é aquilo para que esse discurso deve antes de tudo apontar E servir né Portanto ele não teria valor por si mesmo né então a gente não deve se apegar a nenhuma formulação discursiva específica nenhuma teoria específica porque o que importa aí não é a teoria em si Mas para onde ela aponta para que experiência para Que tipo de experiência do mundo de si mesmo de ser de uma certa maneira de ser ela aponta e de que maneira
ela contribui para se chegar essa experiência de ser né Eh isso seria verdade da perspectiva do ror mesmo dos filósofos que a gente poderia considerar os mais teóricos hoje como Aristóteles por exemplo né Porque embora aí de fato se tenha uma preocupação de construir teorias e teorias que se considera de fato capazes de explicar os fenômenos naturais por exemplo eh o mais importante nessas teorias justamente nunca fica apenas na dimensão do mero discurso da mera palavra mas sim deve implicar uma experiência das próprias coisas experimentar as próprias coisas por si mesmas de uma maneira que
necessariamente sempre leva para além da mera dimensão eh eh discurs ao menos entendida aqui como essa dimensão descritiva conceitual da linguagem né Eh bom mas aí cabe perguntar né se a filosofia é um modo de vida que modo de vida ela é né e a primeira indicação que a gente pode tirar disso se baseando Justamente na palavra filosofia né Eh tal como a o adô inclusive apresenta aí eh no no capítulo 4ro do livro que é a filosofia antiga né em que ele tá discutindo o banquete de do Platão aí que a gente vê o
uso que o Platão Faria dessa etimologia da palavra filosofia né amor a sabedoria então a vida filosófica o modo de vida filosófico é esse que busca a sabedoria por amar a sabedoria busca a sabedoria né mas a gente como assim como aqui a gente tá apresentando uma outra concepção de filosofia né do que que seria a filosofia então não como um um um discurso eh simplesmente mas antes de tudo como um modo de vida ligado a um certo discurso filosófico né que se que que manteria uma relação em alguma medida de correspondência com esse modo
de vida né pra gente entender o que é esse modo de vida a gente precisa também formular a nossa própria compreensão do que é sabedoria né do que que é a Sofia que o filósofo busca né e aqui eu acho que uma citação do do Rad é particularmente emblemática do tipo de compreensão de Sofia que ele quer indicar que estaria por trás eh dessa busca do filósofo né Eh na página 39 do que é a filosofia antiga o rador fala para definir Sofia os intérpretes modernos sempre hesitam entre a noção de saber e a de
Sabedoria o sofos é aquele que sabe muitas coisas que viu muitas coisas que Viajou muito ou que sabe se conduzir bem na vida e é feliz será sempre necessário repetir tudo isso no curso desta obra as duas noções estão longe de excluir-se o verdadeiro saber é Finalmente um saber fazer e o verdadeiro saber fazer é um saber fazer o bem ou seja a verdadeira sabedoria não está no acúmulo de conhecimentos teóricos de coisas Acerca das quais Você sabe falar está num certo saber fazer ou seja saber ser de um determinada maneira que é justamente saber
fazer o bem ou seja saber fazer aquilo que é o melhor pra vida saber viver bem né Essa é a verdadeira sabedoria que importa alcançar a de saber como viver bem como viver de maneira plena porque a questão aí é como ser de modo pleno o ponto de vista é sempre como nós podemos ser de um modo pleno e e conhecer o que é ser de um modo pleno justamente porque nós nos aproximamos desse mesmo estado de ser essa mesma condição de de vida né Eh e podemos experimentar isso de alguma maneira ou nos aproximar
da experiência disso de alguma maneira naquilo que nós mesmos vivenciamos naquilo que nós mesmos fazemos naquilo que nós mesmos nos tornamos né E quem quiser estudar eh com mais profundidade essa abordagem da filosofia como modo de vida né Eh diferentes maneiras com que se pode propor o estudo da filosofia e da história da filosofia A partir dessa Perspectiva da filosofia como modo de vida né também tem esse essa excelente obra aqui de filosofia como modo de vida ensaios escolhidos organizado pela Marta Faustino e pelo Federico testa é esse tipo de Sabedoria que interessa aqui para
esses filósofos praticar e praticar por meio do seu discurso filosófico né usando o discurso como um exercício espiritual e espiritual aqui eh da maneira com que eu adou usa esse termo ele deixa bastante claro né não tem nada a ver com ser necessariamente religioso mas tem a ver com esse sentido da transformação integral do meu ser da minha mente da minha psiquê não apenas o meu intelecto mas a minha imaginação minhas minha emoção né eh todas as dimensões cognitivas do meu ser e também físicas corporais É necessário uma transformação integral porque eh se busca alcançar
uma experiência que se só pode se dar e que só é acessível a partir do ponto do momento em que eu me torno de uma determinada maneira que eu me transformo de algum modo né e é por isso que aqui o que interessa é a prática de exercícios espirituais que me permitam essa transformação e por isso o Rad também outra maneira dele definir a filosofia na antiguidade é como exercícios espirituais né Eh e um dos exercícios espirituais fundamentais paraa filosofia antiga como modo de vida é de fato o próprio discurso filosófico né Eh oras mas
então é importante ressaltar e a gente vai ver isso melhor nas próximas aulas né que está vinculado a esse ideal de Sabedoria portanto como como algo que é um saber viver uma certa concepção de plenitude do ser de perfeição do ser né a sabedoria é um estado de perfeição e de perfeição eh não simplesmente no discurso embora sem dúvida também esteja relacionado a isso como a gente vai ver mas Perfeição no modo de ser justamente né o sábio é justamente aquele que é perfeito na sua maneira de ser que é perfeito na sua maneira de
viver viver de porque justamente o que define o que se é nesse caso é como se vive então sábio para para ser perfeito no seu ser ele é perfeito no seu modo de viver né isso que nos diz quem ele é e o que interessa é alcançar essa perfeição do ser que aí é associada portanto a uma Plenitude no modo de ser né que seria a verdadeira felicidade a felicidade quei experimentada como essa plenitude da na maneira com que eu sou na maneira com que eu vivo na maneira como eu experimento as coisas que é
recorrentemente portanto dessa perspectiva associada com uma condição de tranquilidade de serenidade né um estado de não perturbação de não ser afetado por nada justamente por Se encontrar num estado de plenitude de plena satisfação de plena autos satisfação na qual Por isso mesmo nada pode me abalar na qual Por isso mesmo eu permaneço nesse estado eh consistente consigo mesmo né encerrado em si mesmo que basta a si mesmo pleno nesse sentido né bom diante disso nesse nosso curso como eu disse eh o modo de vida filosófico ele que busca a sabedoria como esse ideal de Plenitude
próprio radon insiste que as diferentes escolas filosóficas da antiguidade vão ter a sua própria concepção de quais são os exercícios espirituais apropriados para alcançar ou ou alcançar talvez na verdade até um termo muito forte né porque a sabedoria aí é postulada sempre como uma esp ou quase sempre como uma espécie de ideal inalcançável do qual a gente busca sempre se aproximar tanto quanto possível né mas de todo modo os exercícios espirituais que cada escola cons eh considera apropriado para se aproximar desse estado de Sabedoria eh muitas vezes tem certas variações entre si de acordo com
a perspectiva de cada escola né E também varia a o tipo de relação que essas escolas concebem entre o modo de vida filosófico e o discurso filosófico né qual que seria o papel do discurso filosófico se algum no interior desse modo de vida que busca a sabedoria e nesse nosso curso eu achei que seria interessante a gente começar discutindo dessa Perspectiva da filosofia como modo de vida né nas quais se concebe essa relação entre modo de vida e discurso filosófico justamente desse modo em que o discurso é uma ferramenta importante é um instrumento importante mas
na medida em que ele sempre deve apontar para algo de uma ordem inteiramente distinta de si próprio né para algo de uma ordem de uma experiência de itude ou de uma certa maneira de ser e de viver de um certo saber que nunca pode ser colocado inteiramente eh por meio da linguagem né e portanto eh o uso do discurso filosófico aí deve justamente inclusive apontar paraa própria insuficiência da linguagem para nos dar acesso a essa experiência né e e por meio dessa indicação da da linguag que a linguagem faz da sua própria insuficiência né nos
levar a essa experiência ao reconhecimento né dessa experiência de uma outra ordem né dessa dessa dessa desse saber que é de uma outra ordem inteiramente distinta do que é Essa ordem do que permanece no plano discursivo no plano teórico né eh e aí é importante notar de uma maneira que pode parecer a princípio até quase paradoxal mas que é uma das riquezas desse tipo de figura da filosofia no modo de vida né isso muitas vezes implica que o discurso muito antes de ser uma atividade secundária nesse modo de vida é uma atividade primária que inclusive
que chega a caracterizar de muitas maneiras o tipo de prática que essa vida se dedica né um certo uso do discurso mas um uso que é fundamental precisamente na medida em que sempre aponta para além dele próprio né sempre deve aprontar para uma dimensão para além do discurso que ao mesmo tempo a gente alcança a usar o discurso como ferramenta a usar o discurso como uma escata né Eh então para esclarecer também a título de conclusão né como a gente vai falar aqui do dessa ideia das figuras da filosofia como modo de vida por trazer
essa ideia das figuras né o próprio Francis Wolf tem um tem um livro muito interessante chamado pensar com os antigos né em que ele fala de figuras ali ele está falando de figuras de pensamento no sentido de de pensar certas relações entre certas formas de pensamento que são padrões que se repetiriam ao longo da história né não seriam meramente históricos no sentido de situados apenas em um contexto específico mas certas formas de pensar que pela sua articulação pelos tipos de oposições possíveis eh com outras figuras de pensamento a gente veria o padrão esse esses padrões
se repetirem na história e por isso permanecerem relevantes para nós para nós pensarmos nossas questões hoje né Eh aqui eu estou falando de figuras Não exatamente do pensamento né porque a ênfase aqui de novo não é na filosofia com mero discurso mas figuras da filosofia como modo de vida nesse sentido justamente de que me parece que se tratam aqui de figuras que apontam para certos padrões gerais da relação de de de combinações possíveis entre modo de vida filosófico e discurso filosófico e que a gente encontra esses padrões distintos representados por diferentes autores ao longo da
história né E aqui o padrão que a gente tá explorando Como eu disse ou o tipo de figura que a gente tá explorando seria esse e essa figura né na Qual o discurso tem um papel indispensável mas sempre nessa função de apontar para além de si mesmo para apontar de um modo de vida filos um modo de vida filosófico que é sempre o Central é sempre Onde se encontra a verdade né Eh o o que o a a e e a experiência de fato da Verdade né E que portanto aí o discurso deve sempre eh
cumprir esse papel de uma ferramenta provisória que a gente sempre trabalha que a gente sempre aprimora mas de tal maneira que o seu papel é sempre subordinado a essa necessidade de apontar algo para além dele próprio né esse tipo de figura da relação entre modo de vida filosófico e discurso filosófico que a gente vai discutir nesse curso eu espero que vocês gostem