CHANA COM CHANA - Mulheres F*d4 - Rosely Roth

43.28k views4479 WordsCopy TextShare
Tempero Drag
⭐Venha apoiar nosso trabalho e conhecer os benefícios como clube de leitura e aulões⭐ https://orelo....
Video Transcript:
Amiga você sabia que a gente teve uma sapatão  antropóloga, filósofa, contribuindo nos debates que montaram a Constituição  do Brasil de 1988? Sabia! Chama a vinheta Voltamos pervertidinhos para mais  um mulheres.
Porque nunca é cedo nem tarde para contar a história f*d4 de mulheres f*d4 da  história. A mulher f*d4 de hoje foi uma filósofa, antropóloga, escritora e grande ativista brasileira.  A mulher f*d4 de hoje é um dos nomes centrais do movimento LGBT organizado no Brasil.
A mulher  f*d4 de hoje liderou o Levante do Ferro's Bar. É claro que a gente tá falando da única, da  magnânima, da poderosíssima Luiza Erundina Fiz o al dela, fiz mesmo. Vem pro vale Luiza.
Já tá! A  mulher f*d4 de hoje é, Rosely Roth. Vai a vinheta de verdade.
Bom turminha como vocês já estão  acostumados né como a gente faz aqui no canal Rita vai dar um caldinho pra gente da época em que  Rosely Roth viveu e qual foi a importância dela, em qual movimento que ela se destacou. Então  ai ó não aquela nossa biblinha básica, biblinha, a biblinha delas. Vocês sabem gente, a gente já usou  esse livro aqui, já falou dele, já fez vídeo com ele, esse livro é mais velho que eu, a gente dorme com ele, toma banho com ele.
Essa aqui é a história do movimento LGBT no Brasil. Esse livro  tem uma série de autorias, a gente já falou de uma porrada dessa galera aqui, são tudo nossas  amigas, toma cerveja com a gente, fica jogada na calçada, cachorro vem lamber, tirar os cílios postiço  e é o que a gente tem no Brasil meio de estado da arte desse levantamento é historiográfico  de onde estivemos, por onde passamos, como chegamos, quais foram as composições, os  confrontos, as decomposições desses movimentos. Para esse caldinho cultural eu vou usar o  capítulo "Ações Lésbicas" da histórica Marisa Fernandes, inclusive, um dos materiais de apoio  que eu vou deixar aqui é um episódio de uma série documental em que a Marisa é uma das depoentes  por assim dizer, dessa reconstituição das lutas feministas brasileiras e como foi difícil para as  feministas no Brasil tolerarem as lésbicas.
Aqui no ações lésbicas tem um subtítulo inclusive  do capítulo que a Marisa ela chama de volta a Sojourner Truth, lembra dela? Que bell hooks fala  dela, no "e eu não sou uma mulher? " Porque quando a LF que é o grupo lésbica feminista a gente já vai  falar de tudo isso, quando elas são convidadas para integrar o segundo e o terceiro congresso da  mulher paulista, o que ela diz é o seguinte, as lésbicas tinham uma dificuldade de serem ouvidas  colocadas.
Isso porque a gente tá claro falando do período da ditadura, a gente tá claro falando do  século XX no mundo né um mundo super lgbtfóbico. Se a gente fosse listar aqui a quantidade de países  nos quais a gente ainda era doente mental, a gente era internado à força, sofria eletrochoque  terapia, sofria castração química, etc, etc, etc. Mas as feministas brasileiras elas tinham  essa aversão, essa ojeriza a possível alcunha de lésbica né como se uma mulher que se organiza  politicamente só pode ser mal comida.
mal amada, tem problema com homem. Então elas de certa forma  viam com rechaço essa entrada das lésbicas nos debates feministas. E eu tô dizendo isso porque a  Rosely Roth é um nome histórico do movimento LGBT organizado, em especial do movimento lésbico no  Brasil e é uma pessoa que vai dedicar a sua vida a pensar, politizar e organizar as suas camaradas né. 
Inclusive organizar para fora de partidos, a Mari vai falar dessa parte. Tem um canal de YouTube  que é o gênero e história, elas tem uma série chamada mulheres e luta, o episódio 11 é sobre as  lésbicas, eu vou usar uma fala que é dita lá para para tentar mostrar o que que é isso que  eu tô dizendo. Inclusive nesse episódio a Miriam Grossi que é antropóloga, é professora da Universidade  Federal de Santa Catarina.
Ela diz que os temas lésbicos, a identidade lésbica era praticamente  virtual, era praticamente inexistente no debate feminista brasileiro daquela época. Então   hoje a gente escolhe essa mulher f*d4 da história porque ela tá abrindo um flanco de luta  e politização para um grupo que estava ostracizado. Uma coisa que eu já falei bastante né eu tenho  sempre medo de me repetir é que a primeira vez no Brasil que uma organização política fala sobre  pessoas LGTB, é 1978 olha quanto tempo a gente demorou que é a convergência socialista, que depois  né vai se desintegrar vai compor a Liga Campesina, vai compor o PT, o PSTU.
Mas lá é a primeira vez  que fala-se sobre pessoas LGBT na história né então o movimento de esquerda, socialista. O que  que é importante pontuar, nós éramos outsiders em todo todas as esferas, em todos os grupos.  1978 é quando a gente começa aqui em São Paulo a organização dos nossos grupos.
O grupo Somos  né que era o principal grupo LGBT da época. É o primeiro, ele tá se organizando nessa época 1978, 1979 a LF se organiza, dentro do somos a lésbica feminista. e vale dizer também que uma série de lésbicas não  aderiram, achavam que não era necessário montar um grupo dentro do grupo, né montar uma fração.
Vale  um debate longo a gente não tem tempo de fazer aqui no vídeo por isso que a gente indica deixa  tudo aí para vocês darem sequência. É que dentro do movimento LGBT existia uma misoginia brava.  Ai que surpresa!
Ah nossa. Nos anos 80 também a gente tá falando né, se hoje ainda tem. Já é o que é, o  lixão que é.
Mas existia uma misoginia declarada e muitas das vezes essas mulheres lésbicas elas  não conseguiam se colocar, a Marisa conta em vários depoimentos, trechos, textos que ela as lésbicas  eram chamadas de gay. Te falar Mona eu adoro adoro você mas esse bar aqui que nós estamos é só a água  da ch*ca. Viado, você viu.
E elas demandavam serem chamadas de lésbicas e isso não acontecia dentro  do movimento. Era um grande grupo homossexual né era tudo homossexual, só existia um grande bloco  homossexual. E aí as lésbicas perceberam essa necessidade de se colocarem como lésbicas porque  elas sofrem além da lgbtfobia, a lesbofobia e o machismo.
Eram silenciadas, não eram ouvidas  etc, etc. Bora lá, o que eu acho que é um bom caldinho de Cultura, tem um filme, um documentário  brasileiro de 2022 chamado Ferro's Bar, a Mari lá no início fala que ela é um dos principais nomes  desse levante. Não é só isso né, a Rosely Roth ela era um dos principais nomes do Chana com Chana  que é a primeira publicação lésbica do sudeste né não arrisco dizer do Brasil porque temos  muita historiografia ainda para fuçar.
Mas o Chana com Chana ele tinha tinha caixa postal, ele  recebia correspondência do Brasil inteiro, tinha assinantes, contatos internacionais, foi fundamental  pra organização de outras células lésbicas ao redor do país. E a Rosely Roth ela era uma militante  desse grupo do Galf, do LF, do Somos uma propagadora do Chana com Chana dos debates. Voltando pro  documentário, Ferro's Bar de 2022, dirigido por quatro mulheres sensacionais um pouco fruto do  Cine Sapatão, esse projeto sensacional aqui em São Paulo, vamos deixar tudo na descrição para vocês  conhecerem.
As meninas do Cine sapatão são f*d4, o que elas fazem é f*d4, Ferro's Bar conta uma  história que acontece em 1983. Então olha só 78 o movimento tá se organizando em São Paulo, 79 o LF  tá se organizando em São Paulo, 83 a gente tem uma espécie de stonewall Paulistana, Ferro's Bar era  um bar de sapatão ali onde avanhandava encontra com a Augusta. E aí moçada estávamos durante  a ditadura militar, operação tarântula estava acontecendo no Brasil, repressão de LGBT's, plano de  higienização do centro de São Paulo que consistia em matar travestir , desaparecer com prostituta,  desaparecer com michet, bater em LGBT para eles desocuparem o centro.
Essa era a limpeza, nós éramos  a sujeira da época. E o Ferro's Bar era um espaço de resistência mais ou menos velada porque os  donos não eram lgbts né. É isso o que eu ia dizer essa é importante ressaltar que nessa época as  mulheres lésbicas viviam muito num sistema de guetos que eram grupos fechados e escondidos  mas por questão de segurança mesmo porque eram extremamente perseguidas, sofriam violências muito  graves, vivia muito as sombras né.
E esses lugares de encontro eram lugares importantes de existência  e resistência lésbica, onde elas se encontravam onde o Chana com Chana era vendido, então era um  espaço muito importante de articulação mas como a Rita falou os donos não eram lgbts. E aí vem  o problema que causou o Levante do Ferro's Bar. Eles faziam vista grossa porque eram as lésbicas que  mantinham o lugar financeiramente falando, é lésbica.
. . Brincadeira.
Deixavam as lésbicas utilizarem o  lugar mas assim que o lugar começa a ser palco de debate político os donos começam a querer expulsar  as lésbicas. Ah você quer me calar? Então não pode vender Chana com Chana aqui dentro, não pode  debater política, não pode discutir.
Era só um lugar para flerte e consumo de álcool, flerte e jantar,  flerte e gastar dinheiro, famoso Pink Money, que eu almejo contar para vocês é esse  episódio de 1983 quando o delegado de São Paulo que é o Wilson Richetti nojento, fascista, escroto que  segue homenageado em São Paulo, tem delegacia com o nome dele aqui no centro de São Paulo. E o Richetti ele faz uma uma batida policial lá dentro ele chega com um grupo de policiais, cerca o bar entra  e começa a dar soco, tapa, chute, prender, gritar, com as lésbicas que estavam lá, é uma confusão a  galera vai tentar fugir. Isso é contado pra gente em primeira pessoa por lésbicas que viveram  o episódio no Ferro's Bar no fundo do do bar tinha um lugar tipo um Alpendre, uma varandinha, tinha  uma maquininha uma espécie de de pequeno freezer, pequena na geladeira que duas lésbicas na época  pequenininhas magrinhas entraram lá e passaram a noite escondidas, agachadas, com os policiais o  exército fazendo revista né tentando descobrir onde elas estavam.
E elas iam sendo torturadas, presas,  violentadas né, apanhavam. E desapareciam a gente estava na ditadura militar né, as pessoas de  esquerda, as pessoas engajadas, as pessoas fazendo organização política desapareciam. Grupos somos  se reunia cada semana na casa de alguém para não ser desmantelado, estratégia de guerra. 
Caldo de cultura é a gente entender o seguinte, início dos anos 1980 é um momento de pioneirismo  da organização do nosso movimento. Essa atora política a Rosely Roth, é um nome central dessa  luta, dessa organização. Uma pessoa que dedicou a sua vida e a sua intelectualidade a contribuir  com a organização desse movimento para que essas pessoas pudessem existir.
O Ferro's Bar conta uma  uma anedota que eu amo, da origem do termo sapatão né que era meio um código de identificação,  de vestimenta. Elas iam descendo a Augusta de sandalinha chegava perto do Ferro's Bar guardava  a sandalinha no bolso e colocava o coturno, a botina, a bota, o sapatão. Que era um código de  identificação entre elas.
Que ficava em segredo justamente para não ser exposto que tem a ver  com aqueles guias que a gente falou. Exato, exato. Então acho que de caldinho de Cultura, pode  ser que a gente compreenda que, ai uma ativista e uma militante que importância isso tem?
A gente  estava no meio dos anos de ferro, era ditadura. Ser um ativista e um militante, era uma sentença  de morte. Ser um ativista e um militante LGBT.
Mulher. E o importante é dizer isso, assim, quem  nos perseguia não era só a direita a nossa esquerda era homofóbica, ortodoxa, machista, etc, etc,  etc. Pegando o gancho no que a Rita falou tem um fator também desse caldo cultural que é o seguinte,  na época da ditadura do auge da ditadura, a esquerda se uniu contra esse inimigo em comum, que é  combater a ditadura.
Então os grupos de mulheres, os grupos de lgbts, os grupos de pessoas racializadas,  e tal tiveram que se unir né enquanto esquerda para combater esse perigo, essa questão. Então  não havia espaço para essas discussões que fazem parte da pauta de esquerda progressista, mas que  na época não tinha espaço para isso porque tinha uma coisa maior a ser combatido. E é depois só com  né o processo de redemocratização, abrandamento e aí é que esses grupos passam a atuar mais nas  suas realidades e procurar essas vertentes do que cada uma precisava.
Então esse é o contexto  em que a Rosely tá inserida. A Rosely nasceu em 1959, ela é uma leonina. Achei bem importante de  falar isso, mas o que eu achei interessante assim, sincrônico que ela nasceu no dia 21 de agosto, o  Levante do Ferro's Bar foi no dia 19 de agosto e ela morreu no dia 27 de Agosto.
Então tipo as três  principais datas que marcam a vida da Rosely Roth são em agosto, então a gente tá no mês de julho  agora então já fica também o convite, a dica para que vocês pensem sobre as questões da visibilidade  lésbica que estarão em pauta no próximo mês de agosto que é o mês da visibilidade lésbica. Então  Rosely nasce ali 1959, ela é filha de judeus mas o que que fez a diferença na criação da Rosely? Porque tem uma relação que a gente tem que pensar entre uma mulher judia e lésbica e progressista. 
Então como que isso se formou? Eu fiquei muito curiosa pelo menos de pensar em que contexto  a Rosely cresceu para que essas vertentes se juntasse, e ela se tornasse uma militante tão ativa  no movimento lésbico brasileiro. E eu fiquei muito curiosa e entendi, Rosely estudou num colégio super  Progressista que é o Scholen que não existe mais mas ele foi um colégio fundado por judeus comunistas que vieram fugidos do nazismo e fundaram esse Colégio Super Progressista que tinha como um mote Educacional socialista.
Então a Rosely já teve essa criação desde a infância, porque era no  colégio isso ainda, uma educação Progressista, uma educação questionadora. Porque apesar de ter  sido fundado por judeus era um colégio que prezava muito pela discussão social, prezava muito  por essa educação laica digamos assim para que a ali os jovens tivessem uma visão crítica do mundo.  Tem até uma história muito curiosa que eu ouvi num podcast sobre a Rosely, a historiadora que  tá fazendo todo o resgate, a biografia da Rosely, conta que ela encontrou uma amiga da Rosely que  ainda tá viva e essa amiga contou duas histórias muito interessantes.
A primeira é que elas tinham  um costume, a Rosely e essa amiga de caminhar no quarteirão em volta do colégio era no lugar  que elas ficavam ali na escadaria conversando depois elas caminhavam ali em volta e uma época  essa amiga dela ganhou um sapato de salto, que era moda na época era um saltinho né porque elas eram  jovens adolescentes e isso atrapalhava a caminhada delas porque a amiga já não conseguia caminhar  mais tanto tempo. E a Rosely já ficou revoltada e já falou pra essa amiga, "você não precisa usar  esse sapato, por que que você tá usando isso? Você não precisa se curvar né a essas exigências". 
Porque, super rebelde. Descolonize minha corpa, desbinarize minha Genere. Revoltada!
O  patriarcado é um lixo! Para que usar salto? E isso já foi assim, pensa gente já tava no colégio  e ela já tinha esses pensamentos.
Aí depois teve uma outra ocasião que elas foram no cinema e  a Rosely levou um amigo que tava andando de muletas, e aí o cinema tinha uma pequena escada na  entrada. Pois a Rosely mobilizou todo mundo do cinema, os funcionários, para ajudar o amigo dela  a subir as escadas e entrar no cinema com ela. E aí essa amiga conta que ela virou pra Rosely e  falou, "Rosely mas você tem que transformar tudo num ato?
" E a Rosely ficou tipo, não entendi eu só  tô ajudando meu amigo a subir escada. Então para ela era tão instintivo, eu entendo assim, que era  tão natural esse questionamento, essa reação que ela não via como nada revolucionário. Ela só  via como, pera aí eu tô fazendo o que eu preciso fazer.
Acessibilidade é o mínimo. Exato, e a amiga  tá tipo, nossa você precisa a militar em todo lugar? Essas duas histórias para mim deram bem o  tom assim do que devia ser a personalidade dela nesse sentido tipo eu preciso falar, eu preciso  lutar, eu preciso me colocar, sabe?
Mesmo porque ela ela falece muito jovem né, faleceu muito jovem e  fez muita coisa no período, no pouco tempo de vida que ela teve. Ela faleceu com 31 anos, e nesses 31  anos assim né dos 12, 13 que é quando ela tem essa educação mais Progressista né adolescente, já  começa a fazer as discussões até os 31, produziu muita coisa e fez muita diferença. E ela vai pra  faculdade, vai estudar filosofia na PUC, onde ela vai aprofundar esses estudos de gênero e papéis de  gênero na sociedade.
Ela Funda O GALF que é o Grupo Ação Lésbica Feminista, junto com a Miriam Martinho  que é uma companheira de luta dela. A Rosely sempre colocava em pauta as questões interseccionais  também o que é muito interessante. No legado que ela deixou, no Chana com Chana que é essa publicação  esse Zini que rodava nos guetos lésbicos, ela sempre trazia a pauta racial, a pauta ecológica, a pauta do  machismo.
Então ela é uma pessoa que já tinha essa visão de que o grupo lésbico não podia se reduzir a uma luta social em si, só a sua própria luta social, mas que tinha que estar conectado com todas essas  outras pautas. Porque ali tinha mulheres lésbicas negras, mulheres lésbicas mães, também discutia  a questão da Maternidade. Então a Rosely ela sempre teve essa visão mais ampla também dessa atuação  social.
Ela era uma figura muito carismática as histórias sobre ela contam isso, que ela era uma  figura muito fácil assim de todo mundo prestar atenção, a presença dela era muito marcante, e,  acredito assim que é por isso que ela teve esse papel também, muito de liderança no movimento  revolucionário lésbico no Brasil. No Ferro's Bar Documentário tem umas imagens da Rosely Roth em pé, em cima de cadeira discursando assim. Então ela o que fica pra gente né, iconicamente, é dessa mulher  que falava e era ouvida.
Exatamente inclusive duas curiosidades, anedotas. Foi ela que conseguiu a  cobertura da Folha de São Paulo para o Levante do Ferro's Bar, foi ela que articulou essa cobertura  midiática. E ela chegou a participar do programa da Hebe, gente isso foi muito revolucionário na época. 
E como explicou a pesquisadora Daniela Wainer que é essa pessoa que tá fazendo resgate a história da  Rosely. A Hebe nessa época, nos anos 80 é quem tava na casa de todos os brasileiros, era o programa  que estava em todos os lares brasileiros. E que no Roda Viva peitou a pergunta homofóbica né, era uma  pessoa que tinha aliança com a comunidade.
E ela era muito questionada por isso, inclusive,  depois da presença da Rosely Roth no programa dela ela sofreu ali alguns questionamentos, sofreu  algumas repressões da polícia né militar por causa dessa aberração que era levar uma mulher lésbica para falar sobre lesbianidades no programa da família brasileira. Acham que as mulheres lésbicas não são mulheres. Quer dizer, eu sou e acho, me sinto como mulher.
Acham que é um terceiro  sexo, uma marciana. Então eu acho isso importante, porque quando a gente pensa que se é mulher, coloca-se um estilo de vida lésbico como possível para qualquer mulher. E agora me dirigindo mais para as  mulheres lésbicas aí do Brasil todo, quer dizer a gente existe, por enquanto é um grupo pequeno, e  a gente tá tentando pensar sobre isso, aliviar as mulheres da culpa, vergonha e dos conceitos  que fazem mal que atrapalham a vida da gente, não é a nossa sexualidade.
Mas a repressão que a gente  sofre, o policiamento é que faz mal. Então ela foi também essa figura mediática o que eu achei muito  interessante também porque nós não temos muito, se vocês forem pensar, eu também gostaria de propor  essa reflexão né. O que gente tem de figuras midiáticas lésbicas brasileiras, com esse caráter  militante, com esse caráter revolucionário, com esse caráter ativista?
Nenhuma. Tem uma invisibilidade  lésbica muito cruel que é assim, quando a gente pensa nas travestis, quando a gente pensa  nos gays, mesmo que pela via da chacota e do escárnio, eles entram no Imaginário popular. Então  a gente tem a Vera Verão.
Cadê a nossa sapatão histórica? Então a invisibilização da mulher ela  passa por todas as intersecções. E as lésbicas acho que tem as duas camadas né da lesbofobia, que  é como a Rita citou né.
A questão de estar errada porque não está ligada a um homem né, não tem como  centro da sua vida um homem. E o machismo por serem mulheres. Então são duas camadas ali de violência. 
Essa figura foi muito importante nos anos 80 mas se você for ver depois dela não apareceu mais ninguém.  Então a Rosely teve importância nos bastidores e também uma aparição midiática importante. Ela  também da entrevista pro Pasquim, então tem várias aparições dela que meio que assim, "vocês vão ter  que me engolir".
Tem um site que eu queria deixar aqui também que vai estar na descrição, que chama  o outro olhar. com. br.
Esse site faz um resgate com comentários de todas as edições do Chana com  Chana. Gente vale muito a pena entrar lá para ler o que as mulheres lésbicas escreviam, sobre  o que elas escreviam, como elas se posicionavam, o que as afetava. Porque essa revista tinha poesia,  notícia, coluna de fofoca, tinha de tudo, teoria feminista.
Teoria feminista. Então vale muito a pena  mergulhar nesse universo, tem muitas edições lá com comentários de pesquisadoras feministas também.  Então fica esse convite para vocês.
Aí chegamos no Levante do Ferro's 1983. Em 85 ela faz, tem um papel  muito importante nessa discussão da constituinte brasileira. Ela chama os outros grupos, ela une,  articula com outros grupos também, grupos sociais e políticos de movimentações sociais para comporem  essa discussão né da constituinte.
Fora de partido. Fora de partido porque também tinha essa filosofia  no GALF de que os movimentos sociais não deveriam ser afiliados a nenhum partido para terem uma ação  independente, e crítica né. E crítica também.
Então ela tinha esse ímpeto de entrar na discussão, de  participar dessa mobilização mas sem vinculação partidária era para falar sobre os direitos das  lésbicas, dos lgbts, das crianças, das mães. Então ela abrangia muitos temas e era uma participante  ia dessa parte política. E aí infelizmente nos anos 90 a Rosely Roth comete su1c*dio.
Até hoje não  se sabe muito bem porque, enfim, se vocês forem pesquisar vocês vão entender e vão ver que tem  pouquíssimo material sobre ela disponível na internet. Apesar de ela ser essa figura Ultra  importante pro movimento LGBT no Brasil, tem pouquíssima coisa sobre ela. Então o que se fala  é que ela de fato começou a ter algumas questões psiquiátricas, chegou a ser internada, aí se tornou  uma pessoa de convivência difícil e tal.
Mas é isso nos anos 80 né como que a gente vai pensar  nos diagnósticos de saúde mental daquela época. Depois de toda a violência né, a gente precisa entender também  o que foi a vida dela, depois da perseguição do Ferro's Bar, depois da exposição midiática o que  era para uma lésbica ir parar no programa da Hebe nos anos 80 em São Paulo. Tem um vídeo, a gente  mostra ele às vezes aqui no Tempero, de um jornal né de TV que vai ao centro de São Paulo falar  sobre o desaparecimento, assassinato de pessoas LGBT.
E perguntar para os transeuntes o que eles  acham daquilo. Sei lá de 10 entrevistados, 8 falam não tem mais a que matar mesmo. Exato. 
Isso foi o que me veio à cabeça né, que é algo que não é explorado e acho que isso atende algum  interesse, o esfacelamento dessa saúde mental que tá de uma pessoa que tá sendo hiper exposta por  um lado, hiper perseguida por outro, convivendo com violências, mas também sendo explorada nas mídias. O  que que a gente tem aí de resquício né desse ambiente social onde ela tava. Mas é claro que é  muito mais fácil falar que ela era esquizofrênica.
Ah sim. E que é por isso que ela se m4t*u. Não  tem um diagnóstico sobre ela oficial, mas o fato é que ela cometeu su1c*dio, se jogou da janela.
Ela  foi um pouco contemporânea da Adélia Sampaio que é do vídeo anterior. E a Adélia Sampaio contou uma  história justamente, sobre o casal de lésbicas em que uma se joga da janela. Então eu falei nossa  coisa louca né, não é não é sobre a Rosely porque o vídeo, o filme sai antes da Rosely cometer su1c*dio. 
Mas fiquei um pouco intrigada, assim, sobre essa essa dor né das mulheres lésbicas e o que se  ocasiona. Enfim daria uma um longo debate também. Mas acho que sobre a Rosely é isso, vale muito a  pena se aprofundar né.
É pouco material que a gente tem mas tem um material interessante sobre ela.  Leia o Chana com Chana que eu acho que é uma grande expressão do que era Rosely e o movimento lésbico  na época da Rosely. Contrastar o Chana com Chana com o Lampião da Esquina é um bom exercício.
Eu  acho que é um estudo interessante também e pensar em quais pautas a gente ainda tem hoje, o quanto  elas evoluíram, ou não. Enfim fica um exercício, um convite para esse exercício. E acho que o que  fica para mim dessa história é que eu espero que a gente tenha no futuro próximo histórias felizes  para contar de mulheres lésbicas.
É e agora com o mês da visibilidade né, que a gente possa cada  vez mais levantar as nossas figuras históricas, ter orgulho das nossas lésbicas, saber que os  nossos passos vêm de longe né e entender que LGBT que não se organiza, não chega muito longe né. Não consegue muita coisa. Então a gente se vê mês que vem, estejam conosco.
Ajudem o Mulheres  F*D4 a chegar cada vez mais longe, e esse é um dos projetos mais importantes aqui do nosso  canal. É isso muito obrigada gente, um beijinho tcha-au.
Copyright © 2024. Made with ♥ in London by YTScribe.com