Olá pessoal, eu sou Simone Sarmento, professora de Língua Inglesa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e hoje nós vamos falar sobre gêneros textuais acadêmicos. Essa aula faz parte do curso de escrita acadêmica da Rosana Pinheiro Machado, está no canal dela e venho complementar a aula da Jana Viscardi que aconteceu antes desta, se vocês ainda não assistiram a aula da Jana, sugiro que assistam a dela primeiro e depois venham pra cá, porque essa vem complementar aquela aula. E essa vai ser uma aula de mão na massa, nós vamos aprender a analisar um gênero, um texto.
Vou compartilhar a tela com vocês. Quando pensamos nos gêneros acadêmicos vêm a mente: abstract, artigos, TCCs, teses, dissertações. Hoje em dia são vários os gêneros, temos os gêneros orais, como os podcasts, vídeos aulas, etc.
Como esse é um curso de escrita acadêmica, nós vamos nos concentrar nos gêneros escritos. São os gêneros do discurso, em uma perspectiva bakhtiniana eles são tipos relativamentes estáveis de textos, que a gente reconhece com base na nossa experiência de vida. E os gêneros perpassam por toda a nossa comunicação, e são internamente caracterizados por três elementos centrais: o conteúdo temático, que seria o assunto, a construção de sentido.
O estilo, que são os elementos linguísticos escolhidos para dizer aquilo que a gente quer dizer, o vocabulário, a gramática, o registro se é mais formal ou informal. A construção composicional, que é a progressão temática, a coesão, a coerência do texto, e é muito importante, os gêneros sempre têm um interlocutor, tudo que a gente faz em termos de comunicação se comunica para alguém e ou para gente mesmo, mas o interlocutor somos nós. Os gêneros podem ser nomeados, nós vamos ver exemplos em breve.
Vamos ver agora um exemplo de um gênero que é uma imagem, eu quero que vocês pensem: como se chama esse gênero? qual o seu propósito? quem escreve?
para quem que escreve? e onde encontramos esse tipo de texto? Esse é um texto bastante fácil de reconhecer, e não precisa nem entender o que tá escrito pra saber que gênero é esse, se trata de uma bula de remédio, como que a gente pode saber que é uma bula?
Eles têm uns elementos muito prototípicos, até formato e etc. Qual o propósito deste texto? Qual o propósito de uma bula de remédio?
Fornecer informações e orientações sobre medicamentos, essas informações são necessárias para o uso seguro e tratamento eficaz. Quem escreve? São os laboratórios farmacêuticos, têm pessoas responsáveis por escrever os textos, mas de autoria do laboratório.
A quem se destina uma bula de remédio? Aos usuários do medicamento e profissionais da saúde. e onde encontramos esse gênero?
Onde ele circula? Nas embalagens dos produtos farmacêuticos. Quando compramos um produto farmacêutico, dentro da embalagem a gente vai encontrar a bula.
Quando a gente vai pra uma perspectiva mais profissional, um gênero é um evento comunicativo reconhecido por seu conjunto de propósitos comunicativos identificados, que são compreendidos mutuamente pelos membros dessa comunidade profissional ou acadêmica, no qual esse gênero ocorre. [Leitura do slide] O Propósito comunicativo é o fator mais importante na identificação de gêneros, e refere-se às razões para interagir, por que que a gente escreve o que escreve? Por exemplo, o propósito de uma resenha crítica é informar leitores, de uma maneira clara e objetiva sobre o assunto tratado em um livro, em um artigo, evidenciando a contribuição do autor daquele livro daquele artigo e recomendando, ou não, a leitura daquela obra resenhada [fim da leitura].
O que que acontece na criatividade? a gente estava falando sobre a convencionalidade. Cada texto vai ter algum grau de criatividade, e alguns aceitam muito mais que se crie, em termos de estilo, do que outros.
A estabilidade dos gêneros também nos permite reconhecer que a receita de Bloody Mary é diferente de uma receita de Martini ou de uma receita de Gin Tônica. Mesma coisa com a bula de remédio, a bula do Paracetamol, vai ser diferente da bula da hidroxicloroquina. Vamos agora fazer algumas tentativas de analisar um gênero juntos.
[Leitura do slide] Que gênero é produzido quando a gente vai enviar um artigo para o periódicos? Quando se vai solicitar uma bolsa de pesquisa? Escrever uma proposta de livro?
Quando a gente conclui TCC, dissertação ou tese? Quando vamos escrever uma proposta para uma conferência? Ou uma proposta para um capítulo de livro?
[Fim da leitura] Estamos falando do que? De um abstract, de um resumo. Eu vou me referir a abstract, porque abstract é menos polissêmico.
Quando a gente fala resumo, pode ser aquele resumo escolar que a gente fazia pra estudar quando lia muita coisa. E eu estou falando desse texto bem convencional, que vem antes de um artigo e nas apresentações de conferência. Esse é um texto meu, um abstract de uma conferência.
O que é um esse abstract? É um breve texto que vai descrever um trabalho maior, e temos que ser muito concisos para dizer o que vêm naquele texto maior. Fornece aos leitores uma visão geral rápida do trabalho.
Quais são os elementos que tem que conter um abstract? A ideia central, o objetivo, a metodologia, resultados, implicações ou aplicações da pesquisa. Dependendo da área e do tipo de trabalho que a gente tá resumindo no abstract, nós vamos ter elementos diferentes.
Vamos ver as partes desse abstract, eu comecei falando sobre o objetivo do trabalho e apresentação dos resultados de uma investigação. Falei um pouco da metodologia, a análise foi realizada usando os conectores de palavra, com a ferramenta Sketch Engine, o teste estatístico que foi utilizado, apresentei os resultados e falei das implicações. Então, qual é a importância desse estudo para um cenário maior?
Sempre pensando que um texto vai estar inserido dentro de uma área de conhecimento ou mais áreas. [Leitura do slide] Por que a gente escreve um abstract? Porque eles permitem que os leitores interessados no trabalho decidam se vale a pena ler esse trabalho ou não [fim da leitura].
Daí a importância tão grande de ter um abstract bem escrito, porque ele tem que apresentar muitos elementos para as pessoas decidirem ler ou não. Mas é muito importante: O abstract é um documento original, ele não é uma cópia dos trechos daquela tese ou daquela dissertação. Ele é um documento que vai ser redigido para esse gênero abstract, ele vai ter os elementos que são partes só desse tipo de texto.
Como que a gente escreve um abstract? Eu vou dar algumas dicas que podem ser usadas para todos os outros gêneros. Quando a gente vai escrever uma abstract para um periódico a primeira coisa é ler as normas de publicação, quando disponíveis.
Periódico sempre tem, em outros tipos de textos quando a gente vai submeter um trabalho para uma conferência também, mas muitas vezes para TCC, teses, dissertações não há normas disponíveis. Outros gêneros que são muito utilizados na área acadêmica, como ensaios, são textos que são menos convencionais e às vezes a gente pode ficar em dúvida, eu estou fazendo a coisa certa, ou não? Por isso, é bom perguntar pro professor, o que que é um ensaio?
Que tamanho ele é? Que tipo de informação que deve ter esse tipo de texto? É importante ler as normas quando disponíveis.
Aqui temos o exemplo de uma norma da Revista Alfa de linguística, da base Scielo que é a principal base de referência dos periódicos brasileiros, é um texto de no mínimo 150 palavras, máximo, 200, e ele fala dos elementos que tem que conter, resumo do artigo, seus objetivos, referenciais teóricos e formato. É importante que a gente leia as normas do periódico específico, daquela publicação. Esse periódico Alfa dá as normas sobre as palavras chave.
Seria o máximo de 7 palavras, separado por ponto. Podemos dizer que conteúdo e forma são imbricados, quando a gente pensa em um gênero acadêmico. Na minha universidade e no meu departamento a gente não tem normas específicas, por isso, é importante perguntar ao professor e colegas, e ler muitos exemplares do gênero que se pretende escrever.
Se for para o periódico, além de ler as normas a gente tem que ler os artigos e os abstracts daquele periódico específico, para entender como que os revisores daquele periódico entendem o que é um artigo, o que é uma resenha naquele periódico e como são os abstracts. Ter bom modelos de texto é muito importante, isso não tem a ver com criatividade e nem com plágio. O plágio acontece quando a gente rouba ideias de outros e parágrafos inteiros.
A gente está falando de ter modelos, e alguma coisa pra se basear e quanto mais inexperiente a gente é, mais precisa de modelos, quanto mais a gente tem bagagem e uma estrada maior, os modelos acabam sendo não tão importantes quanto no início da nossa carreira acadêmica. Voltando para a análise de um abstract, o abstract é escrito em texto corrido ou é dividido em partes? Isso tem a ver com área e com o periódico em si, estamos falando de fora.
Que tipo de informações esse abstract contém? Aqui estamos falando do conteúdo, eu vou mostrar pra vocês alguns exemplos. Esse abstract da Revista Alfa de linguística, uma das mais importantes do país, é um texto que foi escrito em um parágrafo só, ele apresenta o tema, o histórico da área da semântica e depois o objetivo do trabalho, a metodologia deste trabalho, foram revisitados as principais obras do semanticista e o autor termina falando do tipo de artigo, que é uma revisão bibliográfica, cujo objetivo reside em apresentar uma introdução à Teoria.
Vamos em um outro exemplo. Aqui é uma revista de saúde pública, a forma muda bastante, ele é um abstract todo estruturado, fala do objetivo, método, resultado, conclusões, e fica mais fácil até da gente identificar a parte. Nas áreas quem tem uma tradição de pesquisa, que segue o tradicional método científico, aqui não tem nenhum julgamento de valores sobre métodos, mas são métodos mais estruturados, que fica muito mais fácil de apresentar ele em partes.
Nas áreas das ciências humanas os abstract não seguem uma forma tão convencional e estruturado. Sobre os recursos linguísticos, sobre estilo. Algumas perguntas que a gente pode se fazer, e a Jana falou na aula dela, é sobre a primeira pessoa.
A maioria dos textos acadêmicos não se usa a primeira pessoa do singular ou plural, mas algumas áreas permitem e fazem bastante o uso, então é importante a gente saber que área a gente tá inserido e se é permitido, como o periódico na qual eu quero submeter o meu artigo entende esse uso. [Leitura do slide] Há preferência por uma voz ativa ou voz passiva? Usa mais o presente ou o pretérito?
E alguns outros aspectos linguísticos que chamam atenção [fim da leitura]. Vamos a um exemplo, temos o periódico Educação e Sociedade da base scielo, o objetivo do artigo é descrever e aqui temos a passiva sintética, defende-se, recorre-se, ou seja, não há o uso de primeira pessoa. Isso é uma estratégia para colocar uma certa distância e os verbos, eles não estão no pretérito.
Aqui o periódico é horizontes antropológicos, o sujeito é o artigo, o artigo problematiza o uso do presente do indicativo, mas temos aqui já o uso da primeira pessoa do singular: “Neste artigo procuro, não apenas rever criticamente a noção do antijogo, como suposta antítese daquilo que ao longo do tempo se estabeleceu”, Ou seja, esse autor, um autor que foi publicado em uma das revistas mais importantes da área, usou a primeira pessoa. É importante a gente conhecer as normas de publicação da nossa área, até mesmo para transgredir as normas, porque aí a gente toma uma decisão informada. Na Revista Ambiente e Água, já é um resumo um pouco mais estruturado com mais uso da voz passiva.
Na mesma revista, ambos os modelos foram adequados para a simulação. . .
O uso da voz passiva é muito utilizado quando se quer descrever um processo e vai ser um recurso que vamos lançar a mão, dependendo do tipo de estudo que a gente estará reportando e colocando esse artigo. [Leitura do slide] Concluindo, os gêneros acadêmicos possuem uma grande dose de estabilidade e recorrência, [fim da leitura] e até mesmo para transgredimos essas normas é importante que a gente conheça essa estabilidade e essa recorrência pra então poder alçar voos diferentes. É muito importante conhecer as características, a estrutura, o conteúdo, o estilo ou o interlocutor.
Quando pensamos em um periódico, temos que conhecer o interlocutor daquele periódico, é um periódico mais para alunos? ele é para pares? ele é interdisciplinar?
Tudo isso vai ter diferença na composição do texto que vamos escrever. É super importante perguntar para os professores quando a gente tá começando, vocês que ainda estão na graduação, o professor pede um ensaio. Pergunta: o que é um ensaio?
tem um exemplo do ensaio que foi legal que a gente possa ler? É importante conhecer aquele gênero que a gente tá introduzido. Em termos de formato, de aspectos linguísticos, de interlocução, é bom ler e analisar exemplares dos textos que a gente quer produzir.
Qual é a extensão daquele artigo? quantas páginas é a introdução? referencial teórico e etc Aqui estão as referências utilizadas, os meus contatos, meu e-mail e o meu twitter.
Uma mensagem que eu queria deixar pra vocês aqui é a de que a vida acadêmica, ela não precisa ser solitária, é muito bom quando a gente tem um grupo de pesquisa, um grupo de colegas que a gente compartilha os nossos textos. Na nossa escola, não se tem esse hábito de um aluno ler o texto de outro de uma forma construtiva. Meu grupo de pesquisa a gente faz isso com todo mundo, eu tenho alunos que já terminaram o doutorado e alunos que estão iniciando a graduação, que são bolsistas de iniciação científica e todo mundo lê e todo mundo palpita no texto de todo mundo e assim todo mundo aprende junto.
É super importante que vocês tenham pessoas que vocês confiem, que vocês possam mostrar os textos de vocês. Nenhum texto nasce e fica pronto em uma sentada, são muitas revisões, são revisões que nós fazemos, que os nossos colegas fazem, que meus alunos fazem, todos os textos que eu escrevo, eu peço para vários alunos lerem e assim a gente vai se constituindo do como um bom escritor de textos acadêmicos. Era isso que eu tinha pra dizer, muito obrigada, qualquer dúvida ou comentário me contatem nas redes.
Muito obrigada.