E aí e hoje o programa diálogo Sem Fronteira tem a satisfação de receber o professor João Monteiro Professor seja bem-vindo muito obrigado o dia professor João Monteiro ele tem uma larga trajetória foi professor da Unesp é professor da Unicamp já há um bom tempo ele se formou nos Estados Unidos na área de história mas atua também na interface entre antropologia e história cortando tem uma experiência realmente única nesse campo de interação das disciplinas e não tema que é um tema particularmente desafiante para o estudioso do passado e do presente que são as sociedades indígenas Então
eu queria começar professor John é com essa questão sobre o desafio de estudar sociedade indígena no passado e também no presente Tá bom eu acho que é o desafio inicialmente no passado é nós temos uma larga história no Brasil em que se enfim criou uma narrativa do extermínio dos índios a hoje No Brasil existe enfim mais de 230 sociedades indígenas que mantém cerca de 180 línguas diferentes aí portanto nessa história né da do desaparecimento né do extermínio é uma história um pouco falsa né os problemas a trabalhar com os índios no passado isso tem sido
né os motivos pelo qual a história então Tem trabalhado de forma sistemática é uma dificuldade em encontrar os índios da documentação e quando eu comecei a minha pesquisa de doutorado na década de 1980 eu ia trabalhar com os escravos Índios de São Paulo eu cheguei no arquivo do Estado de São Paulo e procurei na temática indígena dentro desse grande arquivo que têm documentação desde o século 16 até o presente a e o pessoal que trabalha lá me apresentou com uma pequena caixa de documentos que abrange era ela manual alhos e bugalhos é do século 18
19 20 inúteis Melo servia para nada para mim a pesquisa e aí eu percebi que tinha haver um problema né quiser assim que é da invisibilidade dos índios dentro dos registros documentais no fim da pesquisa dez onze meses depois né eu tinha identificado mim e registros é assim só no século 17 início do século 18 que eram o foco da pesquisa então eu acho que esses são problemas né que vem à tona e que hoje em dia felizmente já existem uma visibilidade muito maior para dentro dos registros documentais daquele que nós sabemos era documentação Histórica
no Brasil em que a temática indígena está mais claramente presente agora essa observação sua muito importante porque por um lado você nos diz de que do ponto de vista a organização do arquivo àquela altura o índio não existia praticamente os dentes que ele estava classificado numa pequena caixinha mas que quando você for lá você garimpou e encontrou uma infinidade de referências no na documentação geral é isso e parece que remete a uma questão é de valorização do tema indígena valoração do índio na nossa sociedade ou desvalorização do índio e nesse ponto é o perguntaria você
justamente De onde você é Tiraria a origem desta desvalorização E se o índio desligamos um pouco o jogado ali no canto numa caixinha e No resto ele não ele não aparece por que que você acha da onde vocês quiserem essa esse tipo de conceituação isso porque que a caixinha existia porque ele tinha aqueles poucos documentos ou eu acho Pedro que desde o início da colonização portuguesa houve uma tentativa né o esforço muito grande de acabar com os índios nas 700 não ou assim apenas fisicamente mas também em termos da sua diversidade é o seja não
é eu sei de transformação de populações indígenas e muita gente comprou essa ideia não é muito bem né agora eu acho que o outro tipo de problema que diz respeito a essa ausência dos índios tempo dos registros documentais Ou pelo menos na ausência de dizimar idade né dos índios dentro tem a ver com a divisão de trabalho o que aconteceu nas ciências humanas no Brasil né enfim E desde meados do século 19 né quando se instituiu né uma historiografia mas profissional lidando com o passado Colonial se estabeleceu muito claramente que os índios não fariam parte
disso né que os índios são anteriores né assim tem evidentemente uma presença mas essa presença terminar o que os portugueses sim impõe na aí que o outro sabe projetos bingo é assim sobretudo aqueles ligados ao tráfico de escravos subtrai ficou Transatlântico de escravos né a indústria açucareira e a mineração e tudo isso todos esses episódios por sinal tinham nela a presença indígena fundamental é mas isso foi apagado em certo sentido pelo menos diminuído dentro do registro mas o outro aspecto disso nessa divisão do trabalho que eu acho que é importante né uma outra outro Ana
que lota né enfim né quando eu cheguei no brasil no início dos anos 80 para fazer a pesquisa eu naturalmente ingenuamente fui procurar historiadores é os historiadores todos me viraram o Erê o irmão não é por aqui né quiser assim ele trabalha com índios são os antropólogos esses dois encorajaram é exatamente e acharam né ele em duas ocasiões É nos últimos anos eu recebi de duas pesquisadoras não é assim bastante experientes que trabalharam uma com Minas Gerais outra com São Paulo Colonial me entregaram assim dele foi muito generosa é uma pilha de fichas que venham
acumulando ao longo dos anos né que tinha um registro sobre os índios né que eles encontraram aquelas encontraram durante as pesquisas né mas isso também me ensina alisou exatamente essa mesma ideia não é do que elas estavam vendo né os índios na frente delas né dentro da pesquisa mas não era importante deixaram de lado né ao invés de pensar assim essa presença com parte integrante o importantes na da formação a enfim histórica dessas regiões que deu uma infância e pelo que eu estou entendendo na podridão do europeu na urbanização Europeia no tráfico Então usa a
presença africana mas o indígena devemos um pouco deixado de lado até pela divisão acadêmica de trabalho entre entre historiadores e antropólogos E aí eu aproveito para perguntar é você que tem essa capacidade singular de justamente atuar nas duas áreas e que portanto atravessa Esse é essa Fronteira é em que medida você acha que isso ainda é um desafio para o historiador e para o antropólogo poder interagiram atuar na interface dessas duas áreas que isso é bastante incomum ainda no Brasil eu acho que talvez e o que se pensa naqueles eu acho que aqui há várias
possibilidades de interface que vem desde enfim a história do cotidiano daí abordagem Jackson gráficas do passado né Mesmo quando o tema não seja propriamente a temática indígena olha quiser assim toda a transformação da historiografia durante a década de 80 90 e até os dias de hoje ainda tratou maior temática indígena de uma maneira Marginal apesar de incorporar né discussões muito importante esse que vinho né antropologia não é ascende a própria ideia da história cultural o da história social da cultura empresta da muito do arcabouço conceitual na tecnologia social né então eu acho que é algo
que vem sendo trabalhado e mais é bastante interessante nessa interdisciplinalidade essa interfaces entre história por gemas eu acho que ainda vários pontos a serem resolvidos né no mundo um diálogo mais aprofundado entre as duas disciplinas né A minha experiência com a questão da história dos índios né Eu acho nessa área nessa temática mas ficar mente né dentro dos dois contextos não quiser organismo o grupo de trabalho dentro da Associação Brasileira de Antropologia ou não posso assim como eu sempre organizados sistematicamente enanpur é na associação dos historiadores e na verdade são abordagens muito diferentes simples na
o diálogo é tê-lo E aí eu acho que ainda falta bastante É sim a costurar nessa essas leituras transversais né que você pode fazer né os historiadores lembro assim como os olhos mais abertos a etnologia não é assim sem pensar na tecnologia como algo assim estritamente especializado e que não Quase que anti-histórico né enfim do mesmo modo que os etnólogos poderiam ler com outros olhos a historiografia é isso vem sendo feito por vários autores e maneira muito interessante é porque a questão digamos do aspecto antropológico da história tem sido muito como você se destacou muito
explorado até Procuradores de renome como Peter Burke que a sua aqui no Brasil mas naqueles temas mais tradicionais da história cultural europeia e o e naturalmente os historiadores estão mais ao corrente estão mais acostumados e no campo específico da do estudo do indígena você ressaltou essa essa digamos uma certa dificuldade de diálogo até pelas diferenças da prática do trabalho e zoologia Muito obrigado é o povo vivo e o historiador ligada à leitura de documentos agora é isso aí expandindo essa questão para o campo da interface com a sociedade você acha que esses esforços todos que
foram feitas tanto pela tecnologia quanto pela historiografia brasileira respeito dos índios tem trazido modificações na percepção da sociedade brasileira dos indígenas e em que medida você acha que o Grand melhor com certeza eu acho que a visibilidade dos rins o Brasil hoje é muito maior do que foi há 20 anos atrás né quiser aconteceram duas coisas e eu acho que esse movimento acadêmico evidentemente está desvinculado de uma maneira ou outra o movimento social que é o movimento indígena eo movimento indígena se apoiou inicialmente muito nesses estudos feitos sobretudo por antropólogos olhando a documentação histórica para
enfim fundamentar a ser indicações de direitos indígenas na inclusive na Essa é uma das origens na daquilo que a gente pode chamado história indígena era que vem de uma iniciativa dos antropólogos ligados a sobretudo a associações e organizações não governamentais ou mesmo ligados às secretarias Ministérios né que procuram exatamente a tentar melros-pretos tem um sem indicações das populações indígenas Isso foi uma transformação extremamente importante isso teve o impacto muito significativo sobre a Constituição de 1988 em que os direitos indígenas foram colocados na de uma maneira completamente diferente do que nas cartas anteriores né assim sobretudo
no sentido em que a constituição buscar garantir o futuro dos vídeos e reconhece que os índios também tem passado é enfim Isso foi uma inovação não é conceitual extremamente importante porque em todas as cartas anteriores os índios eram pensados simplesmente como figuras transitórias né enfim na em fase de transformação lida civilização a duração é que eram termos né que se usavam e que em certo sentido foram substituídos por né o outro tipo de discurso sobre a enfim os direitos dos índios EA daí e um futuro de um país que vai ter essa diversidade de sociedades
indígenas no seu futuro um segundo item é que o segundo uma segunda iniciativa recente né que é um reflexo o Zé dessas mudanças é a lei que complementa a enfim a LDB que a lei 11.645 de março de 2008 o que fala aqui inclui né a história e cultura indígena dentro enfim e são matérias obrigatórias neon dos temas obrigatórios no ensino médio e Fundamental no país não é isso foi o avanço enorme né assim no sentido em que mostrou que que enfim né os formuladores vamos ver de uma política educacional para o país perceberam na
importância dessa temática não apenas não é para as escolas diferenciadas nos índios mas sobretudo para a escola pública dos não-índios que precisam ter recursos e condições ainda entender o problema da diversidade no Brasil não só da diversidade como também da desigualdade é que tá também inscrito na outra parte dessa mesma lei aí que fala sobre a África e afrodescendentes para você já foi uma satisfação receber aqui ó o que o nosso público é vai sair com novas ideias a respeito da presença indígena na história e na cultura brasileira que agradecer muito a sua exposição estar
aqui conosco hoje agradeço obrigado e convida todos ao próximo programa diálogo Sem Fronteira a E aí