Algumas criaturas parecem ter decifrado a fórmula para algo que fascina os humanos desde sempre: a juventude eterna. São seres que, segundo as evidências científicas até agora, parecem ser biologicamente imortais. Ou seja, a não ser que sejam mortos por predadores, por doenças ou por mudanças drásticas em seu ambiente, eles podem viver indefinidamente.
Sou Camilla Costa, da BBC News Brasil em Londres, e neste vídeo eu vou falar de três desses organismos misteriosos, e de como eles são estudados por cientistas em busca de pistas para, quem sabe, mudar o processo de envelhecimento humano. Vamos a eles. Um, as planárias.
Faz mais de um século que os cientistas sabem que esses vermes geralmente aquáticos conseguem se dividir em dois – e cada uma das metades se regenera perfeitamente, formando dois indivíduos completos. Mas só em 2012 esses seres realmente entraram no radar. Foi quando uma equipe da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, publicou um estudo sobre a imortalidade em potencial das planárias.
Eles descobriram que as planárias que se reproduzem de forma assexuada – justamente se dividindo ao meio – são capazes de substituir células e tecidos danificados e rejuvenescer seu DNA. Mesmo as planárias que se reproduzem de forma sexuada, como nós, parecem conseguir criar novos músculos, pele e até mesmo cérebro, quantas vezes forem necessárias, conforme explicou o pesquisador Aziz Aboobaker na época. Isso é uma diferença gritante em relação a nós, humanos, e à maioria dos animais.
Aboobaker explicou que, no nosso caso, quando as células-tronco se dividem, seja para curar feridas, para a reprodução ou simplesmente para o corpo crescer, elas começam a perder a capacidade de substituir as células mais cansadas. É o processo natural de envelhecer, que fica muito visível, por exemplo, na nossa pele. Em humanos, cada vez que essas células se dividem, uma pequena tampinha protetora dos cromossomos, chamada telômero, vai ficando menor.
Quando o telômero fica curto demais, perde sua habilidade de se renovar e se dividir. Os cientistas da Universidade de Nottingham acham que as planárias, em particular as de reprodução assexuada, não têm esse empecilho, porque conseguem preservar os telômeros dos seus cromossomos nas células-tronco adultas. Com isso, podem ser, ao menos em teoria, imortais.
Em um novo estudo publicado em 2015, Aboomaker e colegas, agora na Universidade de Oxford, argumentaram que entender esses mecanismos em mais detalhes pode nos ajudar a entender o envelhecimento humano – e até mesmo revertê-lo. O segundo ser da nossa lista é a hidra. Na mitologia grega, a Hidra de Lerna era um monstro gigante, com características de serpente e diversas cabeças, uma delas imortal.
A cada cabeça cortada, outras duas ou três surgiam. Na lenda mitológica, derrotar a hidra era um dos 12 trabalhos de Hércules. É por causa dela que a hidra do reino animal tem esse nome.
Mas embora não seja tão assustadora, tem características parecidas com o ser mitológico. Esta criatura de aparência alienígena é um invertebrado de água doce com um corpo tubular e tentáculos ao redor da boca, que serve para picar presas. Seus poderes regenerativos intrigam os cientistas há muito tempo.
E muitas descobertas foram feitas na última década. Assim como as planárias, as hidras conseguem regenerar partes do corpo. O segredo para entender essa imortalidade em potencial está no fato de que as hidras são formadas quase exclusivamente de células-tronco que se renovam de novo, de novo e por aí vai.
Cientistas que observaram grupos de hidras durante anos não conseguiram detectar nenhum sinal de envelhecimento nelas. Fora de laboratório, elas talvez possam viver indefinidamente se escaparem de predadores, doenças e eventos climáticos extremos. Em 2018, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Davis levantaram a hipótese de um ponto-chave nessa habilidade é o controle sobre os chamados genes transposons, também conhecidos como "genes saltadores".
São genes que podem "saltar" de uma parte do genoma para outra, criando mutações, nem sempre benéficas. Quando somos jovens, nosso corpo é capaz de controlar estes genes, mas essa habilidade vai se perdendo com o envelhecimento, ainda não se sabe exatamente por quê. Já as hidras, por outro lado, podem ser capazes de reprimir estes genes para sempre.
O último ser da nossa lista é conhecido como água-viva imortal. Descoberto pela primeira vez nos anos 1880, no Mar Mediterrâneo, esse ser repleto de tentáculos hoje existe em vários ambientes aquáticos do mundo, provavelmente porque seus pólipos foram transportados por navios. O curioso é que essas águas-vivas espalhadas pelo planeta são geneticamente idênticas.
O que nos leva às habilidades surpreendentes desse ser vivo. A água-viva imortal é capaz de reiniciar seu ciclo de vida. Quando sofre estresse, fome ou ferimentos, ela regride para uma fase de desenvolvimento anterior.
A água-viva já formada consegue, por exemplo, voltar a ser pólipo. O pólipo consegue voltar a ser cisto, num ciclo sem fim, e sempre geneticamente igual. É o único animal conhecido com essa habilidade, segundo o Museu de História Natural dos Estados Unidos.
Para efeito de comparação, é como se um sapo voltasse a ser girino. Esse processo é chamado de transdiferenciação e acontece quando uma célula adulta plenamente formada se transforma em outro tipo de célula adulta. Como esse processo acontece?
Esse é o mistério que os cientistas querem desvendar. E não para por aí. Quando a água-viva volta a ser pólipo, também cria mais organismos com o mesmo código genético — então, basicamente, ao rejuvenescer, ela também clona a si mesma.
Por isso que todos os espécimes encontrados pelos mares do mundo são geneticamente iguais. Imagina o potencial disso para a medicina: a capacidade de reciclar células danificadas muitas e muitas vezes Por hoje eu fico por aqui, conta para a gente nos comentários o que você acha disso. Obrigada e até a próxima!