Negros no mercado de trabalho: Avanços e barreiras

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TRT5 - Bahia
Esta reportagem especial, produzida pela Secretaria da Comunicação do TRT da Bahia, aborda a inserçã...
Video Transcript:
Raça, ritmo e cor. Salvador é uma cidade marcada pela cultura e por sua história, e ainda por ser a cidade mais negra do país. Meu nome é Leonam Vicente, eu tenho 22 anos e sou de Salvador.
Sou estudante de medicina mas nunca me imaginei nessa profissão, por conta de questões sociais, como ter estudado no colégio público e ser de origem humilde. E seu povo desde a escravidão até os dias atuais ainda enfrenta dificuldades para ser incluído de forma qualificada no mercado de trabalho. Meu nome é Márcio Gabriel, tenho 15 anos, estou fazendo o 7ºano e tenho como objetivo ser professor de dança.
Pra entrar no mercado de trabalho eu acho que um dos maiores desafios são as seleções porque, nos dias de hoje, eles selecionam mais as pessoas brancas, então os negros ficam como últimas opções, e tipo assim, como eu sou negro, acho que vou ser uma das opções, não que eu mereça ser mas, serei um dos últimos escolhidos. A história do negro no Brasil é a própria história do trabalho no país. Uma vez eu vi uma inscrição no muro de Salvador dizendo assim: "a Princesa Isabel esqueceu de assinar a nossa carteira de trabalho", e foi bem isso que aconteceu.
Percebo que a inserção dos negros no mercado de trabalho passa por uma história muito grande que nós tivemos. Tivemos mais de dois séculos de escravidão, tivemos depois a servidão, então nós temos um ranço, nós que eu digo não são as pessoas brancas, são as pessoas brancas e negras também. Então nós temos um ranço, nós carregamos isso, essa história no nosso espírito.
Pra gente é importante pensar que esse é um país que tem um silêncio em torno de uma abolição inconclusa. Esse é um país que fez abolição, mas a população negra saiu com a mão na frente e outra atrás. Não existiu políticas para dar a virada pós quase 400 anos de sistema escravista.
Essa situação continua deixando suas fraturas na sociedade brasileira. O racismo nas empresas foi exposto em uma pesquisa do Instituto Ethos de 2016. As pessoas negras no país ocupam apenas 3,6% dos cargos de gerência e 4,7% estão no quadro de executivos de grandes empresas.
Por outro lado, 57% das vagas de baixa exigência profissional são ocupados majoritariamente por negros. Uma dúvida que há uma distinção, sim. Há uma certa resistência na aceitação.
Graças a Deus isso vem mudando, a gente já percebe com toda a clareza que vem mudando, mas ainda existe essa resistência, esse obstáculo maior em razão da cor da pele das pessoas. Eu pensei na carreira que eu queria seguir. Pesquisei bastante, escolhi medicina.
Minha mãe não me apoiou muito porque ela sabe que é um curso difícil pra fazer. Ela não acreditava muito em mim, e quase ninguém acreditou, só eu mesmo. Eu quero fazer faculdade de dança, e acho que a política de cotas vai me ajudar.
Eu fui pedir uma bolsa em um colégio particular da cidade. É o melhor colégio de lá. Eu mostrei minhas notas e o coordenador do curso me aceitou lá.
Como eu era uma pessoa que gostava muito de tirar dúvidas, um professor acabou se chateando comigo. Em uma das aulas ele me chamou de macaco no meio de todo mundo e todo mundo deu risada. Eu pensei em processar ele, fazer alguma coisa do tipo, mas eu pensei muito no que eu queria, no meu foco, porque se eu fizesse isso talvez eu me estressasse um pouco mais.
E acabei não denunciando ele também por conta de ser bolsista, poderia perder minha bolsa e acabar sendo prejudicado. E aí, com sete meses de estudo eu fiz a prova e consegui ser aprovado em seis faculdades de medicina: três particulares, bolsas integrais, e três públicas. Nos últimos 15 anos, políticas afirmativas de reparação tentam mudar esse cenário.
O gestor, seja nos concurso nos estados, nos municípios, ele ou ela é obrigada a aplicar as cotas. Então, é a primeira vez que em muitos casos a gente tá quebrando verdadeiras dinastias de presença, quase que exclusivamente branca em órgãos que nunca teve uma pessoa negra numa posição de decisão. Na condição de primeira e única gestora negra na época, do Brasil, eu sentia justamente essa exclusão.
Porque eu sou a única no século 20? Isso prova toda exclusão desse processo educacional. Esse processo na sociedade excludente, que faz com que nós tenhamos uma linha divisória.
Até aqui você pode, daqui pra cá você não pode. Se eu não conseguir trabalhar na instituição privada, eu vou fazer concursos públicos, porque aí eu entrarei legalmente. Nós já temos, aqui no Brasil, um Ministro de Corte Suprema, Ministro de cortes superiores, pessoas da raça negra.
Mas para se ter uma ideia, no nosso Tribunal do Trabalho nós temos 1 entre 29, é uma coisa assim, um tanto injusta. Essas pessoas não tiveram méritos para chegar lá ou não tiveram oportunidade de chegar lá? Então eu acredito que há sim a necessidade de se manter uma política de discriminação positiva, que se busque que em futuro, tomara que seja breve, essa política se torne desnecessária.
Muitas pessoas criticam as cotas para negros dizendo que todo mundo é igual. Sim, todo mundo é igual, mas tem que ver também o contexto social, por quê o fato de a pessoa ser negra, realmente não a torna incapaz. Mas, por exemplo, quando você é um cotista negro, você também tem que ter uma renda per capita menor do que um salário mínimo e meio, então essa é não é só uma questão de pele mas também uma questão social.
Nossa juventude negra precisa de oportunidades. A gente acredita que através da educação e da oportunidade de qualificação, nós teremos uma população futura mais atuante, que tenha mais intervenção no desenvolvimento desse país e da cidade O que eu pretendo é passar por experiências primeiro, por testes e quando eu estiver me sentindo já bem firme pra ser, eu pretendo abrir uma escola. A gente sempre carregou a nossa liberdade na cabeça.
Os homens negros sempre carregaram a sua liberdade e com muito peso nas costas, então empreender para nós foi uma saída histórica. Desde as trabalhadoras de ganhos nós atravessamos o século 20 inventando a nossa liberdade. A briga, eu costumo dizer, a briga não pode ser entre pessoas brancas e negras, não é isso, mas a briga precisa existir entre o passado e o futuro.
E essa briga é feita no presente. O que é que um negro, jovem, precisa fazer? Primeiro estudar, sair da inércia de que não vai para lugar nenhum.
Vai! O único caminho é a qualificação, a capacitação. Quanto mais você souber, mais oportunidade você terá.
Eu enxergo a sociedade assim, com mais negros envolvido nas coisas, porque se eles estão conseguindo fazer o que eles estão fazendo agora, daqui pra frente vão conseguir se mostrar mais, mostrar mais potencial, mostrar mais o seu valor. Independente da sua pele, você é capaz! Você pode sim conseguir se você estudar bastante, como qualquer outra pessoa, mas também utilizar cotas, eu acho que isso é importante.
Nunca se sinta menor por isso, porque se existe é porque precisa!
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