Um capacitista em desconstrução | Alex Duarte | TEDxPUCPR

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TEDx Talks
Alex Duarte, vem nos dizer sobre a importância das pessoas sem deficiência pensarem a respeito sobre...
Video Transcript:
[Música] tem uma pedra no meu sapato os antigos romanos usavam a expressão pedra no sapato para definir suas inquietações éticas e Morais eu trago esse termo antigo para falar sobre um termo relativamente novo chamado capacitismo e que atravessa a história das pessoas com deficiência como a minha também eu sou um homem sem deficiência de estatura mediana cabelos pretos Moreno boca grande Estou vestindo um blazer Preto uma camiseta preta com a logo do cromossomo 21 em branco e amarelo uma calça jeans preta e um sapato preto também E este aqui é o meu sinal em Libras
que corresponde a passagem da minha mão pelo meu rosto formando o sorriso atrás tem o letreiro do T10 em vermelho e também da PUC Paraná em branco essas informações podem não fazer sentido para você que enxerga mas acessibiliza esse conteúdo para aqueles que não conseguem ver o capacitismo ele tem dessas armadilhas ele sempre deixa alguém para trás o significado é o preconceito contra a pessoa com deficiência ao presumir incapacidade ele sempre se transforma em discriminação gerando percepções de menos valia e também exclusão e o Alex sou da geração 90 que não estudou com pessoas com
deficiência não se relacionou com a diferença não teve um amigo com deficiência o que eu aprendi com os livros com os glossários com os manuais é que eu era parte da diversidade humana considerada normal e aqueles que fugiram do meu padrão físico intelectual deveriam ser excluídos separados foi assim que eu aprendi e provavelmente foi assim que vocês também aprenderam um ensinamento equivocado e que mudou o significado que como a gente encara a diversidade humana ninguém assume ser preconceituoso ninguém assume eu sou capacitista até que a gente tome consciência dos nossos preconceitos Eu só fui entender
o desconforto da pedra no meu sapato quando em 2008 me tornei amigo de uma pessoa com deficiência esse encontra aconteceu na redação de um jornal impresso do qual eu trabalhava como repórter e eu fui incluído de fazer uma matéria jornalística sobre a aprovação de uma jovem com síndrome de down Adriele no vestibular vocês imaginam eu como repórter Quais foram as minhas referências limitadas que passaram pela minha cabeça durante essa entrevista Afinal as únicas referências que eu tinha sobre a síndrome de Down era das minhas visitas em escolas especiais e também dos livros então tudo que
eu enxergava nela era a sua deficiência e havia como uma criança adulta Durante a entrevista antecipadamente me vim pensamento tudo aquilo que eu achava que ele faltava Adriele não é capaz como eu Ela não aprende como nós ela não consegue o capacitismo fazia com que eu tivesse uma visão muito distorcida sobre Adriele até que ela começou a me entrevistar e ela me perguntou Alex você tem um melhor amigo tem tem alguns porque porque eu não tenho lá de vez em quando alguém me convida para um aniversário e eu sei que é por obrigação eu sinto
mas sabe esses amigos que se preocupam com a sua existência que te ligam que te validam que acreditam em você que estão presente na sua vida não tem os únicos amigos na minha vida é minha mãe e minhas irmãs a minha família eu queria te perguntar Alex se você poderia ser o meu amigo sim eu aceitei ser amigo da Adriele mas engana-se quem acha que foi porque eu era uma pessoa inclusive uma pessoa maravilhosa não a nossa amizade começou a ser construída não através das relações normais e naturais se estabelecem valores e afinidades a nossa
amizade começou com o meu preconceito eu estava com pena da Adriele na primeira semana de convivência eu comecei a me confrontar com tipos de sentimentos e emoções que até então achavam que não faziam parte da minha vida como é que eu Alex que me considera uma pessoa boa estou sentindo vergonha de conviver com uma pessoa com deficiência como eu Alex não estou tendo tempo e paciência e tolerância para esperar o tempo do outro responder o capacitismo fazia com que eu tivesse um estranhamento em relação a diferença da Adriele e a partir dali eu comecei a
me questionar mas como um bom virginiano com Luen virgem eu investi nessa busca da desconstrução para tentar combater esses preconceitos que habitavam em mim e dessa amizade nasceu o roteiro do longa cromossomo 21 que foi meu primeiro filme no cinemas e do qual Adriele foi a grande protagonista em quase 8 anos de produção e de finalização desse filme eu comecei a ser empurrado de forma genuína por uma realidade que eu antes não conhecia quero esse universo Inclusive eu comecei a ser convidado para dar palestras pelo Brasil imigrei para área da Educação da educação inclusiva a
partir dali eu comecei a me conectar com outras pessoas com deficiência com famílias atípicas pessoas da causa que me ajudaram a identificar ainda mais os meus preconceitos foram eles que me fizeram abrir os olhos eu passei a olhar para o meu redor o que antes não tinha nenhuma importância e que antes parecia invisível eu passei a perceber os buracos em desníveis os banheiros sem adaptação eu comecei a ver que cinemas repartições públicas escolas universidades todas estavam praticamente inacessíveis para as pessoas com mobilidade reduzida eu comecei a perceber também que existia uma escolas especiais que segregavam
que separavam as pessoas com deficiência de nós pessoas comuns eu percebi que a sociedade assim como eu não tava nem aí para essa realidade enfim o mundo funcionava apenas por uma parcela da população por quê Uma pedra no sapato é um problema para resolver e o problema não era a deficiência da DL não era sua forma diferente para falar sua forma diferente para pensar o problema era o meu preconceito e tudo que ele interferir na vida dela e das pessoas com deficiência a pedra do sapato ele também representava todas as minhas referências limitadas que eu
carreguei a vida inteira para chegar até aqui ressignificando esses desafios eu precisei reconhecer o meu capacitismo e ele trouxe sentimentos muitas vezes não deu me sentir muito compadecido muito envergonhado e que muitas vezes é por conta desse processo de construção eu consegui enxergar esse lugar de Privilégio que antes eu não enxergava onde muitas vezes por não acessar essas realidades eu atribuía isso como frescura vitimismo ou mimimi foi a partir daí que eu comecei então a ressignificar o que eu havia aprendido sobre a nossa Espécie a ciência nos ensinou que o contrário da palavra deficiência é
eficiência porque acreditava-se que deficiência era algo ineficiente e por isso fazemos associações equivocadas entre deficiência e incapacidade deficiência e doença deficiência e infelicidade na verdade não existe um contrário para palavra deficiência porque deficiência é um conceito que conceitua a nossa espécie homo sapiens Ou seja a gente nasce com uma deficiência ou a gente adquire ao longo da vida a deficiência é uma das inúmeras características que compõem a nossa diversidade humana o segundo passo depois de tomar consciência foi começar a identificar as minhas atitudes capacitistas e quanto mais eu me convivia com pessoas com deficiência quanto
mais eu funcionava com eles mas eu percebia esse Abismo das Diferenças eu tô falando da falta de oportunidades eu tô falando das leis a lei brasileira de inclusão que é incrível mas que na prática não funcionava eu tô falando também de ver as pessoas com deficiência praticamente gritando implorando Ei eu existo eu tô aqui acredite em mim você que está me assistindo Provavelmente você deve estar passando por uma batalha pessoal profissional enfrentando desafios para conquistar o seu sonho ou quem sabe passando atravessando uma crise Financeira ou até mesmo uma estabilidade no seu relacionamento amoroso as
pessoas com deficiência também passam por isso mas eu gostaria que você se conscientizasse que antes das pessoas com deficiência terem que passar por tudo isso elas precisam provar o direito de ser quem elas são provar o seu valor você já imaginou como é que seria para você viver no mundo que desacredita em ti o tempo todo como é que é possível a gente ser feliz Buscar a felicidade buscar a autoestima empoderamento do lugar que não acredita em você Essas barreiras atitudinais enfrentadas pela Driele também para as pessoas com deficiência era algo que eu tava começando
a perceber mesmo que essa percepção fosse apenas intelectual Afinal eu jamais vou sentir o que uma pessoa com deficiência sente quais são os tipos de Emoções causadas pelo capacitismo mas desse lugar aqui que eu culpo como uma pessoa sem deficiência eu poderia sim ofertar a minha escuta a minha aliança o meu interesse do lugar que eu culpo como diretor de cinema escritor educador eu poderia sim combater eu deveria combater o capacitismo e é dessa desconstrução que eu quero convidar você para participar essas fotos no lado esquerdo que estão no quadro são fotos dos meus alunos
os Expedicionários adultos como síndrome de Down eles participaram de um programa de imersão que eu criei chamada expedição 21 e que busca desenvolver buscar a autonomia e também promover a tomada de decisão na vida adulta a maioria das pesquisas em educação no país são para afirmar através de testes e provas que pessoas com síndrome de down aprendem menos do que os outros isso não é verdade lá na expedição a gente simulou uma sociedade completamente inclusiva que Aposta que autoriza que acredita e foca nas potencialidades eu não gostaria de falar sobre esse assunto ainda mas eu
vou falar [Música] na formação histórica das pessoas com deficiência a Eugenia ainda se faz presente os Estados Unidos 68% dos bebês que são diagnosticados com síndrome de down eles são abortados essa estatística ela chega a 100% na Islândia ou seja houve a erradicação da síndrome de Down na contramão dos discursos que insistem em catalogar sintomas explicações biológicas e comportamento padrão lá na expedição a gente viu justamente o contrário disso e testemunhamos jovens como Vinícius estrela Tati Castelli que depois da experiência estão morando sozinhos como Vitor Veloso que conseguiu construir o seu senso de localização e
vai e volta sozinho para casa como a Stephanie que tá aqui me assistindo e hoje trabalha de forma independente assim como também a Isa e o Samuel cessaro que se conheceram na expedição casaram se apaixonaram e hoje vive uma vida a dois uma pena que eu passei anos e anos da minha vida responsabilizando a deficiência como a grande culpada e não aprender eu julgava que qualquer dificuldade que se apresentasse no meu caminho como educador a culpa sempre ia recair a deficiência não aprendeu É porque tem uma deficiência nunca eu inverti as perguntas nunca eu fui
capaz de olhar para as minhas limitações e no momento em que eu comecei a olhar para as minhas limitações eu me questionei pera aí o que Alex que motiva ainda o seu posicionamento limitador diante da deficiência do outro e por quê E a partir disso eu comecei a notar que os limites estavam nas situações culturais que me envolviam e que eu Alex se ofertasse tempo sentimento se oferecesse acessibilidade e minha empatia eles iriam aprender assim do seu tempo e do seu jeito eu precisei quebrar a arrogância de ver o mundo como eu achava que ele
era e não como ele fosse e a partir dali eu Tornei a inclusão Um Valor inegociável na minha vida a gente não negocia o nosso caráter certo muito menos os nossos valores Mas por que que a gente continua Deixando as pessoas com deficiência para trás Será que o seu valor e o seu caráter são seletivos a inclusão social ele é uma proposta de transformação benéfica para toda a sociedade onde o mundo precisa ser preparado o momento em que eu melhoro um ambiente para pessoas que são cadeirantes automaticamente eu estou melhorando esse ambiente também para pessoas
obesas para idosos para gestantes engana-se quem acha que a inclusão é um conceito que beneficia somente as pessoas com deficiência não eu tô falando da nossa espécie seres humanos e se desconstruir é perceber que esse assunto ele não precisa bater diretamente na sua porta para você se interessar porque olhar para esse assunto é olhar para o nosso futuro o futuro dos nossos filhos dos nossos netos as nossas familiares é olhar para o nosso futuro eu Alex hoje não sou uma pessoa com deficiência mas amanhã eu já não sei mais e será que só amanhã eu
vou preparar um mundo verdadeiramente inclusive onde todos caem nele tinha uma pedra no meu sapato e não é porque agora que eu a identifiquei que eu deixarei de me desconstruir que eu vou deixar de mim quietar afinal a desconstrução é um caminho sem fim é um caminho sem volta é um caminho que nos leva autorizar amar e acelerar a nossa espécie que não é normal muito menos anormal deficiente ou padrão a nossa espécie ela é diversa e lembre-se tudo aquilo que você permitir é o que vai continuar na sua vida e que vai impactar diretamente
na vida de todas as outras pessoas então permita-se a desconstruir obrigado
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