Olá pessoal hoje nós vamos falar sobre o conto peru de Natal de Mário de [Música] [Aplausos] [Música] Andrade há bastante tempo atrás eu tive uma aula memorável maravilhosa da professora Maria Teresa de Melo Carvalho na qual ela comparava dois contos da literatura brasileira O primeiro peru de Natal de Mário de Andrade e o segundo dentro da noite de João do Rio ela fazia essa comparação para mostrar de forma didática Qual o sentido da frase do frud a neurose é o negativo da perversão com essa frase a neurose é o negativo da perversão o Freud quer
apontar para todos nós neuróticos temos fantasias perversas que estão em luta contra os nossos desejos morais contra a nossa moralidade contra aquilo que o eu Visa defender do ponto de vista social o exemplo mais didático e banal é imaginar que o nosso sadismo por exemplo infantil vai de alguma maneira ser transformado o Freud falava em ser sublimado em por exemplo o desejo de se tornar médico abrir as pessoas com bisturis é uma maneira de fazer o sadismo infantil persistir e se realizar de alguma forma mas agora totalmente transformado numa boa ação num trabalho que envolve
certamente algum prazer consciente inconsciente em perfurar as pessoas costurar as pessoas tirar o coração das pessoas etc é claro que esse sadismo né que se exige por exemplo de algumas profissões a Odontologia medicina enfim muitas outras é um sadismo sublimado mas o Freud sempre vai apontar ali onde tem um sadismo sublimado existe do outro lado perversões inconscientes que ainda permanecem de alguma maneira essa metáfora do negativo diz respeito também à ideia de uma fotografia de um filme fotográfico na minha época né quando a gente revelava os filmes ali onde era preto no filme ficava branco
onde era Branco ficava Preto é algo que tinha a ver com essa imagem né da revelação da fotografia que no negativo da fotografia havia o contrário daquilo que seria revelado depois pois bem a Maria Teresa queridíssima professora compara esses dois contos o peru de Natal e o Dentro da Noite do João do Rio para mostrar que as perversões vão est sempre aí mas a gente pode trabalhar as perversões de tá maneira a recalc cál reprimi-las transformá-las no conto peru de Natal a gente vai ver que existe certamente muito ódio contra o pai mas esse ódio
é reprimido abafado e transformado pelo filho que conduz a ceia de natal na qual o pai vai ser lembrado enlutado de tal maneira que o ódio meio que desaparece e ele consegue fazer com que aquela cen familiar se torne uma cena avessa à perversão melancólica do pai vamos analisar esse conto passo a passo o conto tem uma abertura genial muito bonita o nosso primeiro Natal de família depois da morte do meu pai acontecida a cin meses antes foi de consequências decisivas para a felicidade familiar o narrador é o filho um dos filhos dessa família e
vai então apontar Como que foi a sua estratégia de colocar um peru de Natal numa ceia sendo que essa ceia era sempre muito pobre marcada sempre por esse pai que no primeiro parágrafo é descrito de maneira decisivamente ruim mas devido principalmente à natureza cinzenta do meu pai ser desprovido de qualquer lirismo de uma exemplaridade incapaz acolchoado no Medíocre sempre nos faltar aquele aproveitamento da vida meu pai fora de um bom errado quase dramático o puro sangue dos desmancha Prazeres então o pai era claramente melancólico né meio obsessivo melancólico que queria sempre as coisas muito pobres
era Avarento provavelmente desprovido de qualquer lirismo natureza cinzenta então algo melancólico avesso a felicidade avesso a alegria é a essa figura que esse filho faz frente e vai partir pro combate numa ceia simbólica Aliás ele aparece descrito como louco esse narrador Ah é doido coitado diziam a família Então esse bordão servia para ele porque ele foi reprovado algumas vezes na escola porque ele beijava a prima escondida então ele é o avesso dessa neurose muito fechada não chega a ser exatamente perverso não me parece parece mais comprometido com alegria um pacto aqui com alegria um pacto
com prazer que um obsessivo melancólico jamais daria conta de fazer ele doido coitado na verdade tava muito mais próximo de consigo brincar livremente sou muito mais aberto aos prazeres da vida do que essa coisa neurótica melancólica violenta essa sim que pode redundar muitas vezes em perversões né no sadismo por exemplo de fazer a família toda sofrer passar fome ou comer sempre o pior etc então ele é esse narrador o filho algo como o representante da Alegria o representante do Prazer mas um prazer que tá ligado a Óbvio a Sexualidade infantil A gente vai ver a
oralidade como que ela aparece aqui mas sem que essa oralidade ela des cambe para perversão então ele decide tá chegando no Natal que vai ter perú tal a gente vai comer peru sim contrário daquelas ceias pobres que o pai faziam com que todos comessem castanha e nozes apenas isso o tempo todo ele propõe um peru para todo mundo cinco pessoas né os irmãos a mãe a tia para que eles se fartem de uma ceia gostosa e cheia de alegria muito bem quando acabei meus projetos notei bem todos estavam felicíssimos num desejo da de fazer aquela
loucura em que eu estourar bem que sabiam era loucura sim mas todos se faziam imaginar que eu sozinho é que estava desejando muito aquilo e havia jeito fácil de empurrarem para cima de mim a culpa de seus desejos enormes então o narrador tá plenamente consciente né de que esse desejo de se fartar portanto desejo ligado à oralidade infantil é um desejo que eles estavam se privando em nome desse pai melancólico Cinzento agora eles tinham inclusive um bom Álibi Ah é o Fulano que tá ali doido coitado querendo fazer a gente comer o peru né Eu
mesma não queria né Ia respeitar o luto ia comer menos não ia fazer nada chorando aqui tudo bem eles podem usar personagem aí como um Álibi para aliviar a culpa desse desejo mas todos topam todos vão fazer parte dessa ceia chega a ceia o peru é servido e ele faz questão de servir os pratos né a mãe começa a cortar ali pequenininho um pedacinho do Peru Não não quero um pedaço Grande para todo mundo e ele faz o prato bonito tem uma Fartura na cena da ceia e a mãe a partir disso já começa a
chorar tá ali comovida e a tia vendo que o próximo prato também muito bonito era dela começa a chorar também a irmã também começa a chorar e ele obviamente né tenta aliviar aquela situação porque ele sabe o pranto evocar por Associação a imagem indesejável do meu pai morto era tudo que ele não queria que o pai morto aparecesse ali na cena onde ele queria trazer a alegria a abundância Que o pai não deixava par mas ele tava lá meu pai sentado ali gigantesco incompleto uma censura uma chaga uma incapacidade brilhante né o Mário de Andrade
dizendo aqui da representação desse fantasma do pai que aparece para melancolizar ainda a cena que deveria ser uma cena de pura alegria e aí o humor do Mário de Andrade aparece aqui com força total piou uma luta baixa entre o peru e o Vulto de papai e aí a luta entre os dois se deflagrou então agora o nosso personagem tem que conseguir fazer com que o peru vença essa luta e que o Espírito aí o Fantasma Cinzento do pai seja de uma vez por todas exorcizado como é que ele vai fazer ele fala pô não
posso elogiar o peru não vai dar certo essa estratégia né E aí E aí ele se torna político e hipócrita aqui de novo a gente vai flertar um pouquinho com a perversão mas interessante imaginar o bom uso da mentira da hipocrisia para fazer alegria circular então mais uma vez a gente vai tentar matizar um pouco o uso aqui desse termo perversão vamos A Estratégia do nosso narrador que que ele faz ele começa a elogiar o pai ele transforma me pai num outro tipo de pessoa ele disse mas papai que queria tanto bem a gente que
morreu de tanto trabalhar por nós papai lá no céu há de estar contente hesitei Mas resolvi não mencionar o peru Contente de ver nós todos reunidos em família Então realmente foi um político assim de retomar aquilo que o pai oferecia como fício vejam que a estratégia inclusive psicanalítica tá toda aqui só faltou falar isso né o corpo desse peru é o corpo do nosso pai que a gente agora vai comer em comunhão e pegar todo esse sacrifício dele e incorporar esse sacrifício e torná-lo agora parte de nós nos espiando da culpa né ele morreu por
nós morreu de tanto trabalhar para nós né então ele sacou alguma coisa aqui mesmo que de maneira hipócrita né mas é verdade parte disso é verdade a verdade da melancolia do pai envolve um pouco esse excesso de trabalho endereçado para essa família Claro por parte do pai que sempre marcava como não vai ter alegria não vai ter peru essa oralidade aí prazerosa demais tem que tá cortada feita essa estratégia maravilhosa de fazer o elogio ao pai A imagem dele foi diminuindo diminuindo e virou uma estrelinha Brilhante do Céu agora todos comiam peru com sensualidade porque
papai fora muito bom sempre se sacrificara tanto por nós foram um santo que citação vocês meus filhos nunca poderão pagar o que devem ao seu pai um santo o único morto ali agora era o peru o dominador completamente vitorioso então um narrador muito irônico que tá dizendo Olha o peru ganhou o jogo mas o peru transformado por esse exercício de simbolização E aí Voltamos com força para essa ideia da neurose como negativo da perversão ali onde a gente tinha um certo tipo de efeito perverso da melancolia vamos passar fome vamos passar dificuldade ninguém vai poder
ter prazer oral a gente começa a observar que a gente pode sim ter prazer porque na verdade ali onde havia essa melancolia perversa havia no fundo um desejo recalcado comer bem sentir prazer com as coisas gostosas da vida comer com sensualidade o peru esse evento gastronômico essa sensualidade compartilhada é que tem a ver com a Sexualidade perversa mas que ela se transforma a oralidade não precisou se transformar em bulimia anorexia ou uma Gula irrefreável não a oralidade não precisou se transformar nisso ela foi transformada e sublimada num exemplo de seia simbólica muito bonita onde a
gente pode sim devorar o corpo do nosso pai simbolizado e espiar a culpa a partir do trabalho que ele fez experimentar o corpo do pai pela primeira vez talvez com gratidão a gratidão que nesse cenário melancólico obsessivo terrível a gratidão não tem espaço mas quando a coisa vira nesse sentido de aparecer ali um peru e o filho né dizer olha agora graças ao nosso pai graças ao trabalho dele que isso aqui apareceu chega chega de sofrer chega de Miséria vamos ter prazer e vamos ter prazer em nome Dele por Ele para agradecer tudo que ele
fez então é essa virada do conto aqui a gratidão se torna possível na medida em que ela desmonta essa operação melancólico perversa que tava sendo colocada pelo pai muito bem se você me acompanhou até aqui e gostou dessa leitura Não percam a leitura de Dentro da Noite de João do Rio no próximo vídeo compartilhe esse vídeo curtam aí né comentem que que vocês acharam se vocês tem outra leitura do piru de Natal do Mário de Andrade né alguma coisa que eu deixei de Fora comentem me digam o que que vocês acham E não deixe de
assistir junto o vídeo que eu vou fazer sobre o João do Rio dentro da noite eu espero vocês lá e para os outros vídeos também um [Música] abraço