Fundamentos da Literatura Comparada (Aula 1, parte 2)

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Canal USP
A Profa. Fabiana Buitor Carelli apresenta a segunda parte da aula "Fundamentos da Literatura Compara...
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[Música] [Música] Além disso né vocês vejam que toda essa constituição científica Darvin etc pressupõe o conceito de evolução de espécies mais evoluídas e menos evoluídas de uras mais evoluídas e menos evoluídas de literaturas mais evoluídas e menos evoluídas então a literatura comparada no início era imbuída de um ideal evolucionista que por sua vez tem sua raiz também nessa questão político cultural que tá embutida no colonialismo ou seja existem culturas civilizadas e culturas primitivas primitivo não faz literatura quem faz literatura é civilizado não posso comparar verticalmente desculpem não posso comparar horizontalmente eu tenho que comparar verticalmente
essa verticalidade essa hierarquia também tá no bojo da literatura comparada do século X e a questão do evolucionismo Ou seja que tá que vem embutida como embutida na no conceito de influência tá de fonte e influência então a literatura comparada a tradicional é comparava né um com o outro para dizer quem é que tinha influenciado quem quem era o melhor quem era o pior quem tinha vindo antes e quem tinha vindo depois nesse sentido é que a gente pode pensar eh o eles pensavam por exemplo Sei lá eu vou comparar Machado de Assis com stne
por exemplo Ah então o Machado de Assis foi influenciado pelo stern porque ele retoma algumas questões que estão presentes no tristan chand se eu tô dizendo que ele foi influenciado eu tô dizendo que a literatura fonte não a literatura resultado né que é o Machado de Assis é a literatura inglesa e automaticamente no conceito de influência eu estabelece uma hierarquia de quem é melhor quem é pior quem é mais evoluído quem é menos evoluído quem tem quem é mais civilizado e quem é mais primitivo tá Por isso a grande dica da aula de hoje é
assim para um professor de estudos comparados para um de nós jamais fale em influência palavra banida do dicionário tá por do ponto de vista do senso comum a gente usa essa palavra Ah o tranch influenciou o Machado de Assis O problema é que muitas vezes a gente usa desavisadamente a gente não se dá conta de que por trás dessa palavra existe toda uma significação existe todo um um um um campo teórico né um campo ideológico um campo Campo epistemológico que trata a fonte e a influência como uma relação de poder de quem domina quem de
quem influencia quem de quem é melhor do que quem tá aí vocês vão falar ah professora Mas então como é que eu falo né que poxa o machado leu trist shand né não é mentira tá lá tem várias maneiras da gente tentar falar isso de outra forma né Tem podem falar em intertextualidade podem falar em trânsito de formas e temas podem falar em leitura tem uma várias maneiras de vocês apontarem aquilo que é fato que é né que tá ali que essa relação entre esses dois textos vamos dizer sem que vocês caiam na armadilha da
influência tá não porque seja errado dizer mas simplesmente porque é uma maneira menos pertinente de falar ou a gente pode sem querer tá dando margem a outras interpretações daquilo que a gente quer dizer tá então is isso eu acho muito importante no texto doex se vocês pegarem os primeiros textos da da formação do campo da literatura comparada vocês vão perceber Exatamente isso né que existe uma classificação biológica até meio né diria mas quase biológic das literaturas inclusive na terminologia é bem claro nos primeiros textos Tá e é justamente Contra isso que o se coloca Então
o que eu diria é o seguinte que basicamente né esses dois eh essas duas correntes né teórico-ideológicas eu diria e científicas acabam criando uma um tipo de epistemologia dentro da literatura comparada tradicional que é justamente contra o que o elec tá se colocando o que o elec não quer questionar o que ele questiona o que ele diz não serve mais é essa chamada epistemologia antiga da literatura comparada agora eu pergunto para vocês por que que ele questiona isso na década de 50 por que na década de 50 por que não em 20 ou em 2000
por que na década de 50 porque é na década de 50 que tá se colocando em cheque s aqui né nos mundos pós-guerra né É aqui que tá começando o processo de descolonização E aí falou pera aí falaram que eu era aqui primitivo desde do final do século passado a pera aí falaram que eu não tenho literatura pera aí falaram que eu não sou nação tô questionando tudo isso esse Cabedal essas correntes de pensamento estão sendo colocadas em cheque Então os modelos científicos que elas geraram essas correntes geraram também vão ser colocados em cheque na
na década de 50 entre eles a própria literatura comparada né a partir da década de 50 cria-se uma nova história cria-se uma nova antropologia cria-se uma nova criam-se novas Ciências Sociais cria-se um novo modelo de literatura comparada também ou pretende-se criar no momento que ele tá falando quando eu digo epistemologia gente né Toda ciência tem uma epistemologia eu quero dizer que toda ciência tem um objeto de estudo e tem uma metodologia isso é tal da epistemologia né que a gente tá falando quando eu questiono uma epistemologia como tá fazendo ele diz assim olha o objeto
de estudo que a literatura tá comparada tá tomando em consideração não faz mais sentido e a metodologia que ela que ela tá usando também não faz eu tô questionando esse conjunto que eu tô chamando de epistemologia então assim não vamos mais comparar só literaturas de línguas diferentes isso Por quê né Quer dizer então que o que se faz tô tô trazendo para cá mas assim que o se faz em Angola é a mesma coisa que o que se faz no Brasil que é a mesma coisa que se faz em Portugal que é a mesma coisa
que se faz em Goa só porque tá na mesma língua de jeito nenhum segundo vou usar aquela aquela metodologia de fontes e influências vou ficar procurando quem foi a fonte Quem foi influência Quem foi a fonte Quem foi influência de jeito nenhum não faz mais sentido então a proposta é de uma nova epistemologia Ou seja a escolha de novos objetos de estudo segundo uma nova metodologia é isso que ele quer isso que ele envision que ele idealiza e aí ele faz Algumas propostas Qual é a proposta fundamental que vocês acham que ele coloca então ele
diz assim ó objeto não é ficar comparando sei lá francês com português a gente tem que ter como objeto o texto literário a gente tem que voltar às Origens tá um pouco como ele tá falando como objeto estético na sua natureza ou seja o texto literário não é biografia de autor não é análise do tempo histórico não é não é análise de quem é das questões nacionais o texto literário a natureza do texto literário a sua especificidade é o fato de ser um objeto estético em linguagem verbal Então a gente tem que voltar os olhos
ao texto novamente e parar de ficar como ele fala nesse comércio né de fontes influências né sim aqui ó ferrenha da Guerra né e so que metodologia relações análise literária né ou seja gente perdemos o foco voltemos a ele né mas essa questão do estético é uma questão muito fundamental porque isso isso eh eu diria o seguinte é comum a gente perder de vista o objeto Se vocês forem para qualquer curso eh de qualquer escola no Brasil de literatura o que menos se faz é observar o texto que é o objeto de estudo da literatura
que mais se faz é faz saber história dos dos estilos literários e a biografia dos autores Mas isso é perder de vista o objeto da literatura e a perder de vista Portanto o método porque você não vai fazer a análise literária de de história né nem de biografia noentanto isso existe bom quem é o Papa da da teoria literária na USP quem é nosso mentor é o Cândido Antônio Cândido né que escreveu vários livros importantes mas qual é o livro assim eh para vocês qual Agora vai ser difícil qual o livro Quais são os livros
mais importantes do melhor dizendo Literatura e sociedade formação da literatura formação da literatura brasileira e aí você tem a gente tem os ensaios tal na formação da literatura brasileira se vocês pensarem bem Alguém já leu a formação Ou pelo menos a introdução é um livro fundamental né escrito na década de 50 É de 58 mesma época que o elec tá escrevendo o texto dele legal que que o Cândido faz na formação da literatura brasileira ele quer mostrar como foi se formou nasceu cresceu viveu e se tornou madura a literatura brasileira brasileira né tá Então veja
não vou dizer que o câo seja positivista ele é dialético mas a dialética também é fruto do pensamento a dialética moderna é fruto do pensamento do século X Marx é do século XIX Hegel é do século XIX foram eles que fundamentaram toda essa questão do pensamento dialético e depois da dialética materialista o Cândido é absolutamente dialético mas existe uma noção na formação de lit da literatura brasileira de quando será que a literatura brasileira nasceu como ela evoluiu e quando ela chegou à sua maturidade Vejam a metáfora biológica de de novo rondando né Aí você diz
hum um dos textos em que eu mais me apoio tá ainda na década de 50 fundamental o texto né ninguém tá questionando dentro de uma metodologia um pouco dequada né quem questiona isso muito é o Aroldo de Campus ó não pode falar em aodos de Campus aqui é banido da USP né ninguém fala mas a gente vai falar internet Doo de Campos Liv falando dele também num livro não sei se vocês conhecem é um livri desse tamanho dessa finura assim ó um sequestro do Barroco isso na formação da tá apontando direto pro can exatamente mas
é livro esgotados ninguém redito Haroldo de Campos morreu eu achei o meu na casa da minha mãe super feliz outro dia tá manico assim que que o Cândido fala no sequestre do Barroco ele fala assim por qual é o questionamento do o que que o Campos fala né Qual é o questiono do Arudo de Campos ele fala assim quando Cândido postula a formação da literatura brasileira ele diz que a literatura genuinamente brasileira se forma a partir do arcadismo porque é nesse momento que começam a nascer formas literárias genuinamente nacionais e o auge todo o trajeto
da formação a maturidade da literatura brasileira enquanto brasileira estaria em Machado de Assis Esse é o trajeto o resto que veio antes da arcadismo não chama de literatura ele diz que são manifestações literárias da colônia E aí que o Arudo de Campos pega eu falou você o Cândido deixa de fora toda a produção literária do Barroco Brasileiro que é uma produção literária considerável como é que ele pode dizer que são meras manifestações literárias né porque na verdade estariam dentro de de uma de um modelo né de modelos estéticos estrangeiros e nós não estamos hoje né
então ele pega na veia mas o mais legal de tudo isso quer dizer dá para perceber então quanto nós estamos imersos ainda aquilo que eu falei no início da aula né esses modelos convivem a gente tá imerso neles ainda mas o mais legal de tudo é que todo mundo né Principalmente os professores da teoria literária Eu vim da teoria gente não posso falar a gente não pode C pino prato que comeu né Sou formada mestrado doutorado teoria etc gosto demais gosto muito do cândido muito né não talvez não considere eu não considere o Cândido um
guru como todo mundo considera mas eu né tenho uma admiração imensa por ele inclusive pessoal mas o mais legal de tudo é que assim os professores não se pode falar desse livro aqui na na na USP esse livro do Arudo de Campos é banido é quase queimado A inquisição aqui não de deixa né que questiona né Toda essa postura do cândido existem trabalhos eh posteriores ao do cândido que retomam a ideia da formação a tese da professora Rita Chaves por exemplo sobre Angola chama-se formação do romance angolano tentando fazer para Angola a mesma coisa que
o Cândido fez na formação da literatura brasileira a formação da literatura brasileira é um livro fundamental que representa o pensamento dos anos 50 sobre o Brasil do ponto de vista literário mas ninguém pode fala mal né muito menos com bibliografia Mas aí você eu fui na casa do Olha só eu fui na na casa do Antônio Cândido em 99 1999 primeira vez que eu fui lá e aí eu fui falar alguma coisa da formação da literatura brasileira e ele ô Deus Antônio Cândido falou para mim assim esse livro é um livro datado ele tem consciência
de que o pensamento que ele informa na formação da literatura brasileiro é um pensamento dos anos 50 ele Antônio câo que tem quase 100 anos de idade mas muito consciente né mas o que que eu tô falando isso para vocês perceberem quanto essa esses modelos teóricos eles convivem a gente é bombardeado por eles na universidade e muitas vezes a gente não tem consciência nem da onde eles vieram nem para onde eles caminham e muito menos do que a gente tá fazendo aqui né a gente é ensinado a trabalhar sobre um determinado objeto segundo uma determinada
metodologia mas muitas vezes a gente não sabe por que que a gente foi direcionado a esse objeto e nem Qual é a nossa metodologia é por isso que a gente tem que trabalhar se conscientizar cada vez mais disso e eu acho que esse texto do elec é fundamental pra gente pensar realmente Onde nós estávamos da onde saímos e para onde queremos ir tá eu acho que basicamente essa a função desse texto nessa aula introdutória alguma pergunta alguma colocação vocês vão perceber então que quando a gente propõe assim a área de estudos comparados de literatura de
língua portuguesa que é essa que vocês começam através dessa disciplina não existiria se não tivesse a vida tal crise epistemológica da literatura comparada na década de 50 por quê Porque de cara nós já já já somos assim já entramos rasgando que assim comparamos literatura de mesma língua ess essa Essa é a definição da nossa área se não fosse se a gente tivesse aqui essaa não existiria jamais e o texto que vocês t para ler na semem é justamente tentativa de aproximação disso que a gente hoje com aa literaturas de lngua portuguesa Inclusive das africanas deua
portuguesa é umex do salvato Trigo do início dacada de 0 faz a defesa do método comparativo no estudo das literaturas africanas tá E tá super dentro disso que o que o ren envision idealiza né e do que nós somos [Música] parte
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