Em primeiro lugar, o mais importante para a nossa meditação é o relaxamento. Nós, ocidentais, estamos inseridos no fluxo da modernidade. O estilo de vida que aceitamos como normal, especialmente nas cidades, é bastante acelerado, muito estimulado e orientado para metas.
Há uma tendência para a multitarefa, o que pode gerar bastante estresse. Se você está estressado, tenso, ou nervoso, obviamente o seu corpo e a sua mente não estarão à vontade. Se trouxermos esse estado normal de estresse para a meditação, sua meditação também será tensa e estressante.
E não importa o quão esotérica a prática seja ou quantas iniciações você tenha recebido, ainda será uma prática tensa e estressante. Nós ocidentais, temos que, primeiramente, aprender a colocar o nosso corpo e mente em um estado de descontração, algo que nos aproxime de como seria viver como um nômade tibetano nas pastagens do século XX. Imagine como ficaria o seu sistema nervoso, o seu corpo e a sua mente, depois de passar um dia inteiro observando os seus iaques pastarem em um campo, a 5.
000 metros de altitude, com sua única forma de entretenimento sendo tocar uma flauta. Esse era o caso de um dos meus professores até os 19 anos, vivendo esse estilo de vida, sem celulares ou qualquer outra distração moderna, apenas com uma flauta como entretenimento. Os invernos não eram tão interessantes, pois era muito frio e as pessoas se reuniam em torno do fogo.
. . Não estou dizendo que esse estilo de vida seja melhor ou pior, mas com certeza tem seus atrativos e é totalmente inacessível para nós.
A maneira como esse estilo de vida condiciona o corpo e a mente é muito diferente da de alguém que vive em Nova York, pegando metrô e trabalhando oito, dez ou dezesseis horas por dia. Por isso, digo que o nosso primeiro passo é esse: devemos cultivar um profundo senso de relaxamento, uma sensação de profunda tranquilidade interna, de estar à vontade e confortável com o simples ato de “ser”. O relaxamento é uma habilidade, uma habilidade a ser cultivada.
Agora mesmo, você pode colocar o seu corpo à vontade, sua mente à vontade? Esse é o primeiro passo: Aprenda a Relaxar. Alan Wallace.
Relaxe, tudo vai ficar bem. Mas primeiro, você precisa soltar. .
. Nesse momento, faça uma decisão consciente de abandonar todas as suas preocupações com o passado e com o futuro, e traga a sua consciência de volta a esse momento presente. Não com um punho fechado, mas relaxado e tranquilo.
Se você usar essa mente nervosa, tensa, agitada, cansada, egóica, orientada ao sucesso, e disser: “Ok, agora vamos à meditação. Vamos lá, vamos resolver isso, eu vou dominar isso também, agora serei muito bom em meditação. ” Bem.
. . Boa sorte com isso.
. . Mas, de fato, você não pode fazer essas coisas aqui.
. . você só pode soltar.
A meditação não é sobre adquirir, ou alcançar. . .
Então, primeiro, deixe seu corpo e mente à vontade. Respire: Inspire, e expire. Sinta a presença da sua respiração em todo o seu corpo.
Volte a sua atenção para o seu corpo em seu estado natural, relaxado, imóvel e vigilante. Relaxe profundamente todos os músculos do corpo, cada um dos pequenos músculos. Relaxe até os minúsculos músculos do rosto.
Amoleça seus olhos; não deixe nenhuma parte do seu corpo permanecer tensa ou contraída. Através da respiração, liberte-se de toda tensão corporal. Sem tensão, sem estresse, sem contração.
A cada expiração, libere toda tensão muscular. Deixe a respiração fluir completamente até o final, sem empurrá-la para fora, sem tentar prolongar a exalação. Não tente fazer nada, apenas deixe a respiração fluir para fora.
Relaxe o controle, e permita que a respiração flua naturalmente. Deixe que cada expiração seja uma desistência, uma desistência feliz. Permaneça silencioso e muito atento, especialmente quando você chega ao final da exalação.
No fim de cada exalação, entregue seus músculos à gravidade. A cada exalação, relaxe mais e mais profundamente. Mais e mais.
Lembre-se de que você sempre pode ir mais fundo e mais fundo. A cada exalação, relaxe mais e mais profundamente, sutilmente. Faça isso a cada expiração, liberando a contração muscular, liberando toda tensão.
Descanse seu corpo, completamente. Mas internamente, permaneça bem acordado. Sua consciência deve estar clara, alerta, vigilante e muito presente.
Agora, assim como você usa a sua respiração para relaxar o corpo, use-a também para relaxar a fala da mente. Relaxe o falatório interno, a ruminação, o comentário. Assim, a cada exalação, relaxe quaisquer pensamentos, memórias ou imagens que possam ter surgido involuntariamente.
Liberte-se de todos os pensamentos; deixe tudo desaparecer no espaço. É como se você estivesse limpando uma sala com uma vassoura, e varrendo a poeira; a cada expiração, varra a poeira da mente, o barulho, o falatório. Durante a inspiração, deixe a mente ficar o mais silenciosa possível.
E durante a expiração, libere quaisquer pensamentos involuntários que tenham surgido. Respiração por respiração. Inspirando: deixe a mente em silêncio.
Expirando: liberte-se de toda a ruminação, tanto o quanto puder. E depois, retorne ao silêncio. Normalmente, quando relaxamos mais e mais profundamente, podemos ficar sonolentos, entorpecidos e, possivelmente, podemos até adormecer.
Mas lembre-se de manter o equilíbrio: relaxe profundamente, mas ao mesmo tempo, não perca a sua clareza, a vivacidade, a acuidade da sua consciência. Esse é o desafio. Respiração por respiração, vamos continuar praticando.
A meditação é um ato de equilíbrio entre a atenção e o relaxamento. Dominar isso requer cortar o reflexo natural de se esforçar demais quando você vê que a sua mente se distraiu. Em vez disso, assim que você perceber que a sua mente está vagando, liberte-se do esforço de se apegar ao pensamento.
Apenas retorne à respiração, e relaxe. Mantenha sua mente aberta e relaxada, nunca contraída. Lembre-se de que o ponto principal desse treinamento de atenção não é impedir que os pensamentos surjam.
Em vez disso, devemos relaxar o corpo e a mente, e então, devemos cultivar a estabilidade de sustentar a atenção na respiração. Os pensamentos vão surgir, simplesmente tente não se deixar levar por eles. Permaneça presente, consciente da respiração: da inspiração e da expiração.
Então, a cada expiração, liberte-se da tensão muscular e, a cada expiração, continue libertando-se dos pensamentos, até mesmo dos pensamentos mais sutis. Liberte-se de tudo, e retorne ao silêncio. .
. Dessa forma, você permite que a mente se torne mais sutil. E, ao longo do tempo, a mente irá dissolver-se, até o seu fundo, o substrato da consciência, onde a mente se acomodará ao seu estado natural e não configurado.
Deixe a sua consciência repousar nesse espaço. Deixe a sua consciência descansar nesse campo não conceitual; não há pensamentos ou rótulos nesse espaço. Repouse nessa quietude.
Aprofunde e mantenha esse estado. Agora, para fazer desse estado algo realmente profundo, estável e duradouramente sustentável, a ponto de mudar a maneira como nos apresentamos no mundo e como vemos a realidade a cada momento do dia, é necessário que ele tenha raízes profundas. Essas raízes se desenvolvem na sabedoria que surge através do reconhecimento da vacuidade, no samadhi e na ética.
Isso nos leva de volta à importância da continuidade da prática. A turbulência da mente será superada apenas através de uma prática persistente e habilidosa. Com essa preparação, você poderá estabelecer uma base solida de relaxamento, que lhe será útil para todas as atividades da vida.
Cultivar a mente é muito semelhante a plantar uma árvore, um jardim ou semear um campo. Isso requer continuidade, sim, exige continuidade. É como cuidar de uma pequena semente.
Para fertilizar uma semente, temos que garantir que ela receba a quantidade certa de sol e água. Você não pode inundá-la por seis meses e depois deixá-la ressecar nos próximos seis. É preciso continuar cuidando.
Não é um trabalho árduo, mas exige uma atenção contínua. Se você sustentar esse cuidado, com o tempo, você terá uma bela árvore, talvez até frutífera. Mas você precisa persistir.
Persista nessa prática. Aprenda a acalmar a mente. Saia do padrão da ruminação, distração, inquietação, sensação de mal-estar, e aprenda a aquietar a mente.
Acalme-se, mergulhe em seu silêncio interior. E permaneça presente. Você poderá descobrir que isso é muito útil.
Talvez você descubra que é até viciante, e isso pode lhe fazer muito bem.