Você já se perguntou porque o seu polegar continua deslizando pela tela mesmo quando seu cérebro já desligou há duas horas atrás? Porque nós, a geração com mais acesso à diversão, terapia e yoga e frases de Einstein que nunca foram ditas por ele, acordamos todos os dias com a sensação de que estamos atrasados para uma vida que nem escolhemos viver. Porque a liberdade absoluta de ser quem você quiser se parece tanto com uma prisão de segurança máxima, onde a porta tá aberta, mas ninguém tem força nas pernas para poder sair.
Você acha que tá segurando um telefone, mas na verdade você tá segurando o seu próprio tubo de ensaio. Sejam muito bem-vindos à nossa distopia particular. Eu me chamo Felipe e esse é o Piradigmas.
Hoje nós vamos secar por que que a sua vida aparece tanto com um episódio mal escrito de Black Mirror, dirigido por algum algoritmo depressivo. Mas antes da gente mergulhar nesse abismo, já deixa seu like, se inscreve no canal para incentivar o YouTube a divulgar mais essa forma de pensar com críticas e questionamento. É uma ação rápida, indolor e, sinceramente, a única escolha livre que você vai ter nos próximos 30 minutos.
Então, aproveita. Ah, e para quem quiser se aprofundar mais na crise existencial, mas com uma propriedade acadêmica, todos os livros que eu usei para montar esse Frankstein filosófico de Huxley, Balman, a Bin Sherhan, tá listado aqui na descrição. Vá lá, cultive seu intelecto enquanto o mundo acaba.
Mas vamos falar de Al Huxley. Em 1932, esse britânico genial e assustador escreveu Admirável Mundo Novo. No livro não existe parto, não existe mãe, não existe pai.
OK, na boa, economizaria bilhões em terapia familiar e presente dia dos pais. As pessoas são decantadas em garrafas no centro de incubação e condicionamento de Londres. Elas são desenhadas geneticamente para serem alfas, os líderes intelectuais, os betas, gamas ou então os pobres y criados com menos oxigênio no cérebro, só para apertar parafuso e ficarem felizes com isso.
Isso é horrível, né? uma sociedade de castas biológicas, onde o destino é traçado antes do primeiro suspiro. Hoje não temos o centro de incubação de Londres, mas temos o centro de incubação do Vale do Silício.
Não somos gerados em garrafas de vidro, mas passamos a vida inteira encapsulados em retângulo de vidro temperado e telas sensíveis ao toque. O seu quarto escuro, iluminado apenas pelo neon frio do seu smartphone, é a nova proveta. E ali deitado numa posição fetal, você tá sendo alimentado, não com nutrientes químicos para definir sua altura ou força física, mas com dados.
Um cordão umbilical invisível de Wi-Fi bombeando terabates de formação inútil direto pro seu córtex e pra frontal. Pensa aqui comigo rapidão. Huxley imaginou a hipnopédia.
Era uma técnica onde as crianças ouviam gravações enquanto dormiam. Uma voz suave, repetindo milhares de vezes: "Eu sou feliz por ser um beta. Eu não quero ser um alfa.
Trabalhar demais cansa. Consumir é bom. Jogar fora é melhor do que consertar.
" Isso entrava na cabeça da criança até virar uma verdade absoluta. Só um parênteses bem rapidão aqui. É impressionante como uma distopia cruel da ficção virou um mantra de uma comunidade hardpill para validar comportamentos terrivelmente destrutíveis.
estão enchendo a internet de ipinopédia para vender cursos, para destruir autoestima de pessoas e transformar mulheres em objetos. Agora que eu já desabafei, vamos voltar pro vídeo. Volto pros nossos dias atuais.
Você acha que a hipnopédia é ficção? Ah, meu caro, o que você acha que são os stories do Instagram? O que você acha que é aquele influenciador com dente branco que parece Mentos, cara cheio de harmonização facial e um terno tão apertado que se espiar rasga gritando que você precisa acordar às 5 da manhã, tomar banho gelado, investir em criptomoedas lastreada em capivara.
Isso é ipinopédia moderna. Nós não dormimos, mas com gravações embaixo do travesseiro. Nós acordamos com elas.
Somos bombardeados por vozes repetitivas que sussurram ou então gritam em caixa alta. Quem devam ser? Seja magro, mas se aceite como você é.
Trabalhe enquanto eles dormem, mas tenha saúde mental. Viaje para as Maldivas, mas economize no cafezinho. É o condicionamento paviloviano mais sofisticado da história.
O algoritmo não quer saber se você é um alfa ou se você é um Y. Ele quer saber o que te segura na tela. Se for ódio, ele te dá mais ódio.
Se for bunda, ele vai te dar muita bunda. Se for gatinho fofo tocando piano, ele vai te dar uma orquestra felina inteira. A grande sacada de Huxley e o que diferencia ele de George Orrow em 1984 é que ele percebeu que não era necessário um ditador de bigode nos torturando para nos controlar.
Huxley preview que nós amaríamos a nossa própria escravidão. Nós defenderíamos as grades da nossa prisão, porque elas são feitas de entretenimento, conforto e distração. No centro de condicionamento moderno, a dor foi banida, o Ted foi criminalizado.
Se você tem 3 segundos de silêncio na fila do caixa, a sua mão vai automaticamente no seu bolso buscar a sua dose de dopamina. Nós criamos uma sociedade de viciados e novidade, treinados como ratos em laboratório para apertar o botão vermelho em troca de um like, de um match ou de uma validação efêmera. Nós somos livres para escolher qualquer coisa, desde que essa coisa esteja no catálogo do algoritmo.
E é aqui que a coisa fica líquida. Porque se em Huxley as caixas eram sólidas, um Y seria sempre um Y. No nosso mundo, a tortura é que nada mais é sólido.
Você pode ser tudo. Você tem que ser tudo. Essa falta de forma, essa obrigação de se inventar a cada atualização da página, criou um novo tipo de inferno.
Um inferno onde o chão tá sempre derretendo debaixo dos nossos pés. A nossa estrela de hoje é esse pensador, professor, filósofo polonês Z Montibalman. Foi ele quem olhou para essa bagunça e deu um nome.
Ele percebeu que o problema não é mais a rigidez do concreto, mas a incerteza da água. Nós saímos da proveta de Huxley direto pro oceano aberto sem colete salva vida. E é sobre isso, sobre esse medo paralisante se afogar em tantas possibilidades que nós precisamos conversar agora.
Então, segure na minha mão, ou melhor, segura firme no seu celular, porque a correnteza vai ficar forte a partir de agora. Imagina como era o mundo do seu avô. Não, sério, na boa, faz esse esforço.
Pensa naquela sala de está antiga, aquele sofá que pesava duas toneladas, todo feito de madeira de lei que hoje em dia seria crime ambiental cortar. Aquela estante que nunca mudou de lugar em 40 anos. O emprego na fábrica ou no escritório público, onde ele entrou com 20 anos de idade e saiu de lá com o relógio de ouro e reumatismo aos 60 anos.
Aquele mundo era pesado, era previsível, era sólido. As coisas eram feitas para adorar, inclusive os casamentos infelizes e os traumas de infância. Você sabia onde nascia?
O que faria da vida e onde seria enterrado? Era uma prisão, talvez. Mas meu caro, minha cara, era uma prisão com alicces firmes.
Você podia encostar na parede sem medo dela cair, mas aí as paredes viraram fino dry wall e o gelo começou a derreter. E nesse momento, entre cena, um sonzinho polonês de cabelos brancos e um cachimbo no canto da boca com cara de quem viu o fim do mundo e anotou tudo num caderninho. Zigmund Bman.
Ele olhou pro nosso tempo e percebeu que a gente não vive mais em castelos de pedra. Nós vivemos numa corrideira. Ele odiava o termo pós-modernidade, então ele resolveu chamar isso de modernidade líquida.
O conceito é brilhante e assusta. Líquidos, diferentes de sólidos, não mantém a forma. Eles se adaptam ao recipiente.
E o que acontece com a gente? A gente virou a água. Se o mercado pede que você seja criativo, você vira criativo.
Se o Tinder pede que você seja desapegado, ah, você virou o rei do sigilo. Se o Likedin pede que você seja um líder resiliente com mindset de crescimento quântico, você veste essa fantasia ridícula e sorri pra foto. Nós fluímos, escorremos pelas frestas, nada dura.
O emprego é temporário ou como a gente gosta de chamar hoje em dia, o emprego é um projeto. A moda muda a cada 15 dias na vitrine da Shine. E a sua identidade é um perfil editável que você pode apagar e reescrever toda vez que se te vergonha de quem você foi na semana passada.
Diferente do 1974, Georgio Aura, onde o grande medo era a bota pisando no rosto, a dor física, a tortura na sala 101. No nosso admirável mundo novo, o nosso maior medo não é a dor é a fixidez. Nós temos pavor de coisas que não mudam, pavor de tédio, pavor de compromisso, pavor de assinar o contrato de fidelidade internet de 12 meses, porque vai que eu mudo pra Tailândia a semana que vem para virar um nômade digital, mesmo que você não tenha dinheiro nem para ir pra Praia Grande.
Nós usamos a fluidez como escudo e é o mecanismo de defesa perfeito, né? Se eu não sou nada definitivo, então nada pode me definir. Se eu não me apego a nada, nada pode ser tirado de mim.
Se eu sou líquido, o golpe passa através de mim, certo? Errado. O problema de ser líquido é que líquido precisa de um balde para não virar poça no chão.
E na falta de instituições sólidas, na falta de, sei lá, de religião, de comunidade, de tradição, nós ficamos tentados a nos segurar uns nos outros. Mas tentar se segurar em outra pessoa líquida é que nem tentar subir uma cachoeira nado. Vamos pensar nas relações de trabalho.
Por exemplo, antigamente o cara era torneiro mecânico sólido e hoje em dia o cara é CEO de si mesmo. O que traduzindo do Fari Limer pro português significa que ele é um PJ precarizado, sem férias, sem 13º, que trabalha no feriado porque o game não para. A gente romantizou a instabilidade, chamamos a falta de segurança de liberdade geográfica.
Cham solidão de solitude produtiva. E aí quando a ansiedade bate e ela bate pontual igual um relógio suíço, a gente corre para onde? Pra mudança.
Corta o cabelo, muda o treino, troca de namorada, compra um curso novo. Porque a gente acredita piamente que a felicidade tá na próxima versão de nós mesmos, a versão 2. 0, a versão 3.
5. A gente vive em constante atualização de software, mas o hardware, o hardware humano, esse pedaço de carne que precisa de abraço e segurança, continua o mesmo de 5000 anos atrás. E ele tá entrando num curto circuito.
Huxley previu isso com o soma e a diversão constante. Se você mantiver a água agitada, ninguém consegue ver o fundo, ninguém vê o vazio. A modernidade líquida é essa agitação constante, é o medo paralisante de parar.
Porque se a gente parar, a gente se solidifica. Se a gente se solidificar a gente tem que arcar com as consequências de ser alguém de verdade. Nós desaprendemos a arte de construir.
Construir demora. Construir exige tijolo, cimento, tempo de secagem. É chato, é lento, é sólido.
Nós preferimos acampar. Monta a barraca, tira foto pro Instagram, desmonta e vai embora antes comece a chover. E aqui chegamos no coração da tragédia.
Trocamos a segurança da rocha pela liberdade da correnteza, mas esquecemos que na correnteza ninguém fica em pé. Você tá livre? Sim, livre para flutuar, livre para ir aonde a maré quiser te levar.
Mas tenta ficar o pé no chão, tenta dizer: "Ah, eu fico aqui, custa o que custar". A correnteza te derruba, o mundo líquido te empurra e você se vê arrastado, exausto, tentando nadar num oceano de possibilidades infinitas, onde tudo é permitido e nada realmente importa. E você sabe o que que é pior do que ficar deriva?
É você estar a deriva, morrendo de fome, cercado para banquete que você não consegue comer. Porque quando tudo é possível, escolher uma única coisa e se torna um ato de tortura. Se nada é sólido, como é que a gente escolhe onde pisar?
Esse é o restaurante mais sádico do universo, onde o cardápio tem infinitas páginas e o garçom é sua própria ansiedade. Você acabou de ser jogado no oceano da modernidade líquida, livre, leve, solto e morrendo de medo. Agora, a primeira ordem do dia quando você se depara com a liberdade total é escolher.
E não é escolher entre arroz e feijão, não. É escolher a sua vida inteira. 24 horas por dia, 7 dias por semana.
O seu novo restaurante favorito se chama O cardápio do Inferno. E o garçon é um psicólogo estadounidense chamado Barry Schwartz. Ele escreveu um livro chamado O paradoxo da escolha, que é basicamente o manual de instrução de como a liberdade pode estragar sua vida.
A teoria dele é simples, mas tem um efeito de um soco no estômago. Quanto mais opções, menos satisfação. Vamos pensar na Netflix como nosso grande laboratório sociológico.
Você chega sexta-feira à noite exausto e você só quer a paz de assistir um filme ruim e ir dormir. Então você abre o aplicativo e duas horas depois você tá numa crise de ansiedade pós-traumática, paralisado. A sinopse do filme coreano é boa, mas o documentário sobre a crise climática é mais relevante.
E se a série turca de 150 episódios que todo mundo tá vendo for a chave da felicidade? Aí no afinal de contas você não assiste nada, porque a ansiedade da mudança te consome. Você gasta 80% do tempo escolhendo e 20% do tempo assistindo e mesmo assim assistindo com um celular na mão, consumindo outra coisa só para compensar a mais escolha que você fez.
O que acontece é que a cada escolha que você faz carrega o peso da oportunidade perdida. Se você escolhe A, você tá ativamente dizendo não pro B, C, D, E F e todo o restante do alfabeto que parecia minimamente interessante. A vida um grito de renúncia perpétuo e pior, se você escolhe o filme Ah, e ele é chato, a culpa é totalmente sua.
Não é do cinema sensível, não é do centro de condicionamento, é sua. Você falhou na sua escolha e aí a gente transfere essa falha do sistema pra vida real. E o resultado é a liquidez desenfreada.
Se a escolha é infinita, então nada pode ser definitivo. A gente não namora, a gente faz teste drive em pessoas. Os aplicativos de relacionamento são catálogos humanos onde você gasta 30 segundos para decidir se a pessoa que levou 9 meses para ser gerada tem uma vibe boa o suficiente pro encontro de 45 minutos.
Se a pessoa demonstra um defeito, um defeito minúsculo, tipo gostar de sertanejo universitário ou questionar a existência do seu coach de investimento, o que que a gente faz? Não conserta, não dialoga, a gente descarta, a gente bloqueia. Depois é só voltar pro catálogo.
A vida ficou rasa porque mergulhar fundo exige fôlego e o fôlego é o comprometimento, é tempo, é aturar a parte chata, a parte que não é os melhores momentos. O intelecto raso, as relações rasas, os hobbies rasos, tudo isso é nossa defesa contra o paradoxo da escolha. Se eu não mergulhar fundo, a perda não dói tanto quando eu tiver que trocar o lago inteiro.
Somos a geração do melhor feito do que perfeito, que se transformou na geração do melhor descartado do que comprometido. A gente não busca a melhor coisa, a gente busca a mais rápida de ser trocada. Essa obsessão e manter todas as portas abertas, porque vai que aparece algo melhor, né?
Ela não nos torna livres, ela nos transforma em eternamente incompletos. A gente virou o cliente mais chato do universo. O cara que senta no cardápio do inferno, passa duas horas foliando um menu quilométrico, faz o garçom esperar e no final fala assim para ele: "Aqui campeão, eu não vou pedir nada não.
O que você me sugere de novo que não tava aqui ontem? Ah, eu só vou tomar essa água aqui, por favor. Mas traga ela no copo descartável, porque eu não sei se vou querer ficar aqui muito tempo.
Nós rejeitamos o sólido, o esforço, a dedicação e a permanência em nome do líquido, a facilidade, a troca e a eterna possibilidade. Mas o preço dessa liberdade toda é alto. É a culpa de que mesmo com infinitas opções, você tá infeliz e essa culpa te obriga a buscar a próxima escolha, o próximo produto, a próxima visão de si mesmo.
E aí que o buraco da ansiedade fica mais fundo, porque se a culpa do fracasso é inteiramente sua, porque você pode ter escolhido o filme certo, emprego certo, parceiro certo, então você tem uma obrigação terrível. Você precisa se transformar na máquina de escolha perfeita. Você precisa se transformar no empresário de si mesmo, cuja principal meta é desempenho máximo.
E adivinha o que acontece quando você é a mercadoria, o chefe, o empregado e o chicote? Já deu para sentir o peso da culpa, né? O paradoxo da escolha te deu um mapa com um trilhão de rotas e disse: "Se você se perder, a culpa é sua.
Seja o protagonista. E se você é o protagonista, você é o empreendedor de si mesmo. E se você é um empreendedor, o seu principal produto é você.
O seu eu é uma startup que precisa escalar. E como toda boa startup, ela precisa de um chefe. O filósofo sucoreano B Shoan viu essa nova prisão antes de todo mundo.
Ele percebeu que a gente mudou de prisão. Saímos da sociedade disciplinar, o mundo de George Aurel, onde o inimigo era o grande irmão que dizia: "Não pode! >> Não pode!
" >> E caímos na sociedade do desempenho, o nosso mundo onde a voz interna grita: "Pode, deve, é capaz". E essa é a maior e mais cruel armadilha da modernidade líquida. O oprimido virou seu próprio opressor.
A gente não precisa mais de editadores para ficar nos escoteando. Nós mesmos compramos o chicote na Amazon e chamamos carinhosamente de mindset. O seu dia, ele não tem chefe.
O seu dia tem indicadores de performance. Você não tá trabalhando, você tá se otimizando, você não tá descansando, você tá praticando a resiliência para aguentar o seu próximo projeto. Se você falha, não é porque o sistema tá errado, é porque você não foi positivo o suficiente.
A tristeza, ela é vista como uma falha de sistema na sociedade do desempenho. Você é a única variável que pode ser culpada. Então você se chicoteia até resolver a falha.
Balma já tinha dito, a vida virou consumo. Mas Borhan mostra o passo seguinte: nós somos a mercadoria que está sendo consumida 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive nos stories. O seu valor não tá no que você é, mas no que você entrega.
E a entrega tem que ser constante e acima da média. E aqui tá o elo direto com o admirável mundo novo de Huxley. Lembra das castas?
os alfas, que eram os pensadores, os betas, que eram os executores, os y que eram os peões. No século XX, somos obrigados a ser os três ao mesmo tempo, num corpo só. E tudo isso antes das 10 da manhã.
Você é o alfa que planeja a estratégia de marketing pessoal no seu liquedin. Você é o beta que executa as tarefas, responde e-mail e treina paraa maratona do fim de ano. E você é o Y, que no final do dia tem que lavar a louça, cuidar do cachorro e se forçar a sorrir na chamada de vídeo com a família para provar que tá tudo no controle.
Você percebe que assim, não tem absolutamente nada a ver com aquele coach esquisito, opressor, que tenta ensinar se jogando o grande especialista num curso fajuto que ele mesmo inventou sem nenhuma responsabilidade social. É uma autoexploração totalitária. Você exige você mesmo mais do que qualquer chefe poderia exigir, porque o seu chefe é sua própria ambição líquida, que se expande a cada novo vídeo sobre como ficar milionário antes dos 30 ou fique rico agora sendo preguiçoso que você costuma assistir.
A gente internalizou a frase de Huxley: "Todos trabalham para todos". Só que agora, na verdade, você trabalha pro algoritmo que te recompensa com doses infinitésimais de dopaminas, as curtidas, os méds, as notificações, a cada prova de desempenho que você apresenta pro mundo. O cansaço não é mais físico, é um cansaço de alma, é o burnout existencial.
O tédio, que na modernidade líquida era o medo, na sociedade do cansaço virou um luxo que a gente não tem tempo de sentir. O Teddio te faria pensar. Pensar te faria questionar.
Te questionar te faria parar. E parar, paradigmáticos, é o pecado capital do mundo líquido. A gente tá sempre ligado, sempre online, sempre performando, sempre vendendo a imagem de que a vida é uma festa na cobertura.
mesmo que a gente esteja chorando no banheiro por causa de um feedback negativo do chefe ou então de um anfolo inesperado. Só que essa máquina de desempenho, essa empresa pessoal que você se tornou, é brilhante produzir dinheiro, engajamento e ansiedade, mas ela é catastrófica em produzir uma coisa só, intimidade real. Porque a intimidade real de verdade ela é lenta.
A intimidade é bagunçada. da intimidade não tem indicador de performance de retorno. Ela exige que você tire a sua armadura, baixe a sua guarda e pare de performar.
E quando você tá exausto de tanto se vender, o último lugar onde você quer ir é para um lugar onde você precisa ser só você. A máquina tá ligada o tempo todo e a próxima vítima desse desempenho é o coração. A empresa de uma pessoa só, que somos nós mesmos, tá de joelho no chão, completamente exaustos.
E quando a gente finalmente decide procurar algum tipo de conforto, algum lugar para tirar essa armadura de desempenho, a gente se depara com a área mais perigosa de todas, a intimidade. Se a vida é líquida, o amor ele não pode ser diferente. Zigmont Balma viu a tragédia do nosso tempo condensada em uma observação simples e cortante.
Ele dizia que desejamos o relacionamento, mas tememos o estar atado. Queremos o calor da conexão humana, mas queremos que ele venha na embalagem descartável. Queremos o amor, mas sem o risco da permanência, sem o custo da manutenção.
O relacionamento virou um vcher que a gente pode usar quando tá carente e rasgar quando ele começa a ficar complicado demais. O medo de estar atado é o medo de se tornar sólido demais. Se você se ata alguém, você reduz drasticamente as suas opções no cardápio do inferno.
Se você se ata a alguém, você assina um contrato que exige que você pare de performar e comece a ser real. A intimidade é uma exigência produtiva. Exige o tempo que você deveria estar investindo em si mesmo e exige a paciência que você gastou com o chefe.
Exige a vulnerabilidade que você escondeu. E no nosso mundo, onde a dor é um erro de design, o amor profundo se torna o maior risco biológico. A mais de verdade significa que se a pessoa for embora, você vai quebrar.
E no nosso admirável mundo líquido, nós fomos condicionados a evitar esse quebra-cabeça de 1000 peças em nome do kit de montagem de 5 segundos. A gente não tem mais coragem de quebrar e é por isso que a gente se fugia no virtual, no controlado. É o que a psicóloga Sherry Turkle observou.
Nós estamos cada vez mais juntos, porém cada vez mais sozinhos. Ela chamou isso de solidão acompanhada. Nós esperamos mais da tecnologia e menos uns dos outros.
Preferimos enviar o emoji do que encarar um olho no olho e arriscar a leitura da alma. Sabe por quê? Porque o emoji é editável, é universal e principalmente não tem cheiro de medo ou cheiro de tristeza.
A gente ama a sensação de est conectado sem as obrigações da conexão. Afinal, qualquer problema é só desconectar depois. Vamos pensar juntos nessa imagem.
Ela é a fotografia perfeita do nosso tempo. Você tá ali lado a lado com alguém. O corpo da pessoa tá a centímetros de você, mas a mente dela tá surfando num feedbaile ou então jogando um videogame de tiro.
Cada um tá em seu próprio cinema sensível particular numa versão customizada e editada da realidade. Você tá na solidão acompanhada, vocês estão juntos, mas cada um tá vivendo a própria simulação e a própria versão asséptica do que é bom. é a desconexão perfeita.
E o preço dessa segurança é que as nossas conexões se tornaram rasas. Elas são feitas para serem irrompidas facilmente, sem atrito. A gente se contenta com o match do Tinder, mas tem pavor do mat na vida real, aquele que surge do toque, da conversa, do encontro, que faz as engrenagens da sua vida baterem e soltarem faíscas.
Nós desaprendemos a gostar do bagunçado, do lento, do improdutivo. A dor de um coração partido é a maior prova de que você foi sólido por um tempo. Mas nosso mundo líquido, a dor não é uma prova de vida.
A dor é uma falha de sistema. E a gente sabe que as falhas de sistema precisam ser imediatamente corrigidas. Se a vida real, a vida do toque, a vida do abraço demorado e do compromisso é muito pesada, muito ansiosa e muito dolorosa pro empresário de si mesmo que tá exausto, o que resta?
Resta somente a fuga, resta a anestesia, resta a pílula de felicidade instantânea que Aldos Huxley já tinha desenhado para nós em 1932. Se a realidade dói e o amor real exige que a gente sinta, a única solução é tomar 1 grama dessa pílula. E mesmo assim nós falhamos.
Falhamos em ser o empresário de si mesmo sem surtar. Falhamos em manter o amor líquido sem doer. Falehamos em encontrar o sólido no oceano de opções.
E quando o fardo da liquidez e da autoexploração fica insuportável, o que a gente faz? A gente busca anestesia. No livro Admirável Mundo Novo, a solução para qualquer desconforto era uma pílula mágica, o soma.
Um químico perfeito que garantia a felicidade instantânea, sem a ressaca moral, sem a crise de abstinência, sem o menor efeito colateral. O soma era o passaporte para fora da realidade, a droga da ditadura da felicidade. Mas se engana quem pensa que o Soma ficou preso nas páginas de Huxley.
Ele apenas mudou de formato. Ele evoluiu, se multiplicou e se transformou em onipresente. O soma hoje não é uma pílula, é uma dose intravenosa de distração constante.
O soma é o feed infinito que você consome às 2as da manhã. O soma é a maratona de série que você usa para preencher o silêncio de sábado à noite, para que você não precise ouvir os seus próprios pensamentos. O soma é a compra online que te dá o hit de dopamina da novidade, te fazendo se sentir vivo por exatos 7 segundos até a sua próxima notificação.
O soma é a positividade tóxica que te obriga a postar fotos sorrindo na praia enquanto você se afunda em contas e ansiedade. O cidadão da Londres de Admirável Mundo Novo se refugiava no cinema acessível para buscar um entretenimento de alta tecnologia para estimular todos os seus sentidos. Mas a missão era bem clara.
A missão era desligar o cérebro. Na nossa distopia dos dias atuais, carregamos esse cinema sensível no nosso bolso. Um entretenimento perpétuo de feeds e vídeos curtos.
Até porque se demorar demais corre risco de solidificar o nosso tempo. E a função é a mesma no clássico de Huxley. Te manter ocupado demais para não ter que pensar com o que você tá fazendo com a sua vida.
é a perfeição da anestesia coletiva. Nós estamos gastando uma quantidade absurda de energia vital para fugir do silêncio. No silêncio, a gente corre o risco de ouvir, de ouvir o barulho do que escorreu pelas nossas mãos nas relações que poderiam ter sido profundas, a carreira que poderia ter sido sólida, a vida que poderia ter tido um significado além da próxima dose de distração.
No silêncio, a gente ouve o som da nossa própria liquidez, o grito da alma tentando encontrar uma rocha para se agarrar na correnteza do rio. Por isso, o sistema te dá o soma e te sussurra o mantra final da sociedade do desempenho. Um grama é melhor do que um insulto.
Um grama de distração é melhor que o insulto da realidade. Um grama de curtida é melhor que o insulto de ser rejeitado. Um grama de futilidade é melhor que o insulto de ser triste.
O grande, terrível, doloroso paradoxo é que o soma de Huxley não tinha efeitos colaterais, mas o nosso soma tem um custo catastrófico. Ele tá nos drenando a capacidade de sentir de verdade, de nos conectarmos e ironicamente ele tá afogando a gente na ansiedade e na depressão. Somos uma geração hipermedicada e hiper estimulada, mas totalmente triste e ansiosa, entediada e desconectada no núcleo duro da nossa própria humanidade.
Gente trocou o ser pelo sentir-se bem, mas o que acontece quando você é obrigado a ser feliz o tempo todo? Você perde o parâmetro da felicidade, você perde o valor do risco e você perde a sua alma. Huxley nos mostra a saída dessa prisão de prazer.
O único personagem que se recusa a tomar o soma é John, o selvagem. Ele é o único que entende que a verdadeira liberdade não tá na fuga, mas na aceitação da dor. Para John, a dor era o preço de ser humano.
E é só rejeitando a anestesia que a gente consegue finalmente responder a pergunta que fizemos lá no começo. Por que a vida ficou tão rasa? John, o selvagem é a única alma inadmirável mundo novo que se recusa a ser feliz a todo custo.
John confronta o administrador mundial Mustafa Monde, mas o que que é que ele exige? Ele não exige uma nova pílula. Ele não exige um novo sistema político.
Ele, na verdade, exige o direito de ser infeliz, o direito de envelhecer, de sentir inveja, de sentir dor, de sofrer por perdas, de ser imperfeito, de ter rugas, de reivindicar o direito de ser humano. E é aqui que tá a chave pro enigma que nos trouxe até aqui. Por que que a vida da gente ficou tão rasa?
A resposta não tá na falta de profundidade do mundo. O mundo é um abismo cheio de significado. A vida ficou rasa porque desaprendemos a aprender a respiração.
Nós temos medo do mergulho, medo da escuridão lá embaixo, medo do fôlego que temos que segurar para chegar no fundo da questão. A necessidade do efêmero, o scroll ou a troca ou o descarte é apenas a nossa armadura mais sofiscada contra a dor de ser finito, de ser vulnerável. e principalmente de ser comprometido com algo que não pode ser facilmente cancelado.
Para quebrar a modernidade líquida, a gente tem que parar de querer ser uma poça rasa d'água. A gente precisa se transformar nas pedras do rio. Ser uma pedra é chato.
Ser uma pedra é lento. Uma pedra aceita o tédio e a erosão. Ela fica no lugar mesmo quando a correnteza, as tendências, o algoritmo e a nova moda tenta te arrastar.
O ato de resistência mais vanguardista hoje não é protestar nas ruas, é escolher o sólido. É aceitar a dor de sentar com alguém que você ama e não ter o celular por perto. É aceitar o tédio de ler um livro grosso que exige atenção por dias.
É aceitar a permanência de um relacionamento onde vocês t que consertar o que tá quebrado em vez de comprar um novo. A dor não é a falha de sistema, é a nossa bússola interna. O sofrimento é a prova de que algo em sua vida tinha valor.
É ancora que te impede de ficar flutuando na futilidade. Tirar o soma significa, no fundo, abraçar o nosso direito de ser infeliz, o direito de sentir as coisas no volume máximo. E só assim a felicidade volta a ter valor real.
É na solidificação de nossas escolhas e de nossas presenças que a liquidez se acaba. Obrigado por ter mergulhado até aqui no Piradigmas. Essa jornada é uma provocação, uma provocação para que você agora pense um pouco mais, respire fundo e olhe ao redor.
Nossa, certeza são prisões rasas, confortáveis. É no diálogo e na dúvida que a gente encontra a verdadeira liberdade e a profundidade. Eu não tenho nenhuma resposta final para te dar.
Ninguém tem. Por isso, a parte mais importante do vídeo começa agora nos comentários. Curta o vídeo se você sentiu o peso da liquidez nas suas costas.
Se inscreve no canal para continuar a busca pelo sólido no mundo e compartilha essa mensagem com aquela pessoa que tá precisando largar o soma dela. E comenta aqui embaixo esse lembrete para fugir do raso. Eu escolho o mergulho no profundo.
Escreve nos comentários o que você achou, a que conclusão você chegou e o que mais podemos ler e pensar sobre isso. Mergulhamos muito mais fundo no diálogo do que nas certezas rasas. Nos vemos no próximo vídeo, onde vamos continuar essa busca pelo paradigma quebrado, porque o que importa é pensar, mas eu também posso est completamente errado.
Então, pense bem sobre isso, fique bem e beba água. O mundo lá fora tá líquido, escorrendo pelo ralo, e a gente continua nadando de braçado na piscina infantil, com medo de se afogar no mar revolto da realidade. Para ser um verdadeiro revolucionário, a gente não precisa queimar pneu, nem ficar derrubando estátua.
Só precisa experimentar um ato radical de sentir tédio. Toma a chance para essa anarquia de um domingo à tarde sem internet, encarando o teto, a mancha na parede e a nossa própria significância. Seja a pedra no sapato da modernidade.
Abrace o naufrágio, porque a vida, meu caro seu de si mesmo, ela tá beira da falência e ela só começa a avaler de verdade quando a bateria acaba e o celular reflete a sua cara de desespero. Agora, faz um favor para si mesmo. Vai viver alguma coisa que, por um milagre divino, não caiba numa selfie.
Essa crise existencial que você acabou de ter é só ponto do iceberg. Então, escolhe logo um desses vídeos aí da tela. Seu abismo de cara de volta, pelo menos foi com conteúdo de qualidade.
Se você ainda não for inscrito, clica no botão de se inscrever para não perder a próxima sessão de terapia sarcástica. E muito obrigado por ficar até o fim provando que você é mais sólido do que pensava. Então, bom dia, boa tarde, boa noite, boa sorte e até a próxima.
Yeah.