[Música] ah segundo o censo de 2010 as trabalhadoras rurais são responsáveis pela renda de 42,4 por cento das famílias do campo no brasil cerca de 14 milhões de brasileiras que estão nas lavouras e comunidades quilombolas indígenas e nas reservas extrativistas são as protagonistas agricultura familiar um país 45% dos produtos são plantados e colhidos por mãos femininas [Música] o cultivo do medo entre o azul do céu o verde do cultivo o ar puro do campo estou aqui há obscuridade da violência relatos fortes verdadeiros doloridos o silêncio permeia vida da mulher do campo e precisa ser quebrado
são histórias de agressões físicas constrangimentos e humilhações eu chegava em casa e ele fazia tirar a roupa pra ele ver se tinha marca no meu corpo de alguma marca de homem sabe aquele que os que eu gosto é lucro de tom foi comprou as coisas que o importante é eu falei que não ser e não assume se eu assumir sozinha precisa sim deixa você registra também não precisa de sentir o outro não também isso não é um homem nem assumiu que você faz eu assumo e foi foi tempo tudo dela queria fazer daniel desceu faço
não tem problema nenhum eu faço bem foi a primeira vez que eu tentei separar dela só que nunca tive foi 2 a violência no meio rural como um dos quadros urbanos a não foge muito porém nós enquanto rurais enquanto pessoas do campo da águas da floresta sofremos muita violência violência moral de violência sexista violência da questão de você é não está presente na sociedade aqui aquela visão que as pessoas têm da mulher agricultora que ainda está no seu trabalho invisível que não tem reconhecimento nenhum ea violência e predomina muito e para nós que vivemos assim
em áreas a camponesas de difícil acesso ea nossa vizinhança é longe é nosso como no campo nós moramos o primeiro vizinho ele se torna em torno de 34 anos quando não se vive em comunidades assim feita já né porém a violência ainda é bastante grande para nós mulheres mas é uma violência silenciosa no campo é um pouco complicado ser mulher a mulher são bastante e discriminada são a tem muitas ainda que vive disse que a escravidão já passou mas ainda não passou tem apenas a obrigação é o direito poucas tempo é a primeira que levanta
sempre a última do minério é a primeira coisa pra fazer o café tem que tirar leite tem que fazer tudo tem que arrumar na hora de ir pra roça tem que estar junto lá não é fácil ser mulher no campo né as mulheres de certa forma no campo se tornam muito mais invisível do que na cidade sim ele sempre foi uma ótima pessoa uma pessoa maravilhosa muito querido do respeito assim em incrível cabe para as pessoas de fora e dentro de casa era uma pessoa totalmente diferente ele não me tratava eu e os filhos como
tratar as pessoas lá fora por isso que quando eu falava alguma coisa dizia né o meu marido faz ninguém acreditava porque ele lá fora era uma pessoa diferente né ele não não se demonstrava a mesma pessoa que era dentro de casa né e quando eu fui estudar que a aula minha começou um tempo antes de ter o transporte escolar que era na cidade que eu estudava e como eu moro no campo então eu não tinha e longe eu não conseguia ir até lá e não tinha carro nessa época era uma má época bem difícil foi
em 2006 e eu falei que estudar porque eu não ia desistir eu ia continuar o curso ele me bateu lhe agrediu sim eu fui muito agredido que tinha até três meses eu tinha marcas no corpo da agressão física ea gente separou nessa época queria muito ser mãe também ele era gay logo no começo depois eu aprendi a me cuidar e cuidava só daí nessa tinha que é você não quer projetar se guardando os outros ele que começou a briga também depois de um ano de casado ele quis que eu provasse pra ele que tinha casado
virgem com ele que ele viu não valeu de nada eu disse vou fazer pra que né sei o que você viu que nós vivemos não tem valor que adianta eu juro pra você fique minha palavra vale não você vai jurar cosmo em cima de uma bíblia né pra mim tem sentido nenhum mas eu fiz por ele que ele achou que ia ser diferente mas não foi ali foi ficando cada vez pior e essa coisa fez por uma simples brincadeira da família venham a necessitar depois de um tempo e um [Música] no meu porque é uma
flor diferente que não era branca né e fez uma brincadeira o que vocês fizeram antes do casamento que interessa por aqui né eu não fazia a menor idéia daquilo e quem colocou aquela flor foi a minha testemunha de casamento que disse que não ia aparecendo nas copas depois que ela foi embora ele falou que ela sabe de você que falou isso e que não sabe e ele foi nem começou mas suas brigas peso que ele pediu mas não adiantou de nada ele não copiar não acreditar por mais que quiser por mais que falasse não adiantava
eu tinha minha filha era pequenininha e tinha uns quatro anos eu acho a minha filha e ela ficou com a mãe a minha mãe cuidava dela e eu fui estudar eu bati o pé apanhei mas fui e concluí meu curso e ele quando pediu para voltar depois quando voltou o transporte escolar que eu vim pra casa da mãe a filha não volta para casa vai ser tudo diferente nunca mais eu vou te bater você me perdoe porque eu fiz um momento que estava nervoso porque você ir lá tem muitos homens estudando e eu fiquei com
medo de perder eu te amo muito eu fiz isso porque eu te amava então me perdoe eu nunca mais fazer isso depois de dois anos mais ou menos eu engravidei de novo e foi pior ainda fui procurar meu pai também não aceitou porque era uma vergonha naquele tempo uma mulher separada né ela já tinha medo antes de okazaki onde eu fosse uma mãe solteira a aceitar o direito nenhuma mãe separada ainda com um filho né separei foi pra casa dele esperando que eu fosse me ajudar das três meses aqui de volta pra casa porque não
tinha problema de estudo na agricultura que eu tinha aprendido a trabalhar não tinha terra para trabalhar também é que eu fui fazer tive que voltar tinha que fazer não tinha de morar com duas ansa cheguei entregar as meninas pra ele né isso já que não possui muita gente que ele cuida eu falei em tudo que eu queria na minha vida meus filhos não vou abrir mão deles então ficando louca bebê que não tinha quem quer abrir mão de tudo poder dos kills e aí meu pai querem interna nos mesmo quando estava ficando louca e mais
de perfil da dívida aí eu peguei vou ter prestado a situação nossa no campo hoje ela ainda está bastante precária nós principalmente que vivemos no meio rural na roça nós ainda se encontramos na invisibilidade a mulher da lavoura a mulher que labuta que trabalha que busca a alimentação mundial da pizza e dizer sim nós estamos invisíveis ainda é preciso muito trabalho para que a gente possa estar trazendo esse protagonismo das mulheres que somam se aos homens e que produzimos e alimentamos porém falta muita coisa pra nós eu engravidei ela sabia de um menino já mas
ele não se importou e eu perdi a vontade de comer um pedaço de bolo que custou 50 centavos aí pra completar ele fez o empurrou um trator que não tinha partida eu perdi quatro meses eu engravidei de novo estava mesmo à frente porque era muito perto né e eu num tinha como cuidar de quem eu falei eu dizia que não é porque eu tinha manto também guardam para outros homens aí pra mim não perder o time de pedir ajuda a produzir que o médico proibido caminhadas e de grau de tudo porque era muito perto era
muito arriscado e ele já sabia que não era piada né eu disse que queria tanto que o meu medo maior era que quando eu ganhasse não adianta que nem a mãe dele teve problema também ficou fora da piscina disse eu vou na dieta ou ficar louca igual à mãe dele e vídeos em que ele queria que eu enlouqueci que dele me apoiava no hospício eu disse olha que o medo de perder a criança daí foi foi conseguir segurar ele nasceu hoje está com 17 anos vai completar 18 anos ele nunca mais bate em mim é
porque eu também me decidi isso então eu vou voltar mas isso eu não vou mais apanhar de homem eu não vou mais apanhar nós mulheres do campo aí estamos sofrendo situações assim porque a gente apanha a gente recebe palavrões a gente vive no meio assim até até na questão da nossa própria família na questão dos nossos filhos quando eles pegam uma a uma a uma certa idade eles também já parece que dá seu direito de está contribuindo para a violência de palavrões é é o tipo do assédio é de deter reprimir do que você aquilo
que você sabe que você está dizendo a verdade que é certo que é verdadeiro porém com uma nova geração que está vindo porque os nossos filhos é uma nova geração não é aquilo que nós passamos e de repente a gente está sofrendo da família está sofrendo dos nossos parentes e não temos para quem falar não temos aonde nós buscar apoio se você vai fazer uma reclamação quem vai te atender vai ter um homem o homem automaticamente ele nasceu naquele o momento que ele é o chefe então ele sendo o chefe ele pode tudo nós mulheres
somos ubes desde os primórdios tempos ea gente vem sofrendo isso nós não temos para quem reclama é necessária soltar nossa voz e nós reunimos mais e nós buscarmos condições caminhos para que a gente possa sair dessa invisibilidade e dizer basta chega o jorginho foi tudo tranqüilo é tudo um doce tudo um amor de pessoa só que ele nunca conversava comigo ele nunca fazia planos comigo se eu fosse plantar alguma coisa na lavoura ele ele falava com os irmãos ele fazia os planos com os irmãos ele fazia os projetos com os irmãos tudo eu nunca sabe
de nada que estava acontecendo quando ele saía de casa não sabia para onde queria ela sabe a hora que ele vinha então eu vivia sozinha e nos filhos sempre em casa sozinha e sempre virando porque o dinheiro que ele fazia eu nunca sabia o que ele fazia e o que a gente produzia na na roça se eu fosse trabalhar eu nunca recebia por isso para bem nunca recebia então eu decidi que eu não ia mais trabalhando na lavoura porque eu tinha que trabalhar e e faltava coisas em casa porque eu não recebia nada então eu
comecei a sobreviver com o pão caseiro eu comecei a fazer macarrão e vendia da porteira pra dentro da nossas comunidades na nossa propriedade a gente faz o trabalho planta colhe a ordenha planta ótico de granjeiros vai em busca de meios de geração de renda mais da porteira para fora é o homem que está no controle das finanças e ele voltou-se joelho na minha frente porque nunca mais iria fazer aquilo e que eu perdoasse ele mais uma vez e eu acabei perdoando mais uma vez a cada agressão que ele fazia pra mim eu me senti um
lixo um lixo assim muita eu chorei muito eu chorei muito a minha menina mais velho principalmente depois com ele crescendo mais ele vinha é dava tapas e dava um chute era brincadeira mas nos brincadeira estúpida dele né ela dançava nele aí eu tinha que ir e separar euros a menina mais velha os e olhava pra eu só via o olho no olho dão o mundo que deus nos deixou no rs que esse mundo que deus nos deixou não é pra separar o homem com a mulher com brigas com edital e sim para unir para fazer
uma família feliz realmente e isso deve partir do homem da mulher e dos filhos é assim eu acredito que dentro do seio familiar na hora que tiver o diálogo a compreensão de um lado e do outro a violência começa a ser eliminada aos poucos mas ela tem tendência a se eliminar mas hoje ainda as nossas companheiras da nossa da lavoura muitas delas se elas não falam por medo porque depois silas falou uma vez a outra vez elas podem não ter mais voz para falar [Música] ele me apoiado muito estudar eu te apoia estudar ele dizia
pra mim mas não precisa pra que isto vai estudar você eu tento ficar com a gente na roça não precisa de estudo pra que você vai ser técnico em turismo não precisam passar a gente ganha só da lavoura porque vai fazer carteira de motorista se eu tenho a minha você não precisa de uma carteira de motorista o prefeito quer a dirigir pra ir atrás de homem é só pra isso que você quer como se a mulher tem necessidade disso a mulher só quer viver a mulher não tem necessidade de ir atrás dessas coisas sabe e
eu sofria muito com isso e isso dói até hoje e um dia meu já com dois anos foi conclusivo se com uma faca de serra falando que matou para não fazer mais isso e chegou um momento que ela disse mãe isso é agressão você está sofrendo agressão do pai o tempo todo e chega amanhã eu não aguento mais e você pare com isso está na hora de você mudar de vida você vai aguentar isso até quando mãe [Música] a violência contra a mulher no campo ela por um lado continua sendo um tabu por causa do
processo de invisibilidade ação do que ocorre muitas vezes portas adentro então muitas vezes a gente tem a violência ocorrendo no campo só que ela não é discutida nas políticas públicas é ela muitas vezes não é discutida pelas famílias ainda se tem uma idéia de que a família de uma forma harmônica inclusive pelos próprios estudos né os estudos campo do campesinato é muito importante da nossa história têm considerado a a família como uma unidade de produção quando pensava como uma unidade de produção pensa essa família de uma forma colaborar tocou laborativa ensina é uma família que
colabora né isso é uma dimensão importante só que essa família não só colabora entre si dentro dessa família existe hierarquias existem divisões é essas divisões é de poder divisões de trabalho que tem um recorte de gênero então a gente poderia dizer que a gente tem uma divisão sexual do trabalho no campo que não é só uma divisão de tarefas em que a mulher faz algumas tarefas e homem faz outras muitas vezes as que a mulher faz historicamente são vinculados ao cuidado a questão do trabalho doméstico a produção da alimentação e mas ela também faz todo
um trabalho no espaço do da lavoura né só que esse trabalho realmente da lavoura que é visto como um espaço masculino ele é visto como um wacc como tendo um valor maior então existe uma hierarquia no que as pessoas fazem termos do valor social e isso tenha isso também leva a uma situação de poder então quem tem um trabalho que tem um valor maior acaba tendo um poder maior no processo de decisão dessa renda e também acaba sendo muitas vezes a pessoa que vai circular no espaço público para a comercialização para a venda para toda
a negociação que se faz fora então é visto chamado como o trabalho produtivo então como trabalho que gera renda é como se que gerasse renda na agricultura fosse o homem tanto que a gente vai ter o quê no nome do homem vai aparecer o agricultor a gente vai ter a agricultura recentemente a gente tem a agricultura por luta das mulheres por que antes elas eram chamadas como do lar isto também é uma violência então a violência não é só violência física existe também a violência simbólica aquela que vai diminuindo as pessoas o que elas são
que elas fazem né vai colocando elas num lugar inferior como se o que elas fazem não fosse um trabalho ou fosse um trabalho menor do que elas eram chamadas do lar eu tenho um sonho sim eu tenho um sonho acho que é o sonho de muitas mulheres eu tenho um sonho de liberdade se eu lembrar lá na história da minha família que eu sou filha do campesinato quando o meu avô foi procurar terra que era numa época que ainda os avós podiam ajudar os filhos a comprar um pedacinho de terra que não necessariamente essa realidade
que a gente tem hoje lá no rio grande do sul então ele foi ele a cada filho o roaming ele foi e comprou um pedacinho de terra neco e depois os filhos com o trabalho devolveram isso ele pode comprar para o outro que estava na na fila né só que para as filhas mulheres se pensou não se pensou nesse enxoval tão vai a vaca vai toda questão pra cozinha em um fogão a geladeira é na época nem às vezes nem geladeira existia mas enfim tudo o que vai para compor a cozinha e os animais de
pequeno porte a vaca as galinhas né isso é seria o enxoval da mulher né então só que o que acontece essa terra ela tem um poder ela vai se valorizar ela vai continuar esse enxoval daqui a pouco vai daqui a uns anos vai ficar velho né então qual o poder de barganha que essa mulher tem em relação a esse homem e isso é uma questão cultural que hoje já tem muita transformação disso mas isso faz parte de um modelo que vem se colocando então a gente não consegue pensar essa violência no campo sem a gente
pensar essa organização do trabalho a organização da renda o modo de vida também que muitas vezes acaba sendo escondido na não se fala às vezes disso não se problematiza a estas questões então se invisibilizado o trabalho às relações sociais de gênero presentes nesse trabalho nessas relações familiares e com isso também a própria violência de gênero a mulher tem medo do homem agressivo e eu o homem tem medo da mulher sem medo nós não queremos mais apanha e nós não queremos é que sejamos reprimida por palavras por ações por castigos é a gente não quer levar
mais sinal no corpo a gente quer uma vida assim aonde que ele a gente seja um ser humano [Música] é importante frisar que houve uma grande dificuldade de encontrar mulheres dispostas a conceder uma entrevista justamente pelo medo de serem reconhecidas há inúmeros casos pela zona rural com todo o silêncio impera até mesmo entre os que já saíram do ambiente de violência comportamento este fruto do trauma que sofreram o silêncio é a voz da impunidade [Música]