Sombra: A Psicologia do Nosso Lado Obscuro

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Coelho Branco
00:00 O que é a sombra? 01:40 O que você esconde do mundo 03:34 Carl Jung: um dos psicólogos mais br...
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Como as plantas, os homens também crescem; alguns na luz, outros nas sombras. Há muitos que precisam das sombras e não da luz. A sombra é um fenômeno psicológico resultado de todos os nossos pensamentos, desejos, vontades e habilidades que foram reprimidos, foram deixados de lado durante a nossa vida.
A gente acaba sendo moldado por pessoas à nossa volta; eles vão impor conceitos daquilo que é certo, daquilo que é errado, daquilo que é agradável, que é desagradável, daquilo que é bom, daquilo que é ruim, e acabam nos obrigando a manter apenas aqueles comportamentos tidos como aceitáveis. E aí a nossa personalidade é moldada visando nos encaixar dentro desse imenso grupo que a gente chama de mundo. O problema é que não são apenas aqueles nossos impulsos obscuros que são reprimidos pela sociedade, mas estruturas sociais como família, amigos, escola, o trabalho, também nos fazem reprimir fragmentos extraordinários e únicos da nossa personalidade, apenas pelo simples fato de não se encaixarem no que é, entre aspas, correto.
Quem nunca sentiu que uma parte de si, uma parte que fervia em emoção, em originalidade, em propósito, quem nunca sentiu que essa coisa sumiu, que ela foi morrendo com o tempo? Nós, seres humanos, somos um saco de sangue e ossos, não muito diferente de outros animais; a única coisa que diferencia a gente é a nossa capacidade de buscar atingir um potencial, a gente tem a capacidade de transformar a vida em uma obra, em uma obra prima. E aí, se a gente tiver sorte, no final, a gente não vai ter muitos arrependimentos.
E aí, o que separa esse nosso eu do nosso potencial máximo é justamente a sombra, essa parte reprimida da nossa psiquê. Então, a sombra é o lado da nossa personalidade que escondemos do mundo e até de nós mesmos; são aqueles pensamentos, sentimentos, vontades que a gente não quer que ninguém descubra. Porque, por mais que a gente deseje alcançar o mais alto grau de evolução, nenhum de nós é tão bom, nem tão elevado quanto gostamos de acreditar; a gente possui impulsos animalescos, vontades de prazer, de poder, e outras coisas que contrariam tudo que a sociedade acredita ser o certo, e todos nós temos um lado obscuro, um lado agressivo, um lado cruel que é capaz de causar grandes danos às outras pessoas, um lado bem diferente daquela pessoa que a gente acredita ser.
A gente sempre quer negar as nossas falhas, a nossas fraquezas, nossos pensamentos. O problema começa a aparecer quando ele se pergunta: "Tá. Mas para onde essas coisas vão?
" E daí, o psicólogo Carl Jung, o discípulo do Freud, acreditava que eles não desaparecem, mas sim se afundam no inconsciente e se unem ao que ele chamou de sombra, impulsos, desejos, emoções e traços de caráter que são incompatíveis com a autoimagem consciente daquela própria pessoa, aquilo que Jung chamava de Persona, que é como se fosse uma máscara que a gente usa no dia a dia para se relacionar com o mundo, aquela pessoa que a gente mostra para as pessoas. E, por conta das regras e valores da cultura que a gente vive, essas questões não conseguem se aceitas, integradas, sendo muitas vezes empurradas pro subconsciente e continuam exercendo uma grande influência na nossa vida, na maioria dos casos, de uma forma negativa, perturbadora, nos leva a tomar decisões automáticas, a viver no automático, a nem perceber que a gente tá se afundando, e não entender o porquê aquilo tá acontecendo. Sabe, o Jung acreditava que a mente humana, ela é composta por vários fragmentos, basicamente pedaços a serem organizados e reintegrados, sendo a sombra uma das, senão a mais importante, que precisa ser incluída na nossa personalidade.
O Jung, ele foi um psiquiatra, psicólogo que desempenhou um papel muito importante no entendimento do ser humano, não em questões físicas, mas naquilo que a gente chama de essência, de alma ou, como ele chamava, a psiquê humana. E claro, Jung, ele foi discípulo e amigo do Freud que deu início ali a basicamente toda a área da Psicologia, né? As principais colaborações do Jung pra psicologia, pro nosso entendimento, foram coisas como inconsciente coletivo, arquétipos, individuação.
Ele acreditava que, além do nosso inconsciente pessoal, que seria a mente onde estão todas as nossas experiências, nossas memórias individuais, existe também um inconsciente coletivo que é compartilhado por toda a humanidade. E aí, esse inconsciente coletivo ele é composto por imagens e símbolos universais que são os famosos arquétipos que influenciam o comportamento humano e tá presente em Mitos, em contos de fadas, em histórias, nas religiões, em diversas outras da nossa vida. Ele também desenvolveu um conceito chamado individuação que seria o processo de desenvolvimento pessoal e a busca pela realização do potencial máximo humano, visando alcançar um estado de autenticidade, de totalidade e finalmente ser a pessoa que a gente sempre quis.
E aí, baseado nisso, Jung foi explorando os conceitos como Persona que é Aquela nossa máscara social que eu falei para vocês e também claro a sombra. Ele iniciou sua carreira como discípulo do Freud, tendo a relação entre eles começada ali no início do século XX, porém mesmo com essa relação de crescimento juntos né uma amizade que eles tinham o o aluno né o Jung ele acabou desenvolvendo ideias bem diferentes do seu mentor. E aí, a relação foi ficando cada vez mais tensa e a ruptura final aconteceu em 1913, por conta de uma série de eventos incluindo o livro do Jung chamado, Símbolos da Transformação, que acabou aprofundando todas as discordâncias entre eles.
O Jung, ele tinha uma visão única sobre a mente humana. Ele desenvolveu conceitos muito interessantes para o entendimento da nos psiquê. É legal deixar claro que esses conceitos são abstrações ou metáforas que nos ajudam a entender melhor o nosso funcionamento, não existe uma divisão clara dessa no cérebro, tá?
Mas o Jung dividiu então a mente metaforicamente em quatro partes principais. O consciente é aquela parte que está em foco, composta por pensamentos, sentimentos e percepções que a gente está consciente no momento. O inconsciente coletivo é uma parte profunda e compartilhada por todos os seres humanos da psiquê, contém elementos universais presentes em todas as culturas, que é aquilo que a gente já falou, local dos arquétipos, símbolos e imagens que vão influenciar nossos pensamentos e nossos comportamentos.
O inconsciente pessoal é a camada que contém conteúdos que foram uma vez conscientes, mas acabaram sendo reprimidos ou esquecidos, incluindo nossas experiências individuais, memórias e pensamentos que não podem ser acessados no momento presente. São aquelas coisas que estão no fundo do seu ser e é aqui que mora a [Música] sombra. A sombra não é apenas composta por aspectos negativos e é aqui que as coisas começam a ficar interessantes.
A sombra também contém qualidades positivas que foram negligenciadas ou reprimidas. Reconhecer e integrar a sombra no eu não significa abraçar o que é considerado ruim, mas sim abraçar a totalidade, reconhecendo a complexidade e a dualidade que fazem parte da condição humana. A sombra é simplesmente uma representação dos aspectos ocultos e menos conhecidos de nós mesmos, seja isso uma coisa boa ou ruim.
A ideia de explorar a sombra é uma jornada em direção a individuação, um processo em busca de se tornar uma pessoa mais autêntica. A sombra só se torna ruim quando é ignorada, enquanto a gente não acender a lanterna, investigar o que está acontecendo ali, a gente não vai compreender uma grande parte do nosso eu e aí teremos aquela sensação horrível de que nem mesmo nós próprios nos entendemos. É um exemplo uma pessoa que acha que ganhar dinheiro é algo ruim, que pessoas ruins ganham dinheiro, dinheiro que só é rico quem rouba, quem passa a perna nos outros e por conta de nunca encarar realmente esse pensamento, a lógica por trás disso, esse medo excessivo de um objeto que está escondido dentro da sombra, ela acaba tendo problemas e automações na vida dela que ela nem percebe, então dificuldade às vezes para conseguir um emprego ou um cargo desejado, ou construir uma vida que ela queria, sabe, eu ganhar o dinheiro que ela queria, justamente por conta dessa sombra que existe dentro dela.
Porém, não há luz sem sombra, não há totalidade sem imperfeição, isso é uma coisa que a gente acaba esquecendo, né, com as redes sociais hoje em dia, que todo mundo parece perfeito, todo mundo parece completo e perfeito, mas saiba que todo mundo tem falhas, erros, que não mostram. Existe também uma sombra coletiva, é uma das coisas que alimenta o crescimento da nossa própria sombra, que seriam aspectos pouco conhecidos de uma sociedade. Então, uma sombra coletiva acaba vindo à tona em momentos de guerra, por exemplo, a gente está vendo isso acontecendo agora, ou momentos de divisão política, quando tem o lado A e o lado B e as pessoas estão escolhendo qual dos dois times ela vai torcer, e por aí vai.
A gente percebe que a sombra das pessoas vem à tona nesses momentos externos, nesses momentos mais sociais. Para que uma sombra seja projetada, é necessário que um objeto impeça o caminho da luz, concorda? E esse objeto nas nossas vidas é o que a gente chama de Persona.
Então, Persona em latim significa máscara ou personagem, e na psicologia junguiana representa uma máscara metafórica que a gente usa na nossa relação com outros seres humanos. A parte de nós que as outras pessoas conhecem seria a coleção de traços de caráter e comportamentos que a gente quer que os outros acreditem que nos definem por completo, Jung diz, né, uma máscara de um lado causa uma impressão esperada e de outro oculta a verdadeira natureza. A construção da Persona começa cedo na vida, à medida que a gente vai aprendendo quais elementos da nossa personalidade obtêm aprovação da nossa família, dos amigos, da sociedade em geral, e quais são rejeitados.
Os traços aprovados são adicionados à nossa Persona, enquanto os traços rejeitados são escondidos na máscara. Atrás da máscara, para ficar mais claro, é só comparar a forma como fala sobre determinada situação com as pessoas e a forma como você fala para você mesmo quando você está sozinho. Com o tempo, para a gente não se sentir uma fraude, a gente começa a se identificar com a Persona, e no processo a gente acaba escondendo esses traços de caráter indesejados, e a gente esconde não apenas para os outros mas também para nós mesmos.
Esses traços de caráter reprimidos acabam se reunindo e formam a sombra, a nossa parte inferior da personalidade, a soma de todos os elementos psíquicos que, devido à sua incompatibilidade com a atitude consciente escolhida da Persona, são negados à expressão na vida e portanto se ligam em uma personalidade fragmentada relativamente autônoma com tendências contrárias. Ou seja, os conteúdos reprimidos, eles não ficam adormecidos no inconsciente, não, eles operam de maneira autônoma atrás dos holofotes da nossa percepção. É como se existisse uma outra personalidade dentro da gente agindo por nós e a gente nem percebe porque a gente quis reprimir isso.
Esses elementos vão assombrando a nossa vida, afetam o nosso humor, nossos comportamentos e cria uma tensão entre a personalidade consciente e a personalidade da sombra. Por exemplo, em momentos de estresse ou momentos de conflito ou quando a gente bebe, por exemplo, álcool, a nossa mente é incapaz de manter essas portas do inconsciente fechadas. Aí a sombra se revela e muitas vezes com muitas consequências.
Funciona como uma mola, né, quanto maior a força da repressão, maior a força da expansão. Outra forma que a sombra se manifesta é através da projeção, isso é bem comum e é bem legal quando a gente percebe em outros indivíduos ou em. Outros grupos em outras nações, fraquezas e defeitos que, na verdade, residem dentro de nós mesmos.
Sabe aquele momento que a gente fala, nossa, aqui atitude escrota do cara que, sei lá, que cara esquisito, na verdade, isso é uma projeção daquilo que é fraqueza ruim dentro de nós mesmos, sabe a gente atribui ao outro todas as qualidades ruins e inferiores que não gostamos de reconhecer em nós mesmos, e a gente precisa criticar, atacar esse outro; quando tudo que acontece é que, na verdade, uma, entre aspas, alma inferior percebeu uma igual, pessoal, ao invés de negar esse lado da sombra, esse lado da nossa personalidade, a gente precisa iluminar, iluminar ele, fazer as pazes com nossas [Música] sombra. A sombra, como eu disse antes, contém muito mais do que apenas o lado negativo, a nossas falhas, as nossas fraquezas; é também lá que estão nossos pontos fortes, do nosso caráter, da nossa personalidade, que foram reprimidos, por exemplo, numa educação ruim, quando o professor mandou você calar a boca ou te expulsou da sala, ou, sei lá, seus pais reprimiram uma atitude sua específica, numa tentativa da gente se adaptar a uma sociedade que é doente também, que tá des parada para receber qualquer um, e a gente deixa de ser quem a gente realmente é, devido a essa pressão que é exercida pelo ambiente, e a gente acaba perdendo nossa individualidade, nosso ânimo pela vida, e ter que sustentar uma máscara, né? Ela é um fardo para qualquer um, às vezes eu percebo que, em ambientes onde eu não tô acostumado, aí, por exemplo, e eu tenho que sustentar uma máscara específica, né, e é normal isso, todo mundo faz isso pessoal, não é uma questão de ser falso, tudo mais, uma questão de adaptação mesmo; você sai mais cansado, você sai mais drenado, né.
Imagina ter que fazer isso durante a vida inteira e, para aproveitar esse lado positivo da sombra, usar a sombra ao nosso favor, é muito mais do que só observar o que tá ali; a gente precisa integrar conscientemente os elementos da sombra, nosso caráter, e na nossa personalidade, permitindo que eles se expressem na nossa vida cotidiana; mesmo essa atitude vai gerar o que o Jung definiu como um caráter que tende ao ideal de totalidade saudável, ele acredita que à medida que nos aproximamos de um estado de totalidade, a gente se torna melhor, mais atraente para outras pessoas também. Todo mundo suspeita da pessoas que parecem boas demais para ser verdade, muito mais interessante do que ser perfeito, é o caráter completo. A pessoa inteira que conhece não apenas seus pontos fortes, virtudes e potencial pro bem, mas também suas fraquezas, falhas, e potencial pro mal; são iludidos aqueles que acreditam que possuem só um lado.
E um dos muitos benefícios de conhecer esse lado sombrio é que cria um contraste maior, permite que o bem do nosso caráter se destaque com maior facilidade; ou como Yung descreveu, quando confrontamos a sombra de repente, podemos ver ambos os lados, a gente se torna consciente, não apenas de nossas inferioridades morais, mas também mais consciente das nossas boas qualidades e integrar isso tudo, né, permite que a gente não seja mais controlado por raiva, por egoísmo, por ganância, por agressão, por obsessão. Enfim, isso nos dá a oportunidade de exercer um certo controle sobre essas coisas. Lembra do mecanismo da projeção que eu falei antes?
Uma das formas interessantes de começar a entender melhor qual é a nossa sombra é utilizar a projeção ao nosso favor, é identificar características de outras pessoas que nos gerem algum tipo de reação emocional, né, então um nojo, por exemplo, uma reação emocional forte, ou uma raiva, sendo esse, um sinal provavelmente a mesma característica tá presente dentro de nós. É legal também tentar perceber isso em pessoas próximas da gente, costuma ser muito mais fácil do que olhar para nós mesmos, né, e, sim, embora a sombra seja algo escondido no inconsciente, né, ser algo pessoal, muito do que tá ali depositado acaba vindo à tona, né, acaba sendo influenciado por gatilhos no ambiente, e acaba vindo à tona. E aí você consegue perceber claramente qual é a sombra de cada pessoa, ou, quais elementos da sombra você percebe que podem estar dentro de si também.
Outra coisa que a sombra possui de positivo, né, são alguns impulsos instintivos que a gente tem, né, então desejos de rivalidade, desejos de poder, de prazer, são coisas que a gente acaba, assim, e até com uma certa razão em alguns momentos da vida, a gente acaba reprimindo, mas a gente precisa admitir e aceitar essas coisas possuem uma imensa quantidade de potência, quando a gente toma consciência delas, a gente pode controlar um pouco mais esses impulsos, e utilizar isso para nos motivar a assumir alguns riscos necessários, né, em busca de uma vida que valeu a pena. Se vida, a sombra pertence a totalidade da personalidade, o homem forte deve, em algum lugar, ser fraco, em algum lugar, o homem inteligente deve ser estúpido, caso contrário, ele é bom demais para ser verdadeiro. Não é uma verdade antiga que a mulher ama as fraquezas do homem forte mais do que sua força, e a estupidez do homem inteligente mais do que sua inteligência, o amor dela quer o homem por completo.
E eu faço um convite, né, que todo mundo aceite é uma é uma dificuldade que eu tenho também mas que todos nós aceitemos esse desafio de confrontar essa sombra, de aceitar nossas falhas ou talvez as nossas qualidades que a gente acabou deixando de lado por medo do julgamento, por medo do que a sociedade vai fazer com as nossas originalidades. Quando a gente desbrava esse nosso lado escondido, eu acho que a gente tem a oportunidade de ajudar a curar um mundo doente, sabe, a maioria das pessoas enxerga problema em tudo na sociedade, nos outros el. Conseguem perceber o problema mais sério que reside dentro de si?
Elas não conseguem entender que são um personagem dividido em dois e que, até elas enfrentarem esse lado sombrio, continuaram divididas sem saber quem são para além dessa máscara social. Quando a gente enfrenta a nossa sombra, a gente começa a entender que tudo de errado que tá no mundo, que a gente critica, que a gente xinga, também tá dentro da gente mesmo, tá dentro de todo ser humano, e quanto mais a gente evita nossa sombra, mais forte ela se torna e ela pode explodir de uma vez em algum momento inconsciente na sua vida. Não é um trabalho que de um dia pro outro, é um trabalho de integração durante a vida inteira, é de ficar consciente de todas essas pequenos detalhes que a gente falou aqui.
É algo que vai durar a nossa vida inteira e, claro, se a gente conseguir com tempo, integrando essas coisas, a gente mantém isso sob nossa visão, a gente mantém isso sobre nossa cautela e a gente pode moldar isso a nosso favor. A gente pode usar isso a nosso favor. Normalmente, aquelas pessoas que a gente admira são pessoas que estão em paz com a sombra delas, sabe?
E isso é algo que a gente precisa aplicar na nossa vida. [Música] Também.
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