DROGAS E CIDADANIA Medicalização e Sociedade Boca seca, pulso acelerado, náuseas, dor de cabeça, tontura, visão embaçada. . .
Milhões de pessoas estão sob efeitos de drogas no Brasil. Até as crianças. Um drama que ameaça o futuro do país.
Cada vez mais crianças são rotuladas de hiperativas ou de sofrerem de déficit de atenção. Em vez de analisarmos o contexto da vida e da educação que damos às crianças, a medicalização tem sido a opção mais cômoda. As vendas de remédios prometem curar esses problemas cresceram 16 vezes entre dois mil e dois mil e oito no Brasil.
Quando classificamos essas crianças como doentes, corremos o risco de projetar nelas nossas próprias carências. Muitos dos profissionais que lidam com as crianças, e as próprias famílias também sofrem de estafa, depressão, ansiedade ou síndrome de pânico. A venda remédios para esses males aumenta cerca de 40%, desde 2005.
Drgas para dormir, drogas para acordar, drogas para trabalhar, drogas para estudar. Não nos damos conta de nossos próprios vícios nem do crescente processo de medicalização em que vivemos. Muitas vezes, continuamos nos drogando sem encarar as causas dos problemas.
Quando falamos em drogas, a grande maioria pensa em crack ou maconha. Muitos até se lembram que o álcool e do cigarro são as drogas que mais matam, mas poucos pensam nos hábitos viciosos aos quais nos acostumamos, em especial nas grandes cidades. Ao enfrentarmos um problema social, como o fenômeno do uso do crack, por exemplo, somos induzidos a aceitar a idéia de que a droga é o XIS do problema e que só a internação resolve.
Como se uma substância fosse a única responsável pela degradação social em que vivemos. Mas, afinal, o que são drogas? A palavra droga provavelmente começou a ser usada na Holanda no século Quinze.
Se referia aos produtos trazidos de longe, em especial aos temperos, como o cravo, canela, as pimentas e outras especiarias usadas para preservar a comida e dar sabor à vida. Além de temperar, muitas dessas chamadas drogas já eram conhecidas e usadas há milênios para curar, estimular, acalmar e mas também para alterar a consciência e buscar outras formas de conexões espirituais. O apetite dos europeus por estes produtos alimentou disputas entre reis e comerciantes pela descoberta e controle de novas rotas comerciais.
Isso levou à colonização de vastos territórios e à massificação do tráfico de seres humanos como escravos. Com os lucros desses comércios, além de madeira, ouro, prata, e os avanços tecnológicos da revolução industrial, nasceu um novo estilo de vida baseado na cidade e no consumo. Isso causou mudanças que influenciam praticamente o planeta inteiro até hoje.
Entre os frutos dessas mudanças, piorada pela destruição ambiental, o recente aumento dos casos de depressão, ansiedade e outros problemas mentais, nos mostram que precisamos repensar este modelo. A pressão para que nos moldemos a um padrão único de comportamento chega desde a infância, de várias maneiras, há várias gerações. As dificuldades em se lidar com as tensões e pressões, ao mesmo tempo em que somos levados a ignorar a insustentabilidade e a desigualdade desse sistema, é um dos fatores que levam ao adoecimento de nosso planeta e seus habitantes.
As indústrias, em especial a farmacêutica, bancam grande parte dos trabalhos científicos e tentam nos convencer que as angústias podem ser medicadas. Seres humanos não são máquinas e uma sociedade doente não pode continuar classificando e medicando alguns enquanto nega direitos fundamentais à uma imensa maioria que não se encaixa no mundo idealizado da propaganda. Nós e nossas crianças precisamos de afeto, dedicação e de um sistema de educação centrado no respeito e solidariedade.
Entender e repensar nossas cidades, nossas escolas e nossas economias é fundamental. Se informe e participe do debate sobre medicalização.