#041 - Estudo de Gêneses: Haroldo Dutra Dias

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Esse episódio vai tratar da parceria entre a criatura e o Criador e da parte que cabe a cada um, na ...
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Hoje, mais um episódio do nosso estudo de Gênesis. Nós estamos no capítulo 2 e depois de uma panorâmica, de explicar alguns aspectos que fechavam aquele ciclo do capítulo 1, nós ingressamos neste episódio com um estudo mais específico dos versículos, especialmente dos versículos 5 a 7. Eu vou ler na tradução da Bíblia de Jerusalém Gênesis 2: 4-7: “No tempo em que o Senhor Deus fez a Terra e o Céu, não havia ainda nenhum arbusto dos campos sobre a Terra e nenhuma erva dos campos tinha ainda crescido, porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a Terra e não havia homem para cultivar o solo.
Então o Senhor Deus modelou [formou] o homem com a argila do solo. ” Este é o texto que inaugura essa nova etapa dessa narrativa em espiral do livro de Gênesis. Hoje tem dois temas que queremos abordar bastante interessantes.
Todos devem ter percebido que a narrativa parece entrar em contradição. Nós estamos, aqui, diante da chamada contradição aparente, porque todo mundo se recorda de Gênesis 1: em que o texto conta sobre a criação das ervas que davam sementes, das árvoresdos frutos, das verduras:, esse era o terceiro dia. No terceiro dia toda a vegetação foi criada e, aqui, curiosamente o texto retoma a narrativa, caminhando para a criação do homem e diz que, ainda, não tinha crescido nenhum arbusto nos campos e nenhuma erva ainda havia crescido e, aí, Deus foi formar o homem.
Ora, este é um exemplo clássico de como se dá uma narrativa no texto do povo hebreu: a narrativa em espiral, em que primeiro você dá um voo panorâmico – é como se você entrasse em um helicóptero e sobrevoasse rapidamente em dez minutos a sua cidade, este helicóptero pousa e, daí, você contrata nova viagem, mas, agora, este helicóptero vai passar detidamente sobre cada região da sua cidade. É o que está acontecendo aqui. Há uma narrativa geral, literária, colocada ponto a ponto, com os dias (primeiro dia, segundo dia, terceiro dia) e, aqui, abandona-se esse esquema literário de compartimentar em dia e a narrativa passa a ter uma outra lógica, um outra divisão.
É muito bonito isto, porque revela que nós não podemos interpretar literalmente o texto. Uma interpretação literal do texto faz com que percamos essas nuances, essas características narrativas do texto bíblico. E, o que ressalta aqui?
Ressalta aqui ressalta que o narrador está retomando uma história, mas contando ela de um jeito totalmente diferente, porque, agora, ele quer dar outros destaques. Qual o destaque, aqui e agora? Este é o primeiro tema desse episódio de Gênesis: qual é o destaque?
Tem uma coisa muito bonita - muito bonita mesmo – e, para captá-la, nós temos que ir ao texto hebraico. Há uma coisa curiosa nesse pequeno trecho quando diz assim: “O Senhor Deus ainda não tinha feito brotar toda a erva na Terra e ainda não tinha feito chover sobre o solo. ” O que tem de interessante aqui?
A palavra ‘terra’ em hebraico é érets e a palavra, aqui, que é traduzida por ‘solo’ é adama. Daí, você vai perguntar qual a diferença? A palavra erets, no texto hebraico, tem duas referências: pode significar o mundo como um todo ou a terra de Israel.
Toda vez que o texto se refere à terra de Israel usa érets e quando quer dizer sobre o planeta - o nosso planeta - também utiliza a palavra erets. Mas, quando o texto bíblico, aqui, quer se referir àquele tipo de solo específico do qual Adão foi moldado, de onde a forma física ou seja, o material de onde ele foi modelado, a palavra é adamar. Adam - Adamar O Adam vem da adamar e dam é o vermelho, o sangue, a argila.
Daí, algumas traduções utilizar argila, solo solo argiloso por causa do vermelho, do barro. Muito comum também algumas traduções dizerem assim: que Adão veio do barro, por conta dessa característica da terra. Então, olha que interessante: aqui não está falando mais do planeta, está falando de uma porção específica da terra, de onde, ele é retirado, ele é moldado e, curioso, a porção que ele vai cultivar, porque quando fala que Deus não tinha feito, ainda, chover porção do solo e, não havia o homem para trabalhar nesse solo.
Olha que interessante isto: Deus irriga a terra com a sua chuva, mas o homem tem que cultivar o solo. As duas palavras são diferentes. Deve estar todo mundo se perguntando assim: qual é a lição que nós tiramos deste texto?
Eu vou trazer, aqui, um comentário um pouco mais difícil, porque é um comentário traduzido pela maior escola de rabinos do mundo é a Yeshivá de Nova Iorque. Quem publicou isto foi a Artscroll Tanach Series, mas ele tem uma dificuldade porque está parte em hebraico e parte em inglês. parte em hebraico e parte em inglês O que há de curioso nisto?
Porque, aqui, são sábios do povo hebreu, versados na primeira revelação, trazendo comentários da literatura ao longo de quatro mil a cinco mil anos. Eles pegam todos os sábios do povo hebreu e vão reunindo, trazendo as fontes e o quê eles vão destacar, aqui, nesse comentário do livro de Gênesis? Que nós temos uma parceria (nós já falamos isto aqui).
O que essa parte do livro de Gênesis quer nos ensinar é que não há um florescimento da terra, não há um cultivo da terra, se não houver a participação de dois atores: Deus e o homem Deus e o ser humano. É bonito porque a ação de Deus tem uma característica e a ação do homem tem outra característica completamente diferente. O que diferencia a ação de um e de outro?
Primeiramente, a extensão. O que o texto bíblico está dizendo é nenhuma árvore brotou, ainda, na terra, nenhuma erva do campo e, aqui, quando fala campo está dizendo do campo cultivado, de um campo agrícola, não está falando da floresta. Isto é um ponto interessante!
Nós podemos até, avançando no espírito do texto, dizer que no terceiro dia foi criada toda a vegetação, mas a vegetação bruta. Agora, o texto está fazendo referência aos campos cultivados, o que decorre de uma ação conjunta de Deus e do ser criado por Ele. Mas, a ação de Deus é mais ampla porque Deus faz chover, a sua neblina cobre a superfície de toda a Terra.
Então, ela tem um âmbito mundial, é o planeta inteiro. E, Adam não tinha cultivado o seu solo. Esta é a diferença!
Adam cultiva adamar, o seu solo, o solo de onde ele veio. Deus faz chover sobre o planeta. Então, nós temos, aqui, uma diferença de âmbito, que é uma diferença importantíssima.
Qual é a lição espiritual que nós retiramos desse texto que parece quase ser hermético. Ela não é tão difícil assim. Quer dizer que Deus tem uma ação universal e o ser humano tem uma ação sempre particular.
Ela pode envolver multidões, mas ela nunca é universal. A ação do homem não é universal. A ação do homem é uma ação de cultivo, de avodá.
A palavra avod é curiosa porque daí vem a palavra escravo, servo. Então, o cultivar, aqui – avodá -, não é simplesmente uma agricultura, é um servir. Então, se nós fôssemos preciosistas, nós diríamos assim que não havia brotado, ainda, em campo, não tinha aparecido em campo cultivado, porque o homem não tinha, ainda, exercido o seu serviço, ele não tinha servido, ele ainda não havia se tornado um servo do solo.
Olha que bonito isto: o solo que lhe dá a forma, de onde lhe vem a forma física e que ele deve servir quase que como um escravo. É importante isto porque essa palavra do servo, do servidor, vai aparecer em diversas parábolas de Jesus. Tem muitas palavras sobre isto e os fundamentos, mais uma vez, estão aqui em Gênesis.
Quer dizer, o homem não havia se tornado um servidor e Deus não havia feito chover sobre o orbe. A ação de Deus cobre o planeta. A ação do homem é direcionada e particular de servidor.
Então, o primeiro ponto aqui: eu sei que é difícil, é uma sutileza, mas nós vamos com calma mais um degrau. O que o texto também quer dizer é que, quando o ser humano, quer entregar algo, ele entrega transferindo-o. Como assim?
Eu tenho esse livro (só vou fazer uma hipótese porque eu não vou dar esse livro) e digamos que eu dê o livro. Se eu for dar o livro, eu estou transferindo esse livro - porque, na essência, ele não me pertence – para outras mãos. Não é assim que ocorre a doação do Criador e isto Emmanuel destaca de uma maneira muito bela .
Emmanuel diz assim que a dádiva do homem é algo que ele transfere de suas mãos para as mãos alheias, a dádiva do Criador é diferente, porque o Criador não age com particularismos. : Então, o Criador não beneficia uma pessoa dando-lhe algo. Como que o Criador age na sua dádiva?
A dádiva do Criador – diz Emmanuel – é como o sol, iluminando a todos indistintamente, mas cada qual recolhe segundo a sua capacidade de recepção. Isto é maravilhoso! Isto significa que quando você diz assim: ‘Oh, Pai, me ajuda!
’, Ele não vai deslocar-se da sua ação universal para atender o seu pedido particular. Na verdade, Ele faz jorrar sobre nós as bênçãos que já caem sobre todos no Universo. O que Ele pode nos ajudar é ampliando a nossa capacidade de recepção.
Deus é sempre chuva, é sempre sol, é o sol que dá a mesma luz indistintamente e é uma chuva que cai indistintamente sobre a Terra. O homem, não! O homem quando ajuda, ele ajuda alguém, porque ele não pode ajudar todos infinitamente.
O homem pode ajudar uma multidão, mas não todos, toda a criação ele não tem como abarcar. Então, a ação do homem é direcionada e a do Criador é ilimitada. Isto o texto revela, isto é muito bonito.
Terceira reflexão profunda que nós tiramos disto que o texto está querendo dizer: todas as bênçãos divinas já estão derramadas sobre nós. Então, a questão, aqui, é: você vai ao oceano, vai a um rio buscar água, porque você precisa da água. Um leva um cântaro e traz o que cabe no cântaro; outro leva um vaso enorme e traz o que cabe no vaso; o outro vai com um caminhão pipa e traz o caminhão pipa cheio da água.
Mas, o rio não está limitado, o rio está fluindo muito além da minha capacidade, ele jorra surpreendentemente acima da minha capacidade. É claro que eu estou usando, aqui, uma metáfora limitada, porque o rio é limitado. , Com Deus não, com Deus é ilimitado, Deus jorra ilimitadamente sobre nós, Ele chove ilimitadamente.
Nós já temos sobre nós tudo o que está reservado de maravilhoso e de bom. A questão é: e a minha capacidade de recolher e a minha capacidade – mais ainda – de absorver? Nem sempre a minha capacidade de recolher é idêntica à minha de absorver.
Eu recolho três galões, mas só absorvo um copo, as coisas não se harmonizam e o texto está dizendo sobre isto. Deus não havia feito chover sobre a Terra, por isso não brotava, não era o momento. Mas, quando é o momento, Ele jorra infinitamente e cabe ao homem, então, apropriando-se desse infinito da misericórdia divina, cultivar aquilo que ele consegue, a parcela que lhe é peculiar, aquilo que diz respeito a ele.
Por isso - nós aprendemos isto tanto na obra da Codificação, quanto nos textos do Emmanuel, há até ditado popular com relação a isto -, faça a tua parte que Deus ajudará. Mas, o ditado é mais profundo do que imaginamos, porque significa que ao concentrar na minha parte, na minha adamar, na minha terra, minha parcela de responsabilidade, Deus que cuida do infinito já está jorrando sobre ela e sobre as demais. Isto é bom, porque eu não tenho que ter sentimento de culpa.
Se o outro não está cultivando a parcela que lhe compete é uma questão de recepção dele, é uma questão de absorção dele. Deus não distingue pessoas: este é o ponto! Ou como diz o apóstolo Tiago, Deus não faz acepção de pessoas.
Então, é uma falácia essa teologia que prega que o Criador beneficia: para alguém ela dá tudo e para outros ele tira. Isto não existe! Jesus vai retomar a profundidade desse tema no Sermão do Monte.
No Sermão do Monte, Jesus vai dizer sobre isto: ele vai tomar essa chuva de Gênesis que nós estamos lendo em Gênesis 2: 5 e vai ampliar e vai trazer um elemento que é maravilhoso. Jesus diz assim: ‘porque Deus faz com que o Seu sol se levante sobre maus e bons e a Sua chuva desça sobre justos e injustos’. O sol vem e desponta, mas quem é posicionado para receber primeiro, o esclarecimento, a luz, o sol, é o mal; depois, a pessoa que é boa.
E, a chuva, que também é providência, mas é mais desafiador, é a tempestade, primeiro vem sobre os justos, depois sobre os injustos. Ou seja, não está dizendo que chove em um e não chove em outro. Chove!
Mas, a ordem de posicionamento ela varia sempre e, aqui, entra o aspecto característico da lição de Jesus que é o que ele acrescentou: a misericórdia divina. Sempre para beneficiar o mal e o injusto. Aquele que é mal e aquele que é injusto tem uma atenção especial, assim como a ovelha que se perdeu tem uma atenção especial em relação às noventa e nove que ficaram, aquele que está perdido tem uma atenção especial àquele que está centrado.
É o aspecto da misericórdia, pra quê? Para que não seja ferido o princípio da igualdade. Aqui, nós entramos até em uma questão do Direito: você desiguala formalmente para igualar na profundidade.
Por que eu tenho uma lei que determina que o deficiente deve ser tratado de uma maneira diferente? Porque, na prática, ele está desigualado, porque ele não tem as mesmas oportunidades de locomoção de alguém que tem um corpo normal. Então, ele esta desigualado o quê a lei faz?
Ela trata de forma desigual para igualar. Aliás, é um cuidado que a lei tem de não fazer o seguinte: tratar o deficiente de um modo tão desigual que ele fique superior ao normal. Daí não pode porque você criou o desequilíbrio.
Você tem que desigualar até que ele tenha o mesmo tratamento, ele tem a mesma condição. Aqui, também, é o que Jesus está destacando. O Criador age de maneira universal sem privilegiar quem quer que seja.
Mas, aquele que está desigualado em função da sua inferioridade, em função da sua maldade, em função de estar perdido espiritualmente, esse merece um tratamento espiritual para que, de fato, ele possa usufruir das bênçãos divinas no mesmo patamar de igualdade do outro. Não é? Está complicado.
Eu sei que, hoje, está um episódio difícil. Então, o anjo está tão bem interiormente, o anjo está tão equilibrado emocionalmente, ele está tão equilibrado intelectualmente que as bênçãos que caem sobre ele que são as mesmas que caem sobre mim são absorvidas por ele milhares de vezes mais do que eu. Por esta razão, determina a lei do amor que o anjo venha em meu auxílio para que eu também possa ampliar a minha capacidade de absorção das dádivas que caem sobre mim como caem sobre ele.
Isto é maravilhoso! Quando mais ascende o Espírito os degraus da evolução, mais ele se torna um servidor de quem está abaixo. Por quê?
Porque ele é tomado de um desejo de que todos possam assimilar como ele as dádivas que vem do Criador. Isto é muito bonito! Por isso, toda a lição do Evangelho é no sentido de orar por quem nos persegue, orar por aqueles que nos caluniam, orar pelos nossos inimigos, nunca desafiar o mal, nunca amaldiçoar o mal, perdoar setenta vezes sete, acolher, transformar o erro em virtude, não apedrejar o pecador, mas recuperá-lo.
Por quê? Para que este possa ser integrado no processo de absorção das dádivas divinas que são iguais para todos. As dádivas são iguais, mas as capacidades de percepção são diferentes.
Daí, essa ação caritativa, amorosa de quem já acendeu para o que está inferior possa também ter acesso aos mesmos recursos que jorram indistintamente sobre todos. Este é um ponto lindo e, isto aqui, é só um versículo. Mas, tem mais: Adam tem que cultivar ou servir, ser um servidor do seu solo.
Então, aqui, é um regime de parceria. Nós já lemos aqui, inclusive, um texto de Emmanuel que diz isto: ‘nós habitamos a criação em regime de condomínio com o Criador. ’ Ele faz a parte Dele, Ele é o proprietário; mas, nós temos que fazer a nossa.
É um condomínio. Deus é um vizinho, Ele mora conosco. Deus não construiu um condomínio, nos colocou e mora no outro.
Isto é importante. Deus mora no mesmo condomínio que nós moramos. É bem grande este condomínio: é o condomínio universal.
Deus ombreia conosco por misericórdia, está conosco, está ao nosso lado, atua conosco por amor, para que aja uma parceria. O que ressalta aqui desse versículo, dessa simples frase: “No tempo em que o Senhor Deus fez a Terra e o Céu, não havia ainda nenhum arbusto dos campos sobre a Terra [planeta] e nenhuma erva dos campos tinha ainda crescido, porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a Terra [planeta] e não havia homem para cultivar o solo [adamar]. Entretanto, um manancial subia da Terra e regava toda a superfície do solo”.
Percebeu? Não está dizendo aqui: ‘e o manancial jorrava dos céus’. Não!
O manancial subia da Terra e molhava a terra. Ele já veio da Terra. Ou seja, a presença de Deus não é algo que está ausente e que vai chegar.
O auxílio de Deus não é algo que está lá longe e vai chegar. Não! O auxílio de Deus já está aqui no meu problema.
A presença de Deus já está aqui comigo. Ela só vai se tornar perceptível por mim, ela só precisa do tempo para se materializar, para se concretizar no meu nível de percepção. Mas, ela já está aqui.
Então, ela sobe da Terra. Não da minha terra, mas da Terra universal. E, aqui, eu me lembro de uma frase que Sr.
Honório adorava, ele dizia assim: ‘o problema que eu vivo jamais será solucionado nos limites do que eu vivo’. Por quê? O Einstein também tem uma frase igual, vários pensadores pensaram isto: ‘a solução de um problema só é encontrada se você mudar de fase’.
Quer dizer, a solução do problema não vai ser alcançada no mesmo degrau que você encontrou o problema. Então, você encontrou um problema no degrau 3, a solução está no degrau 4: você tem que subir um degrau. Se não houver uma ampliação do seu sentimento e da sua capacidade intelectiva (da sua inteligência, que é muito mais que intelecto), se não houver uma ampliação destas duas asas – amor e sabedoria – você não resolve o problema.
Por quê? Porque a ação de Deus, que é este manancial, não sobe da sua terra, da sua adamar. Ela sobre da Terra, do globo, que é muito maior do que o solo que você cultiva.
Você cultiva um hectare, mas o manancial de Deus sobre do planeta inteiro, é muito mais do que o hectare que você cultiva. Então, a solução não está no seu hectare. Ela está no conjunto, no global.
Daí, o problema nos força a nós ampliarmos a visão. Você tem que tirar o olhar do seu hectare, do seu sítio, e enxergar mais longe, enxergar de forma mais ampla, porque essa ação do Criador vem em benefício de todos ela surge e é bonito ela brotar da Terra, porque ela vem da Terra e depois ela desce. Isto também nos revela que o Criador não impõe soluções para além daquilo que nós damos conta, para além daquilo que importa em elemento educativo.
Ou seja, não há uma ação divina que não seja educativa. Não faz sentido em tomar uma criança de três anos de idade e ensinar para ela física do segundo grau. Não é educativo, não é pedagógico.
Imaginem o Criador, que é sabedoria infinita, jorrando a sua sabedoria infinita na minha capacidade de percepção que é limitada. Do que adianta? Vai sobrar, vai desperdiçar.
. Então, não desaba de cima para baixo. Brota e, aí, cai.
Primeiro o Criador observa o que é possível, o que eu posso absorver, o que será bom, o que será educativo, até onde eu posso ir, até onde eu tenho fibra moral e intelectual para caminhar e, então, ele faz brotar a solução. Desse denominador comum Ele faz jorrar. É tudo isto que o texto está dizendo.
Em uma conversa que eu tive com a Ana, que faz de Sacramento, que tem aquela terra de Ismael (ela cultiva diversas plantas e fez um estudo disso), nós comentávamos sobre fitoterapia e ela comentava que cada planta é uma biblioteca uma biblioteca viva. Então, quando uma espécie de perde, é como se queimasse uma biblioteca de Alexandria. Por quê?
Porque aquela planta é única, ela tem características de sobrevivência, características de crescimento que foram conquistadas há milhões de anos de evolução. Então, ela tem uma história de aprendizado, de adaptação ao ambiente, de resistência, de manifestação das características únicas dela, de luta para sobreviver, para crescer, é uma história. Isto é uma lição.
Ali está uma lição viva e ela me dizia que o reino vegetal é um dos mais organizados da natureza. Por quê? Porque a ordem não é questionada, porque a planta tem livre-arbítrio quase zero, ela faz a vontade do Pai.
Então, é um reino muito receptivo à vontade divina, por isso, é muito organizado. Portanto, quando ingerimos um medicamente fitoterápico, uma homeopatia ou um floral, aquela organização do reino vegetal nos organiza por dentro, porque nós só somos desorganizados por rejeitar a vontade divina a nosso respeito. Então, nós perdemos muito tempo em um atrito.
É proposto um caminho ideal, mas nós atritamos, atritamos, atritamos, e criamos uma desordem uma desordem interior emocional e intelectiva. Emocional, porque você fica ansioso, revoltado, triste, depressivo, é tomado de ciúme, de ódio, de raiva, de mágoa e, intelectivo, porque a nossa capacidade de percepção embota e você não consegue enxergar, não consegue raciocinar, não consegue pensar diferente, não consegue enxergar o caminho que está sendo proposto. Se tivesse uma atitude de asserenar como a planta e, daí, quando ingerimos homeopatia, fitoterapia, é como se aquela organização, aquela resiliência, aquela resignação do reino vegetal viesse em nosso auxílio.
Daí, você se organiza emocionalmente, intelectivamente e começa a perceber que há, de fato, uma proposta, que as circunstâncias estão encaminhando numa direção e que aquela direção é o melhor naquele momento, pode não ser o melhor no geral, mas é o melhor naquele momento, é o melhor para aquele momento. Pode ser que, daqui a um tempo, as coisas se revertam e mudem, se transformem. Mas, naquele momento, é o melhor, porque Deus está sempre operando o melhor.
E, a história da planta é esta, porque ela foi se adaptando ao caminho que foi sendo proposto para ela e ela sempre encontrou o melhor, porque tinha pouca resistência ao da parte dela. resistência ao direcionamento É muito bonito. É o que Casimiro Cunha fala: a cartilha da natureza.
É bonito isto! É como se a natureza fosse uma escola, ela tem uma cartilha que precisa ser assimilada, ser resgatada. Tem um texto, aqui, do Emmanuel, que está no livro Harmonização e, uma frase que eu vou destacar - que será o próximo Sete Minutos com Emanuel – diz assim: “(.
. . ) o discípulo deveria saber que haverá sempre um recurso de servir amorosamente, de sua parte, e sempre um meio de iluminação por parte de Deus”.
É o que o texto está dizendo: Adão serve à adamar, que é um pedacinho do solo dele; e, Deus irriga a Terra. Então, sempre há um recurso de iluminação que parte de Deus, mas há sempre um modo de servir amorosamente de nossa parte. Quer dizer, eu não tenho obrigação nenhuma de iluminar o meu semelhante, eu não tenho responsabilidade de transformar o meu semelhante, eu não tenho responsabilidade de regenerar o meu próximo, mas eu posso sempre encontrar uma maneira, um recurso de servir amorosamente para que os meios de iluminação venham de Deus, porque Ele, sim, Ele regenera, Ele ilumina, Ele transforma, Ele age, Ele educa, Ele repreende, Ele exerce a justiça, Ele corrige.
Esta frase do Emmanuel fecha com chave de ouro o que é de Deus e o que é meu. Eu posso sempre improvisar recursos de servir amorosamente, cultivar a minha adamar. É bonita a palavra cultivar porque nós aprendemos isto: você colhe o que planta.
Então, eu preciso cultivar. Mas, de Deus vem os recursos iluminativos que são infinitos. O bonito é que, este tema que nós estamos abordando de algo que vem do Criador, próprio do Criador neste jardim, de algo que é próprio do homem, vai subentender a comunhão criatura-Criador que vai ser rompida lá na frente (nós vamos estudar isto em episódios posteriores), que é a queda de Adão e Eva, que foi o rompimento dessa comunhão.
Então, essa comunhão foi quebrada. Por quê? Porque o ser humano quis invadir a esfera de competência de Deus, quis usurpar daquilo que cabe à Deus.
Isto é bonito! E, agora, para fechar esse episódio tem uma passagem no Evangelho, que está no Sermão do Monte que Jesus diz assim: ‘os Céus e a Terra passarão’. Falou ‘Céus e Terra’, nós lembramos Gênesis.
Daí, a tradução diz assim: ‘mas nem um til da lei passará’. Vamos esclarecer aqui: só tem til na nossa linguá por exemplo, no inglês não tem. A que Jesus está se referindo?
Ele usa a menor letra que, no grego, está o iota. Mas, o grego está traduzindo o hebraico. No hebraico, a menor letra é o yod e ela é um risquinho.
É como se fosse o pingo do ‘i’, o valor dele é de ‘i’, daí yod. Em grego, é o iota. Em Português, nós fazemos uma adaptação e põe til.
E, lei, nós sabemos que é a Tora. Ou seja, nenhum iota será tirado da lei. Por que você está falando isto?
Bom, o que os comentadores hebreus descobriram aqui? No versículo 7, começa assim: ‘e formou (e modelou) o Senhor Deus o homem (o ser humano)’. Até aí tudo bem.
Do quê? ‘Da adamar’, do solo argiloso. O problema é o seguinte: tem um ‘i’ a mais no verbo quando fala que Deus formou os animais.
O verbo yatsah só tem um ‘i’, um yod. E, aqui, quando está falando que Deus formou o homem, tem dois ‘i’s, dois yod. Por que tem um ‘i’ a mais?
Não pode tirar porque nenhum yod da lei pode passar, pode ser tirado. Será que está escrito errado? Está com uma letra a mais, a menor letra.
Bonito isto, não é? Daí, nós vamos entender a frase de Jesus:‘ Céus e Terra passarão, mas nenhum yod da lei passará. O que eles entenderam então?
Tem uma diferença na formação dos animais e na formação do ser humano, porque tem uma letra a mais. E, aí, o que eles dizem? Rashi, um comentarista, um sábio que viveu em mil duzentos e pouco lá na região dos Cátaros ele disse que essa letra a mais está querendo dizer que quando Deus formou o ser humano, Ele formou um corpo físico e um outro corpo, o corpo da ressurreição, o corpo que ele terá depois da morte.
Ou seja, no homem, no ser humano, essa formação implica um corpo espiritual – para o Espírito - e o corpo físico. Por isso, um yod a mais. Chegaram a essa conclusão.
Na tradição hebraica, o corpo físico se deita, mas um outro se levanta. Isto é tão bonito porque quando André Luiz vai descrever o processo da desencarnação do Dimas, este está deitado e o quê acontece? Os Espíritos vão fazendo os desligamentos e, de repente, começa a subir uma nuvem e, por cima do corpo físico, vai formando um outro corpo.
Daí, começa a formar os membros e daí há um tempo tem um outro corpo por cima do outro. É o processo de formação do corpo espiritual. Daí, fica duplo: um corpo físico, agora morto, e um corpo espiritual que parece ser a cópia daquela, mas, na realidade, é aquele que é uma cópia deste, que estava integrado e, agora, está separado.
Daí corta e eles têm total independência: o corpo espiritual passa a ser totalmente independente do corpo físico. Daí, duas letras para quando diz que Deus formou o Adam: dois corpos. É o cuidado da poesia e a beleza do Espírito da letra.
Fica aí essa pérola para nós refletirmos sobre esse texto maravilhoso de Gênesis. No próximo episódio, nós continuamos explorando as maravilhas desses textos, que, inclusive, lançam luzes inestimáveis sobre os ensinos de Jesus.
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