Enxaqueca, Aula 3 –Geradores Centrais | Neurociência de Funções Complexas

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Video Transcript:
[vinheta ♫♫♫] Olá! Meu nome Aldo Lucion e hoje eu gostaria de analisar um outro aspecto envolvido na geração, no desencadeamento da enxaqueca, que é um aspecto de estudo muito importante para se entender as causas da enxaqueca, esse é o ponto fundamental: quais os mecanismos que estariam alterados lá no nosso sistema nervoso central, que poderiam desencadear a enxaqueca, para que a gente possa ter um tratamento mais adequado do que aqueles que nós temos agora. Eu vou analisar aqui o que se chama os geradores centrais Para esta aula, alguns conhecimentos prévios são importantes, porque nós vamos analisar só um pequeno aspecto da enxaqueca e das suas causas.
Para. . .
como conhecimentos prévios, eu gostaria de destacar que é importante, são importantes. . .
conhecer os mecanismos neurais da enxaqueca, as vias neurais, a transdução sensorial do sinal da enxaqueca. Devo dizer que esses aspectos já foram analisados em outra aula, que nós tivemos a oportunidade de fazer aqui. Fases da enxaqueca: sinais premonitórios.
Isso é importante para o que nós vamos conversar. A enxaqueca pode ser dividida em 4 fases distintas: a fase premonitória, os pródromos são sinais iniciais. Logo em seguida, nós temos, em muitos pacientes têm o que se chama aura, esses flashes de luz que a pessoa enxerga, que nós analisamos outro dia, quando conversamos sobre a depressão cortical alastrante.
A dor de cabeça pulsátil, a dor propriamente dita. E depois, finalmente nós temos a fase de resolução, que é o prósdromo, que às vezes demora bastante tempo, na verdade. Quem tem enxaqueca sabe que sempre há sinais iniciais que sinalizam: Oh.
. . eu vou ter enxaqueca!
Ela não tem, a pessoa ainda não tem a dor, mas ela sabe que vai ter. E esses sinais são muito peculiares de cada pessoa. Os mais comuns, o que a pessoa tem: bocejos excessivos, alterações de humor, dor no pescoço, uma série deles.
Na fase final dessa. . .
na parte final da fase premonitória e antes da dor, muitas vezes ocorrem essas auras, esses flashes visuais em torno de 15 à 30% das pessoas apresentam essas auras. Eu estou particularmente interessado nessa fase premonitória. Por que eu estou interessado nisso?
E por que está escrito aqui: geradores centrais da enxaqueca? Pelo seguinte: quem tem enxaqueca, normalmente não inicia pela dor. Ele tem outros simples sinais, ele tem outros sintomas.
Portanto, deve haver algum outro mecanismo alterado que não seja aquele específico da geração da dor. Lá, excitação das terminações nervosas livres da dor, algum outro mecanismo central, que é o que eu quero conversar aqui. Olhando essa figura, relativamente  complexa, mas também bem completa.
Nós temos aqui o encéfalo, e nós temos aqui um aspecto que já foi analisado na outra oportunidade, que é a depressão cortical alastrante, que altera o meio iônico e é um mecanismo importante de excitação desses. . .
dessas vias sensoriais aqui da dor. Essa aqui é a estimulação dos receptores de dor, se eles são estimulados, bem, a pessoa vai ter enxaqueca, vai ter a dor de cabeça da enxaqueca. O que eu estou falando agora é de mecanismos que ocorrem antes da dor propriamente dita.
Sabe-se que há várias estruturas do sistema nervoso central que são ativadas um pouco antes da dor propriamente dita. Estruturas, como por exemplo, aqui no hipotálamo, no lócus cerúleos, que é um núcleo nora-adrenérgico, aqui nos núcleos da rafe serotoérgico. Todas essas estruturas convergem, convergem vias para esse núcleo aqui, que é o núcleo do trigêmeo, que é uma estação inicial dessa via sensorial, via aferente da dor.
Nesse núcleo do trigêmeo, essas  vias todas aqui convergem para ele, e o que essas estruturas aqui fazem sobre o núcleo do trigêmeo: excitam, estimulam, sensibilizam esse núcleo do trigêmeo. Tornam ele mais sensível a informações que vêm aqui da periferia. Então, essas estruturas são chamadas geradores centrais, porque são estruturas centrais e elas podem gerar.
. . podem gerar a atividade aqui nesse núcleo do trigêmeo.
Portanto gerar a dor de cabeça. Vocês podem perguntar: bom, isso é um fenômeno anormal? Existe só nas pessoas que têm enxaqueca?
A resposta é sim e não. . .
ou melhor, não e sim. Não por que todos nós. .
. todos nós temos essas vias que estimulam aqui o núcleo do trigêmeo, todos nós. Isso é um fenômeno básico dos mecanismos de sensação.
Por exemplo: na audição. . .
nós temos núcleos lá no nosso tronco encefálico que sensibilizam as vias da audição, tornando a audição mais aguçada, mais apurada. É um mecanismo de aumento da sensibilidade e isso é feito por estruturas centrais. Nós temos mecanismos centrais que tendem a aumentar a sensação.
Agora, sim, isso é anormal por que é uma questão de quantidade. É uma questão de intensidade da estimulação dessas estruturas sobre o núcleo, ali do trigêmeo. As vias existem, elas são excitatórias, mas a intensidade de estimulação, essa sim, pode ser anormal e sendo anormal ela pode causar a dor de cabeça que é, aliás, o que ocorre na questão do zumbido lá no ouvido.
Muitas pessoas têm zumbido no ouvido e a causa principal é essa estimulação excessiva central, sobre o aparelho auditivo. . .
fechando esse parêntese de um tema diferente, mas só para fazer analogia com o que nós temos aqui. E essas. .
. esses geradores centrais, eles sensibilizam aqui o núcleo do trigêmeo. Essa é uma outra figura mostrando aqui o córtex cerebral, aqui o tálamo e aqui o núcleo do trigêmeo.
Então, o que acontece com as pessoas que têm enxaqueca? Distúrbios do sono por exemplo. Pessoas que têm um ritmo de sono e por alguma razão quebram esse ritmo, ficam mais tempo acordadas.
. . isso aí pode ser um gerador da enxaqueca.
Alterações do padrão de alimentação. . .
deixa de se alimentar. . .
pula uma refeição. Isso pode ser um. .
. um gatilho. .
. um gatilho desencadeador da enxaqueca pela sensibilização dessa estrutura, aqui no tronco encefálico, o núcleo do trigêmeo. Destaco aqui o papel do hipotálamo e os seus hormônios, e isso se relaciona, é importante destacar isso, porque aqui são produzidos vários hormônios e, como se sabe, a enxaqueca é muito mais prevalente em mulheres do em homens.
E as alterações hormonais, no sexo feminino, são muito. . . 
de maior amplitude, mais frequentes do que no sexo masculino. Portanto, alterações hormonais aqui  no hipotálamo também podem ser esses geradores centrais da dor de cabeça. Então aqui, o que nós estamos vendo também nessa figura, é a depressão cortical alastrante, que nós vimos numa outra oportunidade.
A depressão cortical alastrante, também por sua vez, estimula diretamente os terminais sensoriais da dor. O que eu quero. .
. qual é a mensagem que eu quero deixar aqui. .
. a origem, a causa da dor de cabeça, as causas da dor de cabeça são multifatoriais. Não há apenas um fator, uma causa, ela é muito dispersa, muito.
. . diluída.
Há muitas causas, o que torna, naturalmente, a intervenção terapêutica, o tratamento bem mais difícil de ser feito, porque ela é muito ampla, são vários pontos que podem. . .
são vários aspectos que podem causar a enxaqueca, tanto centrais como a depressão cortical alastrante. Há um outro aspecto também, isso eu destaco aqui como bem de conhecimento, bem mais recente, que é a modulação das vias tálamo-corticais. Modulação das vias tálamo-corticais.
Recapitulando: nós temos aqui as meninges, aqui o nosso cérebro, aqui as meninges e aqui nós temos um raminho do nervo trigêmeo, do nervo sensorial que é onde começa. . .
onde começa a dor de cabeça da enxaqueca começa aqui. Esse nervinho é excitado, ele gera uma atividade elétrica que vai aqui até o núcleo do trigêmeo, que fica ali no tronco encefálico. Do núcleo do trigêmeo faz aqui uma sinapse, tem uma estação aqui e faz uma nova parada, uma nova sinapse aqui no tálamo.
E do tálamo converge lá para o córtex cerebral. O que eu acabei de dizer para vocês que. .
aqueles geradores centrais que vem lá do tálamo, do núcleo periductal, do lócus cerúleos, elas estimulam e sensibilizam esse núcleo do trigêmeo. Sensibilizam o núcleo do trigêmeo. O que eu quero dizer para vocês agora, que além da sensibilização do núcleo do trigêmeo, esses mesmos geradores centrais, essas mesmas estruturas que excitam o núcleo do trigêmeo também excitam esses neurônios aqui no tálamo.
Aumentando ainda mais o sinal sensorial da enxaqueca, estimulam ainda mais. Então, aqui, olhando essa figura: nós temos novamente aqui o nosso encéfalo, esse tracejado vermelho aqui é o núcleo do trigêmeo que recebe as aferências que vem lá, que estão lá nos vasos sanguíneos das meninges. Faz sinapse aqui, nesse primeiro estágio do núcleo do trigêmeo.
Daqui, envia-se uma projeção até o tálamo, uma nova sinapse, uma nova parada, e daqui do tálamo até o córtex. Todas essas estruturas que estão aqui coloridas, que elas também se. .
. elas se projetam aqui para o núcleo do trigêmeo, mas também excitam os neurônios do tálamo. Os neurônios talâmicos que recebem essas informações da dor originada lá na ponta, lá na periferia, no vaso sanguíneo.
. . dos receptores sensoriais de dor lá, que enervam os vasos sanguíneos.
Então esses neurônios aqui, talâmicos, também são sensibilizados. Vários fatores, o estresse por exemplo é muito conhecido de ser um gatilho desencadeador da enxaqueca. Padrões de sono, como nós tínhamos conversado antes.
Padrão de alimentação, como também conversamos. Hormônios, ansiedade, depressão, vários. .
. por que eu falo em ansiedade e depressão? Por que essas estruturas que sensibilizam o tálamo estão relacionadas, e se sabe que elas estão, com fenômenos como doenças, como a ansiedade, como a depressão.
Então, nós temos um diálogo entre essas alterações, como ansiedade e depressão e a geração da enxaqueca pela sensibilização do sistema. Há um outro ponto que eu quero destacar aqui, e eu vou me permitir voltar o slide anterior. Por que.
. . do que eu estou falando aqui?
Eu estou falando da formação de memórias. Formação de memórias. Nesta via sensorial aqui, quando ela é ativada, esta sinapse, esse estágio aqui, intermediada, acaba sensibilizando essas sinapses, ou seja, tornando ela mais sensível, assim como essa outra aqui do tálamo.
Portanto, forma-se uma memória daquela dor que foi inicialmente gerada. O que naturalmente confere muita complexidade a esse sistema. E se sabe, muitos anos na verdade, a enxaqueca é um fenômeno repetido.
A pessoa tem e possivelmente vá ter muitos episódios ao longo da vida. Então, o que nós temos nessa cadeia aqui é a formação de uma memória daquele evento inicial, muito difícil de ser tratada, de ser contornada. Especialmente, porque não são conhecidos ainda os mecanismos e especialmente por que todas essas interações aqui, na verdade são fisiológicas, ou seja, isso aqui não é um circuito que só as pessoas que têm enxaqueca apresentam.
Todos nós temos. O problema é o funcionamento dele. O funcionamento dele que está alterado.
E como ela é multifatorial, muito complexo, é muito difícil realmente saber o ponto inicial, a causa inicial para que se tenha algum tratamento mais adequado. Como resumo do que nós conversamos aqui, eu gostaria de destacar que existem mecanismos centrais. Centrais eu quero dizer dentro do nosso sistema nervoso central.
Especialmente neuro-hormônios no hipotálamo, estímulos ambientais que estão envolvidos na geração da enxaqueca. Ou seja, o nosso próprio sistema nervoso central é capaz de gerar. .
. não necessariamente gerar, mas tornar o sistema das vias sensoriais da dor mais sensíveis, sensibilizar o sistema. Peptídeos e neurotransmissores também  ativam ou sensibilizam sinapses centrais no núcleo do trigêmeo, lá no núcleo do trigêmeo, no tronco ou pelo próprio tálamo.
Além da liberação periférica no terminal sensorial. Ou seja: no terminal sensorial, na sinapse do núcleo do trigêmeo e no tálamo, são 3 pontos onde pode haver um aumento da sensibilização dessa transmissão sináptica. E eu destaco aqui esses peptídeos, porque têm sido estudados e promissores, no sentido de reduzir essa atividade dessa via  sensorial ali do trigêmeo, que conduz à informação de dor.
Era isso que eu gostaria de conversar. Muito obrigado pela atenção de vocês!
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