Literatura Infantojuvenil - Entrevista com Regina Zilberman sobre literatura

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Nesta segunda videoaula, o Prof. Carlos Augusto Bonifácio Leite entrevista a professora e pesquisado...
Video Transcript:
[Música] Olá alunos e alunas do curso de literatura infanto-juvenil da universp nós estamos com a nossa primeira entrevista do curso com a professora Regina zilgrimar quem tem um prazer enorme uma alegria enorme de receber eu vou ser bem sucinto professora tem um currículo super extenso ela foi graduada na urgs em 1970 tem doutorado em ridelber pós doutoramento na University é professora associada do Sul Enfim uma referência Central Um Estudo de literatura infanto-juvenil brasileira e outros temas também tem grande destaque na introdução da estética da recepção no Brasil enfim biografia um pouco descartável para todo mundo
que estuda a Literatura e também é uma referência no sentido de ser uma professora né que formou diversos professores diversas professoras ao longo desse tempo não foi aluno da professora Regina Na graduação Mas tive esse prazer na pós-graduação Então queria agradecer a professora Regina pela disponibilidade na entrevista pela presença e com certeza vai ser um grande momento para todos nós obrigado professora Obrigado o Guto também agradeço o convite eu acho que uma oportunidade muito boa da gente conversar especialmente tendo um público tão abrangente como esse que a universo atinge então e poder divulgar pesquisas e
considerações sobre literatura para crianças e jovens Muito obrigado Espero que seja que vale a pena essa nossa conversa da minha parte certamente será valer a pena obrigado é como vou começar então direto com a primeira pergunta como que você definiria a Literatura Infantil e literatura infanto-juvenil muito bem essa pergunta é uma pergunta vamos dizer assim crucial né nos nossos estudos por em primeiro lugar por parte do pressuposto de que literatura é uma coisa que a gente sabe que que é né E já comente é um conceito bastante discutido então eu vou descartar esse lado da
questão que é propriamente literatura porque quando a gente fala da Literatura Infantil juvenil ou infanto-juvenil a gente define uma modalidade de produção destinada a um público específico é um gênero que se define pelos seus consumidores O que é uma coisa muito particular dela né porque não é uma escrita criativa que é definida a partir por exemplo de quem escreve E esse sim é definido pelo público a quem as obras se destinam eu queria a respeito disso até chamar atenção Para um aspecto porque isso não aconteceu desde sempre né a literatura Clara tem uma tradição que
vai até a antiguidade mas o aparecimento da Literatura Infantil está relacionado ao processo e aparecimento de um conceito de Infância né a partir de um dado momento na sociedade ocidental especialmente a partir do século 18 nós vamos ter vamos dizer assim a estruturação da família moderna no mundo pelo mesmo mundo ocidental né ocidental esfera o norte principalmente que é uma família também chamada família burguesa né tem os papéis são muito claros do homem da mulher e da criança essa noção de infância de criança é uma noção histórica também e embora as pessoas sempre tivessem passado
pela infância considerá-la como uma idade que requer um atendimento específico isso é algo bem moderno e a Literatura Infantil passo a fazer parte desse processo de formulação de uma cultura destinada da infância E aí Engraçado que a resposta você já me carrega para segunda pergunta que é a seguinte é por mais que essa literatura infanto-juvenil embora seja definida pelo seu público é Deva né digo eu em vez de posse mais Deva também ser lida por adultos né O que justifica a existência autônoma desse Campo né são as particularidades estéticas dessa literatura é a importância dessa
criaturas são os desdobramentos ou de maneira mais trivial é o mercado a pergunta é muito é muito Fort porque realmente quando a gente fala em Literatura Infantil a primeira referência é isso ela se define pelo seu público pelo seu outras palavras pelo seu mercado o mercado não são só as crianças são também os adultos e os adultos não são só familiares são professores por exemplo né os professores que escolhem para estudar em aula etc mas o fato de ter um público específico determina algumas características estéticas sim então eu acho que essa pergunta é muito importante
vou levantar um tópico que é fundamental na medida em que a gente quando define a Literatura Infantil desde o seu público pensa efetivamente em mercado no consumo esse consumo em geral vendo adulto né quem compra os livros é o adulto ele que adquire ou ele que recomenda pode ser professor isso pode ser familiares Mas não é a criança que decide porém em termos de texto nós temos algumas características que são digamos assim estéticas que remetem a composição da obra e tudo isso pode ser de certa maneira resumido numa palavra uma palavra adequação o texto tem
que se adequar ao seu leitor o que não é muito simples de qualquer forma a gente pode dizer assim não mas todo o texto tem que se adequar ao seu leitor ele tem que dialogar com esse leitor mas não necessariamente no caso da infantil isso representa o seguinte a escolha da personagem a personagem tem que propiciar uma identificação com leitor não pode ser uma figura muito complexa muito problemática porque o leitor ainda é uma criatura um pouco a maturidade não se pode usar textos trechos muitos longos né os trechos São relativamente curtos os diálogos são
curtos as inscrições desaparecem as frases precisam ser bastante sucintas né uma frase cheia de conjunções e orações subordinadas etc não dá certo o que na literatura em geral isso não é problema e o próprio vocabulário o vocabulário tem que ser algo que não pode ser simplório Claro nem pode ser cheio de diminutivos e coisas assim mas ele tem que ser complensível tem que estar mais ou menos no universo da infância ou dos jovens se é uma literatura juvenil mas não pode ser forte grande inventividade tudo isso significa o seguinte o escritor tem que às vezes
sair fora de se pensar que na pessoa para quem está se dirigindo isso não é usual no caso da literatura né pensar para quem afinal de contas eu tô escrevendo normalmente os escritor escreve por inspiração por vontade de dizer alguma coisa mas não pensando assim eu tenho que dizer tal coisa para esse tipo de pessoa e isso talvez seja o pecto que mais particulariza é a literatura para crianças e jovens em geral Mas o modelo para criança eu já sintetiza toda Ouvindo todas Como que você vê os estudos de literatura infanto-juvenil nas universidades brasileiras assim
é suficiente podia ser mais como que você vê isso outra pergunta muito boa guto eu tô gostando dessas duas perguntas que trazem questões realmente que a gente tem que refletir eu vou voltar um pouquinho para trás do ponto de vista histórico né a Literatura Infantil foi certa maneira um campo da pedagogia por muito tempo né os cursos de formação de professores para o ensino primário ainda nos anos 40 50 é esse dentro desse Campo que começou o estudo da Literatura Infantil principalmente pensando assim livros que podiam ser usados na escola que eram adequadas as crianças
assim por diante isso perdurou digamos assim eu acho que até os anos 70 80 a reforma do ensino em 1970 mudou muito perfil dos Estudantes e vem associado a isso a mudança também das licenciaturas dos currículos em nível superior e a Literatura Infantil começou a achar um espaço Mas é ainda espaço pequeno né eu conheço alguns cursos de letras em que Literatura Infantil É uma disciplina obrigatória ou pelo menos uma disciplina frequente no currículo mas não é o usual não é usual às vezes ela é eletiva e às vezes ele é completamente ignorada isso em
termos vamos dizer assim de disciplinas em termos de pesquisa também há pouca coisa considerando vamos dizer assim considerando que nós temos Acho que pelo menos uns 400 ou 500 cursos de graduação em letras e mais de 200 programas de pós-graduação porque nós temos uma massa crítica muito consistente muito forte até internacionalmente né às vezes nós de letras não ajudamos conta da força que nós temos numérica quantitativa e qualitativa né a gente fica intimidado aí por algum tipo de ciência mais exata Mas isso não corresponde proporcionalmente é um número de pesquisas e vocações digamos assim dentro
do estudo da literatura para crianças é curioso aqui também acho que usar a expressão curioso de novo que os alunos têm uma demanda de dessa disciplina eles têm interesse porque o nosso aluno o aluno ele vai para o ensino básico preferencialmente né E aí ele fica meio à Deriva ou ele cai nas garras vamos dizer assim se me permitem a expressão Um pouco forte da pedagogia que tem uma visão diferente tem uma visão legítima visão dos pedagogos mas não é a visão da crítica literária que é mais focada Nessas questões estéticas como tu perguntasse a
gente quer saber sobre a qualidade do texto a formação do texto no modo como estrutura e essa carência eu acho que existe e esse tipo de quadro é o mesmo quadro internacional quando a gente pensa nos autores brasileiros e a forma como eles são bem sucedidos assim né nos prêmios por exemplo assim esse mesmo lugar dos estudos da literatura infanto-juvenil é assim também um pouco me valendo da tua experiência professora Internacional e também um pouco que recebeu um pouco sobre a repercussão da literatura do país como é que você não é muito diferente eu acho
que tem alguns casos é pior né quer dizer por exemplo por exemplo Portugal dá um exemplo mais próximo Portugal a gente por exemplo uma coisa muito importante para nós é justamente o ensino da literatura né Literatura Infantil entra muitas vezes por esse caminho Por que que nós vamos ensinar como é que nós vamos trabalhar com crianças de adolescentes no ensino fundamental e ele ter infantil então é um presente dos céus né então isso Portugal é um país em que não se estuda isso né se forma um letrado um bacharel ele se tiver que dar um
ensino básico aquele problema é dele em outros países da Europa ocidental é muito que aonde eu conheço melhor na Europa Oriental não conheço tem um uma presença forte na Alemanha acho que aí realmente é onde nós temos uma biografia mais consistente mais renovada e só que eu conheço ainda é o que é produzido entre os estudiosos da Alemanha talvez por efeito da estética da recepção não já não é a bola da vez mas ela produziu um grande número de pesquisa sobre isso na Inglaterra nós temos estudo sobre história da Literatura Infantil e muitas vezes essas
pesquisas sobre a questão sexismo feminismo homofobia e tal tá presente em pesquisas dos Ingleses ou história do livro mas eu não vejo muito mais do que isso na América Latina eu acho que tem alguma coisa no Chile na Argentina no México mas também não tem muita coisa isso em relação à produção acadêmica quanto ao outro lado da tua pergunta a produção brasileira no exterior ela tem tido realmente uma recepção notável da literatura brasileira em geral literatura brasileira nos últimos 30 anos seja para o estímulo governamental né Loteca pública Nacional nos anos 2000 antes disso programas
de divulgação que é arrefeceram nos últimos cinco anos mas eu espero que sejam retomados ela tem realmente uma circulação muito boa e a infantil em particular né Tem alguns mecanismos a feira de Bolonha e tal mas realmente ela tem muita circulação e já fomos bem premiados né Nós temos dois primos Anderson para ficção um prêmio Anderson para ilustração e Temos vários daqueles like waves e outros prêmios por obra né não mais autor Então realmente tem uma repercussão muito boa e tem uma respeitabilidade que eu acho que a gente tem que a gente tem que reconhecer
e divulgar né Às vezes a gente tem aquela coisa de não valorizar muito que é nosso no exterior Pode parecer nacionalismo bobo mas no caso infantil juvenil isso acontece pensando agora mudando um pouco rumo da próxima mas mantendo mesmo o mesmo caminho de reflexão pensando nas professoras e pesquisadoras professores pesquisadores de literatura infanto-juvenil O que que você indicaria como abordagem e como procedimento assim seja qual é a preocupação na hora de dar aula e de pesquisar literatura infanto-juvenil pois é eu acho assim que tem duas dois focos principais né uma questão do texto e da
leitura da obra e da Leitura aquilo que principalmente no curso de letras pode ser interessante como estudar as obras literárias conhecer o que está sendo produzido e saber trabalhar em aula com crianças e jovens isso não pode parecer simples mas não é porque o texto de Literatura Infantil não é o livro dito né não é só o texto é o texto e frustração e também não é só o texto e a ilustração é a matéria do livro o material é um livro que tem peculiaridades gráficas o tamanho a gramatura da página do tamanho da letra
e tem coisas assim que às vezes a gente não quando trabalha com literatura em geral nem se preocupa por exemplo as crianças são alfabetizadas com as letras versais elas não conhecem ainda cursiva até o segundo ano do ensino fundamental não usa cursiva então não adianta dar um texto em que ela não vai conseguir identificar as letras as palavras né tem que ter esse cuidado editoral as grandes editoras sabem disso elas fazem isso bem mas às vezes a pessoa lá é um tá vou fazer vou publicar eu mesmo eu livro e tal e cai numa fria
diga tem que cuidar tem que ter uma ilustração adequada tem que ter cores assim assado tem que ter um papel o papel tem que ser mais resistente por isso que o livro infantil é mais caro o papel não é qualquer papel né tem que aguentar a ilustração e tem que aguentar um leitor que uma criança ele tem lá as suas peculiaridades mexe vira põe de cabeça para baixo arranca a folha e tudo isso faz parte do processo então tem esse lado vamos assim que eu tô chamando textual entre aspas porque envolve o livro como um
todo né Tem um outro campo de pesquisa que é muito importante que é entender a nossa tradição de Literatura Infantil nós temos uma história da Literatura Infantil e que tem várias interlocuções inclusive com a literatura brasileira de uma parte ela foi moderna quando houve modernismo ela foi política quando nos anos 70 quando se falava né se exigiam uma redemocratização ela tava ali tava na linha de frente então tem que ser estudar E tem também obras que foram muito importantes mas nem sempre se conhece né a gente perde de vista Aquilo é publicado depois sai do
mercado então o pesquisador ou a pesquisadora que eu acho que a diferença de gênero irrelevante ele tem que ir atrás disso né porque às vezes tem coisas muito boas que foram feitas e ficaram perdidas e temos hoje bibliotecas dedicadas a Literatura Infantil né em São Paulo Monteiro Lobato aqui em Porto Alegre auxilia a mim assim por diante então também tem a Fundação Nacional do livro infantil juvenil assim tem uma biblioteca também muito boa então lugar para pesquisar tem né não falta precisa ir atrás disso eu acho que a gente tá chegando mais ou menos no
limite do tempo eu vou para uma última pergunta mas uma pergunta meio um pouco combinada assim a partir da tua última resposta você falou sobre esses livros que foram perdidos Digamos que não foram renditados foram perdidos aí a primeira pergunta é quais são esses livros né quais não podem faltar num Literatura infanto-juvenil e a segunda pergunta um pouco pensando também no trabalho que você produziu ao longo de todos esses anos né a gente pensar na noção de sistema literário do cândido onde começaria o sistema literário da literatura infanto-juvenil são essas perguntas é difícil dizer o
que que tá faltando ver né porque não a gente trabalha com fontes primárias às vezes cobre joias que não conhecia que desconhecia mas eu gosto muito por exemplo de um autor que tu não encontra no mercado que é Jerônimo Monteiro um autor dos anos 40 contemporâneo Lobato ele tem histórias de Aventura histórias de ficção científica assim distopias que são muito inovadoras a obra dele acabou sendo perdida completamente perdida ele fazia acho que ele não deixou sucessores né então é um autor que pode se recuperar Sidônio Muralha por exemplo teve um poeta muito bom português radicou
no Brasil publicou nos anos 80 não é uma coisa assim do tempo do EPA e hoje se estuda há pouco então é uma dessas joias onde a palavra jóia é tão pouco comprometida Mas é uma dessas jóias da literatura que a gente não pode deixar escapar não pode deixar para trás né Mesmo que o mercado editorial não não lembra delas não põe circulação o pesquisador tem que estudá-las né não precisa ficar só nos nomes mais significativos é claro que tem ao lado do livro tem uma outra profissão infantil que a gente não pode esquecer por
exemplo os discos dedicado ao público Infantil nos anos 40 desde O Braguinha então tem uma tradição aí eu não conheço nada sobre isso a história em quadrinho Nós também temos uma longa tradição de coisa muito interessante né o tico-tico e tal então tudo isso são coisas que podem ser recuperadas e hoje internet bibliotecas com catálogos online Então tudo ajuda né fica bem mais fácil não o garimpo é bem mais como é que eu vou dizer assim bem mais acessível né muita coisa que só tinha ácaro e pó bom isso é um lado de outra essa
pergunta sobre a questão do sistema se eu uso o conceito de sistema do cândido eu tenho que colocar essa organização de um sistema existência do sistema a partir dos anos 20 do século passado a partir daquele período ali com Tales de Andrade depois manter Lobato E aí vem uma pessoa de escritores não é Viriato Correia que são atuantes com repercussão dos anos 30 né aí todos os escritores brasileiros escreviam para criança ele correr isso Cardoso enfim todo todo os cinco estrelas que Depois vieram a ser os nossos canônicos faziam para criança eu situaria ali o
que acontece entre 1800 1920 1920 aquilo que o Cândido chama o Aderaldo também de manifestações literárias tem livros para crianças tem escritos por aqui Júlia Lopes e Outros tantos mas são coisas esporádicas não é um sistema né e tudo depende muito de apoio público né do governo comprar os livros né o Imperador comprava mandava em algumas escolas então tem todo um mecenato aí e também compromete a ideia de sistema professora muito muito obrigado pela disponibilidade Muito obrigado pelas respostas eu tenho certeza assim para mim foi uma maravilha muito muito feliz também com todas as lembranças
enfim dos nomes dos sistemas e tudo mais que muito animado e acho que sobretudo que eu acho que é sempre infinitamente tem como exemplo de professora assim Acho que a nossa preocupação é sempre com as alunas e os alunos assim então eu tenho certeza que vai ser ótimo para quem vai assistir então ele te agradecer muito Professora Muito obrigada Eu que agradeço a oportunidade desejo muito sucesso nessa atividade que está sendo desenvolvida valorizando a Literatura Infantil tenho certeza que a demanda vai ser grande pelos problemas Muito obrigado obrigado e até mais alunos e alunos estudem
consulte os materiais e até a próxima semana tchau [Música] [Música]
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