1880, o diplomata e empresário francês Ferdinand de Lesseps estava diante do maior desafio da sua vida - criar um canal para conectar os oceanos Atlântico e Pacífico nas américas - o Canal do Panamá O projeto era audacioso, pois para concluí-lo seria necessário atravessar navios por mais de 80 quilômetros de terra. A ideia não era nova, desde os anos de 1500 o Rei Charles I da Espanha se interessou por essa ideia - mas foi considerada impossível para a época, e não havia ninguém capaz de executá-la. Mas se alguém poderia fazer isso agora, esse alguém era Ferdinand.
Isso porque ele foi o responsável pela construção do Canal de Suez, no Egito. Foi ele quem articulou com governos, investidores e geriu a equipe responsável pela execução da obra. Mas o futuro provaria que nem mesmo Ferdinand seria capaz de fazer uma obra dessa magnitude, e se tivesse conseguido, talvez hoje ele seria conhecido como o Canal da Colômbia.
Bom, mas então como que o canal do Panamá foi construído? É aí que chegamos na parte mais interessante da história, uma que envolve os Estados Unidos, o apoio a independência do Panamá, doenças, tecnologia e mais de 30 anos da obra mais caótica dos últimos séculos. E é exatamente isso que eu vou te contar agora.
Não é de hoje que a região do Panamá é extremamente valiosa. Isso porque o Panamá é um istmo, ou seja, ele é uma faixa de terra, cercada por água de ambos os lados, que conecta duas extensões maiores de terra. É como um corredor que divide os oceanos Atlântico e Pacífico.
E é justamente por conta de sua pouca largura que o Panamá já vinha sendo cobiçado há anos para fazer essa travessia. Lá atrás, por volta de 1500, a região do Panamá foi uma das mais valiosas de todo o império espanhol na américa por quase três séculos. Eles usavam o país pra cortar caminho no transporte de cargas que precisavam ir de um oceano para o outro.
As cargas vinham de barco, eram passadas para carros de boi, transportadas em terra, e então desembarcadas do outro lado. Cortar caminho já era interessante, mas ficar tirando e colocando cargas de navios nunca foi uma tarefa muito atraente. Um canal com certeza viria a calhar.
Porém, apesar de ser estreito, o istmo do Panamá tem 80 km de largura, ou seja, já sabiam que fazer um canal escavando todo esse trecho não seria uma tarefa fácil. Mas nem por isso a ideia deixou de ser cogitada. Ainda por volta de 1500, o rei Carlos I da Espanha chegou a chamar seu governador regional para pesquisar uma rota ao longo do rio Chagres, que fica na região.
Mas o terreno montanhoso e a selva desanimaram todo mundo. Em 1880, o francês foi o primeiro a aceitar o desafio de construir um canal no Panamá, o mesmo Ferdinand que tinha sido responsável pela construção do Canal de Suez, inaugurado em 1869 O empresário conseguiu todas as permissões do Governo Colombiano, que era quem comandava a região na época, e iniciou a construção do canal. A ideia dele era fazer um canal simples, ligando os dois oceanos, algo parecido com o que tinha feito em Suez, uma passagem ao nível do mar.
Acontece que nem tudo foi tão fácil como ele planejava. Ferdinand se deparou com diversos obstáculos durante a construção. O maior dos desafios foram as doenças tropicais, como a malária e a febre amarela que tiraram a vida de 20 mil trabalhadores franceses.
Fora que o projeto de Ferdinand não considerava o rio Chagres, que era responsável pelo abastecimento de milhares de habitantes das cidades próximas. Caso o projeto fosse pra frente, aconteceria a drenagem total do rio, e ninguém queria isso, é claro. Depois de alguns anos tentando, vários deslizamentos, chuvas destruidoras e até um terremoto, que é considerado até hoje o maior a atingir a região, Ferdinand repensou a ideia de um canal ao nível do mar e começou a considerar que talvez fosse uma solução melhor fazer um canal com eclusas.
As eclusas são como elevadores de água que fazem os navios subirem e descerem para fazerem a travessia em passagens desiguais. A obra do Canal de Suez não precisou de eclusas porque os mares Vermelho e Mediterrâneo estavam no mesmo nível, portanto, não tinha porque os navios subirem e descerem para fazer a travessia. Diferente do que acontece no Canal do Panamá.
As regiões entre os oceanos Atlântico e Pacífico apresentam desníveis, por isso a necessidade das eclusas. A ideia era boa, mas o financiamento foi retirado do projeto em 1888 e a empresa de Ferdinand, que era responsável pela construção do canal, abriu falência. Apesar do fracasso francês, a ideia do canal nunca foi abandonada, mas exigia um investimento bastante elevado e era difícil achar uma empresa que pudesse bancar.
Anos mais tarde, o então presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, viu no projeto uma grande oportunidade estratégica para o país e resolveu investir. Foi assim que em 1902 os Estados Unidos compraram os ativos franceses na região do canal por 40 milhões de dólares e em 1903 tentaram firmar o Tratado Hay-Herran com a Colômbia. Com o Tratado Hay-Herran os Estados Unidos comprava o direito sobre uma faixa de cerca de 9 quilômetros do Panamá durante 99 anos renováveis.
Na época, o Panamá era um território colombiano, então a Colômbia rejeitou a oferta dos Estados Unidos por achar o valor oferecido muito baixo. Os Estados Unidos não aceitaram negociar, ao invés disso, apoiaram a independência panamenha em troca de um acordo com o novo governo. Deu certo.
Em 6 de novembro de 1903, os Estados Unidos reconheceram o Panamá como um país e 12 dias depois assinaram o Tratado Hay-Bunau-Varilla, que dava aos Estados Unidos posse exclusiva sobre a região do Canal do Panamá, por 10 milhões de dólares e 250 mil anuais, que começaram a ser pagos nove anos depois. Esse valor até hoje é bastante questionado por ser considerado baixo, fora que desde aquela época o acordo foi apontado como uma falta de respeito com a nova soberania do Panamá, porque quem assinou como representante do país foi um francês, o engenheiro Philippe-Jean Bunau-Varilla. Bunau-Varilla teria recebido o título de embaixador por apoiar os rebeldes panamenhos na independência, mas nem morava no país.
Questionamentos e revolta à parte, os Estados Unidos não perderam tempo. Na verdade, os americanos foram tão na ânsia de construir logo o canal que nem pararam pra aprender com os erros dos franceses. De início, eles insistiram na ideia de construir um canal ao nível do mar.
O projeto começou em maio de 1904 e um ano depois, John Wallace, o engenheiro-chefe da obra, renunciou. Além da ideia maluca de construir um canal ao nível do mar, o engenheiro teve que lidar com os equipamentos franceses desgastados e com as doenças que já tinham assombrado os trabalhadores anteriores. Foi aí que em 1905 o especialista em rodovias John Stevens assumiu como engenheiro-chefe.
As coisas melhoraram bastante sob o comando de Stevens. Chegaram novos equipamentos de trabalho, vieram trabalhadores das Índias Ocidentais, foram desenvolvidos métodos mais eficientes para acelerar a construção e o diretor sanitário William Gorgas trabalhou pesado para acabar com as doenças que já tinham matado milhares de pessoas. Além disso, Stevens finalmente percebeu que um canal ao nível do mar não era uma boa ideia e convenceu o governo americano a acreditar nas eclusas.
John teve ideias brilhantes e mudou totalmente o rumo da construção. Mas nem tudo era um mar de rosas, as obras ainda estavam lentas e o engenheiro começou a se questionar e se sentir pressionado. Em novembro de 1906, o presidente Roosevelt visitou o local e alguns meses depois Stevens renunciou ao cargo.
Roosevelt não ficou nada feliz, mas saiu em busca de outra pessoa pra chefiar o projeto, dessa vez alguém que não desistiria. Foi assim que ele chegou no tenente-coronel George Washington Goethals, um engenheiro do Exército. Roosevelt estava certo, Goethals não desistiu, ele terminou a construção.
Em 15 de agosto de 1914, o SS Ancon se tornou o primeiro navio a viajar pelo Canal do Panamá. Em 1999, o Panamá assumiu o controle total do canal e até hoje ele está nas mãos do governo local, o que foi uma conquista e tanto. Apesar da construção caótica, o projeto é realmente grandioso.
Em 1994, 5 anos antes, a obra tinha sido reconhecida pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis como uma das sete maravilhas do mundo moderno. E o motivo é o que eu vou te contar agora. Diferente do Canal de Suez que foi construído em um lugar onde os mares tinham o mesmo nível, a obra do Canal do Panamá foi muito mais complexa.
São três eclusas de um lado e três do outro. As três primeiras eclusas são responsáveis por subir os navios até o nível do lago Gatún, que é o lago artificial que faz a conexão entre os oceanos. Uma vez no lago, os navios seguem até o outro lado e são descidos novamente pelo sistema de eclusas que os deixa no nível do oceano para seguir viagem.
Hoje existe um novo conjunto de eclusas do lado das antigas, então ficou basicamente como dois canais, o velho e o novo, um do lado do outro. A diferença é que o novo canal suporta navios até três vezes maiores. Além disso, nas eclusas antigas são usadas locomotivas para puxar os navios para que eles não batam dos lados.
Já nas eclusas novas quem faz esse trabalho são os barcos rebocadores. Hoje o Canal do Panamá é uma peça vital do comércio global. Por lá passam de 35 a 40 navios por dia.
Fora que o canal já recebeu mais de 1 milhão de navios e chega a render por ano ao Panamá mais de 3 bilhões de reais em pedágio. Ou seja, não dá pra negar a importância da passagem. Que o Canal do Panamá é importante é indiscutível.
Ele é uma excelente fonte de receita pro Panamá, é fundamental pra América Latina, importantíssimo pros Estados Unidos e boa parte do mundo se beneficia dele. Pra vocês terem uma noção, só de toneladas de derivados do petróleo são mais de 75 mil que passam pelo Canal do Panamá todo ano. A grande questão que a passagem precisou lidar nos últimos anos foi sua engenharia incrível e um tanto problemática.
O sistema de eclusas é bastante complexo e faz o canal funcionar muito bem, mas a falta de chuvas de 2019 acabou escancarando um problema importante, o canal é muito dependente desse recurso. No ano seguinte, em 2020, o canal enfrentou uma crise natural bem séria quando descobriram que ele tava ficando sem água. Em 2016, já tinham sido feitas reformas na passagem pensando em otimizar o uso da água, e agora a autoridade responsável tá trabalhando pra evitar que o canal acabe inutilizado, uma das medidas já adotadas foi a redução no número de navios que fazem a travessia.
As autoridades panamenhas sabem que um bloqueio do Canal do Panamá causaria um verdadeiro transtorno mundial e faria o próprio país perder uma quantia considerável de dinheiro, por isso devem continuar trabalhando para impedir isso. E ai, o que você achou da história e grandiosidade que foi a construção do canal do Panamá? Comenta aqui embaixo e da uma olhada no que o pessoal tá dizendo.
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