Escravidão - Flávio Gomes - Entrevista - Canal Futura

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Entrevista
Escravidão - Flávio Gomes - Entrevista - Canal Futura O Brasil foi o último país a abolir a escravi...
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[Música] de hoje o Brasil foi o último país abolir escravidão Mercantil no mundo ocidental e recebeu 40% da população africana retirada forçadamente desse continente por aqui a escravidão virou um sistema de trabalho naturalizado que tomou o país de ponta a ponta e introduziu-se em todas as áreas no campo nas cidades na pecuária na mineração por onde quer que se olhasse por isso a escravidão se converteu em linguagem gerou um preconceito diante do trabalho manual abrigou muito sofrimento mas também revolta e Insurreição Por parte dos escravizados hoje vai conversar conosco um grande especialista nessa história ainda
muito mal contado está aqui o Flávio Gomes que é professor da universidade federal do Rio de Janeiro e atua nas áreas de arqueologia história comparada história da África história da da escravidão ele é ainda um grande pesquisador mérito esse que resultou em muitos artigos e livros que alteraram radicalmente a escritura da nossa história escravizados foram vítimas mas reagiram revoltaram-se e negociaram sempre sua própria história [Música] flábio muito obrigada pela sua participação aqui ótimo bom vou começar por uma área que você enfim nada de braçada como se diz ah o tráfico de escravos criou uma uma
espécie de dinâmica muito especial no contexto Atlântico você podia nos falar um pouquinho sobre essas margens atlânticas do tráfico como é que elas se constituíram essa é uma história muito interessante porque a gente toma a ideia da escravidão e essa margem como num tempo histórico só E na verdade a gente diria assim teríamos quatro séculos dessa escravidão e essa margem Atlântica sempre modificada a gente conhece muito sobre essa margem Atlântica do século XIX que é o momento em que os olhares estão por quê pra proibição do tráfico tem toda a formação de uma opinião pública
mas nós conhecemos pouco sobre essas margens atlânticas no século 1617 o que que existiria de específico no 1617 em relação ao 19 eu eu destacaria a ideia do plural porque a ideia seja embora seja margem da Atlântica a gente acaba com olhar ainda os estudos embora com muitos avanços é essas margens no plural acaba sendo a margem Atlântica do século XIX de um tráfico via Angola ou da Costa africana ocidental enquanto a gente tem uma um tráfico no século xv1 endeu acima da linha do Equador com outra as sociedades africanas o fato de que essas
margens estão sempre a metáfora né do das margens das praias das ondas das Marés é muito boa no sentido do Historiador de tá vendo modificações de 10 30 anos para não dizer do quê de um século eu diria que o Brasil tem várias escravidões né várias sociedades escravistas no interior do que nós poderíamos chamar né de uma maneira mais Ampla de uma sociedade brasileira sociedade brasileira da escravidão do século 16 não tem nada a ver com final do 17 não tem nada a ver com uma área de mineração muda completamente ou mudam completamente as paisagens
no século XIX e às vezes os estudos por focar isso esquece que as as outras margens Não desapareceram elas refluir e como você tá chamando a atenção também outra outro aspecto da estudo da escravidão durante muito tempo por ter mais centralizada era é o foco ou na na no açúcar né de Pernambuco de isso então no noaf at as imag né a gente sabe também que essa imagem plural que você tá construindo e toda uma historiografia muito importante sobre a escravidão vem construindo mostra que a escravidão foi muito mais Ampla e diversa e pelo Brasil
inteiro né daria quando o Brasil nem era Brasil né daria para você dar alguns exemplos essa característica é incrível porque você tem escravidão a gente costuma falar hoje a gente sabe que essas essas pressões são equivocadas do ponto de vista da geografia do apui você tem escravidão lá em cima no Rio Negro escravidão africana e lá numa produção de trigo no Rio Grande do Sul na primeira metade do século 1 primeira metade do século X se você compara com outras sociedades escravistas nas Américas vamos pegar o caso do que seria os Estados Unidos ou América
né aquela ocupação tem abolicionista norte-americano em 1840 no norte que nunca tinha visto um escravo e essa ideia como são muitas sociedades né diferente por exemplo dos Estados Unidos você no Brasil também outro mito recorrente é dizer que só os grandes senhores tinham escravos né a gente sabe que essa história não é assim né Flá não Não de jeito nenhum a a a a o acesso à propriedade escrava era muito extenso né embora a gente conheça pouco sobre como isso se dava no mundo Rural como a gente conhece pouco hist em termos de historiografia como
era a vida de um pequeno proprietário de um sitiante né aquela ideia de que o homem do mundo Rural tá ligado muito a presença oral nas cidades a a propriedade escrava foi mais digamos assim muitos aí você tem você tem as imagens dos Viajantes que é o sujeito que sai de casa e tem um um escravo para carregar o seu embrulho o seu pacote essas coisas os estudos aqui no Brasil Já chamam quem tem mais de 40 escravos como grande proprietário mas só que tinha sujeito que tinha 40 escravos numa região que era um grande
proprietário mas numa região que o sujeito podia ter 400 escravos esse sujeito não era um grandes escravista comparando com outras regiões de escravistas Jamaica por exemplo Esse número é pequeno porque um grande fazendeiro na Jamaica tinha que ter 600 a 700 escravos então no Brasil você tem algumas indicações de proprietários até com 1000 escravos mas até propriedades o qu religiosas Jesuítas tinham fazendas chegaram até 600 700 beninos também fazendas alguns senhores no Vale do Paraíba não com uma só fazenda mas TRS qu C conseguia ter do escravos né no mundo Urbano quer dizer o mínimo
é um escravo né então você tem muitos pequenos proprietários Ness sentido as idades variavam muito né porque a gente vê nos anúncios de fuga que um escravo de 35 anos é descrito como um velho e um escravo de 12 já apto ao trabalho né aparece exato exato quer dizer os números do tráfico a gente podia falar como tendência os africanos estão chegando aqui entre 9 e 14 anos né como tendência mas nada tem pode ter impedido de ter chegado um africano aqui com 25 30 40 anos né e tem um desequilíbrio enfim mais homens do
que muito mais ou seja a ideia de mais ou menos e 10 homens para duas mulheres só que no momento que você tem a criação demográfica ou seja os nascidos escravos no Brasil esse equilíbrio logo e a mortalidade também os índices de mortalidade altíssimos altíssimos né e enfim não e os índices de mortalidade também Embora tenha alterado a população com os criolos o índice de mortalidade infantil dos filhos de criolos eram muito altos em algumas regiões Então por mais que nascessem mais criolos e pudesse alterar o regime demográfico morria muita gente jovem é se dizia
na primeira geração num crescimento negativo de esc não acho que o grande exemplo é os Estados Unidos quando tem o final do tráfico no início do século XIX entre o final da escravidão nos Estados Unidos na década de 60 população escrava norte-americana cresce quatro vezes ou seja sem entrada do tráfico Atlântico Claro quer dizer e no Brasil ao contrário quer dizer diminui pelo quê pela o índice de mortalidade muito alto e o regime castigado regime de castigo e também um fato que é bem da escravidão brasileira que é o fato da alforria ah essa é
uma especificidade brasileira né isso né muitas alforrias não necessariamente por bondade benignidade até nos relações mesmo de eh econômicas né as cidades por exemplo começam a chegar uma população de trabalhadores Imigrantes portugues e tal então para algum fazer um senhor que tem ali dois três escravos trabalhando ao ganho na cidade é mais vantagem não é mais vantagem ele manter esse escravo CL E aí quem é o melhor comprador para esse escravo o próprio escravo o próprio n é Flávio vamos falar também aqui de de um lado da sua teoria mesmo né e das suas pesquisas
que é um lado importantíssimo os escravos de foram vítima assim do sistema né porque ninguém escolhe ser escravo e entraram compulsoriamente Ah no país assim como se mantiveram nessa condição mas também diferente do que fala o mito de uma escravidão benigna não há escravidão benigna né um sistema que supõe a posse de um homem por outro mas os escravos no Brasil se revoltaram mais se não é se rebelaram mais vamos falar um pouco desse outro lado do lado da rebelião e negociação isso isso o mito da da escravidão benevolente contra uma escravidão Cruel foi criado
exatamente na dimensão de explicar a realidade racial que essas sociedades enfrentaram no pós-abolição a ideia de que você tem uma relação né simétrica ou assimétrica com senores não impedia que houvesse o protesto né [Música] [Música] o Brasil teve a revolta escrava que tem mais impacto no Atlântico no momento que tem e os quilombos né que aí é uma coisa interessante que são as comunidades caros fugidos que em várias sociedades com escravidão elas receberam nome diferente quer dizer na Colômbia palen Venezuela é cumbes marron agem sarron agem que a ideia de comunidades de na verdade escravos
que fogem formam comunidades né e a aparecer o Brasil também tem a experiência mais conhecida de mais longeva de uma comunidade dessa que é Palmares Palmares mas ao mesmo tempo a Colômbia tem uma outra experiência que tá lá até hoje também longeva que é São Basílio do palen em carten [Música] k [Música] [Música] Palmares virou um símbolo né Mas a gente pode dizer que existiam também como a escravidão era plural também que lombos muito distintos né transitórios outros totalmente integrados isso né não é até dificuldade Historiador porque os quilombos só aparece na documentação que é
o registro que Historiador tem para considerar experiência histórica quando se quer destruí-lo então provavelmente muitos Quilombos só apareceram com talvez com uma segunda geração que tem Aparecido Palmares de fato é é uma coisa única Porque as primeiras indicações são do de 1580 85 e 1740 ou seja quase 50 anos após a morte de zumbi ainda tem indicações que Palmiras tenha continuado mas tem muitas revoltas escravas no período colonial onde tinham os engenhos por exemplo em Pernambuco mas ainda em Salvador tem muitas indicações de revolta se você fosse falar para mim aqui de Quais são as
consequências do Brasil ter sido o último país abolir a escravidão de ter recebido esse número tão imenso de de Africanos Quais são as consequências atuais pro país essa a pergunta mais fácil para responder porque a a resposta é bem simples n uma única palavra desigualdade né desigualdade ela tá assentada numa dimensão histórica das hierarquias quer dizer nem não é não é a mesma coisa hierarquias todas as sociedades t hierarquias e todas as sociedades produziram suas desigualdades no Brasil uma parte substantiva dessa desigualdade foi produzida nesse Imaginário que você pode dispor do corpo do trabalho do
outro numa dimensão hierárquica né que às vezes até surpreende muita gente De que a coisa é tão explícita tão óbvia tão nítida e ao mesmo tempo invisível tão invisível Flávio muito obrigada super Obrigada por essa presença tão bonita aqui eu que te agradeço até acho que uma outra um outro tema é o tema da pós Abolição porque a gente fala muito da escravidão e parece que o passado é congelado para 1888 Você tem uma outra história de exclusão ao mesmo tempo de protagonismo da população negra eu te agradeço aí o convite bom como Flávio tá
dizendo passado não acabou mas o nosso programa sim então eu queria só dizer a você de casa que eu agradeço muito pela audiência e queria também lembrar que todas as entrevistas dessa série estão no site futura.org.br bar Muito obrigada até a próxima tchau [Música]
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